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TEORIA GERAL DO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE INSTAGRAM.COM/DIREITOCOMISABELLA - ISABELLA FLORENZANO A supremacia da Constituição impõe a compatibilidade vertical das normas do ordenamento jurídico, fiscalizada por órgãos encarregados de impedir a criação ou manutenção de atos normativos em desacordo como seu fundamento de validade. A locução “controle de constitucionalidade” deve ser entendida como uma verificação de compatibilidade, de adequação entre normas: as leis (e os demais atos normativos) e a Constituição. Natureza da norma inconstitucional Há três posicionamentos sobre o tema. Atos inexistentes: Parte do pressuposto de que uma norma só existe, em termos jurídicos, quando pertence a um ordenamento jurídico vigente, ou seja, quando é reconhecida pelos órgãos primários ou quando a sua edição está autorizada por outra norma pertencente ao sistema. As normas inconstitucionais, por não reunirem tais condições, devem ser consideradas assim. Ato anulável: Considera o ato válido e eficaz enquanto não houver a decretação de inconstitucionalidade pelo tribunal constitucional. A decisão judicial tem natureza constitutiva por anular a norma, não apenas de declarar a nulidade preexistente. “No fim das contas, é sempre uma autoridade pública que deve declarar de forma autentica se as condições mínimas foram ou não respeitadas, senão qualquer um poderia se dispensar de obedecer as leis, alegando simplesmente que não são leis.” Hans Kelsen (2007) Ato nulo: A inconstitucionalidade é vício insanável capaz de fulminar a norma desde a sua origem, tendo a decisão judicial natureza declaratória. A teoria da nulidade é acolhida pelo STF. Tipologia da Inconstitucionalidade Caso haja antagonismo e contrariedade do ato normativo inferior e a Constituição, incidirá a inconstitucionalidade, que pode ser classificada como: Quanto a norma constitucional violada Formal: também intitulada como nomodinâmica. Ocorre quando o vício que afeta o ato inconstitucional decorre da inobservância de algum rito do processo legislativo constitucionalmente fixado ou da incompetência do órgão que o editou. Subdivide-se em: TEORIA GERAL DO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE INSTAGRAM.COM/DIREITOCOMISABELLA - ISABELLA FLORENZANO Formal propriamente dita: procede da violação de norma constitucional referente ao processo legislativo. Pode ser subjetiva, no caso de leis e atos emanados de autoridades incompetentes; ou, objetiva, quando leis ou atos normativos são elaborados em desacordo com as regras procedimentais. Formal orgânica: resulta da violação de norma constitucional definidora do órgão competente para tratar da matéria. Formal por violação a pressupostos objetivos: decorre da inobservância de requisitos constitucionalmente previstos para elaboração de determinados atos normativos como, por exemplo, a relevância e urgência exigidas para edição de medidas provisórias. Material: também intitulada como nomoestática. Ocorre quando o conteúdo de leis ou atos normativos contraria normas constitucionais de fundo, como as definidoras de direitos ou deveres. Tal incompatibilidade afronta o principio da unidade do ordenamento jurídico. Quanto a extensao Total: atinge a lei, o ato normativo ou o dispositivo em sua integralidade, não restando partes válidas a serem aplicadas. Parcial: ocorre quando os poderes públicos deixam de adotar medidas suficientemente adequadas para tornar efetiva as normas constitucionais (omissão parcial) ou quando apenas parte da lei ou do dispositivo legal afronta a constituição. Quanto ao momento Originária: quando o surgimento da norma inconstitucional é posterior à Constituição. Nessa hipótese, a norma infraconstitucional possui um vicio de origem, independente do momento a partir do qual a declaração de inconstitucionalidade começa a produzir efeitos. Imaginemos que o parâmetro seja uma norma constitucional originária, promulgada e publicada no dia 05/10/1988. Se compararmos à Constituição uma lei editada em 2007, por exemplo, e detectarmos a sua incompatibilidade, é possível concluir pela sua inconstitucionalidade originária. “A teoria da inconstitucionalidade