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Cecília Regina C. F. Coelho Rita de Cássia G. Menegon Metodologia e Prática do Ensino de Língua Portuguesa Revisada por Cecília Regina C. F. Coelho e Rita de Cássia G. Menegon (setembro/2012) É com satisfação que a Unisa Digital oferece a você, aluno(a), esta apostila de Metodologia e Prática do Ensino de Língua Portuguesa, parte integrante de um conjunto de materiais de pesquisa voltado ao aprendizado dinâmico e autônomo que a educação a distância exige. O principal objetivo desta apostila é propiciar aos(às) alunos(as) uma apresentação do conteúdo básico da disciplina. A Unisa Digital oferece outras formas de solidificar seu aprendizado, por meio de recursos multidis- ciplinares, como chats, fóruns, aulas web, material de apoio e e-mail. Para enriquecer o seu aprendizado, você ainda pode contar com a Biblioteca Virtual: www.unisa.br, a Biblioteca Central da Unisa, juntamente às bibliotecas setoriais, que fornecem acervo digital e impresso, bem como acesso a redes de informação e documentação. Nesse contexto, os recursos disponíveis e necessários para apoiá-lo(a) no seu estudo são o suple- mento que a Unisa Digital oferece, tornando seu aprendizado eficiente e prazeroso, concorrendo para uma formação completa, na qual o conteúdo aprendido influencia sua vida profissional e pessoal. A Unisa Digital é assim para você: Universidade a qualquer hora e em qualquer lugar! Unisa Digital APRESENTAÇÃO INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................... 5 1 OS CONTEÚDOS DA LÍNGUA PORTUGUESA ..................................................................... 7 1.1 Resumo do Capítulo .................................................................................................................................................. 8 1.2 Atividades Propostas ......................................................................................................................................................8 2 LÍNGUA ORAL........................................................................................................................................... 9 2.1 Resumo do Capítulo .......................................................................................................................................................9 2.2 Atividades Propostas...............................................................................................................................................10 3 LÍNGUA ESCRITA: USOS E FORMAS........................................................................................ 11 3.1 Reflexão sobre a Língua .............................................................................................................................................11 3.2 Resumo do Capítulo ................................................................................................................................................12 3.3 Atividades Propostas ...................................................................................................................................................12 4 LEITURA ...................................................................................................................................................... 13 4.1 Ensino da Leitura ..........................................................................................................................................................13 4.2 A Relação entre os Olhos e o Cérebro ...............................................................................................................14 4.3 O Processo de Leitura ..................................................................................................................................................16 4.4 Estratégias de Leitura ..................................................................................................................................................17 4.5 Prática de Leitura ..........................................................................................................................................................17 4.6 Tratamento Didático ....................................................................................................................................................18 4.7 Resumo do Capítulo ....................................................................................................................................................21 4.8 Atividades Propostas ...................................................................................................................................................21 5 ESCRITA ...................................................................................................................................................... 23 5.1 Resumo do Capítulo ................................................................................................................................................27 5.2 Atividades Propostas ...................................................................................................................................................28 6 ORTOGRAFIA .......................................................................................................................................... 29 6.1 Resumo do Capítulo ................................................................................................................................................34 6.2 Atividades Propostas ...................................................................................................................................................34 7 PONTUAÇÃO........................................................................................................................................... 35 8 GRAMÁTICA ............................................................................................................................................. 39 9 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................... 41 RESPOSTAS COMENTADAS DAS ATIVIDADES PROPOSTAS ..................................... 43 REFERÊNCIAS ............................................................................................................................................. 47 SUMÁRIO Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 5 Caro(a) aluno(a), Nesta disciplina, temos o intuito de contribuir para a sua formação no sentido de direcionarmos o ensino da Língua Portuguesa como objeto de estudo e reflexão. Entendemos que, apesar de os materiais curriculares e livros didáticos continuarem apoiados nas condutas empiristas, os aspectos de formação dos professores atualmente vêm sofrendo grande influên- cia das novas tendências construtivistas. Além disso, há também um grande distanciamento entre teoria e prática, devido à grande dificuldade de transformar aspectos da teoria em práticas que realmente con- duzam à construção de conhecimento pelos aprendizes. Propomos, então, utilizar os conteúdos da Língua Portuguesa junto à metodologia que tenha como ponto de partida os conhecimentos prévios dos educandos, de forma interativa, valorizando o olhar do outro sobre o objeto de reflexão. Desse modo, constataremos a importância dessa interação no que diz respeito à ampliação de conhecimentos e aquisição de novas referências no aprendizado das questões da língua escrita. Abordaremos os conteúdos da Língua Portuguesa de forma separada, como organizado no sumá- rio, por considerarmos essa estrutura mais didática e adequada para você, estudante, o que facilitará o aprendizado e a organização desses assuntos na rotina escolar. Didaticamente, porém, esses conteúdos de Língua Portuguesa devem ser abordados em sala de aula de maneiraglobal. Finalmente, desejamos que faça um excelente módulo, que estude bastante e aprofunde seus co- nhecimentos, para utilizá-los na sua carreira. INTRODUÇÃO Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 7 [...] sem uma reflexão sobre a própria prática, esta se torna automática e corre o ris- co de distanciar-se cada vez mais da realidade mutante da sala de aula. A reflexão é a única via para melhorar o nosso trabalho. Rosa Simó e Neusa Roca Caro(a) aluno(a), Neste capítulo, você terá a oportunidade de estudar algumas questões relativas ao ensino e à aprendizagem da Língua Portuguesa. Esses pro- cessos devem ser pensados a partir da articulação: aluno, língua e ensino. O aluno é o sujeito da ação de aprender. A língua é o objeto de conhecimento. O ensino é o ato educacional que promove a intercessão entre o aluno e o objeto de conhecimento. A Língua Portuguesa não pode ser pensada apenas como uma construção espontaneísta, na qual os alunos aprenderiam os conteúdos escola- res apenas por serem expostos a eles. Essas práti- cas pedagógicas acabaram desvirtuando o papel do professor. Uma escola comprometida com a democra- tização social e cultural garante um trabalho com a língua, uma vez que, por meio dela, construímos conhecimentos, temos acesso a informações e de- fendemos nossas opiniões. A responsabilidade da escola aumenta na medida em que o grau de conhecimento dos alu- nos for menor, pois cabe a ela prover atividades que ampliem os saberes dos alunos, tornando-os capazes de ler, interpretar e produzir os diversos textos que circulam socialmente. Os conteúdos da Língua Portuguesa neces- sitam ser selecionados com o propósito de desen- volver as habilidades linguísticas básicas: falar, escutar, ler e escrever. Para esse aprendizado, é ne- cessário se apoiar em dois pilares: a utilização da linguagem oral e escrita e o processo de análise e reflexão sobre a língua. DicionárioDicionário Linguística: estudo científico da linguagem humana em sua totalidade, em sua realidade multiforme e em suas múltiplas relações. Fun- damenta-se na observação direta e abstém- -se de toda e qualquer prescrição, pois não é normativa. Como a linguagem se manifesta em línguas, a linguística interessa-se por todas as línguas, em todos os seus níveis e modalidades.AtençãoAtenção O aluno é o sujeito da ação de aprender. A língua é o objeto de conhecimento. O ensino é o ato educacional que promove a intercessão entre o aluno e o objeto de conhecimento. OS CONTEÚDOS DA LÍNGUA PORTUGUESA1 Cecília Regina C. F. Coelho e Rita de Cássia G. Menegon Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 8 Refletir acerca dos processos de ensino e aprendizagem implica analisar pelo menos três compo- nentes da relação Didática: o aluno, o objeto de conhecimento e o ensino. As práticas pedagógicas para a construção da Lín- gua Portuguesa necessitam ser planejadas para que os alunos se apropriem dos conhecimentos e se tornem proficientes na leitura, na escrita e na oralidade. A escola que é comprometida com a democrati- zação social e cultural proporciona oportunidades para que os alunos tenham acesso aos conhecimentos historicamente acumulados. 