Introdução às Relações Internacionais

1 Por que estudar RI? As rela"oes intemac i onais na vida cotidiana 20 Breve descri,,3.o hist6rica do sistema de Estados 29 o sistema estatal global e a economia mundial 40 As RI e 0 mundo contem- poraneo dos Estados em transi,,3.o 44 Conclusao 53 Orientaroo para leitura complementar 57 Resumo Este capitulo apresenta a base hist6rico-social das relas;6es internacionais ou RI. 0 objetivo e enfatizar a realidade pratica das relas;6es internaciona i s e m nossas vidas e associa-Ia ao seu estudo academico . Essa l i gac; : ao e feita, neste capitulo , focando a princ i pal tema hist6rico das RI : as Estados sob e ranos modernos e as relac; : 6es internacionais do sistemaestatal. Tres t6picos centrai s sao discutidos : 0 significado das relas;6es in- ternacionais na vida cotidiana e as principais val ores providos pel o s Estados, a evoluc; : ao hist6rica do s istema estatal e da economia mundial e 0 mundo c ontemporaneo de Es- tados em tran s i s; ao . a f im de a b r anger to do 0 territorio global . 0 mundo de E s t a dos e basi c amenr e um mundo territorial: e uma forma de organizar politicam e nre a s r e gi 6 es po - voadas do mundo, um tipo diferenciado de estruturayao poH t ica territoria l c o m bas e em inumeros go ve mos distintos , que sac legalmenre indep e nd e nr es un s dos outros. Nesse s entido , 0 unico grande territo r io que na o e con si d er ado u rn Es tado e a A ntartida, administr a da por uma asso c i a yao de Es tados. H o j e , Rl e 0 es tudo do s istema g lobal de Estados a parti r de v ar i as per s p e cti v as ac a d e mic a s, se ndo que a s ma i s important es s erao discutid a s n o deco rrer d e ste l i v ro. Rl e a a br ev iatur a p a r a 0 campo acad er nico das re la y 6es int e macionai s e estud a -lo e import a nte, princ i palment e , porque a popul aya o mundial esta dividida em co- m unid a d e s poHt icas tertito r ia i s distinra s , Estado s independentes q u e influenci a m p ro fund a m e nt e 0 modo d e v ida de tod as as pes s o a s. Em conjunto , estes Estado s f o rma m um sist ema inrema c i o nal d e ex tensao global. Atualmente , ha quase 200 Es tados ind e p e nd e nt e s. A ma ioria das pessoas , com pouc a s e x cey6es , nao apen a s v i v e c o m o t a mb e m e cidad a d e pel o m e nos um d e sses p ai s e s e , mu i to rarament e , d e mai s d e urn del es . P ratic a m e nte, t odo s nos estamos ligados a urn Estado p a rti- c u l ar e, p or mei o d e st e, nos co nectamo s ao si s t e m a estatal que af e t a nossas vi da s d e man e ir a s import a nte s, m as que t a lv ez nem t e nhamos conscienci a . O s Es tados sao in dep e nd e ntes u ns dos outro s , pelo m e nos le ga lmente : e l es t e rn s o b e r a nia. N o e ntan t o , i s s o nao si gnifica qu e estej am i s olados. Pelo cont ra - r i o , s e un e m e se in f luenci a m e, port a nt o , dev e m e ncontr ar meios d e c oe x isti r e de lidar u n s com os outro s . A demai s , e stao g e r a lment e in corporados aos m e r - ca do s i n te m aci ona is , qu e g e ram e f e it o s s ob re as poHtica s dos go ve mos e s ob r e a r iqu e z a e 0 b e m- es t a r d e se u s cidad aos . Sendo a ssim, 0 r e laci o na m ento entre E st ad o s e n ece ss a r io - o u se ja , 0 i s o l a ment o tot a l nao e uma op ya o . Qu an d o urn p a i s e is ol a d o e ex clu ido do s is te m a est a t a l , seja d ev ido as ac ; :6e s do se u pr o pri o go ve m o o u d e p o d ere s e x t er no s , 0 r es ultado ge ra lmente e 0 s ofrim e n - t o d a p o pulayao l o c a l - os exe mpl os mais rece ntes sa o B urma , L ibia, C ore i a d o N or t e , I r aqu e e I ra. 0 si s tema esta tal e u rn s istem a d e r e la y 6 es sociais , o u s eja , r e l ac i on am e nto s ent re g rupos d e s eres hum a nos. As sim como na maio ria d os out ro s s ist e m a s s ociai s, as r elay 6 e s intern a cionai s a pr e sentam va ntag ens e d e s v a n tag e n s p ara os p ar ti c ipant es . Em outr as pala vr as, i : U fo c a a natur eza e a s c on se qi.i e nci as d e s s as int e r a ;: 6es. o s i s tem a e sta t a l e urn m o do distint o de orga nizar a v i d a poHtic a mundi a l, c uja or i ge m hi sto ri ca e b e m a ntiga . J a houv e s i s t e mas es t a tais ou s emi-estat a i s e m di fer e nt es e p ocas e loc a is : por exe mplo , n a antiga I ndi a , Gr e c ia e na It a li a r e nasc e nti s ta (W a t son 19 9 2) . C ontudo , 0 tem a d a s R l s u rg iu no ini c io da E r a Mo d e m a ( s e cul os XV I e X V I I) na Eu ro p a, qu a ndo os E s t a dos sob era nos fund a- mentad o s e m t e r r it or io s con t ig uo s f o r a m orig i n a riament e es tab e l e cido s . D es d e a s ecul o XV III , as re l a es e n tre tai s Es tado s ind e pend e nr e s sac c ha mad as d e " r e la ;:6es int e m ac i o n a i s " . N o s s e cul o s XI X e XX , a sist em a es tatal foi a mpli a d o Soberania est a tal qualidade do Estado de s er politicamente independente de tad as os outro s E s tad os Sistema estatal re l a ~6es entre a grupamentos humanos or g anizados politicam e nt e , que o c upam t e r - ritorios distintos, nao est a o subordinados a nenhum poder o u a u t orid a d e s uperi o r e desfrutam e exercem um cerro g r au de independ e n c ia com rela y ao a os o utro s Cinco regras basicas de um sistema estatal se guran ; :a, liberdade , ordem, just i : ae bem - e s tar Principais abordagens tradiciona i s de R I r ea lismo , lib e ralism o , so c ied a d e interna c ion a l e EPI o dilema de seguran~a o s Estados sa c tanto uma fonte de seguran ; :a quanto uma am e a ;: a a s e g uran ; :a d os seres humano s Autoridade medieval um arranj o de auto r idade polfti c a disper sa Auto