supõe, sempre e necessariamente, que a legislação sobre cuja constitucionalidade se questiona, seja posterior à Constituição. Porque tudo estará em saber se o legislador ordinário agiu dentro de sua esfera de competência ou fora dela, se era competente ou incompetente para editar a lei que tenha editado.” ADI 2, Rel. Min. Paulo Brossad, DJ de 21/11/1997. Superveniente: a existência da norma- objeto é anterior à norma de referencia e, embora originariamente constitucional, torna-se incompatível com o novo parâmetro. No Brasil não se reconhece. Essa hipótese é tratada como um problema de direito intertemporal, concluindo que a incompatibilidade superveniente não gera inconstitucionalidade, mas sim a ocorrência de não recepção (ou revogação). Uma lei não se torna inconstitucional, nasce assim. “O vicio de inconstitucionalidade é congênito à lei e há de ser apurado em face da Constituição vigente ao tempo de sua elaboração. Lei anterior ão pode ser inconstitucional em relação à Constituição superveniente, nem o legislador poderia infringir a Constituição futura. A Constituição sobrevinda não torna inconstitucional leis anteriores com ela conflitantes: revoga-as. Pelo fato de ser superior, TEORIA GERAL DO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE INSTAGRAM.COM/DIREITOCOMISABELLA - ISABELLA FLORENZANO a Constituição não deixa de produzir efeitos revogatórios. Seria ilógico que a lei fundamental, por ser suprema, não revogasse, ao ser promulgada, leis ordinárias. A Lei Maior valeria menos que a ordinária.” ADI 521-DF Min. Paulo Brossard. Quanto ao tipo de conduta ofensiva Por Ação: Pressupõe, por parte do Estado, de uma conduta positiva que não se compatibiliza com os preceitos constitucionais. Assim, os Poderes Públicos agem ou editam normas em descompasso com o texto constitucional, o que fulmina o comportamento ou as normas editadas com o vício da inconstitucionalidade. Por omissão: quando o comportamento inconstitucional deriva do silêncio, da inércia. Ocorre quando a letargia dos Poderes Públicos impede a efetivação de uma norma constitucional que, para produzir efeitos com plenitude, depende de uma atuação estatal. Sendo assim, se não são adotadas, ou são adotadas de modo insuficiente, medidas legislativas ou executivas imprescindíveis à regulamentação da Lei Maior, estaremos diante do descumprimento da obrigação constitucional de agir. A omissão se subdivide em: total: ou absoluta. Quando não há nenhum resquício de regulamentação. A inercia é integral. Parcial: Quando há atuação estatal, mas essa é insuficiente. Quanto ao prisma de apuracao direta: imediata ou antecedente. Resulta da violação frontal à Constituição, ante a inexistência de ato normativo situado entre a norma-objeto e o parâmetro ofendido. Indireta: ou mediata. Ocorre quando da presença da norma interposta entre o objeto e o dispositivo constitucional. Se divide em duas subespécies: consequente: quando o vício de uma norma atinge outra dependente dela, como no caso de regulamentadores de leis inconstitucionais. Reflexa: ou por via oblíqua. Quando resulta da violação a normas infraconstitucionais interpostas, como no caso de decretos ilegais. Dessa espécie os decretos violadores de leis regulamentadas, os quais devem ser considerados ilegais e, apenas indiretamente, inconstitucionais. Formas de controle de constitucionalidade O controlede constitucionalidade das leis e atos normativos se realiza de variadas formas, por órgãos diversos e em momentos distintos. As classificações visam facilitar a compreensão de quando, como, por que e por quem o controle pode ser exercido. Quanto ao momento O marco distintivo entre as duas modalidades deve ser a data da publicação da lei ou ato normativo, quando o processo legislativo é definitivamente concluído. TEORIA GERAL DO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE INSTAGRAM.COM/DIREITOCOMISABELLA - ISABELLA FLORENZANO Controle preventivo: tem como objeto leis ou atos normativos em formação. É sempre anterior à promulgação da norma, visando impedir que ela ingresse no ordenamento jurídico e, com isso, passe a fruir da presunção (relativa) de ser constitucional. No âmbito do Poder Legislativo, é exercido, em regra, pelas comissões