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Língua Portuguesa para a PRF Teoria e questões comentadas Prof. Fabiano Sales – Aula 10 Prof.Fabiano Sales www.estrategiaconcursos.com.br 1 de 20 AULA 10 Salve, salve, futuros servidores da Polícia Rodoviária Federal! Esta é a aula 10 de nosso curso. Nossas provas ocorrerão em breve, ou seja, estamos nos aproximando da aprovação! Hoje, último encontro de nosso preparatório, comentarei a prova de Agente da Polícia Federal, certame organizado em 2012. Ao longo da resolução dos itens, vocês fixarão todo o conteúdo repassado durantes as aulas teóricas. Vamos lá! Para refletir: "Se você quer ser bem-sucedido, precisa ter dedicação total, buscar seu último limite e dar o melhor de si mesmo." (Ayrton Senna) Língua Portuguesa para a PRF Teoria e questões comentadas Prof. Fabiano Sales – Aula 10 Prof.Fabiano Sales www.estrategiaconcursos.com.br 2 de 20 Agente da Polícia Federal (2012) 1 5 10 15 20 Dizem que Karl Marx descobriu o inconsciente três décadas antes de Freud. Se a afirmação não é rigorosamente exata, não deixa de fazer sentido, uma vez que Marx, em O Capital, no capítulo sobre o fetiche da mercadoria, estabelece dois parâmetros conceituais imprescindíveis para explicar a transformação que o capitalismo produziu na subjetividade. São eles os conceitos de fetichismo e de alienação, ambos tributários da descoberta da mais-valia — ou do inconsciente, como queiram. A rigor, não há grande diferença entre o emprego dessas duas palavras na psicanálise e no materialismo histórico. Em Freud, o fetiche organiza a gestão perversa do desejo sexual e, de forma menos evidente, de todo desejo humano; já a alienação não passa de efeito da divisão do sujeito, ou seja, da existência do inconsciente. Em Marx, o fetiche da mercadoria, fruto da expropriação alienada do trabalho, tem um papel decisivo na produção “inconsciente” da mais-valia. O sujeito das duas teorias é um só: aquele que sofre e se indaga sobre a origem inconsciente de seus sintomas é o mesmo que desconhece, por efeito dessa mesma inconsciência, que o poder encantatório das mercadorias é condição não de sua riqueza, mas de sua miséria material e espiritual. Se a sociedade em que vivemos se diz “de mercado”, é porque a mercadoria é o grande organizador do laço social. Maria Rita Kehl. 18 crônicas e mais algumas. São Paulo: Boitempo, 2011, p. 142 (com adaptações) Com relação às ideias desenvolvidas no texto acima e a seus aspectos gramaticais, julgue os itens subsequentes. 1. Com correção gramatical, o período “A rigor (...) histórico” (linhas 8 e 9) poderia, sem se contrariar a ideia original do texto, ser assim reescrito: Caso se proceda com rigor, a análise desses conceitos, verifica-se que não existe diferenças entre eles. 2. A informação que inicia o texto é suficiente para se inferir que Freud conheceu a obra de Marx, mas o contrário não é verdadeiro, visto que esses pensadores não foram contemporâneos. 3. A expressão “dessas duas palavras” (linhas 8 e 9), como comprovam as ideias desenvolvidas no parágrafo em que ela ocorre, remete não aos dois vocábulos que imediatamente a precedem — “mais-valia” (linha 7) e “inconsciente” (linha 7) —, mas, sim, a “fetichismo” (linha 6) e “alienação” (linha 6). 4. Depreende-se da argumentação apresentada que a autora do texto, ao aproximar conceitos presentes nos estudos de Marx e de Freud, busca demonstrar que, nas sociedades “de mercado”, a “divisão do sujeito” (linhas 11 e 12) se processa de forma análoga na subjetividade dos indivíduos e na relação de trabalho. Língua Portuguesa para a PRF Teoria e questões comentadas Prof. Fabiano Sales – Aula 10 Prof.Fabiano Sales www.estrategiaconcursos.com.br 3 de 20 1 5 10 15 20 25 Imagine que um poder absoluto ou um texto sagrado declarem que quem roubar ou assaltar será enforcado (ou terá a mão cortada). Nesse caso, puxar a corda, afiar a faca ou assistir à execução seria simples, pois a responsabilidade moral do veredicto não estaria conosco. Nas sociedades tradicionais, em que a punição é decidida por uma autoridade superior a todos, as execuções podem ser públicas: a coletividade festeja o soberano que se encarregou da justiça — que alívio! A coisa é mais complicada na modernidade, em que os cidadãos comuns (como você e eu) são a fonte de toda autoridade jurídica e moral. Hoje, no mundo ocidental, se alguém é executado, o braço que mata é, em última instância, o dos cidadãos — o nosso. Mesmo que o condenado seja indiscutivelmente culpado, pairam mil dúvidas. Matar um condenado à morte não é mais uma festa, pois é difícil celebrar o triunfo de uma moral tecida de perplexidade. As execuções acontecem em lugares fechados, diante de poucas testemunhas: há uma espécie de vergonha. Essa discrição é apresentada como um progresso: os povos civilizados não executam seus condenados nas praças. Mas o dito progresso é, de fato, um corolário da incerteza ética de nossa cultura. Reprimimos em nós desejos e fantasias que nos parecem ameaçar o convívio social. Logo, frustrados, zelamos pela prisão daqueles que não se impõem as mesmas renúncias. Mas a coisa muda quando a pena é radical, pois há o risco de que a morte do culpado sirva para nos dar a ilusão de liquidar, com ela, o que há de pior em nós. Nesse caso, a execução do condenado é usada para limpar nossa alma. Em geral, a justiça sumária é isto: uma pressa em suprimir desejos inconfessáveis de quem faz justiça. Como psicanalista, apenas gostaria que a morte dos culpados não servisse para exorcizar nossas piores fantasias — isso, sobretudo, porque o exorcismo seria ilusório. Contudo é possível que haja crimes hediondos nos quais não reconhecemos nada de nossos desejos reprimidos. Contardo Calligaris. Terra de ninguém – 101 crônicas. São Paulo: Publifolha, 2004, p. 94-6 (com adaptações). Com referência às ideias e aos aspectos linguísticos do texto acima, julgue os itens de 5 a 11. 