r idade do Estado moderno um a rranjo de auto ri dade polftica centr a li z ada Hegemoni a poder e co ntrole e x er c ido s par um Estado proeminen te s obr e os out ro s E sta d o s Balans:a de pode r uma dou t rina e um arranjo p e l o q ual 0 p o d e r de um Es tado (O LI g rup o de Est ad o s ) e c ontrolad o pel a poder comp e n s at6ri o d e outro s E s tado s Para e nrender 0 significado das R I e ne c essario compreender a vida dentro de urn E s tado. 0 que isso implica? Qual sua importincia? Como devemos pen- s ar sobr e isso? Estas quest6es - principalm e nte a ultima - sao a preocupas : ao ce ntral deste livro. Os capitulos seguintes t entam responder de varias formas a es ta pergunta fundamental. Este capitulo aborda 0 principal tema hist6rico d as RI : a ev olus : ao do sistema e statal e 0 mundo contemporaneo de Estados e m tran s i s : ao. E importanre , antes de comes:ar a responder a estas quest6es , avaliar noss a vida di a r ia como cidad a os de Estados particulares e nossas expectativas quanto a i s so . Ha, no minim o, cinco valores sociais basicos que os Estados suposta- mente de ve m defende r: segurans:a, liberdade, ordem, justis:a e bem-estar . Por serem tao fund a mentais ao bem-estar humano, tais valores sociais pr e cisam s e r prot e gidos e garantidos. E c laro que outras organizas : 6es sociais, alem do Estado, podem a ssumir tal r es ponsabilidade: como a familia , 0 cla ou a s orga- ni z as:6e s e tnicas ou r e ligios a s . Na Era Modema , contudo , 0 Estado tern sido e mge r al a principal in s tituis : ao a cumprir esta fun s :ao e espera-se que 0 pr6pri o gara nta estes valores basico s . Por e x emplo , as pe s soas costumam achar que o E s tado d e ve financiar a segurans : a , responsavel p e la protes:ao dos cid a daos co m r e l as :ao a a m e a ;: a s int e rn a s e ex tern as . Est a e um a preocupa ; :ao ou ur n int e ress e fundamental dos paises. No entanto, a p r 6pria existencia de Estado s ind e pend e nte s afeta 0 va lo r d a s egurans:a : vivemos e m urn mundo de muito s p a i se s , quase todos minimamente armados . De s sa form a , os Estados tanto d e fendem c om o a meas : am a segurans : a das pessoas - este p a radoxo do sistema es t a tal e g er a lm e nte conhecido como 0 "dil e ma de se gurans :a " . Portanto , a s sim como qu a lquer outra o rganizas : ao humana , os Est a dos apresentam problemas e so lu es. Ape sa r de a maio ria d o s pais e s ter urn comportamento amistoso, nao am e a- s : a d o r e p ac ifico, algun s dele s podem ser hostis e a gres s ivos . Nesse contexta , com a a u se ncia d e urn g ovemo mundial pa r a c oagi-Ios , constitui - s e urn de s afi o b a sico e a ntigo para 0 s istem a estatal : a segurans : a nacional. Con se qiien t emen- te , p ara l i d a r com esta qu e stao , a maio r ia dos Est a dos po s sui Fors : as Arm a das . P o r iss o , 0 pod e r militar e considerado uma condis : ao ess enc i al para que o s Esta d os p o s s am co e x is t i r e se re laci o nar un s c o m os outro s se m se r e m in- t i midado s ou s ubjug a dos . Urn fata i mportante , 0 qual n a o d eve mo s nunca es q ue c e r , e qu e pai s e s d e s arm a dos sa o ur n fata raro na hist6ri a do s i s tem a es t a tal. Co m 0 o bj e ti vo de aumentar a s eguran s: a na ci on a l, muita s Est a do s tambem optam por formar alian~as . Alem disso, p a ra gar a ntir qu e nenhum a grande potencia consiga alc a ns : ar uma posis:ao h e gem 6 nica d e domin a s : ao tot a l , com base n a i ntimidas :a o , na coer o uso a bsolu to da f ors : a, e nec e ssario construir e mant er uma balans: a de p o der militar . A s egur a ns : a e c e rtamente urn dos valores m a is fundamentais das rel a s:6e s int e rnaci o nais. Ess a abordagem para 0 es rudo da politica mundial e t i pic a das teori as r e al is ta s da s Rl (Morgenrhau 1960), que partem do pr es sup os to d e que as re las: 6es do s p a i ses pod e m ser melhor caracteri z adas como urn mund o no qu a l o s E s t a do s que possu e m armas sao r iv ais competidores e, de tempo s e m tempos, iniciam gu e rras interestatais . . o segundo v alor ba s i c o, cuja garantia e re s ponsabilidad e dos Est a do s , e a h - be r dade , t a nto a pessoal quanta a nacional- a independenc i a . Um a da s r a z 6e s fundamentais par a a constiruis : ao dos Estados e para a sust e nta s : ao dos e ncar - go s instiru i dos por governos a s eus cidadaos , tais como imposto s e 0 se r v is:o militar obrigat6rio , e a condis :a o de liberdad e nacional ou de independ e nci a qu e os Estados p r ocuram sempr e afirmar. Nao podemos se r livre s a nao ser qu e no sso pais tambem sej a : isso e s teve muito c l a ro par a as milhar es d e cid a dao s tch e cos, poloneses , dinamarqueses, noruegu es es, b e lgas e hol a ndese s, ass im c o m o par a o s h a b i tant es de o utros p a i s es in v adid os e ocup a do s pe la A l e m a - nh a nazi s t a dur an t e a S e gund a G uerr a Mundial. N o e ntant o, m es mo qu a nd o urn pais e l i vre, sua populas : ao pode nao ser , mas pelo m e nDs 0 p r o bl e ma d a liberdade esra n a s pr6prias m a os dos cidadao s. A g uer r a amea s : a e , al g uma s v ezes, d e str6i a liberdade . A pa z , pelo contrario , promo v e a liberd a d e, ta r n a nd o p oss i v el a mudan s : a internacional progressiva e a cria s:a o d e urn mundo m e lhor. A pa z e a mudan s :a progr e ssiva e stao certam e nte entre o s va lor es mai s fund a - m e ntais d a s relas : 6es int e macionais . E ssa ab o rdag e m sobr e a pol i tic a mu n di a l e tipica d a s teoria s liberais da s RI (Claude 1971) . Op e ra a partir d a s up os is: ao de que as r e las:6 e s intern a ci o na is pod e m s e r melh