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Waldomiro Vergueiro Seleção de materiais de informação: princípios e técnicas Terceira edição BRIQUET DE LEMOS LIVROS © Waldomiro Vergueiro, 2010 Todos os direitos reservados. De acordo com a lei nº 9 610, de 19/2/1998, nenhu ma parte deste livro pode ser fotocopiada, gravada, reproduzida ou armazenada num sistema de recuperação de informação ou transmitida sob qualquer forma ou por qualquer meio eletrônico ou mecânico sem o prévio consentimento do autor ou da editora. Primeira edição: 1995 Segunda edição: 1997 Este livro obedece ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 Revisão: Maria Lucia Vilar de Lemos Capa: Formatos Design Gráfico Ltda. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Câmara Brasileira do Livro. sr, Brasil Vergueiro, Waldomiro Seleção de materiais de informação· princípios e técnicas/ Waldomiro Vergue1ro. -3. ed. -Brasília, OF · Briquet de Lemos/ Livros, 2010. ISBN 978-85-85637-41-5 l. Bibliotecas -Serviços de aquisição 2. Livros -Seleção 3. Livros- Política de.seleção 1. Título. 10-03633 Índices para catálogo sistemático: 1. Seleção: Material de informação: Biblioteconomia 025.21 2. Material de informação: Seleção: Biblioteconomia 025.21 2010 Briquet de Lemos / Livros SRTS - Quadra 701 - Bloco o - Loja 7 Edifício Centro Multiempresarial Brasília, OF 70340-000 Telefones (61) 3322 9806 / 3323 1725 ,vww.briquetdelemos.com.br editora@briquetdelemos.com.br coo 025.21 1 2 3 4 5 6 Sumário Introdução A seleção: um momento de decisão Considerações gerais que influenciam a seleção O assunto O usuário O documento O preço Questões complementares Em busca de critérios de seleção Critérios que abordam o conteúdo dos documentos Critérios que abordam a adequação ao usuário Critérios relativos a aspectos adicionais do documento Seleção de materiais especiais e multimeios Periódicos Histórias em quadrinhos Livros infanta-juvenis Filmes, vídeos e ovos Discos, fitas e cos Diapositivos Outros materiais Seleção de documentos eletrônicos CD-ROMS e DVD-ROMS Bases de dados on-line Documentos disponíveis na internet Organizando o processo de seleção Quem seleciona? 1 5 11 13 13 14 15 15 17 18 22 23 26 27 30 32 35 38 40 42 43 45 49 51 57 58 scanned by Regis Feitosa Mecanismos para identificação, avaliação e registro Formulários para indicação e seleção de títulos Instrumentos auxiliares da seleção 7 Política de seleção Componentes do documento de política de seleção 8 Doações 9 Reconsideração da decisão de seleção 10 Tópicos especiais de seleção Seleção e formação profissional Seleção e censura Seleção e cooperação bibliotecária Seleção e direitos autorais 11 O futuro da seleção A adequabilidade do livro O custo do livro O contexto social da informação A seleção de materiais na era da informação eletrônica 12 Considerações finais Bibliografia complementar Anexos Índice vi 63 63 65 68 71 75 77 79 80 83 88 93 99 100 101 102 103 109 110 116 119 e Introdução JÁ FAZ MAIS DE UMA DÉCADA que a· segunda edição deste livro foi publicada. E acho que pelo menos uns cinco anos desde que ela se esgotou. Do momento da publicação do livro àquele em que a tota lidade de seus exemplares foi adquirida por bibliotecários ou estu dantes de biblioteconomia do país inteiro, várias coisas se modifica ram na realidade das bibliotecas e unidades de informação do país. Consciente dessas mudanças, eu entendi, então, que uma republica ção ou reimpressão da obra não seria conveniente. Para continuar cumprindo seus objetivos, ela necessitaria ser atualizada. �nicialmente, tudo pareceu relativamente fácil. Afinal, em pouco mais de um ano de trabalho eu havia conseguido elaborar a segun da edição do livro, publicada apenas três anos depois da primeira. Desta vez, no entanto, as coisas não correram da mesma forma. Feliz ou infelizmente, envolvi-me em muitas atividades profissionais nos últimos dez anos, dando prosseguimento à minha carreira acadêmi ca, exercendo por duas vezes a chefia do Departamento de Bibliote conomia e Documentação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, engajando-me na orientação de traba lhos acadêmicos em nível de mestrado e doutorado, dedicando-me a outros projetos de livros (alguns deles tampouco finalizados até hoje), publicando livros em outras áreas, etc. Tudo isso não me per mitiu a concentração necessária para dedicar-me à atualização de meus vários livros na área de biblioteconomia, entre os quais este se inclui. A ideia de trabalhar na terceira edição de Seleção de materiais de informação jamais foi abandonada. Ela sempre representou um fan tasma a me espreitar, fantasma do qual eu sabia que não conseguiria fugir indefinidamente e que cedo ou tarde iria alcançar-me. Parece que este dia finalmente chegou. Para o bem ou para o mal. Lembro-me que, ao escrever a introdução da segunda edição deste livro eu historiei o início de minha atuação como autor na área de biblioteconomia, reportando-me à publicação de meu livro sobre de- 1 senvolvimento de coleções e às portas que ele me havia aberto na profissão (sua segunda edição é também outro fantasma em minha - vida ... ). Hoje, tantos anos passados, vejo que aquilo que mencionei sobre o livro [?esenvolvimento de coleções poderia ser aplicado a todos os outros que tive publicados posteriormente. Provavelmente, a forma positiva como meus livros sempre fo ram recebidos pelos colegas bibliotecários e por outros professores de biblioteconomia se deveu muito mais ao acaso do que a algum talento especial que eu possua. Seja quaJ tenha sido a razão, o fato é que, largamente adotados pelos diversos cursos do país, eles tive ram na profissão uma repercussão que eu jamais esperava alcançar. Confesso que até hoje fico impressionado com as manifestações a respeito de minhas obras, principalmente quando participo de even tos da área e faço contato com alunos ou bibliotecários mais jovens, que tiveram conhecimento de meus livros durante seu período aca dêmico. Isso me torna especialmente feliz, pois os autores escreve mos para sermos lidos, para que nossas reflexões possam atingir e modificar a vida de nossos leitores. Por isso, como falei antes, atua li2ar uma, obra bem-sucedida é uma tarefa particularmente espinho sa, pois se corre o risco de mexer exatamente naqueles pontos que mais agradaram aos leitores, de retirar do livro exatamente aquilo que foi a razão de seu sucesso. Mas são os riscos que fazem a vida emocionante. Por que fugir deles, então? Sem dúvida, muita coisa mudou no ambiente da informação des de a segunda edição deste livro. Em 1998, a internet ainda estava longe de se tornar a realidade corriqueira que hoje representa para bilhões de pessoas no mundo. A porcentagem de pessoas alijadas do mundo da informação eletrônica era então muito maior do que ago ra e, pelo menos em termos do grande público não-especializado, tinha-se uma ideia ainda relativamente vaga sobre o impacto que esses novos meios de comunicação eletrônica viriam a ter no futuro. Assim, as considexações que fiz quando comecei a refletir para elaborar a segunda edição do livro parecem excessivamente ingênu as quando vistas com os olhos de hoje: [ ... ) a primeira coisa que me veio à mente foi abordar as implicações desta nova realidade sobre as atividades de seleção. Afinal, o que esta verdadeira ebulição eletrônica representa para aqueles profissionais que 2 têm por obrigação selecionar materiais de informação para as bibliote cas? Estarão eles condenados ao desemprego?Serão eles dinossauros fadados à extinção (seremos todos nós)? As respostas para essas per guntas, começou a parecer-me, poderiam variar bastante, dependendo da forma como se busque encarar essas mudanças, sua abrangência e o ritmo com que elas acontecem ou irão acontecer no futuro. Achei que esta seria uma discussão proveitosa para ser realizada numa segunda edição. 1 Embora alguns desses questionamentos continuem váJidos, alguns outros poderiam ser acrescentados, levando a discussão a um ponto cego, em que não seria mais possível vislumbrar saídas. Em um mundo em que a totalidade dos documentos e informações parece estar ao alcance das mãos de qualquer interessado, a necessidade da própria atividade de seleção pode ser facilmente questionada. Se tudo posso ter, não necessito escolher. Se a tudo tenho acesso, não preciso me preocupar com qualquer tipo de incompletude. De uma certa forma, as possibilidades de felicidade infinita prometidas por Borges em seu conto A biblioteca de Babel,2 em que todo e qualquer livro estará acessível ao interessado, em todas as suas possibilida des, o original e sua cópia, a cópia da cópia e todas as outras cópias imagi náveis, cada uma com pequenas e mínimas diferenças entre elas, parece ter se tornado realidade na nova ordem mundial da informação ele trônica. Vã ilusão. Como sabemos, a abundância ou mesmo a totalidade de informações não é necessariamente sinônimo de acesso a elas. Ou de permanência. Como já foi mencionado por muitos autores - tantos que nem me dou ao trabalho de citá-los neste momento -, nem tudo o que hoje está acessível nas redes eletrônicas de informa ção continuará a se manter desta forma no futuro. Muita coisa será retirada do ar sem qualquer tipo de explicação ou mesmo sem moti vo algum. Muita coisa será substituída por outra mais recente ou atualizada, perdendo-se a versão anterior e, com ela, as relações so ciais ou pessoais que havia produzido. Isso terá consequências ain da não bem dimensionadas para diversas áreas, como a história, a sociologia, o jornalismo. Tudo isto me fez acreditar na necessidade de uma terceira edição de meu livro Seleção de materiais de informação. Assim, como procedi 3 da vez anterior, reli o que havia escrito antes, mantive o que entendi continuar com a mesma validade, reformulei as partes em que senti a necessidade de um enfoque diferente, acrescentei informações que me pareceraq1 necessárias, atualizei a bibliografia, ampliei conside rações que antes só havia esboçado. Acredito que acertei em algu mas decisões, assim como, provavelmente, equivoquei-me em ou tras (e espero sinceramente que o número das primeiras seja subs tancialmente maior que o das segundas ... ). Acredito, também, que deixei de seguir alternativas que talvez pudessem ser mais interes santes tanto para mim quanto para os futuros leitores do livro. Mas sobre isso não me debruço ou peço desculpas. $empre tive por nor ma que alguém jamais se deve arrepender daquilo que não fez. Não vejo motivo para mudar de opinião a esta altura da vida. Notas 1 VERGUEIRO, Waldomiro. Seleção de 111aleriais de informação. 