5. Suprimindo-se o emprego de termos característicos da linguagem informal, como o da palavra “coisa” (linha 8) e o do trecho “(como você e eu)” (linha 9), o primeiro período do segundo parágrafo poderia ser reescrito, com correção gramatical, da seguinte forma: Essa prática social apresenta-se mais complexa na modernidade, onde a autoridade jurídica e moral submete-se à opinião pública. 6. No período “Nesse caso (...) estaria conosco” (linhas 2 a 4), como o conector “ou” está empregado com sentido aditivo, e não, de exclusão, a forma verbal do predicado “seria simples” poderia, conforme faculta a prescrição gramatical, ter sido flexionada na terceira pessoa do plural: seriam. 7 De acordo com o texto, nas sociedades tradicionais, os cidadãos sentem-se aliviados sempre que um soberano decide infligir a pena de morte a um infrator porque se livram das ameaças de quem desrespeita Língua Portuguesa para a PRF Teoria e questões comentadas Prof. Fabiano Sales – Aula 10 Prof.Fabiano Sales www.estrategiaconcursos.com.br 4 de 20 a moral que rege o convívio social, como evidencia o emprego da interjeição “que alívio!” (linha 7). 8. Mantendo-se a correção gramatical e a coerência do texto, a oração “se alguém é executado” (linha 10), que expressa uma hipótese,poderia ser escrita como caso se execute alguém, mas não, como se caso alguém se execute. 9. O termo “Essa discrição” (linha 16) refere-se apenas ao que está expresso na primeira oração do período que o antecede. 10. Na condição de psicanalista, o autor do texto adverte que a punição de infratores das leis é uma forma de os indivíduos expurgarem seus desejos inconfessáveis, ressalvando, no entanto, que, quando se trata de crime hediondo, tal não se aplica. 11. Nas linhas 20 e 21, considerando-se a dupla regência do verbo impor e a presença do pronome “mesmas”, seria facultado o emprego do acento indicativo de crase na palavra “as” da expressão “as mesmas renúncias”. Romance LXXXI ou Dos Ilustres Assassinos 1 5 10 15 20 Ó grandes oportunistas, sobre o papel debruçados, que calculais mundo e vida em contos, doblas, cruzados, que traçais vastas rubricas e sinais entrelaçados, com altas penas esguias embebidas em pecados! Ó personagens solenes que arrastais os apelidos como pavões auriverdes seus rutilantes vestidos, — todo esse poder que tendes confunde os vossos sentidos: a glória, que amais, é desses que por vós são perseguidos. Levantai-vos dessas mesas, saí de vossas molduras, vede que masmorras negras, que fortalezas seguras, que duro peso de algemas, 25 30 35 40 que profundas sepulturas nascidas de vossas penas, de vossas assinaturas! Considerai no mistério dos humanos desatinos, e no polo sempre incerto dos homens e dos destinos! Por sentenças, por decretos, pareceríeis divinos: e hoje sois, no tempo eterno, como ilustres assassinos. Ó soberbos titulares, tão desdenhosos e altivos! Por fictícia autoridade, vãs razões, falsos motivos, inutilmente matastes: — vossos mortos são mais vivos; e, sobre vós, de longe, abrem grandes olhos pensativos. Cecília Meireles. Romanceiro da Inconfidência. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989, p. 267- 8. Com base no poema acima, julgue os itens subsequentes. Língua Portuguesa para a PRF Teoria e questões comentadas Prof. Fabiano Sales – Aula 10 Prof.Fabiano Sales www.estrategiaconcursos.com.br 5 de 20 12. Considerando-se as relações entre os termos da oração, verifica-se ambiguidade no emprego do adjetivo “pensativos” (v. 40), visto que ele pode referir-se tanto ao termo “vossos mortos” (v.38) quanto ao núcleo nominal “olhos” (v.40). 13. No poema, que apresenta uma denúncia de atos de abuso de poder, foram utilizados os seguintes recursos que permitem que a poeta se dirija diretamente a um interlocutor: emprego de vocativo nos versos 1, 9 e 33 e de verbos na segunda pessoa do plural, todos no imperativo afirmativo. 14. O emprego do pronome possessivo em “seus rutilantes vestidos” (v.12) evidencia que essa expressão corresponde à vestimenta usada por autoridades em eventos solenes. 15. No verso 23, a forma verbal “nascidas”, apesar de referir-se a todas as expressões nominais que a antecedem, concorda apenas com a mais próxima, conforme faculta regra de concordância nominal. 16. Os trechos “Por sentenças, por decretos” (v.29) e “Por fictícia autoridade, vãs razões, falsos motivos” (v.35-36) exercem função adverbial nas orações a que pertencem e ambos denotam o meio empregado na ação representada pelo verbo a que se referem. Julgue os fragmentos contidos nos itens a seguir quanto à sua correção gramatical e à sua adequação para compor um documento oficial, que, de acordo com o Manual de Redação da Presidência da República, deve caracterizar-se pela impessoalidade, pelo emprego do padrão culto de linguagem, pela clareza, pela concisão, pela formalidade e pela uniformidade. 17. Cumpre destacar a necessidade de aumento do contingente policial e que é imperioso a ação desses indivíduos em âmbito nacional, pelo que a realização de concurso público para provimento de vagas no Departamento de Polícia Federal consiste em benefício a toda a sociedade. 18. Caro Senhor Perito Criminal, Convidamos Vossa Senhoria a participar do evento “Destaques do ano”, em que será homenageado pelo belo e admirável trabalho realizado na Polícia Federal. Por gentileza, confirme sua presença a fim de que possamos providenciar as honrarias de praxe. 19. O departamento que planejará o treinamento de pessoal para a execução de investigações e de operações policiais, sob cuja responsabilidade está também a escolha do local do evento, não se manifestou até o momento. Língua Portuguesa para a PRF Teoria e questões comentadas Prof. Fabiano Sales – Aula 10 Prof.Fabiano Sales www.estrategiaconcursos.com.br 6 de 20 20. Senhor Delegado, Segue para divulgação os relatórios das investigações realizadas no órgão, a fim de fazer cumprir a lei vigente. 