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CURSO FORMAÇÃO DE mediadores de leitura 1FASCÍCULO Lidia Eugenia Cavalcante MEDIAÇÃO DA LEITURA E Formação do leitor Gratuito! 2 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE Copyright © 2018 by Fundação Demócrito Rocha Todos os direitos desta edição reservados à: Fundação Demócrito Rocha Av. Aguanambi, 282/A - Joaquim Távora Cep 60.055-402 - Fortaleza-Ceará Tel.: (85) 3255.6037 - 3255.6148 - Fax (85) 3255.6271 fdr.org.br fundacao@fdr.org.br FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA (FDR) João Dummar Neto Presidente André Avelino de Azevedo Diretor Administrativo-Financeiro Raymundo Netto Gestor de Projetos Emanuela Fernandes Analista de Projetos Tainá Aquino Estagiária UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE Viviane Pereira Gerente Pedagógica Luciola Vitorino Analista Pedagógica CURSO FORMAÇÃO DE MEDIADORES DE LEITURA Raymundo Netto Coordenador Geral e Editorial Lidia Eugenia Cavalcante Coordenador de Conteúdo Emanuela Fernandes Assistente Editorial Amaurício Cortez Editor de Design e Projeto Gráfico Marisa Marques de Melo Diagramadora Rafael Limaverde Ilustrador Este fascículo é parte integrante do Programa Fortaleza Criativa, em decorrência do Termo de Fomento celebrado entre a Fundação Demócrito Rocha e a Secretaria Municipal da Cultura de Fortaleza, sob o nº 05/2018. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) de acordo com ISBD C977 Curso Formação de Mediadores de Leitura / vários autores; organizado por Raymundo Netto, Lidia Eugenia Cavalcante Lima; ilustrado por Rafael Limaverde. - Fortaleza, CE : Fundação Demócrito Rocha, 2018. 192 p. : il.; 25cm x 29,5cm. ISBN: 978-85-7529-893-0 (Coleção) ISBN: 978-85-7529-894-7 (Fascículo 1) 1. Mediação de Leitura. 2. Leitura. 3. Curso. I. Netto, Raimundo. II. Lima, Lidia Eugenia Cavalcante. III. Limaverde, Rafael. IV. Título. 2018-1825 CDD 372.41 CDU 372.41 Elaborado por Vagner Rodolfo da Silva - CRB-8/9410 Índice para catálogo sistemático: 1. Mediação de Leitura 372.41 2. Mediação de Leitura 372.41 CURSO FORMAÇÃO DE mediadores de leitura 3 APRESENTAÇÃO O conteúdo deste fascículo é introdutório ao curso Formação de mediadores de lei- tura e transita entre os conceitos de media- ção da leitura e às práticas advindas desses que levam à formação do leitor. A leitura está presente em nossas vidas, no cotidiano, desde as situações mais habi- tuais, como tomar um ônibus observando o seu itinerário, preparar uma receita de bolo de chocolate ou mesmo lendo uma bula de remédio, às mais complexas, a exemplo das pesquisas científi cas e terminológicas, lei- turas fi losófi cas etc. Podemos afi rmar que a vida é mediada pela palavra, seja ela dita, vivida, narrada, contada, lida, cantada ou escrita. Vivemos a observar aquilo que está em nosso entorno, com o que interagimos, interrogamos, con- cordando ou discordando, a partir das con- dições de inserção no mundo social e cultu- ral do qual fazemos parte. Ler é ir ao encontro de algo que está para ser e ninguém sabe ainda o que será. Ítalo Calvino CURSO FORMAÇÃO DE CURSO FORMAÇÃO DE CURSO FORMAÇÃO DE CURSO FORMAÇÃO DE CURSO FORMAÇÃO DE CURSO FORMAÇÃO DE CURSO FORMAÇÃO DE CURSO FORMAÇÃO DE CURSO FORMAÇÃO DE CURSO FORMAÇÃO DE CURSO FORMAÇÃO DE CURSO FORMAÇÃO DE CURSO FORMAÇÃO DE CURSO FORMAÇÃO DE CURSO FORMAÇÃO DE CURSO FORMAÇÃO DE CURSO FORMAÇÃO DE mediadores de leituramediadores de leituramediadores de leituramediadores de leitura remédio, às mais complexas, a exemplo das pesquisas científi cas e terminológicas, lei- turas fi losófi cas etc. Podemos afi rmar que a vida é mediada pela palavra, seja ela dita, vivida, narrada, contada, lida, cantada ou escrita. Vivemos a observar aquilo que está em nosso entorno, com o que interagimos, interrogamos, con- cordando ou discordando, a partir das con- dições de inserção no mundo social e cultu- ral do qual fazemos parte. As possibilidades de leitura