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Desafios do Estado na Economia Globalizada

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Unidade III
Na Unidade I, foram apresentadas as principais escolas do pensamento econômico e como essas 
ideias evoluíram ao longo do tempo. Na Unidade II, foram apresentadas as ferramentas de que o Estado 
dispõe para conduzir a política econômica e como essas políticas interferem na vida das pessoas. No 
cenário da globalização os desafios que se impõem ao Estado extrapolam o plano econômico. A inserção 
desigual dos países na divisão internacional do trabalho tem promovido um déficit social no que se 
refere a distribuição equitativa dos recursos econômicos. Sabe‑se que o Estado exerce importante papel 
nas economias contemporâneas, de modo que, se o plano do governo for elevar o nível de emprego e 
de renda, a política a ser adotada será do tipo expansionista. Se, em outro aspecto, o plano for conduzir 
a economia a um equilíbrio de preços, de modo a, por exemplo, evitar que a inflação corroa o poder de 
compra das famílias, a opção será por uma política contracionista que irá refrear a produção, com efeitos 
sobre o emprego e a renda. Então, o que a teoria nos ensina é que, do ponto de vista macroeconômico, 
o papel do Estado é manter o sistema econômico funcionando em condição de equilíbrio, de modo que 
assegure o bem‑estar social.
Como foi visto nas unidades anteriores, no fim da segunda década do século XX, a crise econômica 
trouxe desemprego e redução da produção e de renda, e o mercado, de modo autônomo, não foi capaz 
de conduzir a economia ao equilíbrio, conforme propugnado pelo pensamento econômico dominante 
à época. Essa crise iniciada nos Estados Unidos propaga‑se às diversas economias do mundo, tanto 
as desenvolvidas quanto aqueles em desenvolvimento. No contexto americano, o Estado define um 
plano de intervenção na economia que ficou conhecido como New Deal, quando o Estado exerce 
importante protagonismo de natureza anticíclica. O governo entra em cena definindo as regras do 
jogo econômico, normatizando contratos, estabelecendo leis sociais, (criação da previdência social e do 
salário mínimo, definindo a jornada de trabalho e a manutenção de salários), arbitrando os conflitos 
entre os empresários, concedendo crédito e renegociando dívidas; além de um ambicioso programa de 
obras públicas. O sucesso dessa política parametrizou as decisões de outros governos, que passaram a 
aplicar políticas semelhantes. No mundo prático, o Estado passa a assumir funções que até então eram 
deixadas ao livre fluxo das atividades do mercado.
Até esse período, no âmbito da teoria econômica, a função do Estado era apenas de garantidor 
da propriedade privada dos meios de produção. O foco da análise era o mercado e como os agentes 
econômicos (famílias e empresas) obtinham satisfação na relação de troca. Mas, por vezes, o sistema 
econômico é afetado pelo que ficou denominado de falhas de mercado. A existência dessas falhas 
(inflação, desemprego, repartição desigual da renda, dentre outros) pode conduzir à insatisfação social. 
Nesse aspecto, a ciência econômica, reconhecendo que a dinâmica do mercado nem sempre é capaz, 
por si só, de conduzir a economia ao equilíbrio, passou a incorporar o papel do Estado na atividade 
econômica como uma nova área de estudo. Ao considerar que as decisões de indivíduos ou empresas 
levam em consideração apenas os benefícios individuais e que muitas vezes essas ações podem afetar o 
bem‑estar da coletividade, o Estado, como instrumento de uma ação coletiva, determina as regras das 
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relações econômicas, com base em valores que incorporam a ideia de justiça social. Desse modo, as leis 
e os regulamentos e as políticas públicas têm como objetivo final promover o bem‑estar social, uma 
vez que a racionalidade do mercado não permite que todos os integrantes da sociedade desfrutem com 
equidade dos ganhos do crescimento econômico. Mas, quais são os desafios dos governos de economias 
em processo de desenvolvimento, como o caso do Brasil, num mundo globalizado?
A globalização permitiu o acesso a informações e promoveu um sentimento de progresso, 
principalmente nos países de economias em desenvolvimento, mas na prática não se traduziu em acesso 
aos mesmos benefícios usufruídos pelos países desenvolvidos. Apesar das promessas de progresso da 
globalização, os fatos demonstram que não diminuíram as distâncias entre os países pobres e ricos. 
O crescimento econômico elevou a renda em termos globais, mas a redução da pobreza não teve o 
mesmo êxito. A exclusão social é a face perversa da sujeição da vida das pessoas às leis do mercado. 
Como a economia funciona em flutuações cíclicas, nos ciclos recessivos, o ajuste, de modo geral, recai 
sobre os mais vulneráveis e com menor capacidade de pressão política. Nos ciclos de crescimento, em 
tese, todos são beneficiados, mas se sabe que os que mais ganham são aqueles de poder econômico e 
político. Samuelson e Nordhaus (1988, p. 60) resumem bem o espírito do funcionamento do mercado 
ao afirmar que o sistema econômico faz aquilo para o qual foi concebido, ou seja, coloca os bens nas 
mãos daqueles que mais podem pagar por ele, ou seja, dos que possuem mais votos monetários, e não 
nas mãos dos mais necessitados. Assim, o gato de um indivíduo rico irá consumir o leite que uma criança 
pobre necessita para se manter saudável. Mas, como a sociedade enfrenta moralmente problemas dessa 
ordem? Aceitando que o Estado exerça funções de estabilidade macroeconômica, que elabore programas 
que conduza à distribuição mais equitativa de renda e de proteção social, de modo que garanta uma 
vida digna aos cidadãos e ainda que cuide das questões legais.
Assim, nessa unidade, o objetivo é analisar o papel do Estado como agente estruturador de políticas 
econômicas e de proteção social. A proteção social tem como objetivo diminuir as desigualdades de 
oportunidades de acesso a direitos pelos cidadãos, numa economia competitiva e globalizada. Para 
esse efeito, os indicadores econômicos são uma ferramenta importante para o planejamento e para a 
elaboração de políticas públicas. No caso específico desta disciplina, serão utilizados indicadores voltados 
para compreender a realidade econômica e social do país, tanto do ponto de vista geral quanto do regional.
Esta unidade é composta de duas seções. A primeira seção discutem‑se o processo de globalização e 
os desafios enfrentados pela economia brasileira no cenário global bem como o papel do Estado como 
indutor do crescimento e os resultados obtidos. Na segunda seção, apresentam‑se os indicadores sociais 
do Brasil e como o Estado tem enfrentado esses desafios.
7 O PROCESSO DE GLOBALIZAÇÃO
Globalização é um conceito relativamente novo, surgido nos anos de 1980, que passou a representar 
uma nova era da concorrência internacional. O termo globalização foi incorporado aos discursos dos 
dirigentes de empresas e das agências multilaterais e se expandiu para o mundo. O tema passou a fazer 
parte dos estudos e das análises do mundo acadêmico, e várias publicações trouxeram em seus títulos 
o termo globalização. Os debates em torno do assunto se intensificaram e permanecem na pauta de 
debate da atualidade. De um lado, os defensores da globalização apoiam‑se em indicadores que lhes 
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Unidade III
são favoráveis, argumentando que a globalização tirou do atraso econômico e social diversos países, 
por meio da transmissão do progresso técnico; de outro, estão aqueles que apontam para as promessas 
não cumpridas. É um tema certamenteintrigante e abrange múltiplas dimensões, mas para efeito dessa 
unidade o foco será a dimensão econômica e o que se logrou como resultado para países em estágio de 
desenvolvimento, como o Brasil, em termos sociais. Para entender melhor o assunto, é preciso resgatar 
alguns fatos da história econômica para compreender como tudo aconteceu, ou melhor, como esse 
processo foi tomando a forma da atualidade.
7.1 A dimensão econômica da globalização
A liberalização do comércio internacional, dos fluxos financeiros e dos avanços tecnológicos no 
campo das comunicações e do transporte são questões importantes para se entender o processo 
de globalização. Contudo, é preciso ter em conta que o comércio de longas distâncias já existia 
no século XV, e o período que abrange do século XVI ao XVIII é caracterizado como o período da 
revolução comercial, ou mercantilismo. Hunt (1987, p. 36) registra que no século XV a Inglaterra já 
dominava o mercado têxtil mundial. Isso foi possível com o avanço científico, como o compasso, o 
telescópio e equipamentos como a bússola, que permitiram a navegação mais segura e precisa para 
o transporte das mercadorias. Novas rotas de navegação levaram às descobertas de novas terras 
e da colonização. O eixo do comércio se desloca do mar mediterrâneo para o oceano Atlântico. A 
expansão ultramarina deu novo impulso ao capitalismo comercial, que conjugado com o aumento 
da produtividade agrícola constituirão os elementos que sustentarão a revolução industrial. Hunt 
(1987, p. 33) considera que formação das cidades se relaciona a uma estratégia econômica, pois 
foi mais lucrativo concentrar as pessoas nas cidades e produzir em larga escala para vender para 
mercados mais amplos e de longa distância.
