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73UNIDADE 3 ser introduzidas intencionalmente. Além disso, é bom que você tenha em mente que tanto essas imperfeições quanto os átomos, íons ou moléculas que compõem o material estão em constante mo- vimento devido à energia térmica que possuem. Como resultado disso, os átomos podem se mover dentro da rede cristalina, ocupando uma lacuna próxima a eles ou, ainda, ocupando interstícios dessa rede próximos a eles, e devido à difusão, esses átomos podem saltar contornos de grãos causando o deslocando das fronteiras destes de- feitos superficiais (ASKELAND; WRIGHT, 2015). O fenômeno de difusão acontece com mate- riais metálicos, poliméricos e também em mate- riais cerâmicos, contudo, é mais complexo nesses últimos devido às suas ligações do tipo iônicas. Nos sólidos, a difusão consiste na migração passo a passo dos átomos, íons ou moléculas, de uma po- sição para outra, dentro da estrutura do material. O processo difusivo pode ocorrer entre átomos do mesmo tipo que os átomos da rede cristalina; nesse caso, chamamos o processo de autodifu- são. Por exemplo, dentro da estrutura cristalina de uma barra de ouro puro existem lacunas e inters- tícios, em que os átomos de ouro podem migrar o tempo todo. Essa migração dos átomos de ouro dentro da sua estrutura cristalina caracteriza uma autodifusão, uma vez que nenhum átomo diferen- te do ouro está envolvido. Entretanto, quando a difusão ocorre entre áto- mos de diferentes tipos, chamamos o processo de interdifusão. Esse processo pode ser exem- plificado colocando-se em contato duas barras metálicas, uma de cobre puro e outra de níquel puro, como representado na Figura 1(a), a uma temperatura elevada menor que a temperatura de fusão desses metais. Como podemos observar na Figura 1(b), a placa da esquerda possui apenas átomos de cobre (círculos azul-claros), e a placa da direita possui apenas átomos de níquel (círculos azul-escuros). Na Figura 1(c), observamos que, após decorri- do um certo tempo de difusão, se resfriarmos as placas e fizermos uma análise química, observa- remos que alguns átomos de cobre migraram para a região da placa de níquel e, em contrapartida, alguns átomos de níquel migraram para a região da placa de cobre; podemos dizer, então, que, nesse caso, ocorreu uma interdifusão (CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2013). Cobre Cu Níquel Ni (a) (b) (c) Figura 1 - Representação da interdifusão entre uma placa de cobre e uma placa de níquel Fonte: o autor. Difusão por Lacunas Como vimos na Unidade 2, os materiais sólidos possuem lacunas em suas estruturas cristalinas. Essas lacunas permitem que os átomos transitem 74 Difusão em Sólidos de um ponto da rede cristalina para um ponto vazio dessa rede (lacuna), e quando esse átomo da rede cristalina migra (difunde) para uma lacuna, ele deixa para trás uma lacuna em sua posição original. A esse tipo de processo dá-se o nome de difusão por lacunas, e nota-se que a sua ocorrência está diretamente ligada à existência de lacunas na rede cristalina do material. A difusão por lacunas pode ocorrer por autodifusão, ou seja, os átomos que difundem são do mesmo tipo que os átomos da rede, como no caso dos átomos de ouro difundindo entre as lacunas da rede cristalina em uma barra de ouro puro. Contudo, a modalidade mais interessante para nós é a difusão por lacunas, que ocorre por interdifusão, na qual as lacunas são ocupadas por átomos de impureza (átomos diferentes dos átomos da rede), gerando um defeito substitucional. Na Figura 2(a), podemos observar a representação de uma autodifusão por lacunas, uma vez que a lacuna do material será ocupada por um átomo do mesmo tipo que os átomos da rede cristalina. Esse processo ocorre pela migração de um átomo vizinho a essa lacuna, saindo de sua posição inicial e ocupando a lacuna, e, como consequência, é formada uma nova lacuna na posição que esse átomo ocupava anteriormente. Na Figura 2(b), temos a representação de uma interdifusão por lacunas, pois o átomo que ocupará a lacuna é um átomo de impureza, ou seja, é um átomo diferente dos átomos originais da rede. Esse átomo de impureza tem a possibilidade de ocupar a lacuna vizinha e, com isso, formar uma lacuna na posição que ele ocupava anteriormente. Migração de um átomo do mesmo tipo Migração de um átomo de impureza da rede Lacuna Lacuna Lacuna Lacuna (b) (a) Figura 2 - Representação do mecanismo de difusão por lacunas Fonte: o autor. 