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5º Simpósio Brasileiro de Solos Não Saturados 25 a 27 de agosto de 2004 São Carlos/SP SOLOS NÃO SATURADOS Volume 2 Editor Orencio Monje Vilar Escola de Engenharia de São Carlos Universidade de São Paulo ii Organização Departamento de Geotecnia Escola de Engenharia de São Carlos Universidade de São Paulo Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica Núcleo Regional de São Paulo Patrocínio Ficha catalográfica preparada pela Seção de Tratamento da Informação do Serviço de Biblioteca – EESC/USP Impressão Suprema Gráfica e Editora Ltda – São Carlos/SP Distribuição Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica – ABMS Fone (11) 3768-7325 e-mail: abms@ipt.br Simpósio Brasileiro de Solos Não Saturados (5. : 2004 : São Carlos) S612s.5 Solos não saturados / editor: Orencio Monje 2004 Vilar ; organização: Departamento de Geotecnia. v.1-2 Escola de Engenharia de São Carlos. Universidade de São Paulo ; Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica. Núcleo Regional de São Paulo. -- São Carlos : SGS/EESC/USP, 2004. 2 v. ISBN 85-98156-04-3 1. Solos não saturados. 2. Sucção. 3. Retenção de água. 4. Solo colapsível. 5. Fundações. 6. Análises numéricas. I. Vilar,Orencio Monje. II. Departamento de Geotecnia/Escola de Engenharia de São Carlos/Universidade de São Paulo. III. Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica. Núcleo Regional de São Paulo. IV. Título. iii ÍNDICE Prefácio V Organização VII Sessão 1 - Resenha: Técnicas Experimentais de Laboratório e de Campo em Solos Não Saturados Ensaios de laboratório e de campo....................................................................................................................................513 Wai Ying Yuk Gehling Sessão 2 - Resenha: Modelação e Análise Numérica em Solos Não Saturados Modelagem constitutiva para o comportamento mecânico de solos não saturados..................................................527 Márcio Muniz de Farias Sessão 3 - Resenha: Retenção de Água, Fluxo e Geotecnia Ambiental Transporte de massa e mecanismos de retenção em solos não saturados...................................................................545 Sandro Lemos Machado; Lázaro Valentin Zuquette Sessão 4 - Resenha: Aplicações da Mecânica dos Solos Não Saturados: Fundações, Pavimentos e outras Obras Geotécnicas Aplicações da Mecânica dos Solos Não-Saturados - Fundações em Solos Colapsíveis.............................................575 José Carlos Ângelo Cintra Sessão 5 - Resenha: Solos Tropicais, Colapso, Expansão e Erosão dos Solos Propriedades e comportamento de solos tropicais não-saturados................................................................................597 José Camapum de Carvalho Resistência ao Cisalhamento e Deformabilidade de Solos Tropicais Não-saturados................................................617 Luiz Antonio Bressani Workshop: Mecânica dos Solos Não Saturados: da teoria à prática da engenharia Relevância da época de execução da investigação geotécnica no projeto de uma fundação em solo não saturado............................................................................................................................................................629 Nelson Aoki Algumas considerações sobre a utilização dos novos conceitos de comportamento dos solos não saturados em projetos de engenharia.........................................................................................................................635 Cláudio Michael Wolle Aplicações na geotecnia ambiental da permeabilidade ao ar em solos não saturados...............................................643 José Fernando Thomé Jucá; Leonardo José do Nascimento Guimarães; Felipe Jucá Maciel Empurrando a teoria da mecânica dos solos não saturados para a prática..................................................................659 Fernando Antonio Medeiros Marinho Palestra Movimento de água e lixiviação de nitrato no solo.........................................................................................................667 Paulo Leonel Libardi Registro Fotográfico.............................................................................................................................................................673 Índice Remissivo...................................................................................................................................................................691 v PREFÁCIO A importância do comportamento de solos não saturados sempre foi reconhecida no âmbito da Mecânica dos Solos, desde os primórdios de seu estabelecimento como ramo do conhecimento dentro da engenharia. Não obstante, os princípios da Mecânica dos Solos foram estabelecidos para solos saturados. Muitas razões podem ser apontadas para tal fato. A prevalência de formações, muitas vezes saturadas, nos países de clima temperado em que a Mecânica dos Solos primeiro evoluiu; a aceitação de que a condição saturada tende a ser mais crítica numa diversidade de situações e o alcance do princípio das tensões efetivas estão entre algumas dessas razões. Por outro lado, o fato de as maiores ocorrências de solos não saturados encontrar-se em regiões menos desenvolvidas e menos prósperas do globo terrestre e a inerente complexidade associada ao comportamento desses solos são fatores adicionais relevantes que contribuíram para retardar o desenvolvimento de teorias, experimentação e aplicação de conceitos adequados ao comportamento dessa classe de solos. As últimas décadas caracterizaram-se pelos esforços no sentido de compreender o comportamento de solos não saturados, com o intuito de melhorar e aperfeiçoar projetos e construções, pois é evidente que a condição de não saturação é típica de várias regiões, como as de clima árido e semi-árido. Solos não saturados estão presentes, também, durante toda a vida útil de uma grande variedade de obras, praticamente em todas as partes do mundo. Adicionalmente, eles estão presentes em questões de natureza ambiental, servindo, por exemplo, como barreiras de contenção de resíduos perigosos, ou condicionando o fluxo de poluentes em direção ao lençol freático. A comunidade geotécnica brasileira, atenta a essas necessidades e considerando as vastas e diversas ocorrências de solos não saturados em todo o país, prontamente se engajou nesse esforço de evolução do entendimento do comportamento de tais solos. Esse pioneirismo e o reflexo desse esforço podem ser vistos na realização de quatro simpósios brasileiros relacionados ao tema e do 3º Congresso Internacional, realizado em Recife em 2002. Esta quinta edição do Simpósio Brasileiro põe de manifesto essas questões pelo afluxo de contribuições que chegaram à Comissão Organizadora e que resultaram na publicação, neste volume, de 76 trabalhos provenientes do Brasil e do exterior. O número de contribuições e a diversidade de suas origens são um indicativo do crescimento do interesse pelo tema, além de refletir o avanço experimentado por diversas instituições em todo o Brasil que incorporaram um apreciável ferramental teórico e experimental que as habilita adesenvolver pesquisas de ponta relacionadas ao tema. O Volume I deste livro reúne as contribuições selecionadas para o Simpósio e que foram agrupadas em cinco grandes temas. O volume II, a ser editado pós Simpósio, reunirá os relatos dos diversos temas, as contribuições do Workshop sobre Mecânica dos Solos Não Saturados: da Teoria à Prática de Engenharia, bem como as Palestras Especiais. A Comissão Organizadora deseja agradecer o auxílio do Comitê Técnico Científico no estabelecimento da programação e da dinâmica do Simpósio, aos Revisores que cuidaram da avaliação e análise dos trabalhos encaminhados ao Simpósio, aos Relatores e Conferencistas das diversas sessões e aos autores pelas suas valiosas contribuições. Os agradecimentos são extensivos também aos patrocinadores que prontamente se dispuseram a apoiar e sem os quais teria sido quase impossível viabilizar o evento. Finalmente, um agradecimento especial a todos os membros da Comissão Organizadora e aos componentes do Departamento de Geotecnia da EESC-USP, em especial à Sra. Neiva Mompean Rosalis Cardoso pelo seu empenho no trabalho de secretaria e de edição dos textos e do material de divulgação do Simpósio e ao Dr. Herivelto Moreira dos Santos pela manutenção da home-page. São Carlos, 30 de julho de 2004 Orencio Monje Vilar Presidente da Comissão Organizadora 5º. Simpósio Brasileiro de Solos Não Saturados vii Comissão Organizadora Presidente: Orencio Monje Vilar – EESC-USP Secretário: Sandro Lemos Machado - Univ. Federal da Bahia Membros - Escola de Engenharia de São Carlos – USP Benedito de Souza Bueno Nelson Aoki Osni José Pejon Lázaro Valentin Zuquette Gene Stancati Tarcísio Barreto Celestino Antonio Airton Bortolucci José Eduardo Rodrigues Edmundo Rogério Esquivel Alexandre Benetti Parreira Comitê Técnico Científico Fernando Antonio Medeiros Marinho - Escola Politécnica - USP José Fernando Thomé Jucá - Univ. Fed. de Pernambuco Tácio Mauro Pereira de Campos - Pontifícia Univ. Católica do Rio de Janeiro Wai Ying Yuk Gehling - Univ. Fed. do Rio Grande do Sul Márcio Soares de Almeida - Coppe - Univ. Fed. do Rio de Janeiro José Camapum de Carvalho - Universidade de Brasília