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LEGISLAÇÃO COMERCIAL E SOCIETÁRIA AULA 4 Prof. Karla Regina Quintiliano Santos 2 CONVERSA INICIAL Olá! Bem-vindo a mais uma aula da disciplina de Legislação Comercial e Societária. Nela estudaremos os títulos de crédito, que são documentos que representam obrigações pecuniárias. Eles têm como finalidade fomentar a economia com base na confiança. Negociações ocorrem deste a antiguidade: por meio de escambo, por sal, ou mesmo por moeda (e papel-moeda), entretanto os títulos de câmbio surgiram somente na Idade Média, com o propósito de facilitar e movimentar mais a economia. Essas mudanças econômicas refletem em normatizações jurídicas, que se modificaram ao longo do tempo. Os títulos de crédito estão presentes em nossas vidas, haja vista que muitos de nós têm conta em banco, talão de cheques, assinamos notas promissórias, entre outros. Em nossas aulas analisaremos, de forma mais aprofundada, a legislação, suas características e a relação entre o mercado e os títulos de crédito, considerando a importância das leis para assegurar direitos aos usuários destes documentos em um mercado capitalista. Bom estudo! Saiba mais No Brasil, existe cheque pré-datado? Lembrando que esse título de crédito é uma ordem de pagamento à vista. Conforme a Súmula 370: “Caracteriza dano moral a apresentação antecipada de cheque pré-datado." CONTEXTUALIZANDO Antigamente, as negociações eram baseadas em escambo, ou seja, a troca (ou permuta) de objetos ou serviços. Depois, o sal era a ferramenta que movimentava o mercado. Com o passar do tempo, para facilitar as trocas, surgiu o dinheiro (na forma de moeda, e depois de papel-moeda). No comércio, a principal forma de pagamento é o dinheiro. Por isso, para se adquirir qualquer coisa no mercado é necessário tê-lo. Posteriormente, a economia monetária deu lugar para o crédito, que movimenta as mercadorias sem que o pagamento seja feito de imediato. 3 Os títulos de crédito surgem na Idade Média, com os burgos. Tais títulos atualmente são utilizados de forma massiva, principalmente pelos usuários de bancos e de instituições financeiras. Entretanto, os títulos de crédito não são considerados dinheiro, mas sim documentos que representam uma obrigação que deve ser paga em dinheiro. Esses títulos permitem que, na negociação, uma das partes entregue um bem ou serviço, e a outra futuramente paga uma prestação (em dinheiro), sendo que essa situação só se concretiza por meio da confiança entre as partes. Em suma, o título de crédito tem como finalidade a circulação de riqueza de forma ágil, baseada na confiança entre as pessoas da negociação. TEMA 1 – TÍTULOS DE CRÉDITO Conforme Cesare Vivante, título de crédito é um instrumento imprescindível para a realização de um direito, literal e autônomo, que nele está escrito. Neste mesmo sentido, o Código Civil de 2002, art. 887, traz o seguinte conceito “o título de crédito, documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei”. Observa-se que esses documentos são independentes pois não necessitam de nenhum documento complementar para ter validade. Neste sentido, verifica-se o princípio da independência. Entretanto, o princípio da legalidade está ligado à ideia de que os títulos de crédito estão previstos na legislação, e só serão assim denominados tendo isso definido em lei. Dentre as principias características dos títulos de crédito estão que sua propriedade é comercial, e sua função é movimentar a economia de forma segura, com base na confiança. Em suma, o título de crédito pode ser entendido como um documento que alude a uma ou mais obrigações literais e independentes, que permite a seu portador (a pessoa que o possui) receber o valor que nele consta em face da pessoa que o emitiu, podendo ainda o título ser negociado e executado judicialmente. Pode-se concluir ainda que os títulos de crédito são documentos formais, pois devem seguir os parâmetros dados pela legislação cambiária. São bens móveis, conforme dito nos art. 82 a 84 do Código Civil, e são títulos necessários para obtenção dos direitos neles contidos. Por fim, são títulos executivos 4 extrajudiciais, pois constituem uma obrigação líquida e certa, porém deve ser reclamada, pois é uma obrigação quesível. A relação cambiária que nasce com o título se findará no momento em que o título for resgatado, ou seja, quando for pago, lembrando que nos referimos a um pagamento futuro. Sua finalidade, portanto, é a circulação de crédito. Analise o quadro abaixo e verifique os princípios e características mais importantes do Título de Crédito. TÍTULOS DE CRÉDITO Princípios Características Cartularidade Literalidade Autonomia Natureza comercial Documento formal Títulos de apresentação Título executivo extrajudicial Título de resgate Título de circulação Obrigações quesíveis Natureza de bem móvel Princípio da cartularidade A cartularidade, também chamada de incorporação, é a corporificação do direito em uma declaração por escrito. Neste sentido, verifica-se que esse princípio está presente nos títulos de crédito, pois estes são documentos importantes para a realização do direito neles mencionado. Em suma, sem a apresentação de sua materialidade não existe o direito ao crédito neles contido. Segundo esse princípio, quando o devedor estiver com a posse do título pressupõe-se o seu pagamento. Só se pode executar o título se ele for apresentado. Não é possível substituí-lo nem mesmo por cópia autenticada. Atualmente, os títulos de crédito estão sendo desmaterializados, principalmente por causa do desenvolvimento tecnológico, gerando títulos de crédito magnéticos, que, portanto, não seguem o princípio da cartularidade. O art. 889, parágrafo 3º, traz que os títulos de crédito podem ser gerados por computador, porém devem ter os requisitos básicos estipulados em lei. Neste sentido, verifica-se a criação de títulos de crédito sem seguir o princípio da cartularidade. 