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P Civil 8 1

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INTENSIVO I 
Fernando Gajardoni 
Direito Processual Civil 
Aula 08 
 
 
ROTEIRO DE AULA 
 
 
Tema n. 1: intervenção de terceiros (continuação) 
 
4. Chamamento ao processo (CPC, arts. 130/132) 
 
I - A finalidade do chamamento ao processo é trazer ao polo passivo da ação pessoas que são obrigadas ou coobrigadas 
para responderem ao processo junto com aquele que foi demandando. 
 
Com a realização desta operação, aquele que eventualmente cumprir a obrigação ao autor, automaticamente ficará 
com um título executivo contra os demais responsáveis. 
 
II - Os obrigados ou coobrigados formarão entre si um litisconsórcio passivo ulterior. 
 
III – O chamamento ao processo garante o direito de regresso contra os obrigados ou coobrigados, semelhante ao que 
ocorre na denunciação à lide. 
 
4.1. Hipóteses de cabimento (CPC, art. 130) 
 
a) Fiador – afiançado (CC, art. 818) 
 
O autor entra com uma ação contra o fiador, pois este se obriga pelo contrato de fiança (CC, art. 818) a responder pela 
obrigação do afiançado. No entanto, o fiador pode perfeitamente chamar ao processo o afiançado. Assim, caso 
eventualmente o fiador pague a dívida, ele fica com o direito de regresso contra o afiançado. 
 
 
 
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Observação n. 1: se o autor entrou com a ação contra o afiançado, este não pode chamar ao processo o fiador, pois é 
aquele quem deve. 
 
b) Fiador – cofiadores (CC, art. 829) 
 
O autor ajuíza a ação contra o fiador e este chama ao processo os cofiadores. Tal hipótese pode ocorrer porque o 
contrato pode conter mais de um fiador (obrigados conjuntamente). 
 
Questão n. 1: o fiador pode, com base no inciso II do art. 130 do CPC, chamar os cofiadores e o afiançado? Sim. 
 
 Observação n. 2: o artigo 829 do Código Civil estabelece obrigação solidária entre todos os cofiadores. Por estar razão, 
alguns doutrinadores entendem que o inciso seria desnecessário. 
 
c) Devedores solidários (CC, art. 275) 
 
O credor cobra do devedor solidário e este poderá chamar ao processo outros devedores solidários. Assim, todos, em 
litisconsórcio passivo ulterior, responderão pela demanda. 
 
Observação n. 3: os civilistas criticam profundamente a figura do chamamento ao processo, principalmente na hipótese 
de devedores solidários, sob o fundamento de que o instituto atrapalha a solidariedade do ponto de vista do credor. 
 
d) Seguro (CPC, art. 125, II) 
 
Alguns autores entendem que o seguro seria hipótese de chamamento ao processo – e não de denunciação à lide. 
Fundamento: o artigo 757 do Código Civil cria uma verdadeira responsabilidade do segurador para garantir direito 
legítimo do segurado. 
 
O professor simpatiza com a posição, pois haveria a possibilidade de condenação conjunta tanto do segurado como da 
seguradora (CPC, art. 128, parágrafo único). No entanto, ele enxerga uma dificuldade em admiti-la porque o CPC, art. 
125, II coloca a questão do seguro dentro da denunciação à lide1. 
e) CC, art. 1.698 
 
I - CC, art. 1.698: “Se o parente, que deve alimentos em primeiro lugar, não estiver em condições de suportar 
totalmente o encargo, serão chamados a concorrer os de grau imediato; sendo várias as pessoas obrigadas a prestar 
 
1 Em uma prova objetiva assinalar que se trata de denunciação à lide. No entanto, tratando-se de uma prova aberta ou 
oral é possível discorrer sobre a questão doutrinária. 
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alimentos, todas devem concorrer na proporção dos respectivos recursos, e, intentada ação contra uma delas, poderão 
as demais ser chamadas a integrar a lide”. 
 