1.1 Resumo do Capítulo DicionárioDicionário Proficiente: competente, capaz, hábil. 1.2 Atividades Propostas Agora responda: 1. No ensino e aprendizagem da Língua Portuguesa, qual é o papel de cada elemento que se articula (aluno – língua – ensino)? 2. Quais são as habilidades linguísticas que os alunos devem desenvolver no aprendizado da Língua Portuguesa? Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 9 Neste capítulo, você lerá acerca da importân- cia da língua oral na escola. Vamos iniciar o estudo? Uma das tarefas da escola é ensinar as formas e usos da língua oral, pois, no dia a dia, as pessoas vivenciam situações de comunicação oral. Através de atividades específicas, os alunos precisam aprender a utilizar a fala em diversas si- tuações sociais, a fim de que adquiram autocon- fiança. Esses exercícios devem trabalhar com a va- riedade linguística de prestígio social e respeitar as formas de expressão das diferentes comunidades. A ação pedagógica deve propor projetos de estudo, quer seja na área de Língua Portuguesa ou nas demais áreas do conhecimento, com ativida- des sistemáticas de fala, escuta e reflexão sobre a língua. Ensinar aos alunos o uso da língua, adequa- do às diferentes situações comunicativas, é tarefa da escola. ‘[...] boas atividades de produção e inter- pretação de uma ampla variedade de tex- tos orais, de observação de diferentes usos, de reflexão sobre os recursos que a língua oferece para alcançar diferentes finalida- des comunicativas’. A articulação entre a exposição oral, língua oral e escrita será um momento de complementação das atividades, atribuindo-se um sentido para o trabalho. ‘Os exercícios de entonação, dicção e postura conferem um sentido ao texto.’ (BRASIL, 1996). São exemplos de trabalho com linguagem oral: dramatização, seminários, simulação de pro- gramas de rádio e televisão, “contação” de histórias para os outros alunos, diálogos com reflexões so- bre um determinado tema, exposições sobre as- suntos já estudados etc. AtençãoAtenção Os alunos precisam aprender a utilizar a fala em diversas situações sociais, a fim de que adquiram autoconfiança. Esses exer- cícios devem trabalhar com a variedade linguística de prestígio social e respeitar as formas de expressão das diferentes co- munidades. 2.1 Resumo do Capítulo A Língua Oral deve fazer parte da prática pedagógica do docente. Ela deve ser planejada, garantin- do, assim, aos alunos conhecimentos para atuar na sociedade. Importante destacar a necessidade do respeito à variedade linguística de prestígio social e às formas de expressão das diferentes comunidades. A Linguagem Oral deve ter garantida a sua pre- sença no planejamento das aulas. DicionárioDicionário Docente: professor, mestre. LÍNGUA ORAL2 Cecília Regina C. F. Coelho e Rita de Cássia G. Menegon Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 10 Agora responda: 1. No ensino da linguagem oral, qual é a função da escola? 2. Dê exemplos de atividades com a linguagem oral que o professor poderá realizar com a classe. 2.2 Atividades Propostas Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 11 Refletir é olhar a própria ação de uma maneira particular e à distância. É tomar uma certa distância para melhor julgar o que se está fazendo, ou o que se fez, ou o que se fará. Pierre Furter Caro(a) aluno(a), Já iniciamos os estudos acerca da Língua Oral; agora, passaremos para as Práticas de Leitura e Escrita. Elas serão tratadas separadamente, em- bora compreendamos ser complementares, já que se modificam mutuamente no processo de letra- mento, pois a escrita transforma a fala e a fala in- fluencia a escrita. DicionárioDicionário Mútuo: recíproco, que se troca ou permuta en- tre dois grupos ou duas pessoas. 3.1 Reflexão sobre a Língua A reflexão sobre a língua é de extrema impor- tância para o desenvolvimento da capacidade de produzir e interpretar textos. O que observamos ainda é uma prática em que o ensino sobre a linguagem é tratado como um conteúdo em si e não como um meio para me- lhorar a qualidade de produção linguística. As atividades de análise linguística e de refle- xão sobre a língua são classificadas em: epilinguísticas: são as atividades que focalizam o uso da língua no que diz res- peito aos recursos linguísticos utilizados. O professor precisa planejar atividades que propiciem a reflexão sobre os recur- sos expressivos usados pelo autor do tex- to, tanto no que diz respeito aos aspec- tos gramaticais quanto aos aspectos de estruturação do discurso (BRASIL,1996); metalinguísticas: são as atividades que focalizam a descrição dos elementos linguísticos através da sua classificação e sistematização. Essas atividades não estão vinculadas ao processo discursivo. Numa situação didática, a atividade deve favorecer ao aluno o levantamento de regularidades de aspectos da língua e a sistematização e classificação de suas características específicas. Por exemplo: para discutir a acentuação de uma pala- vra, é necessário conhecer a tonicidade, a forma pela qual é marcada nas palavras impressas, a classificação das palavras quanto ao número de sílabas, entre ou- tros (BRASIL, 1996). LÍNGUA ESCRITA: USOS E FORMAS3 Cecília Regina C. F. Coelho e Rita de Cássia G. Menegon Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 12 Para o ensino da Língua Portuguesa, é ne- cessário ter conhecimento dessas duas formas me- todológicas, ressaltando-se que ambas precisam ocorrer de forma paralela no ato de ensinar e que não se pode partir sempre da categorização ou classificação de conceitos, mas, também, da refle- xão de como são usados em nossa língua. AtençãoAtenção A reflexão sobre a língua é de extrema importância para o desenvolvimento da capacidade de produzir e interpretar tex- tos. 3.2 Resumo do Capítulo O professor necessita trabalhar alguns aspectos da Língua para que os alunos se tornem proficien- tes na leitura e na escrita, entre eles, os epilinguísticos e os metalinguísticos. 3.3 Atividades Propostas Agora responda: 1. As atividades de análise linguística e reflexão sobre a língua são classificadas em: 2. Explique cada uma delas, exemplificando. Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 13 O homem constrói casas porque está vivo, mas escreve livros porque se sabe mortal. Ele vive em grupo porque é gregário, mas lê porque se sabe só. Esta leitura é para ele uma companhia que não ocupa o lugar de qualquer outra, mas nenhuma outra companhia saberia substituir. Ela não lhe oferece qualquer explicação definitiva sobre seu destino, mas tece uma trama cerrada de conivências entre a vida e ele. Ínfimas e secretas conivências que falam da paradoxal felicidade de viver, enquan- to elas mesmas deixam claro o trágico absurdo da vida. De tal forma que nossas razões para ler são tão estranhas enquanto nossas razões para viver. E a ninguém é dado o poder de pedir contas dessa intimidade. Daniel Pennac Caro(a) aluno(a), No capítulo anterior, você estudou acerca dos elementos necessários para a reflexão sobre a Lín- gua. Agora, vamos estudar sobre o ensino da leitura? 