Buscar

Contestação à Ação Declaratória de Inexistência de Débito

Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original

________________________________________________________
EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DE DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE RIO VERDE – GO.
Processo nº 0000000.00
BANCO STANLEY S/A, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob o nº. XXXXX, sediada na Rua XXX, nº 00, Centro, Cep. 75.900-00, Rio Verde – GO, vem à presença de Vossa Excelência, por meio de seus advogados que abaixo subscrevem, para apresentar Contestação à ação Declaratória De Inexistência De Débito C/C Indenização Por Danos Morais Com Pedido Da Tutela De Urgência proposta por JESUÍNO DA SILVA, já devidamente qualificado nos autos desse processo, pelos fatos e fundamentos a seguir expostos.
1 - Dos Fatos
Em apertada síntese, sustenta a parte autora que teve seu nome inscrito no cadastro de inadimplentes dos órgãos de proteção de crédito, de forma indevida, por solicitação da Requerida. 
Aduz o Autor que a Requerida agiu de má-fé, pois quando solicitou o cancelamento do contrato não obteve êxito e alega ter sido informado por um dos funcionários da Requerida que depois do contrato assinado não poderia realizar o cancelamento. 
2 – Da Realidade Dos Fatos
Inicialmente, cabe informar que, a negativação não ocorreu em razão do contrato apresentado pela parte autora, e sim pelo contrato de Crédito Pessoal de n.º 00000, solicitado e contratado pelo autor em 22/12/2007. O débito vinculado ao contrato reclamado é no valor de R$60.043,20 (sessenta mil quarenta e três reais e vinte centavos). 
Por inúmeras vezes a Requerida tentou entrar em contato com o Autor com propostas para quitação da dívida. Além disso, foi localizado registro de solicitação de parcelamento da dívida à assessoria de cobrança da Requerida, por meio do aplicativo de mensagens Whatsapp, conforme documento anexado.
Nesse sentido, não é razoável supor que um terceiro fraudador realizaria o parcelamento de uma dívida referente à utilização dos serviços objeto de crime, ao contrário, seu objetivo é contrair a dívida e deixa-la em nome de sua vítima.
Conforme narra a inicial, a parte autora afirma ter solicitado o cancelamento dos débitos e do referido contrato, além de ter recebido da Requerida cópia do contrato, contrato este que o autor alega nunca ter celebrado, para que analisasse a assinatura e demais dados.
Ora Excelência, como é sabido terceiros não têm acesso a dados pessoais de outrem, por ser tratarem de informações relacionadas a uma determinada pessoa seu tratamento deve ser feito de forma transparente e com respeito a intimidade, vida privada, honra e imagem, bem como a liberdades e garantias individuais. 
Dessa forma, tem-se que a inclusão dos dados da parte autora nos órgãos de proteção de crédito se deu no exercício regular do direito ante o não pagamento por serviços devidamente prestados, não havendo que se falar em qualquer dano passível de indenização.
3 – Do Direito
Do exercício regular do direito
Esta requerida tem como finalidade a exploração de serviços bancários e atividades relacionadas. Sendo assim, não pode ser banida a contrapartida da obrigação que é definida pelo direito de receber montante compatível com o serviço prestado.
Como é sabido, as tarifas não devem propiciar um enriquecimento indevido mas também não devem ser exacerbadamente baixas ao ponto de causar prejuízos. Importante dizer ainda, que não há previsão que autorize a utilização dos serviços ofertados sem a devida obrigação do cliente no pagamento do que contratou.
Dessa maneira, a Requerida não pode ser exposta a prejuízos, sob pena inclusive de ter suas atividades interrompidas e nem arcar com as dívidas geradas por seus usuários. 
Certo é que toda violação a direito bem como todo ato ilícito que cause danos deve ser reparado por seu perpetrador. Tal possibilidade, ou melhor, tal direito é o que preceitua o art. 927 do C.C. 
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
E ainda:
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Contudo, o exercício regular de direito como podemos observar, não pode nem é considerado um fato ilícito, senão vejamos: 
 Art. 188. Não constituem atos ilícitos:
 I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido;
Assim, a premissa básica para que haja a incidência de danos morais não se subsume no presente caso visto que, como podemos observar não houve qualquer ato ilícito passível ou que demande indenização. Houve sim, claro exercício regular de direito e escorreita atuação da empresa requerida. Não pode pretender o Autor ser indenizado ante a alegação de cobrança indevida e qualquer falha na prestação de seu serviço haja vista que o serviço foi efetivamente prestado e usufruído, obrigando esta empresa suportar os gastos feitos por ela mesma.
