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LUCCA - O Dever de Motivar as Decisões Judiciais

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Sumário
Prefácio .................................................................................................... 19
– Flávio Luiz Yarshell
Apresentação .................................................................................................. 23
– Eduardo Talamini
Introdução
§1º Delimitação do tema.............................................................................. 28
§2º Desenvolvimento da obra ................................................................... 29
§3º Nomenclatura adotada: motivação x fundamentação ............ 30
Capítulo I
Estado de direito, segurança jurídica e processo ...................... 31
1. Estado de Direito e o controle do poder estatal .......................... 32
 1.1. As origens do Estado de Direito moderno: proteção
 da liberdade, jusnaturalismo e segurança jurídica ........... 38
 1.2. A ascensão do positivismo radical e o esvaziamento
 do conceito do Estado de Direito .............................................. 41
 1.3. O desenvolvimento do rule of law na Inglaterra
 do século XIX ..................................................................................... 43
 1.4. A retomada do conteúdo substancial do Estado
 de Direito após a Segunda Guerra Mundial e o declínio
 da expressão ...................................................................................... 44
 1.5. Estado de Direito formal e Estado de Direito
 substancial ......................................................................................... 46
 1.6. As críticas ao Estado de Direito ................................................. 49
 1.6.1. Expressão inútil e pleonástica ...................................... 50
 1.6.2. Pluralidade de significados:
 expressão meramente retórica .................................... 51
 1.7. O “conteúdo mínimo” do Estado de Direito: proteção
 da liberdade e da segurança jurídica ...................................... 52
2. A segurança jurídica: atributo e finalidade do Estado
 de Direito ...................................................................................................... 58
10 Rodrigo Ramina de Lucca
 2.1. A trilogia dos objetivos do Direito: segurança jurídica,
 justiça e progresso social ............................................................. 61
 2.2. Segurança jurídica pelo Direito e segurança jurídica
 do Direito ............................................................................................ 63
 2.3. Ainda sobre as relações entre segurança jurídica
 e justiça ................................................................................................ 64
 2.4. O conceito de segurança jurídica .............................................. 65
3. A jurisdição e o processo no Estado de Direito:
 o devido processo legal .......................................................................... 66
 3.1. O processo como instrumento de racionalização
 do poder .............................................................................................. 69
 3.2. Processo justo e devido processo legal .................................. 73
Capítulo ii
O dever de motivar as decisões judiciais como garantia
inerente a um Estado de Direito .......................................................... 77
1. O dever de motivar as decisões judiciais ........................................ 77
 1.1. Conceito ............................................................................................... 78
 1.2. A natureza normativa do dever de motivação .................... 80
 1.2.1. A obrigatória motivação das decisões judiciais 
 é uma “regra” jurídica....................................................... 80
 1.2.2. A importância de se conceber o dever de
 motivação como regra, e não como princípio ........ 85
 1.2.3. A imponderabilidade do dever de motivação ........ 87
2. A consolidação do dever de motivação como garantia
 fundamental após a Revolução Francesa e panorama
 contemporâneo ......................................................................................... 88
 2.1. Controvérsia sobre a motivação das decisões judiciais
 no Direito Romano e seu suposto papel de controle
 da atividade judicial em relação à aplicação
 das leis imperiais ............................................................................. 90
 2.2. A inexistência de motivação das decisões germânicas ... 94
 2.3. A formação de uma jurisprudência dos tribunais
 europeus medievais ....................................................................... 96
 2.4. A recomendação de que o juiz, por prudência,
 não deveria motivar suas decisões .......................................... 98
 2.5. O declínio da motivação das decisões judiciais
 no início do absolutismo e seu renascimento
 no Século XVI ..................................................................................... 100
O dever de motivação das decisões judiciais 11
 2.6. A contribuição da Revolução Francesa
 para o dever de motivar as decisões judiciais ..................... 103
 2.6.1. O período francês pré-revolucionário ....................... 104
 2.6.2. O legado da Revolução Francesa.................................. 107
 2.7. A influência imediata dos ideais revolucionários
 na motivação das decisões judiciais no Século XIX ........... 111
 2.8. Panorama atual ................................................................................ 116
3. Motivação das decisões judiciais e Estado de Direito ............... 121
 3.1. A legitimação da atividade jurisdicional ............................... 124
 3.2. O controle da atividade jurisdicional ...................................... 126
 3.2.1. Controle em relação aos fatos: livre
 convencimento racional e motivado
 à luz dos autos ..................................................................... 126
 3.2.2. Controle em relação ao Direito..................................... 129
 3.2.3. O controle das decisões judiciais pelas partes
 e pelos tribunais ................................................................. 136
 3.2.4. O controle das decisões judiciais pela sociedade ... 138
Capítulo III
Ainda sobre as relações entre motivação das decisões
judiciais e Estado de Direito: natureza,
estrutura e conceito .................................................................................... 141
