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Curso de Braille Básico com o uso de 
Tecnologias Assistivas 
Realização: 
 
 Conhecendo Louis Braille 
 
 
 
 
 
a) Louis Braille nasceu em 04 de janeiro de 1809, no pequeno vilarejo rural 
chamado Coupvray, quarenta quilômetros de Paris. Seu pai era um artesão 
seleiro (fabricante de arreios e selas da localidade). Louis era o caçula de 
uma família de quatro filhos; 
 
b) Seu destino foi marcado quando, com cerca de três anos de idade, feriu 
gravemente um de seus olhos, na oficina de seu pai, provavelmente, 
enquanto brincava com uma de suas ferramentas. Naquela época, era 
muito difícil curar aquele tipo de infecção, que se alastrou para o outro olho 
e, passados dois anos, Louis ficou completamente cego; 
 
c) Há evidências de que o menino cego frequentou a escola do vilarejo, ao 
mesmo tempo em que ajudava a família, costurando as franjas dos chicotes, 
o que provavelmente o ajudou a desenvolver sua habilidade manual, tão 
útil na sua vida; 
 
d) Seus pais eram alfabetizados e certamente estavam bem conscientes da 
importância de uma boa educação para uma criança tão gravemente 
incapacitada, como seu filho. Através de um padre do vilarejo, foram 
informados da existência da escola fundada por Valentin Haüy, em 1784, 
que abrigava e educava os jovens cegos de Paris. Há evidências de que o 
pai de Louis Braille escreveu várias vezes para a Instituição Real dos Jovens 
Cegos. A admissão de seu filho, no Instituto, ocorreu em 1819. Na época, 
Braille tinha 10 anos de idade; 
 
 
 
 
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e) Naquela época, o Real Instituto ocupava um edifício localizado em um bairro 
insalubre de Paris. Hoje o prédio do Real Instituto não existe e o local, antes 
insalubre, é considerado um lindo lugar de Paris. Foi neste edifício, com 
grande umidade, falta de ar e luz, aquecimento insuficiente, comida escassa 
e superlotação, devido à falta de espaço, que Louis Braille adquiriu 
tuberculose, com a qual conviveu por toda juventude e idade adulta e que 
veio a causar, muitos anos depois, sua morte; 
 
f) Neste Instituto, os cegos liam usando caracteres em relevo, desenvolvidos 
por Valentin Haüy, difíceis de serem lidos com os dedos. Em termos de 
escrita, usavam a manipulação de tipos em relevo, marcando um papel 
umedecido. O método era muito ineficaz e dizia-se que em Paris, havia 
apenas 3 ou 4 pessoas cegas que conseguiam escrever com este método; 
 
g) No Instituto também era ensinada a música, introduzida por Hauÿ, sob a 
influência de uma famosa pianista austríaca cega, Maria Theresa Von 
Paradis, que fora aluna de renomados mestres como Salieri e para a qual 
até Mozart tinha escrito um concerto. Mas o ensino musical era baseado no 
uso intensivo da memória auditiva dos alunos; 
 
h) Em 1819, o militar Charles Barbier de la Serre, que havia criado, para os 
soldados, um método tátil para escrita noturna, visitou a instituição para 
demonstrar a efetividade de sua invenção. Braille teve contato com a técnica 
de Barbier, em que os sons da língua eram representados por um conjunto 
de 12 pontos em relevo, dispostos em duas colunas de 6 pontos, marcados 
com um objeto pontiagudo numa folha de papel. A ideia encantou o menino 
Louis, que passando a experimentá-la, logo percebeu as suas dificuldades e 
a inconveniência de representar sons e não o alfabeto; 
 
i) O jovem Louis tentou argumentar com Barbier, por algumas vezes, sobre a 
vantagem de usar o alfabeto e também sobre o uso de menos pontos, mas 
o militar se mostrou totalmente irredutível. Felizmente, a indiferença de 
Barbier não impediu que Braille continuasse a desenvolver seu próprio 
 
 
 
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sistema. Ele trabalhou no mesmo, além de suas horas de estudo, seja pela 
manhã ou durante os feriados, no seio da família. Estima-se que a essência 
do método de escrita com seis pontos (dispostos em duas colunas de 3 
pontos) tenha sido mais ou menos consolidada em 1825; 
 
j) Os pontos foram organizados em padrões que visavam manter o sistema 
fácil de aprender. O sistema também oferecia inúmeras vantagens sobre o 
método de Haüy, como o fato de que sendo as células de 2x3 bem menores 
que as letras em relevo, os livros seriam muito menos volumosos. Como 
as marcas eram colocadas em relevo relativamente baixo, os livros também 
demorariam mais tempo para serem apagados. Louis Braille foi também 
muito cuidadoso na qualidade tátil do código, tendo removido as 
configurações de pontos que podiam ser confundidas por serem muito 
parecidas; 
 
k) Braille era um aluno brilhante. Ele foi bem sucedido em todas as disciplinas 
e ganhou muitos prêmios, tanto nas tarefas de trabalho manual como 
intelectual. Suas composições literárias ou científicas continham apenas 
textos que eram distinguidos por ter grande clareza de ideias. Coltat, seu 
amigo, o descreveu como sendo "uma figura inteligente, muitas vezes 
iluminada por um sorriso agradável"; 
 
l) Braille não tinha ainda quinze anos quando lhe foram confiadas algumas 
responsabilidades de ensino, incluindo a "oficina de chinelos e laços”. Pouco 
depois, recebeu o título de "repetidor" e mais tarde, quando tinha apenas 
17 anos foi promovido a "professor". Seu ensino não era especializado, mas 
abrangia uma vasta gama de assuntos: gramática, história, geografia, 
aritmética, álgebra, geometria, piano e violoncelo; 
 
m) Parece que ele era tão bom professor quanto era um bom aluno. Coltat 
descreve que os alunos de Braille gostavam de suas aulas e o tinham como 
"um professor amável, um amigo sábio e esclarecido, rico em bons 
conselhos”. Além de ensinar oralmente, Louis escreveu alguns tratados 
 