No plano ideológico, o que dava sustentação à expansão do mercado e de um Estado forte foram 
as ideias defendidas pelos mercantilistas. Para eles, a origem da riqueza de uma nação era o acúmulo 
de ouro e prata, e para conseguir esse resultado era preciso que as exportações fossem superiores às 
importações. Os ingleses aplicaram com rigor esse repertório teórico, inclusive sobre a indústria têxtil 
inglesa, proibindo importações. O volume de ouro e prata que teve como destino as praças inglesas criou 
as condições objetivas que desencadearam a revolução industrial. Hunt assim se refere a esse processo:
a expansão do comércio, particularmente do comércio de longa distância, 
levou ao estabelecimento de cidades industriais e comerciais para servir 
a este comércio e à medida que o comércio prosperava e se expandia, a 
necessidade de mais manufaturados e mais confiança na oferta induzia a 
um crescente controle do processo produtivo pelo capitalista comerciante 
(HUNT, 1987, p. 33‑5).
Entretanto, enquanto processo que se desenrola a partir de diversos eventos, foi necessária 
a acumulação de capital nas mãos dos capitalistas e do Estado enquanto elaborador de leis que 
garantissem os contratos e a propriedade privada dos meios de produção. Foi necessária também 
uma classe trabalhadora para vender a sua força de trabalho. O avanço do conhecimento técnico da 
construção naval baixou os custos do transporte; outras invenções mecânicas, como a máquina a vapor, 
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e a introdução da divisão do trabalho elevaram a produtividade, permitindo assim a produção em larga 
escala e a um custo mais baixo. Dadas as condições de produção em larga escala e de transporte, essas 
mercadorias puderam ser distribuídas a qualquer parte do globo terrestre. Com o passar do tempo, as 
empresas tornaram‑se grandes corporações com atuação em diversos territórios. As filiais passaram a 
operar em território estrangeiro, sob o controle da empresa matriz, que permanecia em seu território de 
origem. As grandes corporações multinacionais, ao realizarem operações produtivas ou comerciais em 
vários mercados do mundo, obtiveram condições competitivas que lhes permitiram consolidar posição 
de negócios locais e também intensificar trocas com suas filiais.
Operar em vários mercados não é um fato da atualidade, tampouco o comércio de longas distâncias. 
Mas, então, o que caracteriza essa contemporaneidade? No mundo contemporâneo a globalização toma 
dimensões que se diferenciam da época passada: interdependência comercial, produtiva e financeira, 
em escala extraordinária. Krugman e Obstfeld (1999, p. 83) assinalam que a crescente mobilidade 
internacional de bens, capital e tecnologia alterou completamente o jogo econômico, e que os países 
não mais dispõem de poder de controlar o seu próprio destino; os governos estão à mercê dos mercados 
internacionais. Gonçalves (1998) distingue a globalização produtiva da globalização financeira. Para 
esse autor, a globalização produtiva envolve a interação de três processos distintos: a intensificação do 
processo de internacionalização da produção, o acirramento da concorrência internacional5 e a maior 
integração entre as estruturas produtivas das economias nacionais (GONÇALVES, 1998, p. 153).
Pela ótica da globalização financeira, o processo decorre da interação de três processos distintos: 
a expansão dos fluxos financeiros internacionais, o acirramento da concorrência nos mercados 
internacionais de capitais e a maior integração dos sistemas financeiros internacionais (GONÇALVES, 
1998, p. 148). Para Michalet (1984, p. 168), a preocupação principal da estratégia produtiva das 
multinacionais é tirar proveito das desigualdades dos custos de produção, e a questão salarial é 
elemento preponderante na escolha de uma nova localização. Como a produção das filiais é reexportada 
para o país de origem, principalmente se a filial for especializada em apenas uma parte do produto 
final, a multinacionalização é acompanhada da internacionalização do processo produtivo. Na prática, 
as empresas passaram a terceirizar a produção dos componentes de seus produtos em fábricas de 
diversos países do mundo. Essas partes de produto (insumos) são, posteriormente, enviados para outra 
localidade, onde são montados os produtos finais que serão distribuídos para o mundo inteiro. Com 
isso, os grandes grupos multinacionais podem concentrar energia em pesquisa e desenvolvimento de 
produto e estratégias de marketing. Como essa produção é financiada? Segundo Michalet (p. 168), 
são diversas as fontes: o autofinanciamento, os créditos bancários, os mercados financeiros, as ajudas 
públicas e as participações financeiras.
Considera‑se que esse processo venha ocorrendo desde o final do século XIX e, a partir da Segunda 
Guerra Mundial, torna‑se mais estruturado e se intensifica no final do século XX.
Após a Segunda Guerra Mundial, principalmente pelo esforço dos Estados Unidos em estabelecer 
uma ordem capitalista hegemônica, as ações empreendidas pelos países vencedores do conflito bélico 
5 É importante registrar que, desde a década de 1970, já era prática comum das empresas multinacionais japonesas 
e europeias introduzir novos produtos, simultaneamente, em vários mercados do mundo. 
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foram pela construção de uma nova ordem institucional que proporcionasse a estabilidade necessária 
para que as empresas realizassem seus investimentos de forma segura. Na Conferência Financeira 
e Monetária das Nações Unidas, ocorrida na cidade americana de Bretton Woods, decidiu‑se pela 
constituição do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial. Também conhecido como 
Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), que foi criado para fornecer os 
recursos necessários à reconstrução dos países destruídos pelo conflito bélico e ainda estimular 
práticasque conduzissem ao crescimento econômico. Ao FMI foi delegada a missão de cuidar de 
manter o equilíbrio macroeconômico dos países, para que não ocorresse evento semelhante ao vivido 
pela Depressão de 1930. Encarregado de evitar mais uma depressão com repercussão mundial, o FMI 
deve estar atento às dificuldades enfrentadas e providenciar o socorro financeiro necessário para que 
o país possa cumprir com a manutenção da demanda agregada. Os acordos com o FMI são na forma 
de empréstimos que os países se obrigam a devolver. Como o próprio nome informa, trata‑se de um 
fundo, e os países são detentores de cotas. Os EUA detêm o maior número de cotas e, portanto, o 
maior número de votos e o maior poder de veto.
Segundo Stiglitz (2003), em seu conceito original, o FMI era fundamento num reconhecimento 
de que os mercados, em geral, não funcionavam bem, e por isso precisavam de uma ação coletiva 
em nível global para manter a estabilidade econômica, mas desde a sua fundação o FMI tem mudado 
bastante e, da posição de que os mercados funcionam mal, passou a defender com fervor ideológico o 
livre‑mercado. Ainda, segundo o autor, isso ocorreu na década de 1980, nos governos de Ronald Reagan 
e Margaret Thatcher, e o FMI e o Banco Mundial tornaram‑se instituições missionárias na defesa do 
livre‑mercado e na imposição dessas ideias aos relutantes países pobres, que via de regra precisavam 
muito dos empréstimos e concessões dessas instituições. Embora fossem instituições com missões 
distintas, suas atividades se entrelaçavam, pois o Banco Mundial só aprovava a concessão de empréstimo 
se o país obtivesse o aval do FMI (STIGLITZ, 2003, p. 38‑40).
No âmbito do comércio internacional, inicialmente, acordou‑se por um tratado denominado de 
Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT), recentemente substituído pela Organização Mundial do 
Comércio (OMC). Na OMC, segundo Stiglitz (2003, p. 46), quem dá as diretrizes são os ministros 
de comércio de seus respectivos países, e estes ministros, de modo geral, estão ligados a grupos 
específicos de interesse em seus respectivos países de origem, e normalmente os ministérios de 
comércio refletem os interesses da comunidade de negócios, que desejam a inexistência de barreiras 
ao comércio internacional, portanto os lucros são mais importantes que os custos sociais que possam 
derivar para a sociedade.
 Observação
A OMC foi criada em 1995. Atualmente conta com 152 países‑membros 
(dados de março de 2013). Sua estrutura organizacional conta com um 
diretor‑geral, eleito entre seus membros por um período de quatro anos. 
Desde meados de 2013, é o brasileiro Roberto Azevedo. A OMC cuida da 
normatização do comércio internacional por meio de acordos negociados 
e firmados entre os países que participam do comércio internacional. 
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Funcionam no âmbito da OMC dois comitês: o Comitê de Comércio e Meio 
Ambiente e o Comitê de Comércio e Desenvolvimento.
Segundo a teoria econômica, a transmissão dos benefícios do crescimento econômico e do progresso 
técnico para todos os parceiros que participam do processo da globalização ocorre por meio do comércio 
internacional. Segundo Gonçalves (1998):
As teorias clássicas e neoclássicas de crescimento econômico consideram o 
comércio internacional um mecanismo essencial para a difusão dos frutos 
desse processo. Isto é, através do livre‑comércio os ganhos de produtividade 
são transmitidos recíproca e cumulativamente pela economia internacional, 
beneficiando todos os países que compõem esse mercado mundial 
(GONÇALVES et al., 1998, p. 68).
De acordo com a teoria, a difusão tecnológica funciona como uma onda que vai transmitindo seus 
impulsos com tal magnitude que a distribuição espacial de produção de bens e serviços vai se ampliando 
cada vez mais, por meio do aumento da produtividade. Com isso as nações “subdesenvolvidas” que 
se integrarem ao comércio internacional serão compelidas a se industrializarem e a elevar a sua taxa 
de urbanização. A concentração populacional em centros urbanos tende a permitir maior acesso à 
educação e, como decorrência, maior consciência política, e com isso o fortalecimento dos sistemas 
democráticos. É também nas cidades6 que se concentram as indústrias, os escritórios, os bancos, a 
administração pública e um amplo serviço de suporte aos negócios industriais. A urbanização ocupa, 
assim, lugar de prestígio no contexto da globalização, elevado ao status de civilidade e de bem‑estar 
social, proporcionado pelo capitalismo. Países com características eminentemente rurais são vistos como 
atrasados e presas fáceis de sistemas de governo não democráticos.