21. Solicito a Vossa Senhoria a indicação de cinco agentes de polícia aptos a ministrar aulas de direção no curso de formação de agentes. O início do curso, que será realizado na capital federal, está previsto para o segundo semestre deste ano. Com relação ao formato e à linguagem das comunicações oficiais, julgue os itens que se seguem com base no Manual de Redação da Presidência da República. 22 A exposição de motivos de caráter meramente informativo deve apresentar, na introdução, no desenvolvimento e na conclusão, a sugestão de adoção de uma medida ou de edição de um ato normativo, além do problema inicial que justifique a proposta indicada. 23 A estrutura do telegrama e da mensagem por correio eletrônico de caráter oficial é flexível. 24. As comunicações oficiais emitidas pelo presidente da República, por chefes de poderes e por ministros de Estado devem apresentar ao final, além do nome da pessoa que as expede, o cargo ocupado por ela. 25. O referido manual estabelece o emprego de dois fechos para comunicações oficiais: Respeitosamente, para autoridades superiores; e Atenciosamente, para autoridades de mesma hierarquia ou de hierarquia inferior. Tal regra, no entanto, não é aplicável a comunicações dirigidas a autoridades estrangeiras. 26. A menos que o expediente seja de mero encaminhamento de documentos, o texto de comunicações como aviso, ofício e memorando, que seguem o padrão ofício, deve conter três partes: introdução, desenvolvimento e conclusão. Língua Portuguesa para a PRF Teoria e questões comentadas Prof. Fabiano Sales – Aula 10 Prof.Fabiano Sales www.estrategiaconcursos.com.br 7 de 20 COMENTÁRIOS ÀS QUESTÕES Agente da Polícia Federal (2012) 1 5 10 15 20 Dizem que Karl Marx descobriu o inconsciente três décadas antes de Freud. Se a afirmação não é rigorosamente exata, não deixa de fazer sentido, uma vez que Marx, em O Capital, no capítulo sobre o fetiche da mercadoria, estabelece dois parâmetros conceituais imprescindíveis para explicar a transformação que o capitalismo produziu na subjetividade. São eles os conceitos de fetichismo e de alienação, ambos tributários da descoberta da mais-valia — ou do inconsciente, como queiram. A rigor, não há grande diferença entre o emprego dessas duas palavras na psicanálise e no materialismo histórico. Em Freud, o fetiche organiza a gestão perversa do desejo sexual e, de forma menos evidente, de todo desejo humano; já a alienação não passa deefeito da divisão do sujeito, ou seja, da existência do inconsciente. Em Marx, o fetiche da mercadoria, fruto da expropriação alienada do trabalho, tem um papel decisivo na produção “inconsciente” da mais-valia. O sujeito das duas teorias é um só: aquele que sofre e se indaga sobre a origem inconsciente de seus sintomas é o mesmo que desconhece, por efeito dessa mesma inconsciência, que o poder encantatório das mercadorias é condição não de sua riqueza, mas de sua miséria material e espiritual. Se a sociedade em que vivemos se diz “de mercado”, é porque a mercadoria é o grande organizador do laço social. Maria Rita Kehl. 18 crônicas e mais algumas. São Paulo: Boitempo, 2011, p. 142 (com adaptações) Com relação às ideias desenvolvidas no texto acima e a seus aspectos gramaticais, julgue os itens subsequentes. 1. Com correção gramatical, o período “A rigor (...) histórico” (linhas 8 e 9) poderia, sem se contrariar a ideia original do texto, ser assim reescrito: Caso se proceda com rigor, a análise desses conceitos, verifica-se que não existe diferenças entre eles. Comentário: Embora as expressões “a rigor” e “em rigor” sejam de uso frequente no português contemporâneo, não são termos sinônimos, sendo importante fazer uma breve distinção entre elas. A primeira é uma expressão idiomática que significa “de acordo com as exigências da ocasião”, “conforme as circunstâncias”. Segundo as lições de Luiz Antonio Sacconi, a expressão “a rigor” é copiada do francês “à la rigueur”: “A expressão “ ‘a rigor’ é copiada do francês ‘à la rigueur’. Só devemos usar palavras, expressões, construções estrangeiras, quando absolutamente necessárias. Parece-nos que “em rigor” substitui a contento ‘a rigor’ ”. (Luiz Antonio Sacconi, “Não erre mais!”.) Por sua vez, a locução adverbial “em rigor” geralmente precede explicações e/ou exposições de ideias exatas. Pode ser substituída pelo advérbio “rigorosamente” e apresenta o significado “proceder com rigor, exatidão”, Língua Portuguesa para a PRF Teoria e questões comentadas Prof. Fabiano Sales – Aula 10 Prof.Fabiano Sales www.estrategiaconcursos.com.br 8 de 20 “estritamente”. O Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa Caldas Aulete registra somente a forma “em rigor”: “ ‘Em rigor’ (loc. adv.), rigorosamente, conforme as exigências do assunto; no sentido estrito.” Ex.: “Quem ignorando ofendeu, ‘em rigor’ (rigorosamente) não é delinquente.” (Pe. Antônio Vieira) Voltando à questão da prova... No enunciado da questão 1, o trecho “Caso se proceda com rigor” faz menção ao segmento “em rigor”, alterando a ideia original do texto. Além disso, na reescrita proposta pelo examinador da banca, houve os seguintes erros: (i) a vírgula após a expressão “a rigor” está separando incorretamente o verbo “proceder” do complemento “a análise desses conceitos”; (ii) o verbo “existir” deveria ter sido flexionado no plural para concordar com o sujeito “diferenças”; e (iii) por fim, de regência, pois o verbo “proceder” foi empregado na acepção de “dar início”, devendo assumir transitividade indireta. Essa incorreção também implicou omissão inadequada do acento grave indicativo de crase, uma vez que o termo regente “proceder” exige o emprego da preposição “a” e o termo regido “análise” admite a anteposição do artigo definido “a”. Gabarito: ERRADO. 