são amplas. Fazemos leituras de jornais, romances, poesias, músicas, revistas em quadrinhos, mensagens em redes sociais, lemos foto- grafi as, imagens em movimento, obras de arte, esculturas, partituras, leituras técni- cas ou escolares... Lemos por distração e lazer, para adquirir conhecimento, obter informação, para toma- da de decisão. Fazemos leituras despreten- siosas ou mesmo com objetivos defi nidos. A leitura, portanto, é um ato de simbolização e representação do mundo. O objetivo do nosso curso é, portanto, pensar a leitura em suas diferentes vertentes como práticas so- ciais de inserção no mundo por meio da me- diação para a formação de leitores. Formar leitores críticos que compreen- dam o papel da leitura no dia a dia representa um desafi o para educadores, bibliotecários, agentes de leitura, pais, mães e uma gama de profi ssionais e pessoas que chamam para si essa importante ação. Assim, começamos por lançar um questionamento: De que de- pende o incentivo à leitura? O que podem fazer os mediadores de leitura para con- tribuir na formação de leitores críticos? No decorrer deste módulo, pedimos que você refl ita sobre essas questões. Esperamos, ao longo desse nosso diá- logo, acender uma fagulha nessa discussão coletiva, de modo a envolver mediadores e mediadoras desse trabalho instigante que é contribuir na formação de leitores e, consequentemente, na construção de um mundo melhor. E você, leitor(a), pode também fazer parte disso. Inscreva-se já! ava.fdr.org.br A pesquisa Retratos da Leitura no Brasil considera leitor aquele que leu pelo menos um livro nos três meses anteriores à pesquisa, inteiro ou em partes. Leva em consideração fatores como escolaridade, renda familiar, classe social, faixa etária, gênero, ocupação, atividade e região. Você pode ter acesso à pesquisa completa no link: http://prolivro.org.br/home/ images/2016/RetratosDaLeitura2016_ LIVRO_EM_PDF_FINAL_COM_CAPA.pd PARA ALÉM DO TEXTO 1. MEDIAR A LEITURA: EXERCÍCIO DE SI E DO OUTRO Começamos aqui por relembrar a primei- ra questão apresentada anteriormente: De que depende o incentivo à leitura? Ao aprofundarmos essa refl exão, cabe-nos refl etir sobre as condições que levam uma pessoa a se tornar leitora, especialmente em nosso contexto, diante da complexida- de e diferenças existentes no Brasil. Você, por exemplo, se considera um(a) leitor(a)? Na pesquisa Retratos da Leitura no Bra- sil, realizada pelo Instituto Pró-Livro, de mapeamento do comportamento leitor dos brasileiros, em sua 4ª edição (2016), iden- tifi camos uma realidade que vale a pena uma refl exão. Sobre a pergunta referente a presença de uma pessoa que infl uenciou o gosto pela leitura dos pesquisados, os da- dos apresentados indicam que isso é mais marcante entre as crianças até 13 anos, ao revelarem a presença dos pais e pro- fessores como mediadores. Já para os entrevistados a partir de 25 anos, fi ca evi- dente a pequena presença de pessoas que tiveram ou têm efetiva participação nessa infl uência. Concluímos, assim, que é na infância, por meio da escola, da família ou na biblioteca onde aparecem as oportuni- dades de práticas e ações mediacionais, como as rodas de leitura, contação de his- tória ou indicação de livros. 4 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE Por outro lado, pensar a mediação da leitura para promover a formação de lei- tores deve levar em consideração os dife- rentes públicos e pessoas de diversas ida- des e níveisde alfabetização e letramento. O leitor se constrói ao longo da vida. Para tal, é necessário que se desenvolvam práticas leitoras educativas, críticas literá- rias e poéticas que tragam as memórias afetivas e que os indivíduos se reconhe- çam nessas leituras, evocando liberdade e autonomia. Quando revisitamos nossas memórias, é possível reconhecer que o que construímos criticamente em relação ao conhecimento que possuímos está en- volto no que somos e naquilo que experi- mentamos