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CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO - FAVENI HISTÓRIA DA ANATOMIA ESPÍRITO SANTO HISTÓRA DA ANATOMIA1 A “Anatomia” tem os seus primeiros relatos deste o início da civilização, a partir do instante em que o homem passa observar em outro homem e em outros animais, as várias regiões do corpo das quais eram constituídos (Tavares, 1999; Silvino, 2001). Ao contrário do que muitos pensam a Anatomia não é uma ciência morta, muito menos de apenas cadáveres. Anatomia, além de não ser uma ciência morta, é essencial para o conhecimento, pois é através dela que os profissionais da área da saúde adquirem conhecimentos dissecando ou observando o corpo humano (Chevrel, 2003). http://www.obiologo.eco.br/2013/09/historia-da-anatomia.html Segundo Didio (1974), a Anatomia Humana é a ciência que estuda as estruturas do corpo humano sendo considerada como fundamental para as ciências médicas e para tal utiliza-se como material de ensino e estudo o cadáver 1 http://www.ibamendes.com/2011/01/um-pouco-da-historia-da-anatomia.html humano que, contribui e tem contribuído através dos séculos, com os ensinamentos e aprendizagem das maravilhas do corpo humano. Um conceito de Anatomia foi proposto em 1981, pela American Association of Anatomist: “anatomia é a análise da estrutura biológica, sua correlação com a função e com as modulações de estrutura em resposta a fatores temporais, genéticos e ambientais” (Spense, 1991; Dângelo e Fattini, 2003) A ciência “Anatomia” começou nos primórdios da história humana. O homem pré-histórico já observava à sua volta a existência de seres diferentes de seu corpo, os animais. Com isso, passou a gravar nas paredes das cavernas e fazer esculturas das formas que via. Com isso passou a notar detalhes, que hoje nos permite identificar as espécies animais descritas (Silvino, 2001). O termo anatomia deriva do grego anatome (ana = através de; tome = corte) que significa através do corte. Dissecação deriva do latim dissecare (dis = separar; secare = cortar), a Anatomia Humana é uma disciplina ou campo de estudo científico, enquanto dissecação é uma técnica usada para estudar as estruturas do corpo (Moore, 2001). Estas representações indicam não somente que a pintura pré-histórica nasceu há muito tempo, mas que se desenvolveu em ritmo rápido e atingiu admirável grau de satisfação (Knapp, 2004). Costa Ferreira (1.915) em sua aula de anatomia transcreve o seguinte trecho do mesmo Assis Leite: "Um cadáver é o primeiro livro clássico de anatomia. O cadáver é um mestre mudo, porém eloquente. Este mestre instrui os vivos antes de baixar à morada dos mortos. Na anatomia estuda-se o homem vivo no homem morto. A anatomia guia constantemente a mão do cirurgião, indica-lhe o lugar das operações, apontar-lhe os perigos e os meios de salva-Ios. A anatomia é a base da medicina e cirurgia; quanto mais esta base é sólida e profunda, mais este edifício é elevado e majestoso". Segundo Valladas et al (2004), a arte do Homo sapiens era bastante elaborada, tanto em termos de realismo quanto de traços artísticos, é o que revela os animais desenhados nas grutas, os quais tem aparência bastante realista. O conhecimento anatômico do corpo humano data de quinhentos anos antes de Cristo no sul da Itália com Alcméon de Crotona, que realizou dissecações em animais. Pouco tempo depois, um texto clínico da escola hipocrática descobriu a anatomia do ombro conforme havia sido estudada com a dissecação. Aristóteles mencionou as ilustrações anatômicas quando se referiu aos paradigma, que provavelmente eram figuras baseadas na dissecação animal. No século III A.C., o estudo da anatomia avançou consideravelmente na Alexandria. Muitas descobertas lá realizadas podem ser atribuídas a Herófilo e Erasístrato, os primeiros que realizaram dissecações humanas de modo sistemático. http://marceloaviz.blogspot.com.br A dissecção na área da anatomia humana é o ato de explorar o corpo humano, ou seja, através de cortes para possibilitar a visualização anatômica dos órgãos e regiões que existem no corpo humano e assim possibilitar o seu estudo. (MOORE, 2007). A partir do ano 150 A..C. a dissecação humana foi de novo proibida por razões éticas e religiosas. O conhecimento anatômico sobre o corpo humano continuou no mundo helenístico, porém só se conhecia através das dissecações em animais. A história do uso do cadáver humano retrata que o meio mais antigo, de que se tem conhecimento, para conservação de cadáveres, é a mumificação ou embalsamento (Chagas, 2001). Segundo Melo (1989), este método era praticado pelos egípcios com finalidade religiosa e não para preparar cadáveres desconhecidos. http://cultura.culturamix.com/curiosidades/mumificacao-no-egito-antigo Acreditava-se que os mortos continuariam vivos no túmulo, porém era uma graça concedida apenas aos nobres e reis, como pode ser observado pela cabeça mumificada do Faraó Ramses V. No Egito dos Faraós, a mais de 5.000 anos, desenvolveu-se esta técnica de embalsamento, permitindo os primeiros estudos anatômicos das doenças. Moore (2001) relata que a Anatomia é uma ciência descritiva e necessariamente requer nomes para as estruturas e os processos do corpo. Parece que o estudo da anatomia humana recomeçou mais por razões práticas que intelectuais. A guerra não era um assunto local e se fez necessário dispor de meios para repatriar os corpos dos mortos em combate. O embalsamento era suficiente para trajetos curtos, mas as distâncias maiores como as Cruzadas introduziram a prática de “cocção dos ossos”. A bula pontifica De sepulturis de Bonifácio VIII (1300), que alguns historiadores acreditaram equivocadamente proibir a dissecção humana, tentava abolir esta prática. O motivo mais importante para a dissecação humana, foi o desejo de saber a causa da morte por razões essencialmente médico-legais, de averiguar o que havia matado uma pessoa importante ou elucidar a natureza da peste ou outra enfermidade infecciosa. http://www.obiologo.eco.br/2013/09/historia-da-anatomia.html Os primeiros cientistas Anatomistas e Médicos foram os egípcios. Após vieram os Mesopotâmios (Melo, 1989). A importância do médico que cuidava dos animais era tão grande para os Mesopotâmios, que o exercício da atividade ganhou destaque até no “código de Hamurabi”. O verbo “dissecar” era usado também para descrever a operação cesariana cada vez mais frequente. A tradição manuscrita do período medieval não se baseou no mundo natural. AS ilustrações anteriores eram aceitas e copiadas. Em geral, a capacidade dos escritores era limitada e ao examinar a realidade natural, introduziram pelo menos alguns erros tanto de conceito como de técnica. As coisas “eram vistas” tal qual os antigos e as ilustrações realistas eram consideradas como um curto-circuito do próprio método de estudo. Apesar de todo o progresso em relação aos estudos da anatomia humana, a dissecação de cadáveres humanos não só era proibida pela Igreja e autoridades governamentais, como era também punido quem fosse apanhado dissecando. Mas a ciência não podia parar e, movidos pelo ímpeto e desejo de aprender e desmistificar o proibido em prol da ciência, os anatomistas não se davam por vencidos (Chagas, 2001). E, enquanto a autorização não chegava, eles insistiam em dissecaros cadáveres às escondidas, normalmente em calabouços ou subterrâneos devidamente escolhidos para este fim. http://www.ibamendes.com/2011/03/imagens-historicas-da-faculdade-de.html No passado apenas os cadáveres de criminosos e assassinos enforcados eram usados nas dissecações. Isto gerou um grave problema que era a quantidade insuficiente de cadáveres para estudo, resultando com isto o aparecimento dos chamados “ressuscitadores” que eram pessoas que supriam, com cadáveres roubados, os famosos médicos e anatomistas da época (Melo, 1989; Chagas, 2001). A anatomia foi totalmente reformada por Andreas