5 Princípio da literalidade O princípio da literalidade é o valor expresso no documento que se refere ao crédito que será pago literalmente para ao portador do título. Em outras palavras, o princípio da literalidade gera efeitos jurídicos perante o legítimo portador, na proporção do conteúdo do título. O credor pode solicitar, portanto, o valor total expresso no documento. O princípio da literalidade assegura que o título de crédito possa circular no mercado, e a quem o receber, que tenha a ciência do valor do crédito com uma simples leitura no documento. Caso o documento seja pago parcialmente, este ato deve constar no título, pois caso não ocorra este registro, o documento poderá ser protestado pelo valor total devido ao princípio da literalidade. Princípio da autonomia O título de crédito é um documento autônomo quanto à relação de crédito que o originou, ou seja, o portador do documento pode exercer o direito de crédito sem necessariamente ter qualquer vínculo com a origem da relação de crédito. Outro ponto a ser ressaltado, é que esse documento está desvinculado de qualquer vício ou defeito que eventualmente aconteceu na relação cambiária. Em suma, o título de crédito representa um documento que estabelece um direito novo, que não se vincula a nenhum outro ato ou comprovação, bem como está desvinculado da relação originária. Assim, o direito incorporado no título de crédito não temvinculação, pois a sua retenção legítima caracteriza a existência de um direito próprio, inabalado por relações anteriores à sua detenção. Perceba que se um título está em circulação pelo mercado por meio do endosso, a relação inicial que o gerou não pode influenciar no direito que está circulando, pois esse tem validade independente, ou seja: o princípio da autonomia. Esse princípio é considerado o mais importante do regime cambial, haja visto que, sem ele, os títulos de crédito não poderiam ser considerados negociáveis e circulantes, pois ninguém teria segurança para recebê-los sem uma prévia investigação na origem da relação cambiária que lhes deu origem. 6 Dentro deste princípio existem dois outros subprincípios: o da abstração e o da inoponibilidade das exceções pessoais ao terceiro de boa-fé. Subprincípio da abstração Todo o título de crédito é emitido por algum motivo: pode ser uma compra e venda que nem sempre é declarada no corpo deste documento, e por isso, caso não se saiba, tampouco conste nele o motivo que o gerou, este se torna um documento totalmente abstrato, e na circulação do mercado o título não terá nenhum tipo de indicio da relação que o originou. Neste sentido, a circulação é primordial para que ocorra a abstração de um título de crédito; em outras palavras, para que o título seja abstrato, esse deve se desvincular do negócio originário. Por consequência esse documento será vinculado à pessoa que o possui, e não mais à sua origem. O subprincípio da inoponibilidade das exceções pessoais Esse princípio refere-se à defesa do terceiro de boa-fé, dada a autonomia deste documento, ou seja, caso o título de crédito em circulação não seja pago, o titular do direito não poderá chamar ao processo o indivíduo que originou a relação cambiária, pois o portador legitimo não se vincula a um negócio do qual não participou. Pelo princípio da autonomia, o portador deste título de crédito possui um documento no qual está contido um direito próprio e autônomo, totalmente desvinculado das relações cambiárias que o antecederam, haja vista o subprincípio da abstração. Esse subprincípio está previsto no art. 17 do Decreto 57.663, de 24 de janeiro de 1966 (Lei Uniforme), e no art. 916 do Código Civil, que estabelecem que a fundamentação para o não pagamento do título de crédito, não pode ser baseada nas relações cambiárias originárias. Os títulos de crédito podem ser classificados com base em vários critérios. Entre eles: Transferência ou circulação Título ao portador: está previsto no art. 904 do Código Civil, e se refere àquele título que não tem a identificação do credor, logo, a transferência da posse do documento passa também à titularidade do crédito. Neste sentido, a circulação ocorre por mera tradição. 