2. A informação que inicia o texto é suficiente para se inferir que Freud conheceu a obra de Marx, mas o contrário não é verdadeiro, visto que esses pensadores não foram contemporâneos. Comentário: Por meio da informação de que “Karl Marx descobriu o inconsciente três décadas antes de Freud” não é possível inferir que não houve contemporaneidade entre os autores Freud e Marx. Além disso, o texto não apresenta informações suficientes e necessárias para chegarmos à conclusão de que a obra de Marx não foi conhecida por Freud. Gabarito: ERRADO. 3. A expressão “dessas duas palavras” (linhas 8 e 9), como comprovam as ideias desenvolvidas no parágrafo em que ela ocorre, remete não aos dois vocábulos que imediatamente a precedem — “mais-valia” (linha 7) e “inconsciente” (linha 7) —, mas, sim, a “fetichismo” (linha 6) e “alienação” (linha 6). Comentário: No segundo parágrafo do texto, a expressão “dessas duas palavras” refere-se aos vocábulos “fetichismo” e “alienação”. Por meio do emprego da estrutura “dessas” (contração da preposição “de” com o pronome demonstrativo “essas”), houve o mecanismo de coesão referencial anafórica, isto é, ocorreu a retomada de palavras já mencionadas anteriormente no texto. Gabarito: CERTO. Língua Portuguesa para a PRF Teoria e questões comentadas Prof. Fabiano Sales – Aula 10 Prof.Fabiano Sales www.estrategiaconcursos.com.br 9 de 20 4. Depreende-se da argumentação apresentada que a autora do texto, ao aproximar conceitos presentes nos estudos de Marx e de Freud, busca demonstrar que, nas sociedades “de mercado”, a “divisão do sujeito” (linhas 11 e 12) se processa de forma análoga na subjetividade dos indivíduos e na relação de trabalho. Comentário: A partir do excerto “O sujeito das duas teorias é um só”, é possível depreender que, “nas sociedades “de mercado”, a “divisão do sujeito” se processa na forma equivalente tanto na “subjetividade dos indivíduos” quanto na “relação de trabalho”. Segundo o texto, a “subjetividade dos indivíduos” é marcada pelo trecho “aquele que sofre e se indaga sobre a origem inconsciente de seus sintomas é o mesmo que desconhece, por efeito dessa mesma inconsciência, que o poder encantatório das mercadorias é condição não de sua riqueza, mas de sua miséria material e espiritual”. A “divisão de sujeito” também se dá na “relação de trabalho”. Consoante o texto, “Se a sociedade em que vivemos se diz – de mercado –, é porque a mercadoria é o grande organizador do laço social”. Ainda em conformidade com a superfície textual, “Em Marx, o fetiche da mercadoria, fruto da expropriação alienada do trabalho, tem um papel decisivo na produção – inconsciente – da mais-valia”. Gabarito: CERTO. 1 5 10 15 20 25 Imagine que um poder absoluto ou um texto sagrado declarem que quem roubar ou assaltar será enforcado (ou terá a mão cortada). Nesse caso, puxar a corda, afiar a faca ou assistir à execução seria simples, pois a responsabilidade moral do veredicto não estaria conosco. Nas sociedades tradicionais, em que a punição é decidida por uma autoridade superior a todos, as execuções podem ser públicas: a coletividade festeja o soberano que se encarregou da justiça — que alívio! A coisa é mais complicada na modernidade, em que os cidadãos comuns (como você e eu) são a fonte de toda autoridade jurídica e moral. Hoje, no mundo ocidental, se alguém é executado, o braço que mata é, em última instância, o dos cidadãos — o nosso. Mesmo que o condenado seja indiscutivelmente culpado, pairam mil dúvidas. Matar um condenado à morte não é mais uma festa, pois é difícil celebrar o triunfo de uma moral tecida de perplexidade. As execuções acontecem em lugares fechados, diante de poucas testemunhas: há uma espécie de vergonha. Essa discrição é apresentada como um progresso: os povos civilizados não executam seus condenados nas praças. Mas o dito progresso é, de fato, um corolário da incerteza ética de nossa cultura. Reprimimos em nós desejos e fantasias que nos parecem ameaçar o convívio social. Logo, frustrados, zelamos pela prisão daqueles que não se impõem as mesmas renúncias. Mas a coisa muda quando a pena é radical, pois há o risco de que a morte do culpado sirva para nos dara ilusão de liquidar, com ela, o que há de pior em nós. Nesse caso, a execução do condenado é usada para limpar nossa alma. Em geral, a justiça sumária é isto: uma pressa em suprimir desejos inconfessáveis de quem faz justiça. Como psicanalista, apenas gostaria que a morte dos culpados não servisse Língua Portuguesa para a PRF Teoria e questões comentadas Prof. Fabiano Sales – Aula 10 Prof.Fabiano Sales www.estrategiaconcursos.com.br 10 de 20 para exorcizar nossas piores fantasias — isso, sobretudo, porque o exorcismo seria ilusório. Contudo é possível que haja crimes hediondos nos quais não reconhecemos nada de nossos desejos reprimidos. Contardo Calligaris. Terra de ninguém – 101 crônicas. São Paulo: Publifolha, 2004, p. 94-6 (com adaptações). Com referência às ideias e aos aspectos linguísticos do texto acima, julgue os itens de 5 a 11. 5. Suprimindo-se o emprego de termos característicos da linguagem informal, como o da palavra “coisa” (linha 8) e o do trecho “(como você e eu)” (linha 9), o primeiro período do segundo parágrafo poderia ser reescrito, com correção gramatical, da seguinte forma: Essa prática social apresenta-se mais complexa na modernidade, onde a autoridade jurídica e moral submete-se à opinião pública. Comentário: Na reescrita, o pronome relativo “onde” está retomando o elemento “modernidade”. Entretanto, conforme prescrevem as gramáticas tradicionais, essa forma pronominal (onde) deve ser empregada quando houver alusão a lugar físico. No contexto, a palavra “modernidade” expressa circunstância de tempo, o que torna incorreto o emprego de “onde” e, consequentemente, a transcrição do examinador. Portanto, para manter a correção e a ideia original do trecho, o pronome relativo “onde” deve ser substituído pelo conectivo temporal “quando” ou, ainda, pelas expressões “em que” ou “na qual”: Essa prática social apresenta-se mais complexa na modernidade, quando / em que / na qual a autoridade jurídica e moral submete-se à opinião pública. Gabarito: ERRADO. 