A ideia do dispositivo é a de que se o pai ou a mãe não possuírem condições de arcar com os alimentos poder-se-ia 
chamar os avós paternos e maternos (parentes de grau imediato). 
 
II - Conforme visto anteriormente, é perfeitamente possível o pedido de alimentos avoengos e, caso o autor entre com a 
ação somente contra os avós paternos, a lei estabelece que eles poderiam chamar ao processo os avós maternos. No 
entanto, a expressão “chamamento” (empregada pelo artigo 1.698 do Código Civil) não parece ser usada à luz da 
legislação processual civil. Por não ser derivado de “chamamento ao processo”, a consequência prática é a 
impossibilidade de aplicação as regras do artigo 130 do CPC na hipótese do artigo 1.698 do CC. 
 
III - Em suma, segundo o professor, a presente hipótese não é chamamento ao processo, mas uma intervenção anômala 
ou atípica (sem previsão legal). Fundamento: não há direito de regresso. 
 
4.2. Procedimento (CPC, art. 131) 
 
I - O autor entra com a ação e o réu, no prazo da contestação, chama ao processo o obrigado ou coobrigados. Por 
conseguinte, o juiz determina as respectivas citações para que o processo seja contestado: 
 
CPC, art. 131: “A citação daqueles que devam figurar em litisconsórcio passivo será requerida pelo réu na contestação e 
deve ser promovida no prazo de 30 (trinta) dias, sob pena de ficar sem efeito o chamamento”. 
 
III – No polo passivo forma-se um litisconsórcio passivo facultativo ulterior. Fundamento: é o réu quem chama; os 
chamados ocuparão o polo passivo; e o processo começa entre autor e réu e, posteriormente, o réu chama os 
cofiadores, por exemplo. Ademais, o litisconsórcio é facultativo porque o devedor solidário e o fiador tem a opção de 
chamar o processo os demais devedores solidários ou fiadores. 
 
4.3. Formação de título executivo contra e entre todos (CPC, art. 132) 
 
CPC, art. 132: “A sentença de procedência valerá como título executivo em favor do réu que satisfizer a dívida, a fim de 
que possa exigi-la, por inteiro, do devedor principal, ou, de cada um dos codevedores, a sua quota, na proporção que 
lhes tocar”. 
Observação n. 4: o coobrigado que paga não precisa ser necessariamente o réu demandando – poderá ser um chamado. 
 
4.4. Diferença com a denunciação à lide 
 
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Denunciação à lide Chamamento ao processo 
Autor ou réu. Réu. 
Duas relações jurídicas processuais (intervenção por 
ação). 
Única relação jurídica processual (intervenção por 
inserção). 
Em regra, o denunciado não tem relação jurídica com o 
adversário do denunciante. 
Os chamados tem relação jurídica com o chamante. 
 
5. Incidente de desconsideração da personalidade jurídica 
 
Já havia previsão legal da desconsideração da personalidade jurídica na legislação material nas hipóteses em que o sócio 
ou a sociedade fizessem uma verdadeira confusão patrimonial ou vice-versa (CDC, art. 28 e CC, art. 50). No entanto, não 
havia suporte processual para operacionalização da desconsideração da personalidade jurídica. Cada juiz procedia de 
uma maneira. 
 
A ideia do Código de Processo Civil de 2015 foi a de estabelecer um padrão comum para que se aplicassem os artigos 28 
do CDC e 50 do CC, entre outros que tratam da desconsideração da personalidade jurídica. 
 
5.1. Objetivo: dar suporte procedimental às hipóteses do arts. 50 do CC e 28 do CDC (CPC, arts. 133, § 2º e 134, § 4º), 
inclusive na forma inversa 
 
I - CPC, art. 134, § 4º: “O requerimento deve demonstrar o preenchimento dos pressupostos legais específicos para 
desconsideração da personalidade jurídica”. 
 
O conteúdo de caber ou não a desconsideração é o direito material que regulamenta. 
 