o r car a ct e riz a d as c o mo ur n mundo , no qual os Estados cooperam entr e s i , com 0 obj e t iv o d e mant er · a p az e a liberdade, al e m de buscar a mud a ns : a pro gr essi v a . o terceiro e 0 quart o valore s ba s i co s s ob res pon sa bilid a d e do s E s tad os sao a or dem e a just i s :a . P ara que o s paise s po s sam coe xi srir e int e r ag ir co m ba se na es tabilidad e, na c e rte za e n a pr e vi s ibil i d a d e , e f undam enta l q ue ten h am 0 in t e resse comum no e st a b e lecimento e na manut e n s:a o d a o rd e m i nt e rn ac i o nal . Par a i s so, e obrigat6rio defend e r 0 dir ei to int e rnacion a l : man te r c o mpr om i ssos com tra t ados e c umpri r as r eg r as, c o n v ens : 6 e s e h a b i t os da ord e m l ega l in t er - n ac i o n a l . A l e m di sso, es p e r a -s e que a c e it e m pr a tic as diplom i tic as e ap6 ie m a s orga n iza c ;: 6es i n te rn a ci o n a i s . 0 dir e it o int e rnaci o n a l , as r e lac ; :6e s dipl o m i tic a s e as orga n iza c ; :6es i nt e rn a c i onais s6 pod e m exi st i r e o p e r a r d e m o do bem-suc e di- do c aso es t as ex p ecta t i va s s ej a m e m geral cumprida s pe l a maio ria do s E s tado s dur a nt e a m a i o r pa rt e d o te mp o. Outra dever d o s paise s e defende r os di r eitos hum a n os . H o j e, j i ex i s t e um a es trur u ra legal inte r nacional de dir e ito s humano s - di reit os civi s, po liti cos , socia i s e ec onomico s - d e sen v ol v ido s de s d e 0 te r mino d a S eg und a G u e r ra Mundi a l . Ce rtam e nt e, a ord e m e a justic;:a e s tao entr e o s va l o r es m a i s fund a m en t a i s d as re la ~6es int e rn a cion a i s . E s ta abordag e m c o m r e l a~ao ao es rudo da p o liti ca mundial e tipica das t e oria s d a Sociedad e Int e r - n ac ional d as RI (Bull 1 9 95) . D e aco rd o com es ta l i nha d e racio c inio , as r ela ~ 6 es int e rnaci o nais pod e m se r m e lhor ca r act e ri za d a s com o urn mundo no q u a l os Es tad os sac ator e s s oc i alm e nt e res p o ns ive i s e c omp a rtilh a m 0 int e r es s e d e pr es er va r a o rdem in te rn a ci o nal e pr o mover a ju s tic ;: a interna c i o n a l . o u ltim o v alor b is i c o qu e se es pera qu e os E st ad os d e f e nd a m e a riqu eza e o b e m - es t ar s ocio e con o mi co da popul a ~ ao. Os c id a d a o s ac r e dit a m qu e 0 se u go vern o d e v a ad o tar politi cas ap r opri a da s a f im d e in ce nti var urn a lt o in dic e d e e mpr ego, b a i x a infla ~ao, inv e stim e nt o co n s t a nt e, f lu x o ininterrupto d e co m e r - c i o e ass im p o r d i ant e . Um a vez qu e a s eco nomi as n ac i o n ais ra r a m e nte est ao i so lad as um a s das out r as , a maio r i a d as p e sso as tamb e m es pera qu e seu pais a tue no ambiente economi c o int e rn a cional de form a a e l e var ou n o minimo d e fender e m a nt e r 0 p a driio de v ida n ac ional . Hoj e , os Es tados in v e s t e m no planejamento e na implementac ; :ao de politicas e con o mica s c apa z es de mant e r a es t a bilid a de da e conomia internacional , que e e ss enc ial par a t o d os. E m ge r a l , esse pr ocess o e nv o lve p olitica s eco n ot ; n i ca s qu e p ossa m lida r, d e mod o a d e qu a do, com os merc a dos intern a ciona i s, com a politi c a eco nomica de out r o s E stados, co m 0 i n ves tim e nto ex t e rno , com as t ax a s d e ca mbi o , c o m 0 c o m e r c io int e rn ac ion a l, com a co munica ~ao e c o m o tra ns p o rt e int e rn ac ion a l e outras rela ~6e s e conomica s i nt er naci o nai s que afe ta m a rique za e 0 b e m - es tar n a ci o nais . A i nt e rdep e nd e ncia ec on o mic a - 0 a lt o gra u d e dep e nde n cia economica mutu a entr e o s pais es - e uma caract e ris- , ti c a im p r ess ionante d o sist e ma es tatal contemp o ran e o . P o r um lad o, alguma s p es so as con s id e r a m t a l s itua ~ ao positiva , uma vez qu e a ex pan sa o do merc a do g l o b a l po de g e r a r urn a ument o da lib e rd a de e da rique za, po r m e i o de mai s dis tribui~a o, esp e cial iz a~ao , efici e ncia e pr o dut i v i dade . Ja outros t eor icos en- t e nd em a interd e pend e nc i a e c o n o mica c o mo a l go n e gati vo, porque prom o v e a desi g ualdade a o permitir que pais es rico s e poder os os , ou co m va nta ge n s f inanc e iras e/ ou tecno16gic as, dominem pais es pobr es e fr a co s qu e n ao d e t em t a is vanta ge ns . Mas , independentemente de s sa disc u s sao , a riqu ez a e 0 b e m- es t a r e s tao e ntre o s v alore s mais fundament a is da s r e la~6 es int e rn ac i o n a i s. E s sa abordag e m da politica mundial e tipica das t e orias d e EPI (economi a p o liti ca internacional) ( Gilpin 1987) . Par a o s def e nsores dessa corrente d e p e n sa m e nt o , a s rela~6es internacionais podem s er melhor caracteri z ada s como urn mun do fundam e ntal mente socioeconomico e nao simple s m e nte po l itico e milita r . A maio r ia da s pe ss oa s p a rt e do p ress upo s to de qu e os v al ores b isicos (seg u- ran ;: a , lib er dade, ordem, justi e bem -e star) s ac naturais e s6 se con s ci e nti z am que a l go esta e rrado - por e x emplo, durante uma guerra ou uma depr essao - quando o s E s tado s individuai s p e rd e m 0 controle d a s iru a c ;:a o. Nessas o ca - s ioe s , a s pes s oas de s pertam p a ra circunst a ncia s mais compl exas d e s u as v id as qu e, no dia-a-dia , n a o s ao per c eb i da s ou fic a m em segundo plano - o u seja , t e nd e m a se consci e ntizar dos as pectos considerado s natura is e da imp or t i nc ia d es t es va lor e s em sua s v idas d i i ria s. Por e x emplo , a t entamo s a seg ur a n ~a n a- cional