6. No período “Nesse caso (...) estaria conosco” (linhas 2 a 4), como o conector “ou” está empregado com sentido aditivo, e não, de exclusão, a forma verbal do predicado “seria simples” poderia, conforme faculta a prescrição gramatical, ter sido flexionada na terceira pessoa do plural: seriam. Comentário: A questão versa sobre concordância verbal. Segundo as gramáticas normativas da Língua Portuguesa, quando houver sujeito oracional, ainda que seja composto, o verbo da oração principal deverá permanecer na terceira pessoa do singular. Notem que, no contexto, o sujeito composto oracional é representado pelas orações subordinadas substantivas reduzidas “puxar a corda”, “afiar a faca” e “assistir à execução”, tendo como núcleo, respectivamente, as formas verbais “puxar”, “afiar” e “assistir”. Portanto, o verbo “ser” deve permanecer no singular: Puxar a corda, afiar a faca ou assistir à execução seria simples. Para facilitar a visualização, substituam a forma em destaque pelo pronome demonstrativo “ISSO”: Língua Portuguesa para a PRF Teoria e questões comentadas Prof. Fabiano Sales – Aula 10 Prof.Fabiano Sales www.estrategiaconcursos.com.br 11 de 20 ISSO seria simples. Gabarito: ERRADO. 7. De acordo com o texto, nas sociedades tradicionais, os cidadãos sentem-se aliviados sempre que um soberano decide infligir a pena de morte a um infrator porque se livram das ameaças de quem desrespeita a moral que rege o convívio social, como evidencia o emprego da interjeição “que alívio!” (linha 7). Comentário: Segundo o texto, o sentimento de alívio não é proveniente do fato de ficar livre de ameaças (conforme aduz o enunciado do item), mas, sim, em virtude de a população se eximir da responsabilidade de fazer justiça. Essa informação está expressa no período “Nesse caso, puxar a corda, afiar a faca ou assistir à execução seria simples, pois a responsabilidade moral do veredicto não estaria conosco”. Gabarito: ERRADO. 8. Mantendo-se a correção gramatical e a coerência do texto, a oração “se alguém é executado” (linha 10), que expressa uma hipótese, poderia ser escrita como caso se execute alguém, mas não, como se caso alguém se execute. Comentário: Inicialmente, percebemos que em “se alguém é executado” há uma estrutura de voz passiva analítica. Notem que a expressão “é executado” é composta pela estrutura “verbo SER + particípio”. É corretamente possível a transposição para a voz passiva sintética (ou pronominal) em “caso se execute alguém”. No trecho inicial (se alguém é executado), o conector “se” contém noção semântica de condição, podendo ser substituído pela conjunção “caso”. Nessa hipótese, o verbo “executar” deve ser flexionado no subjuntivo, conforme ocorreu perfeitamente na reescrita do examinador: “Caso se execute ...” (presente do subjuntivo). Por sua vez, o vocábulo “alguém” desempenha a função de sujeito paciente, isto é, aquele que recebe a ação verbal: Se alguém é executado : voz passiva analítica (o sujeito alguém sofre a ação de ser executado) Caso se execute alguém : voz passiva sintética (o sujeito alguém sofre a ação de ser executado) Já no trecho “se caso alguém se execute”, o pronome “se” (alguém se execute) não é pronome apassivador, mas sim pronome reflexivo. Isso acarreta mudança na informação do período original. Além disso, o trecho “se caso alguém se execute” configura desvio gramatical, pois o emprego concomitante dos conectivos “se caso” não é abonado pela gramática normativa. Gabarito: ERRADO. Língua Portuguesa para a PRF Teoria e questões comentadas Prof. Fabiano Sales – Aula 10 Prof.Fabiano Sales www.estrategiaconcursos.com.br 12 de 20 9. O termo “Essa discrição” (linha 16) refere-se apenas ao que está expresso na primeira oração do período que o antecede. Comentário: Para responder a essa questão, o candidato deve localizar o seguinte trecho no texto: “As execuções acontecem em lugares fechados, diante de poucas testemunhas: há uma espécie de vergonha. Essa discrição é apresentada como um progresso (...)”. Notem que o termo “Essa discrição” desempenha um importante papel coesivo na superfície textual, retomando apenas a informação constante do período anterior, não incluindo a frase “há uma espécie de vergonha”: “As execuções acontecem em lugares fechados, diante de poucas testemunhas (...). Essa discrição ...”. Portanto, a afirmação do examinador está correta. Gabarito: CERTO. 10. Na condição de psicanalista, o autor do texto adverte que a punição de infratores das leis é uma forma de os indivíduos expurgarem seus desejos inconfessáveis, ressalvando, no entanto, que, quando se trata de crime hediondo, tal não se aplica. Comentário: Para analisar este item, devemos recorrer à última oração do texto: “Contudo é possível que haja crimes hediondos nos quais não reconhecemos nada de nossos desejos reprimidos”. Por meio da expressão “é possível”, o autor refere-se aos crimes hediondos como uma possibilidade. Além disso, a oração subordinada adjetiva restritiva “nos quais não reconhecemos nada de nossos desejos reprimidos” apresenta valor de restrição, não fazendo menção a esses crimes de forma genérica. Trata-se, portanto, de uma ideia oposta à que foi apresentada pelo examinador no trecho “quando se trata de crime hediondo, tal não se aplica”. Gabarito: ERRADO. 