Vesalius, em seu livro “De humani corporis fabrica” (Gardner, Gray e O’Rahilly, 1978; Melo, 1989; História da Medicina, 2003; Vesalius, 2003). De acordo com Petry (2000) e Silvino (2001) nesta época a anatomia deu um grande passo para conquistar definitivamente o seu papel fundamental como “Ciência Básica”. Finalmente o cadáver desconhecido não só seria conhecido do público, como a partir dessa época passaria a ser, depois do professor, a figura mais importante no ensino da anatomia, sem esquecer do corpo discente (Chagas, 2001). A anatomia não era uma disciplina independente, mas um auxiliar da cirurgia, que nessa época era relativamente grosseira e reunia sobre todo conhecer os pontos apropriados para a sangria. Durante todo o tempo que a anatomia ostentou essa qualidade oposta à prática, as figuras não-realistas e esquemáticas foram suficientes. O primeiro livro ilustrado com imagens impressas mais do que pintadas foi a obra de Ulrich Boner Der Edelstein. https://projetomedicina.com.br Foi publicada por Albrecht Plister em Banberg depois de 1460 e suas ilustrações foram algo mais que decorações vulgares. Em 1475, Konrad Megenberg publicou seu Buch der Natur, que incluía várias gravuras em madeira representando peixes, pássaros e outros animais, assim como plantas diversas. Essas figuras, igual a muitas outras pertencentes a livros sobre a natureza e enciclopédias desse período, estão dentro da tradição manuscrita e são dificilmente identificáveis. Dentre os muitos fatores que contribuíram para o desenvolvimento da técnica ilustrativa no começo do século XVI, dois ocuparam lugar destacado: o primeiro foi o final da tradição manuscrita consistente em copiar os antigos desenhos e a conversão da natureza em modelo primário. Chegou-se ao convencimento de que o mais apropriado para o homem era o mundo natural e não a posteridade. O escolasticismo de São Tomás de Aquino havia preparado inadvertidamente o caminho através da separação entre o mundo natural e o sobrenatural, prevalecendo a teologia sobre a ciência natural. O segundo fator que influiu no desenvolvimento da ilustração científica para o ensino foi a lenta instauração de melhores técnicas. No começo os editores, com um critério puramente quantitativo, pensaram que com a imprensa poderiam fazer grande quantidade de reproduções de modo fácil e barato. Só mais tarde reconheceram a importância que cada ilustração fosse idêntica ao original. A capacidade para repetir exatamente reproduções pictóricas, daquilo que se observava, constituiu a característica distinta de várias disciplinas científicas, que descartaram seu apoio anterior à tradição e aceitação de uma metodologia, que foi descritiva no princípio e experimental mais tarde. Os primeiros registros de estudo e de ensino da anatomia remontam à Escola de Alexandria em que, segundo os registros de Galeno, teriam sido realizadas as primeiras dissecações públicas de animais e corpos humanos. No entanto, as dissecações para fins de estudo sempre geraram polêmicas, e pode-se afirmar que foi apenas a partir do século XIV que, na Europa, mais especificamente na Universidade de Bolonha, elas se tornaram parte do ensino médico sob os auspícios de Mondino de Luzzi (1270-1326). Nesse período, por influência do movimento escolástico, os estudos e investigações em anatomia baseavam-se, sobretudo, na tradução de obras e tratados anatômicos, sendo a dissecação um método de averiguação de dados preexistentes. (Singer;1996). As primeiras ilustrações anatômicas impressas baseiam-se na tradição manuscrita medieval. O Fasciculus medicinae era uma coleção de textos de autores contemporâneos destinada aos médicos práticos, que alcançou muitas edições. Na primeira (1491) utilizou-se a xilografia pela primeira vez, para figuras anatômicas. As ilustrações representam corpos humanos mostrando os pontos de sangria, e linhas que unem a figura às explicações impressas nas margens. http://www.auladeanatomia.com/novosite/generalidades/historia-da-anatomia As dissecações foram desenhadas de uma forma primitiva e pouco realista. Na Segunda edição (1493), as posições das figuras são mais naturais. Os textos de Hieronymous Brunschwig (cerca de 1450-1512) continuaram utilizando ilustrações descritivas. O período do Renascimento contribuiu para o avanço da Anatomia Humana. Leonardo da Vinci (1452 – 1519) traz conhecimentos anatômicos significativos, com desenhos precisos na visão de um gênio da Anatomia Humana. Há obras que até hoje são vistas por milhões de pessoas, dentre elas: A última ceia, Mona Lisa e o Homem Vitruviano. Michelangelo (1495 – 1574) travou uma batalha saudável com Leonardo da Vinci, pois ambos gostavam de se provocar nos conhecimentos sobre a Anatomia Humana. Michelangelo coloca de forma impar seus conhecimentos anatômicos em suas esculturas, ficou conhecido por colocar enigmas em suas obras, até hoje nunca desvendados como o teto da Capela Sistina no Vaticano. Escreveu e desenhou vários ensaios belíssimos sobre a Anatomia Humana e chegou a pensar em publicar um tratado anatômico voltado para jovens escultores e pintores, mas não o fez. Andreas Versalius (1514 – 1564) foi um médico belga, considerado o pai da Medicina Moderna refutou alguns conhecimentos de Galeno e somando os conhecimentos incontestáveis de Leonardo da Vinci e Michelangelo, publicou em 1543 sua obra prima “De humani corporis fabrica” o primeiro atlas de Anatomia Humana que integra texto e ilustrações (Barreto et al, 2004). http://www.vermelho.org.br/noticia Observando a história do conhecimento médico podemos constatar que existem dois tipos distintos de análise ou intervenção sobre o corpo e que vão resultar em concepções específicas sobre aquilo que se considera como perfeito e imperfeito ou normal e patológico: as práticas não-invasivas e as práticas invasivas. Na antiguidade ocidental predominavam as primeiras, sendo que a identificação das doenças ocorria através de diagnósticos clínico-filosóficos. Hipócrates, Aristóteles e Galeno podem ser os representantes deste tipo de saber, pois considerando os desarranjos do corpo e da alma como fenômenos interligados, perceberam que não era possível compreender as paixões da lama e as perturbações do espírito (pathos) sem associá-las aos desequilíbrios e distúrbios, às dores e doenças do corpo. Somente no Renascimento seriam admitidos, ainda que com certa prudência e recato, pois a religião antiga impunha o respeito ao cadáver, os procedimentos de invasão do corpo humano através de estudo de cadáveres, o que acarretou um atraso incalculável aos estudos anatômicos (CHEREM, 2005). O capítulo final de uma obra de Johannes Peyligk (1474-1522) consiste numa breve anatomia do corpo humano como um todo, mas as onze gravurasde madeira que inclui são algo mais que representações esquemáticas posteriores dos árabes. Na Margarita philosophica de George Reisch (1467- 1525), que é uma enciclopédia de todas as ciências, forma colocadas algumas inovações nas tradicionais gravuras em madeira e as vísceras abdominais são representadas de modo realista. Além desses textos anatômicos destinados especificamente aos estudantes de medicina e aos médicos, foram impressas muitas outras páginas com figuras anatômicas, intituladas não em latim (como todas as obras para médicos), mas sim em várias línguas vulgares. Houve um grande interesse, por exemplo, na concepção e na formação do feto humano. O uso frequente da frase “conhece-te a ti mesmo” fala da orientação filosófica e essencialmente não médica. A “Dança da Morte” chegou a ser muito popular, sobretudo nos países de língua germânica, após a Peste Negra e surpreendentemente, as representações dos esqueletos e da anatomia humana dos artistas que as desenharam são melhores que as dos anatomistas. Os artistas renascentistas do século XV se interessavam cada vez mais pelas formas humanas, e o estudo da anatomia fez parte necessária