Luís Edmundo Prado de Campos - Univ. Federal da Bahia José Carlos Ângelo Cintra - Escola de Engenharia de São Carlos - USP Secretaria Neiva Mompean Rosalis Cardoso Home Page Herivelto Moreira dos Santos viii Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica - ABMS Presidente: Waldemar Coelho Hachich Vice-Presidente: Arsênio Negro Junior Secretário: Alberto Sayão Secretário Executivo: Alessander Morales Kormann Tesoureiro: Flávio T. Montez Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica Núcleo Regional de São Paulo – ABMS NRSP Presidente: Urbano Rodriguez Alonso Vice-Presidente: Ilan D. Gotlieb Secretário: Frederico Fernando Falconi Tesoureiro: Eugênio Pabst V. da Cunha Secretário Executivo: Argimiro Alvarez Ferreira ix Comitê de Avaliação e de Seleção dos Trabalhos Apresentados ao Simpósio Ademar da Silva Lobo - UNESP-BAURU Adriano V. D. Bica – UFRGS Alexandre B. Parreira – EESC-USP Benedito de Souza Bueno - EESC-USP Cezar A. B. Bastos – UFRG Claudio H. C. Silva – UFV Claudio F. Mahler – COPPE-UFRJ David de Carvalho - UNICAMP Denise M. S. Gerscovich - UERJ Edson Wendland - EESC-USP Enivaldo Minetti - UFV Erundino Pousada Presa - UFBA Eugenio Vertamati - ITA Fernando Danziger – COPPE-UFRJ Fernando A. M. Marinho – EP-USP Glauco T. Fabri - EESC-USP Heraldo L. Giachetti – UNESP-BAURU José Camapum de Carvalho - UNB José Carlos A. Cintra - EESC-USP Lázaro Valentin Zuquette - EESC-USP Liedi L. B. Bernucci – EP-USP Lucio Flávio S. Villar - UFMG Márcio M. de Farias - UNB Marcos M. Futai – EP-USP Nélio Gaioto - EESC-USP Nilo Consoli - UFRGS Osni José Pejon - EESC-USP Paulo R. Chamecki - UFPR Paulo Leonel Libardi – ESALQ-USP Paulo Teixeira da Cruz – EP-USP Renato P. da Cunha – UNB Roberto F. Azevedo - UFV Roger Augusto Rodrigues - EESC-USP Sandro Lemos Machado - UFBA Silvio Crestana - EMBRAPA Silvio Romero M. Ferreira - UFPE Tacio Mauro P. de Campos – PUC-RIO Uberescilas F. Polido - UFES Wai Y. Y. Gehling - UFRGS 511 Tema 1: Técnicas Experimentais de Laboratório e de Campo em Solos Não Saturados 5º Simpósio Brasileiro de Solos Não Saturados 25 a 27/08/2004 – São Carlos/SP 513 Ensaios de laboratório e de campo Gehling, W. Y. Y. Professora Doutora, Depto. de Eng. Civil, PPGEC-UFRGS, Porto Alegre/RS, gehling@ufrgs.br Resumo: Este relato visa comentar as mais recentes tecnologias desenvolvidas para medir e obter a sucção (teor de umidade) nos solos não saturados tanto para os ensaios de campo quanto para os ensaios de laboratório. Este trabalho está baseado nos artigos apresentados neste simpósio e suas contribuições para inovação e o conhecimento de novas técnicas em desenvolvimento. Abstract: This paper outlines recent proposals to obtain and to measure the suction for the unsaturated soils in the laboratory and the field. This work is based in the papers submitted to the symposium and some ideas and approaches evolving are considered within the state of knowledge and development. 1. INTRODUÇÃO Nas duas últimas décadas, a pesquisa de solos não saturados tem experimentado um notável avanço, na procura de uma melhor compreensão da influência da sucção no comportamento tensão-deformação de solos. A mecânica de solos clássica está sendo ampliada com introdução de novos conceitos, técnicas de ensaios e interpretação de comportamento, especificamente aplicados em diferentes áreas de concentração em geotecnia. Dessa forma, as novas técnicas ou ajustes nos equipamentos convencionais estão permitindo determinar o comportamento mecânico em solos não saturados tanto em laboratório quanto em campo. Por outro lado, o auxilio de novas ferramentas utilizadas por pesquisadores de diferentes áreas tem contribuído para o avanço de novas metodologias que possibilitam avaliar e monitorar o comportamento geotécnico de solos não saturados. Esse trabalho procura apresentar as recentes técnicas e equipamentos disponíveis que permitem determinar as características dos solos e avaliar o comportamento mecânico (compressibilidade e resistência) e hidráulico. 2. TÉCNICAS DE LABORATÓRIO As novas técnicas de laboratório para determinação do comportamento de solos não saturados vêm sendo desenvolvidas com auxílio de técnicas utilizadas pelos pesquisadores de outras áreas (física de solo). Neste relato serão apresentados alguns equipamentos de laboratório que permitem medir e/ou controlar a sucção para determinação dos parâmetros hidráulicos (taxa de infiltração, coeficiente de condutividade hidráulica e outros), comportamento mecânico (compressibilidade e resistência) e também mostram algumas técnicas que possibilitam obter variáveis para a definição da curva de retenção. Com base na curva de retenção, os parâmetros hidráulicos de solos não saturados podem ser obtidos por diferentes proposições matemáticas. Portanto, a necessidade de definir a curva de retenção é de extrema importância. A curva de retenção do solo relaciona a sucção com o teor de umidade (teor de umidade volumétrico ou gravimétrico) ou grau de saturação. Diversos pesquisadores têm procurado uniformizar os procedimentos de obtenção da curva de retenção, mas ainda hoje, encontram-se vários trabalhos com diferentesprocessos de determinação. Alguns partem umedecendo o corpo de prova até o próximo à saturação e impondo a sucção num processo de drenagem, enquanto outros têm preferido manter a sucção de campo (umidade natural) para posterior umedecimento ou secagem. 2.1 Técnicas de laboratório que permitem medir e ou controlar a sucção (obtenção da curva de retenção) Várias técnicas de laboratório são apresentadas neste simpósio que permitem determinar a curva de retenção. Alguns autores utilizam técnicas combinadas que possibilitem uma melhora definição dos pontos da curva e outros apresentam procedimentos utilizados em outras áreas. Entre as técnicas usadas podemos citar 514 a) Tomografia computadorizada (TC) [Conciani & Crestana;Angelotti Netto et al. – EESC-USP] (Figura 1) Esta técnica tem sido já comprovada por vários trabalhos em física de solo e atualmente em geotecnia. Ela permite avaliar variação da massa específica, determinar a infiltração de água, obter a condutividade hidráulica, o fluxo preferencial, o transporte de solutos e fluxo bi e tridimensionais, bem como a distribuição da água, a caracterização da macro-porosidade e o conteúdo de água. Este instrumento (tomógrafo de raios gama) permite acompanhar rapidamente (4horas) a infiltração de água no solo para determinar a curva completa de retenção de água. Figura 1 – Tomografo de raios gama (Naime, 2001) [Angelotti Netto et al – EESC-USP] b) Analisador granulométrico [Angelotti Netto et al. – EESC-USP] (Figura 2) O analisador granulométrico permite determinar a curva de distribuição granulométrica. Ele permite também estimar a curva de retenção da água por meio de métodos indiretos, bem como, a porosidade total e a densidade de partículas e medir de forma rápida e precisa a densidade global e o conteúdo de água no solo. Figura 2 – Analisador Granulométrico (Angelotti Netto et al – EESC-USP) c) Termistor (Sensor de temperatura com capacidade de monitorar a temperatura e dissipar o calor de forma simultânea no meio poroso controlado) [Beneveli, R.M. et al. - UNB; Tan, E. et al. – University of Saskatchewan] (Figura 3) Esta técnica contém uma sonda térmica composta por um transdutor de temperatura associado a uma resistência elétrica, que dissipa calor em regime permanente ou transiente num meio poroso controlado. A tecnologia em regime transiente foi desenvolvida no Brasil (departamento de engenharia mecânica da Universidade de Brasília para utilização na agricultura). O sensor realiza de forma indireta a medição da sucção do solo através das propriedades térmicas (massa específica, calor específico e condutividade térmica). As propriedades térmicas do meio dependem de sua umidade, à qual é correlacionada com a sucção. O sensor de condutividade térmica é instalado de forma que o meio poroso do sensor entre em equilíbrio com a água do solo e então associe o valor da tensão negativa de água do meio poroso com a sucção da sonda. O principio térmico utilizado neste sensor afirma que a difusividade térmica do meio será função do teor de umidade do mesmo. As vantagens e desvantagens são: • Método indireto (sucção mátrica) • Tamanho da amostra: 30 cmx30cmx30cm • Tempo de resposta -laboratório = 60 segundos -campo = 5 dias • Variação do pH e da temperatura implicam na baixa sensibilidade das medidas realizadas 515 d) Técnica de radar de penetração do solo (GPR) [Machado et al. - UFBA] (Figura 4) A técnica de radar de penetração do solo (GPR) é utilizada para determinar os valores de umidade em sub-superfície. O uso de GPR pode ser empregado para o diagnóstico do nível do lençol freático, medidas de umidade, medidas de salinidade e diagnóstico da presença de hidrocarbonetos em sub- superfície. seção do sensor de condutividade sensor solumid 1 medidas de sucção feitas pelo sensor hidráulica (Phene et al, 1971) solumid Figura 3 – Termistor (Sensor de térmico) [Beneveli, R. M. et al – UnB] Figura 4 – Técnica de radar de penetração do solo (GPR) [Machado et al – UFBA] a) Técnica de execução de ensaios de radar b) Equipamento desenvolvido para realização de ensaios em laboratório-esquema de funcionamento c) Conjunto de dispositivos utilizados para realização de ensaios