2 .cd. Brasília: Briquct de Lemos/ Livros, 1997, p. 4. 2 BORGES, Jorge Luis. A biblioteca de Babel. ln:--. Ficções. São Paulo: Compa nhia das Letras, 2007. 4 1 A seleção: um momento de decisão O BIBLIOTECÁRIO TALVEZ NÃO o saiba, mas há um momento em que é chamado para tomar uma decisão. Ou seja: um momento de deci são. Não que deva sentir-se uma Shirley MacLaine ou uma Anne Bancroft, mas a sensação talvez seja um pouco parecida com a que elas experimentaram no filme Momento de decisão (The turning point) (se alguém ainda não o assistiu, assista-o). Há um momento em que o poder de decisão pode estar nas mãos do bibliotecário. É quando da seleção. De livros, periódicos, discos, filmes. De qualquer material passível de fazer parte do acervo. De qualquer item cuja incorporação ao conjunto existente contribua para que se aproxime mais dos objeti vos estabelecidos para aquele agrupamento de materiais informacio nais. Assim, ao menos potencialmente, o bibliotecário interfere na vida de inúmeras pessoas. Quando um simples ato profissional de fine o universo de informações a que um grupo de usuários terá acesso, pode-se dizer que o bibliotecário detém o poder. O poder. _ Mas, considerando o acima exposto, alguém poderá perguntar: o que, exatamente, significa isso? Entre outras coisas, significa que o bibliotecário, queira ou não, é um elemento que está permanente mente interferindo no processo social. Isto, sem dúvida, é uma es pécie de poder: O quanto este poder interfere de fato no processo social já é uma outra questão, que provavelmente exigirá uma res posta mais elaborada. O universo das probabilidades é infinito: imagine-se, por exemplo, que um grande pesquisador necessita de uma informação sobre de terminado componente químico, e que essa informação lhe permiti rá desenvolver uma vacina contra a AIDS. Vai à bibljoteca e descobre que ela não possui o título que traz essa informação. Preenche um for mulário sugerindo a aquisição do livro e espera sua chegada. O bi- 5 bliotecário, ao analisar o pedido, decide que aquele documento não está entre as prioridades da coleção e o rejeita. Infelizmente, o pes quisador não tem a possibilidade de utilizar outras fontes, pois al gum tempo depois da decisão falece em um acidente automobilístico. Com isso, anos de pesquisa são comprometidos e uma descoberta científica é atrasada. Tudo isso porque o bibliotecário não selecionou o material que permitiria ao pesquisador concluir sua pesquisa ... É claro que isso tudo é um exagero. Não é o caso de se deixar envolver pela paranoia. Esse exercício de imaginação busca apenas salientar que o efeito que uma decisão pode ter sobre a vida dos usuários é realmente inimaginável. Assim como se pergunta o que efetivamente é esse poder do qual o bibliotecário está imbuído, pode-se questionar se e quanto ele está preparado para assumir esse papel ou utilizar esse poder (presume se: em benefício da sociedade). Infelizmente, deve-se admitir que a resposta a essas perguntas, pelo menos na maioria dos casos, seria negativa. Os motivos? Muitos e variados, indo desde a falta de co nhecimentos básicos sobre o mercado editorial - o que, para dizer o mínimo, lhe possibilitaria tomar as decisões de maneira mais efi ciente, - até sua inconsciência sobre a importância da atividade de seleção. Por isso, o mais das vezes, esse poder acaba se transforman do em fumaça. Foge. Às vezes por culpa do profissional, mas nem sempre. Às vezes os demais personagens do sistema informacional (superiores hierárquicos, como diretores, secretários municipais e prefeitos; ou grupos de usuários, como os pesquisadores, os profes sores, etc.) assumem esse poder. E o bibliotecário fica a contempla� outros tomando decisões nas quais ele muito teria a contribuir. E travestido de ajudante de ordens, executor, escudeiro e outras deno minações tão ou mais degradantes quanto essas (pelo menos, sob este ponto de vista). Uma situação não muito agradável para um profissional com um perfil de nível superior, deve-se convir ... O que acima foi dito leva, preliminarmente, à necessidade de es tabelecer uma premissa básica, sem a qual toda a discussão que se pretende fazer a seguir perderá sua razão de ser: o bibliotecário tem algo a dizer no que se refere à seleção de materiais para as bibliot� cas (se alguém não concordar com isso, fará melhor em fechar o li vro nesse momento e sair para comer uma pizza ... ). Como funda mento a essa premissa, �evem-se salientar dois pontos: 6 1) o bibliotecário conhece, ou deveria conhecer, o acervo sob sua responsabilidade, sabendo melhor do que ninguém em que aspec tos ele está fraco, em que aspectosele está forte, em que aspectos ele atingiu um estágio ideal de desenvolvimento; 2) o bibliotecário conhece, ou deveria conhecer, o usuário cujas necessidades informacionais tem por obrigação procurar atender, sabendo avaliar objetivamente suas demandas e diferenciando as que têm características mais duradouras, ligadas a necessidades reais, das que são ditadas por tendências esporádicas, influência dos meios de comunicação de massa ou de modismos. Estes deveriam ser argumentos suficientes para que os bibliote cários participassem mais ativamente no processo de seleção. Na realidade, devido aos senões apontados, isto acaba não acontecendo. Nem todos os profissionais conhecem suficientemente bem o acervo sob sua responsabilidade, de modo a poderem tomar decisões eficien tes a respeito de inclusões ou exclusões que poderiam ou deveriam ser feitas nesse acervo. O mesmo se pode afirmar em relação aos usuários: em número de vezes maior que o desejado, não passam de ilustres desconhecidos para os bibliotecários. As exceções vão sem pre dizer respeito àqueles usuários mais assíduos à biblioteca, que acabam se transformando, bem ou mal, no parâmetro para todos os outros. Nesses casos, a exceção é vista como se fosse a regra e as decisões acabam muitas vezes tendo-a por base. Desnecessário enume rar a variedade de distorções que podem originar-se de uma prática como essa. As bibliotecas já são um testemunho por demais gritante. Mas que não se entenda erradamente o que aqui se propõe: não se está defendendo a participação única e exclusiva do bibliotecário na seleção, alijando todos os usuários, como se eles não tivessem, por sua vez, nada a colaborar para o processo. Isto seria excesso de ra dicalismo, algo parecido com levantar a bandeira da 'biblioteca para os bibliotecários' que muitas vezes está por trás de um corporativismo malintencionado e/ou idiota. Absolutamente. Os usuários devem atuar no processo de seleção e em muitos casos será deles a decisão final. O bibliotecário deverá sempre participar com seu conhecimento da coleção, propondo uma direção coerente para o acervo e gq.rantindo, assim, que os objetivos para ela estabelecidos não se percam com o passar do tempo. Sua participação é essencial para evitar que a cole- 7 ção se transforme em um agrupamento mais ou menos desajeitado de documentos que nem sempre têm muita coisa em comum. Parece também evidente que ao bibliotecário deve caber a orga nização da seleção de maneira racional e eficiente, estipulando re gras, definindo critérios ou estabelecendo responsabilidades. Assim, mesmo quando não é ele quem diz o sim ou o não definitivo, sua presença faz-se sentir durante todo o processo. Talvez se possa afir mar que, no que diz respeito à seleção, uma das melhores contribui ções do bibliotecário esteja em sua capacidade de coordenar deman das e necessidades conflitantes, de maneira a garantir que o resulta do final seja o mais harmonioso possível. Neste sentido ele é, acima de tudo, um negociador. Talvez o exemplo mais característico desta função de negociador do bibliotecário seja a atividade de seleção desenvolvida em bibliote cas especializadas ou mesmo universitárias. No Brasil, ao contrário de outros países, o bibliotecário não é um especialista na área em que atua. Isto equivale a dizer que um profissional que trabalha em uma biblioteca especializada em biologia ou medicina, por exemplo, não tem conhecimento forma], especializado, dessas áreas. Por melhores intenções que possua, ele é, usando-se uma expressão popular, ape nas um leigo no assu,nto. E provavelmente jamais passará disso, em bora os anos de experiência possam vir a trazer-lhe, de modo mais ou menos eventual, um razoável conhecimento da literatura da área em que atua. Mesmo querendo ser o mais otimista possível, é difícil acreditar que possa ir muito além disso. Daí ser possível afirmar que a melhor contribuição que o bibliotecário poderá prestar ao usuário especializado será a de coordenar as diversas demandas ou necessi dades existentes, balanceando o acervo segw1do a