Mas essas mudanças foram possíveis em decorrência do progresso no campo das comunicações e no 
dos transportes, os quais permitiram que empresas multinacionais atuassem de forma simultânea em 
vários mercados do mundo. Castells (1999) assim assinala os benefícios da difusão das tecnologias de 
telecomunicações:
O que caracteriza a atual revolução tecnológica não é a centralidade de 
conhecimento e informação, mas a aplicação desses conhecimentos e 
dessa informação para a geração de conhecimento e de dispositivos de 
processamento/comunicação da informação, em um ciclo de realimentação 
cumulativo entre a inovação e seu uso. [...]. A difusão da tecnologia amplifica 
seu poder de forma infinita, à medida que os usuários se apropriam dela e a 
redefinem (CASTELLS, 1999, p. 50‑1).
Segundo o autor, as tecnologias de informação, processamento e comunicação representaram a 
base da transformação industrial do mundo contemporâneo:
6 As cidades na Grécia Antiga também tiveram papel importante no fortalecimento da democracia e na difusão do 
conhecimento. 
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A tecnologia de informação é para esta revolução o que as novas fontes de 
energia foram para as Revoluções Industriais sucessivas, do motor a vapor à 
eletricidade, aos combustíveis fósseis e até mesmo da energia nuclear, visto 
que a geração e distribuição de energia foi o elemento principal na base da 
sociedade industrial (CASTELLS, 1999, p. 50).
Michalet (1984, p. 211) é signatário da ideia ao afirmar que a extensão da multinacionalidade repousa 
sobre o progresso dos meios de comunicação a grande distância.
Considerando, ainda, o fato de já possuírem filiais em diversos locais fora de seu território de origem 
e acesso ao capital financeiro e tecnológico, as multinacionais apresentavam‑se em condições mais 
competitivas em relação às empresas nacionais domésticas.
Outra constatação no decorrer desse processo é que vai se consolidando a necessidade de eliminação 
das barreiras ao comércio e ao capital. Coadunado a isso, o discurso da integração dos mercados em 
termos globais, como forma de disseminação do conhecimento e dos benefícios da economia de 
mercado, torna‑se chamariz para os líderes dos países em desenvolvimento.
É fato que as inovações no campo das comunicações permitiram o encurtamento das distâncias 
geográficas, e os negócios puderam ser concretizados em tempo real em qualquer parte do mundo. 
É fato também que pessoas de várias partes do mundo se conectam via internet e informações e são 
trocadas de modo instantâneo. O conhecimento passou a ser disseminado de várias partes do mundo 
para diferentes partes do mundo, e isso tirou do isolamento os países emergentes.
As invenções no campo da microeletrônica tornaram menores e mais potentes os equipamentos 
industriais e outros bens de consumo duráveis, como rádios, televisores, computadores, dentre outros, 
que passaram a ocupar menos espaço, facilitando a logística de transporteao mesmo tempo que 
reduzirem o custo de distribuição. Mas atuar em vários mercados exigia produção em larga escala, 
bem como consumo em larga escala e de modo padronizado. Nessa estratégia é preciso que um maior 
número de pessoas seja inserido nesse mercado global. Por isso, gostos e preferências decorrentes de 
culturas locais não se encaixam no modelo padronizado de consumo, e a vantagem da ampliação do 
número de pessoas no mercado são os benefícios obtidos da disseminação tecnológica, segundo os 
defensores da globalização.
A crença que também se disseminou foi de que essa intensificação dos fluxos de produtos, serviços, 
dinheiro e conhecimentos seria capaz de promover mudanças econômicas, políticas e sociais para os 
países em desenvolvimento. Essa convicção fez vários líderes de países se empenharem em integrar 
seus mercados nacionais a esse fluxo de mercadorias global. Nesse processo de adaptação, os líderes de 
seus respectivos governos se esforçaram para promover o crescimento econômico na busca dos ganhos 
potenciais da concorrência internacional, e com isso grandes empresas passaram a produzir e utilizar 
fatores de produção local para uma oferta de mercadorias de ordem global. A concepção subjacente era 
de que com custo menor seria possível vender a preços menores, e com isso todos se beneficiariam em 
escala global, gerando maior bem‑estar social, de acordo com os ensinamentos da globalização. Segundo 
Stiglitz (2003, p. 31‑2), na última década do século XX, a renda total do mundo elevou‑se, em média, 
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2,5% ao ano. O Relatório Brundtland, apresentado à Assembleia geral da ONU, em 1987, afirma que, em 
termos globais, a mortalidade infantil diminuiu, a expectativa de vida tem aumentado, o percentual de 
adultos que sabem ler e escrever se elevou, o número de crianças na escola também está em ascensão 
e o ritmo de crescimento da produção de alimentos é superior ao da população (COMISSÃO MUNDIAL 
SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO, 1991, p. 2).
Esses resultados foram atribuídos à globalização, e a ideia tomou proporções de tal ordem que, 
associado ao pensamento triunfante da democracia liberal e do capitalismo sobre qualquer outra forma 
de organização econômica ou política, o Ocidente desenvolvido e capitalista havia atingido o ápice da 
evolução econômica.
 Saiba mais
Francis Fukuyama escreveu O Fim da História e o Último Homem (1992), 
analisando a perspectiva do mundo a partir de fatos como a unificação da 
Alemanha e a desestruturação das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) 
e de outros países socialistas que fizeram a transição do socialismo para o 
capitalismo e para sistemas democráticos de governo. Utilizando uma análise 
histórica da organização social, o autor sustenta que o liberalismo econômico 
é o estágio superior da evolução econômica na sociedade contemporânea e 
que a cultura do consumo em escala mundial marcava a vitória do Ocidente 
no mundo capitalista. Essa evolução econômica viria acompanhada do 
sistema democrático e da igualdade de oportunidades. Leia a obra:
FUKUYAMA, F. O fim da história e o último homem. São Paulo: Rocco, 1992.
O crescimento econômico como resultado da globalização se apresenta como solução para a 
redução das desigualdades e como promotor do bem‑estar social para todos indistintamente. Para os 
economistas, a produtividade derivada da inovação tecnológica permitiu produzir mais e melhor. O 
progresso técnico possibilitou elevar a quantidade produzida, utilizando‑se de menos recursos retirados 
da natureza, bem como o número de pessoas. Na economia moderna, exige‑se cada vez mais a elevação 
da produção de alimentos, roupas, automóveis, educação, casas, transportes públicos, hospitais, telefones 
celulares, dentre uma gama variada de produtos. Segundo Baumann (2007, p. 9), a sobrevivência dessa 
sociedade e o bem‑estar de seus membros depende da rapidez com que os produtos são [consumidos/
descartados] enviados aos depósitos de lixo [...]. Essa constatação de Baumann nos remete a refletir que 
o crescimento da produção e do consumo não se relaciona apenas com o crescimento populacional, mas 
também com um comportamento social. O ciclo de vida dos produtos tem diminuído, e a sociedade é 
conduzida a trocas cada vez mais frequentes. E o aumento de produção/consumo/descarte tem levado 
a preocupações com o meio ambiente. Até que ponto os recursos da natureza suportam essa carga de 
extração, lixo e poluição? Para alguns economistas, do ponto de vista ambiental, os limites do crescimento 
são relativos, uma vez que as novas descobertas no campo da ciência permitiriam poupar recursos da 
natureza, inclusive, pelo processo de reciclagem e reúso dos resíduos que voltam à natureza. É claro 
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Unidade III
que não existe consenso a respeito do assunto e, apenas para pontuar, o debate sobre o crescimento 
ilimitado tem trazido para o centro da discussão a questão ambiental e de como o planeta conseguirá 
suportar a carga de energia que dele é retirado. Como o assunto ambiental não é o foco de nosso estudo, 
apesar da interconexão existente apenas lembraremos o seguinte: considera‑se que a Terra, conforme 
definido pelo Relatório Brundtland, é um organismo cuja saúde depende da saúde de todas as partes. 
Quando tratamos de globalização, os desafios tornam‑se comuns, uma vez que, em se tratando de 
desenvolvimento sustentável, todas as relações se conectam num mesmo objetivo. Grande parte dos 
problemas ambientais relaciona‑se com a industrialização e a urbanização, enquanto fenômenos que se 
intensificaram no processo da globalização e a crise ambiental tomam proporções globais, como o efeito 
estufa, a perda de biodiversidade etc.
 Lembrete
Autores como Barbieri e Cajazeira (2009, p. 131) citam como símbolos da 
globalização as corporações multinacionais, o Fórum Mundial Econômico 
de Davos e a Organização Mundial do Comércio (OMC), e, em torno do 
tema ambiental, o Fórum Mundial Social e as conferências internacionais 
da Organização das Nações Unidas (ONU).