d) Resultados obtidos e previstos a partir dos ensaios de laboratório 516 É uma técnica adotada nos métodos geofísicos de investigação rasa e propicia a execução de ensaios não destrutivos. O GPR utiliza os mesmos princípios de funcionamento do Reflectometria do Domínio do Tempo (TDR). O método consiste na emissão contínua de pulsos eletromagnéticos (espectros com freqüências variando entre 10 e 250 MHz). Os sinais são emitidos e recebidos através de antenas denominadas de transmissoras e receptoras (alta freqüência-1Ghz), dispostas na superfície do solo. A utilização do GPR está condicionada à profundidade de penetração do sinal do solo (propriedades elétricas dos solos). Os ensaios permitem obter medidas de velocidade de propagação dos pulsos eletromagnéticos através da camada de solo para diferentes teores de umidade. Para a determinação da distribuição da velocidade de propagação da onda em sub-superfície, a técnica denominada CMP (ponto médio constante) é a mais indicada. Esta técnica consiste em afastar simetricamente as antenas receptoras e transmissoras de um ponto médio, de modo que a interface entre duas camadas horizontais irá aparecer no radagrama como uma hipérbole. As vantagens e desvantagens são: • A eficiência está condicionada com as propriedades elétricas dos solos (condutividade ou resistividade elétrica); • A resolução dos sinais (freqüência das ondas eletromagnéticas); • Erros de interpretação de um radagrama; • A velocidade de propagação do pulso eletromagnético varia em função de parâmetros ou de propriedades. e) Reflectometria no Domínio do Tempo (TDR) [Angelotti Netto et al. – EESC-USP] A técnica é utilizada para medir a quantidade de água no solo. Ela é utilizada para estimar rapidamente o conteúdo de água e a infiltração. f) Método do papel filtro [Feuerharmel et al.- UFRGS] O uso do papel filtro foi inicialmente utilizado na agronomia. O método consiste em colocar um papel filtro de características conhecidas num ambiente hermético junto com uma amostra de solo. O estado de equilíbrio entre o papel filtro e o solo, permite determinar a sucção do solo usando uma curva de calibração do papel. Os diferentes tipos de papeis são usados para determinar a sucção matricial ou a sucção total. As vantagens e desvantagens são: • O tempo de resposta do papel é relativamente curto para cada equilíbrio (uma semana); • A faixa de medida de sucção da ordem de 0,1 a 15000 kPa; • Oferece economia e uma precisão similar aos métodos convencionais; • Possibilita a medição da sucção osmótica pela diferença entre as medidas de sucção total e sucção mátrica; • Método simples; • Requer o manuseio delicado e precisão na pesagem numa balança com resolução de 0,0001g; • O tempo do papel é relativamente longo para cada equilíbrio, sendo da ordem de 30 dias para sucções de 0 a 100 kPa, quando medida a sucção total; • Resultados dependem de um bom contato entre o papel e o solo. g) Transdutor de Alta Capacidade (TAC/TNV) (medida de sucção) [Mahler et al. - COOPE] (Figura 5) O tensiômetro de alta capacidade foi desenvolvido no Imperial College (Ridley e Burland, 1993, 1995). O princípio é similar aos tensiômetros convencionais, que baseia-se na transmissão de pressão de água numa ponta porosa em equilíbrio com o solo até o sistema de medição de pressão e sucções até 350 e 500 kPa. O desempenho do TNV apresentou satisfatóriotendo medido sucções até 3,5 atm sem apresentar sinais de cavitação. Esse novo tensiômetro consiste em um pequeno transdutor, uma pedra porosa e um corpo acrílico (Mahler et al. – COOPE). Esta técnica permite uma boa alternativa para medida da sucção mátrica. Uma medição contínua pode ser mantida por um limitado tempo. As vantagens e desvantagens são: • Medição direta da sucção mátrica em laboratório e em campo (valor máximo de 1500 kPa); • Tempo de resposta é rápida em relação aos tensiômetros Convencionais; • Garantir a saturação da ponta porosa colocada em contato com o solo; • Necessidade de pressurização da água para dissolver todo ar livre; • Efeitos de evaporação na superfície de contato tensiômetro-solo durante a medição em amostras com texturas muito porosas. 517 Figura 5 – Tensiômetro de alta capacidade (TAC/TNV) [Mahler et al – COPPE a) Componentes do transdutor b) Tensiômetro (TNV) c) Tensiômetro de alta capacidade (Imperial college) d) Suporte para medição da sucção (Soto, 2004) h) Placa de sucção (imposição de sucção) [Feuerharmel et al.- UFRGS] (Figura 6) Esse método permite obter a sucção mátrica mantendo-se a poro pressão de ar em zero (pressão atmosférica) e a poro pressão de água em um valor negativo. A sucção é conhecida e o valor de teor de umidade da amostra é calculado em função da variação de volume de água. Figura 6 – Placa de sucção (imposição de sucção) Feuerharmel et al.- UFRGS As vantagens e desvantagens são: • Obtenção de valores baixos de sucção até 100 kPa; • Erros na determinação da variação do volume de água para o cálculo do teor de umidade; • Tempo de equalização. i) Dessecador de Vácuo [Pereira & Pejon - EESC - USP] (Figura 7) Esse método permite impor a sucção mediante soluções saturadas de cloreto de sódio, de potássio e de bário Figura 7 – Dessecador de vácuo (Soto, 200 – EESC-USP) 518 j) Câmara de Equalização [Moncada et al. – PUC –Rio de Janeiro] (Figura 8) A câmara de equalização é composta de três partes principais (tampa, anel, base). O conjunto permite manter uma distância mínima entre o papel filtro e o solo nas medições de sucção total e garantir o contato entre o papel filtro e o solo (sucção mátrica). O mesmo permite determinar a sucção total mediante a colocação de uma tela de material inerte para separar o solo do papel. A câmara de equalização, com a amostra inserida, é mantida em uma caixa de isopor com temperatura constante durante um certo período para equalização da sucção aplicada. Figura 8 – Câmara de Equalização (Moncada et al – PUC – Rio de janeiro) k) Célula Edométrica para obtenção da curva de retenção [Muñoz et al., UPC - Barcelona Espanha] (Figura 9) A célula edométrica utiliza a técnica de translação de eixos. Ela é usada para controlar a sucção e adota a técnica de equilíbrio de vapor que permite aplicar sucções superiores a 3 MPa e inferiores a 83 Mpa.. A técnica consiste em colocar as amostras dentro de um sistema termodinamicamente fechado com o ar a uma umidade relativa pré-fixada. Esta umidade relativa do ar é controlada com diferentes soluções salinas saturadas ou parcialmente saturadas em contato direto com o ar. A umidade relativa do ar está relacionada com a sucção total da amostra. Neste equipamento a pressão de água (Pw) é aplicada na base da célula e a pressão de ar (Pg) na parte superior. Uma membrana de celulose é colocada entre a amostra e o disco inferior atuando como interfase semipermeável entre a água e o ar. Figura 9 – Edométrica para obtenção da curvade retenção [Muñoz et al., UPC - Barcelona Espanha] l) Técnica Osmótica para determinação da curva de retenção [Soto, 2004-EESC-USP] (Figura 10) Os corpos de prova são condicionados dentro de segmentos de membrana pré-umedecida em água destilada, vedando-se as extremidades da membrana com o auxílio de presilhas. O conjunto é imerso na solução (determinada concentração) contida num recipiente. O fluxo de água em direção do solo para a solução ocorrerá até atingir o equilíbrio osmótico. A transferência de umidade entre o solo e a solução através da membrana tenderá modificar a concentração da solução. Para manter a mesma concentração (sucção), é necessário à utilização de uma bomba peristáltica acoplado ao recipiente onde estão as amostras. Figura 10 – Técnica osmótica para determinação da curva de retenção [Soto, 2004-EESC-USP] 519 2.2 Técnicas que permitem obter os parâmetros hidráulicos e o comportamento mecânico em laboratório a) Determinação da condutividade hidráulica [Eagler & Lier - ESALQ/USP] (Figura 11) O sistema é composto por uma amostra de solo acondicionada entre duas placas porosas sob sucção conhecida, que permite determinar a resistência hidráulica total do sistema. A resistência hidráulica total é a soma das resistências hidráulicas das placas porosas superior e inferior e a resistência hidráulica do solo. As resistências hidráulicas das pedras porosas superior e inferior podem ser obtidas em laboratório e conhecendo o valor da resistência hidráulica total, calcula-se a resistência hidráulica do solo e por sua vez, a condutividade hidráulica do solo mediante o conhecimento da altura da amostra. As vantagens e desvantagens são: • As dimensões pequenas da amostra (3,0 cm de altura e 4,8 cm de diâmetro); • Valores de sucção baixos; • Grande dispersão entre os valores de condutividade hidráulica em uma mesma sucção; • Realização de maior número de ensaios com diferentes amostras. Figura 11 – Equipamento para determinação da condutividade hidráulica [Eagler & Lier - ESALQ/USP] b) Ensaios de infiltração para determinação do coeficiente de condutividade hidráulica [Muñoz et al. – UPC, Barcelona] (Figura 12) A condutividade hidráulica em condição não saturada não pode ser determinada diretamente do ensaio de infiltração. A influencia do grau de saturação na condutividade hidráulica pode ser modelada através da lei de permeabilidade relativa utilizando o modelo de Van Genuchten. O ensaio de