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Apostila 1

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Prévia do material em texto

Governo Federal
Dilma Vana Rousseff
Presidente
Ministério da Educação
Fernando Haddad
Ministro
Secretaria de Educação a Distância
Carlos Eduardo Bielschowsky
Secretário
Diretor do Departamento de Políticas em Educação a Distância
Hélio Chaves Filho
CAPES
Jorge Almeida Guimarães
Presidente
Diretor de Educação a Distância
João Carlos Teatini de Souza Clímaco
Governo do Estado
Ricardo Vieira Coutinho
Governador
UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA
Marlene Alves Sousa Luna
Reitora
Aldo Bezerra Maciel
Vice-Reitor
Eli Brandão da Silva
Pró-Reitor de Ensino de Graduação
Eliane de Moura Silva
Coordenação Institucional de Programas Especiais – CIPE
Secretaria de Educação a Distância – SEAD
Assessora de EAD
Cecília Queiroz
Literatura Portuguesa
Edson Tavares Costa
Campina Grande-PB
2011
869
C837l Costa, Edson Tavares. 
 Licenciatura em Letras/Português: literatura portuguesa. /Edson 
Tavares Costa; UEPB / Coordenadoria Institucional de Programas 
Especiais, Secretaria de Educação a Distância._Campina Grande: 
EDUEPB, 2011. 
 161 p.: il.
1. Literatura Portuguesa. 2. Movimentos Literários. I. Título. II. EDUEPB / 
Coordenadoria Institucional de Programas Especiais.
21. ed.CDD
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL - UEPB
Universidade Estadual da Paraíba
Marlene Alves Sousa Luna
Reitora
Aldo Bezerra Maciel
Vice-Reitor
Pró-Reitor de Ensino de Graduação 
Eli Brandão da Silva
Coordenação Institucional de Programas Especiais-CIPE 
Secretaria de Educação a Distância – SEAD
Eliane de Moura Silva
Cecília Queiroz
Assessora de EAD
Coordenador de Tecnologia
Ítalo Brito Vilarim
Projeto Gráfi co
Arão de Azevêdo Souza
Revisora de Linguagem em EAD
Rossana Delmar de Lima Arcoverde (UFCG)
Revisão Linguística
Maria Divanira de Lima Arcoverde (UEPB)
Diagramação 
Arão de Azevêdo Souza
Gabriel Granja
Sumário
I Unidade
Trovadorismo: cantigas e novelas de cavalaria...............................................7
II Unidade
Trovadorismo: textos poéticos e em prosa ....................................................25
III Unidade
Humanismo: crônicas.................................................................................39
IV Unidade
Classicismo: a poesia épica de Camões ......................................................51
V Unidade
Barroco: Padre Vieira..................................................................................69
VI Unidade
Arcadismo: Bocage.....................................................................................85
VII Unidade
Romantismo: Garrett e Herculano................................................................97
VIII Unidade
Realismo e Simbolismo: a Questão Coimbrã e a decadência......................113
IX Unidade
Modernismo: a “literatura” Fernando Pessoa..............................................129
X Unidade
Contemporaneidade: José Saramago e outros autores ..............................145
 Literatura Portuguesa I SEAD/UEPB 7
Trovadorismo: cantigas e 
novelas de cavalaria
I UNIDADE
 8 SEAD/UEPB I Literatura Portuguesa 8 SEAD/UEPB I Literatura Portuguesa
Apresentação
O grande poeta Fernando 
Pessoa escreveu que Portugal é 
o rosto com que a Europa fita 
“o Ocidente, futuro do passa-
do” (PESSOA, Fernando. Obra 
poética. Org. Int. e Notas de 
Maria Aliete Galhoz. Rio de Ja-
neiro: Nova Aguilar, 2001, p. 
71). Nesta unidade, igual ao 
que Pessoa falou sobre o con-
tinente europeu, posto nos co-
tovelos, “de Oriente a Ociden-
te” (idem), vamos nos debruçar 
sobre Portugal, fitando com olhos de quem perscruta, de 
quem analisa, de quem investiga, a sua história, seu povo, 
sua cultura. E faremos isso através de sua literatura, de seus 
escritores, desde a origem à contemporaneidade.
É uma literatura rica, com nomes de peso no cânone 
universal, como Luís de Camões, Fernando Pessoa e, mais 
recentemente, José Saramago – único escritor de língua por-
tuguesa a ser agraciado com o Prêmio Nobel. 
Como afirma Nicola (NICOLA, José de. Literatura Por-
tuguesa: da origem aos nossos dias. São Paulo: Scipione, 
1999, p. 28), “a literatura portuguesa, que já abrange oito 
séculos de produção, pode ser dividida em três longos es-
paços de tempo, acompanhando as grandes transformações 
vividas pela Europa: Era Medieval, Era Clássica e Era Romântica 
ou Moderna. Essas três grandes eras apresentam-se subdivi-
didas em fases menores, chamadas de escolas literárias ou 
estilos de época.”
Fonte da imagem: http://
www.mapas-portugal.
com/Satellite_Image_
Photo_Iberian_
Peninsula_2.htm. Crédito: 
Jacques Descloitres, 
MODIS Rapid Response 
Team, NASA/GSFC
Foto de satélite da Península Ibérica
 Literatura Portuguesa I SEAD/UEPB 9 Literatura Portuguesa I SEAD/UEPB 9
Naturalmente, não teremos como ver toda essa literatu-
ra, em 10 aulas, mas faremos uma seleção dos autores e 
obras mais marcantes, apresentaremos várias outras suges-
tões, que podem (e devem) ser lidas, uma vez que a literatu-
ra portuguesa é de uma importância singular para as artes 
brasileiras, não só pela condição de originária, mas pela 
inegável influência exercida sobre os escritores daqui.
Ao longo desses 800 anos de literatura, e a partir da divi-
são em eras acima apresentada, observaremos que estas, de 
certa forma, coincidem com os grandes períodos da História 
universal. Veja: a Era Medieval vai até 1502, coincidindo 
com a Idade Média (até 1453); a Era Clássica (1527-1825) 
acontece ao longo da chamada Idade Moderna (1453-
1789); e a Era Romântica (a partir de 1825) em paralelo 
com a Idade Contemporânea (a partir de 1789). Claro que 
essas “coincidências” acontecem porque “a produção cultu-
ral de um povo está estreitamente relacionada ao momen-
to histórico por ele vivido” (NICOLA, 1999, p. 29). E, se é 
verdade que a prática literária está intrinsecamente ligada a 
questões ideológicas (sociais, econômicas, políticas, acadê-
micas, religiosas, científicas, entre outras tantas), o que se 
produziu, em termos de literatura, em Portugal, nesse perío-
do, renderá riquíssimos momentos de discussão.
Como falamos, essas Eras Literárias estão subdividi-
das em “escolas” ou “movimentos” literários, como sejam: 
na Era Medieval (séculos XIII a XV), temos o Trovadorismo 
(1189-1434) e o Humanismo (1434-1527); a Era Clássi-
ca portuguesa compreende os séculos XVI a XVIII e divide-
 10 SEAD/UEPB I Literatura Portuguesa
-se em Classicismo (1527-1580), Barroco (1580-1726) e 
Arcadismo (1726-1825); finalmente a Era Moderna vem 
do século XIX até nossos dias, e compreende o Romantis-
mo (1825-1865), o Realismo (1865-1890), o Simbolismo 
(1890-1915) e o Modernismo (a partir de 1915).
Especificamente nesta unidade, trataremos das origens 
da literatura lusitana, um período conhecido como Trovado-
rismo, que vai do final do século XII até os trinta primeiros 
anos do século XV.
Para um melhor aproveitamento dos estudos, sugerimos 
uma leitura atenciosa de cada texto, acompanhada com 
as devidas anotações daquilo que julgar importante; algo 
que não foi compreendido de imediato também deve ser 
anotado, para que as dúvidas sejam dirimidas na primeira 
oportunidade: com os colegas, com o professor, através dos 
fóruns e debates virtuais, de e-mails ou pesquisas direto na 
internet.
Vamos lá?!
Objetivos
É nosso desejo que, ao fi nal desta unidade, você consiga:
• Expor uma linha temporal contemplando a sociedade portugue-
sa desde o final do século XII até o início do século XV;
• Perceber as transformações sociais ocorridas ao longo desse 
período, suas causas e consequências para o desenvolvimento 
nacional;
• Ter um primeiro contato com os escritores e obras mais impor-
tantes do período assinalado,localizando-os no tempo e no 
espaço (tanto físico quanto social);
• Reconhecer esse período como o nascedouro da arte literária 
portuguesa.
 Literatura Portuguesa I SEAD/UEPB 11
Texto 1
Iniciaremos nossa conversa com uma visão geral sobre a formação 
de Portugal, pois a literatura desse período está intrinsecamente ligada 
aos acontecimentos históricos.
Formação de Portugal
Portugal é a parte mais ocidental da penínsu-
la mais ocidental da Europa: a Península Ibérica. 
Se voltarmos dez mil anos atrás, vamos encontrar 
essa região povoada por diferentes povos (celtas, 
iberos, fenícios, gregos, germânicos...), num ladri-
lho diferenciado de culturas, que terminaram uni-
ficadas pela ocupação romana, a partir de 219 
a.C. Uma unificação forçada, imposta pelos do-
minadores, que reduziram todas as manifestações 
culturais dos peninsulares a um denominador cul-
tural comum.
Mas os romanos não se mantiveram perene-
mente na península. No século V, diversos grupos 
guerreiros foram destruindo a hegemonia administrativa e política ro-
mana. Eram denominados genericamente de “bárbaros” aqueles que 
viviam fora das fronteiras do Império e não falavam o latim. Entretanto, 
embora superiores na conquista bélica, os “bárbaros” não conseguiram 
destroçar a cultura estabelecida; ao contrário, sofreram um processo 
de “romanização” cultural, isto é, incorporaram a cultura dos romanos.
É nesse período que se estabelecem as três classes sociais que com-
porão a sociedade ibérica: o clero, formado pelos sacerdotes da Igreja 
cristã, possuidora de riquezas e poder político; a nobreza, composta 
pelos proprietários de terras, que detinham um grande poder militar; e 
o povo, uma classe desprivilegiada, constituída principalmente de cam-
poneses.
No século VIII, a península foi invadida pelos árabes (também de-
nominados mouros ou muçulmanos), que a dominaram quase que por 
completo, ao longo de vários séculos. Não foi um domínio homogê-
neo, como o romano; ao contrário, variava de intensidade, de região 
a região. No sul da península, por exemplo, a dominação foi maior; 
o norte, no entanto, jamais foi subjugado, servindo, assim, de refúgio 
aos ibéricos cristãos, que se preparavam para a reconquista dos terri-
-tórios tomados. Somente no século XV as lutas da Reconquista tiveram 
fim, com a retomada do último reduto mouro na Espanha, Granada, 
Fonte: http://peninsulaiberica.blogs.sapo.pt/arquivo/ib_hond.jpg
 12 SEAD/UEPB I Literatura Portuguesa
em 1492, quando os reis espanhóis Fernando de Aragão e Isabel de 
Castela entraram triunfantes na cidade antes sitiada pelos árabes.