No mundo contemporâneo, os símbolos da modernidade são expressos por industrialização, 
urbanização, financeirização e acesso a bens de consumo padronizados são processos que fazem parte 
da ideologia do progresso, e no espectro ideológico da globalização a sua materialidade se consagra 
pela integração dos mercados mundiais e de um sistema financeiro unificado. Nesse contexto, a 
grande empresa transnacional passa a ser a expressão da globalização, pois faz parte do mundo, e 
não de um território em específico. Assim, de acordo com a teoria econômica, o progresso técnico é 
disseminado por meio do comércio internacional, e para o mundo dos negócios as fronteiras dos países 
devem ser apenas referências geopolíticas, pois o comércio não pode ficar limitado pelas fronteiras 
nacionais. Portanto, ao fenômeno da globalização associa‑se o da universalização do progresso técnico 
por meio do acesso a novos mercados. De fato, o requerimento de alto valor dos investimentos em 
pesquisa e desenvolvimento (P&D) tornou o mercado cada vez mais restrito a um pequeno número de 
grandes empresas. A exigência de produção e distribuição em larga escala é característica do mercado 
oligopolista. Nesse aspecto, somente um pequeno número de grandes empresas apresenta‑se com 
capacidade econômica e tecnológica, e as barreiras à entrada de novos concorrentes e o controle de 
preços são característicos de uma estrutura de oligopólio. Essas empresas com atuação em várias partes 
do mundo, com movimento de grandes volumes de recursos financeiros, tornam os governos menos 
capacitadosao controle dos fluxos produtivos e financeiros. Muitos desses valores superam o valor do 
produto interno bruto de muitos países emergentes. Frieden (2008, p. 421) estima que, no fim do século 
XX, o volume diário de operações em moeda estrangeira fosse de US$ 1,5 trilhão. Para o autor, esse 
movimento financeiro foi facilitado pelas novas tecnologias:
O enorme aumento das transações, em geral, era um aspecto da expansão 
mundial das finanças internacionais. Os banqueiros e investidores 
internacionais faziam amplo uso das novas tecnologias, o que ajudava a 
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entrelaçar os mercados financeiros globais. As transações financeiras além 
das fronteiras e transoceânicas ficaram tão fáceis quanto as operações 
domésticas (FRIEDEN, 2008, p. 421).
Krugman e Obstfeld (1999, p. 657) nos ensinam que os principais atores do mercado de capitais 
internacional são: bancos comerciais, grandes empresas, instituições financeiras não bancárias, bancos 
centrais e outras agências do governo. Eichengreen (2000, p. 23) mostra que o sistema monetário 
internacional é a cola que mantém ligadas as economias dos diferentes países e que seu papel é dar 
ordem e estabilidade aos mercados cambiais. Há uma perfeita relação simbiótica entre o sistema 
produtivo e o sistema financeiro, permitindo que o organismo se mantenha vivo. Chesnay (1996), em 
toda a sua clarividência, sublinha essa relação ao assinalar a existência de uma estreita imbricação entre 
a produção e o sistema financeiro:
Os grupos industriais são, propriamente, grupos financeiros de 
predominância industrial. Em certos casos, já tem esse caráter há muito 
tempo. Mesmo quando essa característica é mais recente, a globalização 
financeira pressionou os grupos a acentuar, de maneira qualitativa, seu 
caráter de centros financeiros. Os grupos começaram a diversificar‑se em 
direção às finanças. Tornaram‑se operadores importantíssimos em certos 
segmentos dos mercados financeiros, especialmente os mercados de 
câmbio. Em certos casos, o mercado financeiro interno de grupo comporta 
a existência de um ou mais bancos de grupo; em outros, é a própria direção 
financeira da holding que organiza e controla essas transações como um 
todo (CHESNAISY, 1996, p. 275).
Nesse processo, constata‑se que a integração financeira e comercial foram os pilares de 
sustentação da nova ordem econômica no mundo contemporâneo. Em fins da década de 1990, os 
mercados estavam de tal forma conectados que poucas alternativas restavam a não ser integrar‑se 
a essa nova ordem.
7.2 A economia brasileira e a globalização
Para uma melhor compreensão sobre o contexto da economia brasileira, quando da abertura do 
mercado nacional, torna‑se relevante fazer uma breve retrospectiva dos principais fatos econômicos do 
Brasil, no tocante à industrialização.
É preciso lembrar que, até os anos de 1930, a renda gerada na economia brasileira originava‑se, 
exclusivamente, da agricultura voltada à exportação. A década de 1930 é marcada pela opção de mudança 
do modelo agrário‑exportador para a industrialização voltada ao mercado interno. No início dos anos 
de 1930, o principal produto de exportação era o café, e o principal comprador eram os Estados Unidos. 
Com a crise de 1929, os americanos suspenderam a compra de café, e os preços despencaram no mercado 
internacional. Além da diminuição de receitas oriundas de exportação, o crédito internacional também ficou 
escasso e o País se viu sem os recursos necessários para pagar suas compras no mercado internacional e as 
parcelas de sua dívida externa. Como a economia era essencialmente agrária, os produtos industrializados 
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vinham de fora do país. Diante desse quadro, optou‑se por deslocar o centro dinâmico da agricultura 
voltada para o mercado externo para uma industrialização voltada ao mercado interno. Com essa decisão, 
a industrialização ganha os incentivos necessários para se expandir e diversificar.
O modelo é conhecido na literatura econômica como “Industrialização por Substituição de 
Importações (ISI). As políticas governamentais de substituição de importações fortaleceram o setor 
industrial, e a região Sudeste foi a maior beneficiária desse processo. Com esse redirecionamento da 
política econômica, o setor agrário perde posição na formação da renda nacional, e o País deixa de ser 
essencialmente agrícola e rural e passa a ser industrial e urbano. A população se desloca da área rural 
para as cidades na busca de novas oportunidades de ocupação e renda. Em 1940, 68,8% da população 
brasileira eram da classe rural, e apenas 31,2% viviam em áreas urbanas. À medida que a industrialização 
vai se consolidando, ocorre uma inversão nas taxas de urbanização, e, na década de 1970, a população 
urbana (55,9%), supera a população rural (44,1%). Nas décadas seguintes, o processo de urbanização 
se intensifica ainda mais (figura a seguir). De acordo com o censo demográfico de 2010, 84,4% da 
população brasileira vivem em áreas urbanas, e apenas 15,6% estão em áreas rurais.
68,8
63,8
55,3 55,9
67,6
75,6 78,4
31,2
36,2
44,7 44,1
32,4
24,4
21,6
1940 1950 1960 1970
Urbana Rural
1980 1991 1996
*Baseado nos dados das estatísticas históricas do IBGE.
Figura 11 – Proporção da população urbana e rural no Brasil entre 1940 e 1996
A urbanização é uma das características da industrialização. As indústrias, desde a sua origem, 
localizavam‑se em vilas que depois se transformaram em cidades; na atualidade, a indústria, de modo 
geral, localiza‑se em centros urbanos, principalmente aqueles dotados de certa infraestrutura para o 
desenvolvimento de seus negócios.
No caso brasileiro não foi diferente, e as indústrias irão se localizar nos centros urbanos, onde 
exista oferta de água, eletricidade, transporte, mercado consumidor e onde se concentrem as pessoas 
e a administração pública. Singer (2004, p. 180) considera que a localização industrial obedece aos 
seguintes critérios: proximidade do mercado consumidor, da fonte de matérias‑primas e dos mercados 
de fatores (trabalho e capital) e, no caso da indústria brasileira, o autor acrescenta a proximidade da sede 
do governo, uma vez que a indústria depende, em boa medida, da política econômica governamental. 
No Brasil, as capitais dos Estados concentram as sedes administrativas dos governos do Estado e do 
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Município e, de modo geral, a indústria se localiza nesses espaços, ou, no máximo, no seu transbordamento 
metropolitano, como é o caso da região metropolitana de São Paulo.
A nascente indústria brasileira, desde 1920, produzia bens que eram importados, como é o caso das 
indústrias têxtil e alimentícias. Com o modelo de substituição de importações fortalecido pelas políticas 
governamentais, esses setores se desenvolveram e a indústria se diversifica e se expande. O modelo de 
industrialização por substituição de importações se sustentou em dois pilares: industrialização voltada 
para o mercado interno e proteção do mercado interno dos concorrentes externos. Na prática, isso 
significava que o produto estrangeiro ficava mais caro diante dos produtos nacionais, em decorrência 
das altas tarifas cobradas para vender no mercado interno.
O Plano de Metas (1956‑1960) é considerado como o auge da política de substituição de importações. 
No setor industrial, o Plano de Metas buscou promover as indústrias de automóveis e utilitários, bem 
como de naviose maquinaria pesada, com financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento 
(BNDE). Baer (2002, p. 82) considera que o mais bem‑sucedido, dentre os programas do Plano de Metas, 
foi o que se destinou a promover a indústria automobilística, e as empresas brasileiras foram estimuladas 
a fazer convênios de auxílio técnico com empresas estrangeiras, com suporte financeiro do BNDE.
 Saiba mais
O Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDE) foi criado em 1952, 
constituído na forma de autarquia federal, com o objetivo de ser órgão 
formulador e executor da política nacional de desenvolvimento econômico. 
O banco foi uma peça importante na política de substituições de importações. 
Os anos de 1980 foram marcados por preocupações sociais, e o banco 
passou a chamar‑se: Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e 
Social (BNDES). Para informações mais detalhadas, acesse:
BNDES. Banco Nacional do Desenvolvimento. História. Rio de 
Janeiro, [s.d.]. Disponível em: <http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/
bndes/bndes_pt/Institucional/O_BNDES/A_Empresa/historia.html>. 
Acesso em: 23 set. 2015.