II – O incidente é aplicado tanto para a desconsideração direta como para a inversa: 
 
CPC, art. 133, § 2º: “Aplica-seo disposto neste Capítulo à hipótese de desconsideração inversa da personalidade 
jurídica”. 
 
5.2. Dois modelos procedimentais 
 
a) Ação (CPC, art. 134, § 2º) (hipótese de litisconsórcio eventual) (contestação bifronte) 
 
I - CPC, art. 134, § 2º: “Dispensa-se a instauração do incidente se a desconsideração da personalidade jurídica for 
requerida na petição inicial, hipótese em que será citado o sócio ou a pessoa jurídica”. 
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II – O autor entra com a ação contra o sócio e a pessoa jurídica, os quais formarão um litisconsórcio eventual. 
 
III – O réu que será desconsiderado apresentará contestação bifronte (duas defesas autônomas): a) nega o 
preenchimento dos requisitos para a própria desconsideração; e b) nega que o codemandado seja obrigado ao 
pagamento d dívida. 
 
b) Incidente (com suspensão do processo – CPC, art. 134, § 3º) 
 
I - O incidente da desconsideração da personalidade jurídica ocorre com o processo em andamento. A partir da 
instauração, o desconsiderando será citado e o juiz determinará a suspensão do processo até que se julgue o incidente 
(CPC, art. 134, § 3º). 
 
II - Razão da suspensão: dependendo do que ficar decidido na desconsideração os bens do sócio vão ou não ser objeto 
de constrição ou condenação no processo principal. 
 
5.3. Momento e cabimento do incidente (CPC, arts. 134 e 1.062) (exceção à Lei n. 9.099/95, art. 10) 
 
I – O momento da desconsideração da personalidade jurídica e a questão do cabimento do incidente estão disciplinados 
no dispositivo abaixo: 
 
CPC, art. 134: “O incidente de desconsideração é cabível em todas as fases do processo de conhecimento, no 
cumprimento de sentença e na execução fundada em título executivo extrajudicial”. 
 
Observação n. 5: CPC, art. 932: “Incumbe ao relator: 
(...) 
VI - decidir o incidente de desconsideração da personalidade jurídica, quando este for instaurado originariamente 
perante o tribunal; 
(...)”. 
 
II – O artigo 1.062 do CPC estabelece que o incidente de desconsideração da personalidade jurídica se aplica nos 
Juizados Especiais: 
 
CPC, art. 1.062: “O incidente de desconsideração da personalidade jurídica aplica-se ao processo de competência dos 
juizados especiais”. 
 
Assim, atualmente há uma exceção ao artigo 10 da Lei n. 9.099/95: 
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Lei n. 9.099/95, art. 10: “Não se admitirá, no processo, qualquer forma de intervenção de terceiro nem de assistência. 
Admitir-se-á o litisconsórcio”. 
 
No entanto, segundo o professor, serão necessárias adaptações porque o procedimento da Lei n. 9.099/95 é célere e 
compactado e o incidente gera a suspensão do processo e contra sua decisão poderá caber agravo de instrumento, o 
qual não é cabível no âmbito dos Juizados. 
 
III – Hoje existe um debate intenso na academia e na jurisprudência sobre o uso do incidente de desconsideração da 
personalidade jurídica para as hipóteses de responsabilidade tributária (CTN, arts. 133 a 135). 
 
A ideia do incidente é citar o desconsiderando para que ele participe da decisão sobre se houve ou não o 
preenchimento dos requisitos para a desconsideração – o regime anterior não previa a defesa. A hipótese de 
responsabilidade tributária é semelhante com a da desconsideração da personalidade jurídica. No entanto, não 
obstante a inexistência de precedentes do STJ, atualmente prevalece na jurisprudência dos Tribunais de segundo grau 
(TJ e TRF) a não aplicação do incidente para as hipóteses dos artigos 133 a 135 do CTN. 
 
