Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.
left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

Prévia do material em texto

CLÁUSULA-PERFIL NO SEGURO DE AUTOMÓVEL: ABUSIVA OU
LIMITATIVA DE DIREITOS
Profile-clause in auto insurance: abusive or limitative of rights
Revista de Direito Privado | vol. 91/2018 | p. 41 - 75 | Jul / 2018
DTR\2018\17806
Rodolfo José Sanchez Serine
Bacharel em Direito pela Universidade São Judas Tadeu. Advogado.
serineadvocacia@gmail.com
Área do Direito: Consumidor
Resumo: A cláusula-perfil está inserida no contrato de seguro, cujo conteúdo é
instrumentalizado pelo questionário de avaliação de risco, e faz parte integrante e
inseparável da apólice de seguro de automóvel. Este estudo se propõe a analisar a
cláusula-perfil determinando em quais situações se caracteriza como cláusula abusiva, e
como cláusula limitativa de direitos, em face do grande número de ações levadas ao
Judiciário, em que se demanda sobre a legalidade ou abusividade das negativas de
indenizações das seguradoras, lastreadas em divergências nas informações prestadas
pelo segurado quando do preenchimento do questionário de avaliação de risco. Por meio
de estudo aprofundado da doutrina civilista, consumerista e securitária, como também
da pertinente jurisprudência, foi possível apresentar de forma objetiva os principais
conceitos envolvidos, os princípios basilares que norteiam os direitos em discussão,
como também analisar a formação do contrato de seguro e sua dinâmica negocial,
adentrando seus elementos formadores e a metodologia envolvida no processo de
precificação e análise de riscos por meio da cláusula-perfil. Conclui-se, com o trabalho,
que o sentido da cláusula-perfil deve ser relativizado, observando-se as peculiaridades
fáticas e o conteúdo declaratório da cláusula-perfil, tomando a esta como elemento
auxiliar e de efeito relativo na aferição da obrigação do segurador em indenizar,
retirando-se o absolutismo pretendido pelas seguradoras que, abusivamente, nela se
fundam para descumprir a sua obrigação contratual. Procurou-se elucidar questões
controvertidas, descortinando a verdadeira face da cláusula-perfil, com a esperança de
que a superveniência de normas reguladoras mais amplas e minuciosas melhor
disciplinem o questionário destinado a colher o conteúdo declaratório que lhe dá
formação, com o que certamente restarão aprimorados os recursos tendentes à
obtenção de melhor mutualidade nos contratos de seguro de veículos, e também
reduzidos os litígios tão evitáveis quanto indesejados.
Palavras-chave: Cláusula perfil – Questionário de risco – Seguro de automóvel –
Negativa de indenização – Cláusula abusiva – Cláusula limitativa
Abstract: The profile-clause is inserted in the insurance contract, whose content is
instrumentalized by the risk assessment questionnaire, and is an integral and
inseparable part of the auto insurance policy. The present study aims to analyze the
profile-clause determining in which situations it is characterized as an abusive clause,
and as a limited clause of rights, in face of the great number of actions taken to the
judiciary, where it is demanded about the legality or abusiveness of the indemnity
denials of the insurers, backed by divergences in the information provided by the insured
when completing the risk assessment questionnaire. Through an in-depth study of the
civil, consumer and security doctrine, as well as pertinent jurisprudence, it was possible
to objectively present the main concepts involved, the basic principles guiding the rights
under discussion, as well as to analyze the formation of the insurance contract and its
business dynamics, entering its forming elements and the methodology pricing and risk
analysis through the profile-clause. It is concluded with the work, that the sense of the
profile-clause should be relativized, observing the factual peculiarities and the
declaratory content of the profile-clause, taking it as an auxiliary element and of relative
effect in the assessment of the obligation of the insurer to indemnify, removing the
absolutism intended by insurance companies that, abusively, rely on it to breach their
Cláusula-perfil no seguro de automóvel: abusiva ou
limitativa de direitos
Página 1
contractual obligation. It was tried to elucidate controversial issues, revealing the true
face of the profile-clause, with the hope that the supervenience of broader and more
detailed regulatory norms would better discipline the questionnaire aimed at collecting
the declaratory content that gives it formation, which will undoubtedly remain resources
to obtain best mutuality in vehicle insurance contracts, and also reduced litigation that is
as preventable as unwanted.
Keywords: Profile Clause – Risk Questionnaire – Car Insurance – Negative indemnity –
Abusive clause – Limited clause
Sumário:
1 Introdução - 2 Contrato de seguro - 3 Risco - 4 Cláusulas abusivas - 5 Cláusulas
limitativas de direito - 6 Questionário de avaliação de risco – Cláusula “Perfil” - 7
Conclusão - 8 Referências bibliográficas
1 Introdução
A arrecadação do mercado de seguros no Brasil tem aumentado expressivamente nos
últimos anos. Somente no ramo dos seguros de automóveis (integrante dos chamados
“Ramos Elementares”), a arrecadação no ano de 2017 alcançou a cifra de R$ 33,87
bilhões. A projeção de arrecadação para 2018 segundo a Confederação Nacional das
Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e
Capitalização (CNseg) é de R$ 36,47 bilhões,1 representando um aumento projetado
anual de 7,7% (média entre o índice pessimista – 7,1% e o índice otimista – 8,3%).
Esses números refletem a capacidade de crescimento do setor, e a importância do
mercado de seguros de automóveis na economia brasileira. Tal crescimento pode ser
justificado por inúmeras razões, entre estas o crescimento da indústria nacional
automobilística, o aumento no poder aquisitivo da população, a estabilidade da moeda
(inflação sob controle), a redução dos juros, facilidade na aquisição de crédito para
compra de veículos, e facilidade na aquisição das apólices de seguros, entre outros.
Apesar da grande facilidade que o consumidor encontra para efetivar a contratação de
seguro para seu automóvel, também é comum ver-se esse mesmo consumidor diante de
recusa de pagamento pela seguradora, quando da ocorrência de um sinistro.
As seguradoras, fundadas em alegações baseadas no chamado “agravamento do risco” e
na “omissão de boa-fé do segurado”, negam de forma sistemática provimento aos
pedidos de indenização formulados pelos segurados, aos quais não resta alternativa
senão a de procurar em Juízo a satisfação do seu direito lesado.
Com o advento do chamado “questionário de avaliação de risco” ou simplesmente do
“perfil do segurado”, e sua a inclusão nas apólices de seguro de automóvel, essas
recusas passaram a contar com um amparo legal antes inexistente.
Assim, o formato anterior do seguro de automóvel, conhecido como de “cobertura
ampla” ou “all-risks” cedeu lugar a uma nova modalidade de seguro, personalíssimo e
baseado nas respostas inseridas pelo segurado neste questionário (perfil), o qual passou
a fazer parte integrante e inseparável da apólice de seguro.
A inclusão e a admissão dessa cláusula no contrato de seguro, pela importância de seus
reflexos na gênese obrigacional e no cumprimento das obrigações dele emergentes,
fazem sem dúvida a matéria merecedora de um estudo jurídico mais detido, não
somente pelo seu eventual aproveitamento como instrumento auxiliar ao entendimento
e interpretação do nosso contexto normativo, mas também pelo alcance social do qual a
matéria também se reveste.
Entender e analisar esta cláusula contratual (perfil) é trabalho necessário e urgente para
identificarmos quando cabe sua interpretação como cláusula abusiva (ilegal e nula) e
quando cabe sua interpretação como cláusula limitativa (restritiva) de direitos (legal
Cláusula-perfil no seguro de automóvel: abusiva ou
limitativa de direitos
Página 2
conforme legislaçãopátria), estabelecendo assim uma correta correlação dela com o
agravamento de risco e omissão de boa-fé, identificando de forma mais objetiva quando
é justa (ou injusta) a negativa de indenizar da seguradora.
Pretende-se, com este estudo, estimular a reflexão sobre o tema, trazendo à pauta
entendimentos proferidos pelos órgãos julgadores (TJ e STJ), analisando a
jurisprudência, e incorporando a estes o entendimento doutrinário, buscando contribuir
para o aprimoramento do estudo das normas securitárias e para com a coletividade, que
busca nos seguros de automóvel a segurança almejada para seu patrimônio.
2 Contrato de seguro
2.1 Conceito
No Código Civil (LGL\2002\400) pátrio encontramos no art. 757 o conceito de contrato
de seguro: “Pelo contrato de seguro, o segurador se obriga, mediante o pagamento do
prêmio, a garantir interesse legítimo do segurado, relativo a pessoa ou a coisa, contra
riscos predeterminados”.
De acordo com Fabio Konder Comparato:
Toda operação de seguro representa, em última análise, a garantia de um interesse
contra a realização de um risco, mediante o pagamento antecipado de um prêmio. Os
essentialia negotti são, portanto, quatro: o interesse, o risco, a garantia e o prêmio.2
As seguradoras (sociedades anônimas devidamente autorizadas a operar no mercado de
seguros) emitem a “apólice de seguro”, documento que instrumentaliza o contrato de
seguro e por meio do qual são estipuladas as partes, os objetos, as cláusulas e as
condições contratuais, estabelecendo os direitos e obrigações dos contratantes, e
nomeando as condições gerais, particulares e especiais existentes na negociação.
Segundo o Prof. Orlando Gomes:
o contrato de seguro pode ser assim conceituado, ‘Contrato pertencente ao campo do
Direito Comercial, pois somente empresas organizadas sob a forma de sociedade
anônima podem celebrá-lo na qualidade de segurador. Essa imposição legal decorre da
própria função econômico – social do contrato. Para cobrir os inúmeros riscos que podem
ser objeto de seguro, mister se faz uma organização econômica que, utilizando técnica
especial, possa atender ao pagamento das indenizações prováveis com o produto da
arrecadação das contribuições pagas por grande número de seguradores. A natural
exigência de que o segurador seja uma sociedade por ações desloca o contrato do
Direito Civil para o Direito Comercial, tornando-o um contrato mercantil’.3
A análise do conceito de seguro nos remete obrigatoriamente à existência de duas
funções essenciais: a função econômica e a função social. A primeira (econômica) está
diretamente ligada ao fato da busca pela segurança patrimonial, inerente a todos os
contratos de seguro, pois baseada no pagamento de um prêmio pelo segurado, em troca
de uma indenização futura quando da ocorrência de um sinistro. O ser humano ao
contratar uma apólice de seguro busca proteger seu patrimônio contra os riscos aos
quais a própria existência humana está submetida, conferindo a segurança e a
tranquilidade necessárias para que o homem possa continuar desenvolvendo suas
atividades (laborais e sociais). A segunda (social) vem positivada no Código Civil
(LGL\2002\400) em seu artigo 421, “A liberdade de contratar será exercida em razão e
nos limites da função social do contrato”.
Nosso Código adotou a cláusula geral de função social do contrato como limitadora da
liberdade de contratar, decorrência lógica do princípio constitucional dos valores da
solidariedade e da construção de uma sociedade mais justa (CF (LGL\1988\3) 3º I). O
contrato de seguro deverá buscar realizar não apenas as pretensões individuais dos
contratantes, mas deverá funcionar como instrumento de convívio social e de
preservação dos interesses da coletividade. Além de útil, o contrato tem de ser também
Cláusula-perfil no seguro de automóvel: abusiva ou
limitativa de direitos
Página 3
justo.4
Complementando esse entendimento, Ernesto Tzirulnik nos esclarece:
O segurador é o administrador de um fundo coletivo, formado pela pluralidade de
segurados expostos a riscos homogêneos, visando a garantir cada uma das unidades. A
prestação devida pelo segurador desde cada vinculação é a garantia de que, realizando o
risco previsto, haverá um aporte capaz de indenizar o dano daí decorrente, obviamente
na medida dos limites de garantia desejados quando da adesão individual ao vínculo
geral securitário.5
2.2 Natureza jurídica
De acordo com Maria Helena Diniz, o contrato de seguro apresenta os seguintes
caracteres jurídicos:
1º É um contrato de natureza bilateral, por gerar obrigações para o segurado e para o
segurador, já que o segurador deverá pagar a indenização, se ocorrer o sinistro, e o
segurado deverá continuar a pagar o prêmio, sob pena de o seguro caducar.
