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26/09/2019 1 Tratamento térmico no processamento de alimentos Professora Marianne Ayumi Shirai Universidade Tecnológica Federal do Paraná Campus Londrina Operações Unitárias na Indústria de Alimentos Objetivos do tratamento térmico • Destruir as células vegetativas e esporos dos microrganismos (bolores, leveduras, vírus e bactérias); • Inativar enzimas indesejáveis; • Mudanças nas características sensoriais. • Métodos: • Branqueamento (Pré-tratamento) • Pasteurização • Esterilização 26/09/2019 2 Mecanismo de ação antimicrobiana pelo calor • Alterações da permeabilidade das membranas • Lesão aos lipídios e proteínas da membrana • Vazamento do conteúdo celular para o meio circundante, interferindo no crescimento celular • Danos às proteínas e ácidos nucléicos; • A lesão produz deformidade na estrutura da proteína e perda de função; • A lesão aos ác. nucléicos provoca a interrupção da replicação de funções metabólicas normais. Fatores a serem considerados no tratamento térmico Composição, pH, aw e estado físico do alimento; Cinética de penetração de calor; Cinética de destruição de microrganismos e parâmetros que caracterizam sua termoresistência; Cinética de reações secundárias que acompanham a destruição térmica dos microrganismos (degradação de vitaminas, inativação enzimática, etc); Processo de aquecimento; Tamanho e tipo do recipiente; Movimentação giratória: diminui o tempo de aquecimento e resfriamento. 26/09/2019 3 Exigências de calor para inativação de microrganismos Classe de acidez pH Alimento Exigência de calor Acidez baixa 6,0 Espinafre, beterraba, batata, milho, aspargo, couve-flor, vagem, aipo Temperaturas altas de processamento 116 – 121°C 5,0 Quiabo, abóbora, cenoura Acidez média 4,5 Tomate, pera, pimentão, damasco, pêssego Temperatura de fervura da água 100°C Ácido 3,7 Chucrute, morango Acidez alta 3,0 Picles Transferência de Calor Fenômeno que ocorre quando existe uma diferença de temperatura entre dois materiais; Formas de transferência de calor: Condução Convecção Radiação 26/09/2019 4 Transferência de Calor por Condução O calor é transferido através de um material (sólido), sem transporte de matéria; A medida que recebem calor, os átomos ou moléculas do corpo vibram mais intensamente e a energia cinética dessas partículas é transferida sucessivamente de uma partícula para outra, essa transferência de energia cinética é a propagação de calor; Assim, corpos mais densos com maior número de partícula por unidade de volume são bons condutores => metais Transferência de Calor por Convecção O calor é transferido de uma superfície (ou fluido) mais quente para um fluido (ou superfície) mais frio, que passa pela superfície; É mais rápida e aplicada em alimentos líquidos. 26/09/2019 5 Convecção Convecção + Condução Condução Sistemas de penetração de calor e ponto frio do produto em latas cilíndricas Região onde o aquecimento é mais lento e que se encontra no centro geométrico do eixo vertical da lata (quando o calor se expande por condução) e no fundo da lata, no eixo vertical (quando o calor é difundido por convecção) A velocidade de penetração de calor é influenciada pela forma, tamanho, condutividade do material da embalagem, tipo de alimento, composição da salmoura ou xarope e pré-cozimento. 26/09/2019 6 Penetração do calor em uma lata com um alimento aquecido por condução (a) Temperatura da autoclave; (b) Temperatura no ponto de aquecimento mais lento Influência do tempo de tratamento a temperatura constante Existe uma relação linear entre o logaritmo do número de células vegetativas ou de esporos sobreviventes e a duração do tratamento térmico: Log de sobreviventes 26/09/2019 7 Influência do tempo de tratamento a temperatura constante Sendo N o número de células sobreviventes, esta relação é escrita: 𝑙𝑜𝑔𝑁 = 𝑎𝑡 + 𝑏 Considerando N0 a população inicial a equação fica: 𝑙𝑜𝑔𝑁 = 𝑎𝑡 + 𝑙𝑜𝑔𝑁0 A partir da equação 2 calcula-se o tempo de tratamento D durante o qual a população de microrganismos é reduzida em 90% ou em 1/10. Portanto, obtém-se que D=1/a e a equação fica: 𝑙𝑜𝑔𝑁 = − 𝑡 𝐷 + 𝑙𝑜𝑔𝑁0 ou log 𝑁𝑜 𝑁 = 𝑡 𝐷 (1) (2) No = Concentração ou número inicial de microrganismos. N = Concentração ou número de microrganismos após tempo t t = tempo D = Tempo de redução decimal (3) Influência do tempo de tratamento a temperatura constante Na forma exponencial: 𝑁 = 𝑁010 − 𝑡 𝐷 (4) 26/09/2019 8 Efeito da temperatura de tratamento Existem infinitas combinações tempo x temperatura que produzem o mesmo grau de destruição; Efeito da temperatura de tratamento Para uma dada