qu a ndo um p o der e xt e rn o se arm a para a gue rra ou a ge d e m odo h ost i l c ontra 0 nosso pai s ou urn d e nossos aliado s. Em r e l a ~ao a ind e p e nd e n c i a naci o nal , e a n oss a lib er d a de co m o c i dadao s , no s co n s ci e nti za m os q u a n do a ·Seguranc ; a po l itica de poder, c o n fl i to e g u e rra • Liberdade coopera~ao, paz e p r ogresso • Ordem e justic;a int e ress e s compartilhado s, re g ras e inst i tu i~ 6e s • Bem-estar riqueza , pobr ez a, i g ua l dade p az nao e ma i s ga rantid a . J a no que se refer e a j us t i ~ a e a ordem inte r n a ci o n a l, n os t o r na m os cientes qu a nd o a l g uns Estad o s , princip a lmente a s gr a nde s p o - der e s , ab u sa m , e xploram , co nd e nam ou desresp e it a m 0 direito intern a ci o nal o u os di r eitos humano s. Par fim, nos consc ie nti z amo s do bem- e st a r nacio- nal e d o n o sso pr6prio b e m- e s ta r socioeconom i c o quando paises es tr a ng e iros ou in ves t i dore s internacion a i s, c om base em s ua influencia econ o mic a, preju - di ca m n o sso padrao de v id a . Du ra nt e 0 secul o XX , houv e momentos si g nifi c ativos de e x p a ns ao d a con sc i en ci a c o m rela~ a o aos principais valor es so ciais. A Prim e i ra G u e rra Mundi a l de i x ou terri ve lm e nt e c laro para a m a i o ri a d as pessoa s a c a p a c i d a - d e d o c onflito a rm ado m e cani z ado moderno , e ntre o s grand e s pod e re s , d e d es t r u ir as v id as e as c o ndi ~oes de sobrev i v e nci a d e modo devastado r e co m o e imp o rt a nt e redu z ir 0 risc o de uma guerra co m o es ta . A partir des t e reco - nhecim e nto , e mergir a m os p ri m ei ros pas s o s signifi ca ti v os no p e n sa m e nt o d as R l co m fo co nas in st itui ~o e s l e gais ef e ti vas - p o r e xemplo a L iga da s Na ~oes - a fim de imp e di r a gu e rra entre gr a n d e s pot e ncia s. J a a Gra nde D e p ressao d e monstrou pa r a a popula~ao mundi a l c omo os mei os e c o n o m i - cos d e v i da p o deriam ser a f e t a dos de modo a dv erso, a t e mesmo des t r u i d os , por m e io d e condi~oe s es p ed fic as de mercado n a o s6 int e rnas , m as t a mb e m int e m a cionai s. A Segund a G u e r r a Mundial n ao a p e nas enfatizou a reali - dad e d os p er igos da gu erra e nt re grandes pod e r es , como revelou tam be m a imp o rt anc i a de se imp e di r qu a lqu er potenc ia d e e s c apa r do cont ro l e, a ss im como a imprudenc ia d e seg uir um a politica d e a pa z iguamento - a dot a da p e l a Gra - Bre tanha e p e l a Fra n ~ a e m rela~ao a A l e m a nh a nazi s ta , u r n p o u c o a n tes d a g u erra, e qu e p rovoc ou c onsequenci as de s a strosas para todo s, in- c lu s i ve ao povo alem a o . A p 6s a S e gunda Gu e rr a M undial, verificamo s t a mb e m outros mom en to s d e ex p ansa o d a consci e nci a n o que diz respeit o a imp o rdl.ncia fund a m e nt a l d e ss es v a lor e s . A crise dos m iss eis c ubanos de 1 9 6 2 , por exemplo , es c lar ec eu os p er i gos d a g uerra nu c l ear p a ra muitas pe s s oa s. O s movimento s a ntic o - loni a is na Asi a e na Afric a do s a nos 1950 e 60 e o s movimento s di ssi d e nt es n as a n tigas Un i ao So v i e tica e Iug o sla v ia n o final d a G uerra Fria d e m o nstr a - r a m c1 arame nt e quant o a aut o d e t e rm i na~a o e a ind e p e ndenci a politi c a a inda e ra m r e l e v a nt es . Ja a infla~ ao g lobal da dec a d a de 19 7 0 e do i n icio do s a nos 1 98 0 , c a usada p o r urn a u men to s ubito e dr ama t ico n os pre~o s d o p et r 6 l e o p e l o ca rt e l d a Opep , form a d o p o r pa i ses ex portad ores d e petr6leo, r e l e mbrou ' 1 p -' I quant o as int er co n exoes da e c o nomia global pod e m a m e a~ar a b em-e s tar nacion a l e p e s s oal em qu a lqu e r lug ar do mu n d o. N o cas o do c h o qu e d o petr6le o d e 1 97 0, ficou nitid o p a r a inumero s m o tori s t as norte- a m er i ca n o s , europ e u s e japon e ses - entr e o utro s - que a s p o lit i c as e c o n o mica s do Or i e n - te M e dio e d e outros import a n tes p a ises produt or e s d e p e tr6leo t e rn 0 po d er de aum e nta r 0 pre~o da gasoli na ou do petr6le o , re du z indo s eus p adroes d e vida. A Guerra do Golfo (1990-1) e os conflitos n os B a l ds , em p a rticul ar n a B6sni a ( 19 92-5) e no Kos ov o (1 9 99) , foram um a l e mb ra n~a da imp ortincia da ordem intern a c i onal e do r es peito pelos dir ei to s humanos. Em 2 001 , o s ataques a No v a Y ork e W as hington despertar a m a a t e n~ao da p o pul a~ao nort e -am e ri ca na e de outro s pai se s com rela~ a o a o s p erig os do te rrorismo internaci o n a l. Dur a nt e muito tempo , ac r editou -se que a vida d e ntr o d e E s tado s a d e qu ada- ment e o r g a ni za do s e bem a dmini s tr a dos e m e lhor do qu e a v ida f o r a d e l es o u na s u a ause nci a . 