1. A natureza declaratória da motivação das decisões judiciais ... 141
 1.1. A motivação das decisões judiciais possui natureza
 declaratória e retrospectiva ........................................................ 142
 1.2. Sobre as teorias de que o juiz cria o Direito ........................ 146
 1.2.1. Teoria interpretativa: críticas ....................................... 148
 1.2.2. Teoria mista: críticas ........................................................ 154
 1.2.3. Teoria da eficácia vinculante dos
 precedentes: críticas ......................................................... 157
2. A estrutura da motivação das decisões judiciais:
 o silogismo judicial e a argumentação jurídica ............................ 159
 2.1. O modelo lógico-dedutivo ............................................................ 160
 2.2. As críticas ao modelo lógico-dedutivo e o
 desenvolvimento de modelos “antiformalistas” ................ 161
 2.2.1. O modelo indutivo ............................................................. 162
 2.2.2. A inaptidão do modelo indutivo como modelo
 de raciocínio judicial ......................................................... 164
 2.3. O modelo argumentativo ............................................................. 168
Lucas Viana
Realce
12 Rodrigo Ramina de Lucca
 2.3.1. A teoria standard da argumentação judicial .......... 170
 2.3.2. A teoria de Jerzy Wróblewski – justificação
 interna e a justificação externa da motivação ........ 171
 2.3.3. A teoria de Neil MacCormick – necessária
 conciliação entre o Estadode Direito
 e a argumentação jurídica .............................................. 172
 2.3.4. A teoria de Robert Alexy – as regras do discurso
 prático e do discurso jurídico ....................................... 175
 2.3.5. A teoria de Aulis Aarnio – racionalidade
 e aceitabilidade da motivação....................................... 178
 2.4. A conjugação entre lógica e argumentação: as teorias
 de Ricardo Luis Lorenzetti e Pierluigi Chiassoni ............... 182
 2.4.1. A teoria de Ricardo Luis Lorenzetti – diferentes
 modelos para a decisão de casos fáceis
 e casos difíceis ..................................................................... 183
 2.4.2. A teoria de Pierluigi Chiassoni – a reconstrução
 silogística da argumentação judicial .......................... 187
 2.5. Lógica e argumentação: a estrutura da motivação
 das decisões judiciais .................................................................... 194
3. A motivação das decisões judiciais: exposição
 e justificação – o referencial do Estado de Direito ..................... 197
 3.1. A motivação é uma exposição de razões ............................... 198
 3.2. A motivação é uma justificação formal do exercício
 da atividade jurisdicional ............................................................ 198
 3.3. Sobre a dissociação entre a motivação e as razões
 de decidir ........................................................................................... 199
 3.3.1. A motivação não é a justificação de uma
 decisão intuititva ................................................................ 200
 3.3.2. Críticas à teoria de que a motivação é uma fonte
 de indícios – a racionalidade e a aceitabilidade
 da motivação ........................................................................ 204
 3.3.3. A motivação e as razões de decidir
 – a regra da sinceridade .................................................. 205
Capítulo IV
Delineamentos processuais do dever de motivação ................ 207
1. O dever de motivação como instrumento de realização
 de garantias processuais ....................................................................... 207
O dever de motivação das decisões judiciais 13
 1.1. Motivação das decisões judiciais, contraditório
 e ampla defesa .................................................................................. 208
 1.2. Inércia jurisdicional e princípio dispositivo ........................ 211
 1.3. Poder de ação e pluralidade de demandas ........................... 212
 1.4. Coisa julgada ...................................................................................... 214
 1.5. Duplo grau de jurisdição .............................................................. 215
 1.6. Imparcialidade do órgão julgador ............................................ 216
2. Requisitos mínimos do dever de motivação ................................. 217
 2.1. Clareza ................................................................................................. 217
 2.2. Coerência ............................................................................................ 220
 2.3. Completude ........................................................................................ 222
 2.3.1. Completude fática .............................................................. 224
 2.3.2. Completude jurídica.......................................................... 226
 2.3.3. Ainda sobre o entendimento de que o juiz
 não precisa se manifestar a respeito
 de todas as alegações das partes:
 críticas e a disciplina do NCPC ..................................... 227
 2.3.4. A completude da motivação e as decisões
 sujeitas a recursos ............................................................. 231
 2.3.5. A motivação implícita ....................................................... 233
 2.4. A motivação per relationem e a motivação aliunde .......... 234
3. Decisões imotivadas, decisões mal motivadas e suas
 consequências ............................................................................................ 237
 3.1. As decisões judiciais e os planos da existência,
 validade e eficácia: considerações iniciais ........................... 237
 3.1.1. Plano da existência ............................................................ 237
 3.1.2. Plano da validade ............................................................... 240
 3.1.3. Plano da eficácia ................................................................. 241
 3.1.4. Decisões judiciais inexistentes, nulas
 e ineficazes ............................................................................ 242
 3.2. Decisões inexistentes por “falta de motivação”
 ou motivação incongruente ........................................................ 244
 3.2.1. Inexistência por “falta de motivação” ........................ 244
