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Cognitivismo e conectivismo na educação básica

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COGNITIVISMO E CONECTIVISMO NA EDUCAÇÃO BÁSICA: ELEMENTOS PARA SUBSIDIAR A PRÁTICA DOCENTE.
COGNITIVISM AND COGNITIVISM IN BASIC EDUCATION: ELEMENTS TO SUPPORT THE TEACHING PRACTICE.
COGNITIVISMO Y EL COGNITIVISMO EN LA EDUCACIÓN BÁSICA: ELEMENTOS DE APOYO A LA PRÁCTICA DOCENTE.
Everson Araujo Nauroski
Doutor em Sociologia pela Universidade Federal do Paraná, licenciado em Filosofia e Sociologia, atua como professor no curso de Pedagogia e tutor nos cursos de Filosofia e Sociologia do Centro Universitário Uninter. É professor titular das Faculdades Santa Cruz nas disciplinas de Sociologia da Educação e Ética.
E-mail: eversonnauroski@gmail.com 
RESUMO
A herança behaviorista na educação brasileira ainda é muito presente e se evidencia pela predominância de métodos mecânicos de ensino e metodologias convencionais. Trata-se de uma abordagem teórico-prática que dá pouca importância a dimensão subjetiva da aprendizagem, naquilo que envolve a liberdade, o desejo e a participação criativa dos alunos no processo de aprender. O presente ensaio busca articular uma reflexão que coloca o desinteresse escolar e o baixo aproveitamento, como tributários, não de modo exclusivo, desse modelo de ensino. Em seguida é tratado de alguns conceitos da abordagem cognitivista na educação, com destaque para a contribuição de David Ausubel e sua teoria da aprendizagem significativa. Por fim, discute-se uma aproximação das ideias de Ausubel e a abordagem conectivista, como uma estratégia a combinar de modo significativo, o uso de novas tecnologias para potencializar o trabalho docente. 
 
Palavras-chave: Aprendizagem significativa, conectivismo, trabalho docente.
Abstract
The behaviorist heritage in Brazilian education is still very present and is evidenced by the predominance of mechanical methods of teaching and conventional methodologies. This is a theoretical and practical approach that gives little importance to subjective dimension of learning, that which involves freedom, desire and creative participation of students in the learning process. This essay seeks to articulate a reflection that puts the school disinterest and low utilization, such as tax, not exclusively, this teaching model. It is then treated to some concepts of cognitive approach in education, highlighting the contribution of David Ausubel and his theory of meaningful learning. Finally, it discusses an approach of Ausubel's ideas and connectivist approach as a strategy to combine significantly, the use of new technologies to enhance the teaching.
Key-words: Meaningful learning, connectivism, teaching.
RESUMEN
La herencia conductista en la educación brasileña es todavía muy presente y se evidencia por el predominio de los métodos mecánicos de enseñanza y metodologías convencionales. Este es un enfoque teórico y práctico que da poca importancia a la dimensión subjetiva del aprendizaje, lo que implica la libertad, el deseo y la participación creativa de los estudiantes en el proceso de aprendizaje. En este ensayo se busca articular una reflexión que pone el desinterés por la escuela y la baja utilización, tales como impuestos, no exclusivamente, este modelo de enseñanza. A continuación se trata de algunos conceptos de enfoque cognitivo en la educación, destacando la aportación de David Ausubel y su teoría del aprendizaje significativo. Por último, se analiza un enfoque de las ideas de Ausubel y el enfoque conectivista como una estrategia para combinar de manera significativa, el uso de nuevas tecnologías para mejorar la enseñanza.
Palabras clave: aprendizaje significativo, conectivismo, la enseñanza.
Introdução 
De Sócrates a Kant é forte a noção de que o indivíduo humano se define pela sua racionalidade e capacidade cognitiva. Um atributo considerado como universal para o homo sapiens. Partindo desse pressuposto, ao final desse texto, queremos responder a seguinte indagação: se todos nascem com o mesmo potencial cognitivo (exceto casos de patologia), porque alguns estudantes desenvolvem amplamente esse potencial, enquanto outros vivenciam sérios déficits? E ainda, qual seria o potencial das novas tecnologias de mídia no incremento dos processos de ensino-aprendizagem? 