importância rela tiva dos assuntos, priorizando a seleção em função dos projetos em· desenvolvimento na instituição ou dos cursos existentes, atuando em conjunto com wna comissão de seleção composta por especialis tas nos assuntos representados no acervo. Nos casos em que a decisão final de seleção não pertença ao bi bliotecário, será necessário que ele tenha um conhecimento bastante preciso dos procedimentos adotados nesse processo, de modo a poder defender as necessidades da coleção. Talvez até se devesse dizer: é exatamente quando não possui o poder da decisão final que o biblio tecário deve ser ainda mais zeloso em suas preocupações com o de- 8 senvolvimento da coleção. A experiência mostra que os usuários ten dem a enxergar de maneira bastante limitada o acervo, estabelecen do suas necessidades pessoais mais imediatas como o parâmetro de todas as decisões sobre a coleção. O bibliotecário tem condições de ir muito mais além. A objetividade no processo de seleção é uma meta sempre alme jada. Sem ela, existe o risco de surgirem acusações de favoritismo ou ineficácia da parte de cada usuário que não se sinta satisfeito com a escolha efetuada. Para fazer frente a essas acusações, a única alternativa é demonstrar que os materiais foram incluídos no acervo segundo parâmetros objetivos de qualidade ou de necessidade. Nem sempre isso será fácil de realizar. Por trás de tudo estará a questão de definir, entre os milhares ou milhões de materiais de in formação que são lançados no mercado, quais os melhores para uma biblioteca específica. Não simplesmente definir quais os melhores mas, isto sim, quais os melhores para um determinado conjunto de usuários, alvo de uma coleção já existente (ou não). Na raiz dessa questão estará embutida a necessidade de conhecer a fundo essa comunidade a cujas necessidades aquele conjunto de documentos deve atender. Na raiz dessa questão está, também, a compreensão de que a atividade de seleção não é realizada no vazio, mas efetuada dentro de um determinado contexto sociocultural, com tensões, ambivalências, disputas e negociações. Não há como fugir dessa realidade. Da mesma forma, é virtual mente impossível abolir a atividade de seleção das bibliotecas. Não existem nem existirão recursos financeiros suficientes para adquirir, físicos para acomodar, ou humanos para processar a quantidade de materiais que invariavelmente chegaria às bibliotecas, por mais espe cializadas que fossem. Mesmo que se admitisse a hipótese absurda de obter todos os materiais sem despender diretamente um único centavo, por meio de doações, as outras dificuldades continuariam presentes. Não há como fugir da seleção. O sonho da biblioteca de Alexandria cada vez mais se configura como apenas isso: um sonho. Bonito, sim. Maravilhoso, talvez. Mas, ainda assim, um sonho. Alguns bibliotecários argumentarão que essa história de organi zar o processo de seleção parece coisa de teórico: na prática, no dia a-dia, não se tem tempo para tanta elucubração, pois as decisões têm que ser tomadas rapidamente. Não há tempo para estabelecer 9 critérios, por mais positivos que sejam. Não há tempo para avaliar as diversas alternativas, por mais que isto seja necessário. Não há tempo para a discussão nem para formar comissões, por mais que isto seja aconselhável. Às vezes, tudo tem que ser decidido quase num estalar de dedos para não se perder a possibilidade de utilizar uma verba destinada à aquisição; não fazer isso significaria perder esse valor na dotação orçamentária do ano seguinte, e não dá para se correr esse risco. Outras vezes, não é possível interromper as demais atividades da bibJjoteca para verificar um a um os itens de uma doa ção, escolhendoapenas os que interessam de fato ao acervo. Tudo isso é e não é verdade. Dizer que não se dispõe de tempo para estabelecer critérios de seleção é uma falácia porque, na maio ria das vezes, a falta de critérios também obedece a um critério, que não interessa ao profissional elucidar. Afirmar que os prazos para utilização de certas verbas são irrevogáveis pode até ser uma boa justificativa, mas sua credibilidade é prejudicada quando utilizada durante anos e anos (afinal, não existe nada mais previsível que a imprevisibilidade das verbas ... ). E dizer que a sistematização do pro cesso de seleção é preocupação de teóricos parece ser uma maneira de evitar tomar uma posição, preservando-se uma prática que pre tende justificar-se por si mesma. Não é verdade que as bibliotecas funcionem ou possam funcio nar sem a utilização de critérios de seleção. Bem ou mal, eles exis tem. Uma biblioteca que só armazena livros já tem um grande crité rio de seleção estabelecido, bastando apenas refiná-lo. O mesmo acon tece com a que armazena livros e periódicos, ou livros e discos, ou livros e filmes, e assim por diante. Pode-se afirmar que existe uma gradação de critérios de seleção, alguns mais amplos do que outros. Muitas bibliotecas limitam-se ao estabelecimento de grandes critéri os gerais, ligados ao tipo de publicação ou a grandes abrangências temáticas. Do mesmo modo, pode-se afirmar que há uma decisão ou um critério de seleção por trás de cada documento da biblioteca, como se cada um fosse o testemunho vivo da atividade de um pro fissional, de sua preocupação, ou descaso, com o usuário ou com seu papel de intermediador entre o universo do conhecimento e a comunidade. Como dito acima, a falta de critérios não deixa de ser um critério também ... A questão principal é deixá-lo em evidência. Não, absolutamente, negá-lo. 10 2 Considerações gerais que influenciam a seleção EM MUITOS CASOS, a própria área de atuação da biblioteca implica um critério de seleção. Basta fazer uma relação das várias denomi nações que indicam a especialização das instituições bibliotecárias: biblioteca de química, biblioteca de física, biblioteca de comunica ções e artes, biblioteca de arquitetura, etc. Tem-se, então, uma pri meira grande subdivisão, ou, melhor dizendo, um grande critério de seleção: o assunto. Outro tipo de especialização, muitas vezes presente na denomi nação que as bibliotecas adotam, refere-se à definição do usuário. Estabelecer uma biblioteca infantil implica a seleção de títulos ade quados a esse público. Mais uma vez, tem-se um primeiro grande critério de seleção: a clientela. Os exemplos poderiam continuar por páginas e páginas, mas, para os objetivos pretendidos, já são suficientes, ou seja, demonstrar que existe uma graduação de critérios de seleção, de grandes (ou amplos) a específicos. Isto, em princípio, não parece ser uma noção de muito difícil entendimento para os bibliotecários, principalmen te se lembrarmos dos sistemas de classificação decimal, os tão co nhecidos sistemas Dewey e cou, que trabalham com este conceito na divisão do conhecimento humano, partindo do geral para o especí fico. Outra comparação possível é com uma corrida de obstáculos. Imaginemos todos os documentos competindo para atingir um de terminado objetivo (sua inclusão no acervo) e tendo que ultrapassar certos obstáculos que existem no caminho (os critérios de seleção). Alguns serão bem-sucedidos, vencendo todos os obstáculos que lhes foram colocados. Outros tropeçarão e terão que ser excluídos da 11 competição. Como em uma corrida verdadeira, na medida em que as dificuldades vão ficando mais complexas e as exigências se tor nando mais rígidas, maior é o número de candidatos que não conse guem chegar ao final. Esta pode parecer uma maneira meio irreverente de descrever a atividade de seleção em bibliotecas. Mas, na prática, não foge muito disso. A questão principal está na colocação dos obstáculos/critérios de seleção corretos. Se forem fáceis de ultrapassar, é provável que seja grande o número dos que alcançarão o objetivo final, e talvez isto cause problemas no futuro com a acomodação ou mesmo ma nutenção dos vencedores. Se os critérios forem rígidos, poucos se rão bem-sucedidos, o que pode gerar dificuldades de disponibilida de dos materiais. Infelizmente, não há uma solução simplista. Como em uma verdadeira corrida, cada caso tem suas peculiaridades de percurso, de competidor, de público, etc. Não existem respostas fá ceis. Antes de se entrar propriamente na problemática da elaboração de critérios (que será tratada com detalhes no próximo capítulo), é necessário refletir um pouco sobre os fatores gerais que influenciam o processo de seleção. Nunca é demais salientar que, entre outras coisas, a forma de abordar esse processo será diretamente influencia da pela tipologia da biblioteca. Em bibliotecas especializadas, a pri meira questão a ser respondida estará ligada à definição temática do acervo, enquanto que em bibliotecas públicas ela se ligará à defini ção da comunidade, caracterizando-se os usuários reais e os poten ciais, ou, indo mais além, os usuários preferenciais. No caso das pri meiras, o processo de seleção começará com a definição dos grandes assuntos que deverão estar representados no acervo. Mas mesmo quando a caracterização do usuário é o ponto de partida, o processo de seleção não poderá deixar de inicialmente considerar os grandes grupos de assuntos. Essas duas considerações estão praticamente juntas. Essa breve discussão leva necessariamente a se questionar sobre a existência de procedimentos comuns à seleção de materiais, que estariam necessariamente presentes em qualquer tipo de instituição bibliotecária. Na realidade, esses procedimentos existem. Todas as bibliotecas iniciam o processo de seleção com considerações abran gentes, que são depois refinadas e adequadas a cada uma delas em 12 particular. Essas considerações vão se referir ao assunto, ao usuário, ao documento