 
 
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muito bem concebidos. Seu tratado sobre aritmética, impresso em relevo, 
é um modelo de clareza e concisão. Ele dizia: "Nossos processos de escrita 
e impressão ocupam muito espaço no papel, então é necessário reforçar o 
pensamento no menor número possível de palavras”; 
 
n) Em 1829, foi impresso em relevo (que ainda era o método oficial de escrita 
da Instituição) o livro intitulado "Método de escrita de palavras, música e 
cantochão através de pontos para os cegos e dispostos para eles", por Louis 
Braille, tutor na Instituição Real dos Jovens Cegos. A aceitação do método, 
entretanto, foi muito pequena e praticamente limitada aos alunos e alguns 
colegas e amigos de Braille; 
 
o) A segunda edição do "Método" foi publicada em 1837. Esta nova edição, 
mais completa e mais clara do que a primeira, introduziu a notação que se 
tornou a base para o que conhecemos como "notação internacional de 
musicografia Braille”; 
 
p) Entre 1840 e 1850 se instituiu uma espécie de crise após a demissão e a 
aposentadoria prematura do diretor do Instituto e amigo de Louis Braille, 
acusado de corromper a juventude através do ensino de história. Seu 
sucessor começou por tentar limitar o uso da técnica de escrita e da 
musicografia de Braille. Mas não conseguiu e, finalmente, a partir de 1847, 
a escrita Braille e a musicografia retomaram sua escalada; 
 
q) Louis Braille compreendia o alcance e as limitações de sua invenção. Ele 
era bem consciente de que a técnica de escrita não conseguia romper a 
dificuldade de comunicação entre os cegos e as pessoas não cegas. Em 
resposta a estes anseios, pôs em ação a imaginação e a inteligência, 
inventando um novo método que ele exibiu em 1839 através de um pequeno 
folheto impresso em preto, intitulado "Novo métodode representar por 
pontos a forma de cartas, mapas, figuras da geometria, os personagens da 
música, etc. aos cegos”; 
 
 
 
 
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r) A ideia era usar uma matriz composta por pequenos pontos formando um 
relevo tátil que pudessem, por um lado, ser reconhecidos tatilmente e por 
outro, serem visualizados. Essa técnica poderia também ser usada para 
representar, através de uma matriz com maior número de pontos, imagens, 
relevos, mapas e até contornos de rostos. Uma letra maiúscula seria 
representada por algo como 10x10 pontos; 
 
s) É interessante notar que, mais de um século depois, este método foi 
"reinventado" pela IBM, que o chamou de "matriz de pontos", a base para 
as impressoras matriciais usadas nos computadores; 
 
t) O número de pontos a criar em relevo, entretanto, era muito grande para 
produção manual. Assim, em 1841, um amigo de Braille - Foucault, também 
cego e entusiasta de mecânica, construiu uma pequena máquina projetada 
para transcrição para o papel, pontos igualmente espaçados. Este 
dispositivo, chamado originalmente "prancha com pistões" de Foucault, 
mais tarde foi apelidado de "raphigraphe". Esta máquina, com a qual Braille 
escreveu diversas cartas com letras perfeitamente legíveis por não cegos, 
foi usada por cerca de 50 anos e só caiu em desuso no Instituto, com a 
invenção da máquina de escrever em 1870; 
 
u) A disseminação do sistema Braille se desenvolveu lentamente. Levou mais 
de 25 anos para ser formalmente adotado na França, o que só veio a ocorrer 
após a morte prematura de Louis Braille, devida à tuberculose; 
 
v) Após a invenção do raphigraphe, Braille ainda viveu mais de dez anos, 
convivendo com a doença cada vez mais agravada. Gradualmente, ele foi 
deixando as suas funções como professor e, em 1840, as suas lições de 
música. Mas não parou de trabalhar tocando órgão em várias igrejas de 
Paris. Foi organista de 1830 até sua morte; 
 
w) De 04 a 05 de dezembro de 1851, uma hemorragia forçou-o a parar de 
trabalhar. Acamado, cada vez mais enfraquecido por sucessivos 
 
 
 
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sangramentos, morreu em 6 de janeiro de 1852, na presença de seus 
amigos e de seu irmão, depois de receber a extrema unção. Braille foi 
enterrado em Coupvray, de acordo com os desejos de sua família; 
 
x) Só um século depois, em 1952, os restos mortais de Louis Braille, já 
considerado como um benfeitor da humanidade, foram transladados para o 
Panteão, cemitério símbolo maior dos heróis franceses. Suas mãos, 
entretanto, permaneceram numa urna sobre a antiga sepultura no cemitério 
de seu vilarejo natal, Coupvray.