75UNIDADE 3 Difusão Intersticial Além da difusão por lacunas, o processo difusivo em sólidos pode ocorrer por meio dos espaços vazios entre os átomos que compõem a rede cristalina do material, chamados interstícios. A esse processo de difusão, damos o nome de difusão intersticial. Átomo de impureza alojado no interstício da rede cristalina Átomo de impureza após a difusão Figura 3 - Representação do meca- nismo de difusão intersticial para um átomo de impureza Fonte: o autor. Como esses interstícios são pequenos em relação ao tamanho dos átomos da rede cristalina, os átomos que difundem em seu interior devem ser átomos pequenos o suficiente para se encaixarem nessas posições intersticiais, geralmente hidrogênio, carbono, nitrogênio e oxigênio. Devido a essa limitação de tamanho, os átomos hospedeiros (átomos originais da rede) e de impurezas substitucionais (átomos de impureza que substituem os átomos hospedeiros e têm a mesma ordem de grandeza deles) raramente se difundem por meio dos interstícios. A difusão intersticial ocorre com muito mais frequência que a difusão por lacunas. Esse comportamento acontece por duas razões, primeiro porque o número de interstícios é muito maior que o número de lacunas nas estruturas cristalinas e, dessa forma, a probabilidade da difusão intersticial é muito maior que da difusão por lacunas. Em segundo lugar, os átomos envolvidos na difusão intersticial são menores e, por isso, têm uma maior mobilidade na rede, facilitando a difusão intersticial. Na Figura 3, a seguir, temos a representação do processo de difusão intersticial de um átomo de impureza na rede cristalina de um material genérico. Ainda nessa figura, podemos observar que o átomo de impureza já ocupa um interstício da rede cristalina do material; na sequência, esse átomo migra (difunde) para um interstício vazio adjacente, ca- racterizando uma difusão intersticial (ASKELAND; WRIGHT, 2015). O processo de endurecimento superficial de engrenagens de aço utilizadas nas transmissões de automóveis é realizado por um tratamento térmico desses componentes, geralmente por cemen- tação, no qual átomos de carbono se difundem na superfície da engrenagem de aço e essa in- serção de átomos de carbono da engrenagem melhora a resistência superficial desses materiais. 78 Difusão em Sólidos cujas unidades dos parâmetros são as mesmas da equação anterior: J em kg/m² ⋅ s, átomos/m² ⋅ s, íons/m² ⋅ s ou mesmo moléculas/m² ⋅ s; M em qui- logramas (kg), átomos, íons ou moléculas; A em m² e t em s. Essas equações podem ser utilizadas para determinar o fluxo difusivo de uma espécie quando conhecemos os parâmetros A, M e t ou a relação de M com t. No entanto, é comum trabalharmos com si- tuações nas quais o fluxo difusivo independe do tempo. Nessas situações, dizemos que a difusão ocorre em regime estacionário ou estado esta- cionário; um exemplo dessa situação é a difusão de um gás por meio de uma placa metálica e cujas concentrações desse gás sejam mantidas constantes em ambas as superfícies da placa. Dessa forma, a concentração da espécie em difusão é uma função da posição, x, em relação ao interiordo sólido. A partir disso, obtemos o perfil de concen- tração da espécie em difusão, que é uma curva na qual a concentração da espécie em difusão é apresentada no eixo y, e a posição em relação ao interior do sólido é apresentado no eixo x. Além disso, podemos definir o gradiente de concen- tração no sólido, que é dado pela inclinação em um ponto do perfil de concentração (CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2013). gradiente de concentração = dC dx Muitas vezes, é possível aproximar o perfil de con- centração para linear e, dessa forma, o gradiente de concentração pode ser calculado pela relação a seguir. = ∆ ∆ = − − C x C C x x a b a b gradiente de concentração As concentrações C a e C b são da