em si e a seu preço. A ordem em que essas considera ções são feitas poderá variar, e em muitos casos elas são colocadas simultaneamente. Mas estarão presentes, de modo indispensável, em todas as bibliotecas. Entenda-se, portanto, que a ordem em que são enfocadas neste livro obedece apenas a uma distinção metodo lógica e não de importância. O assunto Uma das primeiras considerações a serem feitas na seleção de mate riais em bibliotecas enfocará a problemática do assunto, a fim de verificar se os materiais passíveis de incorporação ao acervo (em princípio, todo o universo do conhecimento já registrado em algum tipo de suporte) estão ou não incluídos nos parâmetros gerais de assunto ou áreas de cobertura da coleção. É muito difícil encontrar bibliotecas que não façam alguma restrição quanto aos assuntos tra tados nos documentos que devem fazer parte do acervo). Em segui da, traçam-se as prioridades de coleta para esses assuntos. O estabe lecimento dessas prioridades, que poderia ser encarado como um refinamento do critério inicial, tornar-se-á necessário devido à im possibilidade material de selecionar da mesma maneira todos os assuntos de interesse. Da mesma forma, será necessário, em um momento posterior da atividade de seleção, definir os assuntos que sejam considerados afins à área de atuação da biblioteca, que terão uma representação mínima em seu acervo ou poderão estar dispo níveis em outros lugares, a serem previstos, como uma alternativa de acesso. O usuário As considerações quanto às características do usuário real ou poten cial estão diretamente ligadas à definição do benefício que cada material incorporado ao acervo poderá trazer à comunidade a que a biblioteca almeja servir. Em geral, essas considerações iniciais esta rão ligadas a uma primeiraavaliação da adequação ao usuário do material a ser selecionado. Pouco adiantará possuir materiais de altíssima qualidade que jamais despertarão qualquer interesse e fi- 13 carão mofando nas estan!es, gerando despesas com manutenção, lim peza, acomodação, etc. E sempre bom lembrar a anedota sobre uma biblioteca pública do interior que possuía, lindamente encadernada em couro de primeira qualidade, a coleção completa das obras de Goethe ... em alemão gótico. Enfim, a resposta correta a essa questão envolve um conhecimento bastante aprofundado dos usuários, suas características e preferên cias. Esse conhecimento não deve ser confundido com a familiarida de superficial que se adquire em relação a usuários mais assíduos, cujos interesses o bibliotecário acaba conhecendo mais detalhada mente que os daqueles usuários não tão assíduos (ou tão comunica tivos). Deve-se tomar cuidado para não confundir os interesses de alguns com os interesses de todos, procurando-se definir mecanis mos que permitam não só a avaliação global dos usuários mas que impeçam, também, o aparecimento de favoritismos. Neste caso, evi dencia-se a ligação da seleção com outra atividade do desenvolvi mento de coleções, o estudo de comunidade. O documento Cada documento desempenhará um papel no conjunto do acervo. Neste sentido, a terceira pergunta a ser feita nos procedimentos ini ciais de qualquer processo de seleção buscará uma definição precisa da necessidade de cada documento. Em outras palavras, o bibliote cário deverá responder (a si mesmo) se a coleção dispõe de material sµficiente sobre o assunto em causa, ou tipo de documento em par ticular, e, em caso afirmativo, se necessita de mais. Isto implicará uma avaliação anterior do acervo, por mais elementar que ela seja, sem a qual a resposta será um mero palpite. Fica claro que é preciso desenvolver mecanismos, ainda que mínimos ou rudimentares, que permitam ao responsável pela biblioteca um conhecimento objetivo do acervo no que concerne tanto à distribuição dos assuntos como à sua representatividade em relação com o número de usuários, de cursos ou disciplinas, de linhas de pesquisa, etc. Também neste caso torna-se evidente a ligação da seleção com outra atividade do de senvolvimento de coleções: a avaliação de coleções. 14 O preço A quarta consideração dirá respeito ao custo do material: o bibliote cário terá que definir se a biblioteca tem condições de arcar com o custo de cada documento. Sabendo-se que os recursos disponíveis para aquisição não são inesgotáveis (na realidade, raramente são suficientes) torna-se imprescindível definir quanto a biblioteca pode comprometer-se em relação ao preço do material. A experiência - mostra que esta exigência, pelo menos no Brasil, acaba deixando fora da coleção grande parte dos documentos. Mesmo, porém, em países com mais recursos financeiros para as bibliotecas, as duas coisas es tão ficando cada vez mais pr,óximas devido ao aumento do preço dos materiais bibliográficos. E conveniente desenvolver algum tipo de sistema de avaliação que permita comparar o custo do documento com o provável benefício que ele trará ao conjunto do acervo e aos usuários, interligando-se, então, todas as considerações anteriormen te feitas. Mais especificamente, fica clara aqui a relação da seleção com a atividade de aquisição de materiais. Questões complementares Outras duas considerações podem ser feitas no sentido de dimensio nar corretamente as anteriores. A primeira diz respeito à probabili.::--, dade de que o material selecionado possa vir a ser alvo potencial de \ vandalismo, furtos ou rnublações, bem como gerar objeções por parte dos usuários devido à sua incorporação ao acervo. Não é uma ques tão que leve necessariamente à recusa de seleção mas representa, 1 sem dúvida, fatos a serem pesados na decisão. Um material muito valioso acarretará custos adicionais, com respeito à sua segurança, que talvez a biblioteca tenha dificuldades para cobrir; custos que, na realidade, são superiores ao preço da compra. Materiais sobre as suntos polêmicos também podem trazer mais problemas do que J benefícios à biblioteca, devendo ter sua necessidade para o acervo cuidadosamente estudada, visando urna decisão mais objetiva a seu respeito. A última consideração concerne a urna primeira estimativa de qualidade do material selecionado. Nem sempre o bibliotecário tem informações suficientes que lhe permitam determinar ou ao menos 15 fazer uma estimativa da qualidade dos documentos. Para tentar fa: zer essa avaliação, deverá utilizar todos os dados disponíveis, seja no próprio material (orelha do livro, apresentação, índice, biblio grafia, etc.) e da opinião de especialistas. Todas essas considerações são feitas cotidianamente no processo de seleção. São realizadas, depois de um certo tempo, quase que automaticamente - pode-se até dizer inconscientemente, - na me dida em que são incorporadas à rotina de trabalho. O que não garan te que sejam infalíveis. É importante, aliás, salientar que infalibili dade é algo que jamais existirá na seleção; esta é sempre um trabalho de aproximação, buscando-se dados objetivos que permitam prever a importância futura do documento para o usuário e para a coleção. Um correto estabelecimento de critérios de seleção contribuirá para que essas previsões sejam realizadas da forma mais acurada possí vel, mantendo-se o aparecimento de erros em níveis aceitáveis. Mas isto já é assunto para outro capítulo. 16 3 Em busca de critérios de seleção A LITERATURA ESPECIALIZADA está repleta de critérios, muitas vezes repetitivos e mesmo contraditórios, destinados ao julgamento dos materiais a serem selecionados. De todo modo, eles visam guiar o bibliotecário no trabalho periódico de seleção, garantindo a coerên cia do acervo no transcorrer do tempo. Graças ao conjunto de _crité:_ rios de seleçffeo, comumente denominado política de seleção, é possí vel manter um direcionamento racional para a coleção à medida que os profissionais se incorporam ou se afastam da equipe de trabalho. A política de seleção procura garantir que todo material seja incor porado ao acervo segundo razões objetivas predeterminadas e não segundo idiossincrasias ou preferências pessoais. Igualmente, é ela que garante que as lacunas existentes no acervo não são fruto do descaso ou ineficiência do profissional responsável pela seleção, mas se coadunam com o processo de planejamento vigente na institui ção bibliotecária, sendo coerentes com os propósitos e objetivos es tabelecidos para sua atuação. Antes de· entrar propriamente nos critérios de seleção, é impor tante fazer urna advertência: a organização da atividade de seleção mediante o estabelecimento de critérios só é eficiente quando todos os envolvidos trabalham de modo racional, dispostos a discutir ob jetivamente a aplicação ou aplicabilidade desses critérios. Na medi da em que os envolvidos na problemática da seleção afastam-se do racional, mergulhando no terreno do passional ou do autoritarismo, os critérios de seleção tornam-se cada vez mais inócuos. Não existe critério de se)eção que possa anular ou dissuadir uma autoridade superior firmemente decidida a fazer valer a sua vontade ... ou um bibliotecário disposto a imprimir seus preconceitos pessoais ao acer vo sob sua responsabilidade. Neste sentido, os critérios consubstan- 17 ciados na política de seleção devem ser vistos como uma espécie de constituição: não existe nenhuma que consiga resistir a g�)Vernantes com disposição e força suficiente para desrespeitá-la. E claro que isto nunca foi razão para que as constituições não fossem elabora das; da mesma forma, a prepotência de autoridades superiores tam bém não é razão para que os critérios de seleção não sejam elaborados. É nesses momentos que são ainda mais necessários, visando tornar evidente o exercício da prepotência. Antes de mais nada, é preciso