ao longo da vida. CURSO FORMAÇÃO DE mediadores de leitura 5 CURSO FORMAÇÃO DE CURSO FORMAÇÃO DE CURSO FORMAÇÃO DE CURSO FORMAÇÃO DE CURSO FORMAÇÃO DE CURSO FORMAÇÃO DE CURSO FORMAÇÃO DE CURSO FORMAÇÃO DE CURSO FORMAÇÃO DE CURSO FORMAÇÃO DE CURSO FORMAÇÃO DE CURSO FORMAÇÃO DE CURSO FORMAÇÃO DE CURSO FORMAÇÃO DE CURSO FORMAÇÃO DE CURSO FORMAÇÃO DE CURSO FORMAÇÃO DE mediadores de leituramediadores de leituramediadores de leitura No Brasil, ainda é pequena a parcela da po- pulação que tem acesso a bibliotecas, ao livro e à leitura em suas formas tradicionais ou não. Além disso, o exercício crítico, pedagógico, dia- lógico e mediador da leitura parece não ser bem compreendido e a leitura acontece desco- nectada com a realidade do cotidiano e dos in- teresses do leitor. No processo de mudança que nós educadores buscamos, sem dúvida nenhu- ma está o desejo de acesso ao livro e à leitura para todos, nas residências, escolas, bibliote- cas, terminais de ônibus, centros culturais, pra- ças, condomínios, canteiros de obras, fábricas, hospitais, presídios etc. Dialógico: relativo a diálogo, em forma de diálogo. Mas, é importante saber que não adianta so- mente o acesso ao livro se não houver um con- vite à leitura, especialmente para os iniciantes dessa aventura, independentemente da faixa etária ou classe social. E é desse convite, que de- nominamos mediação, que trataremos a seguir. Refl etir sobre o conceito de mediação nos apresenta diferentes possibilidades, algumas abordagens mais simples, outras complexas, dependendo do contexto e do lugar de fala dos sujeitos envolvidos. Por ora, o que nos interessa aqui é especialmente a mediação da leitura. PUXANDO PROSA E você, qual a sua primeira lembrança de leitura? Como foi? O que o(a) atraiu? Que gosto isso teve para você? 6 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE Na memorável obra de Paulo Freire, A importância do ato de ler, publicada origi- nalmente em 1982, o autor “relê” momen- tos de sua prática pedagógica, guardados na memória e vividos desde a infância, des- tacando que é necessário “[...] uma com- preensão crítica do ato de ler, que não se esgota na decodifi cação pura da palavra escrita ou da linguagem escrita, mas que se antecipa e se alonga na inteligência do mundo.” (FREIRE, 1989, p.9) A leitura, em suas diferentes linguagens, verbais e não verbais, é fundamental para a construção do conhecimento, desde que seja valorizada a compreensão crítica do leitor e o seu conhecimento de mundo, podendo ser visto em uma das afi rmações mais conhecidas e citadas de Freire: A leitura de mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crí- tica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto. (FREIRE, 1989, p.9) Na perspectiva da dialogicidade, uma das principais categorias das teorias de Pau- lo Freire, nascem as práticas sociais e cultu- rais de mediação da leitura. Assim, o diálogo apresenta-se como essencial à construção e à apropriação do conhecimento, numa ação libertadora e autônoma, na qual todas as pessoas envolvidas encontram-se inseridas e precisam se sentir valorizadas. Do interesse em aprender, surge o desejo de ler e de conhecer. Dessa for- ma, quando as leituras propostas estão relacionadas às experiências, o processo de construção do leitor não tem apenas a relevância teórica do discurso pedagógico, situa-se, também, no lugar social dos en- volvidos, reconhecendo aspectos da vida que são fundamentais para a compreensão da realidade apresentada nas argumenta- ções, nos exemplos e nas linguagens do texto lido mediado. A leitura, portanto, faz parte do processo de comunicação cotidiana que ocorre entre os sujeitos e que envolve interações sociais e trocas, fomentadas em situações diversas, expressas pela memória, cultura, tradições e contextos sociais. No desafio de mediar a leitura, não podemos esquecer a importância das lin- guagens, pois a mediação é um ato de co- municação entre os sujeitos