espécie em difu- são nas posições x a e x b , respectivamente. Agora que já sabemos o que é o perfil de con- centração e como calcular o gradiente de concen- tração, podemos introduzir a equação do fluxo difusivo, conhecida como a Primeira Lei de Fick: J D dC dx � � Na Primeira Lei de Fick, o termo D é um coe- ficiente de proporcionalidade, conhecido como difusividade ou coeficiente de difusividade (m²/s), e dC/dx é o gradiente de concentração (mol/m³ ⋅ m ou átomos/m³ ⋅ m). Em alguns ca- sos, a concentração pode ser expressa em por- centagem mássica, porcentagem molar, fração de átomos ou, ainda, fração molar e, com isso, as unidades do gradiente de concentração e do fluxo mudam de forma correspondente com a unidade da concentração. O gradiente de concentração é a força motriz termodinâmica para o processo de difusão. Esse gradiente de concentração normalmente é gerado quando dois materiais de composições diferentes são colocados em contato ou quando um fluido (gás ou líquido) está em contato com um material sólido. O fluxo difusivo a uma determinada tempe- ratura será constante, caso o gradiente de con- centração também seja constante. Entretanto, é comum a variação das concentrações do processo difusivo com o decorrer da migração (difusão) das espécies, e isso acaba também alterando o fluxo difusivo J. Tenha sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo. Para acessar, use seu leitor de QR Code. 79UNIDADE 3 Comumente, observamos que os processos difusivos começam com um fluxo elevado, que diminui conforme o gradiente de concentração diminui com o avanço da difusão. Para deixar isso mais claro, vamos ver o exemplo da situação apresentada na Figura 4(a), em que temos novamente uma placa de cobre e outra de níquel. Essas placas estão em contato entre si e, antes do início da difusão, a placa da esquerda possuía apenas átomos de cobre, e a placa da direita possuía apenas átomos de níquel (Figura 4(b)). Cobre Cu Níquel Ni (a) (c) Interface dos materiais Distância, x C o n ce n tr aç ão , c Cobre Níquel (d)(b) Figura 4 - Representação do mecanismo de difusão para duas placas metálicas Fonte: o autor. Após algum tempo de contato, podemos observar que alguns átomos de níquel migraram para a placa de cobre e, em contrapartida, alguns áto- mos de cobre migraram para a placa de níquel (Figura 4(c)). O resultado desse processo pode ser observado na Figura 4(d), na qual temos os perfis de concentração de ambas as placas. Na Figura 4(d), podemos ver que a concentração de cobre é máxima na lateral esquerda da placa e diminui conforme caminhamos em direção à lateral direi- ta dela. Um comportamento semelhante acontece com o níquel, que tem sua concentração máxima na lateral direita da placa, que diminui conforme caminhamos para a esquerda dela. É importante termos sempre em mente que um par de difusão é sempre constituído pela espécie química que compõe a rede do material, mate- rial hospedeiro, e pela espécie química que está migrando, espécie em difusão. Essas espécies químicas podem ser átomos, íons ou moléculas. Fonte: Callister Jr. e Rethwisch (2013). 80 Difusão em Sólidos Difusão em Regime Estacionário Primeiramente, vamos tratar da difusão em regime estacionário que, como foi mencionada anterior- mente, trata-se do processo difusivo, independentemente do tempo. Para essa abordagem, utilizamos a Primeira Lei de Fick, que é válida para processos em regimes estacionários e unidirecionais (uma única direção, x), na qual o fluxo difusivo é proporcional ao gradiente de concentração na direção de x. Um exemplo prático de aplicação da primeira Lei de Fick pode ser visualizado na purificação do gás hidrogênio, utilizando uma lâmina fina do metal paládio. Um dos lados da lâmina do metal é exposto ao gás “sujo” (com impurezas), cuja composição contém oxigênio, nitrogênio, vapor d’água etc. A lâmina de paládio é seletiva ao hidrogênio; dessa forma, ele consegue se difundir entre ela, mas os outros gases não. O resultado desse processo é o gás hidrogênio livre de impurezas do outro lado da placa metálica de paládio (CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2013). Vamos entender como calcular o fluxo difusivo em regime estacionário no exemplo a seguir. 