 3.2.2. Inexistência por incongruência
 entre a motivação e a causa de pedir ......................... 245
 3.3. Decisões nulas por falta de motivação
 ou motivação inadequada ............................................................ 246
 3.4. Meios de ataque à decisão imotivada ou mal motivada .... 247
14 Rodrigo Ramina de Lucca
Capítulo V
Motivação das decisões judiciais e segurança jurídica:
a formação dos precedentes e a ratio decidendi......................... 251
1. Motivação das decisões judiciais e segurança jurídica:
 o precedente judicial ............................................................................... 251
 1.1. A segurança jurídica como fundamento básico
 do respeito aos precedentes ....................................................... 255
 1.1.1. A estabilidade do Direito ................................................ 255
 1.1.2. A previsibilidade do Direito: sistematicidade
 e coerência ............................................................................ 259
 1.1.3. Segue: homogeneidade .................................................... 261
 1.1.4. Segue: acessibilidade ........................................................ 262
 1.2. O conceito de precedente judicial ............................................ 265
 1.2.1. Precedentes são razões ................................................... 267
 1.2.2. Precedentes não são razões fáticas ............................ 270
 1.2.3. Precedentes são razões jurídicas
 de uma decisão: o atributo da universalidade ....... 272
 1.2.4. Precedentes são razões jurídicas determinantes
 ao dispositivo da decisão: a ratio decidendi ............ 273
 1.2.5. A relevância das razões jurídicas da decisão
 e o conceito de precedente............................................. 274
 1.2.6. Os precedentes e o caso concreto ............................... 275
 1.2.7. Os precedentes e a motivação implícita ................... 275
 1.3. A eficácia dos precedentes ......................................................... 276
 1.3.1. Precedentes obrigatórios: a regra
 do stare decisis ..................................................................... 277
 1.3.2. Precedentes persuasivos................................................. 281
 1.3.3. Precedentes verticais ....................................................... 284
 1.3.4. Precedentes horizontais.................................................. 285
2. A ratio decidendi e o obiter dictum na motivação
 das decisões judiciais .............................................................................. 288
 2.1. A importância da distinção ......................................................... 289
 2.2. Teorias elaboradas para distinguir a ratio decidendi
 do obiter dictum ............................................................................... 291
 2.2.1. O teste de Eugene Wambaugh ...................................... 292
 2.2.2. A desconsideração da motivação jurídica
 e os fatos materiais de Arthur Goodhart ..................293
 2.2.3. A ratio decidendi prescritiva e a ratio decidendi
 descritiva de Julius Stone ................................................ 296
O dever de motivação das decisões judiciais 15
 2.2.4. Ratio decidendi como razão jurídica necessária
 ou suficiente – as propostas de Rupert Cross
 e de Neil MacCormick ....................................................... 297
 2.2.5. O conceito de Michael Abramowicz
 e Maxwell Stearns .............................................................. 298
 2.2.6. A adequação da ratio de decidendi à realidade
 brasileira por Luiz Guilherme Marinoni
 – solução de questões e não de casos ........................ 300
 2.2.7. A proposta de Pierluigi Chiassoni – a necessária
 reconstrução silogística da decisão judicial
 para a determinação das rationes decidendi ........... 300
 2.2.8. Observações conclusivas .................................................. 301
 2.3. O obiter dictum .................................................................................... 303
 2.4. A não aplicação de um precedente: a distinção
 (distinguishing) ................................................................................ 306
3. A experiência brasileira ........................................................................ 308
 3.1. As súmulas ......................................................................................... 309
 3.1.1. Conceito .................................................................................. 310
 3.1.2. As Súmulas e a doutrina de precedentes:
 os enunciados sumulares são
 rationes decidendi ............................................................... 311
 3.2. A Súmula vinculante ...................................................................... 313
 3.3. Decisões monocráticas amparadas em entendimento
 jurisprudencial consolidado e “súmula impeditiva
 de recursos” ....................................................................................... 314
 3.4. Os “recursos repetitivos”.............................................................. 315
 3.5. O efeito vinculante dos acórdãos prolatados em
 controle concentrado de constitucionalidade ........................ 317
 3.5.1. Eficácia vinculante de decisão proferida
 em ADPF...................................................................................... 319
 3.5.2. A “objetivação” do controle de
 constitucionalidade difuso e a 
 da transcendência dos motivos determinantes .... 319
 3.6. Resolução liminar de demandas repetitivas:
 o art. 285-A do CPC/73 e o NCPC ............................................. 319
Capítulo VI
A motivação das decisões judiciais e a proteção
da confiança legítima do jurisdicionado ........................................ 323
16 Rodrigo Ramina de Lucca
1. O princípio da proteção da confiança legítima ............................ 323
 1.1. Conceito ............................................................................................... 324
 1.2. Origem.................................................................................................. 325
 1.3. Fundamentos .................................................................................... 327
 1.3.1. Confiança legítima e segurança jurídica objetiva .. 327
 1.3.2. Boa-fé ....................................................................................... 328
 1.4. A eficácia normativa do princípio no Brasil