11. Nas linhas 20 e 21, considerando-se a dupla regência do verbo impor e a presença do pronome “mesmas”, seria facultado o emprego do acento indicativo de crase na palavra “as” da expressão “asmesmas renúncias”. Comentário: Segundo as lições de Celso Pedro Luft, na obra Dicionário Prático de Regência Verbal, editora Ática, pág. 326, o verbo “impor” pode ser: a) transitivo direto: O chefe impunha respeito. b) transitivo direto e indireto: Impuseram-lhe uma coroa de flores. No contexto apresentado no enunciado, o verbo “impor”, constante do trecho “daqueles que não se impõem as mesmas renúncias”, assume transitividade direta e indireta (impor-lhe algo ou impor algo a alguém). Nesse trecho, a funções de complementos do aludido verbo são o pronome reflexivo Língua Portuguesa para a PRF Teoria e questões comentadas Prof. Fabiano Sales – Aula 10 Prof.Fabiano Sales www.estrategiaconcursos.com.br 13 de 20 “se” (objeto indireto, equivalente a “a si”) e a expressão “as mesmas renúncias” (objeto direto). No fragmento textual apontado, o pronome relativo “que” é sujeito da forma verbal “impõem”, retomando o pronome demonstrativo “daqueles”. Para facilitar a visualização, é possível transcrever o excerto na ordem direta (sujeito + verbo + complementos): aqueles que (sujeito) não impõem (VTDI) as mesmas renúncias (OD) a si (OI). Conforme a afirmação feita pelo examinador, com o emprego do acento grave indicativo de crase o verbo “impor” passaria a apresentar dois objetos indiretos. Por essa razão, ao afirmar que o objeto direto pode ser transformado em objeto indireto, o item está errado. Gabarito: ERRADO. Romance LXXXI ou Dos Ilustres Assassinos 1 5 10 15 20 Ó grandes oportunistas, sobre o papel debruçados, que calculais mundo e vida em contos, doblas, cruzados, que traçais vastas rubricas e sinais entrelaçados, com altas penas esguias embebidas em pecados! Ó personagens solenes que arrastais os apelidos como pavões auriverdes seus rutilantes vestidos, — todo esse poder que tendes confunde os vossos sentidos: a glória, que amais, é desses que por vós são perseguidos. Levantai-vos dessas mesas, saí de vossas molduras, vede que masmorras negras, que fortalezas seguras, que duro peso de algemas, 25 30 35 40 que profundas sepulturas nascidas de vossas penas, de vossas assinaturas! Considerai no mistério dos humanos desatinos, e no polo sempre incerto dos homens e dos destinos! Por sentenças, por decretos, pareceríeis divinos: e hoje sois, no tempo eterno, como ilustres assassinos. Ó soberbos titulares, tão desdenhosos e altivos! Por fictícia autoridade, vãs razões, falsos motivos, inutilmente matastes: — vossos mortos são mais vivos; e, sobre vós, de longe, abrem grandes olhos pensativos. Cecília Meireles. Romanceiro da Inconfidência. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989, p. 267- 8. Com base no poema acima, julgue os itens subsequentes. 12. Considerando-se as relações entre os termos da oração, verifica-se ambiguidade no emprego do adjetivo “pensativos” (v. 40), visto que ele pode referir-se tanto ao termo “vossos mortos” (v.38) quanto ao núcleo nominal “olhos” (v.40). Língua Portuguesa para a PRF Teoria e questões comentadas Prof. Fabiano Sales – Aula 10 Prof.Fabiano Sales www.estrategiaconcursos.com.br 14 de 20 Comentário: A análise proposta no item em comento requer conhecimento das estruturas gramaticais da língua, bem como da relação entre os termos e seus respectivos papéis na oração. Segundo o poema, o adjetivo “pensativos” pode referir-se tanto ao termo “vossos mortos” quanto ao vocábulo “olhos”, ocasionando um erro denominado ambiguidade (ou anfibologia). Na primeira referência, “pensativos” a função de predicativo do sujeito, ao passo que, na segunda, desempenhará o papel de adjunto adnominal do núcleo do objeto direto “olhos”: “— vossos mortos são mais vivos; e, sobre vós, de longe, abrem grandes olhos pensativos.” (predicativo do sujeito “vossos mortos”) “— vossos mortos são mais vivos; e, sobre vós, de longe, abrem grandes olhos pensativos.” (adjunto adnominal de “olhos”) Como ambas as interpretações são lícitas, a afirmação do examinador está certa. Gabarito: CERTO. 13. No poema, que apresenta uma denúncia de atos de abuso de poder, foram utilizados os seguintes recursos que permitem que a poeta se dirija diretamente a um interlocutor: emprego de vocativo nos versos 1, 9 e 33 e de verbos na segunda pessoa do plural, todos no imperativo afirmativo. Comentário: Reparem que, no terceiro verso do poema, o verbo “calcular” foi empregado no presente do indicativo, o que já torna incorreta a afirmação de que todas as formas verbais foram flexionadas no imperativo afirmativo. Caso estivesse conjugado neste último tempo e modo, a forma seria “calculai” (sem a desinência número-pessoal “-s”). Para ratificar essa argumentação, outros verbos foram conjugados no presente do indicativo, quais sejam, “traçais” (verso 5), “arrastais” (verso 10), “tendes” (verso 13), “amais” (verso 15) e “sois” (verso 31). Por sua vez, o poeta lançou mão de vocativos nos versos 1, 9 e 33, representados, respectivamente, pelas expressões “Ó grandes oportunistas”, “Ó personagens solenes” e “Ó soberbos titulares”. Esse recurso é utilizado para aproximar-se/dirigir-se ao leitor/interlocutor. Gabarito: ERRADO. 14. O emprego do pronome possessivo em “seus rutilantes vestidos” (v.12) evidencia que essa expressão corresponde à vestimenta usada por autoridades em eventos solenes. Comentário: No verso 12 do poema, o pronome possessivo “seus” apresenta valor semântico de posse, exercendo a função de adjunto adnominal da expressão “pavões auriverdes”. Para facilitar a visualização, podemos Língua Portuguesa para a PRF Teoria e questões comentadas Prof. Fabiano Sales – Aula 10 Prof.Fabiano Sales www.estrategiaconcursos.com.br 15 de 20 transcrever o trecho da seguinte forma: “rustilantes vestidos dos pavões auriverdes”. Não há referência à vestimenta dos “personagens solenes”, mas, sim, aos “apelidos”. Portanto, a afirmativa constante do item está errada. Gabarito: ERRADO. 