7 Título nominal: tratado pelo art. 910 do Código Civil, é aquele título de crédito que traz consigo a identificação do titular do crédito. Portanto, a simples entrega do documento não transfere o direito ao crédito. Assim, para se transferir o crédito é necessário o ato formal da transferência da titularidade, que pode ser o endosso, nos casos de títulos nominais com cláusula “à ordem”. Títulos nominativos: são regidos pelo art. 921 do Código Civil. Esses títulos de câmbio são emitidos em favor de uma determinada pessoa, e o registro do emitente também estará vinculado a essa mesma pessoa. Logo, a transferência só ocorre por meio de termo no citado registro, o qual deve ser assinado pelo emitente e pelo adquirente, conforme o art. 922 do Código Civil. Modelo Título de modelo livre: quando a legislação não traz em seu conteúdo a forma especifica que o título de crédito deve ter, esses documentos podem ser feitos de qualquer forma. Título de modelo vinculado: são os títulos que só são validos se forem feitos com os requisitos que a lei exige, logo, são padronizados pela lei cambiária. Estrutura Ordem de pagamento: os títulos cambiários que são considerados ordem de pagamento são aqueles que possuem três características jurídicas diferentes: a existência do sacador (que ordena o pagamento); sacado (a pessoa contra quem o título de crédito é emitido) e, o tomador (aquele que recebe o pagamento). Promessa de pagamento: na relação cambiária dos títulos que se estruturam como promessa de pagamento, existem apenas dois elementos: o sacador (que promete pagar a quantia) e o tomador (beneficiário). Emissão Título causal: o título mantém conexão com a origem e com a obrigação que lhe deu origem. 8 Abstrato: o título não menciona em seu corpo o motivo que lhe deu origem, ou seja, não tem ligação com a obrigação inicial. Lembramos ainda que os títulos de crédito são documentos que não são vinculados a outros atos ou comprovações para que o possuidor do título exerça seu direito. Os principais títulos de créditos elencados na doutrina jurídica são: letra de câmbio, nota promissória, cheque e duplicata. TEMA 2 – LETRA DE CÂMBIO A letra de câmbio tem sua origem na Idade Média, na Itália, juntamente com os burgos, que tinham cada um suas próprias políticas independentes e moedas. Por essa razão, as operações cambiais proliferaram, e em consequência destes movimentos sociais e econômicos, surge a letra de câmbio. Neste cenário, o comerciante do burgo realizava operações em várias cidades autônomas, o que fazia com que fosse pago com moeda local. Após fazer transações em diversos burgos diferentes, o comerciante trocava todo o seu dinheiro em um banco, e neste o banqueiro lhe entregava uma carta (littera cambii), que ordenava a outro banqueiro pagar ao portador deste documento a quantia pré-estabelecida na carta. A letra de câmbio é um título de crédito que poder ser classificado como uma ordem de pagamento, pois tem a figura do sacador, do sacado e do tomador, porém não é necessário que essa relação seja constituída por três pessoas distintas. Conforme a Lei Uniforme define, a letra pode ser sacada à ordem do próprio sacador; sobre o próprio sacador; ou por ordem e conta de terceiro. Perceba que no primeiro caso o sacador e o tomador são a mesma pessoa na relação cambiária, pois, a pessoa que emitiu também é a beneficiária. No segundo, é o sacador e o sacado que são o mesmo indivíduo, portanto, o título de crédito é emitido pelo sacado contra si mesmo. Por fim, o terceiro caso refere-se à existência de três pessoas que ocupam três posições distintas na relação cambiária, isto é, o sacador ordena que o sacado pague a quantia escrita na letra de câmbio para o tomador. 9 Segundo os artigos 1º e 2º da Lei Uniforme, os itens que a letra de câmbio deve conter são: O termo “letra de câmbio”; A quantia determinada a ser paga; O nome do sacado; O nome do tomador; Assinatura do sacador; Data do saque; O lugar do pagamento. A legislação observa que o valor da letra de câmbio a ser pago deve ser feito em moeda nacional. Além disso, a Súmula 387 do Supremo Tribunal Federal (STF) estabelece que as letras podem ser aceitas incompletas ou em branco, devendo ser preenchidas pelo credor de boa-fé. Sobre essa mesma diretriz, o art. 891 do Código Civil ressalta que as lacunas na letra de câmbio podem ser preenchidas à medida em que a relação cambiária for se realizando. Outro ponto importante é que se a data do saque não estiver clara na letra, esta será considerada à vista. O aceite é uma declaração do sacado se comprometendo a efetuar o pagamento da quantia determinada na letra de câmbio, nadata determinada no título de crédito. Após efetuar o aceite no próprio documento, o aceitante se vincula à obrigação cambial, tornando-se o principal obrigado. Neste sentido, o sacado, a princípio, não possui a obrigação; só após o aceite é que esse fica condicionado à obrigação cambial de pagar. Portanto, o aceite é facultativo, mas não pode ser revogado. Por sua vez, a recusa do aceite parcial ou total por parte do sacado gera efeitos para o sacador e para o tomador: a cobrança, imediata, do pagamento da letra de câmbio pelo tomador contra o sacador. É importante ressaltar que quando o aceite é parcial, o sacado vincula-se à obrigação cambial, ao contrário de quando a recusa é total; neste caso, o sacado não cria nenhum tipo de vínculo. Há dois tipos de aceite parcial: o aceite limitativo (aceita apenas uma parte do valor indicado na letra de câmbio) e o aceite modificativo (o sacado modifica algumas das condições de pagamento do título). Para que não ocorra o pagamento antecipado por falta do aceite, é necessário que o sacador coloque no corpo da letra de câmbio a cláusula “não 10 aceitável”, a qual impõe ao tomador a condição do tomador de procurar o sacado somente na data do vencimento. Caso o tomador procure o sacado antes da data do vencimento e ocorra a recusa do aceite por parte do deste, a data de vencimento não será antecipada. A letra de câmbio pode ser classificada em quatro espécies, conforme o vencimento deste título. Vencimento com dia certo – refere-se à letra de câmbio que tem uma data estabelecida pelo sacador posterior