 – o art. 927, §4º, do NCPC ........................................................... 330
 1.5. Pressupostos de aplicação do princípio da confiança ..... 332
 1.5.1. O fundamento da confiança ........................................... 332
 1.5.2. A confiança legítima ......................................................... 335
 1.5.3. O exercício da confiança .................................................. 336
 1.6. A violação do princípio da confiança (a frustração
 da confiança) ..................................................................................... 337
2. A jurisdição e a violação da confiança legítima
 do jurisdicionado ...................................................................................... 338
 2.1. Os precedentes judiciais como fundamento
 da confiança ....................................................................................... 339
 2.1.1. Dois exemplos de violação da confiança
 do jurisdicionado pela jurisdição ................................ 342
 2.2. Sobre a natureza da atividade jurisdicional
 e a (ir)retroatividade da jurisprudência ............................... 344
 2.3. Mudança jurisprudencial, evolução do Direito
 e confiança legítima do jurisdicionado .................................. 346
 2.4. Requisitos para que os precedentes sirvam
 como fundamento da confiança ................................................ 348
 2.4.1. A eficácia do precedente ................................................. 349
 2.4.2. Segue: a aparência de legitimidade
 do precedente ...................................................................... 350
 2.4.3. Segue: baixo grau de modificabilidade
 do precedente ...................................................................... 351
 2.4.4. Segue: permanência no tempo do precedente ...... 352
 2.4.5. Segue: indução do precedente ...................................... 352
 2.5. A legitimidade da confiança do jurisdicionado .................. 353
 2.5.1. Precedentes e jurisprudência ....................................... 354
 2.5.2. Segue: a divergência jurisprudencial ......................... 355
 2.5.3. Ilegalidade manifesta: ponderações .......................... 356
 2.5.4. O parâmetro do “advogado bem informado” ......... 358
O dever de motivação das decisões judiciais 17
 2.6. O exercício da confiança legítima do jurisdicionado ........ 359
3. A proteção da confiança legítima do jurisdicionado ................. 360
 3.1. Limites às mudanças jurisprudenciais ................................... 361
 3.2. A mudança jurisprudencial prospectiva ............................... 365
 3.3. Duas regras básicas de utilização da técnica
 de revogação prospectiva de precedentes ............................ 368
 3.3.1. Prevalência dos interesses do particular sobre
 os do Estado (ou interesse público secundário) ... 368
 3.3.2. Ponderação entre os interesses dos
 particulares envolvidos ................................................... 370
 3.4. Críticas formuladas à revogação prospectiva
 de precedentes – e suas respostas ........................................... 370
 3.4.1. Aplicação de um precedente já superado
 – descumprimento da função jurisdicional ............ 371
 3.4.2. Necessária previsão legislativa .................................... 373
 3.4.3. Desestímulo à busca por decisões mais justas ...... 375
 3.4.4. Majoração indevida dos poderes dos juízes ........... 376
 3.5. A responsabilidade do Estado pela violação
 da confiança legítima do jurisdicionado ............................... 376
Conclusão .......................................................................................................... 379
Referências bibliográficas....................................................................... 383
(*) Professor Titular da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo.
Prefácio
Flávio Luiz Yarshell*
“No momento de sentenciar, o juiz primeiramente intui quem tem 
razão e, em seguida, busca e explicita fundamentos para justificar o 
que intuiu”. Lembro-me de ter ouvido (e depois lido) a afirmação 
por mais de uma vez ao longo desses anos dedicados ao estudo do 
Direito Processual. Não há qualquer garantia quanto à respectiva li-
teralidade. A ideia ali contida – que não encerra propriamente uma 
novidade – foi sustentada por mais de um notável jurista, daqueles 
que não se limitaram ao estudo teórico, mas com intensa experiên-
cia na judicatura ou na advocacia.Portanto, as aspas empregadas 
não garantem exatidão das palavras, mas apenas indicam a origem 
de terceiros.
Certamente, na primeira vez em que a ouvi era um jovem acadê-
mico e advogado. Recordo-me de que a assertiva provocou íntimo e 
convicto inconformismo, pelo que então julguei ser a enunciação de 
uma arbitrariedade: se o destino das pessoas que litigam, afinal de 
contas, dependeria da intuição de quem julga; e se intuir é o mesmo 
que pressentir, ou que ter conhecimento sem recorrer ao raciocínio, 
então o julgamento não seria fruto da razão. Nesse contexto, a moti-
vação – paradoxalmente festejada como forma de controle do poder, 
pelas partes e até por terceiros – não passaria de um discurso para 
justificar resultado pré-concebido; que, apenas ocasionalmente, 
ajustar-se-ia a elementos objetivos, como a prova dos autos e o direi-
to objetivo. A motivação seria, em suma, um escudo para a consagra-
ção do subjetivismo e da irracionalidade.
Com o passar dos anos, com o aprofundamento dos estudos 
(que me levaram, dentre outros, a conhecer a clássica página que 
Calamandrei já escrevera a respeito) e diante da experiência profis-
sional granjeada, confesso que o tema continua a me intrigar. De um 
lado, permanece a aversão ao enunciado, ao qual não aderi – não ao 
menos integralmente – nem mesmo quando do exercício da magis-
tratura eleitoral. A judicatura naquele âmbito, aliás, foi um excelente 
banco de provas, porque se a intuição pessoal é de alguma forma in-
fluenciada pela “coletiva”, então no terreno da política, dos partidos 
e das disputas eleitorais seríamos levados a acreditar que, em re-
gra, todos os partícipes são desonestos... Isso significaria dizer que 
o trabalho de um juiz eleitoral seria o de buscar fundamentos para 
condenações generalizadas, não exatamente voltadas a sujeitos de 
carne e osso em situações concretas, mas com genéricos objetivos 
didáticos, de repressão ao indesejável estado de coisas em que nos 
encontramos. Nunca acreditei que isso fosse correto.