01 EXEMPLO Suponha uma placa de ferro separando duas atmosferas, uma rica em carbono e a outra com baixa concentração de car- bono. Considerando que a condição de regime estacionário foi atingida, calcule o fluxo difusivo do carbono por meio da placa de ferro, sabendo que as concen- trações de carbono em a = 3 mm e b = 7 mm são, respectivamente, 1,3 e 0,7 kg/ m³ e a difusividade D = 3 ⋅ 10-11 m²/s. Resolução Essa é uma situação na qual podemos utilizar a Primeira Lei de Fick, pois trata-se de um processo difusivo em uma única direção (x), em regime permanente. J D dC dx � � Nesse caso, o perfil de concentração é linear, então, podemos aproximar o gradiente de concentração por uma diferença simples entre as concentrações em a e b da seguinte forma. dC dt C x C C x x C C a b a b a b a b � � � � � � � � � Portanto, a Primeira Lei de Fick para esse processo toma a forma: J D C C a b a b � � � � Placa metálica de ferro Gás com maior concentração de carbono Gás com menor concentração de carbono Áre a, A � � Figura 5 - Esquematização do exemplo 1 Fonte: o autor. 81UNIDADE 3 Devemos converter as unidades de a e b de milímetros (mm) para metros (m), para ficarem coe- rentes com as unidades de D e C. 1 1000 1 1000 3 m mm m mm a mm � � � b � � � � � � 7 1000 1 3 1000 1 mm a a �� � � 7 3 1000 3 1000 a b a �� �0 003 0 007, ,m b m Substituindo as informações dadas no exemplo na equação anterior, obtemos: J m s kg m m J m � � � � � � � � � � ( / ) ( , , ) / ( , , ) ( / 3 10 1 3 0 7 0 003 0 007 3 10 11 2 3 11 2 ss kg m m J s kg m ) ( , , ) / ( , , ) ( / ) ( , , ) / 1 3 0 7 0 003 0 007 3 10 1 3 0 7 3 11 � � � � � �� (( , , ) ( / ) ( , , ) ( , , ) 0 003 0 007 3 10 1 3 0 7 0 003 0 007 4 11 2 � � � � � � � � m J s kg m J ,,5 10 9 2 � � � kg m s Portanto, o fluxo difusional de carbono, nesse exemplo, é de 4 5 10 9 2, � �� kg m s . Difusão em Regime não Estacionário Vimos, no tópico anterior, a difusão em regime estacionário, porém a maioria dos processos difusionais em sólidos acontece em regime não estacionário. Isso significa dizer que a difusão é função do tempo; em outras palavras, tanto o fluxo difusivo quanto o gradiente de concentraçãoem um ponto específico dentro do sólido variam com o tempo e, em decorrência disso, ocorre um acúmulo ou um esgotamento da espécie em difusão. Quando trabalhamos com a difusão em regime não estacionário, utilizamos a equação diferencial mostrada a seguir. � � � � � � � � � � � � � C t x D C x 82 Difusão em Sólidos Essa equação é conhecida como segunda Lei de Fick e é válida para processos difusivos unidirecionais, em regime não estacionário. Contudo, existem situações em que podemos considerar a difusividade, independentemente da concentração (C) e, dessa forma, a difusividade (D) pode ser tirada de dentro da derivada e a equação se torna: � � � � � � � �� � � �� C t D C x 2 2 A resolução dessa equação diferencial depende das condições de contorno de cada situação. Para o caso particular de um sólido semi-infinito, no qual a concentração na superfície é mantida constante, a solução particular é: C C C C erf x Dt s x s � � � � � � � � � 0 2 na qual C s é a concentração da espécie em difusão na superfície do material, C 0 é a concentração inicial uniforme da espécie em difusão dentro do material e C x é a concentração da espécie em difusão na posição x do material após decorrido um tempo t. As seguintes hipóteses foram feitas para a determinação dessa solução: • Um sólido pode ser considerado semi-infinito quando nenhum dos átomos em difusão alcança a extremi- dade desse sólido ao longo do tempo de difusão avaliado. Na prática, o comprimento da barra L deve ser: L Dt>10 • O valor da coordenada x é zero na superfície do sólido e aumenta conforme se caminha em direção ao interior do sólido. • Antes da difusão ter início, todos os átomos da espécie em difusão que estiverem dentro do sólido estão homogeneamente distribuídos por toda a extensão desse sólido. • O tempo t = 0, é tomado exatamente no instante anterior ao início da difusão. A função erf é denominada função erro de Gauss e seus valores são obtidos a partir de tabelas, como a Tabela 1, entrando com o valor do argumento x Dt2 � � � � � � para se obter o valor da função erro de Gauss erf x Dt2 � � � � � � para esse argumento. A interpolação deve ser realizada para situações nas quais os argumentos sejam valores inter- mediários dos valores da Tabela 1. Para valores fora dos extremos da Tabela 1, pode ser realizada a extrapolação dos dados, contudo é aconselhável procurar uma tabela com uma maior amplitude de dados nesses casos. 