infiltração utiliza-se um permeâmetro que consiste de um anel de aço inoxidável de 75 mm de diâmetro e 50 mm de altura onde se encontra a amostra com duas tampas (uma parte superior e outra na parte inferior). A sucção é aplicada mediante uma solução. Determina-se a condutividade hidráulica em condição saturada, uma vez alcançado o regime estacionário. A permeabilidade relativa pode ser obtida através da retro-análise dos ensaios de infiltração. Figura 12 – Permeâmetro utilizado nos ensaios de infiltração [Muñoz et al. – UPC, Barcelona] 1- tampa superior / 2 – anel de aço inoxidável / 3 – filtro poroso superior / 5 – parafusos de ajustes / 6 – o´rings / 7 – resina / 8 - amostra c) Ensaios para determinar o comportamento mecânico dos solos não saturados • Células edométricas com sucção controlada com técnica de translação de eixos (similar ao de Escário) [Justino da Silva et al. – UPPE; Martinez et al. –UFRGS] (Figura 13) Os ensaios de compressibilidade em solos não saturados são realizados através das células similares ao de Escário e utilizam técnicas de translação de eixos. Este equipamento similar de Escário consta de três partes principais unidas por anéis de vedação, que asseguram a estanqueidade do sistema. A parte inferior da célula contém uma pedra porosa de alto valor de entrada de ar ou por membrana semipermeável. O controle da deformação é feito através da leitura de um defletômetro instalado na parte superior da célula e em contacto com o pistão de carga. Na base está conectado um medidor de variação volumétrica. Figura 13 – Célula edométrica com sucção controlada (similar ao de Escário) [Justino da Silvaet al. – UPPE; Martinez et al. –UFRGS] 520 • Células edométricas com sucção controlada com técnica osmótica [Soto & Vilar- EESC- USP] (Figura 14) Essa técnica osmótica permite evitar a super estimação dos valores de sucção e apresenta uma alternativa para o controle da sucção matricial. O uso do potencial osmótico para o controle da sucção matricial em solos não saturado torna-se mais representativo das condições do meio (principalmente em processos de dessaturação). O equipamento é constituído por componentes semelhantes a um edômetro convencional com modificações para a imposição da sucção. A base desta célula possui uma câmara que tem como função colocar a solução de Polietileno Glicol (PEG) nela contida em contato com o solo através da membrana semipermeável. Para a realização de ensaios com controle de sucção, o edômetro conta adicionalmente com uma bomba peristáltica com mangueiras para circulação da solução, reservatórios e uma balança eletrônica. Essa técnica permite sem aplicações de pressões de ar positivas, realizar os ensaios com menor tempo de equilíbrio em relação ao de translação de eixos. Figura 14 – Células edométricas com o emprego de técnica osmótica [Soto & Vilar- EESC-USP] a) Edômetro osmótico b) Edômetro osmótico e demais componentes • Ensaios para determinar a resistência ao cisalhamento (Figura 15) Os ensaios para obtenção resistência ao cisalhamento são abordados em alguns trabalhos e empregam ensaios de compressão simples, ensaios de cisalhamento direto e ensaios triaxiais com controle de sucção. Ensaios de compressão simples [Kakehi et al. EESC-USP] Uma alternativa para estimar a resistência ao cisalhamento de solos não saturados a partir de ensaios de compressão simples associadas à medida de sucção matricial através da técnica de papel filtro ou com o transdutor de pressão. A partir dos resultados de ensaios de compressão simples é possível estimar a envoltória de resistência não drenada utilizando a proposta de Fredlund et al. (1978). Ensaio de cisalhamento direto com controle de sucção [Beneveli & Campos] Ensaio triaxial com controle de sucção [Futai et al.- COPPE; Reis & Vilar -EESC-USP] Ensaio triaxial verdadeiro com sucção matricial controlada [Ortiz et al. EUA] Este equipamento permite controlar as três tensões independentemente e aplicar qualquer tipo de caminho de tensões, além de possibilitar a aplicação de diferentes níveis de sucção matricial usando o principio da translação de eixos. Este equipamento permite também estudar o efeito da variação da sucção e do nível de tensões na rigidez do meio não saturado, possibilitando medir a velocidade de propagação de ondas cisalhantes através do uso de elementos fletores piezoelétricos. Esses elementos são pequenas placas que se fletem quando submetidas a um potencial elétrico e eles são colocados verticalmente de forma que haverá uma polarização das ondas cisalhantes na direção horizontal. Esta configuração permite o monitoramento da tensão efetiva na direção horizontal, independentemente das variações nas tensões verticais além de avaliaras características de rigidez tanto em pequenas quanto em grandes deformações. 521 Figura 15 – Ensaios para determinação de resistência ao cisalhamento a) cisalhamento direto com controle de sucção da UFRGS b) cisalhamento direto com controle de sucção da PUC-Rio c) Ensaio triaxial verdadeiro com sucção matricial controlada (Ortiz et al, EUA) 3. Técnicas de campos (Figura 16) a) Ensaios de duplo anel em campo (Infiltrômetro) [Palma & Zuquete –EESC-USP] O ensaio consiste em utilizar o infiltrômetro de duplo anel que permite medir a taxa de infiltração por tempo (condutividade hidráulica) e possibilita aplicar o fluxo de água através de volumes relativamente grandes de solo. O ensaio é simples e de fácil execução. A limitação deste ensaio consiste na infiltração horizontal induzida pelos fortes gradientes hidráulicos de pressão entre o solo muito úmido sob o infiltrômetro e o solo seco circundante. Os anéis são cravados apenas poucos centímetros do terreno. Dessa forma permite determinar a condutividade hidráulica dos solos não saturados. Figura 16 – Esquema do ensaio de duplo anel em campo [Palma & Zuquete –EESC-USP] b) Lisímetro volumétrico com a utilização de tensiômetros em diferentes profundidades [Wendland & Cunha] (Figura 17) Figura 17 – Lisímetro Volumétrico com tensiômetros [Wendland & Cunha] a) Vista em corte da caixa principal b) Desenho esquemático da instalação interna inferior do lisímetro 522 Esta técnica permite determinar o fluxo de umidade no solo com medidas de sucção através de tensiômetros. Este estudo mostrou que o comportamento da água em campo e no lisímetro são diferentes em função da profundidade limitada do lisímetro e da presença de uma barreira capilar. O efeito da barreira capilar, caracterizado pela manutenção de valores altos de umidade próximo ao sistema de drenagem foi detectado somente pela análise dos valores medidos nos tensiômetros. c) Penetrômetro de impacto combinado com sensor de umidade [Angelotti Netto et al. – EESC- USP] (Figura 18) O penetrômetro de impacto caracteriza a força necessária para conduzir um cone de tamanho específico para dentro do solo. Esse equipamento associado com um sensor para medida de umidade por reflectometria no domínio do tempo (TDR) permitiram avaliar a resistência à penetração com medidas de conteúdo de água. Essa técnica é utilizada para estimar rapidamente o conteúdo de água e a taxa de infiltração, como avaliar in situ, o processo de transporte de água e movimento de substâncias químicas através da zona não saturada do solo. As determinações de resistência e o conteúdo de água são realizados simultaneamente no mesmo ponto utilizando-se um único equipamento, o penetrômetro associado ao sensor de TDR. d) Penetrômetro manual com monitoração de sucção [Tshua et al. - EESCUSP] (Figura 19) O equipamento manual da Solotest é composto de maçaneta dupla, um anel dinamométrico, uma ponta cônica removível e uma haste. Para melhor precisão na leitura de resistência utilizou-se um relógio comparador do anel com trava. Uma régua plastificada impermeável foi colada na haste para controlar a penetração do conjunto haste, ponta para leituras de penetração de 6, 9 e 12 cm. Foi também adicionada na haste uma placa de borracha que desliza com certo atrito, permitindo indicar na haste a penetração desejada. Antes da realização dos ensaios penetrométricos são instalados os tensiômetros para medir os valores de sucção durante o ensaio. Figura 18 – Penetrômetro de impacto combinado com sensor de umidade (TDR) [Angelotti Netto et al. – EESC-USP] penetrômetro de solo anel dinamométrico régua de haste placa de borracha Figura 19 – Penetrômetro manual com monitoração de sucção [Tshua et al. - EESCUSP] 523 e) Penetrômetro dinâmico manual (PDM) [Mello Junior & Polido – UFES - ES] O ensaio de penetrômetro dinâmico manual é um ensaio à percussão que consiste na cravação de uma ponta cônica no solo com golpes de um martelo de 10 kg caindo em queda livre de uma altura de 0,23m. O índice de resistência à penetração do ensaio é usualmente adotado como o numero de golpes necessários a uma penetração de 0,20m. Com base na energia dispensada na cravação da ponta cônica pode-se estimar a resistência dinâmica de ponta. Os índices físicos foram determinados a partir de blocos indeformados. f) Piezocone com filtro de cavidade [De Mio et al.