taxa de destruição, o tempo de tratamento e a temperatura estão relacionadas por uma equação: 𝑙𝑜𝑔𝑡 = 𝑎𝑇 + 𝑏 Todas as combinações tempo x temperatura pertencentes a reta da figura correspondem a um tratamento térmico equivalente. Seja uma combinação tempo x temperatura padrão (T*, t*) a equação 5 ficará: 𝑙𝑜𝑔𝑡∗ = 𝑎𝑇∗ + 𝑏 Combinando a equação 5 e 6 temos: 𝑙𝑜𝑔 𝑡 𝑡 ∗ = −𝑎 𝑇 − 𝑇∗ (5) (6) (7) 26/09/2019 9 Efeito da temperatura de tratamento A equação 7 permite calcular a diferença de temperatura z para a qual o tempo de tratamento deve ser multiplicado ou dividido por um fator 10 afim de obter um tratamento equivalente. Se tem z = 1/a e a equação 7 se converte em: 𝑙𝑜𝑔𝑡 = − 𝑇 − 𝑇∗ 𝑧 + 𝑙𝑜𝑔𝑡∗ Ou na forma exponencial: 𝑡 = 𝑡∗10− (𝑇−𝑇∗) 𝑧 Portanto, z corresponde a elevação de temperatura necessária para reduzir 1/10 o tempo de tratamento térmico para obter a mesma taxa de destruição. A equação também se aplica a D: 𝐷 = 𝐷∗10− (𝑇−𝑇∗) 𝑧 (8) (9) Quantificação do tratamento térmico Pode-se fixar a taxa de redução decimal a conseguir. Uma redução decimal n corresponde a uma taxa de sobreviventes N/No = 10 -n. A redução n é tal que: log 𝑁𝑜 𝑁 = 𝑡 𝐷𝑡 = n t = n.D Se fixarmos T = 121, 1°C e n = 12 para destruição de C. botulinum e considerarmos que a população inicial é de No = 103, isso significa que após o tratamento térmico a população será reduzida para N = 10-9. Sabendo-se que D121,1°C = 0,21 minutos, o tempo de esterilização será de: t = 12 x 0,21 = 2,52 minutos 26/09/2019 10 Eficiência térmica em função do tempo de exposição Fonte: Camargo et al (1989) citado por César Valores de z e D 26/09/2019 11 Valores de z e D Valores de z e D 26/09/2019 12 Exercícios 1) Qual a contagem de esporos de um alimento que foi submetido ao tratamento térmico a 230oC por 10 minutos, sabendo-se que a contagem inicial do produto era de 1,05 x 106 UFC/g e seu D é de 7,5 minutos? 2)Um determinado alimento composto por 2 x 106 UFC/g de microrganismo foi submetido ao tratamento térmico a 95oC por um período de 3 minutos resultando em uma contagem final de 6 x 102 UFC/g. Qual é o D95 desse alimento? 3) Um suco com contagem inicial de 4 x 105 UFC/mL foi pasteurizado a 79°C por 21 segundos. Considerando que D65°C = 7 min e z = 7°C, qual a contagem de microrganismos após a pasteurização? ESTERILIZAÇÃO Destruição de microrganismos termorresistentes (bactérias esporuladas) para conseguir esterilidade comercial; Temperaturas acima de 100ºC. PASTEURIZAÇÃO Destruição de microrganismos patogênicos não esporulados; LTH (low temperatureholding) → 62 a 68ºC; HTST (High Temperature, Short Time) → 72 a 85º; 26/09/2019 13 Equipamentos Tratamento térmico Antes do envase Após envase Trocadores de calor (líquidos) Injeção de vapor/água (sólidos) Autoclaves Trocadores de calor São equipamentos que aquecem ou resfriam algum fluido, usando para este fim outro fluido numa temperatura diferente; Existem basicamente duas classes de trocadores de calor: Injeção direta: é feita simplesmente uma mistura dos fluidos. Superfície: há uma superfície, geralmente metálica, entre os dois fluidos que transferem calor entre si. 26/09/2019 14 Para todos os tipos de trocador de calor de superfície, a sua eficiência vai ser dada pela velocidade com que o calor vai ser transferido, o que está principalmente relacionado a: resistência da interface à condução de calor (está relacionado com coeficiente de transferência de calor por condução do material constituinte da interface e sua espessura); tamanho da superfície de troca de calor; proximidade entre o fluido e a interface; forma de escoamento dos fluidos. Classificação dos trocadores de calor TROCADOR DE CALOR Contato indireto Placas Tubular Superfície raspada Casco e tubos Contato direto Injeção de vapor Infusão de vapor 26/09/2019 15 Trocador tubular Consiste em dois tubos concêntricos , onde um dos fluidos escoa pelo tubo interno e o outro pela parte anular entre ambos; Pode ser escoamento paralelo ou contra corrente; Trocador tubular 26/09/2019 16 Trocador casco e tubos São constituídos basicamente por um feixe de tubos envolvidos por um casco, normalmente cilíndrico, onde um dos fluidos circula externamente ao feixe e o outro pelo interior dos tubos; Defletores ou chicanas: conduzem o escoamento do fluido de forma ora cruzado, ora paralelo, ocasionando turbulência e um maior tempo de residência do fluido do casco => transferência de calor; ajudam a suportar os tubos no interior do casco, evitando a flexão dos mesmos. Trocador casco e tubos Os componentes principais são representados pelo cabeçote de entrada, casco, feixe de tubos e cabeçote de retorno ou saída. 