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Encantarias do Pavulagem: uma pesquisa sobre a espetacularidade do “Boi Pavulagem” e o corpo brincante do Arrastão do Pavulagem nas ruas de Belém do Pará
Thamires do Rosário Lima[footnoteRef:1] [1: Graduanda do curso de Licenciatura em Dança na Universidade Federal do Pará – Escola de Teatro em Dança da UFPA] 
thamiresdorosariolima@gmail.com
Resumo
O objetivo deste estudo é apresentar, através da etnocenologia, a espetacularidade do Arrastão do Pavulagem visando as encantarias do boi azulado (Boi Pavulagem), que emociona e encanta o festejo com suas fitas, suas cores, suas músicas e todo seu batalhão. Visa também, apresentar um breve histórico sobre o arraial do pavulagem a fim de incentivar e estimular a valorização da cultura paraense e, em especifico, o arraial do pavulagem que a cada ano a manifestação vem se tornando cada vez mais grandiosa. Por fim, relatar minha experiência como um corpo brincante que está sempre interagindo com tudo e todos ao seu redor desde a concentração do evento até os últimos minutos, vivenciando a energia e toda a alegria do cortejo. Corpo esse que, com sua simplicidade e humildade se mistura em diversas culturas, diversos ritmos, diversas etnias, diversas línguas. Um arrastão que comove, que faz arrepiar, um corpo que se emociona, que dança que é pavulagem.
Palavras-chave: Arrastão do Pavulagem; Espetacularidade; Corpo-Brincante; Boi Pavulagem; Encantarias.
 Enchantments of Pavulagem: A search about on the spectacularity of “Boi Pavulagem” and the bouncing – body Arrastão do Pavulagem, in the streets of Belém of Pará
 Abstract:
 The purpose of this study is to present, through ethnocenology, the spectacularity of the Arrastão do Pavulagem, aiming the enchantments of the boi azulado (boi pavulagem), that excites and enchants the celebration with the ribbons, colors, songs and all of the crowd. It also aims to present a brief history about the Arraial do Pavulagem in order to encourage and promote the appreciation of the culture of Pará, specifically, the Arraial that each year is becoming increasingly grandiose. Finally, relating my experience as a bragging body that is always interacting with everything and everyone around, from the concentration of the event until the last minutes, experiencing the energy and all the joy of the procession. This body that, with all simplicity and humility mixes itself with different cultures, rhythms, ethnicities and languages. A trawler that moves, shiver. A body that gets excited, which dances the Pavulagem.
Keywords: Arrastão do Pavulagem; Spetacularity; Bragging body; Boi Pavulagem; Enchants.
Introdução
Meu reencontro com o Arraial do Pavulagem surgiu em uma aula de uma disciplina, Manifestações Espetaculares Brasileiras I, da graduação em dança da UFPA (Universidade Federal do Pará), ministrada pela Profª Drª Maria Ana Azevedo de Oliveira[footnoteRef:2], quando teria que fazer uma pesquisa etnocenológica sobre qualquer manifestação cultural ou ritual. A primeira ideia que tive foi em pesquisar e escrever minha visão etnocenológica sobre o Arraial do Pavulagem, pois é algo que fico nostálgica todos os anos. Fico ansiosa aguardando o mês de junho chegar trazendo com ele seu aroma, suas comidas típicas, suas músicas, seu calor, suas quadrilhas, o carimbó e o Arrastão do Pavulagem. A partir de tudo que me fez recordar e sentir, decidi que realmente deveria estudar e aprofundar pesquisas sobre o arraial. [2: É Professora Adjunta I da Universidade Federal do Pará – Instituto de Ciências da Arte, atuando nos cursos de Licenciatura e no Técnico em Dança da Escola de Teatro e Dança da UFPA – ETDUFPA, Doutora em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia - UFBA. Mestre em Artes Cênicas pela UFBA. Especialista em Treinamento Desportivo na Infância e Adolescência pela Universidade do Estado do Pará - UEPA. Graduada em Educação Física pela Fundação Educacional do Estado do Pará - ESEFPa.] 