Mas, antes desta cena final, é preciso que voltemos no tempo, para 
localizarmos a exata origem do reino português. À medida que a Re-
conquista avançava, gradativamente, retomando as terras ibéricas, em 
direção ao sul da península, foram se configurando uma divisão terri-
torial e uma estrutura de poder específicas. Os reinos do Norte (Leão, 
Castela e Aragão) foram avançando em direção ao Sul, tendo o reino 
de Leão um território que ia do rio Lima, ao norte, passando pelas ter-
ras banhados pelo rio Douro, e indo até a região de Coimbra, ao sul. 
Esse território era conhecido como o Condado Portucalense. A origem 
de Portugal está ligada a esse condado e à história de dois casamentos.
Leiamos um trecho de José de Nicola, sobre esse momento histórico 
português. “No final do século XI, governava todo o norte da Península 
o rei Afonso VI, cujas ações centravamse na luta pela expulsão dos 
muçulmanos. Para guerrear contra os mouros, afluíram cavaleiros de 
toda a Europa cristã, dentre os quais Raimundo e seu primo Henrique, 
nobres do ducado de Borgonha (região francesa que sediava a famosa 
abadia de Cluny). Afonso VI promoveu o casamento de Raimundo com 
Urraca, sua filha e única herdeira, dando-lhe como dote o governo da 
Galiza (região da atual Espanha). Pouco depois casou Henrique com 
Teresa, uma filha bastarda, oferecendo-lhe como dote o Condado Por-
tucalense. D. Henrique de Borgonha continuou a luta contra os mouros 
e anexou novos territórios ao seu condado, que foi ganhando, assim, 
os contornos territoriais do que hoje é Portugal.
Em 1128, Afonso Henriques – filho de D. Hen-
rique de Borgonha e Teresa – proclamou a inde-
pendência do Condado Portucalense, iniciando um 
longo período de lutas contra as forças do reino de 
Leão. Entretanto, foi somente em 1143, na Confe-
rência de Samora, que Afonso VII, filho de D. Rai-
mundo e Urraca e “imperador de toda a Espanha” 
desde 1135, concedeu a seu primo Afonso Henri-
ques o título de Rei de Portugal.
Quando em 1185 morreu Afonso Henriques, 
os muçulmanos ainda dominavam o sul de Portu-
gal. Os sucessores de Afonso Henriques persistiram 
na luta contra os mouros, até a conquista do Al-
garve (extremo sul de Portugal), em 1249. Dessa forma, consolidou-se 
a primeira dinastia portuguesa: a dinastia de Borgonha.” (NICOLA, José 
de. Literatura Portuguesa: da origem aos nossos dias. São Paulo: Scipio-
ne, 1999, p. 16)
Fonte: http://www.vbruno.
net/escola/Monarquia_
Portuguesa/reis.h9.gif
D. Afonso Henriques(*)
 Literatura Portuguesa I SEAD/UEPB 13
Atividade I
Depois da leitura deste texto informativo, em que foi focalizado o período de 
surgimento do reino de Portugal, naturalmente uma série de questões está 
pululando em sua cabeça, não é? Então, comecemos a discutir algumas delas.
a) Como você acha que os romanos conseguiram unifi car a cultura 
da península ibérica de tal forma que até mesmo os invasores que 
vieram depois foram “romanizados”?
b) Uma nação que nasce sob o signo da conquista e reconquista terá 
em sua literatura as marcas desses confl itos. Comente.
c) Veja o que Almada Negreiros fala sobre os países que formam a 
Península Ibérica: “Portugal e Espanha são dois opostos e não dois 
rivais. Os opostos são complementos iguais de um todo. Este todo 
está representado geografi camente pela Península Ibérica e em 
espírito pela civilização ibérica.” Com base nessa afi rmação do 
escritor português, analise a relação dos primos Afonso Henriques e 
Afonso VII, quando da criação do Reino de Portugal.
dica. utilize o bloco 
de anotações para 
responder as atividades!
 14 SEAD/UEPB I Literatura Portuguesa
Socialização
Transforme suas respostas desta Atividade em um texto corrido, fa-
zendo as devidas adequações, e poste-o no Ambiente Virtual de Apren-
dizagem – AVA, para que, com a partilha de ideias entre os alunos, 
possamos nos preparar historicamente para entender os movimentos 
literários do período em estudo. 
Texto 2
Agora que conhecemos a origem da nação portuguesa, iremos co-
nhecer os seus primeiros movimentos literários, que se manifestaram 
através de uma poesia de forte cunho subjetivo.
A Poesia Medieval Portuguesa 
Inicialmente, com a palavra, a estudiosa 
Nelly Novaes Coelho. “A poesia que se vol-
ta para a emoção amorosa, para o mundo 
interior do homem, surge em meados do 
século XII, diferenciada em dois tipos bem 
definidos: a trovadoresca e o romance cor-
tês, seguidos mais tarde pelas novelas de 
cavalaria.
Foi a Provença, pequena região situada 
ao sul da França, o local geográfico que 
serviu de ponto de partida ou de fulcro ge-
rador das primeiras manifestações poéticas 
da literatura ocidental, conhecidas hoje em dia como 
Poesia Trovadoresca.
[...] É com os trovadores provençais que renasce a poesia lírica, 
cuja última manifestação surgira entre os romanos. Novamente a Lite-
ratura expressa as emoções interiores do homem, e especificamente a 
amorosa. Levada pelos trovadores, jograis ou menestréis, largamente 
protegidos pelas cortes, a poesia trovadoresca atravessa os Alpes e os 
Pireneus e vai provocar o nascimento da poesia nacional de Portugal, 
Espanha e Itália. É com ela que nasce a poesia portuguesa.”[CO-
ELHO, Nelly N. Literatura e Linguagem. A obra literária e a expressão 
lingüística. 5. ed. reform. Petrópolis-RJ: Vozes, 1993, p. 127-8]
A época do trovadorismo abrange as origens da Língua Portugue-
sa, isto é, o português arcaico, que compreende o período de 1189 a 
1418.
Os autores dessa época, geralmente poetas, eram chamados de 
Fonte: http://mileumaletras4.zip.
net/images/trovadores2.jpg
 Literatura Portuguesa I SEAD/UEPB 15
trovadores. A palavra trovador vem do francês TROUVER que significa 
ACHAR, ENCONTRAR. Dizia-se que o poeta ACHAVA, ENCONTRAVA 
a música adequada ao poema [seu ou de outro] e o cantava acompa-
nhado de instrumentos como a cítara, a viola, a lira ou a harpa.
A produção artística está impregnada, neste período, do espírito 
teocêntrico. As artes decorativas predominam, sempre deformando os 
elementos objetivos do mundo ou procurando simbolizar o universo es-
piritual e sobrenatural através do qual o homem interpreta sua realida-
de. O estilo gótico, com suas formas alongadas, ogivais e pontiagudas, 
parece expressar forte desejo humano de ascender a uma nova e eterna 
vida. A literatura, geralmente escrita em latim, não ultrapassa os limi-
tes religiosos em sua temática: a vida dos santos, a liturgia dos rituais 
cristãos. Mas em torno dos castelos feudais desenvolve-se também uma 
arte leiga que, mesmo às vezes chegando ao profano, redimensiona a 
visão de mundo medieval e aponta novos caminhos. É a arte dos trova-
dores e suas cantigas, das novelas de cavalaria.
Nelly N. Coelho traz mais algumas informações importantes. “Can-
tada ao som de um instrumento, nas cortes ou nas praças públicas para 
o povo, a poesia trovadoresca desenvolvia-se com os mesmos clichês 
estilísticos: rimas assonantes, reiterações paralelísticas, exploração dos 
mesmos temas estereotipados (as queixas do amado saudoso à ‘muito 
fremosa senhor’ [senhora muito formosa], que se mantém distante, al-
tiva e indiferente; ou então é a amada quem suspira pelo amado que 
está na guerra ou na viagem).
Essa padronização de temas é resultante do ideal do ‘amor cortês’ 
difundido nas cortes medievais, e entre cujas exigências destacamos:
1. A perfeição da mulher amada;
2. As duras provas a que deve o amor se submeter para vencer;
3. A devoção cavalheiresca;
4. A atitude servil frente à mulher;
5. O esforço interior do homem para dominar os instintos e tornar-
-se senhor de seus impulsos sensuais.
A existência do ‘amor cortês’, segundo estudiosos, liga-se ao pro-
cesso de valorização da mulher, encetado pela Igreja, através do culto 
mariano, e que visava não só a elevação da mulher dentro da socieda-
de, como, principalmente, a espiritualização do amor, liberando-o da 
sensualidade grosseira que caracterizava as relações Homem-Mulher, 
à época. 
O Trovadorismo, em fins do século XIV, estava praticamente desa-
parecido como instituição palaciana; a sua técnica passa por um gran-
de refinamento. Predominam agora as rimas consoantes, os esquemas 
métricos regulares, amplia-se o vocabulário e os temas passam a ser 
os mais variados. É quando surge a Poesia Palaciana no século XV, pré-
 16 SEAD/UEPB I Literatura Portuguesa
-renascentista, já bem mais artística que a inicial, e que está recolhida 
no Cancioneiro Geral, organizado por Garcia de Rezende.” (COELHO, 
Nelly N. Literatura e Linguagem. A obra literária e a expressão linguística. 
5. ed. reform. Petrópolis-RJ: Vozes, 1993, p. 128-9]
Em Portugal floresceram cantigas de tipos diversos quanto à temática:
Cantigas de Amor: Surgiram no sul da Fran-
ça, na região de Provença. Expressam o senti-
-mento amoroso do trovador que se coloca 
a serviço da mulher amada. Aqui, o amor se 
torna tema central do texto poético, deixan-
do de ser pretexto para a discussão de outros 
temas. Mas é um amor não realizado, não 
correspondido, que fica sempre num plano 
idealizado. E de outro modo não poderia ser, 
pois a mulher amada se encontra socialmente 
afastada do poeta: é a senhora, esposa do 
senhor feudal. São cantigas que espelham a 
vida na corte através de forte abstração e lin-
guagem refinada.
Cantigas de Amigo: Nasceram no território português e constituem 
um vivo retrato da vida campestre e do cotidiano das aldeias medie-
vais na região. Embora compostas por homens, procuram expressar o 
sentimento feminino através de pequenos dramas e situações da vida 
amorosa das donzelas, geralmente, as saudades do namorado que 
foi combater contra os mouros, a vigilância materna, as confissões às 
amigas. Há nessas cantigas uma forte presença da natureza, sua lin-
guagem é simples e sua estrutura apropriada ao canto e à transmissão 
oral apresenta refrão e versos encadeados e repetidos ou ligeiramente 
modificados [paralelismo].