esclarecer que os critérios que se rão relacionados a seguir são apenas uma sugestão. Cada profissio nal deverá procurar desenvolver os critérios mais apropriados para a coleção pela qual é responsável, que poderão ou não incluir os que forem aqui citados. Utilizando uma comparação não muito criativa, pode-se afirmar que desenvolver uma coleção é corno organizar um guarda-roupa pessoal: cada um tem critérios próprios para definir as vestimentas que dele farão parte e esses critérios variarão segun do características individuais, como altura, peso, etc. Os critérios sugeridos não são uma fórmula passível de generalização, mas ape nas algumas das muitas possibilidades existentes. Assim devem ser encarados. A literatura especializada costuma apresentar uma grande varie dade de critérios. Às vezes a diferença entre alguns é mínima, ape nas uma questão de enfoque ou preferência terminológica. Neste · texto, os critérios foram organizados de modo a que pudessem ser mais bem assimilados didaticamente, mesmo com o risco de classi ficar um ou outro de forma inadequada. Assim, considerando-se os objetivos deste livro, optou-se por.agrupar os muitos critérios utili zados na seleção de materiais em bibliotecas, citados na literatura especializada, segundo o tipo de enfoque por eles adotados: Critérios que abordam o conteúdo dos documentos Autoridade. Busca definir a qualidade do material a partir da repu tação de seu autor, editora ou patrocinador. Baseia-se na premissa de que o fato de um autor ter produzido materiais de qualidade no passado é um indicador razoavelmente confiável de sua produção futura. Da mesma forma, algumas editoras costumam notabilizar-se pela qualidade dos materiais que editam, funcionando como um ín- 18 dice de confiabilidade do conteúdo dos documentos. Com a prática, o bibliotecário aprenderá a identificar as editoras de excelência nas áreas de interesse da biblioteca, geralmente as que contam com edi tores ou comissões editoriais de reconhecida competência, e fará a seleção desses materiais quase que de forma automática. Por exem plo, sabendo-se, que as editoras Facet Publishing, Libraries Unlirnited e Scarecrow Press são bastante conceituadas nas áreas de biblioteco nomia e ciência da informação, o fato de um livro ter sido publicado por alguma delas irá pesar favoravelmente na sua avaliação. O mes mo pode ser afirmado em relação a documentos patrocinados por instituições de destaque em sua área de atuação. Documentos pa trocinados por instituições como a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) ou a Organização das Na ções Unidas para Educação, Ciência e Cultura (uNEsco) costumam ter bom nível, merecendo, em princípio, uma avaliação favorável. Cada biblioteca deverá identificar essas instituições ou editoras de prestígio, cujos nomes funcionam como aval dos materiais a que dão origem, e fazer com que essas informações estejam disponíveis aos responsáveis pela seleção dos materiais, constando do documento de política de seleção. É claro, no entanto, que não existem garantias suficientemente seguras em relação a este critério. O fato de uma editora ter publica do dezenas de obras de altíssima qualidade, gozando de uma sólida reputação no mercado, não quer dizer que todos os materiais que ela publicar terão o mesmo nível. Revistas especializadas costumam utilizar um sistema de rodízio com relação a·seus editores responsá veis, mudando-os periodicamente; isso, muitas vezes, pode impli car queda da qualidade dos artigos. -P Precisão. Visa evidenciar o quanto a informação veiculada pelo documento é exata, rigorosa, correta. Para analisar um documento sob este ponto de vista, o bibliotecário precisará muitas vezes da opinião de um especialista, pois nem sempre a imprecisão está tão evidente quanto se desejaria que estivesse. Lembro-me de uma obra enciclopédica sobre histórias em qua drinhos, aparentemente exata, que, à primeira vista, deixou-me bas tante impressionado; no entanto, wna leitura atenta evidenciou er ros primários. Fiquei assustado ao ler ali que um amigo desenhista 19 de histórias em quadrinhos, com quem estivera na semana anterior, havia morrido fazia mais de dois anos ... Imparcialidade. Procura verificar se todos os lados do assunto são apresentados de maneira justa, sem favoritismos, deixando cla ra, ou não, a existência de preconceitos. Deve-se ter em mente, no entanto, que esta imparcialidade poderá, ou não, ser pré-requisito necessário para inclusão na coleção. Muitas vezes, obras não-imparciais representam uma visão al ternativa de um determinado assunto, funcionando como uma es pécie de contraponto a obras já existentes no acervo. Outras vezes, obras aparentemente imparciais disseminam veladamente precon ceitos contra determinadas camadas da sociedade, como minorias étnicas, de gênero, orientação sexual, etc. Durante muito tempo, por exemplo, acreditou-se que os livros didáticos eram obras imparciais, pois se limitavam a funcionar como instrumentos para a transmis são de conhecimentos considerados específicos para fins educacio nais. Análises realizadas por pesquisadores conceituados, entre os quais se pode destacar Umberto Eco, mostraram que essa certeza não passava de uma grande falácia. A imparcialidade nem sempre é algo muito fácil de ser definido e, acima de tudo, pode ser encarada tanto de um ângulo negativo (disseminação de preconceitos sociais) como positivo (exteriorização de pontos de vista minoritários). Cada profissional definirá a me lhor maneira para, no contexto de seu campo de trabalho específico, abordar essa polêmica questão. Atualidade. Urna informação desatualizada perde muito de seu valor. Para bibliotecas onde a atualidade dos dados tem muita im portância, este critério é decisivo. É itnportante ter esse fato bem claro, pois afetará diretamente a atividade de seleção. A velocidade com que as informações se desatualizam varia con forme a área de conhecimento em que a biblioteca atua. Documen tos de algumas das chamadas ciências exatas, como a computação, se desatualizam rapidamente. Por isso, os bibliotecários das áreas de ciências exatas necessitam estar bastante atentos a este critério, visando minimamente acompanhar o ritmo com que novas tecnolo gias surgem e desaparecem. Nas ciências humanas, obras 'antigas' 20 costumam ser muito valorizadas pelos pesquisadores, por constituí rem uma contribuição já reconhecida e incorporada ao conhecimen to (daí, provavelmente, a importância maior que as ciências huma nas dão às obras monográficas). Convém, por exemplo, estar alerta para mudanças políticas e es truturais na sociedade moderna, que fazem com que mapas ou enci clopédias recentes logo percam sua atualidade. As mudanças ocor ridas ao longo da última década do século xx e na primeira década do século xx1 no Leste europeu, por exemplo, demonstram o adven to de modificações surpreendentes, que afetam o trabalho de todos que têm o fornecimento de informações fidedignas entre suas obri gações profissionais. No trabalho de seleção, os bibliotecários deverão manter-se aten tos a trabalhos que se apresentam como edições atualizadas ou re vistas de obras já publicadas, procurando avaliar de maneira objeti va quanto da informação contida nesses documentos é realmente informação nova e não a mesma anteriormente divulgada, apenas em uma diferente apresentação. Cobertura/Tratamento. Refere-se à forma como o assunto é tra tado. Na aplicação deste critério, o bibliotecário distinguirá: • se o texto entra em detalhes suficientes sobre o assunto ou se a abordagem é apenas superficial; • se todos os aspectos importantesforam cobertos ou alguns foram tratados ligeiramente ou deixados de fora. É importante salientar que também neste caso não existe resposta fácil. O fato de um documento não realizar a cobertura total de um assunto ou fazer um tratamento apenas superficial não significa que não possa vir a ser de interesse para determinado acervo. A especifi cidade da clientela e/ou coleção deverá ser levada em conta, pois este critério pode ser utilizado de uma forma por uma biblioteca e de forma totalmente diversa por outra. Muitas vezes, para correta aplicação deste critério, é importante contar com a colaboração de um especialista. 21 Critérios que abordam a adequação ao usuário Conveniência. Intimamente ligado ao critério de cobertura/tratamen to. Procura verificar se o trabalho é apresentado em um nível, de vocabulário e visual, que seja compreensível pelo usuário. Em geral, neste critério são levantados aspectos relativos à idade dos usuários, desenvolvimento intelectual, etc. Na aplicação deste critério, fica evidente quanto é necessária a interação do bibliotecário com seu público: para analisar correta mente o documento, será preciso que o profissional tenha conheci mento profundo do usuário cujas necessidades informacionais pro cura atender, conseguindo determinar de modo exato suas limita ções e potencialidades. Pouco adiantará colocar no acervo itens ina dequados para o tipo de utilização pretenruda ou que é efetuada pelo usuário. Por exemplo, se o objetivo de um texto para a bibliote ca for atender à realização de trabalho em grupos, ele deve ser ade quado para isso, tanto em termos físicos e de conteúdo . Idioma, Trata-se de definir se a língua do documento é acessível aos usuários da coleção. Em muitas bibliotecas esta análise é facilmente realizada por não existir tão grande diversidade de publicações em sua área de inte resse e nem grupos de usuários com necessidades linguísticas espe cíficas. Em algumas bibliotecas especializadas, no entanto, esta veri ficação da língua de publicação terá necessariamente que ser feita item por item, assunto por assunto. Relevância/Interesse. Busca definir se o documento é relevante para a experiência do usuário, sendo-lhe de alguma utilidade. Da mesma forma, tenta-se verificar se o texto tem condições de desper tar sua imaginação e curiosidade. Alem de, como nos dois critérios anteriores, implicar a necessi dade de um conhecimento mais aprofundado dos usuários, não se ria exagero dizer que' este critério exigirá do bibliotecário algum conhecimento das características dos textos literários e técnicos. Ou, melhor dizendo, um interesse pessoal pela leitura. 