da formação dos artistas jovens, sobretudo no norte da Itália. Leonardo da Vinci (1452-1519) foi o primeiro artista que considerou a anatomia além do ponto de vista meramente pictórico. Fez preparações que logo desenhou, das quais são conservadas mais de 750, e representam o esqueleto, os músculos, os nervos e os vasos. As ilustrações foram completadas muitas vezes com anotações do tipo fisiológico. A precisão de Leonardo é maior que a de Vesalio e sua beleza artística permanece inalterada. Sua valorização correta da curvatura da coluna vertebral ficou esquecida durante mais de cem anos. Representou corretamente a posição do fetus in útero e foi o primeiro a assinalar algumas estruturas anatômicas conhecidas. Só uns poucos contemporâneos viram seus folhetos que, sem dúvida, não foram publicados até o final do século passado. Michelangelo Buonarotti (1475-1564) passou pelo menos vinte anos adquirindo conhecimentos anatômicos através das dissecações que praticava pessoalmente, sobretudo no convento de Santo Espírito de Florença http://www.ibamendes.com/2011/03/imagens-historicas-da-faculdade-de.html Posteriormente expôs a evolução a que esteve sujeito, ao considerar a anatomia pouco útil para o artista até pensar que encerrava um interesse por si mesma, ainda que sempre subordinada à arte. Albrecht Dürer (1471-1528) escreveu obras de matemática, destilação, hidráulica e anatomia. Seu tratado sobre as proporções do corpo humano foi publicado após sua morte. Sua preocupação pela anatomia humana era inteiramente estética, derivando em último extremo de um seu interesse pelos cânones clássicos, através dos quais podia adquirir-se a beleza. Com a importante exceção de Leonardo, cujos desenhos não estiveram ao alcance dos anatomistas do século XVII, o artista do Renascimento era anatomista só de maneira secundária. Ainda foram feitas importantes contribuições na representação realista da forma humana (como o uso da perspectiva e do sombreado para sugerir profundidade e tridimensionalidade), e os verdadeiros avanços científicos exigiam a colaboração de anatomistas profissionais e de artistas. https://projetomedicina.com.br/artigos/uma-breve-historia-da-anatomia-humana/ A ANATOMIA ARTÍSTICA2 O termo Anatomia nasceu do latim, porém o seu estudo se inicia bem antes da formação do Lácio e dos antigos romanos. Data do ano 3.000 a.C. na China o aparecimento da dissecação explorativa e já em papiros egípcios de 3000-2500 a.C. notificam-se dados sobre a anatomia da cabeça e do cérebro humanos (“Papiro de Edwin Smith”). Consta que no antigo Egito tenha-se mumificado cerca de 70 milhões de cadáveres, o que sem dúvida alguma gerou um acúmulo de conhecimentos anatômicos, embora pouca coisa nos tenha sido transmitida. 2 https://gustavotdiaz.com/2016/04/09/pequeno-historico-da-anatomia-artistica/ No período grego, embora dissecações já fossem realizadas, grande parte teria se limitado à abertura de corpos de animais; o próprio Aristóteles o teria feito. Embora registros mencionem em geral o contrário, é de se imaginar que a Grécia houvesse aglutinado um vasto repertório de Anatomia Humana, dado o domínio técnico de suas produções, sobretudo no período helenístico, aliado a um raro nível de elegância formal. Mas esses conhecimentos não teriam, em sua maioria, chegado até nós. https://gustavotdiaz.com/2016/04/09/pequeno-historico-da-anatomia-artistica O primeiro grande momento da história da Anatomia parece ter se dado, de fato, na Escola Médica do Museu de Alexandria, fundada em 290 a.C. durante a dinastia Tolemaica. Quando Tolomeo Sóter (conhecido como o “Salvador” e um dos principais generais de Alexandre, o Grande) assume o reinado do Egito entre 305 e 284 a.C., funda junto à Biblioteca de Alexandria, o Museion – ou “Templo das Musas”, sediado na Escola Médica, onde se empreenderam diversas dissecações, dando um importante passo ao estudo da Anatomia Humana. Ainda por volta de 300 a.C., na Grécia, aparece a figura de Herófilo (nascido na região onde se situa atualmente a Turquia, 335 a.C.? 280 a.C.), um dos maiores anatomistas gregos, pioneiro na dissecação de corpos humanos. Conferindo pela primeira vez no Ocidente uma base concreta à Anatomia, Herófilo deixou contribuições aos estudos do cérebro, identificando-o como centro do sistema nervoso e sede da inteligência, e compreendeu a distinção entre nervos motores e sensitivos. https://gustavotdiaz.com/2016/04/09/pequeno-historico-da-anatomia-artistica Também deste período data Erasístrato de Chio (310 a.C. 250 a.C.), o primeiro a afirmar que as veias, à semelhança das artérias, tinham o coração como destino, e a descrever as válvulas cardíacas. Após um período de relativa estagnação, aparecem Marino, vivendo em Roma no tempo de Nero, e Rufo, oriundo da colônia grega de Éfeso, Marino não deixou escritos, mas seus ensinamentos foram preservados pelo discípulo Claudius Galeno (Pérgamo, 129 d.C. Roma, 199). Galeno, além de haver traduzido as obras de Herófilo (boa parte delas destruídas no incêndio da biblioteca de Alexandria), fora um importante médico grego, cirurgião oficial dos gladiadores de Marco Aurélio e destacado seguidor da medicina de Hipócrates (Cós, Grécia, 460 a.C. Larissa, Tessália, 377). Precursor da fisiologia experimental, legou-nos investigações bastante completas como a organização dos nervos, veias e artérias, tendo realizado inclusive a vivissecção. A maioria de suas dissecações, contudo, limitava-se a corpos de animais, em especial do macaco africano, uma vez que a abertura de cadáveres humanos era considerada profanação religiosa, rigorosamente proibida por lei. Mesmo incorrendo em inúmeros equívocos – seja pela profusão de seus apontamentos, seja pela importância associada à sua figura na corte de Marco Aurélio, seus escritos transformaram-se em paradigma durante o período histórico posterior, constituindo-se efetivamente em dogma para a medicina durante a Idade Média, juntamente ao Corpus hippocraticum (tratado que a tradição atribui a Hipócrates), e aos Tópicos de Aristóteles. Essa cristalização paradigmática medieval paralisou o estudo anatômico por alguns séculos. A ditatorial tutela que a igreja Católica exerceusobre o conhecimento no período escolástico fomentou explicações divinas à origem das doenças, sendo uma das maiores causas adversas ao desenvolvimento consciente e sistemático dos estudos médicos (e das ciências em geral). À quase total retração no período medieval – quando as dissecações foram sumariamente proibidas – segue-se o surgimento do estudo anatômico na Europa renascentista, cujos avanços, entretanto demandaram desconstruções e reinvenções. Até então, a concepção clássica (filosófico-religiosa pagã) e a mediação mística entre o homem e o mundo (está pressuposta pela escolástica) ofereciam todas coordenadas de interpretação acerca do homem e de sua relação com a morte; e com o próprio corpo morto. Apenas no início de 1400 as dissecações voltam a aparecer, tendo alguns eventos atuado sobremaneira neste retorno: o crescente fortalecimento das corporações de ofício (ou guildas) medievais – em especial a dos cirurgiões- barbeiros; as grandes navegações que entraram em contato com novos métodos no tratamento de doenças; a disponibilidade de recursos para investimentos em técnicas de cura e a descoberta de terapêuticas originadas a partir da apreensão da organização interna do corpo – o que estimulou, por fim, estudos mais completos e o início da especialização da medicina como disciplina autônoma do conhecimento. https://gustavotdiaz.com/2016/04/09 Esses fatores movem-se dialeticamente no processo de ascensão da burguesia europeia. O desenvolvimento econômico desta classe associado à sistematização da medicina criou imediatamente uma enorme demanda por cadáveres, cuja obtenção foi facilitada com a dissecação pública de condenados à morte – único meio legal de disponibilização de corpos no