2º É um contrato oneroso, pois traz prestações e contraprestações, uma vez que cada
um dos contraentes visa obter vantagem patrimonial.
3º É um contrato aleatório, por não haver equivalência entre as prestações; o segurado
não poderá antever, de imediato, o que receberá em troca de sua prestação, pois o
segurador assume um risco, elemento essencial desse contrato, devendo ressarcir o
dano sofrido pelo segurado, se o evento incerto e previsto no contrato ocorrer.
4º É um contrato formal, visto ser obrigatória a forma escrita, já que não obriga antes
de reduzido a escrito, considerando-se perfeito o contrato desde o momento em que o
segurador remete a apólice ao segurado, ou faz nos livros o lançamento usual da
operação (CC (LGL\2002\400), arts. 758 e 759).
5º É um contrato de execução sucessiva ou continuada, destinando-se a subsistir
durante um período de tempo, por menor que seja, pois visa proteger o bem ou a
pessoa.
6º É um contrato por adesão, formando-se com a aceitação pelo segurado, sem
qualquer discussão, das cláusulas impostas ou previamente estabelecidas pelo segurador
na apólice impressa, e as modificações especiais que se lhe introduzirem são ressalvas
que o segurador insere por carimbo ou justaposição.
7º É um contrato de boa-fé (CC (LGL\2002\400), arts. 765, 766 e parágrafo único), pois
o contrato de seguro, por exigir uma conclusão rápida, requer que o segurado tenha
uma conduta sincera e leal em suas declarações a respeito do seu conteúdo, do objeto e
dos riscos, sob pena de receber sanções se proceder com má-fé, em circunstâncias em
que o segurador não pode fazer as diligências recomendáveis à sua aferição, como
vistorias, inspeções ou exames médicos, fiando-se apenas nas afirmações do segurado,
que por isso deverão ser verdadeiras e completas, não omitindo fatos que possam influir
na aceitação do seguro. [...]. Todavia, a má-fé de ambos deverá ser comprovada.6
No mesmo sentido socorre-nos a doutrina do ilustre Prof. Flavio Tartuce:
Quanto à sua natureza jurídica, o contrato de seguro é um contrato bilateral, pois
apresenta direitos e deveres proporcionais, de modo a estar presente o sinalagma.
Constitui um contrato oneroso pela presença de remuneração, denominada prêmio, a ser
pago pelo segurado ao segurador. O contrato é consensual, pois tem aperfeiçoamento
com a manifestação de vontade das partes. Constitui um típico contrato aleatório, pois o
risco é fator determinante do negócio em decorrência da possibilidade de ocorrência do
sinistro, evento futuro e incerto, com o qual o contrato mantém relação.7
Cláusula-perfil no seguro de automóvel: abusiva ou
limitativa de direitos
Página 4
Dentro dessas características, importante é ressaltar-se uma, qual seja, a de que o
contrato de seguro é precipuamente um contrato lastreado na boa-fé. A boa-fé que é
exigida tanto ao segurado, quanto ao segurador, prevendo a lei sanções para quem
contratar de má-fé, conforme se verifica nos artigos 765, 766,768 e 769 do Código Civil
(LGL\2002\400).
A boa-fé é a alma do contrato de seguro, e obriga o segurado que ao contratar, faça
declarações verdadeiras, a fim de que a espécie de segurocontratado, e os riscos
cobertos possam ser devidamente honrados pelo segurador, pois, dependendo do risco
sob análise, essas declarações constituir-se-ão no nexo causal que conduzirá à definição
do prêmio (do preço do seguro) a ser pago pelos segurados.
Como se sabe, é mediante o recebimento desses prêmios dos segurados que o
segurador forma o fundo financeiro que propicia e garante o pagamento das
indenizações.
E é de lógica elementar que também ao segurador exige-se a mesma boa-fé:
conhecedor dos riscos para os quais está oferecendo segurança patrimonial,
impõe-se-lhe corretamente consigná-los na respectiva apólice, correção essa para cujo
atendimento exige-se desde a clareza declaratória até a ausência de disposições dúbias
ou sofismáticas. Compete, pois, ao segurador o dever jurídico de emitir a apólice não
somente em conformidade com a lei e o contrato, mas também dela fazendo ausentes
declarações e/ou disposições dúbias que lhe permitirão, diante de um futuro e eventual
sinistro, subsumir-se ao pagamento da respectiva indenização, sob pena de
configurar-se má-fé do segurador.
Nessa ordem de ideias, torna-se compulsório que ao segurado seja oferecido amplo
conhecimento de todas as condições do seguro, especialmente daquelas decorrentes das
cláusulas limitativas. Assim, não somente impõe-se clareza dispositiva às cláusulas
limitativas, as quais não devem ser obscuras, ambíguas ou de difícil interpretação, mas
também recomenda o princípio da boa-fé que os segurados devam ser segura e
adequadamente tornados conhecedores de todos os termos dessas cláusulas limitativas,
sob pena, repita-se, de o segurador não estar contratando de boa-fé.
2.3 Relação de consumo
Na contratação do seguro, o consumidor (segurado) simplesmente adere a todas as
cláusulas já estabelecidas previamente pelo fornecedor (segurador), eis que não lhe é
oferecida oportunidade ou faculdade de analisar ou discutir nenhuma delas. Assim – e
conforme já foi visto anteriormente – os contratos de seguro assumem a natureza
jurídica de contratos de adesão, uma das consequências imediatas e inerentes à forma
pela qual o segurador desenvolve a sua atividade econômica, comercializando em massa
os seus serviços e ampliando ilimitadamente as suas possibilidades de acesso ao grande
público. Por isso mesmo todo o relacionamento segurador/segurado opera-se e regula-se
pelas chamadas cláusulas gerais previamente feitas constar pelo segurador dos
respectivos contratos.
A observação dessas características e condições – a natureza da atividade econômica
desenvolvida pelo segurador, o produto por ele comercializado e a forma da respectiva
negociação e a população (a grande massa) tomadora dos seus serviços, fatores que por
si só exigem a presença de um contrato de adesão para a disciplina do relacionamento
segurador/segurado – torna-se importante quando se trata de conhecer-se outro
aspecto da natureza jurídico-econômica desse relacionamento, ou seja, da sua
configuração como relação de consumo.
A necessidade de o segurador equacionar e padronizar as cláusulas do contrato de
seguro disponibilizado ao mercado decorre dos próprios elementos que compõem o
respectivo negócio, tais como como a mutualidade, o cálculo das probabilidades, a
homogeneidade e outros. Nesse contrato padrão o segurador busca encontrar as
Cláusula-perfil no seguro de automóvel: abusiva ou
limitativa de direitos
Página 5
condições necessárias para equacionar os riscos, definir o prêmio (preço do seguro) e
delimitar as coberturas que serão garantidas pela apólice, o que lhe possibilitará no
curso do contrato indenizar o segurado e repor-lhe as perdas patrimoniais que sofreu em
virtude da ocorrência dos sinistros cobertos pela respectiva apólice. Assim, seja para
adequadamente classificar-se o contrato de seguro (como adesivo, p.ex.), seja para
conhecer-se a dinâmica da gênese obrigacional que dele decorre, seja ainda para
cotejar-se essas obrigações e a respectiva gênese com as diversas teorias de risco
(integral, parcial, p.ex.), a análise e a ponderação de todos esses elementos fazem-se
também importantes.
Conforme Nelson Nery Junior:
A respeito da configuração do contrato de seguro como sendo relação de consumo,
sujeito ao regime jurídico do CDC (LGL\1990\40), a doutrina é firme. Sendo contrato de
consumo, o seguro tem sua regulação precipuamente no CDC (LGL\1990\40).
Obviamente, tanto as regras específicas do CC (LGL\2002\400) sobre o tema (v.g., CC
(LGL\2002\400) 757 a 802), como também as da SUSEP (Superintendência de Seguros
Privados), se aplicam ao contrato de seguro. Temos um tríplice regulamento para o
seguro: CDC (LGL\1990\40), CC (LGL\2002\400) e regras da SUSEP. Todas essas
normas devem ser harmonizadas, de sorte a tornar legal e operativo o contrato de
seguro. Não é ocioso dizer que estamos falando de regras infraconstitucionais,
porquanto a norma maior da CF (LGL\1988\3) incide sobre o contrato de seguro e
prevalece sobre as previstas em lei ordinária (CDC (LGL\1990\40) e CC (LGL\2002\400))
ou na normatização infralegal (SUSEP).8
Atentando-se ao disposto no caput dos arts. 2º e 3º, § 2º, do CDC (LGL\1990\40):
Art. 2º Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou
serviço como destinatário final.
(...)
Art. 3º (...).
§ 2º Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante
remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária,
salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.
Tem-se como válida e irrefutável a interpretação do contrato de seguro como contrato
de consumo, normatizado pelo CDC (LGL\1990\40), pois inclui a atividade securitária
como sujeita ao regimento das relações de consumo. O contrato de seguro é
confeccionado pela seguradora (fornecedor) o qual unilateralmente estabelece seus
termos sem a participação do segurado (consumidor), sem levar em conta
diferenciações específicas e individuais de cada contratante, e este, por sua vez, mesmo
que discorde de alguma de suas cláusulas ou termos, não tem poder para retirá-la e/ou
modificá-la, caracterizando-se assim em verdadeiro contrato de adesão, no qual o
segurado deve vincular-se obrigatoriamente aos termos ajustados e estipulados pela
seguradora.
Esse mesmo entendimento é reforçado pela Prof. Claudia Lima Marques:
Resumindo, em todos estes contratos de seguro podemos identificar o fornecedor
exigido pelo art. 3º do CDC (LGL\1990\40), e o consumidor. Note-se que o destinatário
do prêmio pode ser o contratante com a empresa seguradora (estipulante) ou terceira
pessoa, que participará como beneficiária do seguro. Nos dois casos, há um destinatário
final do serviço prestado pela empresa seguradora. Como vimos, mesmo no caso do
seguro-saúde, em que o serviço é prestado por especialistas contratados pela empresa
(auxiliar na execução do serviço ou preposto), há a presença do “consumidor” ou alguém
a ele equiparado, como dispõe o art. 2º e seu parágrafo único.9
Cláusula-perfil no seguro de automóvel: abusiva ou
limitativa de direitos
Página 6
Temos assim comprovado ser firme e sereno o entendimento doutrinário quanto a esta
questão: a relação econômico-jurídica que se estabelece entre o segurador e o segurado
são tipicamente relações de consumo, em decorrência do que os contratos de seguro
submetem-se necessariamente ao Código de Defesa do Consumidor, devendo suas
cláusulas guardarem subordinação e conformidade com esse diploma legal, cujas formas
de interpretação e elaboração contratuais devem ser respeitadas, inclusive e
especialmente as que dizem respeito ao conhecimento do consumidor quanto ao
conteúdo do contrato, imprescindível à contenção dos abusos e dos desequilíbrios nas
relações contratuais.