De outro lado, contudo, o amadurecimento levou à constatação 
de que pretender julgamentos humanos pautados exclusivamente 
por rígidos critérios objetivos é simplesmente impossível. Para além 
da constatação de que o Direito é norma, fato e valor (Reale), é inegá-
vel que a atuação do juiz é marcada pela respectiva carga axiológica. 
Já se disse com sabedoria ser inviável divorciar o juiz de suas “cir-
cunstâncias”. Se isso não significa dizer que o juiz decide com base 
em elementos irracionais, significa que a experiência de quem julga 
– consciente ou inconscientemente – acaba por interferir na decisão; 
ainda que ela seja pautada por dados como o objeto do processo e da 
controvérsia, a prova dos autos, o direito aplicável e sua interpreta-
ção pela jurisprudência. 
Dessa candente questão – que rendeu esse relato autobiográfi-
co cuja relevância só está no tema de direito referido – e de outras 
que integram o tema da motivação se ocupou RODRIGO RAMINA DE 
LUCCA. Ele o fez com talento e competência, com lastro em pesquisa 
séria e consistente, que soube expor de forma sistemática e crítica – 
inclusive para elegantemente repudiar a tese de que a sentença seria 
apenas a justificativa de um ato de intuição.
Conquanto o tema (da motivação) já tenha sido objeto de clás-
sica doutrina que a ele já se dedicou com profundidade, os desafios 
se renovam e parecem se tornar cada vez mais complexos, especial-
mente no contexto dos conflitos típicos da sociedade de produção e 
de consumo de massa. Isso foi bem captado pelo autor que, partindo 
20 Rodrigo Ramina de Lucca
da inserção do dever de motivar no Estado de Direito e da segurança 
jurídica, analisou com proficiência as dificuldades surgidas ao ensejo 
de um sistema processual que se vale, cada vez mais (e nem sempre 
de forma adequada), de precedentes. Digna de nota e de aplauso é 
sua preocupação com as mudanças jurisprudenciais abruptas, que 
colocam em risco um dos pilares da vida democrática, que é a con-
fiança legítima.
O resultado do trabalho é muito mais do que um estudo teórico, 
com mero interesse acadêmico. Pelo contrário, ele será de relevante 
utilidade para todos os profissionais do Direito, especialmente àque-
les a quem foi outorgada a capacidade de decidir e de impor deci-
sões, isto é, aos agentes do poder – especial, mas não exclusivamente, 
no âmbito jurisdicional. 
A obra se alinha, em excelência, a outras com que nos brindaram 
outros juristas paranaenses que, por sorte nossa, honraram-nos com 
sua presença no curso de pós-graduação da Faculdade de Direito da 
Universidade de São Paulo. Que essa rica convivência, que o autor 
só tornou ainda mais intensa, possa ter vida longa, porque dela cer-
tamente resultarão outras obras que nos ajudarão a trabalhar pelo 
aperfeiçoamento do processo civil brasileiro.
São Paulo, 21 de agosto de 2013.
O dever de motivação das decisões judiciais 21
(*) Livre-docente pela Universidade de São Paulo. Professor da Universidade Federal 
do Paraná.
Apresentação
Eduardo Talamini*
Rodrigo Ramina de Lucca não teme desafios – e esta obra reflete 
essa sua qualidade.
Graduou-se na Universidade Federal do Paraná, destacando-se 
como aluno e desde logo mostrando seu interesse pelo – e seu talen-
to para – o processo civil. Nessa mesma instituição ele poderia ter 
prosseguido com seus estudos de pós-graduação. Mas não se acomo-
dou. Foi buscar uma vaga na Faculdade de Direito do Largo São Fran-
cisco – a única vaga então existente com o professor que ele desejava 
que o orientasse, o Prof. Titular Flávio Yarshell. Conseguiu-a após ser 
bem sucedido nas diversas etapas de provas de seleção.
Destacou-se na pós-graduação, contribuindo para o estabele-
cimento daquilo que o próprio Prof. Yarshell, ao prefaciar obra de 
outro orientando seu com histórico parecido, chamou de “escola pa-
ranaense no Largo de São Francisco”. Sua dissertação para obtenção 
do título de mestre, que lhe rendeu aprovação com elogios por quali-
ficada banca, é a base deste livro.
Por outro lado, tão logo se formou, Rodrigo decidiu também 
dedicar-se à carreira de advogado. Numa época em que poucos 
aventuram-se na advocacia por verdadeira opção, ele o fez do modo 
mais difícil, constituindo seu próprio escritório. Hoje, ainda muito 
jovem, já é um profissional reconhecido por sua competência e de-
dicação.
E esse não é dado de menor importância. Para quem pretende 
dedicar-se ao exame científico do processo, o domínio da atividade 
prática é requisito elementar (ainda que, por si só, insuficiente para 
se fazer ciência). Aos seus alunos que se perdiam em divagações in-
frutíferas, Carnelutti costumava mostrar-lhes os autos de um proces-
so e perguntar-lhes: “o que é isso?” 