4.1 Ensino da Leitura Ao longo de muitos séculos, em determina- dos países, alguns escravos conseguiram aprender a ler. Muitas vezes, arriscavam a própria vida e, de- vido às grandes dificuldades, esse aprendizado le- vava muitos anos. Hoje, no século XXI, essa realidade não é mui- to diferente. Estatísticas apontam que, em média, os alunos conseguem finalizar o ensino fundamen- tal em onze anos, quando o correto seria oito. No Brasil, 44% das crianças de 1ª série não conseguem aprender a ler e, por esse motivo, ficam retidas ao final do ano. Especialistas em dificuldade de apren- dizagem garantem que são poucos os alunos que possuem um comprometimento real da capacida- de de assimilar os conteúdos escolares. Portanto, se a maioria das crianças é perfeitamente capaz de aprender, podemos concluir que existe um sério problema nas práticas de ensino e que a escola não está conseguindo atingir o seu objetivo principal, que é ensinar a ler e escrever. Se, de fato, ensinar significa “fazer aprender”, torna-se necessário que os conhecimentos acerca do processo de aprendizagem sejam amplamente divulgados, a fim de que os professores possam compreender melhor o processo de construção dos saberes e obtenham mais êxito em seus traba- lhos. Saiba maisSaiba mais Quanto tempo? O Ensino Fundamental passou a ter a duração de 9 (nove) anos, de acordo com a Legislação. Esse ensino deve ser gratuito na escola pública, iniciando-se aos 6 (seis) anos de idade. LEITURA4 Cecília Regina C. F. Coelho e Rita de Cássia G. Menegon Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 14 Há muitos anos, os estudiosos procuram des- vendar a complexidade do ato de ler; porém, da dé- cada de 1970 para cá, obtivemos um avanço nesse campo. Sabemos que o ato de ler depende da rela- ção entre os olhos e o cérebro. Na verdade, há mais de cem anos, descobriu-se que durante a leitura os nossos olhos dão saltos (três ou quatro vezes por segundo) sobre o texto, numa velocidade de cerca de 200 graus por segundo, ou seja, a leitura de um texto impresso não é feita de forma linear. Além disso, sabemos que durante esses sal- tos ocorre certo tipo de adivinhação e que os olhos não estão exatamente vendo tudo. O tempo de fi- xação dos olhos a cada vez é de 50 milésimos de segundo e a distância entre as fixações depende da dificuldade oferecida pelo material lido. Na leitura silenciosa, podemos ler até 200 palavras por minuto quando o texto oferece uma linguagem fácil ou um conteúdo conhecido. Já a leitura em voz alta é mais demorada, porque a emissão das palavras é mais lenta que o movimen- to dos olhos. Devido à sua complexidade, o processo de leitura envolve uma série de condições: nível de conhecimento prévio do assunto tratado, nível de complexidade do texto, habilidade e estilo pessoal do leitor e objetivo da leitura. 4.2 A Relação entre os Olhos e o Cérebro DicionárioDicionário Linear: que dá ideia de seguir em linha reta. A velocidade dos olhos sobre o texto Estudiosos descobriram que os nossos olhos podem captar, em um mesmo intervalo de tempo: aproximadamente 5 letras, em uma sequência apresen- tada ao acaso; cerca de 10 a 12 letras, em palavras avulsas conhecidas; cerca de 25 letras (mais ou menos cinco palavras), quan- do se trata de um texto com significado. CuriosidadeCuriosidade Com relação ao poder da visão, o psicolin- guista Frank Smith (1999, p. 25-30) afirma que sempre damos demasiado crédito aos olhos por enxergarem. Frequentemente seu papel na leitura é supervalorizado. Os olhos não veem, absolutamente, em um sentido literal. O cérebro determina o que e como vemos. As decisões de percepção do cérebro estão baseadas apenas em parte na informação colhida pelos olhos, imensamente aumentadas pelo conheci- mento que o cérebro já possuiu. [...] Existem vários termos que podem ser utilizados para referirmo-nos ao conheci- mento que trazemos em nossas mentes durante todo o tempo. Poderei falar em conhecimento prévio ou informação não visual, armazenados no cérebro, possibili- tando que extraiamos sentido da informa- ção visual que nos chega através dos olhos quando lemos. [...] O conhecimento que já devemos pos- suir a fim de compreendermos a lingua- gem escrita (como o conhecimento de que Metodologia e Prática do Ensino de Língua Portuguesa Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 15 necessitamos para entender a fala), reside na memória a longo prazo. E a recordação do sentido que tiramos de experiências passadas é a fundação de toda a nova com- preensão da linguagem do mundo. Em contextos mais gerais, esta base do enten- dimento é também chamada de estrutura cognitiva. O termo é bastante bom porque ‘cognitivo’ significa ‘conhecimento’ e ‘estru- tura’ implica ‘organização’, e isso é o que, na verdade, temos em nossas cabeças – uma organização do conhecimento. [...] O siste- ma de conhecimento, em nossas cabeças, é organizado em um modelo de trabalho intrincado e internamente consistente do mundo, construído através de nossas inte- rações com o mundo e integrado em todo coerente, sabemos bem mais do que ja- mais nos ensinaram. Diante dessa citação, podemosconcluir que a gente vê o que a gente sabe. A leitura se estabelece por meio de dois fa- tores: o que é visto pelos olhos (o texto impresso) e o que está “por trás” dos olhos (o conhecimento prévio do leitor). Segundo Paulo Freire (1983), a leitura do mundo antecede a leitura da palavra; para ele, o ato de ler não termina simplesmente quando se decodifica a palavra escrita ou a linguagem escrita. Partindo, então, do pressuposto de que o ato de ler implica ler o mundo, inclusive antes de ter- mos acesso ao código escrito, é necessário que se coloque em jogo a experiência de vida do leitor. A leitura passa a ser um processo ativo, dependendo da interação leitor-texto. Paulo Freire, num Congresso Brasileiro de Leitura, em Campinas, no ano de 1981, proferiu as seguintes palavras: Me parece indispensável, ao procurar falar de tal importância, dizer algo do momen- to em que me preparava para aqui estar hoje; dizer algo do processo em que me inseri enquanto ia escrevendo este texto que agora leio, processo que envolvia uma compreensão crítica do ato de ler, que não se esgota na decodificação pura da palavra escrita ou da linguagem escrita, mas que se antecipa e se alonga na inteligência do mundo. A leitura do mundo precede a lei- tura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuida- de da leitura daquele. Linguagem e realidade prendem-se dina- micamente. A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto. Ao ensaiar escrever sobre a im- portância do ato de ler, eu me senti levado – e até gostosamente – a ‘reler’ momentos fundamentais de minha prática, guarda- dos na memória, desde as experiências mais remotas de minha infância, de minha adolescência, de minha mocidade, em que a compreensão crítica do ato de ler se veio em mim constituindo. A partir do exposto, o professor, necessaria- mente, deve considerar os conhecimentos prévios do aluno (tanto sobre o mundo quanto sobre a lín- gua), pois o leitor utiliza essas estruturas cognitivas para ler. Dessa forma, uma criança que ainda não é alfabetizada não conseguirá ler um texto, mesmo que conheça o assunto tratado, porque lhe faltam os recursos de decodificação da língua e isso a im- pede de decifrar a informação captada pelos olhos. Do mesmo modo, um leitor perfeitamente alfabetizado também terá dificuldades para com- preender um texto caso não tenha nenhum conhe- cimento sobre o assunto que está sendo tratado. Esses conhecimentos prévios envolvem tanto o que se sabe sobre a linguagem em si quanto sobre a própria leitura. Para que o processo de leitura seja comple- to, é preciso perceber as características do texto, saber como este se organiza e ter alguma intimi- dade com o assunto abordado, ressaltando que o leitor não precisa conhecer o significado de todas DicionárioDicionário Decodificar: analisar símbolos gráficos ou fala- dos de uma língua conhecida para determinar o seu significado pretendido. Cecília Regina C. F. Coelho e Rita de Cássia G. Menegon Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 16 as palavras do texto para que possa compreender a mensagem escrita. Se nos aprofundarmos no estudo da leitura, poderemos perceber que se trata de um proces- so que envolve várias estratégias que conduzem à construção dos significados. A decodificação é apenas um dos procedimentos utilizados e, sem a combinação de todas as estratégias, não há como se atingir uma leitura fluente e eficaz. AtençãoAtenção Para que o processo de leitura seja com- pleto, é preciso perceber as característi- cas do texto, saber como este se organiza e ter alguma intimidade com o assunto abordado, ressaltando que o leitor não precisa conhecer o significado de todas as palavras do texto para que possa com- preender a mensagem escrita. 4.3 O Processo de Leitura No livro Estratégias de Leitura, a autora Isabel Solé (1998) faz alusão à existência de dois modelos para explicar o processo de leitura, que são consi- derados hierárquicos pelos pesquisadores. A auto- ra pontua que esses processos têm sido utilizados como metodologia para o ensino da leitura. O primeiro modelo é o bottom-up, em que se considera que o leitor, perante o texto, processa seus elementos de forma ascendente, sequencial e hierárquica, levando-o à compreensão da leitu- ra. Exemplo: aprende-se, primeiramente, a ler as le- tras, depois as palavras, frases... até a leitura do tex- to. Nesse processo, acredita-se que a compreensão da leitura vai ocorrendo a partir do conhecimento das partes para o todo. Portanto, as propostas de ensino baseadas nele atribuem grande importân- cia às habilidades de decodificação, pois conside- ram que o leitor só poderá compreender o texto quando puder decodificá-lo totalmente. Nesse modelo, a atenção está voltada exclusi- vamente para o texto e tanto as inferências quanto a possibilidade de se compreender o texto, mesmo sem entender todos os seus elementos, são des- consideradas. O segundo modelo é o top-down, que, ao contrário do anterior, considera a necessidade de se utilizar os conhecimentos prévios e os recursos cognitivos para estabelecer antecipações sobre o conteúdo de um texto, fixando-se neste para verifi- cá-las. Nesse modelo, acredita-se que, quanto mais informação o leitor tiver sobre o texto, menos pre- cisará se “deter” nele para construir uma interpre- tação. Nesse caso, o processo de leitura também é sequencial e hierárquico, mas ocorre de maneira descendente, pois parte das hipóteses e antecipa- ções prévias, passando pela verificação, para che- gar ao processamento do texto. Nessa proposta de ensino, desconsideram-se as habilidades de decodificação e a atenção está centrada no leitor. A proposta metodológica ideal, segundo Isa- bel