26/09/2019 17 Trocador de placas Grande aplicação nas indústrias de leite e bebidas => líquidos de baixa viscosidade (< 5 Pa.s), partículas menores 0,3 cm Ø; Consiste em um pacote de placas de aço inoxidável paralelamente arranjadas, com pequenas aberturas para passagem de dois líquidos, entre os quais, ocorrerá a transferência de calor; As placas contém gaxetas que vedam o canal e direcionam os fluidos em canais alternados; O número de placas é determinado pela vazão, propriedades físicas dos fluidos, perda de carga e programa de temperatura. Trocador de placas https://www.youtube.com/watch?v=b1dzl5iok YQ 26/09/2019 18 Placas As corrugações das placas promovem alta turbulência no fluido e suportam as placas contra o diferencial de pressão. Trocador de superfície raspada Indicados para alimentos viscosos que podem ser bombeados; https://www.youtube.com/watch?v=TjgWBk4k vbo 26/09/2019 19 Trocadores de calor por injeção de vapor Contato direto entre o produto e o meio de aquecimento; Envolvem transferência de calor e massa; Taxas elevadas de transferência de calor => aquecimento instantâneo; Há diluição do produto; “Vapor sanitário”. Autoclaves OPERAÇÃO TIPO DE EQUIPAMENTO Contínua Rotativa tipo carretel Rotativa tipo espiral Hidrostática Batelada Estacionária Semiautomática Batelada automatizada 26/09/2019 20 Autoclaves Autoclave Autoclave por sistema batelada 26/09/2019 21 Autoclaves rotatórias Autoclave horizontal 26/09/2019 22 Autoclave contínua hidrostática • Autoclave hidrostática continua • Resulta em produto uniformes; • Favorece alterações graduais na pressão, reduzindo a tensão nas soldas das embalagens; • Processa grande quantidade de embalagem • Desvantagem: em caso de pane ocorre grandes perdas Tanques 26/09/2019 23 Processo asséptico • Conhecidos como sistema Ultra Alta Temperatura (UHT); • Consiste na exposição do produto a elevadas temperaturas por um curto espaço de tempo (130 a 150ºC por 2 a 4 s); • São voltados para produtos líquidos e semi-viscosos como leite, sucos, concentrados de frutas, creme, iogurte, vinho, molhos para salada, ovos e mistura para sorvetes. • O processamento asséptico pode ser classificado em: • Esterilização por aquecimento direto • Esterilização por aquecimento indireto Condições de tempo e temperatura para UHT e esterilização convencional 26/09/2019 24 TANQUE DE SUPRIMENTO DE PRODUTO AQUECIMENTO DO PRODUTO RESFRIAMENTO DO PRODUTO TANQUE DE ARMAZENAMENTO ASSÉPTICO ESTERELIZAÇÃO DE EMBALAGEM Métodos diretos ou indiretos https://www.youtube.com/watch?v=QeLlXYdOdqU Aquecimento direto • Consiste na pulverização do produto sobre o vapor a elevada pressão; • Esta operação ocasiona adição de água no produto, mas uma etapa posterior, regula-se a taxa total de sólidos, eliminando-se a água por evaporação; • Procedimento utilizado em produtos lácteos. 26/09/2019 25 • Sistema de injeção de vapor: • Sistema de injeção direta de vapor (fig. 9.12) • Sistema de infusão de vapor (fig. 9.13) Vantagens do sistema de aquecimento direto: Método de aquecimento e de resfriamento rápido, ideal para alimentos termosensíveis; Remoção de voláteis em alguns alimentos; Desvantagem: Adequado para alimentos de baixa viscosidade; Controle de processo limitado; Regeneração de energia é menor que 50%, enquanto o indireto é superior a 90%; Pouca flexibilidade para mudança de produto. 26/09/2019 26 Aquecimento indireto • Neste sistema o calor é transferido através de meio de aquecimento para o produto através de superfície de contato. • Podem ser baseados em: • Trocador de calor em placas • Trocador de calor tubulares • Trocador de calor de superfície raspada Efeito nos alimentos Cor Escurecimento por reação de Maillard e caramelização; Carnes => pigmento vermelho oximioglobina é convertido em metamioglobina de cor marron; Frutas e hortaliças => clorofila é convertida em feofitina, degradação da antocianina, isomerização carotenoides. Sabor e aroma Produção de compostos aromáticos; Sabor “cozido”. 26/09/2019 27 Efeito nos alimentos Textura Carnes coagulação e perda da capacidade de retenção de água das proteínas, que causam encolhimento e endurecimento; o amolecimento é causado pela hidrólise do colágeno e pelo derretimento e dispersão das gorduras através do produto. Frutas e hortaliças Amolecimento é causado pela hidrólise de materiais pécticos e gelatinização do amido e solubilização parcial da hemicelulose. Leite Pequenas mudanças na viscosidade causadas pela modificação da k-caseína (precipitação). Atividade
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