O tema da fundamentação das decisões judiciais constitui um 
grande desafio, sob pelo menos dois aspectos. 
Por um lado, na doutrina nacional e estrangeira já se escreve-
ram obras profundas e completas a esse respeito. Há espaço para um 
trabalho que acrescente algo, que não constitua simples recapitula-
ção desses estudos anteriores? 
Por outro lado, há o enorme risco de se cair no discurso me-
ramente teórico, despido não apenas de utilidade prática, mas da 
própria aptidão de ser cotejado com a realidade. Não são poucos os 
ensaios e monografias sobre o tema, alguns deles justamente feste-
jados por sua qualidades teóricas, que não conseguem escapar dessa 
armadilha.
O trabalho de Rodrigo Ramina de Lucca supera com brilho essas 
duas dificuldades. 
Por um lado, retoma questões clássicas do tema para aplicá-las a 
problemas novos – por exemplo, aqueles surgidos com a significativa 
mudança de feição por que tem passado o processo civil brasileiro, 
com a ampliação do alcance e intensidade das decisões de controle 
direto de constitucionalidade e os incidentes de resolução de causas 
repetitivas. Mais do que isso, identifica questões antes nem sequer 
cogitadas em outro contexto.
Por outro lado, o trabalho procura apresentar subsídiosrele-
vantes no âmbito da teoria geral e da filosofia do direito sem escapis-
mos retóricos nem a vacuidade da mera resenha – na medida objeti-
vamente necessária para o estabelecimento de bases sólidas para se 
enfrentar problemas concretos.
Enfim, tem-se aqui um belo livro de processo. E isso não é pouco.
Curitiba, 23 de setembro de 2013
24 Rodrigo Ramina de Lucca
Introdução
Até muito recentemente, pouco se escrevia no Brasil a respeito 
da motivação das decisões judiciais. Um ano antes da promulgação 
da Constituição de 1988, em trabalho que propôs justamente a pre-
visão constitucional expressa do dever de motivação, José Rogério 
Cruz e Tucci observou: “Verifica-se, entretanto, que, diversamente 
da doutrina alienígena, entre nós, pouca atenção tem-se dado a essa 
relevantíssima temática”.1 Alçada à categoria de norma constitucio-
nal, a motivação das decisões judiciais continuou a ser pouco trata-
da, o que foi constatado no ano de 1990 por José Augusto Delgado: 
“A abordagem do tema referente à obrigatoriedade do Juiz motivar 
os atos decisórios não tem merecido, entre nós, ao contrário do que 
acontece na doutrina estrangeira, a devida atenção”.2 Nas duas déca-
das seguintes, apesar de publicadas algumas excelentes obras dedi-
cadas ao instituto, o cenário pouco mudou.3
Enquanto isso, proliferavam-se decisões judiciais imotivadas 
ou mal motivadas, sempre amparadas no equivocado entendimen-
to jurisprudencial de que o juiz não precisa dar resposta a todas as 
alegações das partes; basta que apresente as razões de sua decisão, 
independentemente do que foi alegado e provado nos autos, ou mes-
mo do que determina o Direito. A situação era agravada pela ampla 
utilização de modelos padrões de decisões que nem sempre serviam 
para dar uma resposta adequada às pretensões formuladas pelas 
partes e, com espantosa frequência, nem mesmo tinham pertinência 
ao caso concreto. 
Tratava-se de um círculo vicioso, pois a omissão doutrinária 
contribuía para o descaso judicial com a garantia; e o descaso judicial 
implicava uma prestação jurisdicional arbitrária e ilegítima. 
1. TUCCI, José Rogério Cruz e. A Motivação das Decisões Judiciais. p. 5.
2. DELGADO, José Augusto. A sentença judicial e a constituição federal de 1988. p. 37-
40.
3. Merece destaque a excepcional obra de Antonio Magalhães Gomes Filho, publica-
da em 2001 sob o título de A Motivação das Decisões Penais. 
Diante desse patológico cenário, o Novo Código de Processo Ci-
vil buscou dar nova dignidade à garantia ao estabelecer, de forma 
bastante detalhada, o que é motivar adequadamente uma decisão ju-
dicial (art. 489, §1º). A opção legislativa foi louvável por três razões.
Em primeiro lugar, o dever de motivação é pressuposto do Es-
tado de Direito, constituindo um necessário instrumento de controle 
da atividade jurisdicional. É pela motivação que o juiz presta con-
tas do exercício do poder jurisdicional, demonstrando às partes, aos 
tribunais que lhe são hierarquicamente superiores e à sociedade de 
modo geral que aquela era a decisão correta a ser tomada, pois con-
gruente ao que foi narrado e provado pelas partes e congruente ao 
Direito produzido democraticamente pelo povo e para o povo. 
Em segundo lugar, o dever de motivação é fundamental para a 
promoção da segurança jurídica. A jurisdição desempenha relevan-
tíssima função de esclarecimento, integração e homogeneização do 
Direito, dissolvendo antinomias, buscando soluções sistemáticas 
para eventuais omissões legislativas e definindo a forma pela qual o 
Direito deve ser interpretado e compreendido. 