O período abrangido pela década de 1960‑1970, medido pelo Produto Interno Bruto (PIB), é 
caracterizado pelo crescimento econômico, com exceção do ano de 1963, quando ocorre uma 
desaceleração do crescimento do país. Em 1961, a indústria cresce (11,1%) acima da taxa de crescimento 
do PIB (8,6%). Esse mesmo comportamento é verificado em 1962: 8,1% para a indústria e 6,6% para o 
PIB. Em 1963, tanto a indústria (‑0,2%) quanto o PIB (0,6%) apresentam retração na taxa de crescimento, 
porém de forma mais intensa na indústria. O pífio crescimento do PIB e a retração da indústria, em 1963, 
conjugada com o aumento sistemático e contínuo dos preços, criaram um cenário de instabilidade 
econômica e política.
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Em 1964, o regime democrático de governo é substituído pelo regime militar, cuja sustentação do 
autoritarismo político será pela aplicação de um plano econômico que se mostrará exitoso do ponto de vista 
do crescimento da economia nacional, com redução da inflação. Neste mesmo ano, o PIB cresce 3,4%, e a 
indústria, 5,0%, mas o ritmo de crescimento inflacionário foi mais vigoroso, e a taxa de inflação em 1964 
(89,9%) ascende ao seu mais alto nível no período. Em 1965, a indústria tem desempenho negativo (‑4,7%), 
mas a partir de 1966, com exceção de 1967, a indústria cresce a taxas superiores à do PIB. O período de 
1968/1973 é caracterizado pela literatura econômica como o do “milagre econômico”, situação em que a 
economia evoluí a taxas crescentes, enquanto a inflação cresce a taxas decrescentes (figura a seguir). Nesse 
período a indústria lidera o crescimento econômico (tabela a seguir), principalmente os setores manufatureiros 
modernos, que, segundo Baer (2002, p. 95‑6; 482), concentravam‑se nos setores produtores de bens de 
consumo duráveis e químico. A diversificação industrial alterava a posição de liderança, outrora exercida pelos 
setores tradicionais, como o de alimentos e bebidas, o têxtil, o vestuário e de calçados.
Tabela 4 – Comparativo da taxa de crescimento do PIB e 
da indústria brasileira (1960‑1969)
Período PIB (%) Crescimento da indústria (%)
1960 9,4 10,6
1961 8,6 11,1
1962 6,6 8,1
1963 0,6 –0,2
1964 3,4 5,0
1965 2,4 –4,7
1966 6,7 11,7
1967 4,2 2,2
1968 9,8 14,2
1969 9,5 11,2
Fonte: Abreu (1990, p. 403).
1960 1961 1962 1963 1964 1965 1966 1967 1968 1969
25,4
34,7
50,1
78,4
89,9
58,2
37,9
26,5 26,7
20,1
Figura 12 – Índice geral de preços (IGP) – Brasil (1960‑1969)
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O período que vai de 1970 a 1979, quando o Brasil atinge o auge do processo de urbanização em 
decorrência do acelerado crescimento industrial, é também um período delineado por movimentos de 
crescimento, desaceleração e retomada do crescimento da economia brasileira. O plano da equipe de 
governo responsável por operacionalizar a política econômica tinha até então transcorrido da forma 
planejada. A economia cresceu, e a inflação tinha diminuído. Assim, no período de 1970‑1973, a economia 
brasileira evoluí a taxas crescentes e atinge o ápice de crescimento em 1973, quando o PIB registrou a 
taxa de13,97%. O mesmo fenômeno é observado no caso da indústria, que também atinge o seu maior 
nível de crescimento, 17,04%, nesse ano. Esses resultados foram possíveis em decorrência das políticas 
monetárias, de crédito e fiscal, que tiveram como objetivo estimular o consumo final, as exportações e a 
diversificação industrial. Como resultado dessas políticas, o PIB se elevou a taxas crescentes, bem como 
a indústria, inclusive, a taxas superiores às do PIB. Porém a inflação, que parecia estar sob controle, volta 
a aumentar, e, em 1973, os preços registraram crescimento de 22,7%, revelando a retomada do ritmo 
de crescimento inflacionário, uma vez que, na passagem de 1971 para 1972, o ritmo tinha sido menor, 
ao variar de 20,3% para 19,1%.
No período 1974‑1975, o crescimento, tanto do PIB quanto da indústria se desacelera (8,15% e 
8,49%, respectivamente). No ano seguinte o mesmo evento se repete (5,71% para o PIB e 4,90%, para 
a indústria). Em 1976 o PIB cresceu 10,26%, e a indústria, 11,74%, acima da taxa do PIB, revelando o 
mesmo dinamismo que a tinha caracterizado nos anos anteriores. No período de 1977 a 1979, os sinais 
de instabilidade voltam a aparecer e o ritmo de crescimento diminui. Se relacionarmos o comportamento 
do PIB a um carro em movimento, será como se o motorista tivesse pisado no breque de modo abrupto. 
Isso aconteceu com a indústria e, quando voltou a acelerar (1979), a velocidade não foi a mesma, ou 
seja, a economia entrou num ritmo mais lento de crescimento. Nesse final de década, a indústria e a 
economia nacional mostravam sinais de estagnação, enquanto a inflação mostrava‑se fortalecida.
Se o período de 1968 a 1973 ficou marcado na história econômica brasileira como o período do 
“milagre econômico”, em razão do controle inflacionário numa situação de crescimento econômico, a 
partir de 1974, o ambiente se altera e a inflação atinge o mais alto patamar de variação do período, em 
1979, quando os preços em relação ao ano anterior aumentaram 55,8%. Esse foi o sinal da escalada 
inflacionária que aconteceria na década seguinte.
1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979
16,4
20,3 19,1
22,7
34,8 33,9
47,6 46,2
38,9
55,8
Figura 13 – Índice Geral de Preços (IGP) – Brasil 1970‑1979
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Tabela 5 – Taxas de crescimento do PIB e da indústria – Brasil (1970‑1979)
Período PIB (%) Crescimento da Indústria (%)
1970 10,4 11,9
1971 11,3 11,9
1972 12,1 14,0
1973 14,0 16,6
1974 9,0 7,8
1975 5,2 3,8
1976 9,8 12,1
1977 4,6 2,3
1978 4,8 6,1
1979 7,2 6,9
Fonte: Abreu (1990, p. 408).
No plano internacional, no período que vai do Pós‑guerra até 1969, os países capitalistas 
desenvolvidos, capitaneados pelos EUA, apresentaram uma dinâmica de crescimento excepcional, de 
modo que o período Pós‑Segunda Guerra Mundial foi batizado de “Era do Ouro”, ou “os trinta anos 
gloriosos” (HOBSBAWM, 1995, p. 253), e o ano de 1970 representa o fim dessa era. Frieden (2008, p. 421) 
assim resume o período:
Os países capitalistas avançados alcançaram a integração econômica 
combinada com Estado de bem‑estar social e intervenções 
macroeconômicas. Os países em desenvolvimento conseguiram a 
intensificação da industrialização combinada com proteçãocontra 
a influência econômica do exterior. Os países socialistas alcançaram 
um rápido desenvolvimento industrial e crescimento econômico 
combinados com distribuição de renda equitativa. No entanto, em 
todos os três grupos de países, a obtenção simultânea de todos 
esses objetivos tornava‑se mais difícil com o passar do tempo. A 
integração econômica impôs desafios à intervenção macroeconômica; 
a ISI (Industrialização por Substituição de Importação) gerou crises 
periódicas e mais desigualdade; e a planificação econômica socialista 
desacelerou o crescimento.
Em 1973, o barril do petróleo, que custava em janeiro US$2,20, em janeiro de 1974 passou a 
custar US$ 8,65 (MAIA, 2000, p. 93). Em um ano, o preço do barril de petróleo havia aumentado 
293%. O petróleo, enquanto base energética que faz funcionar a indústria e o sistema de transporte 
do mundo moderno, impactou diretamente as contas externas dos países industrializados e o 
custo de produção. A inflação nos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento 
Econômico (OCDE) elevou‑se de 2,9% (média do período de 1961‑1966) para 7,5% somente em 
1973 (SWOBODA, 1976). Mas o preço do petróleo, apesar do alto valor que havia atingido em 1973, 
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não parou de crescer, e, em dezembro de 1979, o Irã vendia petróleo ao preço de US$ 27,77/barril, e 
em dezembro de 1980 o preço era de US$ 34,37 (MAIA, 2000, p. 95), aumento de 24% em um ano.
Esse aumento nos custos de produção foi repassado aos preços dos produtos, o que fez aumentar 
ainda mais a inflação. No período de 1979 e 1980, a inflação média dos países da OCDE passou de 9,8% 
para 12,90% (MAIA, 2000, p. 96). Para combater a inflação, os países desenvolvidos elevaram a taxa de 
juros, e, nesse cenário, as empresas diminuíram a produção, com reflexo sobre o mercado de trabalho. O 
cenário adverso da economia internacional se refletiu na taxa de crescimento da economia brasileira e 
nos resultados da desaceleração econômica e industrial no biênio que se seguiu.
A primeira crise do petróleo reflete o contexto internacional, e o período de 1977‑1979 
também é reflexo da volatilidade da economia internacional. De um período de facilidades de 
crédito que antecedeu o segundo choque do petróleo, passou‑se para um período de escassez de 
recursos financeiros no mercado internacional. Nesse novo cenário, de retração da demanda, os 
países em desenvolvimento encontravam‑se endividados, com dificuldades de elevar as vendas 
no exterior e com acesso restrito a novos créditos e pressionados para pagar as parcelas vencidas 
e vincendas.