Cantigas de escárnio e de maldizer: Reúnem a produção satírica e mali-
ciosa da época. Enquanto as de escárnio são críticas e suas ironias feitas 
de modo indireto, as de maldizer, utilizando linguagem mais vulgar, às 
vezes obscena, referem-se direta e nominalmente a suas personagens. 
Os temas centrais destas cantigas são as disputas políticas, as questões e 
ironias que os trovadores se lançam mutuamente e que nos lembram os 
desafios de nossa literatura de cordel, as intimidades de alcova, a covar-
dia ou a falta de jeito de alguns cavaleiros, as mulheres feias. 
Fonte: http://www.hs-augsburg.
de/~harsch/lusitana/Cronologia/
seculo14/Mendinho/men_jogr.jpg
 Literatura Portuguesa I SEAD/UEPB 17
Atividade II
Diante do que você leu no texto acima, que opinião você forma em relação à 
relação que se estabelecia, literariamente, entre homens e mulheres? Haveria 
correspondência dessa relação na vida cotidiana? Elabore um pequeno texto 
defendendo seu ponto de vista.
Leitura na Internet
O texto a seguir traz uma abordagem interessante sobre essa rela-
ção homem-mulher, numa perspectiva literária, mas também cotidiana. 
O texto integral está no site http://www.fi lologia.org.br/abf/vol4/num-04.
htm
O mito do amor na literatura medieval portuguesa
Nadia Paulo Ferreira
(UERJ e Corpo Freudiano do Rio de Janeiro)
Trovadorismo
No século XII, a França não apresentava uma unidade linguística: a 
língua d’oil no norte e a língua d’oc no sul. Na região occitânica, terri-
tório em que se falava o d’oc, floresce uma poesia, associada ao canto, 
que tem como tema o que se convencionou chamar de amor cortês.
Do final do século XII até a segunda metade do século XIV, em Por-
tugal e na Galícia, surge uma poesia em galego-português que retoma 
o tema do amor, a partir de vários gêneros.
A famosa Cantiga da Guarvaia, de autoria de Paio Soares de Ta-
veirós, é considerada por Carolina de Michaëlis o texto inaugural do 
trovadorismo galego-português. [...]
dica. utilize o bloco 
de anotações para 
responder as atividades!
 18 SEAD/UEPB I Literatura Portuguesa
Os textos manuscritos que reúnem o corpus poético dos trovadores 
galego-portugueses se encontram em códices apógrafos. Os principais 
e mais conhecidos desses códices são os seguintes manuscritos:
a) Cancioneiro da Ajuda, copiado em Portugal em fins do século XIII 
ou princípios do século XIV, encontra-se na biblioteca da Ajuda, 
em Lisboa. A maioria das cantigas são de amor.
b) Cancioneiro da Vaticana, copiado na Itália em fins do século XV 
ou princípios do século XVI. Encontram-se cantigas de todos os 
gêneros.
c) Cancioneiro da Biblioteca Nacional, antigo Colocci-Brancuti, co-
piado na Itália em fins do século XV ou princípios do século XVI, 
encontra-se, desde 1924, na Biblioteca Nacional de Lisboa. Há 
composições de todos os gêneros.
d) Pergaminho Vindel: com as 7 cantigas de amigo de Martin Codax, 
entre outros textos.
e) As Cantigas de Santa Maria: constituída por 4 códices do século 
XIII sob o nome de Afonso X, é quase certo que todas as cantigasnão sejam da autoria do rei. Entretanto, não há dúvida de que 
Afonso X coordenou pessoalmente a compilação destas cantigas.
f) Tavola Colocciana: uma lista com nomes dos poetas dos Cancio-
neiros, organizada pelo humanista Angelo Colocci.
Amor-cortês e amor-paixão
Nas Cantigas de Amor, o sujeito do discurso é um homem e o tema 
é o amor impossível. Em galego-português, o sofrimento causado pela 
não correspondência amorosa é chamado de coita e o objeto amado – 
a Dama – é nomeado pela palavra Senhor. A maioria dos medievalistas 
concorda que essas cantigas retomam o lirismo occitânico, sofrendo 
influências diretas da poesia provençal.
Nas Cantigas de Amigo, em vez de um amor impossível, temos o 
testemunho de mulheres apaixonadas. O poeta – trovador, jogral ou 
menestrel –, se coloca do lado das mulheres, falando como se fosse 
uma delas. Em galego-português, amigo é sinônimo de namorado, 
amado. 
No que diz respeito à origem dessas cantigas, vamos encontrar três 
versões diferentes:
1 - a poesia galego-portuguesa em seu conjunto é uma con-
tinuidade do trovadorismo occitânico, tendo como principal 
influência a escola provençal;
2 - as cantigas de amigo são um fenômeno autóctone da cultura 
galego-portuguesa;
 Literatura Portuguesa I SEAD/UEPB 19
3 - a poesia galego-portuguesa se inscreve na tradição trovadores-
ca medieval, apresentando algumas características específicas, 
já que não se pode deixar de levar em consideração que a corte 
de Afonso X, o Sábio (avô de D. Dinis), era um importante centro 
cultural, frequentado por vários poetas occitânicos.
As Cantigas de Amor e de Amigo colocam em cena dois gêneros 
líricos e duas modalidades de amor. Nas cantigas de amor, o amante 
se situa como homem, colocando-se a serviço de uma Dama, que, ao 
mesmo tempo em que o aceita como vassalo, recusa-se a dar-lhe o 
seu amor. Nas cantigas de amigo, o amante se inscreve no lugar das 
mulheres e o objeto amado é quem tem as insígnias fálicas. As cantigas 
de Pero Meogo, em que a imagem dos cervos simboliza a virilidade 
masculina (Cf. AZEVEDO FILHO. As cantigas de Pero Meogo. Rio de 
Janeiro: Gernasa, 1974), ilustram as características básicas desse gê-
nero, onde algumas personagens domésticas participam dos conflitos 
da donzela, quando ela recebe um bilhete do namorado, convidando-
-a para um encontro. Sempre que a figura materna aparece nessas 
cantigas é para alertar a filha dos perigos da paixão, e, às vezes, essas 
donzelas burlam a vigilância materna para atender ao chamado dos 
seus amados.
Nas Cantigas de Amor, a privação do objeto amado tem como 
efeito a inibição do sexual. Nas Cantigas de Amigo, a inclusão do se-
xual está diretamente ligada a uma cena reincidente, onde a donzela 
apaixonada se entrega ao seu amado, engendrando uma versão que 
implica a conjunção entre amor e gozo e na colocação do amor como 
agente infrator de um código moral, como é o caso da poesia de Mar-
tin Codax, provavelmente, um jogral galego-português que viveu na 
corte de Afonso III (1210 - 1279).
O preconceito fez com que alguns estudiosos do trovadorismo ga-
lego-português, tais como D. Carolina de Michäelis de Vasconcelos, 
Aubrey Bell, Joaquim Nunes, Costa Pimpão e Rodrigues Lapa – só para 
citar alguns – identificassem certa “candura” nas cantigas de amigo. 
Ou seja: eles ignoraram a presença de um erotismo, onde o amor con-
tracena com o gozo sexual para engendrar a promessa de Felicidade. 
Já as leituras das cantigas de amigo, feitas por Leodegário A. de Aze-
vedo Filho (As Cantigas de Pero Meogo e O Poema Musical de Codax 
como Narrativa), por Celso Cunha (Amor e Ideologia na Lírica Trova-
doresca) e por Romam Jakobson (A textura Poética de Martim Codax), 
entre outros, contribuíram para desmistificar o caráter angelical que até 
então era atribuído a essas cantigas.
[...]
É importante frisar a dicotomia entre o lugar e o tratamento que é 
dado à mulher na poesia e no social. Na Idade Média, as mulheres, 
reduzidas à função fálica, só tinham lugar no social como mães. Uma 
 20 SEAD/UEPB I Literatura Portuguesa
das soluções encontradas pelos homens em relação às mulheres foi ta-
par as suas bocas. O depoimento do historiador Georges Duby, sobre 
as dificuldades encontradas por ele em sua pesquisa sobre as mulheres 
dessa época, ilustra bem esse fato:
Essa Idade Média é resolutamente masculina. Pois todos os relatos 
que chegam até mim e me informam vêm dos homens, convencidos da 
superioridade do seu sexo. Só as vozes deles chegam até mim. No en-
tanto, eu os ouço falar antes de tudo de seu desejo e, consequentemen-
te, das mulheres. Eles têm medo delas e, para se tranquilizarem, eles as 
desprezam. (DUBY, Georges. Idade média, idade dos homens: do amor 
e outros ensaios. São Paulo: Companhia das Letras, 1989, p.10)
Na segunda metade do século XII, período de florescimento do 
amor cortês, no sul da França, o poder da Igreja invadia a privacidade 
dos homens, criando leis que regulamentavam as relações íntimas entre 
os casais. Os padres alertavam os homens para terem muito cuidado 
com as mulheres. Elas poderiam ser consideradas, em relação à força 
física, mais frágeis do que os homens, mas, em relação ao espírito, 
deviam ser temidas porque usavam a sedução e a mentira como armas 
para conduzir o homem ao pecado, à destruição e à morte.
[...] 
Enfim, criaturas demoníacas, perversas e devoradoras, incapazes de 
serem satisfeitas, eram as imagens que o cristianismo medieval cons-
truiu sobre as mulheres, o que sem dúvida isentava e justificava os atos 
de violência contra elas. As leis dos homens tinham, nessa época, um 
efeito apaziguador, na medida em que colocavam no lugar do Outro 
sexo o signo da maternidade. O perigo só rondava as mulheres soli-
tárias, ou seja, aquelas que não estavam sob o domínio dos homens. 
Então, a solução encontrada foi a criação de novos espaços para apri-
sioná-las: os mosteiros, as comunidades beguinas e os bordéis. Sob a 
insígnia da proteção, os homens encontravam artifícios para se preve-
nirem do insondável que vela o gozo feminino. Tratava-se, então, de 
uma estratégia para negar o ser sexuado dessas mulheres, cujo gozo 
suplementar não passa pelo corpo, mas sim pela fala. Uma idade dos 
homens é como o historiador George Duby se refere a essa época em 
um dos seus livros. Mas, se nessa época o valor social da mulher era 
índice da potência do homem a quem estava subjugada, desde o nas-
cimento até a morte, este valor se transformava radicalmente, quando 
a mulher, sob a pena do poeta, transfigura-se na Dama, à qual ele iria 
dedicar seu amor em cantos, que são verdadeiros lamentos de dor.
[...]