3 Risco
3.1 Conceito
Com relação ao risco, o CC (LGL\2002\400) no art.757 dispõe que pelo contrato de
seguro pode-se “garantir interesse legítimo do segurado,relativo a pessoa ou a coisa,
contra riscos predeterminados”. Fica claro que o objeto do contrato – a garantia de
interesse legítimo – é aquele que está descrito na apólice do seguro, devendo ser lícito e
possível. Na mesma linha de raciocínio, complementamos o entendimento com o
disposto no art. 759 do mesmo diploma legal, “A emissão da apólice deverá ser
precedida de proposta escrita com a declaração dos elementos essenciais do interesse a
ser garantido e do risco”.
De acordo com Venosa, o risco pode ser definido “no acontecimento futuro e incerto
previsto no contrato, suscetível de causar dano. Quando este evento ocorre, a técnica
securitária o denomina sinistro”.10
Podemos citar os ensinamentos de Cavalieri quanto ao risco:
Três são os elementos essenciais do seguro – o risco, a mutualidade e a boa-fé –,
elementos, estes, que formam o tripé do seguro, uma verdadeira, “trilogia”, uma espécie
de santíssima trindade. [...] Risco é perigo, é possibilidade de dano decorrente de
acontecimento futuro e possível, mas que não depende da vontade das partes. Por ser o
elemento material do seguro, a sua base fática, é possível afirmar que onde não houver
risco não haverá seguro. As pessoas fazem seguro, em qualquer das suas modalidades –
seguro de vida, seguro de saúde, seguro de automóveis etc. –, porque estão expostas a
risco. [...] Em apertada síntese, seguro é contrato pelo qual o segurador, mediante o
recebimento de um prêmio, assume perante o segurado a obrigação de pagar-lhe uma
determina indenização, prevista no contrato, caso o risco a que está sujeito se
materialize em um sinistro. Segurador e segurado negociam as consequências
econômicas do risco, mediante a obrigação do segurador de repará-las.11
Para Carlos Roberto Gonçalves, o risco é, “[...] o acontecimento possível, futuro e
incerto, ou de data incerta, que não depende da vontade das partes”.12
O risco nada mais é que o acontecimento futuro e incerto, portanto aleatório quanto a
sua ocorrência, ou quanto a sua realização, previsto no contrato de seguro, e capaz de
resultar dano, seja ao patrimônio ou à pessoa do segurado, como também a terceiros;
danos esses que deverão ser reparados sob amparo do contrato de seguro por meio das
indenizações e conforme as garantias preestabelecidas na apólice.
Tecnicamente, quando o risco ocorre, ou seja, quando o fato futuro e incerto surge
faticamente durante a vigência da apólice, este recebe a denominação de sinistro. Dessa
forma, deve-se entender sinistro como todo evento coberto e devidamente amparado
pelas garantias contratadas na apólice de seguro.
3.2 Agravamento do risco
Tendo por base os conceitos tratados no item anterior, ao contratar uma apólice de
seguro, procura o segurado transferir para a seguradora o “risco”, o qual, se não
Cláusula-perfil no seguro de automóvel: abusiva ou
limitativa de direitos
Página 7
existisse, não haveria necessidade de custear uma apólice para garanti-lo. Nesse
sentido, podemos ressaltar que os riscos assumidos pela seguradora refletirão o prêmio
cobrado, já que quanto maior o risco, maior o prêmio, ou seja, a contribuição do
segurado, pois este é o reflexo daquele.13
Por tratar-se de contrato de execução sucessiva (conforme item 2.2), durante o prazo de
vigência da apólice podem ocorrer mudanças e/ou situações que acabem gerando o
agravamento do risco. Essas situações devem ser muito bem analisadas, pois
dependendo de sua interpretação podem ensejar a exoneração de pagamento da
seguradora, conforme previsto no Código Civil (LGL\2002\400) art. 768: “O segurado
perderá o direito à garantia se agravar intencionalmente o risco objeto do contrato”.
Neste momento cabe o seguinte questionamento: qual a definição legal de agravação
intencional do risco? Nossa legislação é silente quanto a este conceito legal, cabendo ao
juiz nessas circunstâncias agir conforme o Enunciado 374 da IV Jornada de Direito Civil
do STJ: “No contrato de seguro, o juiz deve proceder com equidade, atentando às
circunstâncias reais, e não a probabilidades infundadas, quanto à agravação dos riscos”.
14
Na doutrina encontramos que o “agravamento” deve possuir uma relevância capaz de
romper o equilíbrio contratual, ou seja, a proporção entre o risco assumido e o prêmio
pago, equação esta que apenas pode ser resolvida com a análise do caso concreto. O
renomado jurista Pontes de Miranda assim interpreta: “Para que haja a pena é preciso
que a mudança haja sido tal que o segurador, se ao tempo da aceitação existisse o risco
agravado, não teria aceito a oferta ou teria exigido prêmio maior”.15
A negativa da indenização securitária quando fundamentada no agravamento do risco
será aceita, quando e somente o segurado intencionalmente agravar o risco, seja pela
omissão dolosa de informações prévias que consequentemente agravariam o risco de
imediato perante a análise da seguradora, influenciando na aceitação e precificação do
contrato, seja também por omissão dolosa de fatos inerentes à ocorrência do sinistro
que tenham influência direta em seu agravamento, ou ensejem situações de perda da
garantia contratada.
Nesse sentido, Carlos Gonçalves nos ensina:
O segurado deve abster-se de tudo quanto possa aumentar os riscos, porque se é ele
próprio que o agrava, por sua conta, inscrevendo o veículo segurado em perigosa prova
de velocidade, por exemplo, perde o direito ao seguro (CC (LGL\2002\400), art. 768). A
perda só ocorrerá, no entanto, se o segurado “agravar intencionalmente”, dolosamente,
o risco objeto do contrato. A vedação decorre da sua obrigação de agir com boa-fé a
partir das declarações lançadas na proposta e durante o curso do contrato.16
O novel Código Civil (LGL\2002\400) prevê que, para a configuração do agravamento do
risco, é imprescindível que o segurado tenha agido intencionalmente de modo a agravar
o risco, ou seja, voluntariamente tenha se arriscado no evento danoso. Por exemplo,
para fins de exclusão do dever indenizatório, no caso da embriaguez, a seguradora
deverá demonstrar o nexo causal entre o evento ocorrido e a embriaguez (causa). Além
disso, deverá comprovar também, que este agravamento foi voluntário e consciente.
Não se pode em hipótese nenhuma presumir a culpa do segurado para configurar
agravamento do risco, mesmo que exista expressa previsão contratual que a causa (no
exemplo citado, a embriaguez) exclua a cobertura securitária.
A maioria dos casos de negativa de indenização lastreada em suposto agravamento do
risco não é resolvida no âmbito administrativo, sendo necessária a provocação do
Judiciário para reverter a decisão e obrigar o segurador a promover a indenização
devida.
Adiante, no tópico de jurisprudências, restará demonstrado que, em sua grande maioria,
Cláusula-perfil no seguro de automóvel: abusiva ou
limitativa de direitos
Página 8
os julgados estão debruçados em processos nos quais as seguradoras alegam o
agravamento do risco pactuado, para se eximirem do dever de indenizar. O segurador
busca, por todos os meios permitidos, configurar a hipótese de exclusão de cobertura
prevista no art. 768 do Código Civil (LGL\2002\400), alegando (por exemplo) que o
segurado estava embriagado, ou que estava na mão contrária de direção, ou que omitiu
intencionalmente informação constante da “cláusula de perfil”, entre outras tantas
alegações.
A análise desses aspectos legais e doutrinários do fator “risco e seu agravamento”
recomenda, portanto, que as situações aptas a conduzir ao agravamento do risco sejam
analisadas de forma objetiva, conforme o caso concreto, especialmente quando se leva
em conta a natureza de imprevisibilidade e de extraordinariedade dessas situações. Caso
não fossem imprevisíveis e extraordinárias essas situações, comportariam elas previsão
no respectivo contrato, o qual deveria consigná-las no momento da sua realização.
Assim, após a referida análise, caberá ao Juiz reconhecer o agravamento ou nãodo
risco, como também se este derivou de ação intencional do segurado (conforme previsto
no citado art. 768), e consequentemente decidir pela exoneração ou não da seguradora
em pagar a indenização pleiteada pelo segurado.
3.3 Regulação do sinistro
O estudo e análise do risco são indispensáveis para que o segurador possa realizar a
chamada “regulação do sinistro”.
Conforme nos ensina Ernesto Tzirulnik:
[…] a atividade de regulação de sinistro compreende, antes de mais nada, no cotejo do
fato ou evento noticiado com o risco assegurado, e demais estipulações contratuais. Se o
resultado da operação for positivo, isto é, se houver identidade, ainda que parcial, entre
o fato e o risco garantido pelo segurador, então haverá sinistro.17
A regulação de sinistro como procedimento especializado, é realizada de forma direta por
empregado do segurador ou empresa terceirizada por ele contratada, profissional este
com conhecimento técnico específico sobre o ramo de seguro envolvido, o qual,
verificando a correspondência entre a cobertura e o risco realizado, apura os prejuízos
sofridos pelo segurado, resultando num relatório que contém o julgamento a respeito da
liberação ou não da prestação indenizatória.
Alexandre Del Fiori assim completa:
Regulação de sinistro: Termo utilizado para definir a primeira fase de um sinistro, que
consiste de um relatório com a apuração dos prejuízos realmente sofridos pelo
Segurado, se o evento estiver previsto e coberto no contrato, caso existam franquias ou
participação a serem deduzidas, cosseguro ou resseguro a recuperar. Regulador de
sinistro: Termo utilizado pelo Segurador para definir pessoa especializada em
determinado(s) ramo(s) de seguro, pertencente ou não ao seu quadro funcional, que
realiza ou efetua apuração dos prejuízos realmente sofridos pelo Segurado,
demonstrados mediante Relatório de Regulação, num determinado sinistro, para fins de
regulação, ou não, de pagamento de indenização.18
Dessa análise acerca da regulação de sinistro, deduz-se que qualquer impedimento à
realização da indenização por parte do segurador diante de pedido expresso do segurado
quando da ocorrência do risco, considerar-se-á materializado após a regulação do
sinistro, pois essa é a fase do procedimento regulatório na qual o regulador realiza
correspondência entre o fato ocorrido com as garantias contratadas a fim de verificar se
existe a cobertura para o evento reclamado, como também a veracidade das
informações prestadas pelo segurado, e quaisquer outros pontos controvertidos que
possam caracterizar um eventual agravamento do risco.
Cláusula-perfil no seguro de automóvel: abusiva ou
limitativa de direitos
Página 9
Nota-se claramente a importância dessa atividade dentro da consecução dos objetivos
contratuais do seguro, pois do seu resultado depende a efetivação positiva ou negativa
do pagamento indenizatório esperado e pretendido pelo segurado.