15. No verso 23, a forma verbal “nascidas”, apesar de referir-se a todas as expressões nominais que a antecedem, concorda apenas com a mais próxima, conforme faculta regra de concordância nominal. Comentário: O particípio “nascidas” não se refere a todas as expressões nominais da enumeração. O argumento de que o particípio concorda com a expressão mais próxima é incorreto, porque após o vocábulo “sepulturas”, que antecede a oração adjetiva restritiva reduzida de particípio “nascidas vossas penas, de vossas assinaturas”, não foi empregada uma vírgula. Com isso, não houve a retomada dos vocábulos “mesas” e “molduras’. Gabarito: ERRADO. 16. Os trechos “Por sentenças, por decretos” (v.29) e “Por fictícia autoridade, vãs razões, falsos motivos” (v.35-36) exercem função adverbial nas orações a que pertencem e ambos denotam o meio empregado na ação representada pelo verbo a que se referem. Comentário: De fato, o trecho “Por sentenças, por decretos” desempenha a função de adjunto adverbial, denotando o meio utilizado para parecer divino (adjunto adverbial de meio). Entretanto, a expressão “Por fictícia autoridade, vãs razões, falsos motivos” denota a causa que induz alguém a matar, ou seja, é adjunto adverbial de causa. Logo, a afirmação de que ambos os trecho denotam o meio empregado” é incorreta. Gabarito: ERRADO. Julgue os fragmentos contidos nos itens a seguir quantoà sua correção gramatical e à sua adequação para compor um documento oficial, que, de acordo com o Manual de Redação da Presidência da República, deve caracterizar-se pela impessoalidade, pelo emprego do padrão culto de linguagem, pela clareza, pela concisão, pela formalidade e pela uniformidade. 17. Cumpre destacar a necessidade de aumento do contingente policial e que é imperioso a ação desses indivíduos em âmbito nacional, pelo que a realização de concurso público para provimento de vagas no Departamento de Polícia Federal consiste em benefício a toda a sociedade. Comentário: Há alguns desvios no que se refere à correção gramatical. Inicialmente, o predicativo “imperioso” deve flexionar-se no feminino para concordar com o sujeito “a ação”. Em segundo lugar, houve erro de paralelismo Língua Portuguesa para a PRF Teoria e questões comentadas Prof. Fabiano Sales – Aula 10 Prof.Fabiano Sales www.estrategiaconcursos.com.br 16 de 20 sintático no trecho “Cumpre destacar a necessidade de aumento do contingente policial e (de) que é imperiosa a ação (...)”, pois o substantivo “necessidade” requer o emprego da preposição “de” antes de seu(s) complemento(s) nominal(is). Gabarito: ERRADO. 18. Caro Senhor Perito Criminal, Convidamos Vossa Senhoria a participar do evento “Destaques do ano”, em que será homenageado pelo belo e admirável trabalho realizado na Polícia Federal. Por gentileza, confirme sua presença a fim de que possamos providenciar as honrarias de praxe. Comentário: O fragmento apresenta vocábulos que ferem a impessoalidade dos expedientes oficiais, tais como os adjetivos “caro”, “belo” e “admirável”. Sendo assim, o item está errado. Gabarito: ERRADO. 19. O departamento que planejará o treinamento de pessoal para a execução de investigações e de operações policiais, sob cuja responsabilidade está também a escolha do local do evento, não se manifestou até o momento. Comentário: O fragmento enquadrou-se perfeitamente nas características dos expedientes oficiais, quais sejam, padrão culto de linguagem, clareza, concisão, formalidade e uniformidade. Atentem, inclusive, para as vírgulas empregadas antes e após a oração subordinada adjetiva explicativa “sob cuja responsabilidade está também a escolha do local do evento”. Por se tratar de um segmento explicativo intercalado na oração principal, foi corretamente isolado pelas vírgulas. Gabarito: CERTO. 20. Senhor Delegado, Segue para divulgação os relatórios das investigações realizadas no órgão, a fim de fazer cumprir a lei vigente. Comentário: O fragmento desrespeitou o padrão culto da linguagem. No trecho “segue para divulgação os relatórios das investigações (...)”, a função de sujeito é desempenhada pela expressão “os relatórios das investigações”, cujo núcleo é “relatórios”. Portanto, trata-se de um caso de sujeito posposto ao verbo, o qual, por sua vez, deve flexionar-se no plural: “Seguem para divulgação os relatórios das investigações (...)”. Gabarito: ERRADO. Língua Portuguesa para a PRF Teoria e questões comentadas Prof. Fabiano Sales – Aula 10 Prof.Fabiano Sales www.estrategiaconcursos.com.br 17 de 20 21. Solicito a Vossa Senhoria a indicação de cinco agentes de polícia aptos a ministrar aulas de direção no curso de formação de agentes. O início do curso, que será realizado na capital federal, está previsto para o segundo semestre deste ano. Comentário: O fragmento de texto obedeceu às características básicas dos expedientes oficiais (padrão culto da linguagem, clareza, concisão, formalidade e uniformidade. Novamente, atentem para a oração subordinada adjetiva explicativa “que será realizado na capital federal”, a qual está corretamente isolada por vírgulas. Gabarito: CERTO. Com relação ao formato e à linguagem das comunicações oficiais, julgue os itens que se seguem com base no Manual de Redação da Presidência da República. 