à data do saque. Vencimento à vista – nesta situação, a letra de câmbio vence no dia da apresentação para o pagamento. Não está prevista no corpo da letra de câmbio uma data para o seu vencimento. Vencimento a certo termo da vista – são as letras de câmbio que têm prazo para o vencimento, estabelecido pelo tomador, porém esse prazo começa a contar depois do aceite. Vencimento a certo termo da data – alude às letras de câmbio cujo prazo começa a contar a partir de sua emissão. Outro ponto importante é o prazo de apresentação e de pagamento da letra. Neste contexto, é relevante lembrar que a letra de câmbio é entregue ao tomador, que deverá levar ao sacado para que este realize o aceite. Em tese, o pagamento da letra de câmbio deverá ser o dia estabelecido expressamente no corpo do título de crédito. Caso não esteja expresso, a data de emissão do documento será a mesma de pagamento. Porém é importante ressaltar que se esse dia recair em dia que não for considerado útil, a data de vencimento será o próximo dia útil. Após a data de vencimento começa a correr o prazo para o protesto, que no caso da letra de câmbio, conforme o art. 44 da Lei Uniforme, será de dois dias após o vencimento. TEMA 3 – NOTA PROMISSÓRIA A nota promissória, conforme a classificação dos títulos de crédito, é uma promessa de pagamento de certa soma em dinheiro. O indivíduo que emite o título de crédito nota promissória garante ao credor que o devedor irá pagará o valor negociado em tempo determinado. 11 Conforme a Lei Uniforme, art. 75, são requisitos essenciais para a nota promissória: A presença da expressão “nota promissória” inserida no corpo do documento, escrita no idioma do país em que foi emitida; Uma promessa “pura e simples”, ou seja, sem nenhuma condição de pagamento; O nome do tomador; A data do saque; A assinatura do subscritor, que deve estar abaixo do contexto; O lugar do saque, que equivalerá ao local escrito do lado da assinatura. É importante destacar que se a nota promissória estiver incompleta será utilizada a Súmula 387 do STF, que estabelece que o título pode ser completado pelo tomador de boa-fé. Outro ponto a ser ressaltado é que a nota promissória pode vir expressamente à cláusula, não à ordem, bem como se houver ou não data informada, será considerada à vista. A lei que regulamenta a emissão de notas promissórias é a mesma para as letras de câmbio, ou seja, a Lei Uniforme de Genebra, incorporada ao ordenamento jurídico brasileiro pelo Decreto 57.663/1966. Todavia, é importante destacar que, conforme o Decreto 2.044, de 31 dezembro de 1908, a letra de câmbio é uma ordem de pagamento, enquanto que a nota promissória é uma promessa de pagamento. Neste contexto, as regras do aceite não são aplicáveis para as notas promissórias. Entretanto, no que se refere ao vencimento da nota promissória, verificam-se as quatros modalidades da letra de câmbio: sacada com dia certo, à vista, a certo termo da data, e sacada a certo termo da vista. No que se refere à última modalidade – sacada a certo termo da vista – o art. 78 da Lei Uniforme dita que o documento deverá ser levado para o visto do subscritor no prazo de um ano a contar do visto, sem mais contar o prazo de vencimento, ficando o subscritor responsável pelo pagamento. O prazo de prescrição da nota promissória é igual à da letra de câmbio, ou seja, é regido pelo artigo 70 da Lei uniforme que traz três anos após a data do vencimento. A nota promissória é um título cambiário utilizado em contratos bancários ou não. Neste sentido, nesta deve constar a vinculação com o contrato ao qual 12 se conecta. Quando ocorre esta vinculação, o título de crédito perde a característica de abstração, porém o terceiro tem conhecimento da origem deste documento. Ou melhor, com a vinculação da nota promissória ao contrato, relativiza-se o princípio da abstração, visto que o contrato não descaracteriza sua liquidez, continuando este a ser um título executivo extrajudicial, mantendo desta maneira sua executoriedade. Essa perspectiva muda quando o título de crédito (nota promissória) está atrelado a um contrato de abertura de crédito, pois o título se torna ilíquido, conforme presente na Súmula 233 do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Todavia, com intenção de operacionalizar os títulos de crédito vinculados aos bancos, os legisladores editaram a Lei nº 10.931/2004, que criou a cédula de crédito bancário. TEMA 4 – CHEQUE: CONCEITO, REQUISITOS, CIRCULAÇÃO, MODALIDADES, PRAZO DE APRESENTAÇÃO, PRESCRIÇÃO E AÇÃO Cheque é um título de crédito que se refere a um pagamento à vista, emitido por uma pessoa jurídica ou física, em favor próprio ou de terceiros, contra um banco, cujo emitente tem um contrato com a instituição bancária que o autoriza a utilizar seus fundos para o pagamento deste documento. Neste sentido, verifica-se que esse título de crédito é um documento vinculado, pois refere-se a uma cédula emitida pelo banco, cujas determinações são estabelecidas pelo Banco Central. O dispositivo jurídico que versa sobre o cheque é o Decreto nº 57.595/1966 (Lei Uniforme do Cheque), e a Lei nº 7.357/1985. A Lei Uniforme do Cheque, em seu art. 1º apresenta as condições essenciais para a emissão deste título de crédito: A expressão cheque; A ordem incondicional de pagamento de quantia determinada; O nome da instituição financeira; A data do saque; O lugar do saque, sendo válido o local escrito junto ao nome do