22 Estilo. Muitas vezes o estilo utilizado não é apropriado ao as sunto ou ao objetivo do texto. Este critério procura verificar este fato, bem como constatar se ele é adequado ao usuário-alvo. Ninguém, por exemplo, porá em dúvida a excelência do estilo de Machado de Assis, mas é bastante discutível a adequação de alguns de seus li vros, corno Dom Casmurro ou Memórias póstumas de Brás Cubas, a uma clientela infanta-juvenil. Critérios relativos a aspectos adicionais do documento Características físicas. Abrangem os aspectos materiais dos itens a serem selecionados. Na aplicação deste critério, o bibliotecário, em face do uso pre tendido para o material e as características dos usuários, verificará se os caracteres tipográficos foram bem escolhidos, têm boa legibili dade, tamanho apropriado, etc. Verificará se a encadernação é resis tente para o uso em biblioteca, fazendo, inclusive, uma estimativa de sua durabilidade e das possibilidades ou necessidade de futuros reparos. Analisará também a qualidade do papel, submetendo-o a escrutínio semelhante ao da encadernação. As características físicas são muito importantes para materiais com previsão de alta demanda ou dirigidos para públicos específi cos. Em certos países, existe uma florescente indústria editorial dirigida para a população de terceira idade, com livr?s iI:1'1pr�ss�s em formato grande e com letras aumentadas. No Brasil, a mdustna de livros infantis tem procurado utilizar material resistente e ade quado para crianças, podendo-se apontar a produção de livros in fantis em plástico, pano, etc. Aspectos especiais. Neste item analisam-se a inclusão e a quali dade de bibliografias, apêndices, notas, índices, etc. Enfim, todos os elementos que contribuem para melhor utilização do documento. Às vezes, mais que constatar a existência desses elementos, será ne cessário avaliar se valorizam a obra e não constituem apenas um fator totalmente supérfluo para suas finalidades. Contribuição potencial. Este critério leva em consideração a co leção já existente, na qual o documento a ser selecionado deverá ocu par um lugar específico. 23 Material algum será incorporado ao acervo por simples inércia, mas para torná-lo mais completo. Assim, é preciso que cada item seja analisado do ponto de vista de sua relação com os demais, veri ficando-se quanto contrabalança outros trabalhos, trazendo uma perspectiva diferente e enriquecedora ao acervo, ou se simplesmente se soma ao que existe, gerando redundância de informações. Esta verificação será importante para se ter uma estimativa de uso futuro. Custo. Presumindo-se que a consideração inicial sobre a possibi lidade de a biblioteca arcar com o custo do material tenha sido reali zada e seja positiva, este critério procurará identificar alternativas financeiramente mais compensadoras para a biblioteca. Verificará se há edições mais baratas (encadernações simples, miolo em papel inferior ou edições de bolso), tomando cuidado para não afetar al guns dos critérios anteriores. Também são analisados outros fatores que, indiretamente, acabam afetando o custo total da obra para a instituição. Por exemplo, os custos com processamento técnico, ar mazenamento, segurança, etc. É conveniente que o bibliotecário procure definir um sistema de avaliação capaz de lhe informar com razoável confiabilidade o quanto é mais barato adquirir um material e incorporá-lo ao acervo, ao in vés de solicitá-lo por empréstimo a outra biblioteca, quando neces sário. Cada vez mais, a acessibilidade aos documentos por meio do intercâmbio com outras instituições torna-se uma alternativa viável à sua disponibilidade física. Estes são apenas alguns dos critérios comumente utilizados para avaliação de documentos no processo de seleção. Existem vários outros (dois autores norte-americanos, Mary Carter e Wallace Bonk, em Building library collections, chegam a relacionar mais de 150). Des necessário citar todos os critérios já utilizados ou mesmo apenas imaginados; independentemente disso, cada profissional terá que se defrontar, em algum mornento, com a necessidade de estabelecer seus próprios critérios. Importante é salientar que os critérios suge ridos neste livro são apenas indicativos e nem sempre podem ser aplicados a todos os documentos; sua aplicação dependerá do mate rial que se está analisando. Em obras de ficção, por exemplo, critéri os como a representação de um importante movimento, gênero lite rário ou cultura nacional, bem como características de originalidade 24 e apresentação artísticas são pontos que devem ser considerados. Em obras de não-ficção, por outro lado, a objetividade e clareza de apresentação acabam assumindo prioridade sobre outros aspectos. Os critérios de seleção aqui abordados não se aplicam apenas a Jjvros, mas a todos os materiais. Evidentemente, haverá critérios es pecíficos para certos tipos de documentos. Será preciso elaborar cri térios complementares para a seleção de periódicos, filmes, discos, diapositivo�, etc. Todos devem ser coerentes com os objetivos da biblioteca. E inconcebível, por exemplo, a utilização de critérios deseleção totalmente opostos para livros e periódicos, ou para livros e materiais audiovisuais. 25 4 Seleção de materiais especiais e multimeios PARA AS FINALIDADES DESTE capítulo, são materiais especiais ou multi meios todos os materiais de biblioteca, à exceção dos livros. Assim, aqui se incluem os periódicos em geral (revistas especializadas, jor nais, etc.), os materiais audiovisuais (filmes, discos, fitas cassetes, diapositivos, etc.) e as novas tecnologias (ovos, programas de com putador em cos, etc.). . , Um ponto importante que deve ser colo;ado como pre�1ssa_ a discussão de critérios é que os diferentes ve1culos de comumcaçao não podem ser encarados como adversários em uma grande disputa pela preferência da sociedade. Nenhuma forma d� comunicação con�olida da é imediatamente destruída pelo aparecnnento de novos ve1culos. As formas anteriores modificam-se, têm seu público diversificado e continuam valendo. Estratificam-se. Assim sempre tem acontecido e não há motivos que façam acreditar que isto virá a modificar-se em futuro próximo. Bob Usherwood, em The public library as public knowledge, lembra que, há alguns anos, a televisão !ngles� apresen:ou uma série s,obre o desenvolvimento das tecnologias da mformaçao no fmal do seculo x1x, na qual um bibliotecário respondia a um usuário: "Não, eu não posso verificar em um livro, senhor, ist? é uma biblioteca,, não um museu." Isto evidencia a crença generalizada de que os ve1culos de informação, como os conhecemos atualmente, estão fadados a desa parecer. Há anos se prevê o fim dos livros com o advento d�s no�as tecnologias informacionais, da mesma forma como se prevm o fim do cinema com o aparecimento da televisão, do videocassete e do devedê. A realidade, no entanto, mostrou que as previsões 26 apocalípticas eram exageradas e os antigos meios de comunicação e transmissão de conhecimento continuaram existindo, ainda que com modificações. Há 40 anos, ou talvez menos, Marshall McLuhan pre viu que em 1990 a palavra impressa e sua leitura seriam apenas uma lembrança; muita gente acreditou nele. Ao contrário, a publicação de livros apenas aumentou de lá para cá, incorporando vastas cama das da população à influência da leitura. Cada vez mais, novos espaços de influência são definidos. Esta parece ser a única constatação realmente válida. Muito do que tem sido afirmado pertence apenas ao campo do sonho, da previsão, da futurologia sem garantias de efetividade. No que concerne à área de atuação dos bibliotecários, o mais certo será conceituar a biblioteca como uma instituição armazenadora e disseminadora de informa ções e não de tipos de documentos específicos, pois a variedade des ses tende a multiplicar-se quase que em proporção geométrica. Não se pretenderá tratar da seleção de todos os outros tipos de documentos existentes no mercado. Provavelmente, à época do lan çamento deste texto, ele já estaria desatualizado, havendo muitos outros materiais dos quais não se teria tratado. O elenco a ser apre sentado enfocará alguns dos materiais que já podem, até que com relativa facilidade, ser encontrados nas bibliotecas. Na elaboração de critérios específicos para a seleção desses outros materiais de vem ser buscados critérios mais adequados para cada um, levando em consideração suas peculiaridades. Os critérios de seleção esta rão sempre diretamente ligados ao tipo de material selecionado; por exemplo: o custo total de qualquer obra em multimeio é afetado em muito maior proporção por seu custo de manutenção, do que o cus to de uma obra impressa comum. Periódicos A seleção de uma publicação periódica difere basicamente da de um livro ou monografia no sentido de que na primeira estabelece-se um compromisso com sua continuidade, enquanto que no livro essa decisão se esgota naquele momento. Fora alguns casos específicos, não há razão ·para a biblioteca selecionar apenas alguns fascículos de um periódico. Ela deverá necessariamente adquirir, e provavel mente conservar, o