5.4. Legitimação (CPC, art. 133) (não pode de ofício) 
 
CPC, art. 133: “O incidente de desconsideração da personalidade jurídica será instaurado a pedido da parte ou do 
Ministério Público, quando lhe couber intervir no processo”. 
 
Observação n. 6: não cabe a instauração do incidente de ofício. 
 
5.5. Procedimento (citação) e recurso (CPC, arts. 134, §§ 1º, 3º e 4º e 135 e 1.015, inc. IV) (embargos de terceiro – 
CPC, art. 674, § 2º, III) 
 
I – Procedimento: 
 
• O autor em petição intermediária diz em que medida estão presentes os requisitos do artigo 50 do CC ou artigo 
28 do CDC (CPC, art. 134, § 4º). 
• O juiz, ao receber o incidente, determina a suspensão do andamento do processo (CPC, art. 134, § 3º). 
• Citação do desconsiderando para que ele possa eventualmente se defender no prazo de quinze dias (CPC, art. 
135). 
• Contestação do desconsiderando (não é hipótese de desconsideração). 
• Provas. 
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• O juiz vai decidir através de uma decisão interlocutória que é agravável em primeiro grau (CPC, art. 1.015, IV) – 
nos Tribunais (CPC, art. 932, IV) o recurso cabível será o de agravo interno (CPC, art. 1.021). 
 
II – São cabíveis embargos de terceiro por aquele que é sofredor de constrição judicial de seus bens por força de 
desconsideração da personalidade jurídica, de cujo incidente não fez parte: 
 
CPC, art. 674: “Quem, não sendo parte no processo, sofrer constrição ou ameaça de constrição sobre bens que possua 
ou sobre os quais tenha direito incompatível com o ato constritivo, poderá requerer seu desfazimento ou sua inibição 
por meio de embargos de terceiro. 
(...) 
§ 2º: Considera-se terceiro, para ajuizamento dos embargos: 
(...) 
III - quem sofre constrição judicial de seus bens por força de desconsideração da personalidade jurídica, de cujo 
incidente não fez parte; 
(...)”. 
 
5.6. Efeitos do julgamento (acolhimento: sem sucumbência e ineficácia – CPC, art. 137) (desacolhimento: 
sucumbência) 
 
I - De acordo com a doutrina majoritária, se acolhido o incidente não haverá sucumbência; e, conforme a Lei, os atos de 
transferência patrimoniais serão reputados ineficazes: 
 
CPC, art. 137: “Acolhido o pedido de desconsideração, a alienação ou a oneração de bens, havida em fraude de 
execução, será ineficaz em relação ao requerente”. 
 
II – Desacolhido o incidente deve existir sucumbência em razão da contratação de um advogado pela sociedade ou pelo 
sócio que não participavam da ação primitiva. 
 
5.7. Coisa julgada e rescisória (CPC, art. 966) 
 
A decisão que julga o incidente de desconsideração da personalidade analisa o mérito ou da presença ou não dos 
requisitos dos artigos 50 do CC ou do 28 do CDC. Portanto, ela faz coisa julgada e, consequentemente, cabe ação 
rescisória. 
 
5.8. Pedido de desconsideração e tutela de urgência (CPC, art. 300) 
 
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Nada impede que o juiz, ao instaurar o incidente de desconsideração, cautelarmente, com base no artigo 300 do CPC, 
bloqueie o bens do desconsiderando. 
 
Tema n. 2: Juiz, Ministério Público, Defensoria Pública e Advocacia 
 
1. Do juiz 
 
1.1. Deveres/poderes (CPC, art. 139) (cooperação – CPC, art. 6º) 
 
Observações iniciais: 
 
• Expressão “deveres-poderes”: os deveres precedem os poderes judiciais. A Lei municiará o juiz de poderes para 
que, efetivamente, cumpra os deveres. E não existem poderes desatrelados de deveres. Portanto, o juiz não é 
soberano ou arbitrário. 
• Princípio da cooperação. A cooperação, precipuamente, existe do juiz para com as partes. E, para boa parte da 
doutrina, o juiz exercitará os deveres-poderes através de um presidencialismo cooperativista/processo 
cooperativo/processo comparticipativo. 
 