Em terceiro lugar, o dever de motivação é, muito possivelmente, 
a mais importante de todas as garantias do devido processo legal. 
Não só porque a motivação é indispensável ao controle e à legiti-
mação da atividade jurisdicional – e o devido processo legal é ins-
trumento precípuo de controle e legitimação da atividade jurisdi-
cional –, mas também porque a motivação é a última das garantias 
processuais. Se a inércia jurisdicional é indispensável para conferir 
imparcialidade ao julgamento, a motivação impede que o pedido seja 
julgado a partir de uma causa de pedir que não consta da petição ini-
cial (constituindo uma demanda distinta da proposta, portanto); se a 
coisa julgada é necessária para dar estabilidade a situações jurídicas 
já consolidadas, promovendo a paz social, a motivação é fundamen-
tal para que se saiba quais são os seus limites; e se a observância do 
contraditório e da ampla defesa são condições essenciais de qual-
quer processo, transformam-se em garantias vazias se não houver 
uma resposta judicial racional e expressa a tudo aquilo que as partes 
alegaram e provaram; e assim por diante.
O dever de motivação adquire ainda mais relevância quando 
constatados três movimentos relativamente recentes, consolidados 
26 Rodrigo Ramina de Lucca
pelo Novo Código de Processo Civil, que se interlaçam com as rela-
ções existentes entre motivação, Estado de Direito, segurança jurídi-
ca e devido processo legal:
a) crescem os poderes atribuídos ao juiz tanto para a condução 
do processo quanto para a interpretação do direito material;
b) o valor e a eficácia dos precedentes judiciais são majorados; e
c) os precedentes judiciais (leia-se, motivações jurídicas de de-
cisões judiciais pretéritas) ampliam sua influência na toma-
da de decisões do jurisdicionado.
Em relação ao primeiro movimento, é bastante comum que os 
defensores do chamado ‘ativismo judicial’ (processual ou material) 
invoquem o contraditório como garantia fundamental à proteção das 
partes contra o arbítrio; seria o contraditório, portanto, que legiti-
maria os crescentes poderes dos juízes, seja para guiar o processo, 
seja para interpretar cláusulas gerais e conceitos indeterminados ou 
ponderar princípios. Mas não é bem assim. O instrumento legitima-
dor da atividade jurisdicional não é o contraditório, mas a exposição 
clara, coerente e racional das razões pelas quais a decisão foi tomada. 
Independentemente do que foi alegado e provado pelas partes no 
processo, o juiz deve atuar dentro de limites jurídicos rígidos e muito 
bem estabelecidos. O simples fato de autor e réu debaterem sobre o 
significado de uma cláusula geral não autoriza o juiz a interpretá-la 
de forma contrária ao sistema jurídico, aos precedentes dos tribu-
nais superiores e aos valores da sociedade em que está inserido. A 
legitimidade da atuação jurisdicional, seja ela ampla ou restrita, vem 
da demonstração de que os poderes foram exercidos pelo Estado-
-juiz com racionalidade e de acordo com o Direito. Por isso, quanto 
maiores os poderes atribuídos ao Estado-juiz, maior têm que ser a 
profundidade e a completude da motivação das decisões. 
Quanto ao segundo movimento, é notório o fato de que o Di-
reito brasileiro já vinha dando mais valor e eficácia aos preceden-
tes judiciais, seja de maneira formal, com o surgimento das súmulas 
vinculantes e da cláusula impeditiva de recursos, p.ex., seja de ma-
neira informal, com o crescente respeito dos juízes ao entendimento 
dominante de um tribunal hierarquicamente superior. O NCPC con-
solida definitivamente essa tendência ao impor aos tribunais o de-
O dever de motivação das decisões judiciais 27
ver de “uniformizar sua jurisprudência e mantê-la estável, íntegra e 
coerente”, (art. 926), bem como o dever de respeito a determinados 
precedentes (art. 927). Na medida em que precedentes são rationes 
decidendi, quer dizer, razões jurídicas pelas quais uma decisão pre-
térita foi tomada, a motivação das decisões judiciais precisa ser va-
lorizada e compreendida para que também a teoria dos precedentes 
possa ser compreendida e corretamente aplicada.
Por fim, o necessário respeito a precedentes majora a função 
desempenhada pela jurisdição de definir a interpretação que deve 
ser dada ao Direito, estabelecendo, como consequência, diretrizes de 
comportamento aos jurisdicionados. A motivação de uma decisão ju-
dicial, portanto, torna-se uma referênciade conduta às pessoas, que 
agirão não de acordo com o que entendem ser juridicamente correto, 
mas de acordo com o que os tribunais dizem ser juridicamente cor-
reto a partir da interpretação que deram ao Direito. Não é por acaso, 
portanto, que o NCPC tenha possibilitado, corretamente, a modula-
ção dos efeitos de determinada mudança jurisprudencial (art. 927, 
§§1º e ss).
Sendo assim, o objetivo deste trabalho é reafirmar o papel da 
motivação das decisões judiciais como garantia inerente ao Estado 
de Direito, demonstrando a sua imprescindibilidade tanto para o 
controle e a legitimação da atividade jurisdicional quanto para a pro-
moção da segurança jurídica e realização do devido processo legal.