Digo que foi reencontro, pois tive lembranças sobre minha infância. Todos os anos possíveis que minha mãe podia, ela me levava para a Praça da República em Belém para apreciar a manifestação e eu ficava encantada com toda aquelas cores, a multidão, todos pulando e cantando as músicas que reverberavam por todo o meu corpo e me faziam ficar numa nostalgia inexplicável. Quando decidi que eu deveria pesquisar sobre o arraial, senti e ainda sinto que falo de uma parte de mim, uma parte da minha história. Sentir mais paraense, mais Norte, mais regional, mais pavulagem[footnoteRef:3] [3: Pavulagem- pessoa muito metida e que quer chamar atenção ] 
O arraial do Pavulagem.
A manifestação surgiu de um encontro de amigos que acontecia todos os domingos à tarde em frente ao teatro experimental Waldemar Henrique localizado na praça da república em Belém no ano de 1987 coordenado por Ronaldo Silva, um dos fundadores do arrastão. Após frequentes encontros, os músicos que compunha o grupo levaram um boizinho de tala[footnoteRef:4] o qual o batizaram de “Boi Pavulagem do Teu Coração” e fizeram um palco em frente ao teatro Waldemar Henrique. Tocavam diversas músicas regionais, animando as tardes de domingos. [4: Tala – Pedaços de madeira cortado em tiras] 
A brincadeira passou a atrair cada vez mais gente e o Boi Pavulagem passou a incorporar novas linguagens artísticas e elementos musicais em sua festa, para dar origem a uma manifestação cultural popular e diversa que faz da rua o seu terreiro, o seu arraial, onde o público é convidado a compartilhar o olhar encantado que o Boi Pavulagem tem pela nossa região. (PAVULAGEM)
As pessoas que por ali passavam, paravam para prestigiar os músicos e todas suas performances com o boizinho de madeira. A partir de então, Ronaldo Silva decidiu aprofundar cada vez mais em pesquisas sobre músicas do estado do Pará e seus ritmos para aprimorar ainda mais seu trabalho e contou com a ajuda de diversos amigos como Júnior Soares, Walter Figueiredo, Rui Baldez entre outros colaboradores. Viajou para os interiores do estado atrás de ritmos, sons, instrumentos etc. Tempo depois, incentivou bailarinos a irem atrás de danças, coreografias etc. A soma de tudo que pesquisaram foi diversas dança, ritmos e músicas; siriá, retumbão, samba de cacete, carimbó, lundu, xote marajoara dentre muitos outros ritmos.
Após as pesquisas e estudos de seus fundadores e colaboradores, o grupo que tocava todas as tarde de domingo na praça da república, evoluiu e passou a sair uma grande quantidade de pessoas em arrastões nos domingos do mês de junho. Foi então que passou a ser uma manifestação junina, tornando-se cada vez mais tradicional a cada ano.
Em 2003, criou-se o Instituto Arraial do Pavulagem. O Instituto é uma organização civil se fins lucrativos que busca desenvolver ações culturas amazônicas, visando à valorização cultural regional englobando variadas linguagens artísticas como dança, canto e artes visuais. Além dessas questões, o IAP (Instituto Arraial do Pavulagem), incentiva o respeito à natureza e as tradições culturais da região paraense. 
Este ano, a CMB (Câmara Municipal de Belém), aprovou em uma sessão o reconhecimento oficial do grupo Arraial do Pavulagem como Patrimônio Cultural Imaterial do município de Belém, através de um projeto de lei, Lei Ordinária 9305/2017 Belém PA. de autoria do vereador do PSL (Partido Social Liberal), Nilton Neves. Este título é de extrema importância para a manifestação dando cada vez mais solidez a este grandioso evento.
No mês que antecede os cortejos são abertas inscrições para diversas oficinas; dança, música entre muitas outras. As oficinas ocorrem durante quinze dias no instituto localizado na Rua Francisco Boulevard Castilhos França em Belém. São ensinados nas oficinas as músicas do arraial e seus ritmos, as danças regionais e coreografias para o cortejo e para que gosta de um pouco de adrenalina, há a oficinas de pernaltas que são o treinamento para subir e andar em pernas de pau. Após o período de oficinas, ocorrem os ensaios que acontece em frente à Estação das Docas doPará, em Belém. No instituto, há também uma loja com vários adereços, camisas, chapéus do arraial além de CDs, DVDs de Shows da banda Arraial do Pavulagem assim como de outras artistas da terra.