I - Igualdade de tratamento (CPC, art. 7º) 
 
II- Razoável duração do processo (CPC, art. 4º) (CF, art. 5º, inc. LXXVIII) 
 
III - Preservação da probidade processual (CPC, arts. 77 a 81, 772, inc. I e 774) 
 
O processo é um palco ético. Para mantê-lo desta forma, o juiz tem o dever-poder de punir as condutas ímprobas que 
violem o princípio da boa-fé (CPC, art. 5º). 
 
O Código classifica as improbidades processuais (litigância ímproba) em dois grandes modelos: 
 
• Litigância de má-fé (CPC, art. 81). 
• Ato atentatório à dignidade da justiça (CPC, arts. 77, 772, I e 774). 
 
A diferença entre elas é em relação à gravidade: a litigância de má-fé é menos grave do que o ato atentatório à 
dignidade da justiça, inclusive recebendo sanções diversas. O ato atentatório à dignidade da justiça poderá ter sanções 
civis, administrativas e penais. 
 
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IV - Dever de efetivação (medidas atípicas) 
 
CPC, art. 139: “(...). 
IV - determinar todas as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias necessárias para assegurar o 
cumprimento de ordem judicial, inclusive nas ações que tenham por objeto prestação pecuniária”. 
 
Conforme parcela da doutrina, o dispositivo teria adotado no Brasil o padrão da atipicidade das medidas executivas para 
todas as obrigações. 
 
V - Incentivar a composição (CPC, arts. 3º, 334 e 695) 
 
VI - Flexibilização procedimental legal genérica (CPC, art. 437) 
 
CPC, art. 139: “(...). 
VI - dilatar os prazos processuais e alterar a ordem de produção dos meios de prova, adequando-os às necessidades do 
conflito de modo a conferir maior efetividade à tutela do direito”. 
 
O procedimento é a forma como os atos processuais se combinam no tempo e no espaço e é preestabelecido em lei. 
No entanto, o legislador não tem a capacidade de positivar todas as hipóteses em que seriam necessárias variações do 
rito. Assim, o legislador, no inciso VI, estabelece que, não obstante a lei predispor o rito, o juiz poderá modificá-lo. 
 
Segundo o professor, foi adotado o modelo da flexibilização procedimental legal genérica: a lei autoriza o juiz a fazer 
genericamente a adaptação do procedimento às necessidades da causa. 
 
Entretanto, o sistema não adotou o modelo de flexibilização legal genérica ampla (sem amarras). O Brasil adotou o 
sistema da flexibilização legal procedimental mitigada: o sistema autoriza a flexibilização em duas hipóteses: aumentar 
prazos e alterar a ordem de produção de provas (CPC, art. 437). 
 
Questão n. 2: além das duas hipóteses previstas no art. 139, VI do CPC, poderia o juiz flexibilizar o procedimento em 
outras situações? Para os adeptos do ativismo judicial, sim, em razão do princípio geral da adaptação. Por outro lado, os 
legalistas negam a flexibilização para outras hipóteses. 
 
Observação n. 7: a ampliação do prazo somente pode ser autorizada antes do prazo acabar (CPC, art. 139, parágrafo 
único). 
 
VII - Poder de polícia (CPC, arts. 78 e 360) 
 
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VIII - Interrogatório judicial (diferente de depoimento pessoal – CPC, art. 385) 
 
CPC, art. 139: “(...): 
VIII - determinar, a qualquer tempo, o comparecimento pessoal das partes, para inquiri-las sobre os fatos da causa, 
hipótese em que não incidirá a pena de confesso”. 
 
Observações: 
 
• Trata-se de derivação do princípio da cooperação. 
• Distintamente do depoimento pessoal, o interrogatório judicial não é meio de prova. 
 