período. Este recurso não supria, porém, a exigência das escolas de Medicina, o que encetou o tráfico de corpos. A proibição impingida à dissecação e a perseguição daqueles que o tentavam gerou efeitos verdadeiramente desastrosos. Um exemplo prototípico da violência suscitada foi quando da fusão entre os grêmios (ou guildas) dos “barbeiros” e dos “cirurgiões” em 1540, sob o reinado de Henrique VIII. Embora gerando enorme desenvolvimento à Anatomia, apenas corpos de condenados à morte por enforcamento eram destinados aos estudos médicos – o que gerou uma onda de execuções. Na Inglaterra, notavelmente a abundância de corpos foi produto do afã em se ampliar os conhecimentos anatômicos: consta que no primeiro ano da fusão referida entre as guildas, a escola recebeu 4 corpos. Nos últimos anos do reinado, a média anual de condenados à morte subira para 560 por ano. Relatos históricos afirmam que a dissecação pública como penalidade, destinada apenas a crimes como assassinato e traição, estendera- se também a criminosos comuns. (Para termos ideia de quão longe foi a barbárie envolvendo as dissecações, já em 1828 se registrou 16 assassinatos com a finalidade de venda de corpos para uma escola privada em Edinburgh, na Inglaterra). O espírito empirista reinante na Renascença advindo de uma atitude objetiva diante da natureza e dos fenômenos – sem dúvida associado à iminente motivação pelo lucro e necessidade de criação de novos mercados e técnicas – derrubou muitos dogmas eclesiásticos. No âmbito da Anatomia médica, e também artística, esta nova atitude metodológica percebeu e retificou inúmeras incoerências nos escritos de Galeno. Neste momento, as artes visuais assumiram protagonismo na nova conformação do mundo, que se reescrevia sob a batuta científica e artística. Conciliando os interesses científicos e estéticos, os artistas do Renascimento proporcionaram uma síntese das áreas em produções ainda hoje admiradas. O corolário desse interesse emergente foi a publicação do tratado De Humani Corporis Fabrica de Andreas Vesalius (Bruxelas, 1514. Zante, Grécia, 1559), no ano de 1543, em Basiléia, na Suíça. Com abundantes ilustrações desenvolvidas por artistas seus contemporâneos, e apresentando um estudo sistemático da Anatomia Humana, essa publicação superou definitivamente o que até então se conhecia por Anatomia Humana, estabelecendo as bases da Anatomia moderna. O ensino anteriormente desenvolvido nas cátedras e teatros anatômicos (cujo símbolo máximo fora o Teatro Anatômico de Pádua), baseava-se no distanciamento entre doutores e discípulos, ancorado por uma divisão mais profunda: entre trabalho manual e intelectual. O ensino anteriormente desenvolvido nas cátedras e teatros anatômicos (cujo símbolo máximo fora o Teatro Anatômico de Pádua), baseava-se no distanciamento entre doutores e discípulos, ancorado por uma divisão mais profunda: entre trabalho manual e intelectual. https://gustavotdiaz.com/2016/04/09 Essa separação manteve a “letra” clássica intacta, perpetuando uma escala rígida e tradicional de poder. As gravuras realizadas neste período demonstram claramente esse distanciamento físico entre o orador doutor (ou professor catedrático) e o cadáver. Enquanto o primeiro lia em voz alta o tratado de Galeno no púlpito, um cirurgião-barbeiro dissecava o corpo, e um assistente apontava com um bastão as supostas estruturas orgânicas recitadas (os cirurgiões eram também barbeiros, ou vice-versa, pois naquele tempo os profissionais organizavam-se a partir de seus instrumentos de trabalho – como as ferramentas para ambos os ofícios eram praticamente as mesmas, o mesmo profissional exercia ambas as funções). https://gustavotdiaz.com/2016/04/09 Nesse sistema das cátedras, as incoerências eram enormes, porém caladas, uma vez que o mistério do dogma determinava a “verdade” do livro em relação à realidade da dissecação. A revolução impetrada por Andreas Vesalius foi a de eliminar a distância entre o orador e o corpo, assumindo o papel do cirurgião-barbeiro e realizando ele mesmo a dissecação enquanto ministrava suas aulas e registrava suas observações. Uma tela de Michiel Janszen Mierevelt de 1617 é particularmente sintomática da contradição enunciada. Embora ilustre manifestamente as novas diretrizes vesalianas indicadas pelo fórceps (ou pinça) na mão do próprio orador catedrático, mais do que isso, ela apresenta uma noção profunda da incomunicabilidade ainda presente entre o mundo antigo e uma nova era emergente – a realidade moderna. Na tela, todas as figuras (à exceção de uma, aparentemente distraída) olham diretamente para o espectador, ou para o pintor, como se posassem para um retrato – o que de resto fazem – ao passo que o cadáver, aberto e exposto em primeiro plano, tem os olhos vendados com um pano. Estão ali, o cadáver – que se entrega ao cutelo e à ciência do orador, os estudantes e doutores que um segundo antes deviam estar entretidos na dissecação. Mas eles interrompem sua atividade; em verdade não estão ali presentes; nada se comunica na tela. Esses personagens, incluindo o cadáver, não se comunicam de forma alguma, como se não quisessem, diante do olhar de um terceiro, demonstrar que estiveram envolvidos numa atividade ainda carregada da “ignomínia do trabalho manual”. Fôssemos dar crédito aos olhares de todos (em especial daquele que se distrai), diríamos que há um “constrangimento” geral com a situação diante de um espectador intruso. Só não sabemos quem se mostra mais constrangido – se os viventes, ou o cadáver, com a venda nos olhos. Outra tela de ordem semelhante, pintada poucos anos depois, manifesta claramente uma atitude já amadurecida em relação a esse “constrangimento” – que é o contrangimento da inadequação entre opassado e o presente, entre uma tradição de distanciamento da morte, de relações prefixadas no exercício do poder; um desconforto em relação a um novo que não se pode compreender totalmente, tampouco aceitar. Esta tela é a famosa Lição de Anatomia do Dr. Tulp (1632) de Rembrandt Van Rijn (Leyden, Holanda, 1606. Hendrickje, 1669). Nela, assim como na tela de Mierevelt, nenhum dos oito personagens representados miram diretamente o cadáver; mas a atitude deles é a de cirurgiões à vontade diante de um estudo que lhes parece sobremodo sério e coerente. Estão compenetrados no que fazem e não se preocupam em olhar para o observador, ou pintor, que se imiscuiu em sua sessão de estudos (a não ser dois deles, nos últimos planos, que de fato olham diretamente para o observador; um deles aparentemente interroga com o cenho aquela entrada inoportuna, segurando um papel onde se pode ver um desenho esquemático da região do cadáver naquele momento dissecada – sintomaticamente um braço, junto da nominata dos presentes). A sombra da cabeça de um dos cavalheiros que assistem a sessão projeta-se sobre os olhos do cadáver – uma alternativa sofisticada à “venda de pano” nos olhos do cadáver de Mierevelt. Mas os olhos fechados do cadáver na tela Rembrandt, mesmo na sombra, permanecem visíveis: aparecem. O que se apresenta ali são homens à vontade em seu ofício e em seu tempo, mas inconscientes ainda da vanidade das suas ações e da sua ciência (está só se dará alguns séculos depois, talvez no vigésimo século, quando os cientistas perceberem, como ainda o fazem, que a ciência só pode estudar o que já é passado e morto, que necessita exterminar o presente momento da coisa para torná-la um seu objeto de estudo – este é um conteúdo subjacente importantíssimo que se pode depreender da tela de Rembrandt). Se Rembrandt assimila esta nova postura dos médicos ante seu objeto de estudo, um sentido de retrocesso, porém, pode ser avaliado na mesma tela. Durante séculos de fuligem antes da restauração da obra, num canto obscuro à direita, algo permaneceu oculto: um livro aberto. Um livro que não está na mão de nenhum dos personagens, um livro que indica e instrui o estudo