0 povo jud e u , p o r ex emplo, s e dedic o u mais d e m eio s e c ul o a busca d o es t a belecimento d e urn Es tado pr6pri o, onde es ti v ess e m s e g ur os: Israe l . E sse r ac iodnio prev a le ce r a en qu a nto os E stado s e o s i s tema es t ata l con - seguir e m con s er va r esses v a lor es ce ntrai s . Ess e, e m ge r a l , te rn sido 0 caso dos pai ses de se n v ol v ido s, e s pec ia lm e nt e os da Europ a o c id e nt a l , da Am e ri ca do Nort e , do l a p a o, da Australia, d a Nova Zelandia e d e a l g un s ourro s. C o m b a s e nesse cenari o, s urgem as teo r i as c onvencionais da s RI , que conside ra m 0 s i s- tema e s tat a luma v aliosa institui~ ao da vida mod e ma . N es te liv ro , as teor i a s tradicionai s d a s RI apresentada s t e nd e m a adotar esse pont o de v i s ta p os i t i vo . Reconhe ce m 0 si gnificado do s va l ores basicos, a p esa r d e di s cord a r em com r e - la~ao a h ie rarquia deles - os r e alist a s , por e x e m pl o, e nfati z am a imp or t anc i a da seguran~a e d a ordem ; os liberai s , d a liberd a de e da justi« ;: a ; e o s ac a d em i co s de EPI , a ig ualdade economic a e 0 b e m - estar. Ma s se os E s t a dos nao fo re m b e m-sucedid os nesse as p e cto, 0 s i s t ema e s- tatal pode s er facilmente ent e ndido na 6tica opo s t a : e nfraquecend o e m vez de su s t e nt ar o s valores e a s cond i « ; : o e s sociais basic as. Es t e e 0 cas o d e a l g u n s Estados qu e e mergiram do col a p so da Uniao Sov ie tic a e d a Iugoslav ia n o f im da Guer r a Fria . M uitos del e s falh a m mais ou m e n os a o tentar pr o p orc i ona r ou prot eger urn p a drao min i m o d o s cinco valor es b is i co s di s curid os ante r io r - ment e e um a quantidade men or de E s tados nao c o ns eg u e a ssegura r n e nhum dele s . A situ a « ; :a ode vida degradada d e inumeros h ome n s, mulhere s e cria n« ;:as nes s es p a is es c oloca em questa o a c r e dibilidad e e , as vezes, a te m es m o a l egi - timid a d e do s i s t e m a e statal . Esse con t exto estimula 0 argumento d e que 0 s i s t e ma intern a cional pro move ou, no minimo , tolera 0 sofrimento humano , e, se nd o a s si m , deve - se muda-lo para que as pessoas em todo 0 mundo - nao a p e nas no s p a ises desenvolvidos - possam levar a frente os seus a faz ere s d a vi d a . Es sa e a ba s e de teo r ias de RI mais criticas, que consideram 0 Estado e o s istem a es t a t a l um a institui benefica e mais problematica . N es te livro , dis c utir e mo s as teorias alternativas de RI, que tendem a ado tar ess a v isa o c r i ti ca . Par a r es umir : o s Es tado s e 0 sistema estatal sac organiza ; :6 es sociai s ba- s ead as e m t e rrit 6 rio s , cuja principal responsabilidade e e s tabel e c e r , m a nt e r e d e f e nd e r va lore s e c o ndi oes sociais basicas , como a s e gur a n ; :a , a lib e rdade, a or d e m , a ju s ti ;:a e 0 b e m- e star . E s sas sac as principai s r az6es de su a e xi st e ncia . Muir os Es t a do s e c e r ta mente rodos os paises desenvolvid o s d e f e nd e m e ssa s c ondi ; : 6es e va lores, pelo menos, nos padroes minimos e, muit as v eze s, e m u m ni ve l s uperior. Na v erdade, 0 dever foi cumprido nos ultim o s se culo s d e m o d o t ao bem - sucedido que os padroes aumentaram e , hoje , sac m a i s a ltos d o qu e n un c a. E s s e s paise s estab e leceram 0 padrao intern ac ional par a rod o 0 mundo . N o e ntanto , muito s Estados e a maio ria dos pai s es s ubd ese n vo lvid os ainda n a o c ons e guiram cumprir os padr6es minimos e , c o n se qiientem e nt e, s ua pr ese n ;: a no si s tema e statal contemporaneo le v anta s e r i as que s t 6es n a o s om e nt e s obr e e ste s p a ises , mas tambem sobre 0 sist e ma e statal do qual s ac p a rt e im p ort a nte. T a l s irua ;: ao provocou um debat e em RI ent r e o s te 6r ico s tr a dicion ais, que a c ei t a m 0 s istema estatal existent e, e te6rico s r a di c ais , que o r e j e it a m . • E s t a dos s ao institu i : 6es valiosas : pr o por c ion a m s eguran ; :a , liberdade, ord e m , ju st i ; :a e bem - estar • A s p es so as s e beneficiam do s i stema e sta t a l • Estados e 0 sistema estatal criam mais problemas do que reso l vem • A maior parte da popula ; : a o mun - dial sofre mais que se beneficia do sistema de Estados I Vma vez que os Estado s e 0 sistema estatal sac caracteristicas tao basicas da vi da politica moderna, a ssumimos c om facilidade que sac aspectos perman e nt e s: sempre estiveram p r esente s e se mpr e est a rao. N o entanro, esta premi ssa e falsa . E importante e nf a ti z ar que 0 s istema estatal e uma institui : ao hist6rica , ou seja, nao foi det e rminado por D e us nem p e l a natureza, mas configurad o por alguma s pessoa s e m uma d e terminada epoca : e uma organiza o s o c i a l . Sendo a ss iin , como todas a s organi z a ; :o e s soci a i s, 0 s istema estatal a pr ese nt a vantagens e d esv antagens que mudam com 0 pas s ar do tempo . Apesar d e a existencia humana na o d e p e nd e r d o s i s tem a d e E s tados , s ua estrutu r a of e r ec e uma serie de b e neffcio s qu e ge ram alto s p a dr6 e s de vida. Nem se mpre a popul a ; :ao mundial viveu em E s tados soberanos. Ao lon go da maior part e d a hisr6ri a humana, a s p e ssoas org a ni z aram suas vidas politi cas de formas dif e r e nt e s, se ndo qu e 0 m a is comum f o i 0 imperio pol i tico , c o m o 0 romano . Nesse s entido, no futuro, tal v ez 0 mundo nao esteja estruturad o d e acordo com urn si s t e ma es tatal - e possi v el qu e as pessoa s desistam do E s t ado s oberano, abandonando- o da me s ma maneira que fi z eram com muita s o utr as formas de organiza ;:a o da v ida politica , como a s cidades-Estado , 0 feudali s mo e o colonialismo , entre outro s. Portanto , nao e a bsurdo s upor que os E s tado s e 0 sistema estatal pos s am s e r , finalmente, substitu i dos por urn meio melhor e mai s avan d e organi za ; : a o da politi ca global . Algun s acad e micos de RI , que serao discutidos nos pr6ximo s ca p i tul os , a c r e dit a m que uma certa transform a ; :ao internacional, associad a a interd e pendencia entr e os Estados (a globali za ;:ao ) , ja esta em andamento. Ma s , d es d e urn longo tempo , 0 sistema estatal tern s id o uma institui ra l da politica mundial e a inda permanece assim . E cer- to que a politic a mundi a l es t a e m con s tante mudanc; : a e que, no pa s sad o, o s Estados e 0 sistema e st a tal s empr e con s eguiram se adaptar