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Morfologia da Língua de Sinais Miguel Carvalho 47 Considerado pai das Línguas de Sinais por ser o primeiro a estudar a LS Willian Stokoe Morfologia da Língua de Sinais É o estudo da estrutura interna das palavras ou dos sinais, bem como das regras que determinam a formação dos mesmos. LS - Língua de Sinais Stokoe, em 1960, percebeu e comprovou que: “A língua de sinais atendia a todos os critérios linguísticos de uma língua genuína, no léxico, na sintaxe e na capacidade de gerar uma quantidade infinita de sentenças.” Depois disso a Língua de Sinais foi conferido como um status linguístico com estruturas gramaticais. Discute: Em qualquer lugar em que haja surdos interagindo, haverá línguas de sinais. Cada país tem a sua própria língua de sinais 51 A autora pioneira do estudo da LIBRAS Lucinda Ferreira Brito, 1980 define que: “A LIBRAS, como toda língua de sinais, é uma língua de modalidade gestual visual porque utiliza, como canal ou meio de comunicação, movimentos gestuais e expressões faciais que são percebidos pela visão.” O mesmo é definida pelas autoras Quadros e Karnopp, 2004: “ A Libras é a língua usada pela comunidade surda no Brasil. É uma língua que expressa níveis linguísticos em diferentes graus, assim como as demais línguas; apresenta uma gramática com uma estrutura própria, usada por um grupo social específico.” 52 LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais LIBRAS 53 Nossa definição de LIBRAS LIBRAS = Língua Brasileira de Sinais Entende-se que a LIBRAS é uma forma de comunicação e expressão, em que o sistema linguístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria, constituem um sistema linguístico de transmissão de idéias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil. 54 55 Reforçando ... A língua de sinais é a língua dos surdos. Os surdos vêem a língua que o outro produz por meio do olhar, das mãos, das expressões faciais e do corpo. É uma língua vista no outro. As Línguas de Sinais não são universais. Cada país possui a sua própria língua de sinais, que sofre as influências da cultura nacional. Não são mímicas e gestos soltos, utilizados pelos surdos para facilitar a comunicação. São línguas com estruturas gramaticais próprias. Mãe 56 57 Como qualquer outra língua, ela também possui expressões que diferem de região para região (os regionalismos), o que a legitima ainda mais como língua. MG SP PR Verde Resumidamente, podemos afirmar que: Os sinais são formados a partir da combinação do movimento das mãos com um determinado formato em um determinado lugar, podendo este lugar ser uma parte do corpo ou um espaço em frente ao corpo. Estas articulações das mãos, que podem ser comparadas aos fonemas e às vezes aos morfemas, são chamadas de parâmetros, na combinação destes parâmetros, tem-se o sinal. Falar com as mãos é, portanto, combinar estes elementos que formam as palavras e estas formam as frases em um contexto. 58 Portanto, é importante conhecer a estrutura linguística da LIBRAS, mas, é claro, deve-se saber que essa estrutura não é a mesma da Língua Portuguesa. Na verdade, são estruturas bem diferentes. Portanto, não adiantaria tentar usar a LIBRAS com a estrutura do português, pois assim o “brilho” da comunicação seria perdido. 59 Vamos conhecer uma parte da gramática da LIBRAS: MORFOLOGIA Introdução a Morfologia da LIBRAS Estudos Linguísticos da LIBRAS Ronice Muller Lodenir Karnopp 60 O nível morfológico As classes gramaticais As palavras se formam a partir de morfemas. PALAVRA menininhas MORFEMAS {menin-} {-inh-} {-a} {-s} Os itens lexicais se agrupam em classes ou paradigmas: pronomes, verbos, adjetivos... 62 MORFEMA Unidade mínima com significado que compõe as palavras / sinais PARÂMETROS : Podem ser morfemas Ter significado no 2º nível 63 CLASSIFICADOR LOCATIVO (LUGAR) CONF. MÃO PONTO ART. MOVIMENTO ADV. MODO; INTENSIFICADOR ASPECTO VERBAL 64 MORFEMA 65 De acordo com autor....Os morfemas podem ser classificados em cinco tipos: Morfemas aditivos: Há vários morfemas aditivos na língua de sinais brasileira. Entre eles, mencionamos os movimentos que são adicionados às palavras: circular, ziguezague, intermitente. ENTREGAR+circular ENTREGAR+ziguezague ENTREGAR+intermitente Morfemas reduplicativos: A reduplicação é utilizada para marcar o número. Por exemplo, mudança no movimento no sinal de ANO para ANOS e para