 Literatura Portuguesa I SEAD/UEPB 21
O morrer-de-amor dos trovadores não corresponde nem ao desejo 
de morte da tragédia helênica e nem ao masoquismo moral romântico. 
O sofrimento é efeito de uma relação amorosa simbolizada que visa 
à não satisfação. A Dama é colocada no lugar de objeto amado para 
que outra coisa, que está para além das mulheres, seja desejada.
As regras corteses tornam o amor impossível para que uma prática 
de escrita se transforme em metáfora do amor. O real como impossível 
não é recalcado, simplesmente se desloca para que amar se torne si-
nônimo de renúncia e a insistência em continuar amando se transforme 
em mestria de um cantar com a função de sublimação.
Ao contrário do romantismo, o que comparece no lugar de um ide-
al é o próprio amor e não o objeto. Na literatura romântica, o objeto 
feminino é investido de uma imagem que substancializa a figura da 
mulher angelical ou da mulher satânica. As cantigas de amor dessubs-
tancializam o objeto feminino, transformando-o numa função simbóli-
ca. A Dama, como portadora do agalma, é captada por um olhar, sem 
que haja qualquer particularidade que a singularize, quer do ponto de 
vista do amante,quer do ponto de vista de um estilo de época. A leitura 
das cantigas de amor provoca, inclusive, a sensação no leitor de que 
todas elas poderiam ter sido escritas para uma mesma mulher. A Dama 
é dessubjetivada para ser colocada aos olhos do amador como, inteira-
-mente, arbitrária e onipotente. Justamente por isto, Ela não mede as 
exigências que impõe àquele que está ao seu serviço.
[...] O trovador tem que passar [por estágios] para que a Dama 
aceite ser homenageada por ele, possibilitando assim que ele receba 
o grau de amador. Esses estágios são: 1- Aspirante (Fenhedor) – o que 
se consome em suspiros; 2- Suplicante (Precador) – o que ousa pedir; 
3- Amador (Drut).
Cumpridos esses estágios, se o amador for aceito como vassalo, a 
Dama aceitará seu amor, sua devoção e sua fidelidade. No ritual pro-
vençal, quando a Dama aceitava a corte do trovador, oferecia-lhe um 
anel de ouro e ordenava que se levantasse e lhe beijasse a fronte. Daí 
em diante os amantes estavam unidos pelas leis da cortesia: inibição do 
sexual, vassalagem e consagração do objeto amado.
[...]
O mito do amor, na literatura portuguesa, encontrará as suas ori-
gens no entrecruzamento entre as cantigas galego-portuguesas de 
amor e de amigo. Nas cantigas de amigo, vamos encontrar um amor 
que justifica os desvios de virtude das donzelas apaixonadas. Mentir por 
amor, dissimular para a mãe e se entregar como prova de amor são os 
comportamentos descritos pelas donzelas nas Cantigas de Amigo, com 
bem demonstra Leodegário A. de Azevedo Filho, no seu livro As Canti-
gas de Pero Meogo. Nessas cantigas, não há lugar para o morrer-de-
-amor das Cantigas de Amor. Nestas últimas, a dor de morrer-de-amor 
revela-se para o imaginário do trovador como gozo, que, ao contrário 
das cantigas de amigo, não se inscreve pela via do sexual.
Nas cantigas de amigo, o trovador, ao usar a máscara de uma don-
zela apaixonada, não canta mais um amor impossível e sim as maravi-
 22 SEAD/UEPB I Literatura Portuguesa
lhas do amor. São depoimentos líricos de “mulheres” que ora suspiram, 
ora se entregam ao amado como prova de amor. A conversão do amor 
impossível para o amor que se sustenta na Promessa de Felicidade é a 
primeira grande virada da concepção mítica do amor na literatura por-
tuguesa. Lá, nas páginas das cantigas de amigo, amor e gozo sexual 
se deparam com duas faces de um sonho sonhado sem os escombros 
da morte.
Disponível em http://www.filologia.org.br/abf/vol4/num1-04.htm
Sugestões de fi lmes
a) Monty Python e o Cálice Sagrado 
(1975) – No ano de 932 D.C., o rei Arthur 
convence Sir Lancelot, Sir Galahad e Sir 
Robin a se juntarem à confraria da Távola 
Redonda. Depois de uma aparição divina, 
os bravos cavaleiros partem em busca do 
cálice sagrado, numa sucessão de trapa-
lhadas e absurdos. Elenco: Graham Chap-
man, John Cleese, Eric Idle, Terry Gilliam, 
Terry Jones, Michael Palin, Connie Booth, 
Carol Cleveland, Neil Innes, Bee Duffell, John Young, Rita Davies, Avril 
Stewart, Sally Kinghorn, Mark Zycon. Direção: Terry Gilliam e Terry Jo-
nes. Duração: 90 min.
b) O nome da rosa (1988) – Em 1327, 
um monge franciscano e um noviço que 
o acompanha chegam a um remoto 
mosteiro no norte da Itália a fim de par-
ticipar de um conclave para decidir se a 
Igreja deve doar parte de suas riquezas, 
mas a atenção é desviada por vários as-
sassinatos que acontecem no mosteiro. 
 Literatura Portuguesa I SEAD/UEPB 23
O caso se mostra bastante intrincando; além dos mais, religiosos acre-
ditam que é obra do Demônio. O monge não partilha desta opinião, 
mas antes que ele conclua as investigações o Grão-Inquisidor chega no 
local e está pronto para torturar qualquer suspeito de heresia que tenha 
cometido assassinatos em nome do Diabo. Esta batalha, junto com 
uma guerra ideológica entre franciscanos e dominicanos, é travada 
enquanto o motivo dos assassinatos é lentamente solucionado. Elenco: 
Sean Connery, Christian Slater, Helmut Qualtinger, Elya Baskin. Direção: 
Jean-Jacques Annaud. Duração: 130 min.
Resumo
A Península Ibérica, a mais ocidental da Europa, começou a ser 
formada a partir da junção da vários povos, há mais de 10 mil anos; 
diferentes etnias e, consequentemente, diferentes culturas, foram uni-
ficadas no século I a. C., com a invasão romana. Em seguida, povos 
bárbaros expulsaram os romanos, mas terminaram sendo “romaniza-
dos” culturalmente, como também o foram os árabes, que invadiram a 
península no século VIII. O longo período de expulsão dos muçulmanos 
e retomada dos territórios pelos ibéricos denominou-se “Reconquista”, 
e tem a ver diretamente com a formação do reino de Portugal. É exa-
tamente nesse período (entre os séculos VIII e XV) que se desenvolve o 
primeiro movimento literário português, o Trovadorismo. Falamos aqui 
sobre a poesia trovadoresca, composta pelas cantigas lírico-amorosas 
e satíricas, as quais serão desenvolvidas na próxima aula, juntamente 
com a prosa medieval portuguesa.
 24 SEAD/UEPB I Literatura Portuguesa
Autovaliação
Retomando os objetivos desta unidade, você pode, por si, aquilatar sua própria 
aprendizagem, a partir da auto-observação de questões como:
• Conseguiu situar, na linha do tempo, os fatos aqui comentados?
• Percebeu as transformações sociais e econômicas do período 
estudado, fazendo a devida ligação com a História?
• Compreendeu a relação da formação do reino português com 
o surgimento de sua literatura?
Referências
COELHO, Nelly N.. Literatura e Linguagem. A obra literária e a 
expressão lingüística. 5. ed. reform. Petrópolis-RJ: Vozes, 1993
NICOLA, José de. Literatura Portuguesa: da origem aos nossos dias. 
São Paulo: Scipione, 1999
PESSOA, Fernando. Obra poética. Org. Int. e Notas de Maria Aliete 
Galhoz. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2001
Web:
http:// www.filologia.org.br/abf/vol4/num1-04.htm
 Literatura Portuguesa I SEAD/UEPB 25
Trovadorismo: 
textos poéticos e em prosa 
II UNIDADE
 26 SEAD/UEPB I Literatura Portuguesa222226666666 SEAD/UEPB I Literatura Portuguesa
Apresentação
Estudamos, na unidade passada, a origem do reino de 
Portugal e sua nascente literatura, o Trovadorismo poético. 
Lemos alguns textos históricos e teóricos, que nos ajudaram 
a situar adequadamente a literatura que passaremos a estu-
dar com mais atenção a partir de agora. Vimos algumas re-
ferências a respeito das cantigas lírico-amorosas e satíricas, 
bem como relacionadas ao tema destas, mas sem entrarmos 
em contato diretamente com elas.
O que faremos nesta unidade é estabelecer esse contato 
com as cantigas, classificadas pelos seus temas. “As primei-
ras cantigas ou trovas medievais portuguesas são inspiradas 
nas cantigas que há muito tempo já eram feitas em Proven-
ça, no sul da França; por isso, a Literatura Medieval Por-
tuguesa também é chamada de LITERATURA PROVENÇAL. 
Apesar de oito séculos terem se passado, as cantigas con-
tinuam existindo: basta ligarmos o rádio e ouviremos POE-
MAS ORAIS (cantados) ACOMPANHADOS DE MÚSICA...” 
(http://rosabe.sites.uol.com.br/trovad.htm).
Fonte: http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/imagens/trovad06.jpg
 Literatura Portuguesa I SEAD/UEPB 27Literatura Portuguesa I SEAD/UEPB 27
Num segundo momento, abordaremos a prosa medie-
val portuguesa, composta pelas famosas “Novelas de Ca-
valaria”, oportunidade em que analisaremos alguns trechos 
desses textos, “narrativas ficcionais de acontecimentos histó-
ricos”, gerados a partir da “prosificação de poemas épicos e 
das canções de gesta (guerra) francesas e inglesas” (http://
www.gargantadaserpente.com/historia/trovadorismo/prosa.
shtml).
Será importante observar a estreita ligação estabelecida 
entre os textos estudados e o estilo de vida e comportamento 
social dos portugueses medievais, notadamente dos chama-
dos trovadores.Tanto as cantigas quanto as novelas foram escritas em 
galego-português, que é uma forma ainda bastante primitiva 
do idioma lusitano, o que poderia gerar alguns problemas 
na hora do entendimento e interpretação. Desta forma, ao 
lado do texto original, colocaremos a atualização linguística 
do texto.
Vamos lá?!
Objetivos
É nosso desejo que, ao fi nal desta unidade, você consiga:
• Identificar os diversos tipos de cantigas medievais, a partir da 
análise do contexto poético presente nelas;
• Reconhecer os acontecimentos sócio-culturais que influencia-
ram a composição dos textos em prosa medievais;
• Observar as características formais e temáticas de um texto me-
dieval;
 28 SEAD/UEPB I Literatura Portuguesa
Texto 1
Inicialmente, vamos ler mais algu-
mas informações sobre as cantigas líri-
co-amorosas, e, em seguida, algumas 
dessas cantigas.