Solé (1998), seria um modelo interativo, que não se centre exclusivamente nem no texto nem no leitor, conforme os modelos apresentados. As- sim, o leitor utilizará tanto seu conhecimento do mundo quanto seu conhecimento do texto para construir uma interpretação sobre ele. O objetivo aqui é que o aluno seja capaz de processar o texto e seus diferentes elementos, bem como as estraté- gias que tornarão possível sua compreensão. Metodologia e Prática do Ensino de Língua Portuguesa Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 17 Alguns estudos denominam estratégias que, no ato da leitura, devem ser utilizadas para se ob- ter, avaliar e colher informações. Elas são usadas praticamente ao mesmo tempo, sem que tenha- mos consciência: Estratégias de Seleção: são utilizadas quando o leitor volta a sua atenção para as características úteis de um texto; Estratégias de Antecipação: quando, durante a leitura de um texto, o leitor consegue obter pistas e prever o que está por vir. Essas pistas podem ser fornecidas pelo título do texto, gênero, autor etc.; Estratégias de Inferência: são aplicadas quando o leitor consegue entender o que está implícito no texto, baseado em seus conhecimentos; Estratégias de Decodificação: ocorrem quando o aluno em processo de alfabeti- zação vai se apropriando do domínio do código escrito. Não é a mais importante das estratégias, como muitos professores têm considerado, mas é fundamental no processo de leitura; Estratégias de Verificação: permitem que se faça uma análise sobre a eficácia das demais estratégias. Essa verificação é inerente à leitura. 4.4 Estratégias de Leitura AtençãoAtenção No ato da leitura, utilizamos as seguin- tes estratégias: Decodificação, Seleção, Antecipação, Inferência, Decodificação e Verificação. 4.5 Prática de Leitura O trabalho com leitura tem o objetivo de formar bons leitores e, por consequência,bons escritores, pois a possibilidade de produzir textos eficazes se inicia somente com a prática da leitura, espaço de construção da intertextualidade e fonte de referências modeladoras. A leitura, por um lado, nos fornece subsídios para a escrita: o que escrever. Por outro, contribui para a constituição de mode- los: como escrever. A leitura não é unicamente um processo para se decodificar letra por letra, palavra por palavra. É uma atividade mais plural e complexa, em que é imprescindível a compreensão, através da qual os sentidos vão sendo constituídos até a completa construção dos significados. Nesse processo, o lei- tor promove um trabalho ativo, que envolve seus objetivos e seus conhecimentos sobre o assunto, sobre o autor, sobre as características do texto e também sobre a estrutura do sistema de escrita. [...] Um leitor competente é capaz de: com- preender aquilo que lê; ler aquilo que não está explicitamente escrito, justificar e va- lidar a sua leitura a partir da localização de elementos discursivos, estabelecer re- lações entre o texto que lê e outros textos já lidos; saber que há vários sentidos que podem ser atribuídos a um texto. (BRASIL, 1997a, p. 41). AtençãoAtenção O trabalho com leitura tem o objetivo de formar bons leitores e, por consequência, bons escritores, pois a possibilidade de produzir textos eficazes se inicia somente com a prática da leitura, espaço de cons- trução da intertextualidade e fonte de re- ferências modeladoras. Cecília Regina C. F. Coelho e Rita de Cássia G. Menegon Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 18 A leitura é uma prática social complexa e, como tal, deve ser trabalhada com a diversidade de objetivos e modalidades, ou seja, ler para buscar in- formações, ler para revisar ou, ainda, ler buscando informações relevantes ou o significado implícito nas entrelinhas ou dados para resolver um desafio. Aprendizado Inicial na Leitura A escola ainda tem produzido muitos leito- res que conseguem decodificar os textos, mas que possuem dificuldades para compreender o que está escrito. Isso demonstra que ainda persiste a ideia de que a leitura está voltada para a prática da decodificação, isto é, que o ato de ler se resume apenas em converter letras em sons e que a com- preensão será uma consequência. Geralmente, nas escolas, o trabalho de leitura se limita à leitura de um texto e, posteriormente, é solicitado aos alunos que respondam a algumas questões sobre o que foi lido. Essa atividade de perguntas e respostas é considerada pelos guias didáticos, manuais e até pelos próprios professores uma atividade de compreensão de texto, ou seja, da leitura que foi realizada, mas o propósito dela é a avaliação de resultados da leitura, do produto que foi compreendido, sem que haja algum tipo de interferência no processo do aprendizado, ou seja, não se ensina a compreender nem como se deve atuar nesse processo. Hoje, já sabemos que é preciso oferecer aos alunos várias situações de aprendizagem, utilizan- do os procedimentos de leitores. Esses procedi- mentos são as estratégias de leitura – seleção, an- tecipação, inferência e verificação – mencionadas neste texto. Portanto, apontaremos alguns encaminha- mentos que podem contribuir para esse aprendi- zado. Leitura Diária A leitura deve ser realizada diariamente. Para tal, sugerimos a leitura silenciosa, feita pelo aluno, e a leitura em voz alta, feita pelo professor ou pelo aluno, através da escuta de alguém que lê. Para a realização dessas atividades, o profes- sor precisa garantir algumas condições: explicitar os propósitos da leitura e re- fletir sobre as diferentes modalidades de leitura: ler para se divertir, ler para escre- ver, ler para estudar, ler para revisar, ler para descobrir o que deve ser feito, ler para identificar a intenção do escritor; preparar os alunos para a leitura, utilizan- do estratégias de antecipação e inferên- cia, por exemplo; propor atividades nas quais a leitura te- nha sentido; ler o texto previamente (professor e alu- no), antes de fazê-lo em voz alta; discutir os textos que possibilitam mais de uma interpretação, cabendo ao pro- fessor orientar para que essa compreen- são seja construída coletivamente. Leitura Colaborativa A leitura colaborativa é uma importante es- tratégia didática para formar bons leitores, pois, 4.6 Tratamento Didático As práticas de leitura favorecem a formação de escritores competentes, pois, através da inter- venção do professor, os alunos deverão refletir so- bre o que e como escrever e, a partir disso, pode- rão produzir textos mais eficazes. Para a formação de um leitor competente, é preciso haver a garantia de um trabalho constante de leitura, com textos que circulam socialmente, inclusive com aqueles alunos que não leem con- vencionalmente. Metodologia e Prática do Ensino de Língua Portuguesa Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 19 durante a leitura de um texto, o professor questio- na os alunos sobre as pistas linguísticas que possi- bilitam a atribuição de determinados sentidos. Por meio dessa atividade, é possível realizar inferên- cias, antecipar acontecimentos, validar antecipa- ções etc., pois a possibilidade de interrogar o texto, a di- ferenciação entre a realidade e a ficção, a identificação de elementos discriminató- rios e recursos persuasivos, a interpretação de sentido figurado, a inferência sobre a intencionalidade do autor, são alguns as- pectos dos conteúdos relacionados à com- preensão de textos, para os quais a leitura tem muito a contribuir. (BRASIL, 1996, p. 61). Procedimentos a serem Adotados antes da Leitura de um Texto A prática da leitura tem início quando, num primeiro momento, o leitor examina o material a ser lido. Isso permite que ele tome conhecimento do assunto a ser tratado, do nível de complexida- de e de qual é a mensagem principal do texto. Se o leitor já tiver intimidade com o assunto aborda- do, melhor e mais rapidamente ocorrerá a com- preensão do texto. Caso contrário, será necessário apoiar-se nos próprios elementos do texto e colher informações para se atingir o entendimento do que está sendo proposto no discurso textual. Compreender o ato de ler como diálogo (en- tre leitor, texto, autor e contexto de produção do texto e da leitura) implica, didaticamente, conside- rar que a prática de leitura começa antes mesmo que o leitor inicie a leitura integral da obra; uma primeira inspeção do material a ser lido estabele- ce os parâmetros que irão definir a natureza de sua intenção com o texto [...]. (SÃO PAULO, 2006, p. 12). Procedimentos a serem Adotados durante a Leitura de um Texto (Autônoma ou Compartilhada) A leitura na rotina escolar é objeto de ensino e deve ser trabalhada com os alunos de diversas formas e com diferentes objetivos. Um importante método de leitura é aque- le que ocorre de forma compartilhada, em que o professor, ao promover a leitura em voz alta para a classe, ensina, ao mesmo tempo, a entonação cor- reta, a pronúncia de certas palavras, os efeitos de pontuação etc. Além disso, faz com que a classe se envolva no assunto, através de levantamento de hipóteses e discussões sobre as ideias do autor. Os alunos também precisam ser incentivados à prática da leitura autônoma e silenciosa, para que desenvolvam a sua competência leitora. Dentro dessas atividades, o professor precisa aumentar, gradativamente, o nível de dificuldade dos textos oferecidos para a classe, para que haja uma ampliação sólida e real dos saberes dos edu- candos. A leitura, em situação escolar, além de per- mitir aprender os conteúdos das diferentes áreas do currículo, atualizar-se, entreter- -se ou apreciar esteticamente os usos ex- pressivos da palavra, éela própria, objeto de ensino, pois é função da escola criar as condições que assegurem tanto a constru- ção do sistema de escrita, como também o domínio dos usos sociais da linguagem que se usa para escrever. [...] Ao longo da história escolar, os processos envolvendo a formação de leitores têm passado por mudanças. Se em certas épo- cas foram estimuladas leituras em voz alta, em outras predominou a imposição da lei- tura solitária e silenciosa. Hoje, sabe-se que o exemplo de um bom leitor, que lê em voz alta para um grupo em formação que acompanha o desenrolar das palavras, fra- ses e ideias a partir de uma cópia do mes- mo texto, contribui como referência para aqueles que são iniciantes sobre o modo como se deve ler. [...] Dessa forma, entendemos que leitura inte- gral de um texto pode ocorrer tanto como atividade pessoal, silenciosa ou em peque- nos grupos, como atividade coletiva, quan- do um leitor lê em voz alta a um grupo e pode conversar a respeito dos conteúdos abordados no texto. [...]