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A Força Normativa da Constituição RESUMO

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A Força Normativa da Constituição – Konrad Hesse
A conferência de 1862 de Ferdinand Lassalle sobre a essência da Constituição expressa a influência das relações de poder na Constituição, isto é, a força ativa determinante das leis e das instituições da sociedade não é outra coisa senão fatores reais do poder, sendo o conjunto desses fatores de poder o que Lassalle chama de Constituição real. Diferente da Constituição escrita, pois esta outra é apenas um pedaço de papel, e sua força ativa se limita ao nível de compatibilidade com a Constituição real ou fatores reais do poder.
Pela redução da significância da Constituição escrita, há também uma redução de significância da força normativa jurídica, visto que, a matéria constitucional tão somente depende da realidade fática, sendo assim, a força normativa se submete a tal realidade, a Constituição jurídica concebida pelo direito constitucional sucumbe em face da Constituição real, logo, o direito constitucional se encontra em contradição com a própria essência da Constituição.
Essa negação do direito constitucional importa na negação do seu valor enquanto ciência jurídica. Como toda ciência jurídica, o Direito Constitucional é ciência normativa; Diferencia-se, assim, da Sociologia e da Ciência Política enquanto ciências da realidade, logo, se a Constituição adota essa tese e passa a admitir a Constituição real como decisiva, tem-se a sua descaracterização como ciência normativa, operando-se a sua conversão numa simples ciência do ser e então não haveria mais como diferençá-la da Sociologia ou da Ciência Política.
A força normativa do direito constitucional estaria em consonância com os fatores reais do poder? Qual fundamento e o alcance dessa força do direito constitucional? Não seria essa força algo fictício criado pelo constitucionalista para gerar a sensação de necessidade do direito na vida do Estado? O conceito de Constituição jurídica e a própria definição da Ciência do Direito Constitucional enquanto ciência normativa dependem da resposta a essas indagações.
A pretensão de eficácia da Constituição depende de uma relação intrínseca da normatividade jurídica e da realidade fática, do mesmo modo que a norma constitucional não tem existência autônoma em face da realidade, uma norma constitucional não se confunde com as condições de sua realização, Constituição não configura, portanto, apenas expressão de um ser, mas também de um dever ser; ela significa mais do que o simples reflexo das condições fáticas de sua vigência, particularmente as forças sociais e políticas. Graças à pretensão de eficácia, a Constituição procura imprimir ordem e conformação à realidade política e social. A força condicionante da realidade e a normatividade da Constituição podem ser diferençadas; elas não podem, todavia, ser definitivamente separadas ou confundidas.
Sendo assim, uma mudança das relações fáticas pode — ou deve — provocar mudanças na interpretação da Constituição. Ao mesmo tempo, o sentido da proposição jurídica estabelece o limite da interpretação e, por conseguinte, o limite de qualquer mutação normativa.
Em síntese a Constituição não pode estar separada da realidade concreta de seu tempo, caso contrário, não haverá pretensão de eficácia, sendo a força normativa da Constituição limitada à correlação entre ser e dever ser.
O limite da força normativa da Constituição é condicionada à adequação que a própria Constituição tem em relação à realidade vigente, sendo esta limitação uma condicionante natural, porém, a força normativa da constituição jurídica ganha força se existir disposição de cumprimento das normas impostas pela constituição, isto é, a vontade de constituição, formada pela vontade humana que se conforma com a constituição, exala poder normativo, deste modo, tendo a constituição força normativa mesmo em situações em que não esteja semelhante á realidade.
A Constituição jurídica não é apenas então um pedaço de papel como coloca Lassalle. A Constituição está vinculada com a realidade, porém, não está submetida a ela, esta mesma possui força normativa por si própria baseando-se na vontade de constituição, não sendo necessariamente a Constituição o elo mais fraco entre o embate Constituição vs Realidade.
Se a Constituição jurídica possui força normativa em face da Constituição real, o Direito Constitucional não é reduzido a uma ciência da realidade, mas mantido como disciplina científica. O Direito Constitucional deve buscar desenvolver a dogmática e a interpretação constitucional para fortificação da eficácia das normas constitucionais, é o direito constitucional que busca ampliar a vontade de Constituição.
O significado superior da Constituição normativa manifesta-se na quase ilimitada competência das cortes constitucionais pois estão autorizadas a dar a última palavra sobre os conflitos constitucionais. No entanto, não se pode deixar que aconteça conflito entre Constituição jurídica e Constituição real, pois o desfecho deste é imprevisível, cabendo a todos nós termos essa vontade de Constituição para ajudar a garantir a força normativa da mesma em situações difíceis.

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