Quanto ao procedimento regulatório, afirma Carlos Barbosa Bessa:
Regulação de sinistro, a que se dá também, comumente, o nome de liquidação, aplicável
ao conjunto, é o processo de apuração dos prejuízos sofridos pelo segurado e de todos
os demais elementos que influem no cálculo da indenização e no direito do segurado a
essa mesma indenização. Da regulação e, portanto, de sua perfeição e do cuidado com
que esteja sendo processada, depende a boa ou a má liquidação do sinistro. É de todo
interesse, pois, tanto para os seguradores como para os segurados, que a esta fase
básica da liquidação de sinistros seja dispensada a maior atenção e que ela se processe
rigorosamente de acordo com os princípios legais e os dispositivos do contrato de
seguro.19
Encerrada a regulação do sinistro, o segurado será formalmente informado quanto à
decisão do segurador, identificando a liberação e aprovação da indenização autorizada e
respectivos valores e método de apuração; ou identificando a negativa de pagamento,
devidamente fundamentada conforme as condições e cláusulas da apólice, juntamente
com os esclarecimentos quanto aos fatos apurados durante a liquidação, os quais deram
amparo à recusa da indenização pleiteada.
Daí a importância de conceituarmos e identificarmos com clareza e objetividade, quando
essas recusas podem ser legalmente embasadas em cláusulas limitativas, e quando elas
ocorrem ilegalmente, pois as cláusulas que lhe alicerçam na verdade são abusivas, e,
portanto, devem ser consideradas nulas de pleno direito.
4 Cláusulas abusivas
4.1 Conceito
Embora o novo Código Civil (LGL\2002\400) não preveja de forma expressa a aplicação
da equidade na solução de conflitos originados na análise do artigo 768, é possível
concluir que sobre esta norma recaem as regras do art. 51 do CDC (LGL\1990\40),
constantes da Seção II deste diploma legal intitulado “Das cláusulas abusivas”, o qual
traz em seu § 1º:
Presume-se exagerada, entre outros casos, a vantagem que:
I – ofende os princípios fundamentais do sistema jurídico a que pertence;
II – restringe direitos ou obrigações fundamentais inerentes à natureza do contrato, de
tal modo a ameaçar seu objeto ou o equilíbrio contratual;
III – se mostra excessivamente onerosa para o consumidor, considerando-se a natureza
e conteúdo do contrato, o interesse das partes e outras circunstâncias peculiares ao
caso.
De acordo com Nelson Nery Junior:
[…] o instituto das cláusulas abusivas não se confunde com o do abuso de direito do art.
187 do Código Civil (LGL\2002\400). Podemos tomar a expressão “cláusulas abusivas”
como sinônima de cláusulas opressivas, cláusulas vexatórias, cláusulas onerosas ou,
ainda, de cláusulas excessivas. Nesse sentido, cláusula abusiva no contrato de consumo
torna inválida a relação contratual pela quebra do equilíbrio entre as partes, pois
normalmente se verifica nos contratos de adesão, nos quais o estipulante se outorga
todas as vantagens em detrimento do aderente, de quem são retiradas as vantagens e a
quem são carreados todos os ônus derivados do contrato.20
Essas hipóteses constantes no § 1º do art. 51 são exemplificativas. Em continuidade ao
Cláusula-perfil no seguro de automóvel: abusiva ou
limitativa de direitos
Página 10
pensamento do autor:
Sempre que verificar a existência de desequilíbrio na posição das partes no contrato de
consumo, o juiz poderá reconhecer e declarar abusiva determinada cláusula, atendidos
os princípios da boa-fé e da compatibilidade com o sistema de proteção ao consumidor.
21
4.2 Cláusulas abusivasx abuso de direito
Com base nos conceitos elencados, podem-se caracterizar as cláusulas abusivas por
meio da vantagem indiscriminada de um sobre o outro, ou seja, pela existência de
onerosidade excessiva, desequilibrando as relações negociais. Nestas tem-se a quebra
da boa-fé e da equidade.
A cláusula abusiva, por seu turno, se declarada de ofício pelo juiz, enseja nulidade de
pleno direito, vez que ofende a ordem pública de proteção ao consumidor, e sendo
matéria de ordem pública não está sujeita à preclusão, podendo ser alegada pela parte a
qualquer momento durante o processo, e em qualquer grau de jurisdição.
Importante neste momento diferenciá-la do abuso de direito, o qual pode ser
caracterizado pelo exercício de um direito subjetivo em desconformidade com os
princípios axiológicos que delimitam esse direito; ou seja, contradizendo o valor que ele
busca tutelar. O Código Civil (LGL\2002\400) trata a matéria em seu art. 187:
Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou
pelos bons costumes. O exercício abusivo de um direito pode ter como consequência o
dever de indenizar e reparar o correspondente dano, e portanto, implica em verdadeira
responsabilidade civil.
De acordo com o Prof. Washington de Barros Monteiro, o abuso de direito poderia ser
assim caracterizado:
para uns,seu elemento caracterizador repousa na intenção de prejudicar. Todas as
vezes que o titular exercite um direito movido por esse propósito subalterno, configurado
estará o abuso de direito. Para outros, o critério identificador reside na ausência de
interesse legítimo. Se o titular exerce o direito de modo contrário ao seu destino, sem
impulso de um motivo justificável, verificar-se-á o abuso dele.22
Para ilustrar o entendimento, vejamos acordão proferido pelo eminente Ministro Aldir
Passarinho Junior, em REsp 124.527/SP (1997/0019630-5):
I – A empresa cujo preposto, buscando evitar atropelamento, procede a manobra
evasiva que culmina no abalroamento de outro veículo, causando danos, responde
civilmente pela sua reparação, ainda que não se configure, na espécie, a ilicitude do ato,
praticado em estado de necessidade.23
Complementando a ilustração, agora traduzindo verdadeiro abuso de direito, vejamos o
Enunciado 543 aprovado na VI Jornada de Direito Civil: “Constitui abuso do direito a
modificação acentuada das condições do seguro de vida e de saúde pela seguradora
quando da renovação do contrato”.24
5 Cláusulas limitativas de direito
5.1 Conceito
O Código de Defesa do Consumidor, em seu art. 54, § 4º, assim determina: “As
cláusulas que implicarem limitação de direito do consumidor deverão ser redigidas com
destaque, permitindo sua imediata e fácil compreensão”.
Da análise da norma extrai-se de forma inequívoca que, qualquer previsão que resulte
Cláusula-perfil no seguro de automóvel: abusiva ou
limitativa de direitos
Página 11
em limitação de direito ao consumidor, deverá estar fisicamente destacada de forma a
permitir ao aderente sua imediata identificação, vez que representa verdadeira
desvantagem, verdadeira privação de direitos, a qual deve ser redigida de forma clara e
inteligível ao homem médio, de cuja leitura o consumidor possa extrair facilmente os
limites aos quais está aderindo.
As cláusulas limitativas não serão declaradas nulas desde que respeitem os preceitos
legais do CDC (LGL\1990\40), e obedeçam aos citados requisitos de convalidação.
Fica evidente que o Código de Proteção do Consumidor não proibiu a inserção de
cláusulas limitativas nos contratos, mas regulamentou a sua inserção dentro do contexto
contratual.
Nesse sentido e conforme a norma consumerista, a cláusula limitativa não será
declarada nula quando estiver inserida no contrato, traduzindo toda situação ou
estipulação que implicar ou cercear qualquer limitação de direito do consumidor, como
também indicando as desvantagens do aderente, devendo estar obrigatoriamente
exposta, de forma clara e inequívoca.
Complementando o entendimento, devem-se interpretar as cláusulas limitativas em
acordo com o art. 47 do CDC (LGL\1990\40) que assim determina: “As cláusulas
contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor”; ou seja,
havendo dúvidas quanto à hermenêutica, dar-se-á o sentido “contra stipulatorem” (em
favor do aderente).
Conforme entendimento de José Aguiar Dias:
Sem embargo de sua utilidade, pois estimula os negócios, mediante o afastamento da
incerteza sobre o quantum da reparação, a cláusula limitativa muitas vezes resulta em
burla para o credor. Dificilmente se dá o caso de ser o dano real equivalente à reparação
prefixada: o mais frequente é representar um simulacro de perda e danos.25
5.2 Cláusula limitativa no contrato de seguro
Em virtude de sua natureza jurídica, o contrato de seguro é permeado por diversas
cláusulas limitativas, as quais buscam identificar os riscos cobertos pela apólice,
delimitando sua abrangência e incidência, de forma a respeitar seus fundamentos
básicos: mutualidade, cálculo das probabilidades e homogeneidade, possibilitando ao
segurador definir o valor do prêmio (preço do seguro) e da indenização futura, a qual
estará diretamente ligada à delimitação dos riscos desenhada por meio dessas mesmas
cláusulas limitativas.
O contrato de seguro possui em sua gênese a obrigação de transferir o risco do segurado
para o segurador, a fim de que este assuma os riscos previstos no contrato. Para tanto,
deverá estar sempre presente a mutualidade, ou seja, a base econômica sob a qual se
assenta o negócio jurídico securitário provê da existência de um fundo comum, no qual
são reunidos os prêmios pagos por todos os segurados, e que fará perante as
indenizações que ocorrerem dentro deste mesmo grupo segurado. Por outro lado, o
segurador deve pelo cálculo das probabilidades, fixar o valor desse prêmio (preço) que
deverá ser cobrado do segurado a fim de suportar a parte que lhe cabe na divisão
(mutualidade) do risco. Esses cálculos são elaborados por meio de análise e estudos
atuariais e estatísticos, acerca da ocorrência de sinistros sobre determinado risco, e tem
por objetivo fixar as taxas e valores que serão cobrados dos segurados, de forma a
encontrar um equilíbrio entre os prêmios cobrados, os futuros sinistros (indenizações), e
ainda a margem de lucro necessária para a realização dos fins econômicos e sociais da
empresa seguradora.
O cálculo das probabilidades está diretamente ligado à homogeneidade dos riscos, pois
cada segurado deve pagar a cota de prêmio necessária à proporção de risco que ele
agrega ao grupo segurado. E essa operação somente é possível realizar-se dentro de
Cláusula-perfil no seguro de automóvel: abusiva ou
limitativa de direitos
Página 12
grupos homogêneos de risco. Por esse motivo existem diversos ramos e modalidades de
garantias e coberturas à disposição do mercado. Por exemplo, no seguro de automóvel é
possível contratar cobertura de furto e roubo para equipamentos de som e imagem,
devendo o segurado arcar com o percentual sobre o valor segurado desses
equipamentos. Os demais segurados, que não desejem tal cobertura, não participarão
deste acréscimo na contribuição do prêmio, pois evidentemente que não causarão ao
grupo nenhum sinistro dessa ordem, pois não possuem contratada em suas apólices a
respectiva garantia.
De acordo com Huber e Dettmer:
A própria natureza do contrato de seguro impõe a existência de cláusulas limitativas,
pois ele se fundamenta na mutualidade e cálculo das probabilidades de delimitação dos
riscos que serão cobertos para definir o valor de seu preço (prêmio) e da futura
indenização. Desta forma, o contrato de seguro contém cláusulas que são limitativas dos
riscos para viabilizar suas contratações e indenizações. Ainda, ratificam eles, o que já foi
até então constatado, de que o CDC (LGL\1990\40) permite a inclusão de cláusulas
limitativas de direito, desde de que tais cláusulas estejam necessariamente inseridas no
contexto contratual na forma prevista no CDC (LGL\1990\40).26
Nas palavras da Dra. Beatriz Castilho Daniel:
Em se tratando de seguro, tal cláusula deve estar assentada não somente na proposta
de adesão ao seguro, bem como na apólice ou qualquer outro documento legalmente
aceito analogamente a tal (CC (LGL\2002\400), art. 758), como citamos no caso do
questionário da avaliação dos riscos. [...] é próprio do contrato de seguro a imposição de
cláusulas limitativas, com vistas a limitar a responsabilidade sobre os riscos assumidos,
corroborando com o princípio milenar de que ninguém está obrigado a assumir obrigação
maior do que deseja.27
O Ilustre Desembargador Sérgio Cavalieri Filho nos distingue a cláusula limitativa do
risco da cláusula abusiva nos contratos de seguro, nos seguintes termos:
Tenho sustentado que a principal diferença entre a cláusula limitativa do risco, da qual
acabamos de falar, e a cláusula abusiva está em que a primeira tem por finalidade
restringir a obrigação assumida pelo segurador, enquanto a segunda objetiva restringir
ou excluir a responsabilidade decorrente do descumprimento de uma obrigação
regularmente assumida pelo segurador, ou ainda a que visa a obter proveito sem causa.