. (SÃO PAULO, 2006, p. 22-36). Cecília Regina C. F. Coelho e Rita de Cássia G. Menegon Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 20 Procedimentos a serem Adotados depois da Leitura de um Texto As atividades que ocorrem após uma deter- minada leitura seguem o caminho dos questiona- mentos em busca da interpretação do texto lido. Essa experiência promove nos alunos um es- pírito crítico e ocasiona o levantamento de diversas questões sobre o que foi lido. O professor deve sempre incentivar a classe a conversar ou escrever sobre o que leu, apresen- tando suas ideias, discutindo as intenções do autor, expondo seus pontos de vista e inclusive suas pró- prias opiniões, contrárias ou não, sobre o assunto em pauta. A leitura de um texto provoca o desejo de compartilhar com outros leitores algumas das impressões que essa experiência tenha provocado. Por essa razão é que se pode dizer que a leitura de um texto convoca cada leitor a dizer sua palavra. Como as ideias que o texto apresenta se relacionam com as do leitor? Como as proposições sus- tentadas por um autor se relacionam com as de outro? Como o mesmo tema foi abor- dado em outra época? [...] Conversar sobre o que se leu, comparti- lhar impressões com outros leitores: ques- tionar, duvidar, descobrir novas possibili- dades permite uma melhor compreensão da obra, aprofundar o estudo e a reflexão a respeito de conteúdos das diversas áreas curriculares, apreciar os recursos expressi- vos mobilizados pelo autor, bem como de- bater temas polêmicos. Escrever sobre o que se leu é outro modo de responder ao texto. Como o texto es- crito se converte em objeto que se oferece a sucessivas leituras e reescritas, o ato de escrever convida à reflexão e ao aprofun- damento: assimilando a palavra do outro aos poucos, o leitor-escritor descobre a sua própria palavra. (SÃO PAULO, 2006, p. 36- 42). Domínios de Leitura O professor, ao longo do Ensino Fundamen- tal, deve propor aos alunos atividades que desen- volvam os seguintes domínios de leitura: localização e recuperação de informa- ção (ler nas linhas): buscam e recuperam informações explícitas no texto; compreensão e interpretação (ler entre as linhas): relacionam e integram seg- mentos do texto, como, por exemplo, ao deduzir informações implícitas; reflexão (ler por trás das linhas): constrói argumentos para avaliar e julgar as ideias do texto. Exemplo de atividade (baseado em SÃO PAULO, 2006, p. 50-51): Texto: Esfera Literária – Fábula O ASNO E OS SAPOS de Esopo, recontada por Robert Mathias in Fábulas de Esopo – São Paulo: Círculo de Leitura S.A. ,1990 Um dia, há muito tempo, um pobre asno, muito humilde, seguia por uma trilha com uma carga de lenha no dorso. De repente, ao dobrar uma curva no caminho, deu com um charco profundo. Desequilibrando-se ao peso da carga, escorregou e foi cair di- reto no brejo. Apesar de se debater muito, todo aflito, não teve sorte e afundou até o pescoço de lama, por entre um bando de sapos saltitantes. – Pobre de mim! – gemeu o asno, e come- çou a zurrar chorosamente. Depois soltou um longo suspiro, como se seu coração es- tivesse prestes a partir-se em dois. Os sapos pulavam e chapinhavam à volta dele, enquanto o asno afundava cada vez mais no lamaçal. Até que um deles se virou para o infeliz animal e disse: – Meu amigo, se você faz tanto drama só porque de repente se vê dentro de um bre- jo, o que não faria se vivesse aqui o tempo todo, como nós? O hábito torna as coisas familiares e fá- ceis para nós. Metodologia e Prática do Ensino de Língua Portuguesa Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 21 As questões que envolvem localização e recuperação de informações podem oferecer di- ferentes graus de complexidade, de acordo com a posição em que as informações se localizam no texto: Qual era a carga que o asno carregava? O que os sapos disseram para o asno? Para as questões que solicitam a compreen- são e interpretação do texto, é necessário que o leitor relacione vários segmentos: Por que o asno estava zurrando? Nas questões para reflexão, o leitor precisa aplicar a temática do texto a um acontecimento no mundo real: Relate um acontecimento que também poderia ilustrar a moral da fábula. Essa resposta está por trás dos acontecimen- tos do texto. Partirá dos conhecimentos ou expe- riências que o leitor tiver sobre o assunto da leitura. 4.7 Resumo do Capítulo Numa cultura letrada, a leitura está presente o tempo todo. Portanto, a escola deve dar atenção especial à leitura. Quando lemos, utilizamos estratégias que são mobilizadas praticamente ao mesmo tempo para conseguirmos compreender o texto. São elas: decodificação, seleção, antecipação, inferência, decodifi- cação e verificação. Hoje em dia, sabemos que as crianças são capazes de ler mesmo sem saber ler convencionalmente! Por quê? Porque elas utilizam as estratégias para decifrar os símbolos registrados. Objetivando potencializar a aprendizagem, é necessário que o professor planeje quais gêneros se- rão estudados e quais os objetivos de cada um. Em alguns momentos, o professor será o leitor, modelando, assim, a entonação. Deve escolher, nes- se caso, textos que os alunos não leriam sozinhos pela extensão do texto, por exemplo. Já em outros momentos, o aluno deve fazer a leitura autônoma. Como já mencionamos, a leitura visa à compreensão de um texto e, para que se desenvolva, é necessário trabalhar os domínios da leitura: localização e recuperação de informação, compreensão e interpretação e reflexão. No ensino da leitura, é preciso considerar a complexidade dos elementos que estão postos, para que o aluno possa ser proficiente na leitura. 4.8 Atividades Propostas Agora responda: 1. Quais são as Estratégias de Leitura? Explique cada uma delas. 2. Quais são os domínios de leitura? Explique cada um. Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 23 Mire e veja, o importante e bonito do mundo é isto: que as pessoas não são sempre iguais, ainda não foram terminadas, mas que elas vão sempre mudando. Guimarães Rosa Caro(a) aluno(a), Neste capítulo, você estudará acerca das con- dições para a produção de texto. Vamos iniciar a leitura? O objetivo principal das atividades de escrita é formar escritores que estejam aptos a produzir textos com coerência e coesão. Para isso, é neces- sário que o escritor aprenda a selecionar o gênero de seu discurso, de acordo com os seus objetivos e com as circunstâncias em questão. Por exemplo: se o escritor deseja convencer o leitor sobre determi- nado ponto de vista, ele escolherá para o seu dis- curso um gênero argumentativo. De outra forma, se o objetivo da escrita for solicitar algo para uma autoridade, o escritorprovavelmente redigirá um ofício ou, ainda, se a intenção for enviar notícias a familiares, obviamente escreverá uma carta. Um bom escritor precisa estar preparado para fazer um resumo ou tomar notas durante uma exposição oral. Deve ter habilidade para esquema- tizar suas anotações para o estudo de um assunto e, principalmente, ter a capacidade de exprimir, por escrito, suas experiências, emoções ou opiniões. É imprescindível que tenha condições de analisar criticamente a sua produção textual, verificando se está ambígua, repetitiva, confusa etc. O escritor precisa saber revisar o seu próprio discurso e rees- crevê-lo até que o considere satisfatório. Para isso, ele também precisará ser um leitor competente, capaz de recorrer e selecionar, com sucesso, outras fontes escritas que utilizará no desenvolvimento de sua própria produção. Desde a década de 1990, tem ocorrido uma revolução na forma de compreender os mecanis- mos de aprendizagem da escrita. Através de pesquisas, hoje sabemos que exis- tem dois processos paralelos que envolvem o ato de aprender a escrever: a compreensão da natureza do sistema de escrita da língua (aspectos notacio- nais) e o funcionamento da linguagem que se uti- liza para escrever (aspectos discursivos). Sabemos, também, que se adquire domínio da linguagem escrita muito mais pela leitura do que pela própria escrita; que é possível grafar sem saber produzir textos e que é possível produzir textos sem saber grafá-los; que a ortografia só é aprendida depois da compreensão do sistema alfabético de escrita; e que a escrita é a representação da fala e não seu espelho, como se acreditava anteriormente. Esses conhecimentos provocaram grandes implicações na didática da alfabetização. Concluiu- -se que é necessário fazer com que os alunos te- nham a oportunidade de aprender a escrever de forma semelhante à escrita fora da escola e que não se deve lançar mão das práticas voltadas ex- clusivamente para a codificação de sons em letras. A eficácia