Em razão desse contexto, a década 1980‑1989, é caracterizada como a década perdida da economia 
brasileira, por ter sido o período em que o país enfrentou diversos momentos de recessão, desemprego 
e elevado endividamento externo. Lembre‑se de que enquanto os países desenvolvidos ajustam suas 
economias, promovendo a desaceleração da demanda agregada e elevando juros, no caso brasileiro, os 
governos continuaram colocando em prática seus planos de desenvolvimento sustentados com recursos 
externos obtidos nos bancos internacionais.
Com o mundo em recessão, era difícil aumentar as exportações como forma de obter os recursos 
necessários para o pagamento da dívida externa. Outra forma possível era tomar novos empréstimos 
para pagar as dívidas que estavam vencendo, a um custo muito maior, uma vez que as taxas de 
juros tinham aumentado no mercado internacional. As taxas de juros do mercado de eurodólar 
passaram de 12,31% a.a. em 1978 para 19,90% a.a. em 1980 (MAIA, 2000). Juntos, esses elementos 
se refletiram no aumento do custo de produção, que aumentava, e os empresários repassam esse 
aumento para os preços dos produtos. Com isso, a inflação promovia perda de poder aquisitivo 
dos salários e instabilidade política. Em 1980, a inflação anual, medida pelo Índice Geral de Preços 
(IGP/FGV), calculado pela Fundação Getúlio Vargas, foi de 110,0% e, em 1989, foi de 1.783,0%. 
Perceba que a inflação, num curto período de tempo, eleva‑se de maneira significativa. Nesse 
processo, quem tem maior poder econômico consegue preservar a sua renda, o que não ocorre, 
por exemplo, com os salários; nessa disputa pela apropriação da riqueza, os maiores perdedores 
são os trabalhadores, que não conseguem que seus salários sejam reajustados no mesmo ritmo da 
variação da inflação.
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1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989
110 95 100
211 224 235
65
416
1.038
1,783
Figura 14 – Inflação (%) de acordo com o Índice Geral de Preços (IGP) no Brasil entre 1980 e 1989
Nessa década, a economia, representada pelos indicadores do PIB, crescia em curtos períodos 
e retrocedia. A década começa com um extraordinário crescimento do PIB à taxa de 9,2%, mas 
no ano seguinte a economia entra em recessão (‑4,5%, em 1981), que se mantém até 1983, 
com taxas de crescimento do PIB de 0,5%, em 1982 e ‑3,5%, em 1983. Em 1984, a economia 
brasileira volta a crescer, e o PIB de 1984, de 5,3% ,eleva‑se para 7,9% em 1985, cujo crescimento 
mantém‑se relativamente estável em 1986, com 7,6% de aumento no PIB. Em 1987, novamente 
a economia dá sinais de fragilidade e termina a década com crescimento três vezes inferior ao 
observado no início do período.
O mesmo fenômeno é observado para o caso da indústria, que, em 1980, cresceu 9,3% em relação 
ao ano anterior, mas, em 1981, o crescimento foi negativo (‑8,8%), em patamar muito superior ao 
do PIB. Em 1982, o produto industrial apresentou um ligeiro sinal de crescimento (0,2%), que não 
se sustentou em 1983, e a produção voltou a cair (‑5,9%). Depois de um ciclo de quatro anos de 
crescimento (1984/1987), a produção industrial voltou a perder fôlego em 1988 (‑2,6%), e a década 
terminou em 1989 com a taxa de crescimento da indústria em 2,9%. Como a indústria, nesse período, 
respondia por mais de 34% da riqueza nacional, ou seja, do valor do PIB, as oscilações observadas na 
indústria se assemelhavam às oscilações do PIB.
Esse período também foi marcado pelas diversas tentativas de aplicação de planos de estabilização 
monetária, como forma de estancar o descontrole inflacionário, como abordado anteriormente. No plano 
político, a novidade é o processo de retorno ao sistema democrático, e, mais importante, a aprovação da 
Constituição em vigor, em 1988.
Tabela 6 – Taxas de crescimento do PIB e da indústria – Brasil (1980‑1989)
Período PIB (%) Crescimento da indústria (%)
1980 9,2 9,3
1981 –4,5 –8,8
1982 0,5 0,2
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1983 ‑3,5 –5,9
1984 5,3 6,4
1985 7,9 9,0
1986 7,6 11,7
1987 3,6 1,1
1988 ‑0,1 –2,6
1989 3,3 2,9
Fonte: Baer (2002, p. 483‑4).
No plano internacional, os países também tentavam resolver os seus problemas domésticos de 
descontrole de preços, inclusive os EUA. Em 1980, os preços ao consumidor nos Estados Unidos haviam 
registrado aumento de 13,5% e, no ano seguinte, de 10,3%. Isso também ocorre com França, Suécia, 
Japão e Itália, cuja persistência inflacionária durou por mais tempo. Esses resultados, comparados 
com a taxa de inflação no Brasil, pouco representa, mas, para economias que historicamente não 
conviviam com esse nível de preços, os números tornavam‑se preocupantes, e o governo, para reagir 
a essa escalada de preços, utiliza como ferramenta de controle a política monetária, por meio da 
elevação da taxa de juros.
25
20
15
10
5
0
%1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991
 França 13,5 13,3 12,0 9,5 7,7 5,8 2,5 3,3 2,7 3,5 3,4 3,2
 Itália 21,3 17,8 16,4 14,6 10,8 9,2 5,8 4,7 5,1 6,2 6,5 6,3
 Suécia 13,7 12,1 8,6 8,9 8,0 7,4 4,2 4,2 5,8 6,4 10,5 9,3
 Japão 7,8 4,9 2,7 1,9 2,3 2,0 0,6 0,1 0,7 2,3 3,0 3,3
 Estados Unidos 13,5 10,3 6,2 3,2 4,3 7,4 4,2 4,2 5,8 6,4 5,4 4,2
*Gráfico baseado em dados do Banco Mundial (World Bank Group).
Figura 15 – Taxas de inflação: países selecionados (1980‑1991)
Em 1979, o banco central americano (Federal Reserve) aumentou a taxa de juros de 10% para 15%, 
de modo que em 1982 a taxa era de 20%. Esse aumento do custo do dinheiro conduziu a economia 
americana à recessão, reduziu a produção e a renda média familiar em 10%, e o desemprego chegou 
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a quase 11% da população economicamente ativa (PEA). Os países da Europa, apesar da resistência de 
alguns, seguiram o exemplo americano, e o resultado foi a recessão (FRIEDEN, 2008, p. 397‑8).
Em 1982, o México anunciou a suspensão do pagamento de sua dívida externa, e isso fez os fluxos 
financeiros para países em desenvolvimento estacarem, o que piorou os problemas financeiros, inclusive 
do Brasil. Com isso, foi preciso recorrer ao FMI, que passou a exigir rigoroso plano de austeridade fiscal 
(corte de gastos), metas de inflação, dentre outros controles macroeconômicos. Esse período também 
foi marcado por importantes mudanças no plano político. Em 1989, o fato histórico mais relevante foi 
a queda do muro de Berlim, que separava a Alemanha capitalista (Ocidental) e a Alemanha socialista 
(Oriental), unificando assim a Alemanha. O simbolismo representado na queda do muro de Berlim é o 
triunfo do sistema capitalista e, consequentemente, o fracasso das economias centralizadas dos Estados 
socialistas.
 Saiba mais
O filme Adeus, Lenin (Direção Wolfgang Becker, 2002) retrata a passagem 
dos últimos momentos da Alemanha oriental e sua reunificação após a 
queda do muro de Berlim, contada a partir de um drama familiar.
ADEUS, Lenin. Direção: Wolfgang Becker. Alemanha: Studio Berlin 
Adlershof, 2003.
Os anos de 1990 são considerados como a década da consolidação da globalização e, no plano da 
teoria econômica, do fortalecimento das ideias neoliberais. Nessa década, vários países fora do eixo dos 
países desenvolvidos adotaram políticas de liberalização comercial e financeira, ou seja, desregulação 
da atividade econômica, permitindo, inclusive, ao capital estrangeiro explorar recursos naturais. Nesse 
contexto, a globalização financeira fortaleceu‑se muito mais em relação à atividade produtiva.
Em 1995, os fluxos financeiros correspondiam a US$ 1,1 trilhões de dólares. Em 2009, esse volume 
foi de US$ 2,9 trilhões, crescimento médio anual de 11,7%. No plano da teoria econômica, essas ideias 
denominadas de neoliberais estavam contempladas nas teses de dois importantes economistas: Friedrich 
von Hayek e Milton Friedman, que defendiam desregulamentação e política fiscal restritiva, ou seja, 
menos impostos e menos gastos de governo. Lembre‑se de que, desde a Depressão de 1929, o Estado 
é protagonista do crescimento econômico e da garantia do Estado de Bem‑estar Social vivenciado 
pelo New Deal e pela população da Europa, no Pós‑guerra. Com a crise dos anos de 1970‑1980, a 
política econômica colocada em prática (principalmente a de cunho keynesiano) começou a ter a sua 
eficiência questionada enquanto instrumento de superação da crise. Nesse processo há a recuperação 
da ideologia do mercado livre, da integração dos mercados em âmbito mundial e da liberalização 
comercial. O mercado volta a ser o foco da teoria econômica do crescimento, e ao Estado caberia o 
papel de regulador e garantidor da propriedade privada e da intelectual. No plano político, essas ideias 
são colocadas em prática pelos vencedores das eleições na Inglaterra (Margaret Thatcher, em 1979) e 
nos Estados Unidos (Ronald Reagan, em 1980), bem como por outros governos de cunho conservador 
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que foram assumindo os governos na Europa. Nos anos de 1980 se intensificaram os esforços para uma 
maior integração regional que resultaram nas áreas de livre‑comércio. Na Europa, o Mercado Comum 
Europeu caminhou para uma unificação monetária; EUA, Canadá e México formaram o Nafta (North 
American Free Trade Agreement); e Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai formaram o Mercosul (Mercado 
Comum do Sul).