As cantigas lírico-amorosas assim se 
denominam por terem como tema predo-
minante o amor, seja o amor de um ho-
mem por uma mulher (Cantiga de Amor), 
seja o amor por um homem, composta 
por um trovador, como se fosse uma mulher (Cantiga de Amigo).
Características gerais das cantigas de amor
• Os sentimentos eróticos que exprimem são os do homem, é o 
namorado que desfia as coisas de amor. 
• Por influência do lirismo tradicional, algumas cantigas de amor 
estão dotadas de paralelismo (quando as estrofes da cantiga são 
construídas de forma parecida, dizendo praticamente a mesma 
coisa).
• Possuem variado e complicado formalismo estilístico. 
• Estão repletas de simbologia amorosa bastante rica, por causa 
da teoria do amor cortês. 
• Nota-se uma certa uniformidade na expressão e nos sentimen-
tos, o que leva à monotonia temática.
Exemplos de cantigas de amor. A primeira é a Cantiga da Ribeirinha, 
de Paio Soares de Taveirós; a segunda foi composta por D. Dinis, o 
chamado “Rei Trovador”:
Fonte: http://www.orizamartins.com/
serenata-medieval.jpg
Fonte: http://perlbal.hi-pi.com/blog-
images/395581/gd/1204519563/
TROVADORISMO-cantiga-de-amor-de-
Paio-Soares-de-Taveiros.jpg
Paio Soares de Taveirós – tro-
vador de origem galega 
(séc. XII), autor de um dos 
mais antigos textos escritos 
em língua portuguesa.
D. Dinis – o chamado “Rei-Tro-
vador”, foi um culto monar-
ca português do século XIII, 
responsável por um grande 
avanço social, econômico e 
cultural de Portugal.
Fontes: http://evunix.uevora.
pt/~jbonito/images/ddinis.gif
 Literatura Portuguesa I SEAD/UEPB 29
No mundo non me sei parelha,
mentre me for’ como me vai,
ca ja moiro por vós - e ai!
mia senhor branca e vermelha,
Queredes que vos retraia
quando vos eu vi em saia!
Mao dia me levantei,
que vos enton non vi fea!
E, mia senhor, des aquel di’, ai!
me foi a mi muin mal,
e vós, filha de don Paai
Moniz, e ben vos semelha
d’haver eu por vós guarvaia,
pois eu, mia senhor, d’alfaia
Nunca de vós ouve nem ei
valía d’ua correa.
[http://pt.wikipedia.org/wiki/Paio_Soares_de_
Taveir%C3%B3s]
No mundo ninguém se assemelha a mim
enquanto a vida continuar como vai,
porque morro por vós, e ai
minha senhora de pele alva e faces rosa-
das,
quereis que vos descreva (retrate)
quando vos eu vi sem manto (saia: roupa 
íntima)
Maldito dia! me levantei
que não vos vi feia (ou seja, a viu mais 
bela)
E, mia senhora, desde aquele dia, ai!
tudo me foi muito mal
e vós, filha de don Pai
Moniz, e bem vos parece
de ter eu por vós guarvaia (guarvaia: roupa 
luxuosa)
pois eu, minha senhora, como prova de 
amor
de vós nunca recebi
algo, mesmo que sem valor.
Quer’eu em maneira de proençal
fazer agora un cantar d’amor,
e querrei muit’i loar mia senhor
a que prez nen fremusura non fal,
nen bondade; e mais vos direi en:
tanto a fez Deus comprida de bem
que mais que todas las do mundo 
val. 
Ca mia senhor quiso Deus fazer tal,
quando a faz, que a fez sabedor
e todo ben e de mui gran valor,
e con todo est’é mui comunal
ali u deve; er deu-lhi bon sen,
e des i non lhi fez pouco de ben,
quando non quis que lh’outra 
foss’igual. 
Ca en mia senhor nunca Deus pôs 
mal,
mais pôs i prez e beldad’e loor
e falar mui ben, e riir melhor
que outra molher; des i é leal
muit’, e por esto non sei oj’eu quen
possa compridamente no seu bem
falar, ca non á, tra-lo seu ben, al.
[http://pt.wikisource.org/wiki/Quer%27
eu_em_maneira_de_proen%C3%A7al]
Quero, à maneira provençal,
Fazer agora um cantar de amor
E vou querer muito louvar minha senho-
ra
A quem reputação e formosura não fal-
ta,
Nem bondade; e mais vos direi:
Tanto a fez Deus muito boa
Que vale mais que todas do mundo.
Pois, minha senhora, quis Deus fazer 
isso,
Quando a fez, que a fez sabedor
De todo bem e de muito grande valor,
E com tudo isso é muito comum
Ali onde deve; e deu-lhe bom senso,
E desde aí, não lhe fez pouco boa
Quando não quis que outra fosse igual.
Pois em minha senhora nunca Deus colo-
cou maldade
Colocou mais aí mérito, beleza e louvor
E falar muito bem e rir melhor
Que outras mulheres; desde aí é muito 
leal
E por isso não sei hoje eu quem
Possa em toda a extensão de sua bon-
dade
Falar, pois não há outra que tenha sua 
bondade.
 30 SEAD/UEPB I Literatura Portuguesa
Atividade I
Depois da leitura destes dois textos medievais, conversemos um pouco sobre 
eles:
a) Uma das características marcantes desse período literário é a 
chamada “vassalagem amorosa”, ou seja, o eu-lírico se coloca como 
vassalo, escravo da mulher amada, derramando sobre ela os maiores 
elogios. Procure localizar essas passagens nos dois poemas, e 
comente-os.
b) Pesquise sobre como era a situação da mulher na Ideia Média, em 
relação ao homem, e responda: você acha que a forma como era 
tratada pelo homem, na sociedade, se parece com o jeito como ele a 
trata nas cantigas? O que você acha disso?
c) Esse período da História é considerado como Teocêntrico, ou seja, 
Deus era tido como o centro de todas as coisas. Podemos observar, 
principalmente no segundo texto, que a mulher, em todo seu 
esplendor e bondade, é obra de Deus. Por que a divindade aparece 
de forma tão decisiva na cantiga e que importância isso tem para os 
elogios que o eu-lírico faz à mulher?
Texto 2
Vamos conhecer, agora, mais duas cantigas lírico-amorosas, estas 
denominadas Cantigas de Amigo, uma vez que têm um eu-lírico feminino 
(ainda que escritas por um homem), e falam sobre um homem (amigo). 
São cantigas em que a mulher dialoga com a natureza, com a mãe ou 
amigas sobre o amado distante. Antes, vejamos algumas características 
desse tipo de cantiga:
• Ausência do amado – o eu-poético revela não saber seu para-
deiro.
• Amor natural e espontâneo - algumas revelam que já foi realizado, 
e a moça espera pelo amigo para matar a saudade.
• Confi ssão dos sentimentos feito indiretamente ao amado – o eu-po-
ético confessa seus sentimentos a outrem. É por isso que essas 
cantigas geralmente apresentam diálogos.
dica. utilize o bloco 
de anotações para 
responder as atividades!
 Literatura Portuguesa I SEAD/UEPB 31
• Mulher mais próxima da realidade, que sofre pressão social, sua 
mãe exerce esse poder.
• Patriarcalismo - comportamento vigiado ou tolhido.
• Eu-poético Feminino e Autor Masculino – canção colocada na boca 
de uma moça do povo que exprime seu amor pelo “amigo” 
(namorado).
• Estrutura de poesia folclórica, uso de elementos reiterativos, prin-
cipalmente, paralelismo e refrão.
• Musicalidade: Paralelismo e refrão são recursos que dão mu-
sicalidade, reforçam a idéia principal do texto e facilitam sua 
memorização. 
• Origem Ibérica: é uma cantiga que nasceu no seio popular e, por 
esse motivo, sua ambientação é periférica.
A primeira das cantigas de amigo que veremos a seguir é de auto-
ria de Martim de Guinzo1; a segunda é de autoria de João Garcia de 
Guilhade2.
Non poss’ eu,madre, ir a Santa Cecília 
ca me guardades a noit’ e o dia 
do meu amigo.
 
Nom poss’ eu, madre, aver gasalhado, 
ca me non leixades fazer mandado 
do meu amigo. 
 
Ca me guardades a noit’ e o dia; 
morrer-vos-ei con aquesta perfia 
por meu amigo. 
 
Ca me non leixades fazer mandado, 
morrer-vos ei con aqueste cuidado 
por meu amigo. 
 
Morrer-vos ei con aquesta perfia, 
e, se me leixassedes ir, guarria 
con meu amigo. 
 
Morrer-vos ei con aqueste cuidado, 
e, se quiserdes, irei mui de grado 
con meu amigo.
http://www.filologia.org.br/pub_outras/sliit02/
sliit02_99-109.html
Não posso eu, mãe, ir a Santa Cecília
pois me guardas noite e dia
do meu amigo.
Não posso eu, mãe, ter paz
pois não me deixas fazer a vontade 
do meu amigo.
Porque me guardas noite e dia;
morrerei com esta teimosia
por meu amigo.
Porque não me deixas fazer a vontade,
morrerei com este cuidado
por meu amigo.
Morrerei com esta teimosia,
e, se me deixasses ir, me salvaria
com meu amigo.
Morrerei com este cuidado,
e, se quiseres, irei de bom grado
com meu amigo.
2 João Garcia de Guilhade – trovador portu-
guês, nascido em Barcelos, atuou no século 
XIII, e é con-siderado um dos mais notáveis 
autores de cantigas satíricas.
1 Martin de Guinzo – jogral galego do século 
XIII, autor de várias cantigas de amigo. Pou-
co se sabe a seu respeito.
 32 SEAD/UEPB I Literatura Portuguesa
Quer’eu, amigas, o mundo loar 
por quanto bem mi Nostro Senhor fez: 
fez-me fremosa e de mui bom prez, 
ar faz-mi meu amigo muit’ amar: 
aqueste mundo x’est a melhor rem 
das que Deus fez a quem el i faz bem. 
 
O paraiso bõo x’ é de pran, 
ca o fez Deus, e non digu’eu de non, 
mai-los amigos, que no mundo som, 
e amigas muit’ ambos lezer ham: 
aqueste mundo x’est a melhor rem 
das que Deus fez a quem el i faz bem. 
 
Querriam’ eu o parais’ haver, 
des que morresse, bem come quem 
quer, 
mais, poi-la dona seu amig’ hoer 
e com el pode no mundo viver, 
aqueste mundo x’est a melhor rem 
das que Deus fez a quem el i faz bem. 
 
E quem aquesto non tever por bem 
já nunca lhi Deus dê em el REM
http://pt.wikisource.org/wiki/Quer%27
eu,_amigas,_o_mundo_loar
Eu quero, amigas, louvar o mundo 
pelo bem que Nosso Senhor fez a mim:
fez-me formosa e de muitos bons valo-
res,
também faz-me amar muito meu ami-
go:
este mundo se é a melhor coisa 
das que Deus fez a quem a ele faz bem.