título como um todo, a partir do momento em 27 que optar por ele. No caso dos periódicos, o ato de seleção se repete de tempos em tempos, ao se tomar uma decisão pela continuidade ou pelo encerramento da assinatura. Fica evidente, então, o perigo de se fazer renovação de assinaturas por inércia, simplesmente por que um título vem sendo assinado há muito tempo, sem considerar fatores importantes como o uso ou relevância do título para o usuá rio atual. Esse compromisso com a continuidade acarretará, por exemplo, a necessidade de considerar atentamente as implicações do título para a biblioteca, em termos de utilização do espaço, algo que não é tão essencial quando da seleção de livros. Coleções de periódicos crescem e ocupam um grande espaço; isto é comum em bibliotecas especializadas, pois a informação veiculada em periódicos tem im portância muito grande para seus usuários, em geral pesquisadores que necessitam de informações atualizadas. Vinculada à avaliação do espaço disponível para acomodação dos periódicos está a análise global do custo desse material. Nesse senti do, o valor pago pela assinatura de um título não é o único custo com que a biblioteca está arcando ao optar por sua aquisição; exis tem vários custos, diretos e indiretos, que devem ser consic;Jerados. Mas, só para ficar no preço das assinaturas, é importante salientar que, em se tratando de periódicos científicos, ele tem subido muito acima dos índices inflacionários dos países onde são produzidos. Como uma assinatura de periódico representa um comprometimen to, por tempo indeterminado, de uma percentagem razoável do or çamento da biblioteca, é importante que essa análise de custo seja feita periodicamente. Isto é muito importante com novas assinatu ras, para não permitir que cresça em demasia o investimento da bi blioteca em novos títulos. Em paralelo às análises de ocupação do espaço e custo da assinatu ra, é importante ter-se clareza quanto à utilização futura dos títulos, a fim de avaliar quando vale a pena fazer uma assinatura e quando a melhor opção é solicitar o fasdculo por empréstimo a outra bibliote ca. Neste caso, estatísticas de empréstimo entre bibliotecas podem oferecer subsídios valiosos para a tomada de decisão (é claro que, em caso de títulos recém-lançados esta alternativa fica prejudicada). Julgar a qualidade de um periódico nem sempre é tarefa fácil. Fora a opinião do especialista, sempre uma ajuda indispensável, há 28 outros indicadores que permitem ao bibliotecário uma avaliação satisfatória. Vários desses indicadores constam da contracapa ou das páginas iniciais do fascículo, principalmente em periódicos especi alizados. Um deles é a existência de um comitê editorial, cuja fun ção é apreciar os artigos submetidos a publicação, um dado tido como garantia de qualidade. lsto significa que um artigo, para ser publica do em um periódico que possua comissão editorial, será examinado por um ou vários especialistas, que decidirão se o trabalho atende aos requisitos ou critérios de qualidade estabelecidos. Quando esse comitê é composto por especialistas de instituições ou países dife rentes, supõe-se que a garantia de qualidade seja ainda maior, ca racterizando uma publicação onde não existe endogenia de grupos ou linhas de pensamento. De certa maneira, quando se verifica a existência e composição de comissões editoriais e se considera este dado na seleção de publi cações periódicas, está-se trabalhando com o critério da autoridade: acredita-se que os especialistas da comissão editorial emprestam sua reputação ao periódico. Pode-se dizer que o mesmo critério está sendo utilizado quando, conhecendo-se o rigor com que os títulos são indexados em bases de dados especializadas, aceita-se como subsídio para a tomada dede cisão a presença de um periódico nessas bases. Supõe-se que quanto maior for o número de bases que indexam o periódico, maior será a garantia de sua qualidade. Assim, quando se tem que decidir entre dois periódicos, ambos com o mesmo nível de interesse para a biblio teca, pode-se utilizar, como critério de desempate, o fato de um de les ser indexado por bases de dados da área. Há razões para acredi tar que um periódico indexado terá maior probabilidade de ser utili zado, na medida em que as bases de dados funcionarão como fontes secundárias, permitindo ao usuário ter acesso ao conteúdo dos peri ódicos ali indexados. Ao se utilizar a presença em bases de dados como critério de seleção, deve-se atentar para títulos recentes, para os quais ainda não houve tempo de serem avaliados e indexados em bases de da dos, embora possuam qualidade para isso. Em geral, essas bases, antes de incluir novos títulos, adotam a política de aguardar até que tenham mais elementos para aferir sua qualidade. No caso de periódicos em línguas estrangeiras inacessíveis aos 29 usuários, a presença de um resumo em idioma acessível, em geral o inglês, deve ser considerada na seleção. Leva-se esse dado em conta não apenas porque com o resumo as informações ficam disponíveis e a probabilidade de utilização é maior, mas também porque isso indica que o título propõe-se a uma circulação internacional, uni verso onde as exigências são maiores. Todos esses critérios terão maior aplicabilidade nas bibliotecas especializadas ou universitárias, devido aos objetivos dessas insti tuições e às características específicas de seus usuários. Para biblio tecas públicas deve-se reconhecer que sua utilidade é limitada, pois nem sempre a questão será colocada com tal nível de especificidade, de modo a exigir a aplicação de padrões de qualidade utilizados na avaliação de periódicos científicos. Nelas, os critérios mais relevan tes serão provavelmente os que dizem respeito à adequação dos pe riódicos aos usuários. Histórias em quadrinhos Ultimamente, vem sendo dada grande atenção às histórias em qua drinhos, com a imprensa mundial registrando um incremento no número de artigos, resenhas, reportagens e entrevistas com autores especializados nesse material. Mesmo, e talvez principalmente, em nosso país, uma busca em jornais e revistas revelará um interesse maior em relação às histórias em quadrinhos. Isto, aos poucos, veio influir nas bibliotecas brasileiras, na medida em que o público passoü a buscar essas publicações e solicitar que fizessem parte do acervo. Tradicionalmente, a maioria das bibliotecas sempre manteve os quadrinhos afastados de suas prateleiras. Muitas vezes os bibliote cários partilharam com o público, ou com algumas parcelas desse público, os preconceitos que existiam contra essas publicações. Sabe se hoje que esses preconceitos foram uma das maiores injustiças co metidas contra um meio de comunicação de massa não só legítimo mas também de grande penetração popular. A evolução dos tempos tem mostrado que a maioria das barreiras levantadas contra as his tórias em quadrinhos baseava-se em opiniões preconcebidas, elitistas, carentes de qualquer argumento lógico. Pesquisas sérias e bem-co ordenadas têm colocado por terra todas as alegações de que os qua drinhos levavam as crianças à preguiça mental, afastavam-nas dos 30 estudos, desviavam-nas de salutares hábitos de leitura, prejudica vam seu desenvolvimento intelectual, etc. Por todos esses motivos, parece apropriado refletir um pouco sobre os critérios de seleção queyoderão e deverão ser aplicados a esses materiais. A primeira vista, as histórias em quadrinhos limitar-se-iam às vendidas em bancas de jornais, os tradicionais gibis ( daí o apareci mento de um novo substantivo na área biblioteconômica de língua portuguesa - gibitecas: bibliotecas de histórias em quadrinhos). De fato, os gibis existem em grande número, com enorme variedade de temas e gêneros. Com certeza, constituirão a maioria de qualquer acervo dedicado a esse material; há gibis infantis, adultos, de super heróis, de aventuras, eróticos, pornográficos, etc. O bibliotecário deverá, com base no conhecimento que tem de seu público e na ava liação de suas demandas, definir os gêneros que farão parte do acer vo. As mesmas considerações acerca da disponibilidade de espaço para periódicos, feitas antes, aplicam-se às histórias em quadrinhos. Em geral, talvez seja arriscado optar pela exaustividade em relação ao material quadrinhístico. A produção brasileira, para não falar da norte-americana ou espanhola, é grande, e isto comprometeria, em curtíssimo prazo, a disponibilidade de espaço. É importante que cada biblioteca defina de maneira clara a quais tipos de histórias em qua drinhos irá dedicar seus esforços de coleta e disseminação. Além dos gibis, em geral impressos em papel de qualidade infe rior, de pouca resistência, o mercado também oferece a opcão de álbuns e graplúc novels, publicações muitas vezes de maiores dimen sões e de apresentação mais luxuosa, que são resistentes e duráveis. Nas bibliotecas, onde o manuseio do material será mais frequente, a opção por uma edição em álbum ou graphic novel talvez seja uma alternativa mais viável. Considerações referentes a armazenamento e acomodação, bem como outras relativas ao custo de aquisição, podem reforçar, ou não, esta conclusão. Quanto maior for a variedade de histórias em quadrinhos que a biblioteca incorporar a seu acervo maiores as implicações para os profissionais, em termos de tratamento, recuperação, cuidados es peciais e armazenamento: bem como um conhecimento mais apro fundado desse material. A medida que os quadrinhos são incorpo rados às bibliotecas, maiores se tornam as exigências dos leitores, 31 que passam a solicitar as tiras de jornais, os fanzines (revistas elabo radas por fãs de histórias em quadrinhos), as revistas alternativas, os