E, como todos sabemos, obrigação e responsabilidadesão coisas distintas, que não
podem ser confundidas. Portanto, a princípio, as cláusulas limitativas nos contratos de
seguro não são vedadas, não sendo consideradas abusivas, devendo estar inseridas no
contexto contratual de acordo com o determinado no Código de Proteção do
Consumidor. Ocorre que, nos casos concretos, a forma como está inserida uma cláusula
limitativa, seu conteúdo em relação ao objeto do contrato, ou até a apresentação de
uma proposta simplificada na contratação, com a posterior entrega ao segurado do
contrato, e muitas vezes, sem até tal entrega, causando um total desconhecimento das
cláusulas, especialmente as limitativas ocasionam um profundo desequilíbrio entre as
partes, gerando o conflito de interesses, entre o segurado que almeja a proteção pessoal
ou patrimonial, e o segurador, que necessita limitar os riscos para viabilização das
indenizações. Desse modo, no conflito de interesses entre segurado e segurador, o
contrato deve ser interpretado segundo o artigo 47 do Código de Proteção ao
Consumidor, favorável ao consumidor, ou seja, ao segurado. O referido Código, na
esfera contratual, visa coibir desequilíbrios entre as partes, disciplinando como devem
ser as relações jurídicas contratuais, devendo o fornecedor dar conhecimento prévio ao
consumidor sobre o conteúdo do contrato, além de utilizar redação clara, e destacando
as que importem em limitação ao direito do consumidor, como se verifica nos artigos 46
e 54, §§ 3º e 4º. Em não se observando tais preceitos exigidos pelo ordenamento
jurídico, acarretará uma profunda desigualdade entre as partes contratantes, na qual o
segurado terá pago o prêmio, sem conhecimento das cláusulas que limitam seu direito
Cláusula-perfil no seguro de automóvel: abusiva ou
limitativa de direitos
Página 13
de indenização na hipótese de risco. Cabe analisar a extensão do disposto pelo Código
de Proteção do Consumidor no tocante à interpretação das cláusulas limitativas, a fim de
que tais cláusulas não caracterizem como abusivas.28
É de analisar, portanto, que sobre as cláusulas limitativas, o Código Civil
(LGL\2002\400) e o Código de Proteção do Consumidor estão em sintonia. Ocorre que,
as cláusulas limitativas merecem maior atenção em relação à abusividade, ou seja, se
em algum momento as cláusulas limitativas se caracterizam como abusivas, serão nulas
de pleno direito, conforme dispõe o artigo 51 do Código de Proteção do Consumidor.
No tocante às cláusulas limitativas, indispensáveis para contratação de seguros
conforme já analisado, estas devem estar inseridas no corpo contratual nos moldes do §
4º do artigo 54 do Código de Proteção do Consumidor, ou seja, devidamente incluídas na
apólice, redigidas com destaque, e de fácil compreensão, além de que devem ser
entregues ao segurado, para que este tenha pleno conhecimento das limitações ao seu
direito.
6 Questionário de avaliação de risco – Cláusula “Perfil”
6.1 Conceito
O questionário de avaliação de risco, anexo do contrato de seguro de automóvel, nada
mais é que parte integrante e inseparável da apólice de seguro, e nele encontram-se
reproduzidas todas as questões apresentadas pelo segurador no momento de confecção
da proposta de seguro, e as respectivas respostas oferecidas pelo segurado. Presta-se
para finalizar o cumprimento das exigências do segurador para a identificação dos riscos
e cálculo do prêmio do seguro (preço). Atualmente o preenchimento desse questionário
é praticamente obrigatório para a contratação do seguro de automóvel, visto que as
seguradoras não mais apresentam propostas sem a cláusula “perfil”, modalidade que
anteriormente era conhecida como seguro com “motorista livre” ou simplesmente “sem
perfil”. Para fins de ilustração inicial, cabe analisar o conceito de cláusula perfil elaborado
pela Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon):
O contrato de seguro firmado com base em cláusula de “perfil” visa a dar cobertura de
um determinado bem em relação a determinada(s) pessoa(s). O valor do prêmio é
fixado, não só em relação ao bem segurado, mas levando-se em conta o risco que
determinada(s) pessoa(s) oferece(m) para a seguradora, tendo como base
o questionário respondido, levando-se em conta os seguintes itens: Idade do(s)
condutor(es) do veículo; tempo de habilitação do(s) condutor(es); sexo do(s)
condutor(es); estado civil; filhos e idade desses; cidade onde o carro circula
normalmente; se o veículo fica em garagem, estacionamento ou via pública. A cláusula
de perfil dará um desconto para o segurado na hora de pagar o valor do prêmio. No
entanto, pode gerar problemas quando houver eventual pagamento da indenização,
motivo pelo qual, deve o consumidor responder todas as questões com a maior
clareza ressaltando inclusive, na proposta, se o veículo é dirigido por outras pessoas ou
se circula em outras cidades com frequência.29
No questionário de avaliação de risco (perfil) encontramos questões relativas ao principal
condutor, como nome completo, relação com o segurado, CPF, data de nascimento,
sexo, estado civil, profissão, se residem com o condutor pessoas na faixa etária entre 18
a 24 anos, tipo de residência, distância da residência até o local de trabalho, CEP do
local onde o veículo pernoita, se possui garagem ou estacionamento fechado e exclusivo
para o veículo segurado na residência, no trabalho, no colégio/faculdade/pós-graduação,
se utiliza o veículo dois ou mais dias da semana para prestação de serviços e/ou visitar
clientes e/ou fornecedores, se possui dispositivo antifurto/antirroubo instalado no
veículo, entre outras, sendo que cada segurador estipula a cláusula-perfil conforme
melhor lhe convém.
Conforme entendimento de Ricardo Bechara Santos:
Cláusula-perfil no seguro de automóvel: abusiva ou
limitativa de direitos
Página 14
Trata-se, portanto, de importante ferramenta de justiça tarifária, permitida e utilizada
nas legislações das nações mais avançadas, e jamais vedada pelo direito pátrio, posto
que mecanismo racional para uma justa política de precificação da garantia do risco,
perfeitamente harmonizada com a natureza própria do seguro, este que, consoante o
artigo 757 do Código Civil (LGL\2002\400), tem por apanágio a delimitação objetiva e
subjetiva do risco em toda sua extensão no contrato, base na qual pode o segurador,
como gestor da mutualidade da qual faz parte cada segurado, dimensionar sua
responsabilidade e taxar adequadamente o prêmio, este que se constitui na função do
risco.30
Saliente-se inicialmente que as normas reguladoras da Superintendência de Seguros
Privados – SUSEP (Circular SUSEP 256/2004 – Seção XVII – Das Informações para
Avaliação de Risco) autorizam a utilização de critérios baseados em questionário de
avaliação de risco para o cálculo do prêmio:
Art. 41. As sociedades seguradoras que utilizarem critérios baseados em questionário de
avaliação de risco no cálculo dos prêmios deverão fornecer todos os esclarecimentos
necessários para o correto preenchimento do questionário, bem como especificar todas
as implicações, no caso de informações inverídicas devidamente comprovadas. Parágrafo
único. Fica vedada a negativa do pagamento da indenização ou qualquer tipo de
penalidade, ao segurado, quando relacionada a perguntas que utilizem critério subjetivo
para a resposta ou que possuam múltipla interpretação.31
Vê-se, assim, que as normas da SUSEP possibilitam aos seguradores a comercialização
de seguros lastreados no questionário de avaliação de risco (perfil), do qual resultará a
manifestação do interesse segurável desde que atendidos determinados requisitos:
fornecimento pelo segurado de todos os esclarecimentos necessários ao correto
preenchimento do questionário; a explicitação das consequências na hipótese em que
resulte comprovado serem inverídicas as informações prestadas; a utilização de critérios
objetivos que não comportem múltipla interpretação e que não propiciem a geraçãode
dúvidas.
O questionário de avaliação de risco deve ser redigido em linguagem de fácil e imediata
compreensão e todas as implicações decorrentes de eventuais declarações inverídicas
devem estar transcritas com destaque.
6.2 Fundamentos
A prévia análise dos riscos a serem assumidos pela entidade seguradora é imprescindível
para a manutenção do equilíbrio do fundo constituído pelo grupo segurado e,
consequentemente, a concretização das indenizações dos sinistros que eventualmente
devam ser suportados pela seguradora. Tem-se, por esse aspecto, a cláusula-perfil como
uma condição restritiva de direito, e, portanto, verdadeira cláusula limitativa, que em
nada desnatura a finalidade do contrato de seguro e não interfere no equilíbrio da
relação contratual.
Desta análise conclui-se que as cláusulas limitativas (entre elas a cláusula-perfil) são
necessárias para proporcionar segurança à atividade das seguradoras, bem como para
proteger a mutualidade de segurados, tendo em vista as indenizações individuais a
serem arcadas pela própria coletividade de consumidores. Nesse sentido, o “perfil” visa
limitar os riscos que serão indenizáveis e assim possibilitar o cálculo do prêmio (preço)
através de estatísticas e probabilidades, e sendo lícito e indispensável à atividade do
segurador, não se confunde com a cláusula abusiva que visa a exoneração de uma
obrigação regularmente assumida pelo fornecedor.
Novamente citando Ricardo Bechara Santos:
O tão incompreendido “Perfil”, que em verdade se cristaliza no chamado “Questionário
de Avaliação de Risco”, representa o bônus para os segurados que se expõem, e expõem
Cláusula-perfil no seguro de automóvel: abusiva ou
limitativa de direitos
Página 15
terceiros, a um menor grau de risco, seja em frequência, seja em severidade, enquanto
representa o malus para os segurados de maior grau de risco, dando assim, uma ideia
de corpo do risco a ser examinado, assumido, taxado, ou recusado.32
O questionário de avaliação de risco é, nesse sentido, um instrumento que objetiva uma
repartição justa e proporcional dos custos, partindo do princípio de que aquele que
detém maior parcela do risco não merece beneficiar-se com a mesma parcela dos custos
daquele que se expõe a menores riscos. Nessa ordem, conclui-se ser o “perfil” uma
ferramenta útil e necessária ao exercício da justiça tarifária, na medida em que
proporciona ao segurador a possibilidade de promover uma justa política de precificação
do risco, em perfeita consonância com a própria natureza do seguro e em conformidade
com o quanto dispõe o artigo 757 do Código Civil (LGL\2002\400).
Aliás, possibilita ele a delimitação objetiva e subjetiva do risco objeto do contrato, base
na qual o segurador pode, como gestor da mutualidade e do fundo garantidor do grupo
segurado, identificar e dimensionar a extensão de sua responsabilidade, possibilitando
assim efetuar a correta taxação do prêmio em vista dos riscos assumidos. Oportuno
neste momento citar decisão do Supremo Tribunal Federal: “as seguradoras se obrigam
a se fiar nas informações do segurado, com base nas quais dimensiona a sua
responsabilidade e taxa o prêmio devido, por isso que a lei as protege das declarações
inexatas”.33
Pedro Alvim assim leciona:
há uma tendência natural para transferência ao segurador dos maus riscos ou dos riscos
agravados. [...] é por isso que a proposta de seguro é acompanhada do questionário
sobre a natureza do risco a ser coberto. Através dele se faz a seleção dos riscos,
recusando-se a cobertura dos anormais ou os aceitando, mediante condições especiais.