Do ponto de vista político, o Brasil caminhou em direção à democracia. E os anos de 1990, 
representam os anos da prática democrática de governo, sob a égide de uma Constituição (1988) 
republicana e democrática. São eleitos pelo voto direto o presidente da República, governadores 
e prefeitos. Em 1990, o presidente eleito dá continuidade ao processo de abertura do mercado 
doméstico e o faz de maneira mais pragmática, de modo que a economia brasileira atinge seu 
maior grau de abertura comercial, que chegou a ser intitulado por alguns como a segunda abertura 
dos portos brasileiros.
 Observação
A primeira abertura dos portos ocorreu em 1808, quando D. João, 
logo após a chegada com a corte portuguesa ao Brasil, assinou um 
decreto de livre‑comércio com as nações amigas, que ficou registrado 
na história do Brasil como “abertura dos portos”. A Inglaterra foi a maior 
beneficiada com a liberalização do comércio com o Brasil, então colônia 
de Portugal.
Essa decisão se sustentava no discurso da modernidade, da competitividade, da internacionalização 
e da integração da economia brasileira à economia global. Rezende Filho (1999, p. 186) assinala que 
essa inserção no mundo globalizado não se dá em condição de igualdade econômica, e o projeto de 
modernização econômica se defrontou com parceiros altamente competitivos no segmento de custos. 
Os efeitos sobre a indústria foram imediatos, e, em 1990, a produção industrial havia recuado 8,0%, 
condição que durou por três anos seguidos. Somente em 1993 a indústria retoma seu fôlego, e a 
produção se eleva 7,5% e, em 1994, 7,6%. Em 1994, adota‑se uma nova moeda, que passou a se chamar 
real (R$), e o plano de estabilização monetária (Plano Real) estava dando mostras de eficiência no 
controle da inflação e na aceleração do ritmo de crescimento da economia. Para sanear as finanças 
públicas, o governo privatizou empresas estatais que atuavam em vários setores da economia, como 
telefonia, energia elétrica, petroquímica, siderurgia, extrativa mineral etc. Mesmo assim, por quatro anos 
(1995‑1998), a produção industrial mostrava sinais de fraqueza, e somente em 1999 é que a indústria 
apresentou um crescimento mais robusto.
Em 1990, a economia estava em recessão (‑4,4%); no ano seguinte, apresentou crescimento 
pífio (1,1%); em 1992, novamente a economia se mostrava fragilizada (‑0,9%); em 1993, deu 
mostras de recuperação (4,9%); e em 1994, ano da implantação do Plano Real, o PIB cresceu 5,8%; 
e a partir de 1995, aumentou a taxa decrescente, com exceção do ano de 1997, cujo aumento da 
taxa não se mostrou consistente.
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Tabela 7 – Taxas de crescimento do PIB e da indústria – Brasil (1990‑1999)
Período PIB (%) Crescimento da indústria (%)
1990 ‑4,4 –8,0
1991 1,1 –0,8
1992 ‑0,9 –3,7
1993 4,9 7,5
1994 5,9 7,6
1995 4,2 1,8
1996 2,7 1,7
1997 3,6 0,0
1998 ‑0,1 –1,0
1999 0,8 4,4
Fonte: Baer (2002, p. 484‑5).
Do ponto de vista da variação dos preços medida pelo IGP, a inflação se reduz de 1.477% em 1990para 
480% em 1991 e volta a crescer até atingir o pico em 2.708% em 1993. Apenas para ilustrar o efeito da 
inflação, imagine que um pão francês custasse, no dia 1º de janeiro de 1993, Crz$ 0,20; no final do ano, esse 
produto estaria custando CZ$ 741,60. Essa situação é inimaginável quando não se tem a vivência inflacionária. 
Mas era exatamente assim que funcionava. Os salários eram expressos em milhões, e muitas vezes o espaço 
do cheque destinado ao preenchimento do valor não era suficiente, diante da grandeza do número. Como a 
inflação é o retrato de uma disputa distributiva, quem tem poder de repassar para preços de modo mais rápido 
o aumento de custo perde menos; quanto maior for o prazo dessa correção de preços, maior será a perda, e 
isso se refletia muito mais nos preços do fator de produção mão de obra, cujos reajustes de salários ocorriam 
em prazos prefixados pela legislação, fazendo esse custo recair mais sobre os trabalhadores assalariados.
Em 1994, com os mecanismos utilizados na implantação do Plano Real, a inflação se reduz. Conforme 
pode ser observado pelos resultados ilustrados na figura a seguir, a inflação ainda é elevada, em razão 
da manutenção da série histórica do IGP.
1990 1991 1992 1993 1994
1.477
480
1.158
2.708
1.094
Figura 16 – Índice Geral de Preços (IGP) – Brasil (1990‑1994)
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A partir de meados do ano de 1994, a métrica oficial da inflação passou a ser o Índice de Preço 
ao Consumidor Amplo (IPCA), o que permanece até o tempo atual. Como se tratava de metodologia 
diferente do IGP, a inflação de 1994 foi recalculada, e a inflação oficial do país, em 1994, foi de 18,57%. 
Em 1995, a taxa de inflação é superior (22,41%) à ocorrida no ano anterior, e nos anos seguintes a 
inflação atingiu patamares equivalentes aos de países desenvolvidos e, até 2012, manteve‑se em níveis 
relativamente baixos.
19
94
19
95
19
96
19
97
19
98
19
99
20
00
20
01
20
02
20
03
20
04
20
05
20
06
20
07
20
08
20
09
20
10
20
11
20
12
18,57
22,41
9,56
5,22
1,65
8,94
5,97
7,67
12,53
9,3
7,6
5,69
3,14 4,46
5,9
4,31
5,91 6,5 5,84
*Gráfico baseado nos dados do IBGE.
Figura 17 – Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – Brasil (1994‑2012)
Os anos de 1990 foram marcados por crises financeiras cuja perturbação propagou seus efeitos, 
como uma onda para o resto do mundo. Foi assim com as crises do México, da Ásia, da Rússia e a mais 
recente crise de 2008, com epicentro na economia americana. Isso porque, no fim dos anos de 1990, 
as atividades financeiras estavam tão interconectadas com os mercados domésticos que, para todos os 
efeitos, incluíam países desenvolvidos e em desenvolvimento, inclusive os países que pertenceram ao 
ex‑bloco de países comunistas (FRIEDEN, 2008, p. 410). O autor completa essa passagem ao afirmar que:
Agora era comum para os investidores internacionais incluírem grupos de 
países da América Latina, do Leste Asiático e da Europa Central e do Leste 
em suas carteiras de investimentos, pois esses países tinham conquistado 
algo próximo da associação plena à ordem econômica global. Agora, os 
fundos mútuos e de pensão poderiam considerar México, Hungria e Coreia 
em suas carteiras de investimentos tão rotineiramente quanto, por exemplo, 
a Siemens e a Unilever. O livre‑comércio e a OMC, a integração financeira 
e a ascensão dos mercados emergentes refletiam a consolidação de uma 
nova realidade econômica: a aceitação geral dos mercados globais de bens 
e capitais – ou globalização, no jargão comum (FRIEDEN, p. 2008, p. 411).
O Brasil dos anos de 1990 é promissor para o capital internacional. Com uma economia monitorada 
pelo FMI, inflação sob controle, internacionalização e desregulação e retorno ao regime democrático, o 
ambiente era atrativo para o capital internacional.
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A abertura comercial trouxe para o mercado nacional produtos concorrentes das empresas nacionais. 
Estas, por sua vez, para manterem‑se competitivas, teriam de empreender a modernização tecnológica, 
sob o risco de serem expulsas do mercado. Contudo, como não se faz mudança tecnológica a curto 
prazo e com as empresas endividadas, a alternativa é a venda de ativos às empresas estrangeiras, e 
desde então vem operando no país um processo de desnacionalização da economia brasileira pela 
transferência de capital por meio de fusões e aquisições, principalmente no setor industrial. Empresas 
tradicionais, do setor têxtil, de alimentos e bebidas, de brinquedos e do setor de metalurgia foram 
adquiridas por grandes grupos multinacionais. Esse recurso chegou na forma de investimento direto 
(compra de empresas brasileiras) ou na forma especulativa (aplicação em títulos do governo e no mercado 
de ações). As transnacionais, ao realizarem Investimento Externo Direto (IED), tendem a transferir para 
os países receptores tecnologias poupadoras de mão de obra. Foi o que aconteceu no Brasil. A compra 
de ativos e a introdução de novos equipamentos poupadores de mão de obra resultou no aumento da 
taxa de desemprego. Seguindo o receituário de Estado mínimo, o governo colocou à venda as empresas 
estatais que operavam em diversos setores, como: telefonia, siderurgia, eletricidade e extrativa mineral. 
Atualmente esses setores são controlados por importantes grupos empresariais multinacionais, como no 
caso da telefonia e da extrativa mineral.