IX - Interesse jurisdicional no conhecimento do mérito (CPC, arts. 338 e 339 e 932) 
 
CPC, art. 139: “(...): 
IX - “determinar o suprimento de pressupostos processuais e o saneamento de outros vícios processuais”. 
 
A opção do Código é pela decisão de mérito. Exemplos: 
 
• CPC, arts. 338 e 339: o juiz deve autorizar, desde que o réu indique quem é o autor correto, a sucessão 
processual. 
• CPC, art. 932, parágrafo único: “Antes de considerar inadmissível o recurso, o relator concederá o prazo de 5 
(cinco) dias ao recorrente para que seja sanado vício ou complementada a documentação exigível”. 
 
X - Representação para coletivização de demandas (LACP, art. 7º) 
 
1.2. Indeclinabilidade 
 
I – A ideia é a de que o juiz não pode deixar de julgar seja porque inexiste lei ou porque faltam provas. Há no próprio 
sistema mecanismos de solução das situações em que um processo é proposto e que não há lei ou provas suficientes 
para solucioná-lo. 
 
a) Falta de lei (CPC, art. 140) (LINDB, art. 4º) 
 
CPC, art. 140: “O juiz não se exime de decidir sob a alegação de lacuna ou obscuridade do ordenamento jurídico”. 
 
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No entanto, o dispositivo processual não indica qual é o método que o juiz utilizará para poder suprir a obscuridade ou a 
lacuna na lei. A solução é oferecida pela LINDB: 
 
LINDB, art. 4º: “Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia [julgamento por semelhança], 
os costumes e os princípios gerais de direito”. 
 
b) Falta de provas (CPC, art. 373) 
 
O juiz utiliza as regras do ônus da prova: 
 
CPC, art. 373: “O ônus da prova incumbe: 
I - ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito; 
II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor”. 
 
1.3. Legalidade estrita (CPC, art. 140) (Exceções: CPC, art. 723 e Lei n. 9.099/95, art. 6º) 
 
I – A legalidade estrita estabelece que o juiz deva julgar de acordo com a lei. No entanto, isso não significa que ele não 
possa interpretar a lei ou inspirar-se em valores constitucionais. O que é vedado é o juiz substituir critérios 
estabelecidos pelo legislador por critérios pessoais próprios de justiça. 
 
II – Há raras hipóteses em que a lei estabelece a possibilidade do juiz julgar por equidade (CPC, art. 140, parágrafo 
único) – justiça do caso concreto. Exemplos: 
 
• Jurisdição voluntária: 
CPC, art. 723, parágrafo único: “O juiz não é obrigado a observar critério de legalidade estrita, podendo adotar 
em cada caso a solução que considerar mais conveniente ou oportuna”. 
Exemplo: juiz não é obrigado a homologar um divórcio que entenda ser prejudicial à prole. 
• Lei n. 9.099/95, art. 6º: “O Juiz adotará em cada caso a decisão que reputar mais justa e equânime, atendendo 
aos fins sociais da lei e às exigências do bem comum”. 
Para uma parcela da doutrina, tendo-se em vista o valor diminuto da causa, a Lei autoriza que o juiz julgue com 
o afastamento da legalidade estrita. 
 
III – Diferença entre “julgar por equidade” e “julgar com equidade”: 
 
• Julgar por equidade: CPC, art. 140, parágrafo único. 
• Julgar com equidade (regra geral): CPC, art. 8º e LINDB, art. 5º. 
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1.4. Inércia ou demanda (CPC, art. 141) (questões de ordem pública?) 
 
I - CPC, art. 141: “O juiz decidirá o mérito nos limites propostos pelas partes, sendo-lhe vedado conhecer de questões 
não suscitadas a cujo respeito a lei exige iniciativa da parte”. 
 
II – Há exceções ao princípio da inércia ou da demanda como, por exemplo, as questões de ordem pública. 
 