- EESC-USP] (Figura 20) No ensaio de penetração do piezocone mede-se simultaneamente a resistência de ponta, o atrito lateral e a poro-pressão,o que permite a descrição continua do perfil geotécnico, a definição de parâmetros mecânicos e hidráulicos dos solos. Alguns pesquisadores têm sugerido o emprego de um filtro de cavidade preenchido com graxa automotiva em substituição ao processo convencional de saturação do piezo-elemento com água ou glicerina para os ensaios de dissipação, para obtenção de parâmetros mecânicos e hidráulicos. 4. CONCLUSÕES Os trabalhos apresentados na sessão de técnicas experimentais de laboratório, na sua grande maioria, estão direcionados na obtenção da curva de retenção mediante diferentes técnicas. As técnicas mais recentes adotadas foram: a utilização de GPR e o uso do termistor (sensor térmico). Essas técnicas mais recentes já são conhecidas e aplicadas em outras áreas (física de solo). Com relação as técnicas experimentais de campo, os trabalhos apresentados enfocam nos ensaios de penetrometros (manual, dinâmico, impacto) combinados com métodos de medição de sucção (tensiômetros, sensor térmico). Foi mostrado também o ensaio de piezocone associado ao emprego de filtro de cavidade preenchido com graxa automotiva em substituição ao processo convencional de saturação do piezo-elemento com água ou glicerina para os ensaios de dissipação. O ensaio convencional utilizado em mecânica clássica (compressão simples) é apresentado como uma alternativa para estimar a resistência ao cisalhamento de solos não saturados. Esta técnica associada com a medida de sucção matricial foi possível estimar com razoável precisão, a envoltória dos ensaios triaxiais (a coesão equivalente à metade de da resistência a compressão simples). Figura 20 – Piezocone com filtro de cavidade [De Mio et al.- EESC-USP] a) deaeração da pedra porosa e da ponteira cônica b) funil plástico utilizado para auxiliar no processo de saturação c) preenchimento do filtro de cavidade com graxa 525 Tema 2: Modelação e Análise Numérica em Solos Não Saturados 5º Simpósio Brasileiro de Solos Não Saturados 25 a 27/08/2004 – São Carlos/SP 527 Modelagem constitutiva para o comportamento mecânico de solos não saturados Márcio Muniz de Farias, Universidade de Brasília, muniz@unb.br Resumo: Neste trabalho tenta-se inicialmente fazer um levantamento do estado da arte sobre as pesquisas envolvendo o comportamento mecânico de solos não saturados. Grande parte das pesquisas internacionais centra no desenvolvimento de modelos constitutivos e segue abordagens, às vezes divergentes, baseadas em modelos elásticos não lineares ou em modelos elastoplásticos. São revistos alguns conceitos básicos, identificadas as principais escolas e linhas de pesquisa no assunto e algumas contribuições brasileiras são resgatas. A seguir, apresenta-se de forma genérica a formulação do problema acoplado com vistas a aplicações em problemas de contorno. Uma vez apresentada uma visão geral do problema, tenta-se identificar onde se inserem as contribuições relativas ao assunto apresentadas no 5 NSAT. Finalmente são levantados alguns pontos para reflexão que demandam a atenção de futuras pesquisas.. Abstract: This report initially tries to review the State of the Art about researches related to the mechanical behavior of unsaturated soils. Many international works concentrate on the development of constitutive models, using different frameworks, which sometimes are divergent, based on non-linear elasticity or on elasto-plasticity. Some basic concepts are defined and the main schools of thinking are identified. Some Brazilian contributions are also pointed out. Then, a basic framework for the formulation of coupled problems is described, aiming applications to boundary value problems. After this general overview has been presented, a discussion is made about some of the contributions published in the 5 NSAT, which are related to this report topic. Finally, some points for reflection are presented, trying to identify areas in which further researches are necessary. 1. CONCEITOS BÁSICOS O solo não saturado é um sistema multifásico, em que o grau de saturação é inferior a um. De acordo com Fredlund & Morgenstern (1977), este sistema é constituído de quatro fases: partículas de solo, água, ar e película contráctil (interface ar-água), conforme ilustra a Figura 1. A última fase advém de uma rigorosa interpretação dos requisitos necessários para qualificar uma porção da mistura como fase independente, isto é, possuir propriedades diferentes dos materiais contíguos e definir uma superfície fronteiriça (Fredlund & Rahardjo, 1993). Fredlund & Morgenstern (1977) reconheceram a vantagem dessa consideração multifásica e afirmaram que, sob o ponto de vista comportamental, um solo não saturado pode ser concebido como uma mistura de duas fases em equilíbrio (partículas de solo e película contráctil) e duas fases que fluem (ar e água). Eles ainda afirmaram a necessidade de se ponderar a influência da interface ar-água na análise de tensões e indicaram que as variáveis de tensão mais adequadas para definir o estado de tensões de um solo não saturado eram ( )auσ − e ( )a wu u− ; em que σ é a tensão total, au é a poropressão de ar e wu é a poropressão de água. A primeira variável refere-se à tensão total líquida, enquanto que a segunda emprega um conceito que será comentado a seguir, o de sucção matricial ou sucção mátrica, como preferem alguns autores. Figura 1 - Elemento de solo não saturado com fase ar contínua (modificado - Fredlund & Rahardjo, 1993). partículas de solo ar água película contráctil (interface ar-água) 528 O desenvolvimento teórico-conceitual de sucção em solos data do início do século XX e está intimamente relacionado com princípios da Termodinâmica utilizados pela Física dos solos (Fredlund & Rahardjo, 1993). Por exemplo, o termo termodinâmico energia-livre era comumente empregado na abordagem da umidade do solo e, portanto, na sucção (Edlefsen & Anderson, 1943; Bolt & Frissel, 1959). Em 1935, Schofield aplicou o termo sucção do solo para representar a deficiência de tensão na água dos poros de alguns solos saturados ou não saturados (Barrera, 2002). A sucção do solo quando quantificada em função da umidade relativa é comumente chamada sucção total. Ela tem dois componentes: sucção matricial e sucção osmótica. O primeiro componente é geralmente associado ao fenômeno da capilaridade, decorrente da tensão superficial da água, sendo definido como a diferença entre a pressão de ar e a pressão de água ( ),a wu u− ao passo que o componente osmótico relaciona-se à presença de íons e outros solutos na água intersticial (Fredlund & Rahardjo, 1993). Evidências experimentais sugerem que o comportamento tensão-deformação dos solos não saturados seja preponderantemente influenciado pela sucção matricial, restando à sucção osmótica um papel secundário (Fredlund, 1979; Alonso et al., 1987). O termo comportamento mecânico está relacionado às respostas do material do ponto de vista de deformabilidade e resistência. O comportamento mecânico dos solos saturados vem sendo estudado há décadas. Assim, assumindo-se que a mecânica dos solos saturados consegue descrever com sucesso os fenômenos mecânicos observados na prática, a mecânica dos solos não saturados parte desta experiência bem sucedida com o objetivo de descrever o seu objeto de estudo. 2. VARIÁVEIS DE ESTADO DE TENSÃO Os aspectos correspondentes à resistência e à deformação do solo na condição saturada têm sido amplamente estudados com base no conceito de tensões efetivas proposto por Terzaghi em 1936. Tensão efetiva é definida como o excesso de tensão aplicada em relação àporopressão no fluido, de acordo com a seguinte expressão: * ij ij ij wuσ σ δ= − (1) onde ijδ é o delta de Kronecker. Entretanto, tentativas de aplicar esse conceito a certos tipos de problemas geotécnicos falharam, essencialmente porque o solo encontrava-se em condição não saturada. Em função disso, começaram a surgir várias pesquisas direcionadas à explicação dos fenômenos relacionados a esses solos. As primeiras propostas para obtenção de uma variável de estado de tensão reguladora do comportamento mecânico do solo não saturado objetivaram generalizar o conceito de tensões efetivas empregado na Mecânica dos Solos clássica. A Tabela 1 resume alguns dos principais autores e suas respectivas expressões. Todas as propostas de generalização do princípio das tensões efetivas para solos não saturados resumidas na Tabela 1 introduzem parâmetros que indicam a influência da poropressão no valor da tensão efetiva. Por exemplo, proposta de Bishop (1959) é expressa como: ( ) ( )*ij ij a ij a w iju u uσ σ δ χ δ= − + − (2) onde χ é um parâmetro dado em função do grau de saturação. Para o solo saturado ele é igual a 1 (um), enquanto que, para solo seco, ele assume o valor zero. Este parâmetro depende do material, tratando- se, portanto, de um parâmetro constitutivo. Tabela 1 - Expressões formuladas com base na extensão do princípio das tensões efetivas para solos saturados (Fredulnd & Rahardjo, 1993). Autores Componentes Croney et al. (1958) wuσ σ β′ ′= − :σ ′ tensão efetiva :σ tensão total normal :wu poropressão de água :β ′ fator de ligação Bishop (1959) ( )a a wu u uσ σ χ′ = − + − :au poropressão de ar :χ parâmetro relacionado ao grau de saturação do solo Aitchison (1961) pσ σ ψ′ ′′= + :p′′ poropressão de água negativa :ψ parâmetro com variação entre 0 e 1 Jennings (1961) pσ σ β′ ′′= + :p′′ poropressão de água negativa tomada como um valor positivo :β fator