A figura a seguir mostra o número de transações que ocorreram no Brasil entre 2000 e 2012. Esses 
números correspondem ao volume de empresas de capital majoritariamente estrangeiro que adquiriu 
de brasileiros o capital de empresas estabelecidas no Brasil. Percebam que esses números crescem a 
partir de 2007 e atingem seu maior volume em 2011. Em 2012, o volume de transações diminui, mas se 
mantém em posição superior à de 2009. Frieden (2008) traz uma estatística importante que permite 
compreender o movimento que ocorreu no Brasil como uma estratégia global das multinacionais. 
Segundo esse autor, em termos globais, em 2000, o investimento direto estrangeiro das empresas 
multinacionais (EMNs) girava em torno de US$ 1 trilhão ao ano, dos quais US$ 250 bilhões se 
destinavam às economias em desenvolvimento.
123 146 143 116 100
150
183
351
379
219
333
410
342
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
*Gráfico baseado em dados da KPMG.
Figura 18 – Número de transações de empresas de capital estrangeiro no Brasil (2000‑2012)
Esses movimentos serviram, na prática, para sustentar a internacionalização da economia 
brasileira. Filgueiras (2000, p. 117) expressa esse entendimento de outro modo, ao considerar que 
nunca antes a política econômica do Brasil havia sido tão determinada de fora para dentro do país 
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e de forma quase imediata, como no modelo econômico que foi construído para a implantação do 
Plano Real.
Esse processo também é a materialização da nova divisão internacional do trabalho. Assim, os 
países mais pobres, com mão de obra de baixa especialização e baixos salários, passaram a produzir 
manufaturados intensivos em mão de obra. Nas localidades onde a mão de obra era mais especializada, 
a produção concentrou‑se na fabricação de bens duráveis, como computadores, automóveis e 
equipamentos eletrônicos. A Índia passou a ser fornecedora de desenvolvimento de software.Outros 
serviram para prover a oferta de bens extraídos da natureza (matéria‑prima), como minério de ferro, 
cobre, energia, grãos e até mesmo produtos como frutas, legumes etc. Se o elemento “custo” deixar de 
ser atrativo outros territórios passam a ocupar esses espaços. A produção é flexível em termos territoriais 
e na forma pela qual está organizado o trabalho no interior da unidade de negócios, inclusive em seus 
países de origem.
Mas nem todos os países do mundo se integraram a essa divisão internacional do trabalho. A 
África Subsaariana é um exemplo de onde se localizam alguns dos países mais pobres do mundo. 
Mas, mesmo nas nações que se integraram, a história de sucesso não pode ser contada por todos. A 
abertura comercial, a inovação tecnológica, as aquisições, e a divisão internacional do trabalho foram 
em conjunto, ações que mudaram a gestão e a organização do trabalho; e, segundo Sennett (2000, 
p. 9), o significado do trabalho.
Segundo o Relatório Brundtland, os mesmos processos que promoveram as melhorias dos 
indicadores também carregaram muitas desvantagens no que se refere a desenvolvimento. Assim, em 
termos globais, o número de famintos tem aumentado, bem como o daqueles que não dispõem de 
água e moradia de boa qualidade. O mesmo ocorre com o número de analfabetos, e o fosso entre as 
nações ricas e as pobres, em vez de diminuir, aumenta (COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E 
DESENVOLVIMENTO, 1991, p. 2). Sitglitz (2002) afirma que a distância cada vez maior entre os que têm e 
os que não têm vem deixando um número bastante grande de pessoas no mundo subdesenvolvido num 
estado lamentável de miséria, sobrevivendo com menos de um dólar por dia. Como o objeto de interesse 
é o Brasil, os efeitos da globalização, do ponto de vista econômico e social, concentram‑se nas questões 
sociais, na tentativa de compreender as vantagens obtidas, do ponto de vista social da liberalização 
econômica, uma vez que os efeitos econômicos foram apresentados anteriormente.
8 A QUESTÃO SOCIAL NO CONTEXTO DA GLOBALIZAÇÃO
Para compreender os efeitos da liberação econômica do ponto de vista social, os indicadores são 
ferramentas que permitem compreender determinadas situações da realidade. Originário do latim 
indicare, significa descobrir, apontar, anunciar, estimar (BELLEN, 2006, p. 41). Os indicadores não revelam 
tudo, mas ajudam a interpretar a realidade para acompanhar o progresso de metas que se deseja atingir. 
Mas os dados estatísticos sozinhos não serão suficientes para interpretar a realidade se não forem 
interpretados num contexto social que envolve uma complexidade de relações que se interconectam, 
como econômica, cultural e social. Assim, nesta seção, o uso de indicadores permitirá compreender 
como o país se encontrava antes e depois da liberalização comercial, como forma de identificar se 
as promessas da globalização se aplicam ao Brasil. Para esse efeito, considera‑se o conceito de 
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desenvolvimento sustentável como o mais amplo que o de crescimento econômico. Quando se trata de 
entender desenvolvimento sustentável, é preciso ter em conta que a questão econômica é apenas parte 
dessa análise e que o processo necessita ser compreendido de modo sistêmico, a partir da interconexão 
das dimensões econômica, ambiental e humana.
A dimensão ambiental refere‑se ao meio ambiente. É dele que se retiram os recursos necessários 
à sobrevivência humana, e, para que ocorra desenvolvimento econômico, é preciso garantir que esses 
recursos que atendem ao bem‑estar da geração presente possam garantir o das gerações futuras. Por 
outro aspecto, as estratégias econômicas adotadas pelos países mais ricos são insustentáveis, pois coloca 
à margem o desenvolvimento de países que ainda não atingiram o mesmo nível de riqueza, e segundo 
o Relatório Brundtland, um mundo onde a pobreza é endêmica estará sempre sujeito a catástrofes 
ecológicas ou de outra natureza (COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO, 
1991, p. 9‑10).
Para compreender esse processo no cenário brasileiro, a análise focaliza‑se na forma pela qual 
a riqueza é distribuída entre seus membros. O índice de Gini é um indicador que mede o grau de 
desigualdade na distribuição da renda domiciliar per capita. Quanto mais próximo de zero, melhor é 
a distribuição de renda, e quanto mais próximo de 1, pior a distribuição de renda. Se o valor for zero, 
significará que não há desigualdade, ou seja, as rendas de todos os indivíduos têm o mesmo valor; se 
for igual a 1, significará que apenas um indivíduo detém toda a renda gerada na sociedade e a renda 
de todas as outras pessoas é nula. No caso brasileiro, o que se verifica é que, em 2012, na comparação 
com 1976, há uma melhora na distribuição de renda no país, mesmo considerando que ainda é uma 
renda muito concentrada. A título de compreenção, em 2010, o Gini para os Estados Unidos era de 
0,41; Alemanha: 0,31; Argentina: 0,44; Itália: 0,35; e a Finlândia, com 0,28, é o país com a melhor 
distribuição de renda entre os países selecionados.
0,48
0,50
0,52
0,54
0,56
0,58
0,60
0,62
0,64
0,66
19
76
19
77
19
78
19
81
19
83
19
85
19
87
19
89
19
90
19
93
19
95
19
97
19
99
20
01
20
03
20
05
20
07
20
09
20
11
20
12
0,46
0,53
0,55
0,56
0,57
0,58
0,600,59
0,600,600,60
0,61
0,64
0,600,600,60
0,58
0,60
0,620,62
0,53
*Gráfico baseado em dados do Ipeadata.
Figura 19 – Índice de Gini – Brasil
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FUNDAMENTOS DE ECONOMIA PARA AS CIÊNCIAS SOCIAIS
Como o capitalismo ainda não conseguiu introduzir um método eficiente de justiça social, compete 
ao Estado elaborar políticas de combate à pobreza. Segundo Pochmann (1999, p. 20):
Embora os excluídos sejam parte integrante da sociedade em cada país 
(estado de privação), estes tendem a se encontrar desprovidos das condições 
materiais que lhes possibilitem usufruir de benefícios socioeconômicos 
(emprego, rendimento) ou de condições institucionais (direitos e deveres) 
possíveis nos marcos do desenvolvimento capitalista.
Assim, é preciso atentar para o fato de que a industrialização no Brasil, apesar das melhorias que 
carreou no curso do seu ciclo de expansão, também gerou desigualdades que se perpetuam até os dias 
atuais, e o processo de inserção do país no mundo globalizado acentuou essas disparidades. Desse modo, 
a desigualdade não se apresenta apenas pela distância entre países ricos e pobres, mas também pelas 
desigualdades internas do ponto de vista regional e entre classes.
No caso brasileiro, além das desigualdades da renda do trabalho, o processo de industrialização 
criou centros regionais de crescimento desiguais. As concentrações industriais nas Regiões Sul e Sudeste 
promoveram crescimento da renda e do emprego, em relação a outras regiões menos industrializadas. 
Werner Baer (2002) considera que:
[...] à medida que a indústria e o comércio se concentram em um 
determinado centro, eles mesmos conferem a esse centro uma 
vantagem para o desenvolvimento posterior. Novas empresas se 
mostrarão inclinadas a se instalar nas regiões já em processo de 
desenvolvimento, a menos que haja razões especiais para procurar 
outras áreas, visto que economias externas vão investir nesses locais 
mais lucrativos. Tais economias externas compõem‑se de mão de obra 
especializada mais facilmente disponível e uma ampla variedade de 
bens e serviços complementares que não precisam ser importados 
(BAER, 2002, p. 348).
Essa desigualdade pode ser mensurada pelo PIB per capita regional. De acordo com os dados 
do IBGE,

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