83UNIDADE 3 Tabela 1 - Dados para determinação do valor da função erro de Gauss Argumento 0,00 0,0000 0,1125 0,2227 0,3286 0,4284 0,5205 0,6039 0,6778 0,7421 0,7969 0,8427 0,9661 0,9953 0,10 0,20 0,30 0,40 0,50 0,60 0,70 0,80 0,90 1,00 1,50 2,00 Valor da função erro de Gaus � � � �� � �� ( )��� Fonte: o autor. Vamos resolver um exemplo para a aplicação des- sa solução particular da difusão em regime não estacionário. 02 EXEMPLO Considere uma barra de liga metálica (composta por ferro e carbono), que contém uma concentra- ção inicial uniforme de carbono de 0,30%p. Caso a concentração na superfície seja aumentada e mantida em 1,10%p, qual será o tempo necessário para que essa placa alcance uma concentração de 0,75%p, em uma posição x = 0,4 mm? O processo é realizado a 950 °C, e o coeficiente de difusão do carbono no ferro nessas condições é igual a 1,6 ⋅ 10-11 m²/s. Considere que a peça metálica seja semi-infinita. Resolução Esse processo é uma difusão em regime não esta- cionário, pois, como foi dito no enunciado, a con- centração de carbono varia com o passar do tempo em uma mesma posição de x. Além disso, a con- centração de carbono na barra antes da difusão é uniforme, e a barra pode ser considerada um sólido semi-infinito, então, a equação que iremos utilizar é a solução particular da segunda lei de Fick: C C C C erf x Dt s x s � � � � � � � � � 0 2 Dados do exemplo: • C 0 = 0,30%p • C s = 1,10%p • C x = 0,75%p • x = 0,4 mm • D = 1,6 ⋅ 10-11 m²/s Substituindo esses valores na equação, obtemos: ( , , )% ( , , )% 1 10 0 75 1 10 0 30 2 � � � � � � � � � p p erf x Dt O valor de x não foi substituído ainda, porque, primeiramente, nós vamos determinar o valor do argumento x Dt/ 2 , para isso, vamos calcular o termo à esquerda da equação anterior: ( , , ) % ( , , ) % 1 10 0 75 1 10 0 30 2 � � � � � � � � � p p erf x Dt 0 4375 2 , � � � � � � �erf x Dt Isto é, sabemos o valor da função erro de Gauss, que é de erf x Dt( / ) ,2 0 4375= , e com esse va- lor é possível determinar o valor do argumento x Dt/ 2 a partir da Tabela 1. Como esta não possui esse valor (mas ele está contido entre os va- lores da tabela), devemos interpolar tal valor para encontrarmos o valor aproximado de x Dt/ 2 . 84 Difusão em Sólidos Na Tabela 1, vemos que o valor de erf x Dt( / ) ,2 0 4375= está entre 0,4284 e 0,5205, cujos valores de x Dt/ 2 são, respec- tivamente, 0,40 e 0,50. Fazendo a interpolação linear, obtemos: 8 31, J mol K⋅ Tabela 2 - Dados para interpolação linear do exemplo 2 0,40 0,4284 0,4375 0,5205 z 0,50 � � � �� � �� ( )��� Fonte: o autor z � � � � � 0 40 0 50 0 40 0 4375 0 4284 0 5205 0 4284 , , , , , , , z � 0 4099, Assim sendo, x Dt z x Dt 2 2 0 4099 / / , = = Substituindo os valores de D e x (convertido em metros, 0,4 mm = 0,0004 m), temos: 0 0004 2 1 6 10 0 4099 14879 4 1 11 , / , , , � � � � � � t t s h O tempo necessário para que a concentração de carbono na posição x = 0,4 mm seja 0,75%p é de 4,1 horas. Difusão em Materiais Poliméricos Em materiais poliméricos, a difusão envolve, em geral, a movimentação de moléculas externas, como, por exemplo, O 2 , H 2 O, CO 2 , CH 4 etc., entre as ca- deias moleculares do polímero, diferentemente dos metais e das cerâmicas, nos quais a difusão envolve a migração de átomos ou íons em sua rede cristalina. Em razão dessa diferença do processo de difu- são, a difusão nos polímeros é tratada em termos da permeabilidade e absorção, em vez de coefi- ciente de difusão. Tanto a permeabilidade quanto a absorção estão relacionadas com a capacidade de moléculas externas difundirem no polímero, conduzindo a um inchamento e/ou reações quí- micas com as moléculas que formam o