em questão, mas que está abandonado para um canto, e não no centro da composição. Esta inversão revolucionária em relação às gravuras e à concepção medieval (cuja tutela se devia aos livros, em especial o Tratado de Galeno) não é, entretanto, total. O absolutismo da cultura livresca que perpetuou o dogma nos estudos anatômicos na Idade Média é aqui indiretamente reafirmado por Rembrandt como o espectro de um período anterior. Numa época em que Vesalius triunfava gloriosamente, estabelecendo sua hegemonia nas ciências naturais e nas artes livres, período onde qualquer constrangimento, inclusive oriundo da esfera oficial, fora superado, a cultura do livro e da teoria ainda prevalece. Três dos personagens que estudam o cadáver olham atentamente para aquele livro no canto inferior da tela, mais preocupados com a teoria do que com o corpo que se desvenda e se abre a sua frente. O impressionante é o fato de tratar-se justamente do tratado de Vesalius – este cientista revolucionário que substituiu a cultura livresca e tutelar da Idade Média pelo empirismo e pela observação direta, in vivo, da Anatomia. O professor que figura na tela (novo representante do orador catedrático), abandona o púlpito e o livro para se dedicar ele próprio ao trabalho manual da dissecação; porém seu olhar é absorto, contempla aparentemente os próprios pensamentos, não olha para o cadáver, como se reproduzisse um discurso previamente decorado. http://filosofiadodesign.com Um parêntesis que devemos salientar é em relação a outra obra de Rembrandt, realizada vinte e quatro anos após a tela supracitada, chamada Lição de Anatomia do Dr. Deyman (1656), onde o cadáver se apresenta em escorço direto para o espectador, com a planta dos pés voltada para frente, estando o corpo propositalmente reclinado para quem o observa. Desta maneira, Rembrandt nos põe diante dos olhos a cavidade abdominal do cadáver aberta, o crânio recém dissecado que o anatomista Deyman investiga, e a face inteira do cadáver exposta. São sintomáticas a exposição deste corpo e a maneira como Rembrandt compõe e organiza os elementos na tela. Ao lado do corpo há um cavalheiro que assiste à dissecação segurando com displicência e visível abandono o que parece ser uma tigela de instrumentos cirúrgicos, mas que a um olhar mais atento revela-se o osso parietal, quer dizer, o tampo do crânio do cadáver, que foi serrado. http://www.sabercultural.com É um segundo estágio do amadurecimento da atitude científica em relação à morte, onde não existe medo, nem terror, nem superstições – é o que revela a postura sem-cerimônia dos anatomistas e a exposição quase gratuita do cadáver que figura na tela. Interessante notar que Rembrandt recua, entretanto, na exposição do sexo do morto, recoberto por planejamentos, tal como na primeira tela. O sexo é ainda um tabu quando o corpo se encontrava já desvendado e devassado pela ciência. Mas trata-se ainda uma era de trevas. A luz imprecisa do racionalismo renascentista fora espanada pela Contrarreforma católica e uma nova tensão (talvez um desdobramento farsesco da tensão anterior entre a Idade Média e o Renascimento), fora instaurada, carregada das sombras do chiaroscuro característico do período Barroco. Volta- se à imprecisão do desenho e da anatomia, recorre-se à cor e aos contrastes para criação de cenas de largo alcance emocional imbuídas de subjetividade, e isolamento, à medida da catarse (cf. M. M. Caravaggio). Tudo isso, porém, agrega uma nova atitude em seu âmago, move-se com naturalidade na aproximação com o cadáver e com o mistério, antes isolado numa esfera imponderável. (O tom que completa está paleta é a opção de Rembrandt, e de muitos ouros barrocos, de sempre utilizar em sua produção a indumentária e os ambientes de seu próprio tempo nas obras em que figuram personagens e cenas do mundo bíblico – outro sinal de convergência e informalidade diante do mistério). A sensibilidade de Rembrandt em identificar (talvez não de todo conscientemente) o distanciamento incômodo, mas, liberal, na atitude dos anatomistas ante seu objeto de estudo na tela de 1632, expressa-se renovada na tela de 1656. Nesta última Rembrandt manifesta a percepção de uma nova atitude: a superação do constrangimento da transição, onde o establishment da revolução operada por Vesalius (mesmo que abafada pela Contrarreforma) era já completa. Isso se comprova à evidência quando se percebe que o personagem que Rembrandt coloca impudentemente diante do cadáver é o próprio espectador – ou, sob outra perspectiva, o pintor Rembrandt Van Rijn, agora acostumado a frequentar e participar de uma sessão de dissecação com desembaraço; desembaraço de uma nova época que o artista sentiu no curso dos seus próprios estudos: uma época fatal em que o corpo morto, de tabu, transforma-se em objeto de estudo, e cujo próximo passo, iminente (e quase um prenúncio) é a banalização da morte. Mas gostaríamos de abrir um paralelo entre Vesalius e Rembrandt e a obra de dois outros artistas anteriores: os estudos anatômicos de Leonardo da Vinci realizados entre 1489 e 1510; e o teto da Capela Sistina, de Michelangelo Buonarroti (1508-12). A obra e a disposição moral destes últimos puderam estabelecer um elo de possibilidades entre Vesalius e Rembrandt, impulsionando a ciência do primeiroe possibilitando a arte do segundo. Aventa-se que a Michelangelo teriam sido originalmente encomendadas as ilustrações do De Humani Corporis Fabrica; e chegou-se a sugerir também que as gravuras fossem um plágio de desenhos de da Vinci. Ambas as afirmações, mesmo que desmentidas, não são, contudo, completamente absurdas. Esses dois artistas estavam por demais engajados no estudo da Anatomia, eram contemporâneos de Vesalius e foram, talvez, tanto mais longe que ele neste assunto. Dois eventos barraram às gerações ulteriores essa consciência. Michelangelo fez questão de destruir seus esboços e estudos preparatórios e ocultou cuidadosamente seus conhecimentos num sistema codificado. http://filosofiadodesign.com Os estudos anatômicos de Da Vinci permaneceram por quase dois séculos retidos pela Inquisição católica e só vieram à luz no século XVII, quando quase a totalidade das suas inovadoras descobertas já havia sido realizada por outros anatomistas dessa época. Dos estudos de da Vinci o que prevalece, afora a sofisticada beleza artística de sua apresentação (cabe lembrar que se trata de estudos de caráter científico), é a “atitude”, a disposição do artista ante do conhecimento. Sua ousadia prática – exemplificada pela odisseia por que seguramente passou ao recolher cadáveres e estudá-los sob as condições temerárias da proibição inquisitória e de insalubridade; e sua ousadia teórica – manifesta pela quebra total do protocolo clássico, que não referendava jamais a abertura de um corpo, sobretudo na realização de um estudo dirigido autônoma e solitariamente para fins artísticos. http://filosofiadodesign.com/da-anatomia-medieval-a-anatomia-moderna-um-pequeno-ensaio-a-partir-de- rembrandt/ Da Vinci, assim como Michelangelo, abriu certamente sozinho os seus cadáveres, trocando os compêndios de Hipócrates, Marino e Rufo traduzidos por Galeno pelo cutelo do cirurgião-barbeiro. Esta atitude nova, audaciosa, encorajou o pensamento empírico moderno e possibilitou que dois séculos mais tarde Rembrandt pudesse retratar, sem cautela e sem nenhum receio, seu Dr. Tulp empunhando um fórceps, que bem poderia ser um cutelo. Da Vinci é, desta forma, uma síntese entre o pensamento clássico e o moderno; entre o distanciamento ideal/espiritual e o destrinçamento da matéria; entre a letra e o espírito e, contraditoriamente, entre a arte que revela ao simbolizar e a ciência que oculta quando busca a sistematização do real. Quanto a Michelangelo, basta a descoberta feita recentemente por dois médicos brasileiros (um cirurgião e um patologista), no afresco pintado no teto da Sistina – descoberta