estatístico relativo as áreas de contato Richards (1966) ( ) ( ) a m m a s s a u h u h u σ σ χ χ ′ = − + + + + :mχ parâmetro de tensão efetiva para sucção matricial :mh sucção matricial :sχ parâmetro de tensão efetiva para sucção osmótica :sh sucção osmótica Inicialmente, a proposta de tratar o solo não saturado pelo princípio das tensões efetivas se mostrou eficiente. Entretanto, posteriormente alguns pontos foram levantados sobre a real eficiência da 529 utilização das tensões efetivas como variável de controle dos fenômenos mecânicos dos solos não saturados. Primeiro, na forma como foi apresentada esta nova equação, a variável de tensão era função do material. Além disso, de acordo com o princípio das tensões efetivas a resposta mecânica do solo tanto em termo de deformabilidade, como de resistência ao cisalhamento, são funções exclusivas das variações na tensão efetiva. Em termos de resistência ao cisalhamento foi observada uma boa concordância. Entretanto, isso não foi observado para fenômenos de deformabilidade tais como o colapso por molhagem. Por fim, associada a essas considerações, cita-se a dificuldade em mensurar o parâmetro χ, que é altamente dependente do tipo de ensaio, ou seja, da trajetória de tensões e dos ciclos de molhagem e secagem. De uma forma simplificada, o princípio das tensões efetivas acopla os efeitos das variações das poropressões e das tensões. Bishop & Blight (1963), Burland (1964) e, posteriormente, Matyas & Radhakrishna (1968) propuseram que as variações no estado de tensão e na poropressão fossem tratados de maneira independente, uma vez que a resposta do solo às solicitações depende das trajetórias dos componentes de tensões e poropressões e não apenas da trajetória de tensões efetivas. Na prática, consideração de variáveis independentes permite a reprodução de fenômenos que ocorrem a tensões constantes e que não eram previstos nas formulações anteriores. Matyas & Radhakrishna (1968) assumiram que o solo é um meio constituído por três fases. As tensões da fase sólida são representadas pelo tensor de tensões, σij, a tensão na fase ar é representado pelo tensor, ua δij, e a tensão na fase água é representado pelo tensor, uw δij. A Figura 2 ilustra a atuação dessas variáveis num elemento de solo. Figura 2 - Variável de estado de tensão para um solo não saturado (modificado - Fredlund & Rahardjo, 1993). Posteriormente, Fredlund & Morgenstern (1976, 1977) sugeriram que as melhores combinações entre os componentes de cada fase são os tensores (σij – ua δij) e (ua – uw)δij. A justificativa é a total separação das componentes de tensão na estrutura sólida e das poropressão pressões na fase líquida. O primeiro tensor definido, (σij –uaδij), é conhecido por tensor de tensões líquidas e representa o excesso de tensão aplicada em relação à tensão na fase ar. O segundo tensor definido, (ua – uw) δij, é a diferença de tensão entre os dois fluidos. O termo (ua – uw) é conhecido por sucção matricial, ou simplesmente sucção. 3. SUPERFÍCIES DE ESTADO Matyas & Radhakrishna (1968) sugeriram ainda a definição parâmetros de superfícies de estado. Estas superfícies representam a resposta do solo submetido a uma determinada solicitação. Por exemplo, pode-se definir uma superfície que represente as variações de índice de vazios em função do estado de tensão líquida e da sucção. O mesmo pode ser feito para outras variáveis, como o grau de saturação, os coeficientes de empuxos (K0, Ka e Kp), a resistência ao cisalhamento, a permeabilidade, os módulos de elasticidade, o coeficiente de Poisson ou qualquer outra variável que dependa da sucção e da tensão. Existem na literatura diversas propostas de superfícies de estados para índice de vazios e para grau de saturação. Como exemplo, pode-se citar Fredlund & Morgenstern (1976) e Lloret & Alonso (1985). Tais relações foram definidas a partir de um ajuste de curva para dados experimentais. Fredlund (1979) afirmou que a completa definição do comportamento do solo não saturado em termos de deformações volumétricas requer a definição de duas superfícies de estado, a saber: uma relacionando o índice de vazio e as variáveis de estados de tensão e poropressão; e outra relacionando a quantidade de água contida nos vazios e as variáveis de tensão e poropressão. 4. MODELOS PARA SOLOS NÃO SATURADOS A influência do processo de molhagem no comportamento de solos não saturados ganhou destaque inicialmente ao serem observados padrões de deslocamentos e recalques atípicos, fissuras e até mesmo rupturas, durante o primeiro enchimento de algumas barragens na segunda metade do século passado. Sherard (1953) analisou as fissuras e deslocamentos na barragem homogênea de Rector Creek (EUA), que se deslocou consideravelmente para montante durante o primeiro enchimento. Marsal (1960) relatou grandes recalques diferenciais, o que ocasionou fissura, durante o início do enchimento da barragem homogênea de Cuautemoc (México). Holestol et al. (1965), apud Pereira (1986), analisando a barragem de Venemo (Noruega), observaram que os recalques eram proporcionais ao estado de tensão a que estavam submetidos no instante da molhagem. Marsal & yzτyxτ ( )y auσ − ( )a wu u− zxτ zyτ ( )a wu u− ( )z auσ − ( )a wu u− ( )x auσ − x z y 530 Ramirez (1967), apud Pereira (1986), observaram os efeitos do enchimento da barragem de núcleo argiloso de El Infiernillo (México). Vários outros casos são relatados na literatura e, em geral, estão relacionados a problemas com aterros compactados com umidade insuficiente, criando uma estruturainstável e colapsível. O termo colapso é convencionalmente utilizado para designar as grandes deformações volumétricas que ocorrem em alguns solos, devido ao aumento de umidade. O fenômeno foi inicialmente observado em areias fofas siltosas com baixo grau de saturação (Jennings & Knight, 1957), mas atualmente se reconhece sua ocorrência em diversos outros tipos de solo, tais como, os solos aluvionares, coluvionares, eólicos, residuais ou vulcânicos, bem como, os solos compactados (Dudley, 1970). Várias divergências quanto ao conceito e à gênese do colapso solo já foram registradas, mas atualmente existe um consenso. No que se refere ao conceito fenomenológico, Matyas & Radhakrishna (1968), Dudley (1970), Escário & Saez (1973), Cox (1978), entre outros, definem, de modo geral, os solos colapsíveis como aqueles de estrutura aberta e meta-estável, que apresentam redução irrecuperável (plástica) de volume com a diminuição da sucção matricial. De acordo com Lawton et al. (1992), são necessários quatro fatores para ocorrência do colapso: (a) existência de solo não saturado, com estrutura aberta e meta-estável; (b) tensões totais suficientes para provocar colapso; (c) presença de agentes de ligações intergranulares ou cimentantes que tornem o solo estabilizado em condições não saturadas; (d) ruptura por cisalhamento das ligações intergranulares e redução de ligações cimentantes pelo efeito da água. As primeiras tentativas de modelagem do fenômeno do colapso por saturação se baseiam no método proposto por Nobari & Duncan (1972). Este método se fundamenta em observações experimentais de ensaio duplo oedométricos. Tomando-se duas amostras idênticas, inicialmente não saturadas, uma das quais é saturada e depois carregada, enquanto a segunda é inicialmente carregada e depois saturada, percebe-se que o ponto final é aproximadamente o mesmo. Desta forma, Nobari & Duncan (1972) sugerem a adoção de dois conjuntos de parâmetros, um para descrever o comportamento do solo em seu estado natural não saturado e outro para descrever o comportamento do solo saturado. O colapso é simulado em três estágios: (a) inicialmente aplica-se o carregamento ao solo não saturado e registram-se as deformações; (b) a seguir aplicam-se as mesmas deformações ao solo saturado e registra-se o estado de tensão equivalente; (c) finalmente, muda-se da curva tensão-deformação do solo não saturado para aquela do solo saturado, aplicando-se a este as forças equivalentes à diferença nos estados de tensão. O método de Nobari & Duncan (1972), na realidade, não propõe um modelo constitutivo para solos não saturados, mas oferece apenas um artifício numérico para a simulação do colapso. Embora o método original fosse de certa forma atrelado ao modelo hiperbólico de Duncan & Chang (1970), Naylor et al. (1989) e Farias (1993) propuseram generalizações que tornam o método aplicável a qualquer tipo de modelo constitutivo. Estes procedimentos foram aplicados com sucesso na análise da barragem de Beliche (Portugal), usando modelos elásticos não lineares e também com o modelo Cam-clay (Tong, 1992; Naylor et al., 1997). Além da adoção de dois conjuntos de parâmetros, há uma série de detalhes numéricos que devem ser observados quando da implementação de esquemas que derivem do método de Nobari & Duncan (1972). Além do mais, o método não simula o fenômeno de colapso em si, mas seu efeito, sendo o início do colapso determinado pelo usuário. Desta forma, o método é inadequado para uma simulação mais precisa do fenômeno, quando se deseja, por exemplo, reproduzir o colapso progressivo com o avanço da frente de saturação durante o enchimento de uma barragem. Neste caso, deve-se recorrer a uma análise acoplada, onde o comportamento de cada fase é representado separadamente por modelos constitutivos adequados. A modelagem constitutiva em solos não saturados tem conseguido significativos avanços nas últimas duas décadas, essencialmente com o aperfeiçoamento e desenvolvimento de novos equipamentos triaxiais com controle de sucção capazes de realizar ensaios em diversas trajetórias de tensão ou deformação. Desde a concepção e validação das variáveis de estado de tensão ( )auσ − e ( )a wu u− controladoras do comportamento mecânico do solo, vários modelos têm sido propostos. Não obstante, alguns autores também têm utilizado a teoria estendida da tensão efetiva de Terzaghi para solos não saturados. A seguir, serão apresentadas algumas das características mais marcantes dos principais modelos para solos não saturados, tanto aqueles baseados na teoria da elasticidade, quanto aqueles fundamentados na teoria da elastoplasticidade. 