emitente; Assinatura do emitente. Sobre o valor, é importante destacar que deve ser grafado de forma precisa, tanto na forma numérica quanto por extenso, segundo o artigo da Lei do 13 Cheque. Entretanto, se houver divergências, prevalecerá o valor escrito por extenso. No que se refere à data do saque do cheque, por ser uma ordem de pagamento à vista, fica condicionado para o dia da emissão deste documento. Todavia, no Brasil, foi consolidado pelo mercado que os chequespodem ter datas – negociadas na relação cambiária pelas partes – posteriores à data de emissão para o seu saque, logo, estamos falando dos cheques pré-datados. A localidade que deve constar no cheque deve ser exatamente o local onde o emitente está quando preenche este título, pois esse dado será relevante para o prazo que o credor tem para apresentar o título no banco. Para terem validade, é necessário que todo cheque seja assinado por seu o emitente, e a instituição bancária deverá conferir a assinatura para efetuar o pagamento. O cheque possui importantes características, as quais destacamos: não possui limite para endosso, porém, a instituição financeira tem obrigação legal, conforme o art. 39 da Lei do Cheque, de verificar a regularidade de todos os endossos feitos no documento apresentado. No caso em que o cheque for falso, falsificado ou roubado, e for pago pelo banco sacado, será de reponsabilidade exclusiva da instituição financeira, salvo se for verificado o dolo ou a culpa do emitente, do endossante ou do beneficiário. Outra característica deste título de crédito é que o cheque pode ser ao portador desde que não superior a R$ 100,00 (cem reais), conforme o art. 69 da Lei nº 9.069/1995. Neste sentido, o Código Civil traz um rol de normas que regulamenta a emissão de títulos de crédito ao portador. Ainda sobre as características do cheque, destaca-se a autonomia relativa, conforme o Superior Tribunal de Justiça. Pois no caso de descoberta de fraude notória após a verificação, o seu pagamento pode ser suspenso, mesmo que esteja o título de crédito com um terceiro de boa-fé. O cheque tem ainda como característica, por ser um título de crédito, a clausula à ordem, admitindo sua circulação em caso de endosso. Porém, o emitente pode fazer constar a expressão cláusula não à ordem, logo não poderá esse documento circular por meio de endosso; nesse caso, será regido pelos art. 21 e 25 da Lei do Cheque. Por fim é valido ressaltar que o cheque não tem aceitação obrigatória pelos estabelecimentos comerciais, conforme o Superior Tribunal de Justiça. Todavia, o STJ ressalta que se o estabelecimento receber o pagamento por cheque, só poderá recusar de outro emitente por justa causa. 14 As modalidades dos cheques são: Cheque cruzado – prevista nos art. 44 e 45 da Lei do Cheque, consiste de dois traços transversais e paralelos no corpo do cheque, e tem como finalidade de indicar que o documento seja depositado em conta bancária, e por consequência tenha rastreabilidade. O cruzamento pode ser em branco e preto, sendo a diferença que no primeiro caso o emitente coloca somente dois traços paralelos no corpo do documento e no caso do cruzado em preto, entre os dois traços existe a indicação do banco, e neste caso só poderá ser pago o cheque ao banco e ao correntista que estiver indicado dentro do cruzado. Cheque visado – está previsto legalmente no art. 7º da Lei do Cheque; a denominação “visado” é dada como um reconhecimento por parte da instituição financeira de que na data prevista no cheque, há recursos financeiros suficientes na conta do emitente para o pagamento do cheque. Quando o banco faz o visto, se compromete a separar a quantia prevista para o pagamento. Cheque administrativo – previsto no art. 9º, inciso III da Lei do Cheque, refere-se ao título de câmbio: cheques cujo emitente e o sacado são o banco, logo o cheque é emitido pelo banco contra ele mesmo para ser pago em uma das suas agências. Os art. 35 e 36 da Lei do Cheque estabelecem que o pagamento do cheque pode ser sustado por revogação ou por oposição. A revogação pode ser feita por ordem judicial ou extrajudicial, e seus efeitos só terminam após o prazo de apresentação. Sobre a oposição, é importante ressaltar que pode ser feita mesmo durante o prazo de apresentação, o qual, por escrito, o emitente deve fundamentar o motivo que está solicitando a oposição. Neste contexto, vale a pena verificar o parágrafo 2º do art. 36, que aponta que não cabe ao banco analisar e julgar os motivos que levaram o emitente a pedir que o cheque seja sustado, nem mesmo solicitar documentos estatais. Caso o emitente esteja agindo de má-fé, caberá ao prejudicado requerer a sua responsabilização. É importante lembrar que o cheque é um título de crédito cujo o pagamento é à vista, porém, conforme o art. 47, inciso II da Lei do Cheque, o prazo de apresentação do cheque pode ser diferente, dependendo do caso. Neste sentido, quando for da “mesma praça”, o prazo para o credor apresentar 15 o cheque é de 30 dias. Entretanto, se for “de praça diferente”, o prazo será de 60 dias. Nos dois casos, o prazo de apresentação do cheque começa a contar a partir de sua data de emissão. O prazo de apresentação, é importante, visto que após esse prazo o credor perde o direito de executar o emitente, e não apenas o codevedor, conforme o Supremo Tribunal de Justiça, caso o eminente prove que tinha fundos para o pagamento do cheque no prazo de apresentação. O