MUITOS-ANOS. CASA CASAS MUITAS CASAS ÁRVORE ÁRVORES MUITAS ÁRVORES Morfema alternativo: Esse processo é observado na marcação de grau dos adjetivos. Por exemplo, há mudança do movimento para MUITO BONITO comparado com o sinal de BONITO. NERVOSA MUITO NERVOSA BONITO MUITO BONITO Morfema Zero: Podemos considerar os verbos com concordância sem marca de pessoa e número, ou seja, na sua forma infinitiva como tendo morfema zero. Por exemplo, o sinal de ENTREGAR sem marca de concordância. AVISAR (anúncio) AJUDAR ENTREGAR Morfema subtrativo: Nos processos de composição dos sinais isso acontece: sinal para ESCOLA, CASA-ESTUDAR, o sinal de ESTUDAR perde o movimento repetido do sinal de ESTUDAR. ESCOLA, CASA-ESTUDAR PAI, MÃE E PAIS IGREJA, CASA E IGREJA/CASA DERIVAÇÃO 71 Derivando nomes de verbos Uma das principais funções da morfologia é a mudança de classe, isto é, a utilização da idéia de uma palavra em outra classe gramatical. Ex: manga, vela... Em Português também vemos: Programar-programador (sufixo) Fabrica-fábrica (acento) Há vários exemplos de derivação de sinais que mudam a categoria do substantivo para a categoria do verbo. FUTEBOL – CHUTAR CADEIRA – SENTAR ESCOVA – ESCOVAR TELEFONE – TELEFONAR TESOURA - CORTAR A incorporação do numeral ao sinal: Todos se restringem e incorporam no máximo os numerais até quatro. No exemplo a seguir, as glosas do sinal de HORA incorporam os números dois, três e quatro. 1 HORA 2 HORAS 3 HORAS 4 HORAS 1 DIA, 2 DIAS, 3 DIAS E 4 DIAS 1 MÊS, 2 MESES, 3 MESES E 4 MESES 1 PRESTAÇÃO, 2 PRESTAÇÕES, 3 PRESTAÇÕES, 4 PRESTAÇÕES Flexão 75 Flexão Pessoa: ENTREGAR PARA MIM ENTREGAR PARA ELE ENTREGAR PARA TI ENTREGAR PARA ELES Número: ENTREGAR PARA UM ENTREGAR PARA DOIS INDIVIDUALMENTE ENTREGAR PARA TRÊS INDIVIDUALMENTE ENTREGAR PARA VÁRIOS INDIVIDUALMENTE Grau: VERGONHA, VERGONHA +, VERGONHA ++ BONITO, BONITO+, BONITO++ Flexão nas Línguas de Sinais Klima e Bellugi (1979) afirma que há vários processos de flexão descritos na língua de sinais americana – ASL. Os autores também observaram que tais podem variar minimamente observando dimensões padrões sistemáticos,o que por sua vez evidencia a complexidade das formas flexionais desta língua. Tais dimensões também estão presentes na determinação da flexão de sinais na língua de sinais brasileira. Klein (1994) Afirma que a flexão morfológica na língua de sinais pode ser expressa por características temporais inerentes aos verbos (e aos seus complementos),por advérbios e por princípios de organização discursiva. Ainda de acordo com o autor há quatro parâmetros possíveis para descrever o significado temporal de uma forma tense: Dêitico,que toma como referência o momento de fala; EX: EU – VOCÊ – ELE – ELES – NÓS; Dêitico refinado, no qual se observa graduação temporal; EX: ANTES – AGORA – DEPOIS; Dêitico relacional,que opera relações entre o tempo de fala e o de evento com o de referência; EX: REFERENTE PRESENTE – REFERENTE AUSENTE; Não-dêitico e não-relacional, constituição temporal inerente doverbo marca se o evento é expresso como completo ou incompleto; Flexão pessoa Flexão que muda as referências pessoais no verbo. EU VOCÊ ELE ELES ELE ENTREGAR PARA ELE Entregar livro alguém Entregar livro para para cada um dos dois Aspecto distributivo:EXAUSTIVA ENTREGAR-PARA-ELES ENTREGAR-PARA-ELES Aspecto distributivo:ESPECÍFICA Aspecto distributivo:NÃO-ESPECÍFICA ENTREGAR-PARA-ELES NNããooéé ppoossssíívv eell eexxiibbiirr eessttaa iimaaggeem.. NNããooéé ppoossssíívv eell eexxiibbiirr eessttaa iimaaggeem.. NNããooéé ppoossssíívv eell eexxiibbiirr eessttaa iimaaggeem.. NNããooéé ppoossssíívv eell eexxiibbiirr eessttaa iimaaggeem.. Há algumas referências estabelecidas de acordo com a consideração de um mapa do Brasil imaginário: Flexão para locativo AMAZONAS SÃO PAULO Flexão número Refere-se à distinção entre o singular e o plural. DUAL TRIAL Ano anterior Anos anteriores Flexão para gênero Na LIBRAS os classificadores são formas que,substituindo o nome que as precede. PESSOA-ANDAR CARRO-ANDAR PESSOA – CAIR COPO – CAIR Foram apresentados até agora exemplos de processos de vários flexão nominal e flexão verbal da Língua de Sinais,mas fica clara a necessidade de se continuar a investir nas pesquisas cotidiana,especialmente no que se refere à língua de sinais brasileira,pois há muito que descrever e analisar nas línguas de sinais.
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