as transform a c ;:6es hist6ricas significativas . M a s ningu e m e capa z de afirmar que 0 cenario no fu- turo continu a r a 0 mesmo d e hoje . As quest6es sobre 0 presente e as po ssive i s mudan no ambito internacion al s erao discurid as no final do capitulo . Antes do s e culo XVI , quando o s Est a do s come ;: aram a ser instiruido s na Europa oc i dental, e le s n a o e ram reconhecid a men t e soberanos. Mas , durant e os ultimos tres ou quat r o s eculos, os Estados e 0 s i s t e ma estatal estruturar a m as vidas politicas d e urn num e ro cada ve z maior de pessoas em todo 0 m un do , torna n do - se ass im uni ver salm e n t e populares . Atu a lment e, e po ss i ve l a f irma r qu e 0 sis t e m a e g lobal e m ex t e nsao . A era do Estado s ob e r ano co inc i d e co m a e p oca m o d erna , n a qual ve r if icamos a expansao d o poder , d a pr os p er id a d e , do co nh e ci men to , d a cie ncia , da tecnologia, da a lfabetiza ;a o , d a ur b a ni za ;ao, d a ci d a d ania, da lib er d a de , d a igualdade, dos direitos ete . Se le m b r a r mos d a imp o r tanc i a d os Es tados e do s i stema estatal na confi g u ra ;ao d os ci n c o valo res h u m an os f un dame ntais dis c utidos anteriormente , per ce berem os qu e e mui to provave l q u e isso nao s ej a uma co incidencia . F ica ap e na s d i f ici l d e t erm in ar se e l es f ora m 0 e f e it o o u a cau sa da v ida moderna e se terao um a po si c ; : ao n a e r a p os - mod erna. E s t as qu e sto es de v em ser an a lisad a s mai s adi ante . No e nt a n to, sa b e mo s que 0 s ist e ma estatal e a m o d e rnidade e st a o his to ri ca- m e nt e l iga d os . De f a t o , coex isr e m : 0 sisrema d e junc; :a o de Esta do s t err i to ri a i s come ; o u a ser es t a b e l e cid o, na Eu ro pa, no inicio d a E ra M o d er n a . E, des d e e n - r ao, 0 s i stema estata l t er n s i do uma caracreristica cenr ra l , se n a o d e t er min a nr e d a m oderni dad e. E mb o ra 0 E srado soberano renha s u rg ido na Eu ro p a, r a mb e m f oi a d ora d o na A m er ic a d o N or te , no final do secul o X V I I I, e n a Amer ic a d o S uI , n o co m e c ;:o d o sec ulo X I X, em s eguida difundiu- s e p e l o m und o e m par al e l o a . propria modernidade . E, a os p o uco s, a estrutura d o E s t a d o so b era n o i nfl u en- ciou rodo 0 m u n d o. A A fri ca s ub s aariana, por e xe mplo , p er m anece u i so l a d a do s i s t e m a es t a t a l oc idental em e xpansao ate 0 fin a l do se cul o X I X, e so c on s titu i u urn sis r e m a esra r a l reg i o n al indep e ndente apos a m e t a d e do sec ul o XX. Nesse contexro, u m a q u es r ao i mpor ra n t e e se 0 termino d a m oder nid a d e d ete rm inara tam b em 0 termi n o do s i s t e m a e s r a tal, mas discutiremo s is so m a i s a di a nt e. Certa m e n te, h a ev id e n c i as de sisremas politicos s im i l ares aos Es t ados so - b eranos bem antes d a E ra Mod e ma, que muito prov a velm e n te ma ntinh a m re l a ; oes e n tre si. A or i ge m hi s r or ica das relac;:oes int e rn a c io n ais, n esse se n t i do mais gera l, e muito anti ga, e, p o r isso , e apenas poss i vel se e s pe cul ar acerca do rema . Mas , c on ce ir ua lm e nr e, 0 inic io das inre r ac ;: 6es enr re as orga n izac; : 6es p o - l i ti cas co i nci d e co m ur n p er iodo no qual as pes s o as co m e c;: aram a se es t a b e l ecer nas te r ras , for m a ndo co munidade s politica s di s tintas d e b ase territor i al . Os p r imeiros e x em pl os te rn mais d e 5 mil ano s . Nessa epoca, ca d a gr upo p ol it i co enfrenta v a 0 p r oblem a inevi t ave l d e coe - x istir com grupos viz inh os, q ue, e m fun a pr ox imidad e, n ao po d er i am ser ignorados n em evitados . Ca d a agrupamento politi c o t am b e m p recisa v a lid ar c o m g r upos q u e, e mb ora afast a dos, er a m capa ze s d e a fe ra -I o s . T a l p roxim id a - de geografica deve rer si d o co n si de r ada uma z on a de pro x im ida d e p ol iri ca, se nao uma fr o ntei r a o u a l g um t i p o d e l i mire . P ro vave lmenr e , 0 c o nt ato en r re es ses g rup os e n v ol ve u cerras r i va l i dad es, d i sputa s, a m e ac ;: a s, intim i d a c ;:oes , in - terven ;oes, i nv a s oes, c o nqu isras, a l e m d e o ut ras int era c ; :6es hostis o u be l icas . Mas, ce r tam e n te , em a l g un s m o m en t os, ra lvez e m s ua maio ria, pr e val ece u 0 respeito mutuo , a co o p e rac; :ao, 0 co m e rci o, a conc i l i a ;a o, 0 dialogo e as re l a c ;:oes pa c ificas e a m ig av e is . Vm a f o rm a mu i to r e l eva n te d e dialogo entre c o munid a- des pol i tica s a u to n o ma s - a d ip l om a ci a - ra mb e m rem origen s ant igas: ha acordos fo r m a is re g i s r ra d os e nt re gr upo s p o lir ic o s em 1 3 90 a .c . e ev id e n cia s de ati v id a de se m i diplom a ri ca j a em 653 a. c . (Ba r b e r 19 7 9 : 8 - 9). N es se s e nt i do , ver ific a mo s a qui 0 p ro t o rip o d o problema c la ss i c o d e R I : a guer r a e a p az, 0 co n flito e a coo p era c ;:a o . A l e m dos diferentes a s p e ct os das r e lac; : oes int er nacion ais e n f at iza d os p e l o rea lism o e p e l o liberalismo . o relacio na m e nr o e n tre g ru pos p oli ti c os in d e p e ndent e s constirui 0 pro - blema e s sencial d as re l a c ;:oes in ter n ac i o n a i s , fo rm a d a s com base na di s ti n c ;:ao fundam e nt a l e n tre as p rop ri as id entidades ind iv i duais e ados outro s e m urn mundo t e rrit ori al co m posto p or mui tas id e ntidad es c ol e ti v a s em c o nt a t o cons- rante . Com i ss o , c h ega m os a u ma defi nic ;:ao pr e lim i n ar d e "s ist e m a es r a t a l ": d e finido p e l as r el