O paraíso se é bom por certo,
pois Deus o fez, e não digo eu que não,
mas os amigos, que estão no mundo,
e amigas ambos muito prazer terão:
este mundo se é a melhor coisa
das que Deus fez a quem a ele faz bem.
Queria ter meu paraíso,
desde que morresse, bem como quem 
quer,
mas, por a dona obter seu amigo 
e poder viver com ele no mundo,
este mundo se é a melhor coisa 
das que Deus fez a quem a ele faz bem.
E quem não tiver isto como um bem
Já nunca Deus lhe deu coisa alguma no 
mundo
Atividade II
a) Você percebe que os dois poemas têm mulheres como destinatários? 
O de Guinzo a mãe; o de Guilhade, as amigas. Por que, na sua opinião, 
isso acontece?
b) Na primeira cantiga, fi ca clara a situação da mulher vigiada pela mãe, 
principalmente em se tratando de coisas de amor. Comente isso.
c) Compare as duas mulheres que falam, no primeiro e no segundo 
poema, respectivamente. 
dica. utilize o bloco 
de anotações para 
responder as atividades!
 Literatura Portuguesa I SEAD/UEPB 33
Texto 3
As Cantigas Satíricas
A par das cantigas de amigo e das cantigas de amor, as cantigas 
satíricas (de escárnio e maldizer) também estão presentes na literatura 
galego-portuguesa. 
De acordo com a “Arte de Trovar” incluída no Cancioneiro da Bi-
blioteca Nacional, Cantigas de Maldizer são aquelas que os trovadores 
fazem mais abertamente; falam mal e de forma chula; e Cantigas de 
Escárnio são aquelas que os trovadores fazem querendo dizer mal de 
alguém através delas e fazem isso através de palavras disfarçadas, de 
duplo sentido, para que não sejam entendidas de imediato... (CBN, Arte 
de Trovar, Tit. III, C.VI [linguagem atualizada]). 
A alusão mais ou menos direta ao destinatário do ataque constitui, 
pois, o elemento que diferencia os dois tipos de cantiga, embora os 
próprios trovadores e compiladores dos cancioneiros tenham renun-
ciado a efetuar rigorosamente a distinção entre cantiga de escárnio e 
cantiga de maldizer, vazando-as num grupo comum que acolhe qual-
quer composição satírica. A intenção destas cantigas é satirizar certos 
aspectos da vida da corte, visando com frequência certas personagens 
como jograis, soldadeiras, clérigos, fidalgos, plebeus nobilitados. Ao 
mesmo tempo, as cantigas de escárnio e maldizer recriam situações 
anedóticas e picarescas e apresentam uma ridicularização do amor 
cortês. O repertório linguístico da sátira pessoal, social, moral, religiosa 
e política, surpreende pela sua amplitude e recorrente obscenidade, 
transmitindo involuntariamente informações ímpares sobre a mentali-
dade e cultura laica medievais. (http://www.infopedia.pt/$cantiga-de-
-escarnio-e-maldizer)
Vamos conhecer, então, uma cantiga satírica, de autoria de D. Afon-
so Mendes de Besteiros3...
Fonte: http://1.bp.blogspot.com/-b5ormQ1NrzA/
TcVhCBHAuAI/AAAAAAAABS0/hDvV1Lvkdzc/
s1600/Trovadores67894.jpg
3 D. Afonso Mendes de Besteiros – mais um 
dos muitos trovadores galego-portugueses 
do perío-do medieval (século XIII). Não se 
conhece muito sobre ele.
 34 SEAD/UEPB I Literatura Portuguesa
Don Foão, que eu sei que ha preço de 
livão, vedes que fez ena guerra (daques-
to soo certão): sol que viu os genetes, 
come boi que fer tavão, sacudiu-se 
e revolveu-se, alçou rab’e foi sa vía a 
Portugal.
Don Foão, que eu sei que ha preço de 
ligeiro, vedes que fez ena guerra (da-
questo son verdadeiro):
sol que viu os genetes, come bezerro 
tenreiro, sacudiu-se e revolveu-se, al 
-çou rab’e foi sa vía a Portugal.
Don Foão, que eu sei que ha prez de 
liveldade, vedes que fez ena guerra 
(sabede-o por verdade): sol que viu os 
genetes, come can que sal de grade, 
sacudiu-se e revolveu-se, alçou rab’e foi 
sa vía a Portugal.
http://pt.wikisource.org/wiki/Don_Fo%C3%A3o,
_que_eu_sei_que_ha_pre%C3%A7o_de_
liv%C3%A3o
Dom Fulano, que eu sei que tem fama 
de covarde vejam o que fez durante a 
guerra (disto estou certo): logo que viu 
os mouros, como boi ferroado por mos-
cão, sacudiu-se e remexeu-se, le vantou 
o rabo e fugiu para Portugal.
Dom Fulano, que eu sei que tem fama 
de leviano, vejam o que fez durante a 
guerra (disto estou certo): logo que viu 
os mouros, como um bezerro novo, 
sacudiu-se e remexeu-se, levantou o 
rabo e fugiu para Portugal.
Dom Fulano, que eu sei que tem fama 
de medroso vejam o que fez durante a 
guerra - saibam que é verdade: logo 
que viu os mouros, como um cão que 
sai da corrente, sacudiu-se e remexeu-
se, le vantou o rabo e fugiu para Por-
tugal.
Atividade III
a) Observe como o autor fala mal do personagem, a quem diz chamar-se Dom 
Fulano – ao mesmo tempo que diz que pertence à nobreza, não fala seu nome. 
Comente isso.
b) O tema da cantiga está diretamente ligado com que momento histórico 
português? Que parte da cantiga lhe informa isso?
dica. utilize o bloco 
de anotações para 
responder as atividades!
Texto 4
Conheceremos, agora, um pouco da prosa medieval. “A maioria 
 Literatura Portuguesa I SEAD/UEPB 35
das novelas de cavalaria em língua portuguesa são traduções ou adap-
tações de novelas francesas ou inglesas. Dependendo de quem é o 
herói principal da novela, ela faz parte de um dos seguintes ciclos: a) 
Ciclo clássico: conjunto de novelas de 
cavalaria que narram as façanhas de 
heróis da Antiguidade; b) Ciclo caro-
língio ou francês: novelas cujo herói é 
Carlos Magno; c) Ciclo arturiano ou 
bretão: as novelas desteciclo são as 
mais famosas, adaptadas e traduzi-
das; o herói dessas novelas é o Rei Ar-
tur, sempre acompanhado de seus cé-
lebres cavaleiros da Távola Redonda.
Essa Matéria da Bretanha é uma 
das fontes que dão origem às novelas 
de cavalaria portuguesas: tanto que 
as novelas portuguesas mais impor-
tantes pertencem ao Ciclo Arturiano 
ou Bretão, como “José de Arimatéia”, 
“História de Merlin” etc. As novelas mais marcantes, porém, são: a) A 
Demanda do Santo Graal: narra a busca do cálice sagrado pelo rei 
Artur e os cavaleiros da Távola Redonda; b) Amadis de Gaula, (...); c) 
Palmeirim de Inglaterra (...).
As novelas de cavalaria portuguesas também são inspiradas nas 
Canções de Gesta ou Matéria de França (cantigas que homenageavam 
os heróis e seus feitos). A prosa medieval portuguesa, como se pode 
concluir, é predominantemente do gênero épico.” (http://pt.wikipedia.
org/wiki/Prosa_medieval)
Leremos um trecho da novela “A Demanda do Santo Graal”, mais 
especificamente o capítulo IV, Aparição do Santo Graal:
Fonte: http://4.bp.blogspot.
com/_G76NFNcUugU/
SgUrjx351dI/AAAAAAAAN-8/
O0qEFpFQLtk/s400/
galahadhorse.gif
 36 SEAD/UEPB I Literatura Portuguesa
Grande foi a ledice e o prazer que os 
cavaleiros da Távola Redonda houverem 
aquele dia, quando se virom todos jun-
tos. E sabede que, depois que a Tá-
vola Redonda foi começada, que nunca 
todos assi forom reunidos; mas, aquele 
dia, sem falha, aveio que forom i todos, 
mas depois nunca i er forom.
Contra a noite, depois de vésperas, 
quando se assentarom às mesas, ou-
virom vir um torvão, tão grande e tão 
espantoso, que lhe semelhou que todos 
o paço caía.
E logo depois que o torvão deu, en-
trou uma tão grande claridade que fez o 
paço dois tanto mais claro ca era ante.
E quantos no paço estavam, logo todos 
foram compridos da graça do Espírito 
Santo e começarom-se a catar uns aos 
outros, e virom-se mui mais fremosos 
mui grã peça que soíam a ser, e maravi-
lharom-se ende muito desto que aveio, 
e non houve i tal que pudesse falar por 
uma grã peça, ante estavam calados e 
catavam-se uns aos outros.
E eles assi sendo, entrou no paço o 
Santo Graal, coberto de um eixamete 
branco, mas nom houve i tal que visse 
quem no tragia. E, tanto entrou i, foi o 
paço todo comprido de bom odor, como 
se tôdalas espécies do mundo i fossem.
E ele foi por meio do paço de uma 
parte e da outra e arredor das mesas. 
E por u passava, logo tôdalas mesas 
eram compridas de manjar, qual em seu 
coraçom desejava cada um. E depois 
houve cada um o que houve mester a 
seu prazer.
Saiu-se o Santo Graal do paço, que 
nenhum nom soube que fora dele nem 
por qual porta saíra. E os que ante nom 
podiam falar falarom então. E derom 
graças a Nosso Senhor, que lhes fazia 
tão grande honra e que os assi conforta-
ra e avondara da graça do Santo Vaso.
Mas sobre todos aqueles que ledos 
e-ram, mais o era o rei Artur, porque 
maior mercê lhe mostrara Nosso Senhor 
que a nenhum rei, que ante reinasse em 
Logres.
[http://pt.scribd.com/doc/5710150/FInf-LitPort-
Textos-Medievais-Demanda-do-Graal]
Grande foi a alegria e o prazer que 
os cavaleiros da Távola Redonda ti-
veram aquele dia, quando se viram 
todos juntos. E sabes que, depois que 
a Távola Redonda começou, nunca to-
dos foram reunidos assim; mas aquele 
dia, sem falhar, aconteceu que foram 
todos, mas depois nunca mais foram 
de novo.
No início da noite, depois das seis 
horas, quando se assentaram ás me-
sas, ouviram um grande trovão, tão 
grande e espantoso que pareceu a to-
dos que o palácio caía.
E logo depois do trovão, entrou um 
claridade tão grande que fez o palácio 
duas vezes mais iluminado do que era 
antes.