espelhada em toda a obra do escultor, onde abundam “mensagens subliminares”, imagens ocultas sob a silhueta das indumentárias, das poses ou dos artefatos dos personagens, pintados ou esculpidos, onde se veem estruturas anatômicas do corpo humano ocultas. http://artemazeh.blogspot.com.br A exemplo: a estranha bolsa da sibila Cuméia é uma representação fiel do pericárdio, da veia aorta e do diafragma, ao passo que ao redor dela inúmeros putti contorcem-se para evidenciar em seus próprios corpos a região peitoral; o manto invertido da sibila Líbia é na verdade a cavidade glenóide da escápula de onde escapa a cabeça do úmero, tanto mais que ela se cerca de anjinhos que apontam descaradamente para o próprio ombro, enquanto ela mesma se retorce para mostrar o seu; ou a musculatura da perna da escultura Moisés (1515-16), é na verdade a musculatura do braço para onde o patriarca aponta, além de outros sinais evidentes que o indicam. Nossos médicos descobriram enfim a decodificação, cifrada há 500 anos por Michelangelo para esconder o resultado de suas investigações anatômicas (BARRETO & OLIVEIRA, 2004). As evidências levantadas são tantas que não é necessário demonstrarmos novamente. Cabe apenas observar que essa descoberta desautoriza análises, e relativiza outras de inúmeros teóricos que refletiram sobre a obra do artista italiano, entre eles Sigmund Freud, acerca da composição e da função das personagens da Sistina, que só agora possuem um sentido coerente. O que daí nos interessa assinalar são as mesmas características apontadas em relação aos estudos de da Vinci: a mesma ousadia prática e teórica, embora que a seu modo, de ir ao fundo e encontrar-lhe a origem, a mesma intenção de síntese entre um passado clássico (inclusive de resgate técnico e estético do ofício escultórico greco-romano) e a nova ciência empírica da dissecação anatômica, possibilitada por uma atitude objetiva e revolucionária ante o conhecimento. É curioso notar a inversão que Michelangelo faz – Deus se espelha na imagem do homem, e não o inverso, onde o homem é feito segundo a “imagem e semelhança de Deus”. A inversão parece redundante; mas a redundância se cala quando entendemos o complexo sistema de referências no qual está codificada a obra do escultor. Os versos acima podem ser entendidos como um correlato da Criação do Homem, um dos nichos centrais da Capela Sistina. Nele, um indolente Adão recém-criado estende majestosamente a mão esquerda a que um Deus se esforça, distendido e pressuroso, para alcançar… O quê? Talvez seu filho, humano e real, para dele receber a vida; não o contrário. O indício anatômico subliminar nesta imagem, levantado há alguns anos por um neurologista norte-americano, é que a imagem oculta um corte sagital do crânio, com minúcias como sulcus singuli (que separa os lobos parietal e temporal), e cuja silhueta é entrevista de forma extraordinariamente nítida na concha esvoaçante cercada de querubins onde a figura alegórica de Deus encontra-se. http://www.quo.es/salud/codigos-ocultos-del-arte Não é arbitrária esta correlação, onde Deus é associado ao cérebro humano: representação da inteligência, causa primeira de tudo… Estará o artista inferindo uma sofisticada relação especular entre imagem e semelhança – Deus é a origem do Universo assim como a inteligência do homem a origem de sua própria criação? Ou, numa visão mais cética, estará ele inferindo que Deus é produto da imaginação da criatura? As obras abordadas neste pretenso ensaio dizem respeito a artistas profundamente engajados numa revolução que se operava em suas devidas épocas. Nenhum deles fora conivente com a atitude geral de seus contemporâneos, tanto na arte quanto na ciência e souberam buscar no passado o fundamento da atitude revolucionária, compreendendo que a dialética dos movimentos artísticos se opera entre avanços e resgates, rupturas e contiguidades. Michelangelo e Leonardo da Vinci beberam das lições históricas da Grécia e da Roma antigas, tendo de se confrontar com a Idade Média para desconstruir o que nela havia de retrógrado e conservador. https://pt.wikipedia.org/wiki/Leonardo_da_Vinci Tampouco Vesalius desprezou os tratados de Galeno: superou neles os equívocos determinados pelas limitações históricas que lhes deram origem. A nova Anatomia era, por assim dizer, um elo entre todos eles, resultante de uma nova atitude diante do conhecimento que revolucionou a forma como a morte e as possibilidades da ciência passaram a ser compreendidas. Esses artistas não se eximiram dos obstáculos criados pelo senso comum de sua época; não tiveram receio de buscar no passado as soluções que faltavam ao engenho presente, e assim deflagraram uma revoluçãocultural em seu tempo. Profundamente afinados com seu meio, no entanto atentos ao passado e ao progresso possível – porém longe das modas, e dogmas; e concentrados profundamente em suas pesquisas. Nem é preciso dizer que a revolução operada na Arte desse período era o triunfo da burguesia moderna, cujos agentes haviam se apropriado do manancial de cultura disponível. Indicam-nos, porém, hoje, um caminho para uma nova apropriação e uma nova atitude revolucionária a serviço de uma cultura emancipatória que não se furte ao engajamento e à ruptura; bem além dos limites do senso comum contemporâneo, mas corajosamente atenta às posturas revolucionárias, e também aos seus limites. Daí até então o estudo da Anatomia progrediu imensamente, tendo em Charles Darwin (Shropshire, Reino Unido,1809. Down, 1882) um marco deflagrador de sua importância ao estudo das ciências, uma vez que Darwin baseou a teoria da evolução das espécies em constatações anatômicas. Isso descortinou um imenso campo de investigação às Ciências Biológicas fundamentadas na Anatomia. Hoje, avançadas técnicas facilitam a apreensão da Anatomia como softwares 3D, e a “plastinação”, criada pelo alemão Gunter von Hagens; outras colocam a possibilidade desse estudo também em corpos vivos, tais como os Raios-X, ultra-som, ressonância magnética, tomografia computadorizada, cinerradiografia, drogas radioativas, aparelhos elétricos registradores e a endoscopia para exame de órgãos cavitários. A ANATOMIA NO BRASIL34 http://www.obiologo.eco.br/2013/09/historia-da-anatomia.html 3 Texto adaptado da autora: Natália Contreiras Calazans; 2013 4 Artigo escrito por: Ana Carolina Biscalquini Talamoni, Claudio Bertolli Filho Para Gardner et al. (1988) a Anatomia humana “estuda a composição corporal no âmbito macro e microscópico e para isso, necessita da manipulação de peças provenientes de cadáveres”. No Brasil, a Anatomia se iniciou em 1808, com a chegada da família real portuguesa e a posterior fundação da Primeira Escola de Medicina do Brasil, em Salvador, Bahia. Em 18 de fevereiro de 1808, o príncipe regente D. João VI criou a primeira Escola de Cirurgia no Hospital Real de Salvador, no Terreiro de Jesus. O ensino médico da Escola de Cirurgia da Bahia foi precário no início; os professores tinham que pedir “ferros velhos” emprestados para utilizarem como instrumentos cirúrgicos nas aulas de anatomia. Vamos entender um pouco mais da anatomia no Brasil. http://www.wreducacional.com.br/cursos/saude/anatomia-humana A anatomia em Portugal e no Brasil nos séculos XVIII e XIX no transcorrer do século XVIII, a pesquisa e o ensino de anatomia em Portugal apresentavam- se defasados em relação a outros centros europeus, já que se mostravam, sobretudo, teóricos, instruídos ainda pelos ensinamentos contidos nos textos de Hipócrates, Galeno, Rhazes e Avicena, como ocorreu na Itália do século XIV. Tais iniciativas eram precárias não só por serem raros os especialistas no setor, o que impunha a contratação de anatomistas franceses e italianos pelas escolas médicas lusitanas, mas também porque o governo português, de tempos em tempos, proibia a dissecação de cadáveres humanos para fins de instrução dos alunos de medicina, recorrendo aos