Às vezes, a seguradora chega a limitar até o desenvolvimento da carteira, como ocorre
com a de automóveis.34
Com a evolução da capacidade de processar eletronicamente as informações, e
interpretar de forma sistematicamente otimizada os dados coletados, o segurador passa
a aceitar riscos e precificá-los em função da exposição individual de cada segurado aos
respectivos riscos, alcançando assim a desejável proporcionalidade entre o interesse
segurável, o exercício desse interesse, e o prêmio fixado.
Nessa ordem de ideias, quando aplicada ao ramo “veículos”, a cláusula “perfil” deve ser
tida como parte de uma técnica aprimorada para identificação de riscos relativos ao uso
do veículo, possibilitando assim maior precisão na mensuração dos riscos, e,
consequentemente, o oferecimento para o mercado consumidor de preços corretos,
coerentes com os riscos mensurados.
6.3 Cláusula Perfil – limitativa ou abusiva
Segurado e segurador vivenciam a mesma realidade negocial e se devem – mutuamente
– igual lealdade. O segurador deve cuidar para que o segurado tome conhecimento do
conteúdo do contrato de seguro, sem o que não poderá fazer valer a norma
anteriormente comentada. As cláusulas limitativas (entre as quais já oportunamente
enquadramos a cláusula-perfil), devem ser ressaltadas na apólice, como também serem
redigidas de forma a que o segurado possa entender seu alcance e incidência. A apólice
deve restringir de modo explícito a sua responsabilidade, sob pena de a restrição não
valer para o segurado.35
O art. 759 do Código Civil (LGL\2002\400) assim estabelece: “A emissão da apólice
deverá ser precedida de proposta escrita com a declaração dos elementos essenciais do
interesse a ser garantido e do risco”.36
Conforme já visto, cabe ao segurado o dever de lealdade e boa-fé no fornecimento das
informações que lhe forem solicitadas quando da confecção da proposta de seguro,
Cláusula-perfil no seguro de automóvel: abusiva ou
limitativa de direitos
Página 16
significando isso dizer que, no caso específico sob análise (seguro de automóvel), o
questionário de avaliação de risco deve ser preenchido com declarações verdadeiras e
conduta sincera, leal.
O Questionário de Avaliação do Risco integra a proposta de seguro e traz informações
importantes a fim de que a seguradora possa avaliar os riscos e estabelecer
adequadamente o prêmio. No entanto, conforme alerta Flávio Tartuce: [...] essa
determinação dos riscos deve ser analisada à luz da função social dos contratos, da
boa-fé objetiva e da proteção da dignidade humana, não podendo colocar o segurado
aderente em situação de extrema desvantagem ou de onerosidade excessiva.37
O Código Civil (LGL\2002\400) assim prevê em seu art. 766:
Se o segurado, por si ou por seu representante, fizer declarações inexatas ou omitir
circunstâncias que possam influir na aceitação da proposta ou na taxa do prêmio,
perderá o direito à garantia, além de ficar obrigado ao prêmio vencido. Parágrafo único:
Se a inexatidão ou omissão nas declarações não resultar de má-fé do segurado, o
segurador terá direito a resolver o contrato, ou a cobrar, mesmo após o sinistro, a
diferença do prêmio.38
Da análise da norma infere-se que, se a inexatidão ou omissão encontradas pelo
segurador nas declarações do segurado não resultar de má-fé deste, o segurador terá
direito de resolver o contrato, caso o risco ainda não tenha se verificado, ou de cobrar,
mesmo após a ocorrência do sinistro, a diferença do prêmio.
Complementando o raciocínio, o art. 768 do Código Civil (LGL\2002\400) prevê outra
hipótese legal de exclusão da cobertura securitária: “O segurado perderá o direito à
garantia se agravar intencionalmente o risco objeto do contrato”.39
Washington de Barros Monteiro considera que:
O legislador só comina a pena para o segurado, porque este é que tem maior
possibilidade de burlar o dever de veracidade e boa-fé, inerentes ao contrato. Se a
dobrez e a má-fé promanam do segurador, poderá o segurado pleitear a anulação do
seguro; se do segurado, como é mais frequente, a consequência é também a nulidade,
respondendo pelo prêmio vencido.40
A cláusula-perfil será caracterizada como limitativa, quando obedecidos os princípios de
lealdade e da boa-fé, cumprido o dever de informação, e tiver sido a cláusula redigida de
forma a permitirsua imediata e fácil compreensão, com destaque para a limitação por
ela estatuída, ou seja, de modo a não restar dúvidas ao segurado no tocante à limitação
imposta contratualmente (ver item 5.1). Se na elaboração do contrato de seguro não
forem observados esses requisitos, a cláusula-perfil tornar-se-á cláusula abusiva, posto
que não foram obedecidos os ditames do Código de Defesa do Consumidor e do Código
Civil (LGL\2002\400). E o manifesto descumprimento da norma legal não só vem colocar
o segurado em desvantagem excessiva, como também, ferindo o princípio basilar da
boa-fé e da lealdade, torna-se abusiva e, portanto, portadora do vício de nulidade ou de
anulabilidade.
Com relação ao questionário de avaliação de risco, muitas questões podem ser
levantadas.
Um primeiro questionamento surge da interpretação do principal condutor.
Algumas seguradoras definem como principal condutor aquele que utiliza o veículo 75%
do tempo. A qual tempo o segurador se refere? Tempo total de utilização do veículo
durante o dia, durante a noite, em dias úteis, aos finais de semana, durante a semana,
durante o mês?
Na hipótese de nenhum condutor enquadrar-se nessa hipótese, quem será considerado o
Cláusula-perfil no seguro de automóvel: abusiva ou
limitativa de direitos
Página 17
principal condutor?
A residência possui garagem fechada para o veículo? O portão é automático ou manual?
Respondido que o portão é automático, caso ele pare de funcionar e tenha que ser
acionado manualmente, e ocorra um sinistro de roubo nesse contexto, qual será o
entendimento do segurador?
Outra questão no mesmo sentido: possuindo uma garagem em sua casa para guarda
adequada do seu veículo, o segurado, entretanto, estaciona-o em frente à sua residência
para apanhar alguns documentos e, ao sair, descobre que o veículo foi furtado.
Haverá para o segurado a obrigatoriedade de manter sempre o veículo estacionado na
sua garagem quando adentrar à sua residência?
E se a garagem estiver sendo momentaneamente utilizada para outra finalidade
emergencial, ou mesmo para sofrer manutenção?
Essas dúvidas – e outras tantas – não se encontram esclarecidas no contrato de seguro,
mas são objeto de incontáveis processos judiciais, nos quais se discute incansavelmente
a omissão ou inexatidão das informações prestadas pelo segurado no questionário-perfil,
como também se debatem os litigantes na pesquisa da existência ou não de má-fé por
parte do segurado.
E a omissão contratual desses esclarecimentos remete-nos compulsoriamente à pesquisa
de formas diversas para conhecimento dos direitos e dos deveres das partes
contratantes.
Nessa pesquisa, o que de primeiro nos cabe dizer é que, ocorrendo o sinistro e finalizado
o processo de regulação, a eventual identificação de divergências entre as informações
lançadas pelo segurado no questionário-perfil, e a verdade fática do evento danoso,
somente justificarão a negativa de indenizar se o segurador provar a má-fé do segurado,
não bastando para a negativa de indenização apenas identificar a omissão ou inexatidão
das informações.
Deverá cumulativamente restar provada a má-fé do segurado e a sua correlação com o
nexo causal do evento danoso.
Nesse sentido, valiosas as considerações tecidas por Arnoldo Wald:
Para desconstituir o direito do beneficiário do seguro, incumbe à seguradora demonstrar,
cabal e inequivocamente, que o proponente agiu com má-fé, alterando,
intencionalmente, a verdade, com o propósito de influir na aceitação. Na interpretação
do contrato de seguro, deve-se adotar a mesma regra dos de adesão; na dúvida, a favor
do aderente, bastando a simples ignorância para a prova da boa-fé.41
6.4 Jurisprudência
A jurisprudência é ampla e o estudo dos principais julgados possibilita identificar o
entendimento majoritário no sentido de caber à seguradora comprovar a ocorrência de
dolo ou má-fé no agir do segurado com relação às informações do perfil, bem como que
este tenha prestado informações falsas, a fim de reduzir o valor do prêmio a ser pago.
Assim consolidado o entendimento do STJ:
As declarações inexatas ou omissões no questionário de risco em contrato de seguro de
veículo automotor não autorizam, automaticamente, a perda da indenização securitária.
É preciso que tais inexatidões ou omissões tenham acarretado concretamente o
agravamento do risco contratado e decorram de ato intencional do segurado.
Interpretação sistemática dos arts. 766, 768 e 769 do CC/02 (LGL\2002\400).42
No contrato de seguro, o juiz deve proceder com equilíbrio, atentando às circunstâncias
Cláusula-perfil no seguro de automóvel: abusiva ou
limitativa de direitos
Página 18
reais, e não a probabilidades infundadas quanto à agravação dos riscos.43
De acordo com a decisão supracitada do Superior Tribunal de Justiça, declarações
inexatas ou omissões no questionário de avaliação de risco devem decorrer de ato
intencional do segurado e devem agravar o risco substancialmente.
O Tribunal de Justiça de São Paulo assim decidiu:
O risco segurado é em relação ao bem e não quanto ao proprietário do veículo. O pacto
securitário não serve para restringir o uso do vem segurado. Ao contrário, paga-se
seguro pela tranquilidade, a fim de garantir incerteza futura quanto ao bem e, assim,
possibilitar ao segurado uma maior fruição deste, ante a certeza de que na eventual
ocorrência do sinistro contratado terá a cobertura pactuada.44
Nesse entendimento pode-se concluir que o contrato de seguro não pode restringir o uso
do veículo por terceiros, vez que o risco segurado existe em relação ao bem, e não ao
proprietário ou condutor do veículo. A configuração de alteração do condutor principal ou
a alteração de local de circulação do veículo não são argumentos para sustentar e
justificar o não pagamento da indenização.
No mesmo sentido, o fato de o veículo segurado ser utilizado, de maneira esporádica,
para destinação distinta daquela informada na cláusula perfil, não exime a seguradora
da obrigação de indenizar em virtude do evento danoso, pois a presença da
eventualidade de tal situação não representa verdadeiro agravamento do risco.
Sobre o tema, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul orienta:
a exigência de que o veículo segurado estivesse em garagem é nula por abusiva, na
medida em que exclui a indenização, consoante arts. 25 e 51, incisos I, IV, do CDC
(LGL\1990\40) (…). A cláusula de perfil somente demandaria consequências restritivas
do direito do segurado caso comprovada a má-fé deste. As cláusulas restritivas não se
podem prestar a limitar a liberdade do segurado de permitir que o veículo seja conduzido
por seus familiares.45
Sendo assim, quando o assunto é a má-fé na contratação do seguro, esta deve ser
cabalmente comprovada a fim de excluir a cobertura securitária.