5. Modelos Elásticos Coleman (1962) foi um dos pioneiros na formulação de relações elásticas para descrição do comportamento mecânico dos solos não saturados, porém, foi D.G. Fredlund quem deu um maior e significativo impulso nessa descrição. Juntamente com Morgenstern, objetivando considerar o efeito da sucção matricial no comportamento mecânico do solo, ele apresentou uma extensão da teoria elástica generalizada de Hooke para solos saturados baseado em observações semi-empíricas (Fredlund & Morgenstern, 1976). O solo, de início, foi assumido 531 como um material isotrópico, elástico e linear. As equações incrementais associadas a deformações da estrutura do solo geradas por essa formulação são as expressas a seguir: 1 1( ) ( 2 ) ( ) 1 1( ) ( 2 ) ( ) 1 1( ) ( 2 ) ( ) ; ; x x a y z a a w y y a z x a a w z z a x y a a w xy yz zx xy yz zx d d u d u d u u E E H d d u d u d u u E E H d d u d u d u u E E H d d dd d d G G G νε σ σ σ νε σ σ σ νε σ σ σ τ τ τγ γ γ = − − + − + − = − − + − + − = − − + − + − = = = (3) Onde: ,x yd dε ε e zdε : são os incrementos de deformação normal nas direções x, y e z; ( )ij jid dγ γ= : são os incrementos de deformação cisalhante E : é o módulo de elasticidade ou de Young com respeito à tensão líquida ( );auσ − H : é o módulo de elasticidade para variações em ( );a wu u− ν : é o coeficiente de Poisson. G : é o módulo de cisalhamento. A Equação (3) pode ser re-escrita de forma concisa, como: ( ) ( ) - -ij ijkl kl kl a ij a wd C d u H d u uε σ δ= + (4) A obtenção dos tensores de compressibilidade C e H requer a definição de taxas de deformabilidade em função das variáveis de tensão e de sucção. Essas taxas são obtidas a partir das superfícies de estado. Por exemplo, conhecida uma função f que represente o comportamento volumétrico do solo em função das variações no estado de tensão e poropressão, é possível obter taxas de variações para estas variáveis. A Figura 3 ilustra uma superfície de estado para índice de vazios, além de definir as taxas de deformabilidade. Nessa figura, foram definidos os coeficientes de compressibilidade com relação à tensão total e à sucção matricial. Quando a superfície é não linear, tais coeficientes devem ser obtidos para pequenos incrementos de tensão, ou seja, associado a cada variável de estado de tensão existe uma inclinação de particular interesse conforme mostram as equações a seguir: ( ) ( ) t a w a w ea u ea u u σ ∂= − ∂ − ∂= − ∂ − (5) onde ta e wa são os coeficientes de compressibilidade com respeito à tensão líquida e à sucção matricial, respectivamente. Figura 3. Superfície de estado para índice de vazios (modificado - Fredlund, 1979). Alonso et al. (1990) afirmaram que modelos baseados em superfícies de estado não representamde forma completa o comportamento do solo. Por exemplo, os autores citam a influência da trajetória de carregamento e molhagem na resposta volumétrica do solo. Além disso, sendo a superfície de estado única, esta não poderia ser utilizada para simular trajetórias não monotônicas. Por natureza, os modelos elásticos tratam deformabilidade e ruptura de formas separadas. Portanto, é necessário que se definam envoltórias de ruptura que considerem o efeito da sucção matricial na resistência dos solos não saturados. Ainda utilizando a proposta de Matyas & Radhakrishna (1968), Fredlund et al. (1978) apresentaram uma superfície de estado para resistência ao cisalhamento, cuja expressão matemática é dada por: ( - ) tg( ) ( - ) tg( )ba a wu u u cτ σ φ φ′ ′= + + (6) Esta equação é uma extensão da envoltória de Mohr-Coulomb para solos não saturados. A Figura 4 mostra uma visão espacial da envoltória de ruptura de Mohr-Coulomb estendida para solos não saturados. Na proposta de Fredlund et al. (1978), Equação (6), a resistência ao cisalhamento é afetada pela sucção por meio de um aumento do efeito coesivo. Na forma apresentada, a equação evidencia a independência entre as variáveis de tensão e poropressão. Entretanto, esta equação pode ser reescrita de modo a atender ao princípio das tensões efetivas, conforme expressa a seguir: [( ) ( )] tg( ) a a wu u u cτ σ χ φ ′= − + − + (7) onde tg(φb)=χtg(φ), então ( ) ( )a a wu u uσ σ χ′ = − + − . auσ − a wu u− e ( )a e uσ ∂ ∂ − ( )a w e u u ∂ ∂ − ( )ad uσ − ( )a wd u u− 532 τ auσ − a wu u−bφ φ 'c τ auσ − a wu u−bφ φ 'c Figura 4 – Envoltória de Morh-Coulomb estendida para solos não saturados. Fredlund et al. (1978), com o objetivo de simplificar o modelo, assumiram inicialmente o ângulo de atrito bφ constante e, portanto, uma relação linear entre a resistência ao cisalhamento e a sucção matricial. Porém, evidências experimentais têm mostrado uma acentuada não linearidade dessa relação (Escario & Saez, 1986; Fredlund et al., 1987; Escario & Jucá, 1989; Mahaling-Iver & Williams, 1995). De modo a corrigir tal hipótese simplificadora, alguns autores propuseram expressões para considerar a referida não linearidade. Khalili & Khabbaz (1998), por exemplo, retomaram a proposta de tensão efetiva de Bishop (1959) para solos não saturados, enquanto que Rassam & Cook (2002) alteraram a Equação (6) incluindo parâmetros obtidos da curva característica do solo. 6. Modelos Elastoplásticos O próximo passo no avanço da modelagem de solos não saturados foi a consideração de modelos elastoplásticos, que se caracterizam por tratar de forma conjunta a deformabilidade e a resistência ao cisalhamento. Antes de definir um novo modelo, vale salientar que a definição de duas variáveis de estado independentes para descrição do comportamento mecânico possibilitou estender modelos de sucesso na mecânica dos solos saturados para a condição não saturada. Isso porque a partir desta definição, a condição saturada se torna um caso particular da situação não saturada. a) Modelo de Barcelona. Em 1987, com base em estudos laboratoriais, o grupo de Barcelona apresentou uma formulação qualitativa do comportamento mecânico de solos não saturados, considerando a influência da sucção matricial na resistência e deformação volumétrica (Alonso et al., 1987). Três anos depois, uma estrutura matemática dessa concepção inicial foi descrita baseada nas teorias da elastoplasticidade e de estados críticos (Alonso et al., 1990). Assumindo que o solo saturado é um caso particular do solo não saturado, Alonso et al. (1990) propuseram a extensão do modelo Cam-clay modificado para solos não saturados. Este modelo ficou conhecido como BBM (Barcelona Basic Model). Utilizando quatro variáveis de estado (tensão média líquida, tensão desvio, sucção matricial e índice de vazios), estes autores definem uma superfície de plastificação matematicamente expressa da seguinte forma: ( ) ( )( )* 2 20 0, , , 0sf p q s p q M p p p p= − − + = (8) 0 0( , , , ) 0f p q s s s s= − = (9) onde: 0p é a tensão de escoamento isotrópica para sucção igual a s; sp é a parcela de efeito coesivo produzido por acréscimo de sucção; M é a inclinação da linha de estados críticos; * 0p é a tensão de escoamento isotrópica para condição saturada; 0s é a sucção de escoamento, ou seja, limite superior de sucção a partir do qual ocorreram deformações plásticas. A Figura 5 ilustra a superfície de escoamento proposta. Quaisquer trajetórias que ocorram dentro da superfície de escoamento são consideradas elásticas e produzem deformações totalmente recuperáveis. Trajetórias que perfurem a superfície em qualquer direção são consideradas trajetórias elastoplásticas e produzem deformações não recuperáveis. A extensão do modelo Cam-clay para solos não saturados se dá pela incorporação de dois efeitos, a saber: o aumento da rigidez e da tensão de escoamento para incrementos de sucção e o aumento do efeito coesivo devido a aumentos de sucção matricial. Conforme pode ser visto na Figura 5, a superfície se caracteriza por apresentar uma forma elíptica num plano de sucção constante. Para a condição saturada esta se iguala à superfície do modelo Cam-clay modificado. O tamanho da superfície de plastificação é controlado pelas deformações volumétricas plásticas e pela sucção. O modelo original, Cam-clay modificado, foi desenvolvido com base na teoria da plasticidade clássica e na teoria de estados críticos, que trata o problema de deformabilidade e resistência cisalhamento de forma acoplada. Assim, a extensão para solos não saturados incorpora tais características. A superfície definida pela Equação (9) descreve um plano no espaço de tensões (p,q,s). Este plano é paralelo aos eixos da tensão média, med auσ − , e desvio, q . 