corpos de animais para o estudo da anatomia humana. http://www5.usp.br/16100/pesquisadora-do-icb-quer-desburocratizar-a-doacao-de-corpos-a-ciencia/ A tradição aristotélico-tomista herdada da Idade Média tinha como opositores os intelectuais lusitanos classificados como “estrangeirados”, isto é, que buscavam renovar o conhecimento a partir do empirismo e do experimentalismo que vigorava na prática e no ensino científico na França e na Inglaterra. Fruto do empenho desse grupo em “modernizar” a cultura portuguesa segundo as propostas da filosofia iluminista, em 1772, com o apoio do rei dom José I, foram aprovados os Estatutos da Universidade de Coimbra, que, no referente à formação e prática da “medicina empírico-racional”, buscou estabelecer pontes entre a “arte de curar” e o “ofício do cirurgião”, cobrando de todos os médicos conhecimentos aprofundados da anatomia humana, permitindo, aliás, a dissecação de cadáveres, estratégia vista como fundamental para o melhor entendimento das doenças e da realização de cirurgias. Mesmo contando com oposições que entendiam o ensino de anatomia como “inútil e desnecessário”, construiu-se um teatro anatômico em substituição às diminutas salas nas quais se dissecavam mais animais do que cadáveres humanos, refletindo uma nova postura de relação entre a teoria e a prática no processo de conhecimento do corpo humano e também do ensino de medicina (Abreu, 2007, p.150). https://de.123rf.com/photo Acredita-se que, por causa das reticências de modernização da medicina portuguesa, as academias e hospitais localizados em lugares distantes do olhar metropolitano, mais minucioso, burlavam com certa liberdade a legislação vigente, servindo como possíveis centros de pesquisa e ensino de anatomia. Nos primeiros anos do século XVIII, Luís Gomes Ferreira, um dos lusitanos que se transferiu para o Brasil para atuar como cirurgião da capitania das Minas, “realizou dissecação em um escravo com o intuito de descobrir a causa da morte do cativo” (Abreu, 2007, p.152). Apesar disso, a carioca Academia de Seletos tem sido indicada como o local onde foram realizados os primeiros estudos de anatomia, cabendo a primazia ao cirurgião Maurício da Costa que, em 1752, publicou as primeiras memórias relativas às questões anatômicas. No plano do ensino, exemplar mostra-se a trajetória de João Álvares Carneiro que, emblematizando um novo tempo no ensino de medicina antes de se tornar um dos mais renomados cirurgiões do seu período, em 1790, quando contava com 14 anos de vida, ingressou como aprendiz na Santa Casa do Rio de Janeiro. Lá, foi aluno do cirurgião Antônio José Pinto, a quem se atribui o pioneirismo de lecionar o primeiro curso de anatomia na corte e, provavelmente, em todo o Brasil (Santos Filho, 1977, p.294). Ainda no final do século XVIII, há notícias de que a anatomia humana era ensinada no Hospital Militar de Vila Rica. A necessidade de assistir os soldados impunha a premência do conhecimento dos segredos internos dos corpos para a proteção da própria Coroa e, por isso, Antonio José Vieira de Carvalho, cirurgião do Regimento de Cavalaria das Minas Gerais foi convocado para ministrar “aulas de anatomia” (Aires Neto, 1948, p.78-79). https://www.revistamilitar A transferência forçada da corte portuguesa para o Brasil, em 1808, ensejou que, em fevereiro daquele ano, fosse criada a escola médica da Bahia. Fundada como Escola de Cirurgia do Hospital Militar, a instituição foi organizada sob a liderança do pernambucano José Ferreira Picanço, o qual fora discípulo do anatomista Manuel Pereira Teixeira, tendo-se especializado posteriormente em métodos de ensino de anatomia na Universidade de Montpellier (Aires Neto, 1948, p.79). http://www.wreducacional.com.br/cursos/saude/b-sico-det-cnicas-de-necropsia-e-anatomia Nessa escola, que mais tarde foi renomeada como Faculdade de Medicina da Bahia, a primeira lente de anatomia foi o português Soares de Castro que, em 1812, publicou uma série de quatro fascículos sobre osteologia, miologia, angiologiae nevralgia, os quais contavam com descrições anatômicas. Soares de Castro foi sucedido no cargo de professor de anatomia pelo inglês Johannes Abbot; ao longo de trinta anos de docência, Abbot introduziu de vez a prática de dissecação de cadáveres humanos no ensino médico nacional e fundou o primeiro museu anatômico brasileiro (Aires Neto, 1948, p.84). No mês seguinte à fundação da escola médica baiana, dom João VI criou a escola médica do Hospital Militar do Morro do Castelo, no Rio de Janeiro, indicando para lente de anatomia Joaquim da Rocha Mazarém, que mais tarde traduziu para o português vários textos assinados por Bichat e por Antelmo Richeraud. Alguns anos depois, Mazarém foi substituído por Joaquim José Marques, que ocupou a cátedra de “anatomia teórica e prática” e de “fisiologia, segundo as partes e sistemas da máquina humana” (Aires Neto, 1948, p.85; Santos Filho, 1991, p.44-45). Com isso, favoreceu-se o ensino sistemático de anatomia como condição para a prática médica em geral e a cirurgia em especial. Nesse âmbito, é preciso notar que as duas escolas médicas brasileiras criadas pela corte portuguesa foram orientadas pela vertente francesa da medicina, que então priorizava o atendimento do paciente “à beira do leito”, dando impulso Ana Carolina Biscalquini Talamoni, Claudio Bertolli Filho 1306 História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro a uma formação de médicos destinados ao exercício da clínica e auxiliando também na resolução dos desafios propostos pela saúde pública (Araújo, 1979, p.32). Em âmbito global, a tendência francesa contrapunha-se à abordagem anatomoclínica emblematizada pela medicina germânica, fortemente influenciada pelas pesquisas laboratoriais, e cuja ascendência no Brasil terá como símbolo maior a Faculdade de Medicina de São Paulo, inaugurada na segunda década do século XX. http://www.keyword No Brasil da segunda metade do Oitocentos, os estudos no campo da anatomia mostravam se subordinados a outras áreas, especialmente à patologia e à medicina cirúrgica. Certamente por isso, em 1854, no decorrer dos debates alimentados pela reforma curricular das escolas médicas, advogou-se a supressão do ensino de anatomia patológica dos cursos, proposta criticada pela “ala jovem” dos médicos cariocas (Torres Homem, 1862, p.51). O próprio Torres Homem buscou introduzir na Gazeta Médica do Rio de Janeiro, periódico do qual era um dos redatores, notícias sobre a carência de equipamentos, materiais e funcionários na cadeira de anatomia da escola médica carioca, além de assinar um artigo no qual o autor se contrapunha a “certos homens, aliás, ilustrados” que criticavam a continuidade das aulas de anatomia, enfatizando a importância do ensino de anatomia geral e patológica para os alunos de medicina (Torres Homem, 1862, p.51-52). http://www.anm.org.br/conteudo_view.asp?id=448 Mais do que isso, esse clínico buscou sistematizar os conhecimentos e divulgar a prática da anatomia patológica, elaborando um compêndio no qual apresentava a descrição de necropsias e suas possíveis contribuições para o diagnóstico das doenças (Torres Homem, 1870). Nesse período, a anatomia, quer a descritiva quer a patológica, só era reconhecida no contexto da formação do médico em termos restritos, isto é, como uma “disciplina ponte”, portanto subordinada a outros setores do saber médico. No introito de uma de suas obras, Torres Homem confidenciou estar sendo caluniado por alguns dos seus pares pelo fato de ser favorável à prática da necroscopia, que havia sido regulamentada na França nesse mesmo período. Em seguida, explicou por que se mostrava defensor da realização de autópsias como estratégia para o ensino de medicina: A quarta parte [do livro] reservei para o estudo das autópsias, debaixo do ponto de vista clínico, isto é, como fonte de instrução em medicina prática. https://www.acidadeon.com Esforcei-me