1.5. Poderes instrutórios (CPC, art. 370) 
 
I – A evolução do Direito Processual Civil já levou à conclusão, no Brasil e em outros países do Mundo, que a atividade 
do juiz não é absolutamente inerte (mero expectador de um colóquio entre as partes). 
 
II - À luz do Direito brasileironão há como sustentar que os juízes não possuem poderes instrutórios: 
 
CPC, art. 370: “Caberá ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte, determinar as provas necessárias ao julgamento do 
mérito. 
Parágrafo único: O juiz indeferirá, em decisão fundamentada, as diligências inúteis ou meramente protelatórias”. 
 
III – Limites dos poderes instrutórios (correntes): 
 
• Em qualquer processo. 
• Somente em processos relacionados ao interesse público. 
• Apenas em caráter complementar. 
 
IV – O uso dos poderes instrutórios do juiz pode comprometer sua imparcialidade. No entanto, ela somente será 
comprometida caso o juiz saiba de antemão qual é o resultado da prova que ele está determinando a produção. Caso 
contrário, não há como falar em violação da imparcialidade, pois a prova poderá favorecer tanto o autor como o réu. 
 
1.6. Livre convencimento motivado (princípio ou regra da persuasão racional) (CPC, art. 371) (há ainda no Novo CPC? 
– CPC, arts. 926 e 927) 
 
I - No regime anterior, o Código dizia que o juiz julgaria o processo de forma livre, desde que ele expusesse as razões do 
seu convencimento. Isso era nominado pela doutrina como “princípio do livre convencimento motivado” ou “princípio 
da persuasão racional” 
 
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Já o Novo Código de Processo Civil suprimiu a expressão “livre”: 
 
CPC, art. 371: “O juiz apreciará a prova constante dos autos, independentemente do sujeito que a tiver promovido, e 
indicará na decisão as razões da formação de seu convencimento”. 
 
II - Questão n. 3: o sistema brasileiro continua ou não adotando o sistema do livre convencimento motivado? 
 
• 1ª corrente: não há mais o livre convencimento motivado. Com a supressão da palavra “livre” ficou claro que o 
juiz não pode julgar como bem entender. Portanto, sobraria como sistema de apreciação da prova no Brasil o 
modelo do convencimento motivado. 
• 2ª corrente: continua existindo o princípio do livre convencimento motivado. Fundamentos: a) a palavra “livre” 
foi suprimida apenas do ponto de vista simbólico, com o intuito de demonstrar que o juiz nunca foi livre para 
julgar; e b) o juiz continua tendo liberdade na valoração da prova. 
 
Conforme a segunda corrente, o juiz sempre foi vinculado à lei. O sistema do livre convencimento motivado é um 
sistema importante porque é montado para combater os outros dois sistemas existentes de valoração da prova: a) 
prova legal ou tarifada e b) sistema do livre convencimento puro. 
 
III – Na interpretação do direito o modelo adotado é o dos precedentes vinculantes (CPC, arts. 926 e 927). 
 
1.7. Identidade física do juiz (CPC/73, art. 132) (não há no Novo CPC) 
 
I - No regime revogado existia uma regra que dizia que o juiz que encerrava a instrução deveria julgar o processo. Em 
outras palavras, ele ficava funcionalmente vinculado ao processo (competência funcional). A ideia do princípio (corolário 
da oralidade) era a de que o juiz teria uma melhor percepção sobre os fatos por ter tido contato direto com a prova. 
Entretanto, o princípio não tutelava o valor que ele pretendia tutelar. Por opção política, não há mais a identidade física 
do juiz no processo civil brasileiro, o que baqueia mais ainda a já debilitada regra da oralidade. 
 
II – O fim da identidade física do juiz causou problemas no âmbito processual penal. 
 