e de partilha entre interlocutores. A importância do ato de ler, de Paulo Freire: https://educacaointegral.org. br/wp-content/uploads/2014/10/ importancia_ato_ler.pdf PARA ALÉM DO TEXTO CURSO FORMAÇÃO DE mediadores de leitura 7 2. AS DIMENSÕES DIALÓGICAS DA MEDIAÇÃO DA LEITURA A mediação da leitura caracteriza-se pelas relações dialógicas entre os sujeitos, o texto mediado e o ato mediador. É um diálogo consti- tuído de múltiplas vozes e narrativas, de natureza dinâmica, fl exível e crítica. Em forma de diálogo, a mediação pode ocorrer em diferentes formatos para públicos diversos em ambiências como bibliotecas públicas, escolares e comunitárias, centros culturais, livrarias, mu- seus e teatros, apenas alguns dos espaços tradicionais de promoção da leitura. Ou mesmo em locais improvisados ou públicos como va- randas, calçadas, condomínios, garagens, praças e parques. CURSO FORMAÇÃO DE CURSO FORMAÇÃO DE CURSO FORMAÇÃO DE CURSO FORMAÇÃO DE CURSO FORMAÇÃO DE CURSO FORMAÇÃO DE CURSO FORMAÇÃO DE CURSO FORMAÇÃO DE CURSO FORMAÇÃO DE CURSO FORMAÇÃO DE CURSO FORMAÇÃO DE CURSO FORMAÇÃO DE Na dialogicidade da mediação da leitura para conectar pessoas e textos, devemos levar em consideração também a participação efetiva e a história de vida do leitor, por meio de outras dimen- sões como aquelas que Vincent Jouve (2002) nos apresenta e nas quais acrescentamos a leitura crítica. Vamos conhecer essas dimen- sões? São elas: a) Afetiva: a leitura está envolta em sentimentos e memórias que levam as pessoas a se conectarem com o que é lido, re- velando emoções as mais diversas possíveis, como paixões, indignação, intimidade, identifi cação ou mesmo parcialida- de. Jouve (2002) salienta que o “charme da leitura” advém das emoções. Leitores amam, admiram ou mesmo odeiam personagens das obras que leem, criando relações afetivas e pessoais (componente importante da leitura literária). b) Simbólica: a dimensão simbólica da leitura se apresenta no imaginário do leitor, que leva a uma pluralidade de inter- pretações do que é lido. Nesse sentido, cada indivíduo traz traços de suas experiências pessoais, dos valores e da cultu- ra, como salienta Jouve (2002). O leitor ressignifi ca o que lê, permitindo a ele o direito de apreender o que lhe interessa de modo interativo. c) Argumentativa: a leitura é argumentativa e polifônica (traz consigo muitas vozes). Na mediação de leitura, o media- dor apresenta uma direção argumentativa, porém permite ao leitor que ele interaja com o texto, dialogue com o autor, o questione, concorde, discorde, acrescente ou faça inferên- cias. Vale salientar que cabe ao mediador avaliar o nível de compreensão argumentativa do grupo para quem a prática é desenvolvida. d) Cognitiva: ler signifi ca descortinar, mudar de horizontes, interagir com o real, interpretá-lo, compreendê-lo e decidir sobre ele. Desde o início a leitura deve contar com o leitor, com a sua contribuição ao texto, sua observação ao contexto, sua percepção do entorno. O prazer de ler é também uma descoberta. Assim, o conhecimento vai se construindo aos poucos,acompanhando o indivíduo em suas diversas fases de desenvolvimento cognitivo ao longo da vida. A leitura é um ato cognitivo-afetivo. 8 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTEFUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTEFUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTEFUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTEFUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTEFUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTEFUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTEFUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTEFUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTEFUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTEFUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTEFUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTEFUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTEFUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTEFUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTEFUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTEFUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE e) Crítica: Ezequiel Theodoro da Silva ressalta que um leitor crítico adentra um texto desejando compreender as circunstâncias, as razões e os de- safi os sociais permitidos ou não por este texto (SILVA, 2002). A leitura, além de crítica, deve ser prazerosa. O ato de ler destrói certezas, pois a pessoa que lê questiona, se inquieta, analisa, pondera, processa, identifi ca-se. DESTACAMOS QUE A mediação da leitura é um ato dialógico A leitura é plural A leitura é libertária A leitura é emancipatória A leitura não deve ser imposta A leitura é provocação Ler é um ato inacabado: estamos sempre acrescentando algo O conhecimento está sempre em construção O leitor se constrói a cada momento É necessário apropriar-se do que é lido CURSO FORMAÇÃO DE mediadores de leitura 9 PUXANDO PROSA Baseado(a) nessas “pistas”, características de um mediador de leitura, você se vê assim? O que falta para você? Que outras características você acresceria? 3. FORMANDO OS FORMADORES: AFINAL, O QUE É SER UM “MEDIADOR DE LEITURA”? Vamos refl etir um pouco sobre a segunda questão apresentada no começo deste módulo: O que podem fazer os media- dores de leitura para contribuir na formação de leitores críticos? Aqui ou- saríamos dizer que não há modelos para formar leitores ou para formar mediadores de leitura, pois os modelos certamente se esgotariam. O que nós queremos propor em nosso curso, é a possibilidade da me- diação sensível que se constrói no coti- diano de professores, bibliotecários, pais, agentes de leitura e outros indivíduos que se dedicam a provocante missão de contri- buir com o ato da leitura. Quando nos referimos ao que chama- mos aqui de formação do leitor, preci- samos deixar claro tratar-se de uma ação educativa, e não de gerar formas ou mol- des. Pensamos nas práticas dialógicas do ato de ler, do leitor como elemento prin- cipal dessa prática pedagógica, visto no seu todo como ser que pensa, age, refl ete, analisa e decide. Estamos falando de uma ação de protagonismos, tanto do mediador quanto do leitor. Cada sujeito tem o direito de voz, de expressar-se e de comunicar aquilo que para ele não nasce na prática mediada, e, sim, em sua inserção no mundo com auto- nomia que muitas vezes lhe é negada por inúmeros motivos, como a falta de acesso à escola, à biblioteca e ao livro. Porém, a exposição direta à leitura por meio da me- diação apresenta estímulos humanizadores das práticas sociais e culturais, ampliando o campo de compreensão do que é lido e de suas linguagens. A leitura, se bem entendida, é sedutora, pois se alia às experiências do viver para além do tempo e do espaço. Isso explica, por exemplo, a atemporalidade e as paixões que despertam Dom Quixote de La Mancha, de Miguel de Cervantes, cuja primeira edi- ção é datada do ano de 1605 e continua sendo uma das obras mais lidas da atuali- dade. Lembramos também de outra obra, Romeu e Julieta, tragédia amorosa datada do século XVI, de Willian Shakespeare, que já recebeu diversas adaptações para o ci- nema. Ou mesmo os contos de fadas e as fábulas que tanto encantam o universo in- fantil. Somente ressignifi cada, a leitura fará sentido e conquistará leitores, pois ela não existe isolada ou fora de contexto, sempre revelará outros textos e contextos, encon- trando eco nas vozes plurais dos leitores. Sobre o que caracteriza o mediador de leitura, temos algumas pistas: a) Inicialmente, deve tratar-se de um(a) leitor(a), alguém que gosta de ler. É um(a) leitor(a) crítico(a), cujas expe- riências são partilhadas no processo de interação com o outro; b) Além da experiência de leitura, é ne- cessário gostar de comunicar-se, de falar do que lê, compartilhar seus re- pertórios e afetividade; c) Percebe na