§1º DELIMITAÇÃO DO TEMA
O escopo desta obra é delinear o dever de motivação das de-
cisões judiciais como garantia do Estado de Direito, o que implica 
reconhecê-lo como instrumento de promoção da segurança jurídica 
e garantia ínsita ao devido processo legal. Sendo assim, não serão es-
tudados institutos processuais intimamente relacionados com a mo-
tivação, mas que com ela não se confundem. É o caso, p.ex., da coisa 
julgada, da vinculação do assistente à justiça da decisão, do contra-
ditório e da ampla defesa, das provas, dos recursos cíveis, incluindo 
embargos de declaração, da distinção entre error in iudicando e error 
in procedendo, da preclusão para o juiz etc. A menção que será feita a 
vários deles ao longo do texto terá sempre como objetivo o desenvol-
vimento do tema proposto.
28 Rodrigo Ramina de Lucca
Também é importante ressaltar que a motivação será tratada 
neste trabalho sempre do ponto de vista jurídico. Ainda que o ins-
tituto comporte análises psicológicas e sociológicas, importa aqui o 
que a motivação deve ser e não o que ela eventualmente pode ser ou 
é na prática forense.
§2º DESENVOLVIMENTO DA OBRA
Esta obra é dividida em seis capítulos, cada um subdividido em 
três tópicos. 
O Capítulo Primeiro apresenta a fundação de todo o trabalho, es-
tabelecendo as premissas que nortearão as conclusões apresentadas 
nos Capítulos subsequentes. É nele que serão definidos os concei-
tos de Estado de Direito, segurança jurídica e devido processo legal, 
expressões largamente utilizadas com os mais diversos significados, 
e que serão assentadas concepções a respeito da função do Direito, 
dos valores que ele busca realizar, das interações entre segurança 
jurídica e justiça e da função exercida pelo devido processo legal no 
sistema jurídico brasileiro.
O Capítulo Segundo é voltado especificamente para o posicio-
namento da motivação como garantia inerente ao Estado de Direito, 
definindo a sua natureza normativa e o papel por ela desempenhado 
na legitimação e no controle da atividade jurisdicional. O ponto que 
trata do desenvolvimento histórico da motivação é fundamental para 
que seja compreendida a importância do instituto e a relação que 
possui com a liberdade do indivíduo, a racionalidade do poder juris-
dicional e a segurança jurídica.
O Capítulo Terceiro dá continuidade ao Capítulo Segundo ao 
defender uma natureza jurídica, uma estrutura e um conceito de 
motivação que sejam compatíveis com o ideal do Estado de Direito. 
Também são apresentados os atributos mínimos de racionalidade da 
motivação.
O Capítulo Quarto foca em aspectos endoprocessuais da moti-
vação, traçando brevemente algumas das interações existentes com 
outras garantias do devido processo legal, e apresentando os requisi-
tos mínimos de clareza, coerência e completude das razões apresen-
tadas, bem como as consequências jurídicas decorrentes de decisões 
imotivadas ou mal motivadas.
O dever de motivação das decisões judiciais 29
Encerrado o Capítulo Quarto, o objeto de estudo passa a ser a 
relação existente entre motivação e segurança jurídica. O Capítulo 
Quinto busca demonstrar que a motivação é fundamental para pro-
mover a segurança jurídica objetiva, identifica a motivação com os 
precedentes judiciais, distinguindo ratio decidendi e obiter dictum, 
e aponta sucintamente alguns dos institutos processuais brasileiros 
voltados à valorização e ao respeito dos precedentes.
Por fim, o Capítulo Sexto dedica-se a demonstrar que a motiva-
ção das decisões judiciais influencia a tomada de decisões do jurisdi-
cionado e, por isso, deve ser encarada como fundamento do exercício 
de uma confiança legítima que deve ser sempre tutelada. 
§3º NOMENCLATURA ADOTADA: 
MOTIVAÇÃO X FUNDAMENTAÇÃO
Para designar o ato judicial de fornecer razões para justificar 
a decisão, optou-se neste trabalho pela palavra “motivação”, em de-
trimento da opção legislativa “fundamentação”. A escolha possui 
duas razões. A primeira é de ordem prática. A utilização do termo 
“motivação” coaduna-se com a terminologia empregada nos países 
de língua italiana (motivazione), francesa (motivation) e espanhola 
(motivación); nos países de língua inglesa, embora normalmente re-
firam-se a reasoned judgments ou giving reasons, também é utilizada, 
eventualmente, “motivation”. A segunda é de ordem teórica. Embora 
os termos tenham basicamente o mesmo significado, “fundamenta-
ção” transmite a ideia de que motivar uma decisão é simplesmen-
te indicar os seus fundamentos, as razões que a suportam. O dever 
de motivar, porém, é mais do que isso. Motivar não é só dizer que a 
decisão é boa, mas que aquela era a única decisão que poderia ser 
tomada no processo; ou seja, que a decisão é a melhor que poderia 
ter sido tomada diante de todos os elementos colocados à disposição 
do juiz. Sendo assim, o instituto será referido neste trabalho como 
“motivação”. 
30 Rodrigo Ramina de Lucca

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