livros e artigos especializados. Por isso, antevê-se a necessidade de os bibliotecários se familiarizarem com esses materiais, a fim de conhecerem melhor as particularidades e os tipos de suportes em que as histórias em quadrinhos são veiculadas, para poderem for mular critérios adequados para sua seleção. Livros infanto-juvenis As bibliotecas públicas costumam ter uma grande quantidade de materiais de informação voltados para crianças e jovens, principal mente textos de literatura infanta-juvenil. As bibliotecas escolares, ainda que sejam tão poucas no Brasil, também possuem esse tipo de publicação, utilizando-o para o processo didático e incentivo às ati vidades de leitura, e colocando-o à disposição dos estudantes em seus momentos de lazer e entretenimento. O Brasil possui uma grande produção editorial voltada para o público infanto-juvenil, que abrange de livros paradidáticos a textos traduzidos de inúmeros idiomas. O mercado é muito dinâmico, com um fluxo constante de novas produções e autores. Alguns autores atingem vendas estrondosas e são muito solicitados por crianças e jovens nas bibliotecas. Profissionais da informação que atuam junto ao público mais jo vem identificam os autores de maior popularidade pela simples ve-· rificação do estado físico de suas obras, que com frequência exigem reparos e/ou reencadernação e logo atingem tal desgaste que exige seu descarte e substituição (quando isso é possível). São casos fáceis para o bibliotecário responsável pela seleção, pois muitas crianças tendem a ler e reler os títulos e autores que mais lhes agradam, bus cando sempre os mesmos livros ou solicitando que lhes contem re petidas vezes as mesmas histórias, como se a cada vez estivessem reencontrando um velho e querido amigo, em quem confiam e por quem têm especial carinho. A afirmação acima apenas reitera o fato de queprofissionais que atuam na seleção de materiais de informação para crianças e jovens precisam ter um contato bem próximo com seu público, para conhe cer as peculiaridades e idiossincrasias de cada leitor. Não basta co- 32 nhecer sua comunidade por meio de dados estatísticos ou perfis mais ou menos genéricos. É preciso estar no meio do público, conhecer e conversar com crianças e jovens que frequentam a biblioteca, esta belecer um diálogo proveitoso com os pais, avós ou outros parentes que acompanham as crianças, visitar as escolas e discutir com os professores os livros que recomendam. Se, para os bibliotecários isto já é importante, para os responsáveis pela definição dos títulos a que o público infanto-juvenil terá acesso na biblioteca é vital. A in fância e adolescência são os períodos em que se alicerça a formação integral de qualquer indivíduo, e as bibliotecas públicas e escolares podem dar uma grande contribuição nesse sentido, tanto pela pos sibilidade de acesso a materiais informacionais adequados a esse público como pelas atividades que desenvolvem em torno deles. Essa é uma responsabilidade muito grande e não deve ser vista de maneira leviana. Selecionar materiais que atendam às necessida des do público infanta-juvenil está no cerne desta questão, pois a produçã? editorial é muito variada e nem sempre de qualidade apro priada. As vezes, por trás de figuras atraentes e histórias divertidas estão a disseminação de preconceitos e o velado incentivo a discri minações de ordem étnica, cultura] ou social. Os bibliotecários de vem estar atentos a essas obras, familiarizando-se com suas caracte rísticas mais marcantes, que incluem: • a ausência de minorias étnicas, como se a sociedade fosse com posta por urna população homogênea de indivíduos 'brancos'; • a representação negativa das minorias, seja retratando-as como figuras caricatas, seja colocando-as como personagens antipáti cos, quando não são escolhidos como os vilões da história, seja reservando para elas papéis considerados de menor importância social ( como empregadas domésticas, criados, trabalhadores não qualificados, mendigos, etc.); • a colocação da figura feminina em situação de dependência em relação ao homem, tanto em termos econômicos e sociais (a dona de casa que não é responsável pelo sustento da família) como _emocionais (é o homem quem toma as decisões importantes, dei xando para ela apenas as questões que não têm grande significa ção); 33 • representação positiva das classes sociais dominantes, retratadas como pessoas simpáticas, bonitas, felizes e modelos de compor tamento a serem seguidos pelas crianças. Dezenas de outros exemplos poderiam ser citados, mas talvez seja mais interessante deixar aos bibliotecários a tarefa de identificá-los em sua prática diária de seleção. Como subsídio a essa atividade, a leitura do texto de Fúlvia Rosemberg,1 que trata da relação entre literatura infantil e ideologia, e a dos livros de Maria de Lourdes Chagas Deiró2 e Umberto Eco,3 sobre a disseminação de preconcei tos em obras didáticas, pode ser bastante proveitosa. Atenção especial deve ser dada a materiais infanta-juvenis edita dos pela indústria de comunicação de massa, presentes em grande quantidade no mercado. É muito comum que desenhos animados ou seriados televisivos sejam transplantados para o formato impres so, em produções muitas vezes realizadas às pressas, com o simples intuito de tirar o máximo proveito da popularidade momentânea dos personagens (enfim, de lucro, puro� simples). Em geral, o re sultado é pobre, com histórias insignificantes e desenhos abaixo da crítica. Representam apenas o deslavado aproveitamento de ima gens produzidas para outro meio de comunicação, às quais se acres centa um texto que nem sempre consegue lhes dar muita coerência narrativa. Deve-se, no entanto, ter em mente que haverá sempre al gumas exceções a essa regra, e a identificação e incorporação ao acer vo de obras que fujam à mesmice da produção de massa serão uma das tarefas a serem desenvolvidas pelo responsável pela seleção. Alguns dos critérios gerais de seleção citados no capítulo anterior deverão ser objeto de adaptação, quando aplicados a livros infanto juvenis. O critério de autoridade, por exemplo, irá relacionar-se tan to ao autor do texto como ao ilustrador, quando forem diferentes, baseando a decisão de seleção em obras anteriores realizadas indi vidualmente ou em conjunto, ou até mesmo da coleção em que o livro foi publicado (como as séries Vaga-Lume, da editora Ática, e Veredas, da editora Moderna, para apenas citar duas das mais co nhecidas). O critério da conveniência levará em conta a faixa etária da crian ça, analisando a adequação do texto ao desenvolvimento intelectual de seu usuário potencial. Além disso, a avaliação das características 34 físicas dos livros considerará principalmente a resistência do mate rial empregado, dando-se, quando possível, preferência a material mais resistente, de major durabilidade. É importante desenvolver critérios que levem em conta a especi ficidade do público e as características da literatura infanta-juvenil, a relação entre texto e ilustrações, a apresentação gráfica, etc., a fim de estabelecer uma política de seleção adequada. Além dos pontos mencionados, deve-se, sempre que possível, buscar o apoio de especialistas da área, que já desenvolveram parâ metros críticos para julgamento da qualidade da produção editorial destinada a crianças e jovens. Uma comissão especial de seleção, composta por especialistas em literatura infanta-juvenil e por biblio tecários que atendem a esse público, é uma boa alternativa para ga rantir o nível de excelência do acervo. Existem alguns instrumentos auxiliares para a seleção de livros infanta-juvenis produzidos no Brasil. São em geral bibliografias, muitas vezes com resenhas críticas, elaboradas por instituições liga das à área. Nem sempre estão atualizadas ou abrangem muita coisa do imenso universo de publicações infanta-juvenis. Constituem, apesar dessas limitações, fontes valiosas para identificação de itens que devem ser acrescentados ao acervo. Filmes, vídeos e ovos A presença de filmes e vídeos em bibliotecas não é novidade em outros países. Em bibliotecas norte-americanas, principalmente es colares, há muito tempo vem sendo discutida a incorporação de fil mes a seus acervos, salientando-se sua importância no processo di dático-pedagógico. Em paralelo, uma indústria produtora de filmes com essa finalidade desenvolveu-se nos países mais adiantados, aten dendo a um mercado consumidor de dimensões e poder aquisitivo suficientes para justificar sua existência. No Brasil, a utilização de filmes no processo educacional acabou prejudicada por preços muitas vezes proibitivos tanto do material como da aparelhagem necessária à exibição (não se descartando cer ta dose de preconceito dos professores na utilização desses meios). A popularização do videocassete modificou essa situação, com mui- 35 tas escolas hoje tendo aparelhos de reprodução e produtos educativos em utilização no ambiente escolar. Devido em grande parte à questão econômica, a discussão sobre a presença de filmes em bibliotecas brasileiras guiou-se inicialmen te pela incorporação de fitas de videocassete. Antes de entrar na busca de critérios, deve-se discutir o papel que esse material representará no conjunto do acervo. Sua abertura para outros tipos de materiais não deve ser fruto de modismos ou de um esforço irrefletido para tornar popular a biblioteca. Nem representar o velho chamariz para o livro impresso, como muitas vezes se costuma fazer com os cursos de corte e costura, croché e outras atividades. As bibliotecas públicas não existem para competir com a iniciati va privada, atuando paralelamente
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