por dar ao meu livro todo o cunho prático, fugindo, tanto quanto possível, das abstrações teóricas e das discussões especulativas estranhas à clínica, e que nada de útil a ela fornecessem (Torres Homem, 1870, p.IX). Enfim, não havia, no cenário brasileiro, maiores empreendimentos que visassem à consagração da anatomia enquanto campo disciplinar autônomo, situação que se iria reproduzir no século XX, especialmente entre os especialistas formados no Rio de Janeiro e na Bahia, mesmo após terem surgido outros cursos universitários que faziam uso do conhecimento anatômico. A nossa realidade aqui no Brasil é bastante distinta, contudo. A ausência de legislação efetiva a respeito da doação de corpos somada com os obstáculos culturais e religiosos da nossa população nos põe em paridade com os EUA de dois séculos atrás, no qual somente os corpos não reclamados podiam ser utilizados para dissecação. Isso demonstra a nossa dificuldade para obter material cadavérico para o ensino da Anatomia. https://nathaliamoncao.wordpress.com/2010/04/12/a-disseccao-na-area-da-anatomia-humana No Brasil, a dissecação raramente é usada como método de ensino em nossas universidades, nem mesmo no ensino médico. Na maioria das escolas que possuem cadáveres disponíveis, os alunos aprendem através de peças previamente dissecadas e utilizadas por outras turmas de anos anteriores e dos mais diversos cursos da área da saúde. Isso faz com que o excessivo manuseio do material cadavérico acabe por destruir as estruturas anatômicas mais delicadas e degradar as peças mais rapidamente, prejudicando o aprendizado. O uso dos cadáveres humano como elemento de ensino-aprendizagem na antiguidade eram bastante restritas e diminutas, no entanto, com o passar dos tempos e devido à necessidade de se conhecer o corpo humano essas práticas tornaram-se aceitas. Ao te curvares com a rígida lâmina de teu bisturi sobre o cadáver desconhecido, lembra-te que este corpo nasceu do amor de duas almas, cresceu embalado pela fé e pela esperança daquela que em seu seio o agasalhou. Sorriu e sonhou os mesmos sonhos das crianças e dos jovens. Por certo amou e foi amado, esperou e acalentou um amanhã feliz e sentiu saudades dos outros que partiram. Agora jaz na fria lousa, sem que por ele se tivesse derramado uma lágrima sequer, sem que tivesse uma só prece. Seu nome, só Deus sabe. Mas o destino inexorável deu-lhe o poder e a grandeza de servir à humanidade. A humanidade que por ele passou indiferente”. (Rokitansky, 1876). http://www.medicospace.com/category/medical-slides Frente às dificuldades hoje apresentadas, a procura de métodos alternativos no ensino do corpo humano tem sido incessante. No Brasil existe a lei federal nº 8501/1992, que regulamenta a doação dos cadáveres, mas apesar da lei, a escassez do mesmo e de peças cadavéricas isoladas e ossos é uma constante nos Institutos de Ensino. Segundo NETO(2008) é sabido que no início da história da anatomia no Brasil não havia uma norma regulamentando a utilização dos cadáveres humano, existindo apenas uma tradição verbal sem maiores formalidades de utilizar corpos de indigentes e de mortos não reclamados pelas respectivas famílias. Em 1980, uma comissão especial, criada a partir da Portaria n. 86 do Ministério da Educação (MEC), formulou um relatório, com o título “Uso de cadáveres para estudo de Anatomia Humana nas Escolas de Área de Saúde”.http://www.wreducacional.com.br/cursos/saude/b-sico-det-cnicas-de-necropsia-e-anatomia Na prática, estes cadáveres eram entregues às escolas da área de saúde para estudo e ensino de anatomia humana. Este procedimento ocorreu como se fosse a lei, entretanto, em 30 de novembro de 1992, foi editada a Lei Federal 8.501, que regulariza a destinação de cadáver não reclamado junto às autoridades públicas, para fins de ensino e pesquisa e dá outras providências. Até hoje essa práticas são juridicamente aceitas, desde que estejam regulamentadas e de acordo com as normas da República Federativa brasileira, pois elas são essenciais para o desenvolvimento da construção do conhecimento em aulas práticas de anatomia humana. Junto às autoridades públicas é admitido no Brasil o uso de cadáver não reclamado para fins de ensino e pesquisa, estando a previsão legal no artigo 2º da Lei n. 8.501/92. O único requisito para tanto é que o mesmo não seja reclamado dentro do período de 30 (trinta) dias, em que geralmente os gastos são custeados pela instituição de ensino interessada. Pela lei em pauta é necessário no mínimo dez inserções, nos principais meios de comunicação da cidade, com a finalidade de se encontrar indivíduos interessados em reclamar o pretendido corpo. Após este prazo, antes ainda de se encaminhar o cadáver para fins de estudo, é necessário que se mantenha, sob a responsabilidade da autoridade ou instituição responsável, algumas informações referentes ao mesmo, como: dados relativos às características gerais, identificação, fotos do corpo, ficha datiloscópica, o resultado da necropsia, quando efetuada, e outros dados e documentos julgados pertinentes para que ainda possa haver reconhecimento do corpo pelos familiares, mesmo depois do seu encaminhamento para a instituição. http://estudenamelhor.loja2.com.br/6379471-AUXILIAR-DE-NECROPSIA Quando houver indício de que a morte foi criminosa, é proibido encaminhar o corpo para fins de estudo. Se a morte resultar de causa não natural, o corpo será, obrigatoriamente, submetido à necropsia no órgão competente. Cumpridas estas exigências, o cadáver poderá ser liberado para fins de estudo, sendo claro, assegurado aos familiares ou representantes legais, a qualquer tempo, ter acesso aos elementos de que trata a lei (BRASIL, 1992). No Brasil, apesar das campanhas para doação de corpos ou partes deles para o ensino e pesquisa científica, o tema é bastante questionável. Vários são os fatores que influenciam esta concessão, que vão desde a vulnerabilidade do assunto, partindo do desalento gerado pela morte, cultura dos povos, falta de conhecimento e interesse, crenças religiosas, as quais são demonstradas ao longo da história. O uso do cadáver humano a pesar de ser “audacioso” por desafiar o sentimento humano, é extremamente necessário, portanto devemos sensibilizar a opinião pública mostrando a necessidade incontornável da utilização do cadáver no ensino e na pesquisa científica (CHAGAS 2001). http://www.cvdee.org.br/sitedagente/navigation.asp?idcat=011&id=085 A falta de materiais nos laboratórios de Anatomia Humana é uma constante. Nesse sentido, diversas técnicas anatômicas são empregadas para conservação desse material e possuem a finalidade de preservar a forma, cor, aparência, dimensões e relações dos órgãos e estruturas analisadas. Outras ainda utilizam látex, gesso (dentes), borracha de silicone, argila, resinas e PVC para a confecção de moldes (RODRIGUES, 1973; MIRANDA-NETO, 1990). Nos dias atuais o ensino da anatomia é realizado nas universidades tanto por processos de dissecação de cadáveres como de peças cadavéricas formolizadas, sendo essas práticas consideradas fundamentalmente o alicerce para a construção do conhecimento em aulas de anatomia humana, pois fixam os conhecimentos teóricos adquiridos em sala de aula presentes em cursos dentro da área das ciências da saúde. http://www.acreaovivo.com/noticia/indiano-morto-acorda-em-hospital-minutos-antes-da-necropsia/7290 BIBLIOGRAFIA ASSIS Leite, F. L. - Tese: A necessidade dos conhecimentos anatômicos. Archivo de Anatomia e Antropologia, 4: 241-245, 1915-1918. CALASANS, O. M.: Influência do cristianismo na anatomia Folia Clinica et Biológica, 28: 299-319, 1958/59. BACKHOUSE, K. M; HUTCHINGS, R.T. Atlas colorido de anatomia de superfície clínica e aplicada. São Paulo: Manole, 1989. BARRETO, Gilson; OLIVEIRA, Marcelo de. A Arte Secreta de Michelangelo: uma Lição de Anatomia da Capela Sistina. 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