O arrastão tradicionalmente iniciava no primeiro domingo do mês de junho quando “...o cortejo chega pelo rio. Um barco tradicional da região sai do trapiche da Praça Princesa Isabel, no bairro da Condor, e navega pela orla da cidade pela Baía do Guajará, trazendo, além do boi Pavulagem − já não mais um boi de tala, mas um boi-bumbá tradicional −, o mastro de são João” (LIMA, 2012, p.53-67). E assim, dava-se início a abertura da quadra junina. O cortejo seguia rumo à praça da republica onde havia um palco com show da banda Arraial do Pavulagem. O cortejo segue com muita alegria e muita música regional. O colorido das fitas nos chapéus, do Boi Pavulagem e todo o ritmo das músicas tocadas e dançadas pelo batalhão da estrela, contagiam todos que acompanham. Crianças, jovens, adultos, senhores e senhoras pulam, dança e cantam ao longo do cortejo. 
Este ano houve uma mudança no trajeto do arrastão. Durante 30 anos saiu da Escadinha na Estação das Docas do Pará em direção a Praça da República e este ano o percurso foi contrário. A concentração do arrastão foi em frente ao Teatro da Paz localizado na Praça da República em direção a Praça dos Estivadores que fica em frente à sede do Instituto. Houve vários fatores para a mudança, um deles seria a valorização da Praça onde está um símbolo representando os 400 anos de Belém além de deixar o arrastão mais único, sem interferência de outros eventos, mas não tornando o evento restrito, ao contrário, fazendo mais organizado.
Houve também a Levantação do Mastro de São João que antecedeu o primeiro domingo de arrastão, este ano. Antes era feito no primeiro domingo, no entanto, como este ano foi um ano de experimentação com esta mudança, houve este evento simbólico de forma mais “isolada” onde o Boi Pavulagem, juntamente com seu batalhão, trouxe o Mastro para ser fincado na praça dando inicio de forma oficial, para aqueles que acreditam, a abertura da quadra junina.
A intenção da vinda do boizinho azulado pelos rios de barco é mostrar este “ser encantado como se estivesse vindo da floresta, da Amazônia”, segundo Walter Figueiredo, um dos fundadores do arraial. O intuito do evento não propor uma disputa de bois como em Parintins, nem proporcionar um evento cômico. O objetivo é apenas fazer uma manifestação onde inclua o povo, a população, onde haja brincadeira, encanto, música, dança, alegria e festejo. Onde a população possa, cada vez mais, conhecer a cultura popular.
O que a gente propicia pra essas pessoas é o acesso à cultura popular. E quando elas acessam isso, conhecem, vivenciam, se apaixonam. E quando se apaixonam pelo que é delas, isso colabora com certeza para o crescimento da sua autoestima, e elas passam a falar como representantes daquela cultura. E isso é muito doido, porque foi construído com elas, para elas. (SOARES, 2019) 
Como afirma Oliveira (2015, p.41), “no corpo observam-se os signos culturais de uma sociedade, também expressos na dança, por meio dos movimentos corporais ritmados, da formação do grupo, do alinhamento postural dos brincantes, da indumentária e da naturalidade dos gestos precisos, revelados em seus vocabulários específicos”. Cada pessoa presente no cortejo interage de forma peculiar, porém sempre num coletivo. As pessoas festejam em grupo, em casal, com a família ou individual, no entanto, todos motivados pela energia e encantos do Arrastão do Pavulagem. Dançam, cantam da sua forma, trazendo seus traços, suas vivências, seu próprio ritmo. Esse corpo brincante está sempre ativo, em prontidão e nostálgico. Corpo esse que mescla com diversos outros corpos, outras culturas. ”O corpo do brincante passa a relacionar-se com o significado que cada gestual tem na manifestação. Nesse sentido, pontua-se nessa relação o olhar, o afastar, o aproximar, o tocar e outras historias” (OLIVEIRA, 2015, p.41-45).
O Arrastão do Pavulagem, a meu ver, faz a alma vibrar dentro corpo. Ver aquela multidão seguindo aquele boizinho azulado e todos partilhando da mesma alegria. E essa multidão segue o trajeto num ritmo de euforia e alegria mediante a todo o encantamento do evento. Segundo Oliveira (2015, p.41-45), “o espetacular está presente na espontaneidade e no modo com que os brincantes participam de suas práticas seja para homenagear, celebrar ou agradecer, onde o canto, a música, o movimento e o gestual encontram-se interligados.” 