polímero. Vimos, na Unidade 1, que os polímeros, em ge- ral, possuem uma estrutura parcialmente cristalina, contendo regiões de cristalinidade e regiões amorfas em suas estruturas. As taxas de difusão por meio das regiões amorfas dos polímeros são maiores que as taxas de difusão nas regiões cristalinas. Outro ponto importante a se destacar é que a difusão nos políme- ros ocorre de forma análoga à difusão intersticial, ou seja, as moléculas migram por meio dos pequenos vazios presentes nas cadeias poliméricas. A taxa de difusão é maior para moléculas pe- quenas e também para moléculas quimicamente inertes, difundindo em polímeros. O fluxo difusi- vo em membranas poliméricas pode ser calculado pela lei de Fick, escrita em termos do coeficiente de permeabilidade, P M . J P P x M � � � 85UNIDADE 3 Na expressão apresentada, J é o fluxo difusivo por meio da mem- brana (cm³/cm² ∙ s);P M é o coeficiente de permeabilidade; x∆ é a espessura da membrana; e P∆ é a diferença de pressão por meio da membrana (CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2013). Em polímeros não vítreos, com moléculas pequenas difundindo por meio deles, a permeabilidade pode ser aproximada por: P DS M = Em que D é a difusividade e S é a solubilidade da molécula em difusão no polímero. Na Tabela 3, vemos os valores dos coeficientes de permea- bilidade para algumas moléculas comuns difundindo em polímeros. Tabela 3 - Coeficientes de permeabilidade a 25 °C para algumas moléculas difundindo em polímeros P M [× 10-13 (cm³ CNTP)(cm)/(cm² ⋅ sPa)] Polímero Acrônimo O 2 N 2 CO 2 H 2 O Polietileno (baixa massa específica) LDPE 2,2 0,73 9,5 68 Polietileno (alta massa específica) HDPE 0,30 0,11 0,27 9,0 Polipropileno PP 1,2 0,22 5,4 38 Cloreto de polivinila PVC 0,034 0,0089 0,012 206 Poliestireno PS 2,0 0,59 7,9 840 Cloreto de polivinilideno PVDC 0,0025 0,00044 0,015 7,0 Poli(etileno tereftalato) PET 0,044 0,011 0,23 - Poli(etil meta- crilato) PEMA 0,89 0,17 3,8 2380 Fonte: Callister Jr. e Rethwisch (2013, p. 478). 87UNIDADE 3 Tipo do Mecanismo de Difusão A partir da Tabela 4, podemos perceber que, a 500 °C, o coeficiente de difusão do cobre (Cu) difundindo em cobre (4,2 ⋅ 10-19 m²/s) é, aproximadamente, dez vezes menos do que a difusividade do zinco (Zn) difundindo em cobre (4,0 ⋅ 10-18 m²/s). Ambos os casos são exemplos de difusão por lacunas; no primei- ro caso do cobre difundindo em cobre, temos uma autodifusão por lacunas e, no segundo caso, zinco difundindo em cobre, temos uma interdifusão por lacunas. Outra situação observada é a do ferro (Fe) difundindo em ferro-alfa a �� �Fe , cujo coeficiente de difusão é 3,0 ⋅ 10-21 m²/s a 500 °C, enquanto para o carbono (C) difundindo em ferro-alfa a �� �Fe , o coeficiente de difusão vale 2,4 ⋅ 10-12 m²/s a 500 °C, quase um milhão de vezes maior. Esse contraste se deve ao fato do mecanismo de difusão do ferro (Fe) no ferro-alfa a �� �Fe ser por lacunas, enquanto para o carbono (C) difundindo em ferro-alfa a �� �Fe ser intersticial, ou seja, entre os interstícios da rede cristalina. Fonte: adaptado de Callister Jr. e Rethwisch (2013). Tabela 4 - Dados de difusividade Espécoe em difusão Material hospedeiro Energia de Ativação, Q d D 0 (m2/s) kJ/mol eV/átomo T(oC) D(m2/s) Fe Fe C C Cu Cu D-Fe D-Fe 2,8 x 10-4 2,7 x 10-5 1,2 x 10-4 5,0 x 10-5 6,2 x 10-7 6,5 x 10-5 2,3 x 10-5 2,4 x 10-5 2,3 x 10-4 7,8 x 10-5 J-Fe J-Fe CuZn Al Al Al Al NiCu Cu Mg (BCC) (FCC) 251 2,60 500 3,0 x 10-21 1,8 x 10-15 1,1 x 10-17 1,9 x 10-13 1,3 x 10-22 7,8 x 10-16 2,4 x 10-12 1,7 x 10-10 5,9 x 10-12 5,3 x 10-11 4,2 x 10-19 4,2 x 10-14 4,1 x 10-14 4,0 x 10-18 500 500 500 500 500 500 900 500 900 900 1100 900 1100 2,94 0,83 1,53 2,19 1,96 1,49 1,41 1,35 2,65 284 148 211 189 144 136 131 256 80 88 Difusão em Sólidos Temperatura do Processo Outro fator importante que influencia no valor do coeficiente de difusão é a temperatura, na qual o processo de difusão acontece. Isso pode ser observado na Tabela 4, na qual vemos que a difusividade do ferro (Fe) em ferro-alfa a �� �Fe é 3,0 ⋅ 10-21 m²/s, a 500 °C, enquanto a difusividade do mesmo par espécie em difusão-material hospedeiro, ferro (Fe)-ferro-alfa a �� �Fe , a 