mediação a possibilida- de de mudança a ser realizada no cotidiano das pessoas, de modo que compreendam o espaço que a leitura ocupa em suas vidas; d) Compreende as diferentes fases pe- las quais um leitor se constrói e se torna íntimo da leitura, sem exigên- cias, deixando fl uir, sem estabelecer juízos. O texto, em suas diferentes formas e di- mensões, com linguagens verbais ou não verbais, é mote para desvelar o ato vivido. Por isso, a leitura precisa ser atrativa, pois ela deve ser reconhecida e (re)siginifi cada no sentido mais amplo que esses termos possam ter. Com esse pensamento, pode- mos concluir que a leitura é uma prática social exercitada no cotidiano, da solida- riedade, do compartilhamento ou mesmo em momentos de solidão como um direito do(a) leitor(a). 10 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTEFUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTEFUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTEFUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTEFUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTEFUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE 4. A MEDIAÇÃODA LEITURA NA PRÁTICA Após as refl exões realizadas no decorrer do fascículo, cremos que seja importante apresentar um pouco sobre a mediação na prática. Planejar e trilhar um caminho atraente para mediar a leitura e formar leitores é, sem dúvida, um desafi o, tendo em vista que são muitas as possibilidades de leitura nos tempos atuais, inclusive em épocas de redes sociais e o poder de atração da internet. Entre os desafi os, alguns queremos destacar: • As competências do(a) mediador(a) • As condições nas quais as práticas se desenvolvem • Os objetivos da mediação • As ambiências • A periodicidade das práticas • A acessibilidade da leitura • A existência de acervos atrativos que gerem o interesse do público A mediação da leitura, portanto, é um ato de comunicação com o outro ou con- sigo mesmo, daí a necessidade de se ler cri- ticamente para o exercício da cidadania. O(A) mediador(a) deve ser, antes de tudo, um(a) leitor(a). Dessa forma, em uma mediação de leitura, é possível envolver os leitores pelo encantamento do ato de ler, de modo digno, verdadeiro e afetivo. Assim como declara Petit (2008), ao afi rmar que a transmissão do amor pela leitura se dá pela experimentação desse amor. É co- mum leitores narrarem suas histórias de lei- tura a partir da presença de um mediador, sejam avós, pais, outros familiares, profes- sores, contadores de histórias, entre outros que, de algum modo se tornaram fi guras marcantes nesse processo de se construir enquanto leitores. E com você, quem foi o seu primeiro mediador? Ou quem foi o seu melhor mediador? Você também pensa assim: O(A) mediador(a) deve ser, antes de tudo, um(a) leitor(a)? PUXANDO PROSA CURSO FORMAÇÃO DE mediadores de leitura 11 CURSOFORMAÇÃO DE CURSO FORMAÇÃO DE CURSO FORMAÇÃO DE CURSO FORMAÇÃO DE CURSO FORMAÇÃO DE CURSO FORMAÇÃO DE CURSO FORMAÇÃO DE CURSO FORMAÇÃO DE O que nos leva a ler? A leitura na forma como é vista atualmente constitui-se em um ato libertador e emancipatório. Lemos por dife- rentes motivos, entretanto, o que mais deve aguçar o interesse do lei- tor é o desejo de ler o que a ele interessa, de modo a gerar desejo no conhecimento obtido. “Ler é, pois, interrogar as palavras, duvidar delas, ampliá-las. Deste contato, desta troca, nasce o prazer de co- nhecer, de imaginar, de inventar a vida.” (YUNES, Eliana, 1995, p.188) O(A) mediador(a), ao preparar práticas leitoras, deve reconhecer a priori os objetivos que deseja alcançar, assim como ao escolher possibilidades de leitura como livros, gêneros textuais, temáticas e material de apoio para ampliar o diálogo, tendo conhecimento prévio do público a que se destina e de suas competências leitoras. Além disso, torna-se indispensável para a sua mediação: a) Planejar a prática de leitura com antecedência, de modo bem detalhado: textos a serem