a c ;: o es e nt re agr up amen t os hum anos orga ni z ados polit i cam e n t e em rerritori os di s rin t o s e qu e nao esrao s uj ei to s a n e nhum poder o u a u to ri da d e superior ; d es f r utand o e ex er ce nd o um a c er ta ind e pend e ncia entre e le s. Por fim , a s re lac ;:oes i nt er n ac ion a i s sac as in tera c ;:oes en t re t a i s g rupo s indep e nd e n res. A prim eira d e m o n s r ra c ;:ao hi st6rica r e l a ri va ment e c la r a de urn sis tema esta - ral e a Gr e ci a an t iga (5 00 a.c . - 1 00 a.c . ) , co nh e c i d a e ntao como HeIade, que abrangia urn g r a nd e nu m ero de cida d es-Es ra do ( W i g ht 1977; Warson 1 992) . A Grecia an ti ga na o era u r n Es t a d o - na ;a o c om o 0 atual , mas, mai s es p ecifi- camenr e, urn s is re m a de c id a d es - Estado - A r e n as e ra a maior e ma is famosa , por e m ramb e m h avia muita s o u tras c i dades - Es r ado, co m o E s parr a e Cor int o , qu e reunida s f or m a r am 0 primeiro s i s r ema esrata l da h i s t 6r ia o cid e nr a l . Apesar d e have r r e l a ; o es ex t e n sas e e l a b oradas e nt re as cid a d es - Es t a d o d e He l ade , o s a n tig os a g rup a m e nt o s p o l it i cos gregos nao era m E st ado s s oberano s mo d e r - no s c o m ampl os t erritor i os . Comparada a . ma i o r ia do s Est ado s m odernos, a cidade-E s t a d o grega t in h a um a popu l a c ;:ao e u rn t errito r io me nore s , as re l a c ;:o e s interu r ban as ta mb e m nao contavam com uma d i p l omaci a estabel ecida e nao havia n a da sim il ar ao dire it o internac i ona l e as orga ni z a ; 6 e s inr e rna c i onais. o s istema es ta ta l de Helade t i nha por b ase, acima de tud o, uma lin g u agem e uma re li giao comu n s . o a nti g o s i s tema e statal grego foi finalmente destruido por imp er ios vi z i- nh os m a i s poderoso s e sua populac;:ao foi transformad a em suditos do Imp e rio R o mano (200 a . c . - 500 d . C . ) . A medida que conquistavam , ocupavam e g o- v e r n a vam a maio ria d a Europa e grande parte do Oriente Medio e do nor te d a Afr i ca , o s romano s des e nvolveram urn imperio enorme . Entr e tanto , e m v e z d e rec onh e c e r a s inumeras comunidades politicas habitant es d e stas ar e i ls , 0 I mp e ri o R o mano a s s ubordinou. Em detrimento das r e lac;: o esint e rnacion a is o u se mi -i nt e rnacion a is , a unica opc;:aopara as comunidad e s politic as , n a quele m o m e nto , e r a a s ubmissao a Roma " ou a r e volta. Com 0 tempo , e s s as comuni - dad e s , l oc al iza das na periferia do imperio, comec;:aram a se m a nif es tar; como o ex e rc ito roman o nao era capaz de conter as reb e li oes, c omec ;: ou a se r e tir a r e, e m dive rs a s oc as io e s , a pr6pria cidade de Rom a foi invadid a e destruid a p e la s trib os " b ar b a ras " . D e sse modo, 0 Imperio Roman o fin a l m e nt e ch e gou a o f i m a p 6s muitos seculos de s obrevivencia e sucesso politico. Logo d e po is d a qu e da do poder romano, 0 imp e rio , ori g in a do n a E u r o p a cr i s t a, es t a b e lec e u-s e c omo organizac;:ao politica pred o minant e , d esenvo l ve n - d o-se g r a d u alm e nt e du ra nte varios seculo s. Os dois p r incip ais s u cesso r es d e R o m a na Eu ro pa tamb e m foram imperios : 0 imp e rio (cat 6 li c o) m e di e v al s i - w a d o e m Rom a (cr is tandade), na Europa ocidental ; e 0 Imp er io Bi z a ntin o ( o r t o d o x o ) , e m Co nst a ntinopla ou no que hoje e Istambul (Bi za n c io) , n a E ur o p a o ri en t a l e n o O ri e nte Pr6ximo. Bi z ancio af ir mav a s er a c ontinu ac;:ao d o I mp e ri o Rom a n o cr istiani z ado. 0 mundo c r istao m e d i ev a l e urop e u (500- 1500) foi entao di v id i do g eog raficamente, durante a maior parte d o t e mp o, em dois imp e rio s polfti c o -re li gi osos . Alem dess e s, havia outros si s tema s p o - liticos e imperios a inda m a i s di s tante s . A Africa do Norte e 0 Orient e M e di o faziam p a rte de urn mund o d e civili z ac ; : a o islamica, originado na p e ninsu - la arabe, nos pr ~ m e iro s anos d o seculo VII . Havia tambem imperios ond e hOJe e 0 Ira e a India . 0 chin es foi 0 m a i s antig o, d e ntre os que sobr ev i v e- ram , e viveu sob dinast i a s di f erent e s po r apr ox imadam e nte 4 mil ano s a nt e s do inicio do secul o xx . I n c lu s iv e, e pos s ivel que ainda e x ista, ma s na fo r ma do Estado comunist a chin es , 0 qu a l s e assem e lha a urn imperio em sua e s trutura ideologica e hier a rquia politic a. S e ndo a s sim , a Idade Media chama at e nc ;: ,i o por ter sid o a e ra do imperi o e de rel a c ; : oes e conflitos e ntre ag r up a m e nr o s politicos difer e ntes . M a s 0 co nt a t o e ntre o s imperios era, na melh or d a s hip6teses, intermit e nt e : a c o muni c ac ; : ao era l e nta e 0 transporte , dific i l . C o n - sequentemente , a m ai o ria d es t a s organizac ; :o e s, nesta epoca, formava urn mundo centrado e m s i m es m o . Podemos falar s obr e "r e l a c ; :oes i nt e rn a cionai s" na Europa ocidental dur a n t e a Era Medie va l ? Sim , mas com dificu l d a d e , p or qu e , c omo ja demon s t r a do , a cristandade m e diev a l funcion av a m a is c omo urn imp e rio do que urn sis t ema estatal . Emb o r a o s Estad os ex i s t isse m , n a o eram i ndependente s n e m s ob e r a - nos de acordo com 0 s entido mod e rno desta s palavra s . Nao havia t e rrit 6 r io s c laramente definido s c om f ro n teira s . Em s um a, 0 mundo medie va l n ao era uma col c ha de retalhos ge o gr a f ica co m paise s di s tintos representados po r c o - R o m a e m e r g iu c omo uma cidade-Estado na Italia central . . . Dur a nte va rio s s e cu- l os , a c id a d e ampliou s ua autoridade e adaptou s eus metodo s de g o v erno pa r a a tr a ir primeiro a Italia , em seguida 0 Mediterrane() ocidental e , finalmente, quase to do 0 mundo helenfstico para um imper i o maior do que qualquer outro j a e x i s - te n te n esta a re a . . , E ss e feito Linico e surpreend e nte, somado a tr a n s form a ;: ao c ul t u ra l o c as ionad a , estabeleceu as funda civili z a : a . o e ur o pei a . . , R o ma a judou a c onfi g ura r a opiniao e a pratica contempor a nea e europ e i a s obr e 0 Es t a d o, 0 d i re ito internaciona l e , especial mente, 0 imperio e a natur e z a da auto - r id a d e impe r ial . 