 Delimitaremos nossa resposta, fazendo uma reflexão sobre a aprendizagem pela ótica do cognitivismo, uma abordagem que se baseia nos processos que ocorrem subjacentes às mudanças de comportamento, buscando explicar o que acontece na mente do indivíduo. Inicialmente, podemos dizer que a teoria cognitivista aplicada à educação, não deixa de representar uma crítica e uma tentativa de superação da herança behaviorista desde Watson a Skinner (MOREIRA, 1999). 
A partir da década de 1960 vão surgindo contraposições ao behaviorismo. Com o avanço da ciência da computação os processos cognitivos passam a ser explicados como um fluxo de informações que são organizadas de modo funcional pela mente, o que foi denominado de cognitivismo informacional. Nessa perspectiva, o modelo computacional passa a ser um elemento importante nos estudos comparativos para compreender a aprendizagem humana (MOREIRA, 1999).
Mais tarde a abordagem da psicologia cognitiva na área da educação, irá propor que a mente vai bem além do modelo computacional. Não se trata somente de organizar modelos, fluxos e esquemas, a mente humana realiza essas tarefas a partir de uma circunstância interna e externa, constrói representações para esses processos, atribuindo sentido e significado tanto aos processos quanto aos resultados (OSTERMANN e CAVALCANTI, 2010).
Com um novo enfoque, os estudos cognitivos voltam-se a dimensão subjetiva dos sujeitos, sua organização psíquica, estilos de personalidade e como esses elementos podem interferir na aprendizagem. O objetivo é mapear esses aspectos e elaborar modelos de análise para explicar o funcionamento da mente, no que envolve a memória, a motivação, o foco, e a combinação de habilidades na resolução de tarefas. 
Cognitivismo embasando aprendizagens concetivistas
Podemos dizer que existem similaridades no funcionamento da mente e de um computador, como armazenamento, memória, respostas a partir da base de dados, ações lineares padronizadas, fluxos, processamento de informações, etc. No entanto abordagem cognitivista afirma que a mente humana não é uma realidade linear. A complexa relação mente-cérebro indica que a mente aprende de modo não linear, processando várias coisas ao mesmo tempo. Para conectivismo Embora o cérebro seja monofocal em relação aos objetos, internamente, a mente faz associações e conexões diversas, considerando o que consegue captar pelo aparato sensorial e das relações que estabelece com outros conhecimentos prévios, como experiências, conceitos e memórias. Algo que poderia ser traduzido como insights cognitivos, ou nos termos de Neisser, encadeamentos neurais, isto é, uma vez captado o imput sensório é transformado, reduzido, elaborado, armazenado, recuperado e usado (MOREIRA, 1999). 
A abordagem conexionista valoriza a relação de complementariedade entre e mente e cérebro. O que o aparato sensorial capta é reelaborado tanto na estrutura neural, quanto cognitiva, num processo paralelo. O resultado é formação de um evento mental com inúmeras possibilidades, uma memória, um conceito, uma cor, um cheiro, uma vivência. Além disso, a consciência opera elaborando significados sobre os eventos mentais, possibilitando a construção de referenciais afetivos, éticos e estéticos. Quanto mais rica e estimulante a realidade, seja ela virtual ou empírica, mais intenso e eficiente será esse processo (ROSA, 2001). 
A abordagem cognitivista possui diferentes autores e enfoques. Para o campo da educação teve contribuições importantes de autores como Jean Piaget, Jerome Bruner e David Ausubel, sobre este último resgatamos alguns elementos para pensarmos a questão que levantamos no início desse texto, sobre o potencial e os déficits cognitivos. 
 
 Ausubel e a aprendizagem significativa
	Para David Ausubel (1918-2008), no modelo tradicional predominam as metodologias mecânicas,na qual o processo é centrado na apropriação arbitrária das informação por parte dos estudantes, via de regra, decorando os conteúdos. Possivelmente, esse seja um dos fatores que ajudam a explicar os baixos resultados na aprendizagem de milhares de estudantes. Diferentemente, na aprendizagem significativa o sujeito é capaz de relacionar a nova informação com sua estrutura de conhecimentos prévios. Nesse processo
a nova informação interage com uma estrutura de conhecimento chamada de "subsunçor", existente na estrutura cognitiva de quem aprende. O "subsunçor" é um conceito, uma ideia, uma proposição já existente na estrutura cognitiva, capaz de servir de "ancoradouro" a uma nova informação de modo que ela adquira, assim, significado para o indivíduo: a aprendizagem significativa ocorre quando a nova informação "ancora-se" em conceitos relevantes preexistentes na estrutura cognitiva (OSTERMANN e CAVALCANTI, 2010, p. 23). 