Portanto, importante salientar, que não cabe, no caso em questão, a obrigação de indenizar, visto que a parte requerida agiu em exercício regular de um direito previsto no ordenamento jurídico, firmando contrato, o qual se constitui em excludente de ilicitude, a teor do artigo 188 do Código Civil, como visto acima.
Da Culpa Exclusiva Do Consumidor
Embora o pleito exordial esteja baseado em suposto ato ilícito, a realidade dos fatos, como já exposta anteriormente, tende a nos mostrar situação diversa. É simples a constatação que tal pedido merece ser julgado improcedente, haja visto não ter existido qualquer ato ilícito, comissivo ou omissivo, praticado por esta empresa.
Pelo exposto, resta explicitamente, a culpa da parte autora, uma vez que a mesma não adimpliu com sua contraprestação.
Nesse sentido, leciona Caio Mário:
A doutrina objetiva, ao invés de exigir que a responsabilidade civil seja a resultante dos elementos tradicionais (culpa, dano, vínculo de causalidade entre uma e outro) assenta na equação binária cujos pólos são o dano e a autoria do evento danoso. Sem cogitar da imputabilidade ou investigar a antijuridicidade do fato danoso, o que importa para assegurar o ressarcimento é a verificação se ocorreu o evento e se dele emanou o prejuízo. Em tal ocorrendo, o autor do fato causador do dano é o responsável.
Interpretando o ensinamento, é necessário que a vítima comprove a ocorrência de uma conduta ilegal por parte do agente, enquanto este tem o dever de convencer o julgador de que está presente causa legal de excludente de ilicitude.
Isto posto, aplica-se à espécie, a excludente de responsabilidade, descrita no artigo 14, §3º, II do Código de Proteção e Defesa do Consumidor, qual seja, culpa exclusiva do consumidor, devendo julgar-se totalmente improcedentes os pedidos autorais.
4 - Da inexistência do dano moral
Ainda que seja julgada indevida a cobrança e atuação ora em comento, melhor sorte não assiste à parte autora no tocante aos danos morais alegados. Isto porque se alguém deu causa para qualquer problema, foi a própria parte autora como já dito.
O Judiciário não deve ser conivente com a famigerada “indústria do Dano Moral” por meros dissabores e percalços do dia-dia. Como se vê, não houve qualquer dano significativo ou cuja importância enseje a reparação que ora se pretende. Sobre o tema vale lembrar o importante ensinamento do professor Silvio de Salvo Venosa:
“Dano moral é o prejuízo que afeta o ânimo psíquico, moral e intelectual da vítima. Nesse campo, o prejuízo transita pelo imponderável, daí por que aumentam as dificuldades de se estabelecer a justa recompensa pelo dano. … Não é também qualquer dissabor comezinho da vida que pode acarretar a indenização. Aqui, também é importante o critério objetivo do homem médio, o bonus pater famílias: não se levará em conta o psiquismo do homem excessivamente sensível, que se aborrece com fatos diuturnos da vida, nem do homem de pouca
ou nenhuma sensibilidade, capaz de resistir sempre às rudezas do destino.” (DIREITO CIVIL, VOL IV. Venosa, Silvio de Salvo, Editora Atlas S.A., São Paulo, 2004. página 39)
Não são quaisquer dissabores da vida cotidiana que ensejam a incidência de danos morais. Mas, sim, situações que fogem aos meros aborrecimentos cotidianos e possuem uma relevância tal que torna imperiosa sua reparação.
Desnecessário dizer que é dever do Requerente demonstrar os fatos constitutivos de seu direito por expressa determinação do art. 333, I do Código de Processo Civil. Nesse sentido:
Para fazer jus ao dano moral postulado, não se desincumbiu a autora de demonstrar o ônus probatório do fato alegado, nos termos do preceituado art. 333, I da Lei Processual Civil. (20050110470259APC, Relator ROMEU GONZAGA NEIVA, 5ª Turma Cível, julgado em 13/09/2006, DJ 26/10/2006 p. 130)
Inaplicável, portanto, o art. 6º VIII do CDC, pois:
A inversão do ônus da prova, como meio de facilitação da defesa, não tem o condão de eximir as partes de carrear aos autos as provas necessárias para embasar a sua pretensão, demonstrando, efetivamente, o fato constitutivo de seu direito, nos termos do art. 333, I, do CPC (20040110778288ACJ, Relator NILSONI DE FREITAS, Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais do D.F., julgado em 28/03/2006, DJ 08/06/2006 p. 127).
Dessa forma, não há prova nos autos de algum dano moral sofrido, o que leva a improcedência da ação, uma vez que não houve ato ilícito praticado pela requerida. O simples aborrecimento e mal-estar não são suficientes para ensejar a condenação por dano moral, visto que todos estão sujeitos a imprevistos, como já pacificado em nossa jurisprudência. Nesse sentido:
Pequenos transtornos e aborrecimentos do dia-a-dia, percalços cotidianos comuns a todas as pessoas, atrasos, incômodos, contrariedades, dissabores, são considerados fatos normais na vida de relação e não constituem fonte de danos morais, nem motivo suficiente para alegá-los, desde que não atinjam um grau de excepcionalidade tal que fuja à sobredita normalidade. (20050110584590ACJ, Relator GISLENE PINHEIRO, Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais do D.F., julgado em 28/11/2006, DJ 11/01/2007 p. 91)
Caso Vossa Excelência entenda presente o suposto dano moral, deve fixar o eventual valor de modo a não possibilitar o enriquecimento indevido do Requerente, considerando a boa-fé da Instituição-Ré.
É no mínimo um absurdo a quantia pleiteada pelo Requerente a título de danos morais, por se mostrar teratológico e fora da realidade do caso em concreto.
Portanto, não é razoável que se venha a punir a Requerida com a fixação em valores não condizentes com o prejuízo sofrido pela parte autora. Qualquer atitude nesse sentido só viria a fomentar ainda mais a chamada “indústria do dano moral”. Por fim, diversas medidas que poderiam ser solucionadas, facilmente, no âmbito administrativo das empresas, vêm sendo trazidas ao Poder Judiciário. Dessa forma, eivando este Poder com ações desnecessárias que somente têm o condão de abarrotar o sistema e, por conseguinte, obstruir a celeridade judicial.
5 – Da perícia apresentada
Como dito anteriormente o autor afirma ter recebido da Requerida cópia do contrato celebrado por “outrem” para analisar assinatura e outros dados pessoais. 
Não obstante, a parte autora decidiu, unilateralmente, levar o contrato até um perito de sua escolha para que comprovasse suposta falsificação de sua assinatura, conforme documento apresentado nos autos pela parte autor.
Conforme disciplina o artigo 421, CPC: 
Art. 421. O juiz nomeará o perito, fixando de imediato o prazo para a entrega do laudo. (Redação dada pela Lei nº 8.455, de 24.8.1992) (Grifo nosso)
§ 1o Incumbe às partes, dentro em 5 (cinco) dias, contados da intimação do despacho de nomeação do perito:
I - indicar o assistente técnico;
II - apresentar quesitos.
Isto posto, nota-se a parcialidade no laudo apresentado, uma vez que foram requeridos pelo autor, o qual paga uma remuneração pelo trabalho do perito, seria esperado que as conclusões do laudo estivessem de acordo com os argumentos da parte que o requereu. 
Requer assim, a nulidade do laudo pericial apresentado e a realização de nova prova pericial, por profissional especialista, previamente escolhido e designado por Vossa Excelência. 
6 – Da Litigância de má-fé 
Por fim, cumpre esclarecer que a presente ação se trata de uma evidente litigância de má fé pela parte Autora, conforme se demonstra nos documentos em anexo.
Conforme demonstrado, o Requerente tenta manipular a verdade do ocorrido, informando fatos que não condizem com a verdade fática e nem com os documentos por ele mesmo anexados aos autos. Não bastasse estar inadimplente, efetuar parcelamento de suas dívidas e novamente não cumprir com sua obrigação como também alega conduta ilícita por parte desta empresa. Ora Excelência, os serviços contratados foram devidamente prestados e utilizados pelo Requerente, razão pela qual a cobrança da contraprestação é devida e um direito da Requerida.
Entretanto, como ficou demonstrado nos autos, o Autor possui sim obrigação com a ora Requerida nos moldes demonstrados. Portanto, requer a condenação da Requerente em litigância de má fé com base no art. 80 e seguintes do CPC.
7 – Do Pedido
Por todo exposto, requer:
a) Sejam julgados improcedentes os pedidos contidos na peça inicial, condenando a Requerente nas penas previstas nos artigos 79 e 80, I e II, do Código de Processo Civil, em virtude da evidente litigância de má-fé;
b) A nulidade do laudo pericial apresentado;
c) Em atenção ao Princípio da Eventualidade, na remotíssima hipótese de Vossa Excelência entender cabível a indenização por danos morais, requer seja a mesma fixada em patamares reduzidos, observados os parâmetros indicados na presente Defesa.
d) A produção de todas as provas em Direito admitidas, mesmo que não previstas no ordenamento jurídico e desde que obtidas de forma lícita, ainda que não especificadas no presente momento.
e) Requer-se, por oportuno, a habilitação da Dra. Jéssika Martins Ferreira Braz, OAB/GO 00.001 e da Dra. Rayssa Messias da Cunha, OAB/GO 00.002, e-mail: juridico@jmadv.com, bem como sejam as futuras publicações, em seus nomes realizadas.
Termos em que pede deferimento.
Rio Verde/GO, 15 de julho de 2011.
Jéssika Martins Ferreira Braz Rayssa Messias da Cunha
 OAB/GO 00.001 OAB/GO 00.002
 Rua da Lua, nº 150, Jd. das Maravilhas, Rio Verde/GO – CEP: 75.900-000 Fone: 64 3621-0000

Teste o Premium para desbloquear

Aproveite todos os benefícios por 3 dias sem pagar! 😉
Já tem cadastro?

Outros materiais