No Código de Processo Penal há previsão no artigo 399, § 2º do princípio da identidade física do juiz e este dispositivo 
usava as exceções à identidade que eram previstas no revogado artigo 132 do CPC de 1973 (licenciado, afastado, 
aposentado ou promovido). De acordo com os processualistas penais, o artigo 132 do CPC de 1973, apesar de revogado, 
continua valendo para o Processo Penal. 
 
1.8. Outros deveres/poderes (CPC, arts. 300/301, 489, § 1º, 927) 
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Os poderes-deveres do juiz não se encontram apenas no Capítulo que se refere ao juiz. Existem vários outros 
espalhados por todo o Código. Exemplos: 
 
• Dever-poder geral de cautela (CPC, arts. 300 e 301). 
• Dever de fundamentação (CPC, art. 489, § 1º). 
• Dever de obedecer aos precedentes judiciais (CPC, art. 927). 
 
1.9. Regime jurídico do impedimento/suspeição 
 
Uma das características da jurisdição é a imparcialidade (pressuposto do exercício da jurisdição). Para tutelá-la o sistema 
brasileiro tem um regime jurídico de impedimento e suspeição que tem por objetivo afastar do processo o juiz que 
eventualmente não seja imparcial. 
 
Impedimento Suspeição 
Presunção absoluta de parcialidade. Presunção relativa de imparcialidade. 
Circunstâncias objetivas (CPC, art. 144) (não se investiga 
“animus”). 
Circunstâncias subjetivas (CPC, art. 145) (inclusive 
reconhecidas pelo julgador: § 1º). 
Violação gera nulidade mesmo se não arguida 
oportunamente (pressuposto processual de validade). 
Violação não gera nulidade se não arguida 
oportunamente. 
Ação rescisória pela violação (CPC, art. 963, II). Não cabe ação rescisória. 
Arguição por incidente (petição) (CPC, art. 146). Arguição por incidente (petição) (CPC, art. 146) 
A qualquer tempo (CPC, art. 146). Prazo de 15 dias a contar do conhecimento do fato (CPC, 
art. 146), sob pena de preclusão. 
 
1.10. Particularidades sobre impedimento/suspeição (CPC, art. 144, III e §§ 1º e 3º) (CPC, art. 144, VIII) (CPC, art. 145, 
I) (CPC, art. 147) 
 
I – CPC, art. 145: “Há suspeição do juiz: 
I - amigo íntimo ou inimigo de qualquer das partes ou de seus advogados; 
(...)”. 
 
A previsão quanto aos advogados não existia no regime revogado. Antigamente, o que gerava a suspeição era somente 
a amizade íntima ou a inimizade com a parte. 
 
II – CPC, art. 144: “Há impedimento do juiz, sendo-lhe vedado exercer suas funções no processo: 
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(...) 
III - quando nele estiver postulando, como defensor público, advogado ou membro do Ministério Público, seu cônjuge 
ou companheiro, ou qualquer parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive; 
(...) 
§ 1º: Na hipótese do inciso III, o impedimento só se verifica quando o defensor público, o advogado ou o membro do 
Ministério Público já integrava o processo antes do início da atividade judicante do juiz. 
(...) 
§ 3º: O impedimento previsto no inciso III também se verifica no caso de mandato conferido a membro de escritório de 
advocacia que tenha em seus quadros advogado que individualmente ostente a condição nele prevista, mesmo que não 
intervenha diretamente no processo”. 
 
III – CPC, art. 144: “Há impedimento do juiz, sendo-lhe vedado exercer suas funções no processo: 
(...) 
VIII - em que figure como parte cliente do escritório de advocacia de seu cônjuge, companheiro ou parente, 
consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive, mesmo que patrocinado por advogado 
de outro escritório; 
(...)”. 
 
IV – CPC, art. 147: “Quando 2 (dois) ou mais juízes forem parentes, consanguíneos ou afins, em linha reta ou colateral, 
até o terceiro grau, inclusive, o primeiro que conhecer do processo impede que o outro nele atue, caso em que o 
segundo se escusará, remetendo os autos ao seu substituto legal”. 
 
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