	Considerando o aprender como um fenômeno natural, a aprendizagem significativa, é para Ausubel um modos operandi típico do indivíduo humano. No entanto, quando o aprender é separado da vida e organizado desvinculado das vivências dos estudantes - como acontece na educação massificada -, pode ocorrer justamente o seu contrario, um tipo de aprendizagem mecânica que pouco agrega a formação e aquisição de novas habilidades. Vale lembrar que para Ausubel, o princípio mais fundamental do cognitivismo são os conhecimentos prévios trazidos pelos estudantes. Trata-se de um conjunto de vivências e experiências, muitas vezes confusas e pouco coesas, que precisam ser acolhidas pela escola e pelos professores, pois se tornarão as fundações sobre as quais serão construídos novos e significativos conhecimentos. 
	Considerando o que apresenta o cognitivismo e Ausubel, poderíamos pensar numa aplicação metodológica para o ensino de Sociologia em quatro etapas: 
1ª – Identificar a estrutura conceitual e as vivências que os alunos trazem do meio em que vivem e da disciplina que vão estudar.
2ª – Identificar os subsunçores, que são aqueles conhecimentos prévios, a partir dos quais seria possível ancorar os conceitos da disciplina. Um exemplo de subsunçor: um parente que vem do interior estuda e se profissionaliza, poderia ser ancorado no conceito de mobilidade social, o que asseria significativo ao estudante.
3ª - Mapear o conjunto dos subsunçores relevantes na estrutura cognitiva do estudante, com os quais poderá ter uma aprendizagem significativa de outros conceitos da Sociologia. 
4ª – Organizar os conteúdos e os recursos de modo a facilitar o processo de ancoragem dos conceitos na estrutura cognitiva do estudante, possibilitando novas conceituações, significados, análises e sínteses a partir de sua própria estrutura cognitiva (AUSUBEL, NOVAK, HANESIAN, 1980). 
Diante do exposto, retomamos a indagação inicial, e concluímos não de modo definitivo, que o grande desafio dos professores e instituições de ensino frente o baixo rendimento escolar, é propiciar uma aprendizagem significativa aos seus alunos, conhecimentos com relevância social e existencial. Mais que uma metodologia de sala de aula, a aprendizagem significativa precisa integrar o projeto pedagógico das escolas e ser incorporada ao conjunto das atividades docentes. Para tanto é necessário que a comunidade escolar desenvolva ações positivas em quatro frentes de trabalho:
1º - Formação e qualificação dos docentes e gestores.
2º - Otimização de recursos e espaços, de modo a tornar a escola um ambiente acolhedor, socializador, de trocas, vivências e parcerias.
3º - Utilização de recursos tecnológicos e de mídia para estimular o envolvimento dos alunos em novas experiências cognitivas.
4º - Estabelecer parcerias com instituições de ensino e tecnologia que possam contribuir e dar suporte as atividades da escola. 
	Existem diversos outros fatores - que fogem ao proposito desse texto - que precisariam ser considerados em relação aos resultados escolares, como os efeitos das políticas públicas, os modelos de gestão, a disponibilidade de recursos, as condições e relações de trabalho dos docentes, questões sociais e familiares na vida dos alunos, entre outros. 
No entanto, acreditamos que enquanto a realidade da educação não avança para o ideal desejado, é preciso trabalhar com o que se tem. E nesse aspecto, havendo boa vontade e iniciativa entre os que fazem a escola, existem diversas possibilidades que podem ser exploradas no sentido de ajudar os estudantes a melhorarem seus resultados. Investir em metodologias de aprendizagem significativa é uma delas. 
Terminamos essa breve reflexão com o seguinte questionamento: além das possibilidades indicadas nesse texto, que outras mais, podemos pensar para potencializar a aprendizagem dos estudantes? 
Referências
AUSUBEL, David.; NOVAK, Joseph. & HANESIAN, Helen. Psicologia Educacional. Rio de Janeiro: Interamericana, 1980.
MOREIRA, Marco Antonio. Teorias de Aprendizagem. São Paulo: EPU, 1999
OSTERMANN, Fernanda, CAVALCANTI, Claudio José. Teorias de aprendizagem. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 2010.
ROSA, Jorge La.(org.) Psicologia e Educação: O Significado do Aprender. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2001.

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