cheque, como dito, é um título executivo extrajudicial, logo, se o emitente não pagar seu credor, poderá ser executado por ele. Todavia, conforme o art. 59 da Lei do Cheque, o prazo para ocorrer essa execução é de seis meses após o prazo de apresentação. É importante destacar que os cheques pré-datados apresentados antes da data acordada têm como início do prazo de prescrição a data que o título foi levado para o banco para ser descontado. Quando o cheque estiver prescrito não poderá ser executado, entretanto, a Lei N° 7.357/ 1985, art. 61, possibilita uma ação contra o emitente e demais coobrigados, visando a que as pessoas não tenham enriquecimento ilícito, determinado que o prazo para executar o devedor é de dois anos a partir do término do prazo prescricional. TEMA 5 – DUPLICATA: FATURA, REQUISITOS, CAUSALIDADE NA DUPLICATA MERCANTIL, ACEITE, PROTESTO, TRIPLICATA, PRESCRIÇÃO E AÇÃO A duplicata é um título de crédito pouco aceito no Brasil, principalmente pelo aceite ser facultativo, o que faz com que o portador desse documento seja refém da boa-fé do devedor. O grande diferencial da duplicata em relação aos demais títulos de crédito, principalmente a letra de câmbio, é o aceite obrigatório. A legislação que rege esse título de crédito é a Lei 5.474/1968 e o Decreto-Lei nº 436/1969. A duplicata, pode ser classificada como um título casual, pois só pode ser utilizada para relações jurídicas estabelecidas em lei que são: Compra e venda mercantil; Um contrato de prestação de serviços. Somente para as relações mercantis estabelecidas acima é que podem ser emitidas duplicatas. O Superior Tribunal de Justiça julgou improcedente a 16 utilização de duplicatas em contratos de leasing, conforme o Recurso Especial (REsp) nº 202.068-SP, Rel. Min. Ruy Rosado, j. 11.05.1999, Informativo 18/1999. Neste sentido, pode-se entender que a duplicata se difere do cheque, pois esse título não pode ser utilizado em qualquer relação jurídica vinculada à relação que origina esse documento, pois para ser válida deve ter o aceite para gerar a obrigação do pagamento. Logo, a duplicata também possui o princípio da abstração, porém, o que ocorre é que devido à casualidade a duplicata deve seguir as determinações legais para poder ser válida. A casualidade do título de crédito estava prevista no art. 172 do Código Penal, que previa como crime emitir e aceitar duplicata que não fosse originária de uma relação mercantil de compra e venda ou contrato de prestação de serviços. Entretanto, em 1990, quando a Lei nº 8.137/1990 modificou esse artigo, prevendocomo crime o ato de “Emitir fatura, duplicata ou nota de venda que não corresponda à mercadoria vendida, em quantidade ou qualidade, ou ao serviço prestado.” Como característica da duplicata, além de ser um documento causal, temos que seu modelo é vinculado. Para ser emitido, deve seguir os seguintes requisitos, conforme determinação do Conselho Monetário Nacional, previsto no artigo 2º da Lei das Duplicatas, que são: A presença da expressão “duplicata” em seu corpo; A cláusula “à ordem”, que permite a circulação por meio do endosso; Data da emissão, que deverá ser a mesma da data da fatura; Os números da fatura e da duplicata; O nome e o domicílio do sacador; O nome, o domicílio e o número de inscrição no cadastro de contribuintes do sacado; O valor a ser pago, por extenso e em algarismos; O local do pagamento; O local para o aceite do sacado; A assinatura do sacador. Diferentemente das notas promissória e das letras de câmbio, as duplicatas só podem ser comercializadas se emitidas com dia certo ou à vista, 17 não podendo ser com vencimentos a certo termo da vista e nem a certo termo da data. A duplicata à vista deverá ser emitida para a pessoa que efetuou a compra para realizar o devido pagamento. Todavia, se a duplicata for a prazo, essa deverá ser enviada para o sacado para que aceite e devolva. Percebe-se que a duplicata é uma ordem de pagamento. Ressaltamos ainda que o aceite da duplicata é obrigatório. Neste sentido, a duplicata deverá ser emitida conforme os dados da nota fiscal ou da fatura correspondente à venda; o devedor é obrigado a aceitá-la, e mesmo que não faça o aceite de forma expressa, assumirá a obrigação constante no título. No entanto, a legislação prevê algumas possibilidades em que a duplicata possa ser recusada, porém é necessário um motivo relevante, como previsto no art. 8º da Lei 5.474/1968 (Lei da Duplicata): O comprador só poderá deixar de aceitar a duplicata por motivo de: I - avaria ou não recebimento das mercadorias, quando não expedidas ou não entregues por sua conta e risco; II - vícios, defeitos e diferenças na qualidade ou na quantidade das mercadorias, devidamente comprovados; III - divergência nos prazos ou nos preços ajustados. A duplicata é um título de crédito, e deve ser emitida pelo próprio vendedor como consequência de uma relação mercantil de compra e venda. Todavia, é importante destacar que podem ser emitidos outros títulos de crédito nesta mesma relação, não sendo obrigatório o uso da duplicata. O art. 6º da Lei da Duplicata sistematiza a sua remessa, estabelecendo que o envio da duplicata pelo credor, ou por intermédio de seu representante legal para o devedor no local estabelecido, que deverá devolver o documento assinado para o seu credor. Em posse deste documento assinado, o vendedor deverá conservá-lo até o resgate do comprador. Os parágrafos 1º e 2º desse mesmo