900 °C, é 1,8 ⋅ 10-15, ou seja, o aumento da temperatura de 500 °C para 900 °C ocasionou um aumento do coeficiente de difusão de, aproximadamente, 35 mil vezes. A dependência do coeficiente de difusão em relação à temperatura é dada pela equação a seguir: D D Q RT d � � � � � � � �0 exp Na qual D 0 é o termo pré-exponencial (m²/s); Qd é a energia de ativação para o par de difusão (J/mol ou eV/átomo); R é a constante dos gases (J/mol ∙ K ou e V/átomo ∙ K); e T é a temperatura absoluta (K). Os valores de D 0 e Q d podem ser obtidos em tabelas, como a Tabela 4, por exemplo. A constante dos gases R vale: R J mol K R eV átomo K� � � �8 31 8 62, / , / Para que você se familiarize com a utilização da equação da difusividade em função da temperatura, vamos exercitar o uso dela em um exemplo. 03 EXEMPLO Em um processo de difusão, no qual o magnésio está difundindo em alumínio, calcule o coeficiente de difusão, D, sabendo que o processo ocorre a 600 °C. Os dados adicionais devem ser extraídos da Tabela 4. Resolução Da Tabela 4 para magnésio (Mg) difundindo em alumínio (Al), vemos que não existe o valor da difusividade para a temperatura de 600 °C, então é necessário utilizar a correlação da difusividade com a temperatura para calcularmos o valor de D a 600 °C. Na Tabela 4, para o par de difusão Mg difundindo em Al, temos: • D 0 = 1,2 ⋅ 10-4 m²/s • Q d = 131 kJ/mol =131.000 J/mol (foi realizada a conversão de kJ para J, onde 1kJ = 1000 J). A constante R nessas unidades vale 8 31, J mol K⋅ . A temperatura utilizada na equação deve estar sempre em Kelvin; nesse caso, a temperatura absoluta (em Kelvin) é T = (600+273) = 873 K. Para determinar o coeficiente de difusão D a T= 600 °C, utilizaremos a equação, D D Q RT d � � � � � � � �0 exp 89UNIDADE 3 Substituindo, na equação anterior, os valores determinados, obtemos: D m s J mol J mol K K D � � � � � � � � � � �( , / ) exp . / ( , / )( ) 1 2 10 131 000 8 31 873 4 2 �� � � � � � � � � � �( , / ) exp . / ( , / )( ) 1 2 10 131 000 8 31 873 4 2 m s J mol J mol K K D �� � � � � � � � � � � � � ( , / ) exp . ( , )( ) ( , / 1 2 10 131 000 8 31 873 1 2 10 4 2 4 2 m s D m ss D m s D m ) exp , ( , / ) , , / �� � � � � � � � � � � 18 057 1 2 10 1 4386 10 1 73 10 4 2 8 12 2 ss A migração de espécies na difusão pode ocorrer por três caminhos, o primeiro deles é a difusão em volume, que consiste no tipo mais genérico; em outras palavras, essa é a difusão que ocorre no inte- rior dos cristais que formam o material. O segundo tipo é a difusão pelos contornos de grãos; nesse caso, a migração acontece na interface entre os cristais do material e ocorre mais facilmente que a difusão em volume. Finalmente, o terceiro caminho é a difusão superficial; essa última é a mais fácil de ocorrer, uma vez que a superfície externa do material possui menos restrições à movimentação. Fonte: adaptado de Ciência dos Materiais ([2019], on-line)1. Aplicações da Difusão Uma das aplicações mais utilizada da difusão é a cementação. Essa técnica é utilizada para endure- cimento de superfícies metálicas de peças que rodam ou escorregam, como rodas dentadas e engre- nagens de aço, nas quais não é necessário o endurecimento da peça toda. A produção de uma peça de aço cementada se inicia com a usinagem dessa peça e, após essa usinagem, a peça passa para a etapa de cementação, que consiste na inserção de carbono por difusão na superfície da peça. As fontes de carbono para o processo são pó de grafite ou uma fase gasosa rica em carbono (SMITH, 1998). 90 Difusão em Sólidos Alguns componentes, como cilindros, pinos e rotores, funcionam com risco de desgaste por atrito permanente e apresentam rupturas com facilidade; por essa razão, eles devem possuir alta resistência ao desgaste a uma temperatura relativamente alta para essas aplicações mais exigentes. O processo termoquímico, chamado nitretação, proporciona a esses, e outros tipos de componentes, uma maior dureza das suas superfíciesexternas, maior resis- tência à fadiga externa e também à fricção, além de uma maior resistência à corrosão e ao calor. A nitretação é realizada por meio da difusão de nitrogênio na superfície externa do material, que