533 Deformações plásticas podem ocorrer por trajetórias de carregamento, de molhagem, de secagem, de carregamento e molhagem simultânea e, finalmente, de carregamento e secagem simultâneas. Como principais vantagens apresentadas pelo modelo proposto por Alonso et al. (1990) destacam- se: a capacidade de reproduzir trajetórias de tensão e de saturação não monotônicas; a previsão de fenômenos volumétricos como o colapso e a expansão para trajetórias de molhagem; a possibilidade de separar as deformações em elásticas e plásticas. Além disso, o BBM fundamenta-se no modelo Cam-clay que tem uma história de relativo sucesso na modelagem de solos saturados. Diversas críticas, porém, foram direcionadas ao modelo de Alonso et al. (1990), em especial, à hipótese de aumento indefinido do colapso com relação ao nível de tensão atuante. Tal comportamento somente é observado até certos níveis de tensão, dependente do tipo de solo. Para níveis de tensão superiores a este limiar, o colapso volumétrico é decrescente. Entretanto, a grande contribuição do modelo de Alonso et al. (1990) foi a introdução de uma nova visão sobre a modelagem de solos não saturados. Isto é, dado um modelo constitutivo qualquer para solos saturados, é possível propor uma generalização para solos não saturados adicionando- se os efeitos resultantes da não saturação. Balmaceda (1991), também do grupo de Barcelona, propôs modificações na formulação do BBM para estados isotrópicos de tensão. Ele desenvolveu novas equações, porém mais complexas e com mais variáveis, para relacionar o volume específico e a tensão média líquida, de tal modo que fosse previsto um colapso decrescente para altas tensões médias confinantes. q ps LC SI 0s = s LCSI * op op q sp− M p * op op sp− p s (a) (b) Figura 5. Superfície de escoamento proposta por Alonso et al. (1990). (a) Vista 3D. (b) Projeções nos planos (p,q) e (p,s). Os esforços mais recentes do grupo de Barcelona tentam ampliar a capacidade de simulação do modelo em relação a aspectos não considerados adequadamente nas versões anteriores, principalmente para solos expansivos. Dentre estes pontos citam-se a resposta de solos muitos expansivos, o surgimento de deformações plásticas durante ciclos de molhagem e secagem e restrições quando do acoplamento hidromecânico-químico. Outro ponto relevante é a relação entre deformações de expansão com o estado de tensão inicial e a trajetória imposta. Reconhecendo estas limitações Alonso (1998) e Alonso et al. (1999) apresentaram um novo modelo. A principal característica deste novo modelo é a tentativa de incluir aspectos ligados à micro e à macro-estrutura dos solos não saturados. A macro-estrutura estaria ligada ao rearranjo dos macro-poros da estrutura do solo, enquanto a micro-estrutura estaria relacionada à expansão e a contração dos argilos minerais ativos e micro-poros. O novo modelo prevê ainda um acoplamento entre a macro e a microestrutura, ou seja, deformações de expansão ou contração da microestrutura produziriam deformações na macroestrutura. A relação entre os fenômenos ocorridos na microestrutura e o seu efeito na macroestrutura é dada por funções de acoplamento. b) Modelo de Wheeler & Sivakumar. Sivakumar & Wheeler (1993) apresentaram diversos ensaios triaxiais em amostras compactadas de caulinita não saturada e aplicaram os resultados na estrutura elastoplástica desenvolvida por Alonso et al. (1990). A interpretação da curva de plastificação LC no espaço ( , )p s foi confirmada; entretanto, eles perceberam inconsistências na variação do coeficiente de compressibilidade ( ),sλ uma vez que os resultados dos ensaios indicavam aumento desse coeficiente com o acréscimo de sucção matricial, enquanto o modelo proposto por Alonso et al. (1990) só previa redução. Em 1995, eles propuseram uma formulação matemática alternativa, similar à desenvolvida por Alonso et al. (1990), para melhor descrever o comportamento dos resultados de ensaio das amostras de solo não saturado (Wheeler & Sivakumar, 1995). A Figura 6 exibe a trajetória de tensões obedecida na dedução do modelo e a idealização da resposta tensão-deformação em um ensaio de consolidação isotrópica. Com base nesta idealização Wheeler & Sivakumar (1995) propuseram uma nova equação da curva de plastificação LC. Wheeler & Sivakumar (1995) alegaram vantagens dessa proposição frente a do BBM, já que os valores experimentais do volume específico ( )N s são mais fáceis e diretos de medir que cp (tensão de referência). Além disso, afirmam que a hipótese básica de Alonso et al. (1990) a respeito da existência de uma magnitude de *0p (tensão de pré- 534 consolidação para condição saturada) para qual a curva de plastificação LC é uma linha reta vertical nunca foi legitimada experimentalmente. Figura 6 - Derivação da função da curva de plastificação LC (modificado - Wheeler & Sivakumar, 1995). Quanto ao comportamento do modelo em estados triaxiais, eles também empregaram a elipse do modelo Cam-clay modificado, todavia, com uma diferente interpretação, pois a elipse foi definida somente até certo ponto da curva, correspondente à linha de estados críticos. Posteriormente, Wheeler (1996) revisou seus trabalhos precedentes e introduziu no modelo uma outra variável de estado não existente em modelos anteriores, a variação do volume específico de água. Tal consideração aumentou a potencialidade do modelo, pois também se passou a prever o comportamento do solo não saturado em ensaios sem drenagem de água. Os trabalhos mais recentes nesta linha de pesquisa seguem a mesma tendência de relacionar micro e macro-estrutura como nos trabalhos recentes do grupo de Bracelona, embora mantenham a crítica sobre a ausência de uma variável ligada ao grau de saturação nestes modelos. A crítica se baseia na ocorrência de histerese na curva que relaciona o grau de saturação e a sucção. Deste modo, para uma mesma sucção, a quantidade de água contida nos vazios pode variar caso tenham ocorrido trajetórias de molhagem e secagem. Assim, o comportamento mecânico de solos não saturados é influenciado não somente pela sucção matricial, mas também pela quantidade de água existente nos vazios do solo. Portanto, Wheeler et al. (2003) apresentam um novo modelo constitutivo para solos não saturados que incorpora a influência do grau de saturação no comportamento tensão deformação. Além disso, a histerese apresentada pela curva característica, que representa o comportamento hidráulico, é acoplada ao modelo elastoplástico. Os autores associam a resposta elastoplástica dos solos a dois fenômenos irreversíveis: o primeiro é o movimento entre as partículas, o segundo é deslocamento da interface ar-água. De uma forma global o novo modelo proposto por Wheeler et al. (2003) assemelha-se ao modelo proposto por Alonso (1998) e Alonso et al. (1999). Entretanto há duas diferenças básicas. A primeira é quanto as variáveis de estados. Enquanto os modelos de Bracelona utilizam como variáveis de estado o tensor de tensões líquida, o volume específico e a sucção convencional, o novo modelo proposto por Wheeler et al. (2003) apresenta como variáveis de estado o tensor de tensões de Bishop, o volume específico, a sucção modificada, e o grau de saturação, sendo esta última tratada como uma variável de deformação. A segunda diferença é que Wheeler et al. (2003) consideram o grau de saturação como um parâmetro de endurecimento, ou seja, variações irreversíveis no grau de saturação modificariam o tamanho do domínio elástico. c) Outros modelos elastoplásticos Os trabalhos posteriores ao ano de 1987 foram uma tentativa de aplicar a estrutura descrita qualitativamente em Alonso et al. (1987), ou ainda uma confirmação da aplicação da teoria de estados críticos aos solos não saturados. A maioria deles empregou as variáveis de estado de tensão ( )auσ − e ( )a wu u− , enquanto que uma minoria resgatou a proposição estendida de tensão efetiva. A seguir, são apresentados alguns desses trabalhos e suas respectivas hipóteses e contribuições, cuja análise permite apreciar em que passo a modelagem constitutiva para solos não saturados cresceu nos últimos anos. Karube & Kato (1989) propuseram a identificação de pontos de plastificação com base na equação da energia utilizada no modelo Cam-clay original e em resultados de ensaios de compressão triaxial em uma argila caolinítica compactada. Eles empregaram uma superfície de plastificação linear no plano isotrópico ( ).p s× Toll (1990) aplicou a teoria de estados críticos com o intuito de explicar o comportamento cisalhante de um cascalho laterítico não saturado do Quênia em termos da tensão total líquida e da sucção matricial. Ele ainda enfatizou a importância da estrutura do solo, uma vez que a estrutura inicial não é destruída após grandes deformações cisalhantes. Wheeler, um ano depois, sugeriu modificações na proposição de Toll a fim de simplificar o número de variáveis independentes envolvidas (Wheeler, 1991). Em 2003, juntamente com outro pesquisador, Toll apresentou dados experimentais de ensaios triaxiais não drenados com medida de sucção em um solo residual de Cingapura e os analisou à luz de sua teoria (Toll & Ong, 2003). Cui & Delage (1993) apresentaram resultados de um estudo em um silte compactado realizado em um aparelho
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