Essa espontaneidade é notória nos cortejos, as pessoas dançam e se envolvem na manifestação, porém cada um com sua singularidade. Não há uma preocupação em fazer os movimentos corretamente ou dançar a coreografia correta. Há apenas passos base para as danças regionais que são dançadas no cortejo, entretanto, o povo da terra traz o ritmo das danças e/ou músicas em seu corpo devido à cultura ancestral regional e que hoje, em muitas famílias, ainda permeiam essas tradições de repassar para seus descendentes a cultura regional, valorizando-a cada vez mais.
Vejo que o que enriquece o arrastão é essa diversidade cultural presente. Uma das coisas que impressiona é quando vejo uma pessoa da terra ensinar um turista, por exemplo, é uma cumplicidade sem tamanho. Todos se envolvem com as músicas, é quase impossível ficar parado. O cantar e o dançar nos cortejos, estão sempre entrelaçados e acontece do inicio ao fim, às vezes, formam um coro maravilhoso, arrepiando o corpo. 
Este ano, participei do que pude participar. Fui para a Levantação do Mastro de São João e, desde o momento em que cheguei na Estação das Docas me vi emocionada e ansiosa para ver o Boi Azulado e ver todo o seu colorido e suas fitas, seus bordados, seu arco de flores, seu balanço que, se não fosse o “tripa”[footnoteRef:5], não teria vida como tem. [5: Tripa: brincante que veste e dança embaixo do boi.] 
Quando o barco atracou na Escadinha, todos estavam ali aguardando sua chegada. Seu batalhão estava à espera de sua estrela. E quando saiu do barco sentir uma nostalgia, uma alegria que o que mais queria era chegar o mais próximo do boizinho e tocar em sua testa. Digo que o Boi Pavulagem é um ser encantado quase real, pois consegue dar vida as ruas de Belém além de contagiar todos com seus gingados e peraltices. 
Após sua chegada, todos foram em direção a Praça dos Estivadores para levantar o Mastro e logo após houve uma roda de carimbo com algumas músicas da banda Arraial do Pavulagem e foi mais um momento onde pude sentir na pele essa emoção. Arrepios constantes sentir a cada melodia e cada música e todos numa energia só de dança e brincar.
Conseguir ir para o segundo domingo de arrastão e, de novo, aquele sentimento de carinho por tudo, pelo boi, pelo batalhão, pelo evento no geral. Ainda na concentração me via emocionadíssima, aguentando as lágrimas. Não lágrimas de tristeza, pelo contrário, eram lágrimas de orgulho do que eu estava vendo, presenciando, sentindo. Cantava todas as músicas com toda a minha energia e isso fazia eu me sentir mais parte de tudo que estava vendo. Sentia-me mais da “terra”, mais paraense. As pessoas todas dançando e aguardando a saída do cortejo. “Quando elas acessam isso, conhecem, vivenciam, se apaixonam. E quando se apaixonam pelo que é delas, isso colabora com certeza para o crescimento da sua autoestima, e elas passam a falar como representantes daquela cultura” (SOARES, 2019).
O arrastão seguiu rumo a Praça dos Estivadores, e fui ao embalo daquela multidão que em interagia com o batalhão, com o boi, uns com os outros. O balançar dos chapéus com fitas é uma das muitas imagens que me tocam. O povo na rua pulando e cantando. Uns pontos mais fortes que vi foi quando uma pessoa iniciava com um movimento com os pés e aquilo rapidamente se generalizava ao seu redor, todos fazendo igual e, as vezes, sem nem conhecer umas as outras. Essa interação do corpo brincante com tudo e todos ao seu redor, faz o cortejo mais rico de espetacularidade porsua simplicidade e singularidade.
Em todo o cortejo não parei um minuto se quer, ora cantava, ora pulava com o chapéu de fitas na mão, ora dançava. O auge do arrastão para mim, foi quando tive a oportunidade de tocar na testa do boi azulado, sentir como se fosse a realização de um sonho. Sentir também, aquele boi mais vivo do que nunca, era mais do que um ser encantado. E mesmo cansada e quase não sentindo mais os pés algo dentro de mim me fazia continuar lá e vivenciar cada minuto que pudesse. Quando o arrastão chegou à praça, houve a finalização do cortejo com uma música que faz, para mim, a alma vibrar por dentro do corpo. Acredito que muitos também sentem algum sentimento quando a ouvem. A música é da banda Arraial do Pavulagem e chama-se Iniciais BP. A letra da música ressalta a confecção do Boi Pavulagem e descreve todos os adereços presente no boi; fitas, flores, as iniciais BP em sua testa etc. Outro auge do arrastão a meu ver foi quando ouvir aquela multidão cantando o refrão da música; “É d’ouro, prata e brilhante as iniciais BP...” Logo após esse verso da música vem outro em que todos gritam “Boi Pavulagem!!!” que refere-se as iniciais. E o mais impressionante e digo, a meu ver, encantador e espetacular é quando apenas tocam a parte instrumental da música e todos começam a pular e balançar o chapéis de fitas. É uma cena extremamente apaixonante, uma energia inexplicável. Uma experiência que só que presencia sabe como é está ali, naquele rio de cores que percorrendo as ruas de Belém.