22 A exposição de motivos de caráter meramente informativo deve apresentar, na introdução, no desenvolvimento e na conclusão, a sugestão de adoção de uma medida ou de edição de um ato normativo, além do problema inicial que justifique a proposta indicada. Comentário: Para confundir os candidatos, o examinador da banca trocou os expedientes oficiais. Na exposição de motivos de caráter meramente informativo, isto é, que simplesmente leva algum assunto ao conhecimento do Presidente da República –, a estrutura segue o modelo antes referido para o padrão ofício. Já a exposição de motivos que submeta à consideração do Presidente da República a sugestão de alguma medida a ser adotada ou a que lhe apresente projeto de ato normativo – embora siga também a estrutura do padrão ofício –, além de outros comentários julgados pertinentes por seu autor, deve, obrigatoriamente, apontar no(a): • introdução: o problema que está a reclamar a adoção da medida ou do ato normativo proposto; • desenvolvimento: a razão de ser aquela medida ou aquele ato normativo o ideal para se solucionar o problema, e eventuais alternativas existentes para equacioná-lo; • conclusão, novamente, qual medida deve ser tomada, ou qual ato normativo deve ser editado para solucionar o problema. Gabarito: ERRADO. Língua Portuguesa para a PRF Teoria e questões comentadas Prof. Fabiano Sales – Aula 10 Prof.Fabiano Sales www.estrategiaconcursos.com.br 18 de 20 23 A estrutura do telegrama e da mensagem por correio eletrônico de caráter oficial é flexível. Comentário: O item reproduz a ideia apresentada sobre correio eletrônico no Manual de Redação da Presidência da República. Segundo o citado documento, “um dos atrativos da comunicação por correio eletrônico é a sua flexibilidade. Assim, não é interessante definir forma rígida para sua estrutura. Entretanto, deve- -se evitar o uso de linguagem incompatível com uma comunicação oficial (o “internetês”, por exemplo). Gabarito: CERTO. 24. As comunicações oficiais emitidas pelo presidente da República, por chefes de poderes e por ministros de Estado devem apresentar ao final, além do nome da pessoa que as expede, o cargo ocupado por ela. Comentário: Consoante o Manual de Redação da Presidência da República, “Excluídas as comunicações assinadas pelo Presidente da República, todas as demais comunicações oficiais devem trazer: � o nome da autoridade que as expede; e � o cargo da autoridade que as expede. Além disso, o mencionado manual aduz que “em comunicação oficial expedida pelo Presidente da República, o espaço relativo à identificação deve conter apenas a assinatura”. Gabarito: ERRADO. 25. O referido manual estabelece o emprego de dois fechos para comunicações oficiais: Respeitosamente, para autoridades superiores; e Atenciosamente, para autoridades de mesma hierarquia ou de hierarquia inferior. Tal regra, no entanto, não é aplicável a comunicações dirigidas a autoridades estrangeiras. Comentário: o Manual de Redação da Presidência da República estabelece o emprego de somente dois fechos diferentes para todas as modalidades de comunicação oficial: a) para autoridades superiores, inclusive o Presidente da República: Respeitosamente, b) para autoridades de mesma hierarquia ou de hierarquia inferior: Atenciosamente, Língua Portuguesa para a PRF Teoria e questões comentadas Prof. Fabiano Sales – Aula 10 Prof.Fabiano Sales www.estrategiaconcursos.com.br 19 de 20 Entretanto, aindaem conformidade com o mencionado manual da presidência, ficam excluídas dessa fórmula as comunicações dirigidas a autoridades estrangeiras, que atendem a rito e tradição próprios, devidamente disciplinados no Manual de Redação do Ministério das Relações Exteriores. Gabarito: CERTO. 26. A menos que o expediente seja de mero encaminhamento de documentos, o texto de comunicações como aviso, ofício e memorando, que seguem o padrão ofício, deve conter três partes: introdução, desenvolvimento e conclusão. Comentário: Novamente, a resposta está expressa no Manual de Redação da Presidência da República. Segundo o documento, aviso, ofício e memorando devem conter, além de outras partes, o texto. Nos casos em que o expediente NÃO for de mero encaminhamento, deve conter a seguinte estrutura: � introdução – é o parágrafo de abertura, em que é apresentado o assunto que motiva a comunicação. � desenvolvimento – parte do documento em que o assunto é detalhado; se o texto contiver mais de uma ideia sobre o assunto, devem ser tratadas em parágrafos distintos, o que confere maior clareza ao documento; � conclusão – parte em que é reafirmada ou simplesmente reapresentada a posição recomendada sobre o assunto. Já quando o expediente for de mero encaminhamento, a estrutura textual será a seguinte: � introdução - deve iniciar com referência ao expediente que solicitou o encaminhamento. Exemplo: “Em resposta ao Aviso nº 12, de 15 de setembro de 2011, encaminho, anexa, a cópia do Ofício nº 42, de 16 de junho de 2010, do Departamento Geral de Administração, que trata da requisição do servidor Fulano de Tal”. Porém, se a remessa do documento não tiver sido solicitada, deve iniciar com a informação do motivo da comunicação, que é encaminhar, indicando, a seguir, os dados completos do documento encaminhado (tipo, data, origem ou signatário, e assunto) e a razão pela qual está sendo encaminhado, segundo a seguinte fórmula: Exemplo: “Encaminho, para exame e pronunciamento, a anexa cópia do telegrama nº 12, de 15 de setembro de 2011, do Presidente da Confederação Nacional de Agricultura, a respeito do projeto de modernização de técnicas agrícolas na região Nordeste”. Língua Portuguesa para a PRF Teoria e questões comentadas Prof. Fabiano Sales – Aula 10 Prof.Fabiano Sales www.estrategiaconcursos.com.br 20 de 20 � desenvolvimento: podem ser acrescentados parágrafos de desenvolvimento, se o autor da comunicação desejar fazer algum comentário a respeito do documento que encaminha; caso contrário, não haverá parágrafos de desenvolvimento em aviso ou ofício de mero encaminhamento. Gabarito: CERTO. Bons estudos e excelente prova! Grande abraço! Prof. Fabiano Sales. fabianosales@estrategiaconcursos.com.br
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