E todos quantos estavam no palácio 
foram cobertos pela graça do Espírito 
Santo e começaram a buscar únicos 
aos outros, e viram-se muito mais for-
mosos e de uma graça muito maior do 
que poderiam ser, e se maravilharam 
muito disto, e não houve aí ninguém 
que pudesse falar por um bom tempo, 
estavam todos calados e buscavam-se 
únicos aos outros.
E eles estando assim, entrou no palá-
-cio o Santo Graal, coberto por um 
tecido branco, mas ninguém viu quem 
o trazia. E, logo que entrou, foi o palá-
cio todo preenchido de bom perfume, 
como se todas as espécies [aromáti-
cas] do mundo aí estivessem.
E ele foi pelo meio do palácio, de 
uma parte a outra e ao redor das me-
sas. E por onde passava, logo todas 
as mesas eram cobertas de manjar, de 
acordo com o que desejava o cora-
ção de cada um. E depois teve cada 
um o que precisava para o seu prazer.
Saiu o Santo Graal do palácio que 
ninguém soube o que fora dele nem 
por qual porta saíra. E os que antes 
não podiam falar falaram então. E de-
ram graças a Nosso Senhor, que lhes 
fazia tão grande honra e que assim os 
confortara e enchera da graça do San-
to Vaso.
Mas, mais do que aqueles que esta-
vam felizes, estava o rei Artur, porque 
Nosso Senhor lhe mostrara maior fa-
vor que a nenhum outro rei que antes 
reinara em Logres.
 Literatura Portuguesa I SEAD/UEPB 37
Atividade IV
Observe, no trecho acima, como a religiosidade está presente nos textos 
medievais em prosa. Compare esta narrativa com Atos dos Apóstolos, cap. 2, 
vers. 1-8. Escreva em seguida sua opinião sobre o assunto.
Resumo
Vimos nesta unidade alguns textos medievais. Percebemos que tanto 
as cantigas lírico-amorosas e satíricas, quanto as novelas de cavalaria 
são a expressão de sentimentos presentes no homem da Idade Média, 
em Portugal. Mas também expressam a forma de relacionamento so-
cial, a posição da mulher na sociedade, além das crenças e conquistas 
guerreiras. As cantigas de amor falam de uma situação de conquista 
masculina: assim como o guerreiro conquistava novas terras, o trova-
dor conquistava a dama, só que, para isso, ele se mostrava como seu 
vassalo, seu escravo – o que nem sempre correspondia à realidade. 
Nas cantigas de amigo (de autoria masculina), temos a voz feminina 
expressando seu sentimento de saudade do amado, mas sem se dirigir 
diretamente a ele, falando à natureza, à mãe ou às amigas. Nas canti-
gas satíricas, o picaresco, o humorístico, o chulo são bem marcantes. E 
nas novelas de cavalaria, a forte presença da Reconquista e da religio-
sidade, marcantes nesse período histórico português.
 
 
dica. utilize o bloco 
de anotações para 
responder as atividades!
 38 SEAD/UEPB I Literatura Portuguesa
Autovaliação
Com o objetivo de se autoavaliar, no que se relaciona à presente aula, você 
pode observar se:
• conseguiu analisar adequadamente os textos apresentados.
• entendeu as diferenças formais e temáticas entre uma cantiga de 
amigo e uma cantiga de amor.
• percebeu como os poetas satíricos criticam através das cantigas de 
escárnio e de maldizer.
• compreendeu a forte presença da religiosidade e das lutas pela 
Reconquista do território português, a partir da leitura da novela de 
cavalaria.
Referências
Internet:
http://pt.scribd.com/doc/5710150/FInf-LitPort-Textos-Medievais-
Demanda-do-Graal
http://pt.wikipedia.org/wiki/Paio_Soares_de_Taveir%C3%B3s
http://pt.wikisource.org/wiki/Quer%27eu_em_maneira_de_
proen%C3%A7al
http://rosabe.sites.uol.com.br/trovad.htm
http://www.filologia.org.br/pub_outras/sliit02/sliit02_99-109.html
http://www.gargantadaserpente. com/historia/trovadorismo/prosa.
shtml
dica. utilize o bloco 
de anotações para 
responder as atividades!
 Literatura Portuguesa I SEAD/UEPB 39
Humanismo: crônicas
III UNIDADE
 40 SEAD/UEPB I Literatura Portuguesa4444440000000 SEAD/UEPB I Literatura Portuguesa
Torre do Tombo, em Portugal, é um arquivo nacional
Fonte: http://1.bp.blogspot.com/-bX9XKDMrbqo/
TVk64-fGfVI/AAAAAAAABHM/Pt4OFOlHjbw/s1600/2005-02-03-419.jpg
Apresentação
Como afirma Joséde Nicola, “a Segunda Época Medie-
val ou Humanismo corresponde ao período que vai desde 
a nomeação de Fernão Lopes para o cargo de cronista-mor 
da Torre do Tombo, em 1434, até o retorno de Sá de Miranda 
da Itália, no ano de 1527, quando introduziu em Portugal a 
estética clássica.
O Humanismo foi um período muito rico para o desen-
volvimento da prosa, graças ao trabalho dos cronistas, no-
tadamente de Fernão Lopes, considerado o iniciador da his-
toriografia portuguesa. Outra manifestação importantíssima 
que se desenvolveu no Humanismo, já no início do século 
XVI, foi o teatro popular, com a produção de Gil Vicente. A 
poesia, por outro lado, conheceu um período de decadên-
cia nos anos de 1400, estando toda a produção poética do 
período ligada ao Cancioneiro Geral, organizado por Gar-
cia de Resende; essa poesia, por se desenvolver no ambiente 
palaciano, é conhecida como poesia palaciana.
 Literatura Portuguesa I SEAD/UEPB 41Literatura Portuguesa I SEAD/UEPB 41
Tanto as crônicas históricas como o próprio teatro vi-
centino estão intimamente relacionados com as profundas 
transformações políticas, econômicas e sociais verificadas 
em Portugal no final do século XIV e em todo o século XV.” 
(NICOLA, José de. Literatura Portuguesa – das origens aos 
nossos dias. São Paulo: Scipione, 1999, p. 51).
É isso, então, que vamos estudar nesta unidade.
Vamos lá?!
Objetivos
É nosso desejo que, ao final desta unidade, você consiga:
• compreender os aspectos que levaram a sociedade, e especial-
mente a literatura, a assumir um caráter mais antropocêntrico, 
no século XV;
• identificar algumas das características estilísticas mais marcan-
tes do cronista Fernão Lopes;
• perceber as implicações sociais e políticas das crônicas de Fer-
não Lopes.
 42 SEAD/UEPB I Literatura Portuguesa
Texto 1
Para iniciarmos, conheçamos um pouco do período histórico de 
transição, de um Portugal caracterizado por valores essencialmente me-
dievais para uma nova realidade, marcada pelo mercantilismo e pela 
ascensão de ideais burgueses. Leremos dois textos, retirados da internet.
O homem em busca da liberdade
Este momento histórico-social é tido como um período 
de transição. Marca a passagem do fim da Idade Média 
para a Idade Moderna. 
Com o crescimento das cidades e do comércio, o re-
gime feudal enfraqueceu. Os servos podiam vender sua 
colheita e conseguir dinheiro para pagar os serviços que 
deviam ao senhor feudal; podiam ir para a cidade ou co-
nhecer novas terras. O desejo de liberdade se concretiza-
va. Os senhores feudais, aos poucos, foram perdendo suas 
terras e seus servos. Neste momento, o rei, que era uma 
autoridade simbólica, fortalece-se, à medida que se aliava 
a uma classe social emergente, a burguesia, formada por 
artesãos e comerciantes, detentores do dinheiro, que vi-
viam nas cidades. 
No momento em que o rei consegue centralizar o poder, 
tendo como alicerce a teoria do direito divino, à igreja Ro-
mana interessa defender a estrutura feudal, por possuir uma 
quantidade bastante grande de terras. Com isso, a igreja dei-
xou de ser a única responsável pelo monopólio da cultura, 
formando-se bibliotecas fora dos mosteiros e dos conventos.
São também frutos dessa época os humanistas, ho-
mens cultos e admiradores da cultura antiga. Eram indi-
vidualistas, davam maior importância aos direitos de cada 
indivíduo do que à sociedade. Acreditavam no progresso, 
rejeitando a hierarquia feudal. 
Através do contexto histórico, podemos perceber que 
o homem da época rompe com o sistema feudal e com 
a visão teocêntrica do mundo determinada pela igreja e 
vai em busca de si mesmo, de novas descobertas e novos 
valores. O homem começa a se valorizar, sem, contudo, 
abandonar por completo o temor a Deus e a submissão. 
A literatura, como está intimamente engajada no mo-
mento histórico-social, vai gerar produções literárias que re-
fletem esse período conflitante no qual o homem do século 
XV viveu. 
(http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/humanis-
mo/humanismo-6.php)
 Literatura Portuguesa I SEAD/UEPB 43
No final do século XV, a Europa passava por grandes 
mudanças, provocadas por invenções como a bússola, 
pela expansão marítima que incrementou a indústria naval 
e o desenvolvimento do comércio com a substituição da 
economia de subsistência, levando a agricultura a se tor-
nar mais intensiva e regular. Deu-se o crescimento urbano, 
especialmente das cidades portuárias, o florescimento de 
pequenas indústrias e todas as demais mudanças econô-
micas provenientes do Mercantilismo, inclusive o surgimen-
to da burguesia. 
Todas essas alterações foram agilizadas com o surgi-
mento dos humanistas, estudiosos da cultura clássica anti-
ga. Alguns eram ligados à Igreja; outros, artistas ou histo-
riadores, independentes ou protegidos por mecenas. Esses 
estudiosos tiveram uma importância muito grande porque 
divulgaram, de forma mais sistemática, os novos conceitos, 
além de que identificaram e valorizaram direitos dos cida-
dãos. Acabaram por situar o homem como senhor de seu 
próprio destino e elegeram-no como a razão de todo co-
nhecimento, estabelecendo para ele um papel de destaque 
no processo universal e histórico. 
Essas mudanças na consciência popular, aliadas ao 
fortalecimento da burguesia, graças à intensificação das 
atividades agrícolas, industriais e comerciais, foram, lenta 
e gradativamente, minando a estrutura e o espírito medie-
vais. 
Em Portugal, todas essas alterações se fizeram sentir, 
evidentemente, ainda que algumas pudessem chegar ali 
com menor força ou, talvez, difusas, sobretudo porque o 
impacto maior vivido pelos portugueses foi proporciona-
do pela Revolução de Avis (1383-1385), na qual D. João, 
mestre de Avis, foi ungido rei, após liderar o povo contra 
injunções de Castela. 