Após o término do arrastão, houve um show na praça da banda Arraial do Pavulagem e tudo continuou lindo. Fiz questão de ficar bem lá frente próximo ao palco para assistir de perto o show e a performance do boi no palco. No final do evento estava sem folego de tanto dançar, de tanto brincar com os brincantes ao meu redor e de me emocionar, porém voltei para casa com um sentimento de satisfação e paixão por tudo que havia vivenciado naquele domingo.
Considerações finais
Durante muito tempo, tentei buscar minhas origens, minha cultura. E na maior parte do tempo nunca dei importância para cultura da minha terra. Busquei algo em culturas e costumes de fora. Hoje digo que minha cultura é sim Pará, carimbo, pavulagem e açaí. Me encontrei aqui no lugar onde eu já estava e estou, minha terra. Acredito que quando conhecemos cada vez mais nossa própria cultura, nos apaixonamos muito mais e, estimular a valorização da cultura paraense e tudo de riqueza que essa terra tem faz nos apropriar ainda mais do que e nosso. O arraial do pavulagem deixou de ser um simples projeto e se tornou, ainda simples, porém acolhedor evento, riquíssimo de cultura tornando cada ano mais do povo, mais da rua. Um arrastão que arrasta multidões contagiando milhares de pessoas pelas ruas de Belém fazendo alegria de todos com o boizinho azulado que dança e encanta, que toca no coração, na alma, que faz os sentimentos ficarem a flor da pele. Energia que toca o corpo, corpo esse que se mistura entre tantos outros e que compartilha suas vivências e que vive. Vive tudo intensamente e que em meio as cores a alma vibra e saltita por dentro. Espetacularidade sem tamanho de um corpo-brincante, de um povo que dança, de um boi que encanta de uma multidão que dar vida as ruas de Belém. Isso é o Arrastão do Pavulagem. 
“Do arraial que é do sol, do arraial que é da lua, do povo na rua...” 
Batalhão da Estrela.
	
Referências Bibliográficas 
CMB (Câmara Municipal de Belém). Matérias especiais. Disponível em: http://www.cmb.pa.gov.br/cmb-aprova-reconhecimento-do-arraial-do-pavulagem-como-patrimonio-cultural-imaterial-de-belem/ Acessado em: 23 junho de 2019.
LIMA, Dula Maria Bento de; GOMBERG, Estélio. Cultura, patrimônio imaterial e sedução no Arraial do Pavulagem, Belém (PA), Brasil. Textos escolhidos de cultura e arte populares, Rio de Janeiro, v.9, n.2, p. 53-67, nov. 2012. 
MOURÃO, Andressa Janaina; RIBEIRO, Helder; PRESSLER, Neusa. Arraial do Pavulagem e sua força cultural nas ruas de Belém. Universidade da Amazônia - UNAMA, Belém, PA. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo – SP, 2016.
OLIVEIRA. Maria Ana Azevedo de. O corpo que dança: pesquisa em etnocenologia. Repertório, Salvador, nº 25, p.41-45, 2015.2.
PAVULAGEM, Arraial do. Quem somos. Blog do Instituto Arraial do Pavulagem. Disponível em: https://pavulagem.org/quem-somos/ Acessado em: 23 junho de 2019.
PAVULAGEM. Música do Arraial do. Batalhão da estrela. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=fCK3HneXv6Y. Acessado em: 24 de junho de 2019.
SOARES, Júnior. Matéria especial. Site da Câmara Municipal de Belém. Disponível em: http://www.cmb.pa.gov.br/cmb-aprova-reconhecimento-do-arraial-do-pavulagem-como-patrimonio-cultural-imaterial-de-belem/ Acessado em: 23 junho de 2019.