artigo complementam essa sistematização, informando que o credor terá o prazo de 30 dias, contados da emissão do título, para a enviar ao devedor. Se a remessa ocorrer por meio de um intermediário, o prazo passa a ser de dez dias contados da data de seu recebimento na praça de pagamento. A Lei nº 5.474/1968, artigo 7º prevê que se o título de crédito (duplicata) não for à vista, deverá o comprador devolver esse no prazo de dez dias, contando a data do seu recebimento. E, se não houver o aceite, o comprador 18 deverá declarar, por escrito, os motivos pelos quais não fez o aceite, devendo tal declaração ser assinada. Perceba, que o aceite da duplicata pode ser: Expresso (ordinário) – no qual o devedor assina no local indicado, no próprio título. Presumido (por presunção) – é aquele no qual o devedor não faz nenhuma assinatura no título de crédito; todavia, recebe a mercadoria sem nenhum tipo de reclamação. A diferença entre o aceite presumido e o expresso está na execução da duplicata, pois quando o aceite é expresso esse documento será considerado um título de crédito perfeito e bem-acabado, e por consequência poderá ser executado sem nenhuma formalidade, bastando apenas a apresentação do título. Contudo, quando o aceite é presumido, para que esse possa ser protestado o credor deverá provar que entregou as mercadorias vendidas, conforme o art. 15 da Lei da Duplicata. O protesto pode ocorrer em três motivos, conforme estabelece a Lei nº 5.474/1968, art. 13. São eles: Por falta de aceite; Por falta de devolução; Por falta de pagamento. Segundo o que está previsto no art. 17 da Lei de Duplicatas, o local onde o credor poderá entrar com o processo de protesto, bem como o foro da ação de execução, é o mesmo local que consta no título, e no qual deve ocorrer o pagamento. Outro ponto importante sobre o protesto, está indicado no art. 13, parágrafo 1.º, da Lei nº 5.474/1968, que dita que o protesto por indicações – que ocorre em caso da não devolução da duplicata por parte do comprovador. Neste caso, o credor deverá fornecer ao cartório as informações da duplicata, que deverão ser as mesmas da fatura e do Livro de Registro de Duplicatas. Nos casos em que não ocorre a devolução da duplicata e para que o credor mantenha seu direito de protesto, é necessário que se comprove a entrega das mercadorias e se faça o protesto por indicações, e por consequência poderá ajuizar a execução deste título. Perceba que neste momento ocorre a exceção do 19 princípio da cartularidade, visto que ocorrerá uma execução sem o título propriamente dito. Caso ocorra a perda ou o extravio da duplicata por parte do devedor, o art. 23 da Lei da Duplicata, prevê que o credor poderá emitir uma triplicata, porém muitos credores a emitem também como consequência da retenção, o que em tese, estaria errado. Porém, a triplicata é aceita sem prejuízo. No que se refere aos prazos de prescrição para a execução da duplicata, conforme o art. 18 da Lei das Duplicatas, eles são: Três anos contra o devedor principal e seus avalistas; Um ano contra os codevedores e seus avalistas, e em um ano entre os codevedores. TROCANDO IDEIAS Leia o artigo “Sistema de garantia de crédito para micro e pequenas empresas no Brasil: proposta de um modelo”, de Roberto Marinho Figueiroa Zica e Henrique Cordeiro Martins, disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034- 76122008000100009>. NA PRÁTICA Questão 1 (Banca FCC – 2013) A nota promissória I. é um título de crédito que consiste em promessa de pagamento, consubstanciada em documento escrito e de natureza cambiária. II. que não indicar a época do vencimento será pagável à vista. III. admite o endosso, por se tratar de uma promessa de pagamento, mas não o aval. Está correto o que se afirma APENAS em a) I e II. b) I e III. c) II e III. d) I. e) III. 20 Gabarito: A - Decreto 2044 de 1908. Art. 54. § 2º Será pagável à vista a nota promissória que não indicar a época do vencimento. Será pagável no domicílio do emitente a nota promissória que não indicar o lugar do pagamento. Art. 14. O pagamento de uma letra de câmbio, independente do aceite e do endosso, pode ser garantido por aval. Para a validade do aval, é suficiente a simples assinatura do próprio punho do avalista ou do mandatário especial, no verso ou no anverso da letra. Questão 2 (Banca FCC – 2014) O cheque, quando emitido no lugar onde houver de ser pago, deve ser apresentado para o pagamento, a contar do dia da emissão, no prazo de: a) 6 meses. b) 30 dias.c) 60 dias. d) 90 dias. e) 180 dias. Gabarito: C - Lei 7357/85 Art. 33 O cheque deve ser apresentado para pagamento, a contar do dia da emissão, no prazo de 30 (trinta) dias, quando emitido no lugar onde houver de ser pago; e no prazo de 60 (sessenta) dias, quando emitido em outro lugar do País ou no exterior. Questão 3 (Banca CESGRANRIO – 2012) O cheque é considerado pelo Banco Central uma ordem de pagamento à vista e um título de crédito com características peculiares. O cheque cruzado, por exemplo, poderá ser pago somente em forma de a) depósito em conta. b) documento de crédito (DOC). c) saque direto no caixa. d) ordem de pagamento. e) transferência eletrônica direta (TED). Gabarito: A. O cheque somente pode ser pago mediante crédito em conta. 