500 - 1500 Mundo cristao medie v al Cri s tandade c at6l i ca: o papa em Roma Cristandade ortodoxa : Imp e rio Bizantino, Constantinopla res diferentes, ma s uma mistura complicada e confusa composta por for~.as e matizes variados. 0 poder e a autoridade e ram organizad~s sob ~a s es rehglOsa e politica : 0 papa e 0 imperador eram os lideres de dua s hlerarqU l as pa~alelas e conectada s , uma religiosa e outr a politica . Reis e outros governantes na~ eram c o mpletamente independentes e estavam subordinados a estas au~ondades . , lel ' s E na maioria dos casos os Governantes locals tmham supenor e s e as suas . , .' b . • ce rta liberdade com relac ;: ao ao governo dos relS : eram seml-autonomos, ~as nao totalmente indep e ndentes. 0 fato e que a independencia politica ternto- rial, conh e cida hoje , nao estava presente na Europa medieval . Quadro 1.6 A comunidade crista . da Europa medieval Arcebispos , bispos --- . e outros sacerdotes Reis e outros governanres f -- loca i s semi - independentes Pad r es e outros govern antes comuns \ Bar6es e outros governantes ~ locais semi-independenres Pessoas comuns de inumeras comunidades locais Sabe - se tambem que a Era Medie v al foi marcada por des~rdem, tumul- t o, conflito e vi olencia, cuja origem, acredita- se , e a falta de lmha s claras de co ntrol e e organizac;:ao politica territorial . As guerras . o~a eram travadas ent . r e civilizac ; :6es reli g io s as - por e x emplo, as cru z adas cnstas contra 0 mundo lS - 1 , . (1096- 1 2 9 1) -, o ra eram travad a s entr e reis - a Guerr a do s Cern An os a mlCO . f . . e ntre Inglate r ra e Franc ; :a(1337-1453) . No ent a ~to, a guerr ~ malS r e quente e r a feudal, lo ca l e entr e grupo s rivai s de ca va lelros , cUJos hderes ap~ e senta- ya m al g uma ri x a . A autoridade e 0 pod e r de s e e ngajar em batalhas nao eram monopoli za dos p e lo Estado: diferentemente do que a contec e u mai s tarde, o s reis nao eram capazes de controlar os confronto s. N e ss e prime i r o mo- m e nto, os direito s e capacidade s de fazer a guerra pertenciam a os m e mbro s d e uma c as ta distinta - o s cavaleiros armados e se us lid e res e se guid ores - , que combatiam ora em defesa do papa, ora do imperador , a s v e zes P e l O rei, outras por seus governantes e de forma mais re g ular por e1es m e smos. Nao havia uma distinc ; :ao clara entre guerra civil e internacional . As guerr a s me- di ev ais eram motivadas , principalment e , por qu e st6es r e lativa s a acerto s e erros : luta s com 0 objeti v o de d e fender a fe, resolver conflito s s obre heranc;:a dinisrica , punir criminosos ou cobrar impostos, e ntre outras (H o ward 19 7 6 : c . 1). Diferente dos confliros civis, tais guerras r a rament e estavam a ssoc ia- da s as disputas com relac ; :ao ao contrale exclu s i v o do t e rrit6rio ou s obre 0 Es t a do ou aos int e resses n a cionai s. Na Europa medieval, nao ha v ia n e nhum territ6rio com contrale exc lusivo e nenhuma concepc ;:a o c lar a da nac ;:a o ou do interes s e nacional . Os valo r es ligados a condic;:aode Est a do sob e r a no f o ram o r g anizad os de m a neira dif e rente nos tempos medievais, uma ve z que nenhuma o rgani za c ; : ao politica, t a l como 0 Estado moderno, satisfazia a todos e stes a tribut os . Em detrimento di s so , os valo re s eram admini s trados por e st r utura s di s tinta s qu e operavam e m div e r s os niveis da vida social . A se g uranc;:a , p o r e x emplo, era pro- vida pelos governantes loc a is e p e ios cavaleira s que op e r a vam em ca s t e l os e c i d a des fortificada s. A lib e rdade nao era urn direiro do individuo o u da n a c ;:a o ; m a s dos g ov ernantes feudais e de se us s e guidor es e clientes. A o rdem e r a re s- pon s abilidade do imperador, emb o ra sua c a pacidade d e impo s ic ;:ao Fo sse b e m limitada , resultando em uma Europa medieval m a r c ada p e l a turbul e ncia e p e 1a disc6rdia e m rodos os niveis da sociedade. Os governant es politi c os e lid e r es religiosos eram responsiveis por garantir a justic;:a , apesa r de est a se r ba s tante desigual: aquele s que ocupavam alt a posic;:ao nas hi er arqui as polit i c a e reli g i o sa tinham ac es so mai s f i eil a justic;: a do que 0 r esto d a populac;: a o e a s corte s varia - yam e m func ; : a o da c la s se social. Por nao haver policia, a ju s tic;:a fr e qiient e m e nt e era feita p e 1a s pr6prias p ess oas por m e io de ving a nc ; :a s ou r e pre si lia s . 0 p a p a, al e m de ser respon s iv e l por governar a Igr e ja por meio d e uma hi e rarqui a d e bi s pos e d e outro s sa cerdotes , fiscali z ava a s dispu tas politic as entr e re i s e ou t ros governante s naciona i s semi-independente s . Ademai s , m e mbros do s ace r d 6c io de se mpenhavam muitas v e z es 0 papel de c onsultor mai s ex p e ri e nt e d e r e i s e de outra s governantes seculare s . O s r e is , por s u a v e z, a ss umiam a func ;:ao d e

Introdução às Relações Internacionais

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