da escrita baseia-se na estreita re- lação entre a intenção de escrever o que realmente se quer dizer e a interpretação de quem lê; por isso, é preciso que sejam estabelecidos, desde o início, os critérios centrais da produção textual: como es- crever, o que se pretende dizer e a quem o texto se destina. Sabendo-se que realmente só se aprende a escrever escrevendo, torna-se necessário aprender ESCRITA5 Cecília Regina C. F. Coelho e Rita de Cássia G. Menegon Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 24 o princípio alfabético e as restrições ortográficas dentro do processo de aprendizagem dos usos da linguagem escrita. Para tanto, é importantíssimo que os alunos tenham acesso a uma variedade de textos, a fim de que possam analisar a utilização da escrita em diversas circunstâncias, nas quais pode- rão perceber as dificuldades que a escrita oferece a quem se propõe a produzi-la de forma eficaz e terão a oportunidade de se arriscar a produzir seus discursos da maneira que conseguem, recebendo ajuda de quem já sabe escrever. Os alunos devem ser estimulados a se tornar cidadãos da cultura escrita assim que se inicia o processo de alfabetização. Para isso, é preciso que, tão logo cheguem à escola, sejam incentivados a produzir seus próprios textos, mesmo que não sai- bam grafá-los, e a escrever como lhes for possível, mesmo que ainda não o façam de forma conven- cional. Na rotina escolar, devem aprender a lidar tanto com os aspectos notacionais relacionados ao sistema alfabético e às restrições ortográficas quanto com os aspectos discursivos relacionados à linguagem que se usa para escrever. Analisando as redações de alunos de dife- rentes níveis de escolaridade, podemos verificar o enorme grau de dificuldades na prática da produ- ção textual. Eles não conseguem expor ideias e não conseguem estabelecer claramente se o seu dis- curso é uma narração, uma argumentação ou uma descrição. Há problemas com a coerência textual, pelos quais verificamos que os alunos não sabem como separar frases em parágrafos e distribuí-los corretamente dentro do texto, e também proble- mas com a correção ortográfica. Apesar de todas as correções feitas pelos professores, isso continua ocorrendo e acredita-se que uma das possíveis ra- zões para essas dificuldades resida no fato de a es- cola colocar a avaliação como objetivo da escrita. A prática de produção de textos é uma ativi- dade discursiva que envolve um complexo proces- so de comunicação e cognição. Para que ela possa acontecer, é necessário que se levem em conta as funções e o funcionamento da linguagem escrita e as condições em que ela é produzida, estabelecen- do-se, assim, para que, para quem, onde e como se escreve. a. Tratamento didático Especialistas afirmam que, para se executar uma prática contínua de produção de textos na es- cola, são necessários alguns procedimentos: oportunizar aos alunos o contato com textos impressos de boa qualidade para a prática da leitura (a leitura pode ser feita pelo professor para aqueles alunos que ainda não leem com independên- cia). Posteriormente, esses textos pode- rão servir como referências de escrita para a classe; o professor deverá promover atividades de produção de textos, formando peque- nos grupos, nos quais os alunos poderão, de forma colaborativa, realizar tarefas diversas, tais como: produzir, grafar e re- visar. Essas atividades, em que um aluno produz e dita ao outro, que escreve, e um terceiro aluno faz a revisão, são muito produtivas, já que permitem que as difi- culdades sejam divididas entre eles. Des- sa forma, os alunos conseguem assimilar aos poucos todos os procedimentos en- volvidos na prática da produção textual e, posteriormente, estarão aptos a reali- zar todo o processo de forma autônoma. Nesse tipo de trabalho, o professor pre- cisa definir os grupos e explicar com cla- reza a tarefa de cada aluno, oferecendo ajuda sempre que isso se fizer necessário; AtençãoAtenção A prática de produção de textos é uma atividade discursiva que envolve um complexo processo de comunicação e cognição. Para que ela possa acontecer, é necessário que se levem em conta as funções e o funcionamento da lingua- gem escrita e as condições em que ela é produzida, estabelecendo-se, assim, para que, para quem, onde e como se escreve. Metodologia e Prática do Ensino de Língua Portuguesa Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 25 mesmo que os alunos ainda não tenham aprendido a grafia das palavras, o profes- sor deve solicitar que produzam textos. O aluno poderá ditar para o professor ou para um colega que já conheça o código escrito, poderá também produzir o seu texto através de uma gravação. Deve-se lembrar de que, para o aluno que ainda não sabe escrever, é muito importante ouvir alguém lendo o texto que produ- ziu; é muito importante que o professor man- tenha um diálogo com os alunos, apon- tando certas dificuldades e discutindo pontos importantes inerentes ao ato de escrever, inclusive desmistificando a ideia de que bons escritores são apenas aquelas pessoas que têm facilidade para redigir. Ao contrário, o professor deve mostrar que a prática de produção tex- tual exige conhecimento, treino, dedica- ção e que não é fácil para ninguém. b. Análise e reflexão sobre a língua Quando falamos em análise linguística, nos referimos ao estudo de determinadas característi- cas da linguagem em si. Essa análise se apoia em dois pilares: 1. a capacidade que o homem possui de pensar e refletir sobre os fatos e fenôme- nos da linguagem; 2. a capacidade que a linguagem possui de se autoexplicar, ou seja, de falar sobre si mesma. Dessa forma, torna-se possível promover um trabalho didático, que aqui chamamos “análise ereflexão da língua”, cujo objetivo é ampliar a capa- cidade de compreensão e expressão dos alunos em situações de comunicação escrita e oral. As atividades de análise linguística podem ser uma importante fonte de questionamento e organização de informações sobre a língua. Por exemplo, quando em um diálogo alguém pergun- ta “O que você quis dizer com isso?”, está realizando uma atividade epilinguística, que, no processo de ensino, deve anteceder as práticas de reflexão me- talinguística, para que estas tenham algum signi- ficado para os alunos. Com relação à produção escrita de textos, a prática de análise e reflexão sobre a língua traz à tona os conhecimentos implícitos dos alunos, per- mitindo que eles promovam um trabalho de ree- laboração. Nessa atividade, os alunos formulam e verificam hipóteses sobre o funcionamento da língua, comparando expressões, experimentando novas formas de escrever, atribuindo novos sen- tidos às formas já utilizadas, observando regulari- dades no sistema de escrita (no que diz respeito à ortografia e à gramática) e explorando as diversas possibilidades de modificação dos textos através de supressões, ordem inversa, substituições, am- pliações etc. Um trabalho voltado para os aspectos da lin- guagem promove a explicação dos conhecimentos que o aluno utiliza sem ter consciência disso, ou DicionárioDicionário Epilinguística: a reflexão está voltada para o uso, no próprio interior da atividade linguística. Por exemplo: “O que quis dizer com isso?” ou “Como não encontro uma palavra melhor, vai essa mes- ma”. O professor precisa planejar atividades que propiciem a reflexão sobre os recursos expres- sivos usados pelo autor do texto – quer esses recursos se refiram a aspectos gramaticais, quer a aspectos envolvidos na estruturação dos dis- cursos –, sem a preocupação da categorização, classificação ou levantamento de regularidades sobre essas questões (BRASIL, 1996). Metalinguística: a reflexão está voltada para a descrição, por meio da categorização e siste- matização dos elementos linguísticos. Essas atividades não estão vinculadas ao processo discursivo. Numa situação didática, a atividade deve favorecer ao aluno o levantamento de re- gularidades de aspectos da língua e a sistema- tização e a classificação de suas características específicas. Por exemplo: para discutir a acen- tuação de uma palavra, é necessário conhecer a tonicidade, a forma pela qual é marcada nas palavras impressas, a classificação das palavras quanto ao número de sílabas, entre outros (BRASIL, 1996). Cecília Regina C. F. Coelho e Rita de Cássia G. Menegon Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 26 seja, não sabe quem faz nem por que faz. Quan- do esse processo é compreendido, os alunos se tornam aptos a produzir textos orais mais eficazes, passando a conhecer os diferentes registros lin- guísticos, formas de falar variadas que acabam evi- denciadas pela comparação e pelo contraste. A recepção ativa é uma prática que envolve tanto a produção oral quanto a prática de leitu- ra e torna-se cada vez mais importante, ao passo que diz respeito aos textos veiculados pelos meios de comunicação de massa. Nesse caso, é possível perceber as características da linguagem utilizada, interpretar criticamente a mensagem e identificar o papel complementar dos elementos não linguís- ticos (imagem e trilha sonora), atribuindo sentido à mensagem veiculada. O exercício da recepção ativa produz a com- preensão crítica, que é trabalhar mentalmente com aquilo que ouvimos e lemos com atenção. É consi- derada uma excelente atividade de reflexão sobre a língua, uma vez que produz sentido através da análise e da relação dos enunciados, deduções e sínteses. No caso do texto oral, pode-se utilizar como um ótimo recurso didático a gravação de uma ex- posição oral em áudio ou vídeo (através do rádio, televisão, debate, entrevista etc.). Isso permite que se observem com