21 Questão 4 (Banca FCC – 2011) No que tange à duplicata: a) o comprador poderá deixar de aceitá-la por vícios, defeitos e diferenças na qualidade ou na quantidade das mercadorias, exclusivamente. b) é lícito ao comprador resgatá-la antes do aceite, mas não antes do vencimento. c) trata-se de título causal, que por isso não admite reforma ou prorrogação do prazo de vencimento. d) é título protestável por falta de aceite, de devolução ou de pagamento, podendo o protesto ser tirado mediante apresentação da duplicata, da triplicata, ou ainda por simples indicações do portador, na falta de devolução do título. e) em nenhum caso poderá o sacado reter a duplicata em seu poder até a data do vencimento, devendo comunicar eventuais divergências à apresentante com a devolução do título. Gabarito: D Lei nº 5474/1968: Art. 8º O comprador só poderá deixar de aceitar a duplicata por motivo de: I - avaria ou não recebimento das mercadorias, quando não expedidas ou não entregues por sua conta e risco; II - vícios, defeitos e diferenças na qualidade ou na quantidade das mercadorias, devidamente comprovados; III - divergência nos prazos ou nos preços ajustados. Art. 9º É lícito ao comprador resgatar a duplicata antes de aceitá-la ou antes da data do vencimento. Art. 11. A duplicata admite reforma ou prorrogação do prazo de vencimento, mediante declaração em separado ou nela escrita, assinada pelo vendedor ou endossatário, ou por representante com poderes especiais. Art. 13. A duplicata é protestável por falta de aceite de devolução ou pagamento. § 1º Por falta de aceite, de devolução ou de pagamento, o protesto será tirado, conforme o caso, mediante apresentação da duplicata, da triplicata, ou, ainda, por simples indicações do portador, na falta de devolução do título. Art. 7º A duplicata, quando não for à vista, deverá ser devolvida pelo comprador ao apresentante dentro do prazo de 10 (dez) dias, contado da data de sua apresentação, devidamente assinada ou acompanhada de declaração, por escrito, contendo as razões da falta do aceite. § 1º Havendo expressa concordância da instituição financeira cobradora, o sacado poderá reter a duplicata em seu poder até a data do vencimento, desde que comunique, por escrito, à apresentante o aceite e a retenção. 22 Questão 5 (Banca TJ-DFT – 2011) Quanto à sua estrutura, constitui ordem de pagamento: a) o cheque. b) a duplicata. c) a letra de câmbio. d) todas as alternativas acima estão corretas. Gabarito: D Ordem de pagamento são aqueles documentos que possuem três características jurídicas diferentes, sendo estas: a existência do sacador (que ordena o pagamento); sacado (a pessoa contra quem o título de crédito é emitido) e, o tomador (aquele que recebe o pagamento). SÍNTESE Os títulos de crédito não são considerados dinheiro, são compromissos que devem ser pagos em dinheiro e que estão incorporados em um documento. Esses títulos permitem que na negociação, uma das partes entregue um bem ou serviço, e a outra futuramente pague uma prestação (em dinheiro), sendo que essa situação só se concretiza por meio da confiança entre as partes. Esses títulos têm como objetivo a circulação de riqueza de forma ágil. Este documento é baseado na confiança entre as pessoas da relação mercantil. O conceito de título de crédito foi descrito por Cesare Vivante como um instrumento imprescindível para a realização de um direito, literal e autônomo, que nele está escrito. Essa concepção foi aproveitada pelo Código Civil de 2002, em seu art. 887. Os títulos de crédito têm como principais características: natureza comercial, documento formal, títulos de apresentação, título executivo extrajudicial, título de resgate, título de circulação, obrigações quesíveis, e natureza de bem móvel. Os princípios constantes nos títulos são a cartularidade, a literalidade e a autonomia. Os principais títulos de créditos elencados na doutrina jurídica são: letra de câmbio, nota promissória, cheque e duplicata, cada qual com peculiaridades e legislação própria. TROCANDO IDEIAS Para saber mais, leia a dissertação de mestrado de Anna Sílvia Ali Scofield, intitulada “Um novo direito para os títulos de crédito? O desafio eletrônico para o direito empresarial”, disponível em: 23 <http://www.mcampos.br/u/201503/annasilviaaliscofieldumnovodireitoparaostitu losdecredito.pdf>. REFERÊNCIAS BASSO, M. Curso de direito internacional privado. 5 ed. São Paulo: Atlas, 2016 BERTOLDI, M. M.; RIBEIRO, M. C. P. Curso avançado de direito comercial. 10 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. BRASIL.; CURIA, L. R.; CÉSPEDES, L.; NICOLETTI, J. Código comercial (1850). 60. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. COELHO, F. U. Curso de direito comercial: direito de empresa. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. _____. Manual de direito comercial: direito de empresa. 28 ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: revistas dos tribunais, 2015. _____. Comentários à lei de falências e de recuperação de empresas. 10 ed. São Paulo: Saraiva, 2014. FAZZIO JR., W. Manual de direito comercial. 17 ed. Rio de Janeiro: Atlas, 2016 MAMEDE, G. Direito empresarial brasileiro, v. 1. Empresa e atuação empresarial. Rio de Janeiro: Atlas, 2016 NADER, P. Curso direito civil, v.3 contratos. Rio de Janeiro: Forense, 2015. NEGRÃO, R. Manual de direito comercial e de empresa. São Paulo: Saraiva, 2015. REQUIÃO, R. E. Curso de direito comercial. São Paulo: Saraiva, 2015. TEIXEIRA, T. Direito empresarial sistematizado doutrina, jurisprudência e prática. 5 ed. São Paulo: Saraiva, 2015.
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