A um poeta Surge et ambula1 Tu, que dormes, espírito sereno, Posto à sombra dos cedros seculares, Como um levita2 à sombra dos altares, Longe da lu...

A um poeta Surge et ambula1 Tu, que dormes, espírito sereno, Posto à sombra dos cedros seculares, Como um levita2 à sombra dos altares, Longe da luta e do fragor3 terreno, Acorda! é tempo! O sol, já alto e pleno, Afugentou as larvas tumulares... Para surgir do seio desses mares, Um mundo novo espera só um aceno... Escuta! é a grande voz das multidões! São teus irmãos, que se erguem! são canções... Mas de guerra... e são vozes de rebate!4 Ergue-te, pois, soldado do Futuro, E dos raios de luz do sonho puro, Sonhador, faze espada de combate! Notas 1 - Surge et ambula: expressão imperativa em latim que pode ser traduzida como “levanta-te e anda”. 2 - Levita: sacerdote, religioso que ministra sacramentos. 3 - Fragor: estrondo. 4 - Rebate: ataque. QUENTAL, A. de. Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Agir, 1957, p. 40. Preocupado em solucionar os problemas de seu tempo, o poeta investe no que crê ser o poder da literatura, por isso utiliza como recurso linguístico A a imagem do levita para estimular no público-alvo a sensibilidade espiritual, recusando o mundo terreno profano. B a sequência de verbos no imperativo para inspirar no interlocutor o abandono da alienação, trabalhando em favor da sociedade. C a repetição de metáforas ligadas ao lado sombrio do ser humano para incitar o apego ao impulso bélico conservador da realidade. D a oposição entre quartetos e tercetos para afastar do poeta a literatura vinculada à subjetividade romântica e implantar a objetividade realista. E a enumeração de imagens ligadas à luz para incitar no público-alvo a busca do sonho como fuga da realidade mergulhada em um contexto de crise violenta.