atenção aspectos da fala do ou- tro ou da própria fala, voltando a eles quando ne- cessário e possibilitando a percepção de coisas que não seriam captadas no ato da escuta direta. Tradicionalmente, é comum partirmos da de- finição para chegar à análise, porém, levando em conta as considerações feitas até aqui, verificamos que o trabalho didático de análise linguística segue na contramão, isto é, tem como pontos iniciais a exploração ativa e a observação das regularidades dentro do funcionamento da linguagem. São situa- ções em que se busca otimizar a análise linguística, através da adequação da fala ou escrita (própria ou alheia), avaliação sobre a eficácia de certas expres- sões (orais ou escritas) e sobre comentários das formas de falar ou escrever, análise das possíveis substituições de enunciados, uso de citações, ve- rificação de indícios de oralidade na escrita e vice- -versa, percepção de diferentes sentidos atribuídos a um mesmo texto, bem como do propósito real implícito em textos escritos ou orais etc. c. Revisão do texto As atividades de revisão de texto oferecem grande oportunidade para a articulação das prá- ticas de leitura, produção escrita, reflexão sobre a língua e comparação entre a linguagem oral e escrita. Trata-se de uma série de procedimentos (rascunhos, substituições, alterações de forma e conteúdo, correção ortográfica e gramatical etc.) adotados, com o intuito de aprimorar um texto até que esteja plenamente satisfatório. Com o objetivo de tornar o texto mais claro e compreensível para o leitor, durante o trabalho de revisão, o professor e os alunos buscam identificar os problemas que o texto possui e aplicar os co- nhecimentos da língua para resolvê-los. Com esse trabalho torna-se possível detectar os trechos em que o que está dito não é realmente o que se pre- tendia dizer e promover as alterações necessárias, criando um texto mais bonito e agradável para o leitor. Trabalhando as dificuldades que surgem du- rante o processo de produção de texto, os alunos vão adquirindo e incorporando de forma progres- siva um tipo de conhecimento imprescindível para melhorar a qualidade da escrita. Portanto, pode- mos dizer que a revisão de texto nada mais é do que um tipo de controle de qualidade da escrita, indispensável desde o planejamento, passando por todo o processo de redação, até a finalização completa da produção escrita. Didaticamente, é necessário que o professor defina qual aspecto os alunos devem se concentrar a cada vez, pois, no trabalho de revisão de texto, não é possível observar todos os aspectos ao mes- mo tempo. Num primeiro momento, pode-se ob- servar a coerência, depois a coesão, a seguir pon- tuação ou ortografia etc. Ao final dessa tarefa, o professor poderá colher os resultados do trabalho dos alunos e devolvê-los de forma organizada ao grupo. Essa tarefa normalmente traz dificuldades, sobretudo para crianças pequenas, porque é preci- so distanciamento do próprio texto. Para conduzir melhor esse trabalho, o professor deve selecionar textos alheios e se tornar um modelo de revisor, discutindo com os alunos, analisando e dirigindo a atenção deles para aqueles aspectos textuais que precisam ser modificados e melhorados. Metodologia e Prática do Ensino de Língua Portuguesa Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 27 É claro que esse trabalho com textos próprios e alheios (tanto em pequenos grupos quanto com toda a classe) objetiva atingir a eficácia e a correção da escrita, porém existem outros objetivos peda- gógicos muito importantes implícitos nessa tarefa: que os alunos sejam capazes de analisar critica- mente as suas próprias produções e que conheçam os processos necessários para produzir textos com qualidade. d. Aprendendo com textos No trabalho de análise linguística, a tarefa de observar textos bemescritos, de diversos autores reconhecidos, faz com que os alunos aprendam a verificar como esses autores utilizam os recursos da língua escrita para resolver as questões textuais. Isso promove um excelente resultado na qualidade dos textos produzidos pelos alunos, pois essas si- tuações demonstram a forma como determinado autor solucionou o problema das repetições, subs- tituindo palavras ou frases, quais as marcas de seu estilo, características de pontuação, que expres- sões ele usou para apontar mudança de lugar, de tempo, de cena etc., ampliando, assim, o repertório de recursos linguísticos dos alunos. AtençãoAtenção Revisão do texto Didaticamente, é necessário que o pro- fessor defina qual aspecto os alunos devem se concentrar a cada vez, pois, no trabalho de revisão de texto, não é possível observar todos os aspectos ao mesmo tempo. Num primeiro momento, pode-se observar a coerência, depois a coesão, a seguir pontuação ou ortografia etc. 5.1 Resumo do Capítulo O objetivo central da atividade de escrita, e aqui não estamos pensando em cópia, é a formação de escritores capazes de produzir um texto coerente e coeso de acordo com o gênero estabelecido. Mais uma vez, aqui é importante destacar a necessidade de o professor ser um modelo de escrita para os seus alunos, principalmente nos anos iniciais da escolarização. O fato de as crianças não saberem grafar convencionalmente não é impeditivo para a produção de textos. Elas podem ditar para o professor, como mencionamos anteriormente, ou podem ditar para colegas que tenham conhecimentos mais avançados em relação à língua. Como iniciar o trabalho com os alunos? Propiciando: o contato, a leitura e o estudo de textos de boa qualidade; atividades de produção de texto, preferencialmente pensadas numa sequência de atividades ou projeto. Quando produzimos um texto, planejamos, lemos, escrevemos e revisamos. Para estudar esses pro- cedimentos, fazemos alguns recortes. Agora, gostaríamos de mencionar a revisão. Essa atividade propi- cia rico momento de prática de leitura, produção escrita e reflexão sobre a língua e a linguagem oral e escrita. O que pode auxiliar no trabalho com a escrita? A análise de textos bem escritos. Quando bem utilizado, esse trabalho proporciona aos alunos a possibilidade de aprendizagem acerca dos recursos da língua escrita. Cecília Regina C. F. Coelho e Rita de Cássia G. Menegon Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 28 5.2 Atividades Propostas Agora responda: 1. Quais os procedimentos necessários para o trabalho com produção de textos? 2. Quais os procedimentos necessários para o trabalho com revisão de textos? Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 29 O professor precisa promover situações de ensino-aprendizagem que levem à expli- citação dos conhecimentos infantis sobre a ortografia. Arthur Gomes de Morais Caro(a) aluno(a), Até aqui, você já estudou vários conteúdos da Metodologia e Prática do Ensino da Língua Por- tuguesa. Agora, vamos refletir sobre as possibilida- des de trabalho com a ortografia? Muitas dúvidas surgem no meio dos edu- cadores sobre como ensinar ortografia; questões como: “É importante ensinar ortografia?”, “Devo cor- rigir os textos espontâneos de meus alunos?”, “Devo considerar os erros na hora de avaliar os alunos?” e outras perguntas similares. Esclarecemos de entrada que nossa propos- ta não é voltar ao ensino tradicional, mas perceber que as atuais dúvidas a respeito da ortografia re- fletem os avanços vividos na área de Língua Por- tuguesa, levando-nos a dar prioridade, no trabalho escolar, à formação de alunos que possam ler e produzir textos significativos. O linguista Artur Gomes de Morais (1998) acrescenta que a escola em geral cobra do aluno a corre- ção do que escreve. Mas cria poucas opor- tunidades para refletir com ele acerca das dificuldades ortográficas de nossa língua. Cremos que é preciso superar este desvio: em vez de se preocupar basicamente em avaliar, verificando o conhecimento orto- gráfico dos alunos, a escola precisa investir mais em ensinar, de fato, a ortografia. No dia a dia os erros de ortografia funcionam como uma fonte de censura e de discri- minação, tanto na escola como fora dela. Todos conhecemos pessoas que, mesmo depois de muitos anos de escolaridade, se sentem constrangidas quando têm de es- crever seus próprios textos, com medo de errar. Para evitar a propagação deste tipo de autocensura, nós, mestres, precisamos rever nossa atitude para com o erro orto- gráfico e nossa atitude mais geral na hora de ensinar e de avaliar ortografia. E continua exemplificando: A forma correta de escrever uma palavra é sempre uma convenção, algo definido so- cialmente. Assim, nos textos do início do século, encontramos grafias como ‘phar- mácia’, ‘rhinoceronte’, ‘archeologia’, ‘com- mércio’, e ‘encyclopédia’. Houve várias reformas ortográficas que substituíram algumas daquelas grafias. Hoje, temos uma norma que define o uso de letras e dígrafos, bem como o emprego de acentos e a segmentação das palavras no texto. A ortografia é uma convenção social que ajuda a estabelecer a comunicação escrita. As pessoas às vezes pensam que se trata de uma imposição inútil, que tudo seria mais fácil ‘se pudéssemos escrever as palavras tal como falamos’. Ao ‘sonhar’ com a ideia de abolir a ortogra- fia, as pessoas esquecem um dado muito fundamental: na linguagem oral, as pala- vras são pronunciadas de formas variadas. A pronúncia varia de acordo com a região, com o grupo sociocultural, e varia também de época para época. Todas essas formas de pronúncia são váli- das, por isso não podem ser consideradas ORTOGRAFIA6 Cecília Regina C. F. Coelho e Rita de Cássia G. Menegon Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 30 certas ou erradas: podemos apenas ver se são