pode ser conduzida em uma atmosfera gasosa rica em nitrogênio ou por banho em uma solução de sais fundidos contendo nitrogênio. Outra típica aplicação da difusão está no re- vestimento de barreira térmica para palhetas térmicas em turbinas. Nesse processo, as palhetas de turbinas de motores de aeronaves são revestidas com óxidos cerâmicos, como a zircônia estabili- zada por ítrio (YSZ). Estas palhetas são feitas de superligas de níquel e os revestimentos cerâmicos têm a função de protegê-las de temperaturas eleva- das. A difusão de oxigênio por meio deste revesti- mento cerâmico nas palhetas determina a vida útil desses componentes, visto que o oxigênio oxida a superliga ao entrar em contato com ela. Portanto, é imprescindível o conhecimento da difusão para a determinação da durabilidade dessas turbinas (ASKELAND; WRIGHT, 2015). Nesta unidade, vimos que os materiais sólidos também sofrem o fenômeno da difusão de espé- cies, assim como os fluidos; contudo, os mecanis- mos para a difusão em sólidos dependem das la- cunas e interstícios presentes no arranjo estrutural desses materiais. Vimos, também, que os átomos que se difundem podem ser átomos diferentes dos átomos constituintes da rede, interdifusão ou difusão de impurezas e também podem ser átomos iguais aos átomos que compõem a rede, autodifusão. Definimos o que é o fluxo difusivo J e aprende- mos a utilizar a lei de Fick para calcular esse fluxo. Conhecemos a constante de proporcionalidade da lei de Fick, chamada de difusividade ou coefi- ciente de difusão. Além disso, vimos que a força motriz para o processo difusivo é o gradiente de concentração, ou seja, a diferença de concentração de uma espécie entre regiões do material. Vimos que, em certas situações, o processo difusivo pode ser considerado independente do tempo (regime estacionário), enquanto em outras o tempo é uma variável indispensável (regime não estacionário). Para finalizar, vimos que al- guns fatores, como o mecanismo de difusão e a temperatura, influenciam no processo difusivo, e algumas das aplicações mais comuns da difusão na produção e processamento de materiais. Espe- ro que você tenha entendido bem os conceitos e cálculos envolvidos na difusão em materiais. Nos encontraremos na Unidade 4, até breve. 94 ASKELAND, D. R.; WRIGHT, W. J. Ciência e Engenharia dos Materiais. 3. ed. São Paulo: Editora Cengage Learning, 2015. CALLISTER JR., W. D.; RETHWISCH, D. G. Ciência e Engenharia de Materiais: uma Introdução. 8. ed. Rio de Janeiro: Editora LTC, 2013. SHACKELFORD, J. F. Ciência dos Materiais. 6. ed. São Paulo: Editora Pearson, 2013. SMITH, W. F. Princípios de Ciência e Engenharia dos Materiais. Lisboa: MacGraw-Hill, 1998. REFERÊNCIA ON-LINE 1Em: <http://www.cienciadosmateriais.org/index.php?acao=exibir&cap=19&top=79>. Acesso em: 06 jun. 2019. 95 1. A difusão por lacunas ocorre pela migração de espécies químicas (átomos, íons ou moléculas) pelas lacunas, que são defeitos pontuais dos materiais. Os átomos em difusão possuem tamanhos próximos ao tamanho dos átomos originais da rede. A difusão intersticial ocorre pela migração de espécies químicas (átomos, íons ou moléculas) por meio dos interstícios presentes na rede cristalina. Os átomos em difusão possuem tamanhos muito menores em relação ao tamanho dos átomos originais da rede. 2. A. Esse processo é uma difusão em regime não estacionário, pois, como foi dito no enunciado, a concentração de carbono varia com o passar do tempo. Além disso, a concentração de carbono na liga antes da difusão é uniforme e vale 0,20%p. Para a resolução, utilizaremos a equação a seguir, que é solução particular da segunda lei de Fick: C C C C erf x Dt s x s � � � � � � � � � 0 2 Dados do exercício: C0 = 0,20%p Cs = 1,30%p Cx = 0,45%p x = 2 mm = 0,002 m A difusividade deve ser calculada para a temperatura de 1000 °C. D D Q RT d � � � � � � � �0 exp Os dados necessários foram retirados da Tabela 4 para o ferro gama (Fe γ): D0 = 2,3 · 10-5 m/s² Qd = 148 kJ/mol = 148.000 J/mol (a energia de ativação deve ser convertida para J/mol). R = 8,31 J/mol · K T = 1000 °C = 1273 K (a temperatura tem que ser convertida para kelvin). 99 100 _GoBack