No mesmo sentido, decide o Tribunal de Justiça de Minas Gerais:
Não restando comprovado nos autos que no contrato de seguro firmado entre a
segurada/denunciante e a seguradora/denunciada, existe cláusula expressa de exclusão
de cobertura em razão da condução do veículo por menor de 25 anos, manifesto é o
dever de cobertura securitária, haja vista que a seguradora denunciada não se
desincumbiu do ônus de comprovar a existência de fato impeditivo, extintivo ou
modificativo do direito da denunciante à cobertura pleiteada.46
Complementando no mesmo sentido:
Seguro. Modalidade perfil do segurado. Preliminar de nulidade da sentença rejeitada,
porquanto ausente o prejuízo. Não é dado à seguradora recusar o pagamento da
indenização, fundada na falsidade da declaração prestada, quando a pergunta constante
do questionário é dúbia, induzindo o contratante em erro. Além do que, não ocorreu
furto do veículo, mas envolvimento em acidente de trânsito, quando se deslocava. Apelo
desprovido.47
O segurado não será prejudicado quando, por não entender as perguntas formuladas no
respectivo questionário, não conseguirinterpretar o seu alcance, seja pela dubiedade
das perguntas, seja pela sua opacidade, e de boa-fé assinalar, ou deixar assinalar (por
confiar em quem o faz) o que achar mais próximo ao seu perfil de utilização do bem.
Não cabe nesta hipótese, ao segurado, ver impugnada sua pretensão de indenização
Cláusula-perfil no seguro de automóvel: abusiva ou
limitativa de direitos
Página 19
com base em perguntas mal formuladas ou respondidas por profissionais irresponsáveis,
com esteio em possíveis respostas inverídicas.
Além disso, conforme ensinamento de Antonio Carlos Otoni Soares:
Após analisado o risco e expedida a apólice, não poderá o segurador, de ofício, com base
em sindicância própria, negar a indenização por entender irregularidade no perfil. É
evidente que ao segurador fica reservado o direito de uma investigação sumária ou mais
ampla, para testar as declarações do segurado. Porém, há um prazo, além do qual não é
lícito ao segurador desfazer-se do negócio, alegando conduta irregular do segurado,
inidoneidade financeira, etc. Todas as providências que o segurador pretenda tomar para
se acautelar no sentido da realização ou não de um bom negócio, deverão se concretizar
até a expedição da apólice, porque, expedida a apólice, o contrato está devidamente
formalizado e sua eventual nulidade só poderá ser decretada pela Justiça.48
O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro firmou entendimento jurisprudencial da Corte,
por meio do Enunciado 103, aprovado na forma do Aviso TJ 29, de 07.04.2011: “Não
exclui a indenização securitária a informação errônea prestada pelo segurado que não
importe em agravamento do risco”.49
Temos então, em suma, ser tranquilo o entendimento doutrinário e jurisprudencial no
sentido da relatividade do conteúdo declaratório da cláusula-perfil como elemento apto a
conduzir à nulidade ou anulabilidade do contrato de seguro na qual ela se insere, para
desobrigar o segurador do dever jurídico de indenizar, ou mesmo para permitir a
resolução contratual unilateral pelo segurador.
7 Conclusão
O fato de o mercado de seguros no Brasil prever, para este ano de 2018, uma
movimentação de cerca de R$ 36,47 bilhões somente para o ramo de veículos, justifica
que se confira importância ao estudo dos respectivos contratos, especialmente no que
diz respeito a uma de suas cláusulas, qual seja, a do “perfil”.
Até porque, diante da lacuna de disposições legais regulamentares quanto à formação do
conteúdo dessa cláusula, tem ela ensejado, pela sua natureza jurídica limitativa de
direito, não somente interpretações e práticas notoriamente abusivas, mas também e
principalmente a inauguração de um número elevado de demandas entre segurados e
seguradores, as quais interferem negativamente no meio econômico/social e prestam
um auxílio significativo para o abarrotamento do nosso Judiciário.
Não remanescem dúvidas quanto a ser válida, oportuna e adequada a inserção dessa
cláusula (autorizada e disciplinada pela SUSEP) nos respectivos contratos, especialmente
quando se pondera o fato de que ela se presta a colaborar no sentido de que se obtenha
a equivalência entre os riscos assumidos pelo segurador e o preço – o prêmio – pago
pelo segurado para ver-se ressarcido na hipótese de ocorrência de sinistro. É uma
cláusula que interessa ao mercado securitário como um todo, ao segurador a quem
permite maior conhecimento do risco assumido, e ao segurado a quem essa cláusula
permite pagar um preço justo pela cobertura do risco. Preço esse que guarda
conformidade com o perfil pessoal do segurado e com a dinâmica no âmbito da qual se
dá a execução do respectivo contrato.
É de se ponderar, entretanto, que se por um lado exige-se para o contrato de seguro
dose maior de boa-fé – é ele formado mediante declarações unilaterais do segurado, nas
quais o segurador deve confiar –, por outro lado não se pode atribuir a essa cláusula
efeito absoluto para invalidar o contrato no qual se insere, ou para autorizar ao
segurador a sua resolução unilateral, ou para fundamentar a negativa de indenizar o
dano sofrido pelo segurado.
Ainda porque não somente o segurador pode formular o questionário destinado à
obtenção do “perfil” nele inserindo indagações obscuras, dúbias ou de difícil
Cláusula-perfil no seguro de automóvel: abusiva ou
limitativa de direitos
Página 20
interpretação, e, portanto, conducentes a erro, mas também o segurado pode de boa-fé
errar quando do oferecimento das respectivas respostas. E, como se sabe, pelo contrato
de seguro de veículo, o risco assumido pelo segurador tem por objeto precípuo o bem
patrimonial (o veículo), e não a pessoa do segurado, a qual somente se faz presente na
relação jurídico-contratual como interveniente na dinâmica do processo de execução do
contrato.
Daí por que ser tanto sereno como torrencial o entendimento doutrinário e
jurisprudencial no sentido da relatividade da cláusula-perfil na aferição da obrigação de
indenizar, à qual não se confere o absolutismo pretendido por alguns seguradores que,
abusivamente, nela se funda para descumprir a sua obrigação contratual.
Sem dúvida é tênue a linha que identifica a cláusula-perfil como restritiva de direito, mas
lícita e desejável porquanto propícia à obtenção do melhor equilíbrio entre a prestação e
a contraprestação contratuais, daquela que a qualifica como abusiva de direito e
favorecedora de seguradores inadimplentes contumazes que nela se apoiam para
subsumirem-se ao seu dever de indenizar o segurado quando ocorrido o sinistro.
Por isso, impõe-se que, estabelecido o litígio entre o segurador e o segurado, decida-o o
Magistrado com a cautela de observar, caso a caso, as peculiaridades fáticas e o
conteúdo declaratório da cláusula-perfil, tomando a esta como elemento auxiliar e de
efeito relativo na aferição da obrigação do segurador em indenizar.
Essa é a conclusão, manifestada juntamente com a esperança de que a superveniência
de normas reguladoras mais amplas e minuciosas melhor disciplinem o questionário
destinado a colher o conteúdo declaratório que dá formação à cláusula-perfil, com o que
certamente restarão aprimorados os recursos tendentes à obtenção de melhor
mutualidade nos contratos de seguro de veículos, e também reduzidos litígios tão
evitáveis quanto indesejados.
8 Referências bibliográficas
AGUIAR JUNIOR, Ruy Rosado de. RT 775/20. In: NERY Jr., Nelson; NERY, Rosa Maria de
Andrade. Código Civil comentado. 6. ed. São Paulo: Ed. RT, 2008.
ALVIM, Pedro. O contrato de seguro. 2. ed. São Paulo: Forense, 1986.
BESSA, Carlos Barbosa. Manual de liquidação de sinistro – Incêndio. Biblioteca da
Fenaseg, sd. p. 2.
CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de responsabilidade civil. 7. ed. rev. e amp. São
Paulo: Atlas, 2007.
CAVALIERI FILHO, Sérgio. Visão panorâmica do contrato de seguro e suas controvérsias.
Revista do Advogado, São Paulo, n. 47, p. 7-13, 1996.
CIRCULAR SUSEP 256, de 16 de junho de 2004. Disponível em:
[http://www.procon.sp.gov.br/categoria.asp?id=1223]. Acesso em: 22.04.2018.
COMPARATO, Fabio Konder. Novos ensaios e pareceres de direito empresarial. Rio de
Janeiro: Forense, 1981.
DANIEL, Beatriz Castilho. A interpretação das cláusulas restritivas do contrato de seguro
a luz da responsabilidade civil no Código de 2002. Disponível em:
[http://www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo _id=17
15]. Acesso em: 22.04.2018.
DIAS, Aguiar José. Responsabilidade civil. Rio de Janeiro: Forense, 1997.
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: Teoria das obrigações contratuais e
extracontratuais. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. v. 3.
Cláusula-perfil no seguro de automóvel: abusiva ou
limitativa de direitos
Página 21
Enunciado 374 da IV Jornada de Direito Civil do Superior Tribunal de Justiça. Disponível
em: [http://www.cjf.jus.br/cjf/CEJ-Coedi/jornadas-cej/IV%20JORNADA%
20DE%20DIREITO%20CIVIL%202013%20ENUNCIADOS%20APROVADOS.pdf/view].
Acesso em: 22.04.2018.
Estatísticas – Projeções – CNSeg. Disponível em: [http://www.cnseg.org.br/cnseg
/estatisticas/projecoes/]. Acesso em: 22.04.2018.
FIORI, Alexandre Del. Dicionário de Seguros. São Paulo: EMTS, 1996.
FIUZA, Ricardo. Novo Código Civil comentado. São Paulo: Saraiva, 2002.
Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor. O que é perfil para o contrato de seguro.
Disponível em: [http://www.procon.sp.gov.br/texto.asp?id=522]. Acesso em:
22.04.2018.
GOMES, Orlando. Contratos. 17. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1997.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: contratos e atos unilaterais. 10. ed.
São Paulo: Saraiva, 2013. v. 3.
HUBER, Fernanda Elaine; DETTMER, Brígida. O contrato de seguro e as implicações no
Código de Defesa do Consumidor e do Código Civil (LGL\2002\400). Jus Navigandi, São
Paulo, jan. 2004. Disponível em:
[http://jus.com.br/artigos/5059/o-contrato-de-seguro-e-as-implicacoes-do-codigo-de-defesa-do-consumidor-e-do-codigo-civil].
Acesso em: 22.04.2018.
Jornadas de Direito Civil I, III, IV e V: enunciados aprovados. Coordenador científico
Min. Ruy Rosado de Aguiar Júnior. – Brasília: Conselho da Justiça Federal, Centro de
Estudos Judiciários, 2012.
MARQUES, Cláudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor. 2. ed. São
Paulo: Ed. RT, 1995.
MARTINS, João Marcos Brito. O contrato de seguro: comentado conforme as disposições
do novo Código Civil (LGL\2002\400), Lei 10.406. Rio de Janeiro: Forense Universitária,
2003.
PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Tratado de direito privado. Rio de Janeiro:
Borsoi, 1970. t. V.
MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil. 4. ed. São Paulo: Saraiva,
1964. v. I.
MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil: direito das obrigações. 4. ed.
São Paulo: Saraiva, 1965. vol. 2.
NERY JUNIOR, Nelson. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor comentado pelos
autores do anteprojeto. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011. vol. I.
NERY JUNIOR, Nelson. Código Civil comentado. 11. ed. rev. ampl. e atual. São Paulo:
Ed. RT, 2014.