lidos, ambiências, atividades etc.; b) Escolher textos adequados à situação e ao nível de compreensão dos leitores; c) Ler previamente os textos a serem trabalhados; d) Organizar a ambiência onde se dará o encontro (biblioteca, sala de aula, residência, sala de estar, varanda, quintal, praça etc); e) Expor livros e outros materiais de leitura de modo que possam gerar atração e curiosidade; f) Estimular o grupo para gerar interação com as obras e a temática apresentada; g) Conversar informalmente com os participantes sobre livros, leitura e assuntos diversos; h) Elaborar atividades dinâmicas e criativas; i) Utilizar o próprio livro para a leitura, de modo a gerar familiaridade; j) Relacionar a leitura a outras possibilidades: música, teatro, dança etc. l) Ler em voz alta e com boa entonação para que todos compreendam o que está sendo lido; m) Dar autonomia aos leitores para partilharem suas histórias, leituras e narrativas, bem como exporem posicionamentos. A mediação da leitura não se encerra na prática desenvolvida. Ela deve ir ao encontro dos interesses do leitor como passaporte para novas leituras, interpretações e desdobramentos. Tem que gerar inquietação, pois ao compartilhar a leitura, cada indivíduo irá experimentar um sentimento de pertença, de apropriação, possibilitando abrir-se para o outro, introduzindo-o no mundo (PETIT, 2008), de modo autônomo, exercendo o direito da crítica e da liberdade. A ação mediacional é um processo de interação entre o leitor, o texto, o mediador e o outro. Tal ação ocorre (ou deve ocorrer) permeada pela circulação de ideias entre os sujeitos, em meio à troca de experiências e opiniões. IMPORTANTE 12 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTEFUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTEFUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTEFUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTEFUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTEFUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTEFUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTEFUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTEFUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTEFUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTEFUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE 5. RETOMANDO ALGUNS PONTOS E ACRESCENTANDO OUTROS Como destacamos, formar leitores em meio a tantos suportes e possibilidades de leitura atraentes que hoje se apresentam, pode pa- recer um grande desafi o, se observarmos de forma pessimista. Por outro lado, se amplia- mos o conceito de leitura e o signifi cado do ato de ler para incorporarmos a presença da leitura no espaço virtual, explorando bi- bliotecas digitais, museus virtuais e as mais variadas possibilidades textuais, verbais e não verbais, como imagens em movimen- to e sons, por exemplo, percebemos que a complexidade da leitura sempre encontra novos espaços e leitores. Ao entendermos a leitura como algo que perpassa tempos e espaços e que vão além de fronteiras geográfi cas ou cronológicas, vislumbraremos maior aproximação com os leitores das novas gerações, especialmente as crianças e jovens, cuja intimidade com as questões tecnológicas são muito perceptí- veis. Assim, é importante ouvir esses leito- res, o que eles pensam sobre a leitura e o que dela esperam e desejam, fazendo com que a mediação não ocorra de forma desco- nectada da realidade. CURSO FORMAÇÃO DE mediadores de leitura 13 CURSO FORMAÇÃO DE CURSO FORMAÇÃO DE CURSO FORMAÇÃO DE CURSO FORMAÇÃO DE CURSO FORMAÇÃO DE CURSO FORMAÇÃO DE CURSO FORMAÇÃO DE CURSO FORMAÇÃO DE CURSO FORMAÇÃO DE CURSO FORMAÇÃO DE CURSO FORMAÇÃO DE CURSO FORMAÇÃO DE CURSO FORMAÇÃO DE CURSO FORMAÇÃO DE À medida que as possibilidades se expandem, percebemos transformações nos perfi s de leitores, percebendo outras apropriações e concepções de leitura para além do texto escrito, dos espaços tradi- cionais de promoção e formação do