de constituição e justiça, sem prejuízo de seu exercício pelo plenário das respectivas casas. No âmbito parlamentar também ocorre no caso de delegação atípica, quando o Congresso Nacional pode apreciar o projeto de lei delegada elaborada pelo Presidente da República. Art. 68. As leis delegadas serão elaboradas pelo Presidente da República, que deverá solicitar a delegação ao Congresso Nacional. (...) §3º Se a resolução determinar a apreciação do projeto pelo Congresso Nacional, este a fará em votação única, vedada qualquer emenda. O Chefe do Poder Executivo pode exercer o controle, de forma preventiva, opondo o veto jurídico a projeto de lei considerado inconstitucional. Art. 66. A Casa na qual tenha sido concluída a votação enviará o projeto de lei ao Presidente da República, que, aquiescendo, o sancionará. §1º Se o Presidente da República considerar o projeto, no todo ou em parte, inconstitucional ou contrário ao interesse público, vetá-lo-á total ou parcialmente, no prazo de quinze dias úteis, contados da data do recebimento, e comunicará, dentro de quarenta e oito horas, ao Presidente do Senado Federal os motivos do veto. O exercício pelo Poder Judiciário ocorre apenas excepcionalmente, nos casos de impetração de mandado de segurança por parlamentar quando violadas as regras do processo legislativo. Somente são admitidas como parâmetro normas referentes ao processo legislativo previsto na Constituição, não podendo ser invocadas para tal fim as constantes apenas de regimentos internos. O controle preventivo não inviabiliza posterior controle repressivo. Controle repressivo: ou típico. Tem por objeto leis e atos normativos já promulgados, editados e publicados. Pode ser exercido pelo Poder Legislativo em diversas situações, como: I. O Congresso Nacional pode sustar atos do Presidente da República que exorbitem os limites da delegação legislativa ou do poder regulamentar. Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional: (...) V - sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de delegação legislativa; II. Pode rejeitar medidas provisórias por ausência dos requisitos objetivos de relevância e urgência, por terem conteúdo incompatível com a Constituição ou por ela vedado, ou, ainda, por terem sido reeditadas na mesma sessão legislativa em que foram rejeitadas ou que tenham perdido sua eficácia por decurso de prazo. III. O Tribunal de Contas pode apreciar a constitucionalidade de leis e atos do Poder Público no exercício de suas atribuições. (Súmula 347/STF) O Chefe do Executivo pode negar cumprimento a leis e atos normativos considerados inconstitucionais. Para legitimar a negativa, de TEORIA GERAL DO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE INSTAGRAM.COM/DIREITOCOMISABELLA - ISABELLA FLORENZANO moto a evitar eventuais responsabilizações, deve justifica-la por escrito e dar publicidade ao ato. Deve também ajuizar ação cabível a fim de impugnar o ato combatido. Declarada a constitucionalidade da lei, a negativa de cumprimento não pode persistir, sob pena de caracterizar hipótese de intervenção. O protagonista no controle repressivo é o Poder Judiciário. A competência para exercer o controle concentrado é reservada, quando o parâmetro violado for a CF, ao STF e, quando for norma de constituição estadual, aos tribunais de justiça. O controle difuso pode ser exercido por qualquer juiz ou tribunal, inclusive de oficio, dentro de suas respectivas competências. Quanto a natureza do orgao Controle político: é realizado por órgãos sem poder jurisdicional, como o Poder Legislativo, Executivo ou mesmo um órgão especial constitutivo para esse fim e que não faz parte da estrutura de nenhum dos três poderes. Controle jurisdicional: é exercido por órgãos do Poder Judiciário e a primazia para exercer o controle é conferida a juízes e tribunais. É o adotado no Brasil! Controle misto: os dois sistemas são adotados, a depender do tipo de lei ou ato normativo. No caso da Suíça, as leis locais são submetidas ao controle jurisdicional e as leis nacionais ao controle politico realizado pela Assembleia Nacional. Realizados pelos órgãos integrantes do Poder Judiciário e possuidores de poderes jurisdicionais: Controle judicial-preventivo: excepcional e somente autorizado para tutelar os direitos dos parlamentares ao devido processo legislativo. Controle judicial-repressivo: verificação pelo Judiciário das leis com tramitação procedimental devidamente concluída. Realizado por órgãos não integrantes do Poder Judiciário e desprovidos de poderes jurisdicionais: Controle Político Repressivo: Poder executivo: prorrogativa de descumprir uma lei, no âmbito da sua administração, ao argumento de que ela é inconstitucional. Poder legislativo: possibilidade de o Congresso Nacional sustar os atos normativos do Poder Executivo quando este extrapolar os limites da delegação legislativa. Rejeição da MP ao argumento de que ela é inconstitucional. Súmula 347, STF. Autoriza o Tribunal de Contas a apreciar a constitucionalidade das leis e dos atos do Poder Público. Controle Político Preventivo: Poder executivo: veto jurídico. Poder legislativo: atuação das comissões de Constituição e Justiça. TEORIA GERAL DO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE INSTAGRAM.COM/DIREITOCOMISABELLA - ISABELLA FLORENZANO Quanto a finalidade Controle concreto: quando a constitucionalidade da norma é arguida de modo incidental, no curso de uma demanda que possui como intuito principal solucionar uma controvérsia envolvendo direitos subjetivos. O objetivo central do processo é a defesa do direito ou interesse subjetivo da parte. Todavia, essa tutela só se efetiva após que a questão de constitucionalidade é decidida. A discussão envolvendo a constitucionalidade da norma não é a questão principal da ação, mas uma questão prejudicial. A verificação da constitucionalidade é um antecedente lógico, temporal e incidental para a formação do juízo de convicção acerca da controvérsia. Exemplo um indivíduo ingressa com ação requerendo o não cumprimento da obrigação X, estipulada pela lei A e, como fundamento para pedido, sustente ser a lei A inconstitucional. Antes mesmo do magistrado decidir o cumprimento da obrigação, deve avaliar a constitucionalidade da lei, afinal, se ela for inconstitucional, o individuo estará desobrigado de cumpri-la. No entanto, se for constitucional, o individuo se sujeita à obrigação por ela firmada. Controle Abstrato: quando o controle é instaurado com a finalidade de promover a defesa objetiva da Constituição, verificando-se a constitucionalidade do ato em tese, desvinculada de qualquer ocorrência fática. Mesmo nestaespécie de controle o que se aprecia não é a simples compatibilidade entre dispositivos da lei com a Constituição, pois mesmo quando a inconstitucionalidade é apreciada em tese, a analise envolve três elementos (lei, problema e Constituição) e não apenas a lei e a Constituição. Quanto a competencia O controle de acordo com o órgão jurisdicional competente pode ser difuso ou concentrado. No Brasil se adota o controle jurisdicional misto ou combinado, passível de ser exercido em ambas as vias. Controle difuso: originado nos Estados Unidos, no leading case Marbury v. Madison, julgado pela Suprema Corte em 1803, é realizado por qualquer juiz, ainda que não vitalício, ou Tribunal. No Brasil, vem sendo consagrado desde a primeira Constituição Republicana (1891). Controle concentrado: ou reservado. É atribuído exclusivamente a determinado tribunal. Foi idealizado por Hans Kelsen e consagrado pela Constituição da Áustria (1920). No Brasil, o primeiro instrumento de controle concentrado foi a representação interventiva, na Constituição de 1988 e regulamentada pela Lei 12.562/11, referida ação de controle concentrado-concreto é uma exceção na sistemática brasileira que, em regra, consagra mecanismos de controle concentrado-abstrato ou de controle difuso-concreto. O controle concentrado-abstrato surgiu com a EC 16/65, responsável por introduzir a representação de inconstitucionalidade no sistema jurídico pátrio. O controle concentrado no Brasil realiza-se, na quase totalidade dos casos, de modo abstrato, enquanto o controle difuso é sempre realizado de forma incidental, e normalmente a partir de um caso concreto. Doutrinas utilizadas: Manual de Direito Constitucional – Nathalia Masson e Curso de Direito Constitucional – Marcelo Novelino.
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