SANTOS, Ricardo Bechara. Perfil: A silhueta do risco. Disponível em:
[http://www.oficinadotexto.com.br/ansp/boletim007/pag001.html#pag1]. Acesso em:
24.04.2018.
SOARES, Antônio Carlos Otoni. Fundamento jurídico do contrato de seguro. São Paulo:
Manuais Técnicos de Seguro, 1975.
TARTUCE, Flávio. Direito civil: teoria geral dos contratos em espécie. 8. ed. rev. atual. e
ampl. São Paulo: Método, 2013. v. 3.
Cláusula-perfil no seguro de automóvel: abusiva ou
limitativa de direitos
Página 22
TARTUCE, Flavio. Direito civil: teoria geral dos contratos e contratos em espécie. 9. ed.
rev. atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2014. v. 3.
TZIRULNIK, Ernesto. Regulação do sinistro: Ensaio jurídico. 3. ed. São Paulo: Max
Limonad, 2001.
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil III. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2002.
VI Jornada de Direito Civil. Conselho da Justiça Federal. Enunciado 543. Disponível em:
[http://www.cjf.jus.br/cjf/corregedoria-da-justica-federal/centro-de-estudos-judiciarios-1/public
acoes-1/jornadas-cej/vijornadadireitocivil2013-web.pdf/view]. Acesso em: 22.04.2018.
WALD, Arnold. Curso de direito civil brasileiro: Obrigações e contratos. 12. ed. São
Paulo: Ed. RT, 1995.
1 Estatísticas – Projeções – CNSeg. Disponível em:
[http://www.cnseg.org.br/cnseg/estatisticas/projecoes/]. Acesso em: 22.04.2018.
2 COMPARATO, Fabio Konder. Novos ensaios e pareceres de direito empresarial. Rio de
Janeiro: Forense, 1981. p. 353.
3 GOMES, Orlando. Contratos. 17. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1997. p. 103.
4 AGUIAR JUNIOR, Ruy Rosado de. RT 775/20. In: NERY Jr., Nelson; NERY, Rosa Maria
de Andrade. Código Civil comentado. 6. ed. São Paulo: Ed. RT, 2008. p. 502, nota 15.
5 TZIRULNIK, E. Regulação do sinistro: Ensaio jurídico. 3. ed. São Paulo: Max Limonad,
2001. p. 58.
6 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: Teoria das obrigações contratuais
e extracontratuais. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. v. 3. p. 548.
7 TARTUCE, Flavio. Direito civil: Teoria geral dos contratos e contratos em espécie. 9.
ed. rev. atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2014. v. 3. p. 620.
8 NERY JUNIOR, Nelson. Código Civil comentado. 11. ed. rev. ampl. e atual. São Paulo:
Ed. RT, 2014. p. 1080.
9 MARQUES, Cláudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor.2. ed. São
Paulo: Ed. RT, 1995. p. 133.
10 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil III. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2002. p. 374.
11 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de responsabilidade civil. 7. ed. rev. e ampl. São
Paulo: Atlas, 2007. p. 404-405.
12 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro:contratos e atos unilaterais. 10.
ed. São Paulo: Saraiva, 2013. v. 3. p. 506-507.
13 MARTINS, João Marcos Brito. O contrato de seguro: comentado conforme as
disposições do novo Código Civil, Lei 10.406. Rio de Janeiro: Forense Universitária,
2003. p. 43.
14 Jornadas de Direito Civil I, III, IV e V: enunciados aprovados. Coordenador científico
Min. Ruy Rosado de Aguiar Júnior. Brasília: Conselho da Justiça Federal, Centro de
Estudos Judiciários, 2012. p. 58.
Cláusula-perfil no seguro de automóvel: abusiva ou
limitativa de direitos
Página 23
15 PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Tratado de direito privado. Rio de
Janeiro: Borsoi, 1970. t. V. p. 329.
16 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: Contratos e atos unilaterais. 10.
ed. São Paulo: Saraiva, 2013. v. 3. p. 532.
17 TZIRULNIK, Ernesto. Regulação de sinistro: Ensaio jurídico. 3. ed. São Paulo: Max
Limonad, 2001. p. 84.
18 FIORI, Alexandre Del. Dicionário de Seguros. São Paulo: EMTS, 1996. p. 137.
19 BESSA, Carlos Barbosa. Manual de liquidação de sinistro – Incêndio. Biblioteca da
Fenaseg, sd. p. 2.
20 NERY JUNIOR, Nelson. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor comentado pelos
autores do anteprojeto. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011. v. I. p. 570.
21 NERY JUNIOR, Nelson. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor comentado pelos
autores do anteprojeto. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011. v. I. p. 573.
22 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil. 4. ed. São Paulo: Saraiva,
1964. v. I. p. 292.
23 BRASIL. STJ. Recurso Especial 124.527-SP. Rel. Min. Aldir Passarinho Junior.
Disponível em: [https://ww2.stj.jus.br/processo/ita/documento/mediado/?num_
registro=199700196305&dt_publicacao=05-06-2000&cod_tipo_documento=]. Acesso
em: 22.04.2018.
24 VI Jornada de Direito Civil. Conselho da Justiça Federal. Enunciado 543. Disponível
em:
[http://www.cjf.jus.br/cjf/corregedoria-da-justica-federal/centro-de-estudos-judiciarios-1/public
acoes-1/jornadas-cej/vijornadadireitocivil2013-web.pdf/view]. Acesso em: 22.04.2018.
25 DIAS, Aguiar José. Responsabilidade civil. Rio de Janeiro: Forense, 1997. p. 59.
26 HUBER, Fernanda Elaine; DETTMER, Brígida. O contrato de seguro e as implicações
no Código de Defesa do Consumidor e do Código Civil. Jus Navigandi, São Paulo, jan.
2004. Disponível em:
[http://jus.com.br/artigos/5059/o-contrato-de-seguro-e-as-implicacoes-do-codigo-de-defesa-do-consumidor-e-do-codigo-civil].
Acesso em: 22.04.2018.
27 DANIEL, Beatriz Castilho. A interpretação das cláusulas restritivas do contrato de
seguro a luz da responsabilidade civil no Código de 2002. Disponível em:
[http://www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=1715].
Acesso em: 22.04.2018.
28 CAVALIERI FILHO, Sergio. Visão panorâmica do contrato de seguro e suas
controvérsias. Revista do Advogado, São Paulo, n. 47, 1996. p. 7-13.
29 Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor. O que é perfil para o contrato de
seguro. Disponível em: [http://www.procon.sp.gov.br/texto.asp?id=522]. Acesso em:
22.04.2018.
30 SANTOS, Ricardo Bechara. Perfil: A silhueta do risco. Disponível em:
[http://www.oficinadotexto.com.br/ansp/boletim007/pag001.html#pag1].Acesso em:
24.04.2018.
Cláusula-perfil no seguro de automóvel: abusiva ou
limitativa de direitos
Página 24
31 Circular SUSEP 256, de 16 de junho de 2004. Disponível em:
[http://www.procon.sp.gov.br/categoria.asp?id=1223]. Acesso em: 22.04.2018.
32 SANTOS, Ricardo Bechara. Perfil: A silhueta do risco. Disponível em:
[http://www.oficinadotexto.com.br/ansp/boletim007/pag001.html#pag1]. Acesso em:
24.04.2018.
33 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. 2ª Turma. Revista Forense 82/635. Disponível
em:
[http://www.jusbrasil.com.br/diarios/12268824/pg-1513-judicial-1-instancia-capital-diario-de-justica-do-estado-de-sao-paulo-djsp-de-07-01-2009].
Acesso em: 22.04.2018.
34 ALVIM, Pedro. O contrato de seguro. 2. ed. São Paulo: Forense, 1986. p. 61.
35 NERY JUNIOR, Nelson. Código Civil comentado. 11. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo:
Ed. RT, 2014. p. 1084.
36 FIUZA, Ricardo. Novo Código Civil comentado. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 683.
37 TARTUCE, Flávio. Direito civil: Teoria geral dos contratos em espécie. 8. ed. rev.,
atual. e ampl. São Paulo: Método, 2013. v. 3. p. 577.
38 NERY JUNIOR, Nelson. Código Civil comentado. 11. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo:
Ed. RT, 2014. p. 1088.
39 FIUZA, Ricardo. Novo Código Civil comentado. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 693.
40 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil: direito das obrigações. 4.
ed. São Paulo: Saraiva, 1965. v. 2. p. 357.
41 WALD, Arnoldo. Curso de direito civil brasileiro: Obrigações e contratos. 12. ed. São
Paulo: Ed. RT, 1995. p. 443.
42 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. REsp 1.210.205/RS 2010/0166457-2.
Disponível em:
[http://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/21082569/recurso-especial-resp-1210205-rs-2010-0166457-2-stj/inteiro-teor-21082570].
Acesso em: 22.04.2018.
43 Enunciado 374 da IV Jornada de Direito Civil do Superior Tribunal de Justiça.
Disponível em:
[http://www.cjf.jus.br/cjf/CEJ-Coedi/jornadas-cej/IV%20JORNADA%20DE%20DIREITO
%20CIVIL%20 2013%20ENUNCIADOS%20APROVADOS.pdf/view]. Acesso em:
22.04.2018.
44 TJSP. 5ª Câmara Cível. Apelação 70054842653. Disponível em:
[https://tj-rj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/351318576/apelacao-apl-61090220128190003-rio-de-janeiro-angra-dos-reis-1-vara-civel/inteiro-teor-351318586].
Acesso em: 22.04.2018.
45 BRASIL. TJRS. 2ª Turma. Recurso Cível 7100087564. Rel. Mylene Maria Michel. Publ.
15.03.2006. Disponível em: [http://www.jusbrasil. com.br/diarios
/82486905/djba-caderno2-17-12-2014-pg-423]. Acesso em: 22.04.2018.
46 BRASIL. TJMG. 17ª Câmara Cível. Apelação Cível 1.0313.07.233164-5/001. Rel. Des.
Luciano Pinto. j. 28.04.2011. publ. 06.05.2011. Disponível em:
[http://www.oabsp.org.br/comissoes2010/direito-securitario/jurisprudencia/13-TJMG-2015-Seguro.
pdf/download]. Acesso em: 22.04.2018.
47 BRASIL. TJRS. Apelação Cível 70005510623. Rel. Des. Léo Lima. Disponível em:
Cláusula-perfil no seguro de automóvel: abusiva ou
limitativa de direitos
Página 25
[http://www.tjrs.jus.br/busca/search?q=70005510623&proxysty
lesheet=tjrs_index&client=tjrs_index&filter=0&getfields=*&aba=juris&entsp=a__politica-site
&wc=200&wc_mc=1&oe=UTF-8&ie=UTF-&ud=1&sort=date%3AD%3AS%3Ad1&as_qj=&
site=ementario&as_epq=&as_oq=&as_eq=&requiredfields=ct%3A3.crr%3A215&as_q=+#main_res_juris].
Acesso em: 22.04.2018.
48 SOARES, Antônio Carlos Otoni. Fundamento jurídico do contrato de seguro. São
Paulo: Manuais Técnicos de Seguro, 1975.
49 BRASIL. TJRJ. Apelação Cível 0143510-20.2010.8.19.0001. Disponível em:
[http://www1.tjrj.jus.br/gedcacheweb/default.aspx?UZIP=1&GEDID=0003D
509C8C819976 DAF19C320ABDC040857C9C402641A36]. Acesso em: 22.04.2018.
Cláusula-perfil no seguro de automóvel: abusiva ou
limitativa de direitos
Página 26

Mais conteúdos dessa disciplina