adequadas ao contexto em que são empregadas. Não existe uma só forma de pronúncia cor- reta, assim como não existem argumentos científicos que assegurem: a pronúncia de tal região é a melhor do Brasil. O que isto tem a ver com ortografia? To- memos um exemplo: um carioca e um pernambucano pronunciam de modo di- ferente a palavra ‘tio’ – o primeiro diz algo como ‘thiô’, e o segundo fala ‘tiu’. Na hora de escrever se não houvesse a ortografia, cada um registraria seu modo de falar. E os leitores de suas mensagens sofreriam mui- to, tendo de decifrar a intenção do autor. A ortografia funciona como um recurso para cristalizar na escrita as diferentes ma- neiras de falar dos usuários da mesma lín- gua. Escrever de forma unificada facilita a tarefa de se comunicar por escrito. E cada um continua, por exemplo, com liberdade para ler um texto em voz alta pronuncian- do as palavras à sua maneira. (MORAIS, 1998). a. O conhecimento de ortografia A ortografia é um conjunto de regras social- mente estabelecidas pela Gramática e seu apren- dizado ocorre gradativamente ao longo dos anos escolares. Por isso, a criança não tem como apren- dê-la sozinha, ou seja, mesmo quando ela já sabe escrever e ler seus primeiros textos, ainda não pos- sui o conhecimento das regras ortográficas, o que significa que apenas assimilou o sistema de deco- dificação do código escrito. Em nosso sistema alfabético, existem mui- tas letras que podem representar um mesmo som, como, por exemplo: “salgado”, “cimento”, “trouxe”. De outra parte, há algumas letras que podem gra- far mais de um som, como, por exemplo: “gorila” e “gíria”. Ocorre que, para escrever textos, os alunos recém-alfabetizados precisam realizar uma ativida- de mental mais complexa. Ainda hoje, o ensino da ortografia é praticado como antigamente (cópia, ditado e exercícios). Os professores não estão satis- feitos com o nível de aprendizado de seus alunose têm dúvidas sobre qual seria a melhor metodolo- gia para esse ensino. Não sabem ao certo quando devem começar a ensinar ortografia, nem como reagir quando seus alunos cometem erros. Tam- bém não sabem se é necessário corrigir tudo o que os alunos escrevem ou o que pode ser feito para modernizar as aulas, colaborando para que a classe atinja um nível de escrita melhor. Não podemos, portanto, nos assustar e, em nome da correção ortográfica, censurar ou diminuir a produção de textos no dia-a- -dia. O trabalho de reescrita e produção de textos é fundamental para os alunos avan- çarem em seus conhecimentos da língua escrita; mas não podemos esperar que eles aprendam ortografia apenas ‘com o tempo’. Um ensino sistemático, que leve gradati- vamente à reflexão sobre as dificuldades da ortografia, ajudará a criança a se tornar melhor escritora. Como? Quando tiver au- tomatizado a escrita correta de determi- nadas palavras, ela poderá investir mais sua atenção na composição da história, da carta ou da notícia que está redigindo. E ao produzir seus textos, não ficará se detendo com frequência para decidir ‘com qual letra escrevo tal palavra’. Assim, ficará mais libe- rada para organizar suas ideias e registrá- -las no papel. (MORAIS, 1998). b. Uma reflexão sobre as normas orto- gráficas Na verdade, analisando os erros cometidos pelos alunos, o professor terá condições de plane- jar as aulas, organizando-as de forma a focalizar es- ses erros e promover atividades para que essas fa- lhas sejam sanadas; portanto, os erros não devem AtençãoAtenção A ortografia é um conjunto de regras so- cialmente estabelecidas pela Gramática e seu aprendizado ocorre gradativamente ao longo dos anos escolares. Por isso, a criança não tem como aprendê-la sozi- nha, ou seja, mesmo quando ela já sabe escrever e ler seus primeiros textos, ainda não possui o conhecimento das regras ortográficas, o que significa que apenas assimilou o sistema de decodificação do código escrito. Metodologia e Prática do Ensino de Língua Portuguesa Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 31 servir de parâmetros para as notas, mas sim para direcionar o trabalho didático e metodológico do professor. Nesse sentido, precisamos mapear os erros dos alunos ao examinar as produções infantis, pois as distintas dificuldades ortográficas requerem di- ferentes mecanismos de aprendizagem. As dificuldades apresentadas pelos alunos, segundo alguns autores, podem ser divididas em dois grupos: dificuldades regulares: são aquelas em que há uma regra ou um princípio ge- rador para promover a escrita correta. O professor precisará estabelecer algumas estratégias didáticas, fazendo com que o aluno pense sobre determinada regra e passe a compreendê-la; dificuldades irregulares: são aquelas em que não há uma regra específica que sirva de parâmetro para a forma correta da escrita de determinado vocábulo. O professor precisa ajudar o aluno a com- preender essa irregularidade, incenti- vando-o a consultar o dicionário quando tiver dúvida, assim ele irá memorizando, progressivamente, esses casos especiais. Quando começar a ensinar ortografia? De- pois que as crianças compreenderam o sistema de escrita alfabética, aprenderam o valor sonoro das letras e podem ler e escrever sozinhas pequenos textos, convém introduzir o ensino de ortografia. Por onde começar? O professor deve ajudar seus alunos a fazer distinção entre as dificuldades regulares e irregulares e compreendê-las. Portanto, é fundamental que o professor invista no trabalho com as palavras importantes, aquelas que aparecem com frequência nos textos da criança. Tomando como exemplo a dificuldade causada pelo H inicial, que é irregular, é importante o aluno aprender, em uma primeira etapa, palavras de uso frequente, como ”homem”, “hoje” e “hora”, ao passo que palavras menos usuais (como “hipo- pótamo” ou “holofote”) poderão ser aprendidas em momentos posteriores. O que corrigir? Como corrigir? A experiên- cia nos tem mostrado que todo professor precisa perceber que é impossível corrigir tudo, sempre. O aprendizado da ortografia não envolve apenas a memória; é um processo gradual e complexo, que requer tempo. Sugerimos que as produções infantis que circulam (na sala de aula, na escola e na comunidade) sejam objeto de trabalho de revisão, de edição final. Um trabalho que cuide tanto da correção ortográfica quan- to da apresentação (formato, limpeza, distribuição do texto e de eventuais ilus- trações etc.) A intenção de desenvolver a preocupação com a correção tem por trás metas de respeito ao leitor e de busca de eficiência na comunicação – atitudes bem diferentes do simples medo de errar. (MO- RAIS, 1998). Com relação ao quando e como corrigir, não é útil corrigir os textos na ausência dos alunos (levando suas produções para casa) e, depois, fazer com que copiem inúmeras vezes as palavras corri- gidas. Essa prática faz com que a criança copie vá- rias vezes as palavras que errou de forma automá- tica (para terminar logo a tarefa) e sem nenhuma reflexão. Nesse tipo de atividade, ocorre um des- gaste de ambas as partes e o aluno acaba por não analisar as regularidades e irregularidades que pre- cisa aprender. AtençãoAtenção As dificuldades apresentadas pelos alunos, segundo alguns autores, podem ser dividi- das em dois grupos: dificuldades regulares: são aque- las em que há uma regra ou um princípio gerador para promover a escrita correta; dificuldades irregulares: são aquelas em que não há uma regra específica que sirva de parâmetro para a forma correta da escrita de determinado vocábulo. Cecília Regina C. F. Coelho e Rita de Cássia G. Menegon Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 32 c. Refletindo sobre a ortografia a partir de textos Situações de ensino-aprendizagem l: se- gundo o autor Artur Gomes de Morais (1998), para desencadear a reflexão ortográfica através de tex- tos, existem atividades baseadas em exercícios tra- dicionais remodelados objetivando a focalização das questões ortográficas e a reflexão dos alunos sobre elas. Outras são bem mais modernas, pois seguem totalmente na contramão daquelas atitu- des de “medo do erro”, ainda enraizadas em muitos educadores. Essas atividades assumem três moda- lidades básicas: ditado interativo; releitura com focalização; reescrita com transgressão ou correção. Ditado interativo: o objetivo dessa ativida- de é ensinar ortografia fazendo com que o aluno reflita sobre o que está escrevendo e não apenas verificar os seus conhecimentos ortográficos. Nes- se trabalho, o professor dita para a turma um texto já conhecido, fazendo pausas para focar e discutir questões ortográficas anteriormente selecionadas ou levantadas no decorrer da tarefa. Os alunos, por sua vez, já sabem o objetivo do ditado e voltam a sua atenção para a análise das dificuldades de es- crita. O professor pode, por exemplo, focalizar o uso do O ou U no final das palavras e, depois de ditar uma frase em que aparece a palavra ‘cavalo’, fazer questões do tipo: de que forma uma pessoa que não sabe escrever a palavra ‘cavalo’ poderia se en- ganar? Por quê? e uma pessoa que já sabe escrever, como colocaria? Há como saber por que só se pode escrever com O no final? Dessa maneira, o professor conduz a ativida- de, fazendo pausas e procurando outras palavras com dificuldades semelhantes para reflexão e aná- lise em conjunto com os alunos. Note-se que, ao pedir aos alunos para levan- tar formas errôneas, o professor está fazendo com que eles pratiquem transgressões, que passam a ser objeto de reflexão. Morais (1998) explica: Enfatizo que a transgressão intencional não é usada aleatoriamente. Que para transgredir
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