leitor. Nessa dinâmica, práticas no âmbito da cul- tura se estabelecem, fazendo emergir novas confi gurações para o ato de ler e para as re- lações dos leitores com a leitura. Por outro lado, enquanto se percebe uma velocidade vertiginosa das possibili- dades de leitura na atualidade, observa-se também que a inclusão democrática dos indivíduos nas práticas sociais de escrita e leitura ainda não é uma realidade a se co- memorar no Brasil. Em linhas gerais, as difi culdades per- cebidas estão relacionadas ainda ao aces- so à informação e à leitura, dentro ou fora dos espaços da educação. São evidentes as fronteiras visíveis e invisíveis de acesso à biblioteca e à leitura, especialmente em zonas rurais ou comunidades com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), onde a maioria dos alfabetizados não com- preende o que lê, como demonstra a pes- quisa Retratos da Leitura no Brasil (2016), citada anteriormente. 14 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE É importante ressaltar o papel das políticas públicas para promoção do acesso ao livro e à leitura, especialmen- te para populações de baixa renda. Essas políticas, a exemplo do Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL), criado em 2006, têm mobilizado pessoas e instituições na promoção da leitura e democratização do acesso ao livro e às bibliotecas nos estados e municípios brasileiros. Nesse ponto, cabe destacar o forte movimento e inserção das bibliotecas comunitárias no Procure saber se no entorno da sua casa, na sua rua, em seu bairro ou em sua cidade, se existe alguma biblioteca pública (ofi cial, escolar) ou comunitária. Conheça os seus responsáveis, seu funcionamento, seu acervo, seus usuários e se há atividades de mediação de leitura para o público. Investigue e se apro- prie dessas informações. Você pode precisar delas em breve. Brasil, nos últimos anos, e suas ações em rede que têm contribuído com a formação de mediadores de leitura para atuarem nas comunidades, bem como fomentando o acesso às bibliotecas. Para concluir, afi rmamos que a media- ção da leitura é ação de acolhimento em primeira instância. Do mediador que aco- lhe, do texto que dialoga e das ideias que abraçam o leitor. Você, cursista e leitor(a), estar junto co- nosco nessa luta, nos dá toda a esperança! DESAFIO CURSO FORMAÇÃO DE mediadores de leitura 15 REFERÊNCIAS CALVINO, Italo. Se um viajante numa noite de inverno. São Paulo: Companhia das letras, 1999. FAILLA, Zoara. Retratos de leitura no Brasil 4. Rio de Janeiro: Sextante, 2016. Disponível em: http://prolivro. org.br/home/images/2016/RetratosDaLeitura2016_ LIVRO_EM_PDF_FINAL_COM_CAPA.pdfFREIRE, Paulo. A Importância do Ato de Ler: em três artigos que se completam. São Paulo: Cortez, 1989. JOUVE, Vincent. A leitura. São Paulo: Unesp, 2002. PETIT, Michele. Os jovens e a leitura: uma nova perspectiva. São Paulo: Editora 34, 2008. SILVA, Ezequiel Theodoro da. Criticidade e leitura. Campinas: Mercado de Letras, 2002. YUNES, Eliana. Pelo avesso: a leitura e o leitor. Curitiba: Editora da UFPR, 1995. RealizaçãoApoio Lidia Eugenia Cavalcante (Autora) É professora do curso de Biblioteconomia e do Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal do Ceará (UFC). Tem pós-doutorado em Ciência da Informação pela Université de Montréal/Canada, é doutora em Educação pela UFC, mestre em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e graduada em Bi- blioteconomia pela UFC. Desenvolve projetos de pesquisa e de extensão sobre mediação da leitura e da informação, especialmente em bibliotecas públicas e comunitárias. Rafael Limaverde (ilustrador) É ilustrador, chargista e cartunista (premiado internacionalmente) e xilogravurista. Formado em Artes Visuais pelo Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia do Ceará (IFCE). Escreve e possui livros ilustrados nas principais editoras do Ceará e em editoras paulistas.
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