Alguns fatores ligados a esse quadro histórico indicam 
sua influência no rumo que as manifestações artísticas to-
maram em Portugal. São eles: as mudanças processadas 
no país pela Revolução de Avis; os efeitos mercantilistas; a 
conquista de Ceuta (1415), fato que daria início a um sé-
culo de expansionismo lusitano; o envolvimento do homem 
comum com uma vida mais prática e com menos lirismo 
cortês; o interesse de novos nobres e reis por produções 
literárias diferentes do lirismo. Tudo isso explica a restrição 
do espaço para o exercício e a manifestação da imagi-
nação poética, a marginalização da arte lírica e o fim do 
Trovadorismo. A partir daí, o ambiente se tornou mais pro-
pício à crônica e à prosa histórica, ao menos nas primeiras 
décadas do período. 
http://www.profabeatriz.hpg.ig.com.br/literatura/hu-
manismo.htm
 44 SEAD/UEPB I Literatura Portuguesa
Atividade I
Leia outra vez estes dois trechos de textos retirados da internet, acrescente 
outras leituras que você encontrar sobre o assunto, e comente as questões 
levantadas a seguir:
a) A luta do homem sempre foi a luta pela sua liberdade, seja em que contexto 
for. Até então, em Portugal, temos a época medieval, em que o homem era 
escravo de uma hierarquia social rígida e de conceitos religiosos bastante 
fortes. Comente a gradativa conquista da liberdade desse homem medieval, 
que terminou por fazer brotar e se consolidar o movimento humanista.
b) Alguns termos presentes no texto acima, por si, já explicam e situam de forma 
precisa o homem e a sociedade desse período. Pesquise seu signifi cado e 
procure comentar a importância desses termos na conjuntura humanista 
portuguesa: 
a. Regime feudal
b. Burguesia
c. Mercantilismo
d. Mecenas 
e. Revolução de Avis
Em suma...
O período que estamos estudando é de transição, entre a Idade 
Média e a Idade Moderna. Mais que qualquer coisa, esse período sig-
nifica uma transformação radical no modo de o homem pensar, nos 
seus valores,nas suas crenças. Há uma gradativa mudança no centro 
dos interesses, que passa da religiosidade à materialidade, da alma ao 
corpo, de Deus ao homem. Por isso, dizemos que o Humanismo é uma 
espécie de preparação para o momento literário seguinte, que é essen-
cialmente antropocêntrico, ou seja, o homem é o centro de tudo. No 
Humanismo, há uma nítida opção pelo texto em prosa, notadamente a 
crônica, gênero textual que procura registrar os feitos e acontecimentos 
do reino. O primeiro grande cronista foi Fernão Lopes, razão por que 
costuma-se iniciar o Humanismo com sua nomeação para esse cargo.
dica. utilize o bloco 
de anotações para 
responder as atividades!
 Literatura Portuguesa I SEAD/UEPB 45
Texto 2
Vamos conhecer agora um pouco de Fernão Lopes, o primeiro 
grande cronista português. 
Fernão lopes
Não se sabe muita coisa da vida de 
Fernão Lopes: apenas que foi funcioná-
rio do palácio real e notário (espécie 
de tabelião), tendo sido nomeado cro-
nista-mor do Reino por dom Duarte em 
1434; escreveu as crônicas dos reis D. 
Pedro I, D. Fernando e a 1ª e 2ª partes 
da de D. João. 
Na internet, podemos encontrar al-
guns dados interessantes sobre Lopes:
Do ponto de vista da forma, o seu 
estilo representa uma literatura de ex-
pressão oral e raiz popular. Ele próprio 
diz que nas suas páginas não se encon-
tra a formosura das palavras, mas a 
nudez da verdade. Era um autodidata. 
Foi um dos legítimos representantes do 
saber popular, mas já no seu tempo um 
novo tipo de saber começava a surgir: 
de cunho erudito-acadêmico, humanis-
ta, classicizante.
Ocupa, entre a série dos cronistas 
gerais do Reino, um lugar de destaque, 
quer como artista quer pela sua maneira de interpretar os 
fatos sociais. Fernão Lopes poderá ter nascido entre 1378 
e 1390, aproximadamente, visto que em 1418 já ocupava 
funções públicas de responsabilidade (era Guardião-mor 
das escrituras da Torre do Tombo). (...) 
Profissionalmente, Fernão Lopes era um tabelião (...). 
Foi empregado da família real e da corte, escrivão de D. 
Duarte, ainda infante, do rei D. João I, e do infante D. 
Fernando, em cuja casa ocupou o importante posto de «es-
crivão da puridade», que correspondia ao cargo de maior 
confiança pessoal concedido pela alta nobreza. A partir de 
1418 aparece a desempenhar as funções de Guarda-mor 
da Torre do Tombo, encarregado de guardar e conservar os 
arquivos do Estado, lugar de confiança da Corte. (...). Em 
1454, foi reformado do cargo de Guarda-mor da Torre do 
Tombo devido à sua idade. Ainda vivia em 1459, segundo 
atesta um documento de transmissão de sua herança.
Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/
commons/2/2f/Fernao_Lopes.jpg
 46 SEAD/UEPB I Literatura Portuguesa
Durante este longo período de atividade, Fernão Lopes 
atravessou os reinados de D. João I, D. Duarte, o governo 
de D. Pedro e parte do reinado de D. Afonso V. Conheceu 
muitas alterações políticas e sociais. Ao rei eleito e popular, 
D. João I, viu suceder um rei mais dominado pela aristo-
cracia, D. Duarte; viu crescer o poder feudal dos filhos de 
D. João I, e com ele o predomínio da nobreza, que saíra 
gravemente abalada da crise da independência. Assistiu à 
guerra civil subsequente à morte de D. Duarte, à insurrei-
ção de Lisboa contra a rainha viúva D. Leonor, e à eleição 
do infante D. Pedro por esta cidade, e em seguida pelas 
cortes, para o cargo de Defensor e Regedor do Reino, em 
circunstâncias muito parecidas com as que tinham levado 
o mestre de Avis ao mesmo cargo e seguidamente ao trono 
em 1383-1385. Assistiu depois à reação do partido da 
nobreza, à queda do infante D. Pedro, à sua morte na san-
grenta batalha de Alfarrobeira, à perseguição e dispersão 
dos seus partidários, ao triunfo definitivo da nobreza, no 
reinado. Foi testemunha do início da expansão ultramarina 
(...).
Fernão Lopes viveu uma das épocas mais perturbadas 
da História de Portugal, cheia de ensinamentos para o his-
toriador. A carreira de Fernão Lopes como historiador é 
provavelmente a mais longa do que há pouco se supôs, 
pois é provável que já em 1419 realizasse por encargo do 
então infante D. Duarte a compilação e redação de uma 
crônica geral do reino de Portugal. (...). Em 1449, pouco 
antes da batalha de Alfarrobeira, ainda recebe um paga-
mento de D. Afonso V pelos seus trabalhos historiográfi-
cos, mas já nessa época entrara em atividade um outro 
cronista, Gomes Eanes de Zurara. A última obra em que 
Fernão Lopes trabalhou, a “Crônica de D. João I”, embora 
monumental, ficou incompleta e foi continuada por Zurara 
(a Crônica estava dividida em 3 partes das quais Fernão 
Lopes só pode escrever as duas primeiras). 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Fern%C3%A3o_Lope
Uma crônica...
Vamos conhecer um trecho de uma crônica escrita 
por Fernão Lopes, enfocando um momento da vida de 
D. Pedro I. Como nos diz Moisés (2002, p. 47-8), “filho 
de Afonso IV, D. Pedro I reinou entre 1357 e 1367. Aos 
vinte anos, casou-se com D. Constança, filha do Infan-
te João Manuel, regente de Castela. Entre as damas de 
 Literatura Portuguesa I SEAD/UEPB 47
companhia de D. Constança contava-se 
Inês de Castro, filha do fidalgo galego 
Pedro Fernandes de Castro, da qual D. 
Pedro logo se apaixonou. Mas seu pai, 
que então reinava, interpôs-se. Com o 
falecimento de D. Constança, em 1345, 
os enamorados passaram a entreter li-
vremente os seus amores. Todavia, o rei 
se deixa convencer por seus conselheiros 
a permitir o assassínio de Inês, que se 
consumou a 7 de janeiro de 1355. Enfu-
recido de dor e de indignação, D. Pedro, 
quando já erguido ao trono, conseguin-
do aprisionar os matadores de Inês, or-
denou que morressem com tal sadismo 
que ele acabou merecendo os epítetos 
de “O Cruel” e “O justiceiro”. Nem por 
isso amainaram as saudades de Inês: tor-
turado pela ausência, passava noites e noites de horrores 
e pressentimentos, de que se julgava livrar saindo às ruas 
para dançar e confraternizar com o povo. É precisamente 
uma cena como essa que se vai ler a seguir:
Em três cousas, assinadamente, achamos, pela mor 
parte, que el-Rei D. Pedro de Portugal gastava seu tem-
po. A saber: em fazer justiça e desembargos do Reino; em 
monte e caça, de que era mui querençoso; e em danças e 
festas segundo aquele tempo, em que tomava grande sa-
bor, que adur é agora para ser crido. E estas danças eram 
a som de umas longas que então usavam, sem curando de 
outro instrumento, posto que o aí houvesse; e se alguma 
vez lho queriam tanger, logo se enfadava dele e dizia que 
o dessem ao demo, e que lhe chamassem os trombeiros. 
Ora deixemos os jogos e festas que el-Rei ordenava 
por desenfadamento, nas quais, de dia e de noite, andava 
dançando por mui grande espaço; mas vede se era bem 
saboroso jogo. Vinha el Rei em batéis de Almada para Lis-
boa, e saíam-no a receber os cidadãos, e todos os dos 
mesteres, com danças e trebelhos, segundo então usavam, 
e eis saia dos batéis, e metia-se na dança com eles, e as-
sim até o paço. 
Parai mentes se foi bom sabor: jazia el-Rei em Lisboa 
uma noite na cama, e não lhe vinha sono para dormir. E fez 
levantar os moços, e quantos dormiam no paço; e mandou 
chamar João Mateus e Lourenço Palos, que trouxessem as 
trombas de prata. E fez acender tochas, e meteu-se pela 
vila em dança com os outros.
assinadamente = notadamente;
pela mor parte = principalmente;
monte de caça = caça graúda, grande;
querençoso = apreciador;
tomava grande sabor = gostava muito;
adur = apenas;
longas = trombetas longas;
sem curando de = não usando;
batéis = barcos;
os dos mesteres = os trabalhadores;
trebelhos = jogos;
paço = palácio;
parai mentes se foi bom sabor = considerai 
se foi coisa agradável;
guisa = maneira;
ledo = alegre;
tornou-se = voltou.
Fonte: http://1.bp.blogspot.com/_yelE-Rz9S9g/S6pWjn0-4tI/

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