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[RESENHA] Partidos, ideologia e composição social: um estudo das bancadas partidárias na Câmara dos Deputados

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA 
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO - DEDC I 
CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
COMPONENTE CURRICULAR: CIÊNCIA POLÍTICA NO BRASIL
Franciele de Jesus Santos[footnoteRef:1] [1: Discente do bacharelado em Ciências Sociais pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB).] 
RESENHA[footnoteRef:2] [2: Resenha apresentada como primeira avaliação do componente curricular Ciência Política no Brasil ministrado pelo Profo. Me. Sandro Roberto Santa Bárbara.] 
RODRIGUES, Leôncio Martins. Partidos, ideologia e composição social: um estudo das bancadas partidárias na Câmara dos Deputados. 2009.
Leôncio Martins Rodrigues[footnoteRef:3], em Partidos, ideologia e composição social, mostra um panorama sobre a realidade política brasileira nos anos 1990 com base em uma extensa análise prodigiosa dos perfis dos seis principais partidos da época. Os partidos escolhidos para estudos foram: PPB (direita/atual PP), PFL (direita/atual DEM), PMDB (centro/atual MDB), PSDB (centro), PDT (esquerda) e PT (esquerda). A linha de definição ideológica escolhida segue a definição usada por diversos teóricos. [3: Leôncio Martins Rodrigues Netto possui especialização e atua na área de Sociologia e Ciência Política. Suas principais áreas de pesquisa são: sindicalismo, classes trabalhadoras, relações de trabalho, partidos políticos, eleições e classe política.] 
A questão principal da obra tange a representação dos partidos brasileiros. Quem são eles? Quais perfis dos seus integrantes? Quais seus pontos fracos? A pesquisa se inicia com uma crítica aos estudiosos estrangeiros que investigam a política brasileira. Tais pesquisadores estudam através de uma ótica externa, que não pertence a sociedade em questão, mesmo que tentem, não conseguirão abstrair inteiramente o objeto de estudo e não conseguem desvencilhar de seu olhar externo.
Os partidos brasileiros, em sua maioria, são tidos como indisciplinados. De acordo com diversos autores usados por Rodrigues (2009) a indisciplina partidária brasileira se deve ao excessivo número de partidos, a fragilidade destes que são criados para atenderem projetos pessoais, que posteriormente desaparecem ou perdem influência, mudanças de partidos por parte dos políticos, a ausência de consistência ideológico-programática, ao clientelismo, a individualidade dos políticos, de uma forma geral, a ausência de fidelidade partidária.
As bancadas dos partidos são compostas por membros de perfis sociais diferenciados, assim como orientações ideológicas e profissões discrepantes. Os parlamentares da 51ª Legislatura Federal, em sua maioria, são empresários, profissionais liberais, funcionários públicos e magistrados. Profissões mais elitistas são encontradas em maior porcentagem nos partidos de direita: empresários, funcionários públicos de alto escalão, diminuindo na medida em que se aproxima da esquerda. Na bancada dos partidos de esquerda estão presentes, em maioria, indivíduos de origem popular, oriundos de profissões de baixo escalão (operários, lavradores, sindicalistas, etc.).
Profissionais liberais e intelectuais dividem-se no bloco de centro e esquerda (professores encontram-se em maior porcentagem nos partidos de esquerda). A maioria de determinadas profissões encontradas majoritariamente nas bancadas correspondem ao foco ideológico do partido. Em um partido que visa atender demandas empresariais, ou interesses elitistas, obviamente receberá em sua bancada indivíduos pertencentes a alta classe social. A mesma lógica opera em partidos de esquerda, voltados aos ideais populares, consequentemente recebendo em seu seio pessoas da classe baixa e média;
Rodrigues (2009) também trabalha a relação patrimônio e ideologia. É um vínculo direto. Ideologicamente falando, da direita para a esquerda os números de deputados que possuem patrimônios mais elevados decrescem. É válido destacar que a categoria empresário compreende o maior número de detentores de alto patrimônio, embora profissionais liberais e professores estejam presentes também nos níveis patrimoniais mais elevados, visto que possuem mais de um emprego. A porcentagem de magistrados é baixa, com maior presença nos níveis medianos. Para esta análise utilizou-se a taxonomia correspondente a: baixo patrimônio, médio-baixo patrimônio, médio-alto patrimônio, alto patrimônio. Nesta seção concluiu-se que o patrimônio tende a aumentar com a idade.
No Norte e Nordeste havia 48% de parlamentares empresários. No Nordeste profissionais liberais e intelectuais são maioria (38%), assim como deputados com cargos na administração pública somam 24%, em menor grau no Sul (8%). Professores somavam um nível baixo no Nordeste, 9%, contrapondo 20% no Norte e Sudeste. Trabalhadores manuais, lavradores, empregados não manuais do setor de serviços representavam 9% das bancadas sulistas, 5% do Sudeste e Centro-Oeste e 3% no Norte e Nordeste.
Compreende-se que no parlamento a diversidade econômica é intensa. Os parlamentares, embora sejam todos iguais perante a profissão, possuem níveis educacional, econômico e político diferentes entre si. São grupos heterogêneos que não divergem apenas no aspecto ideológico, mas na influência política, níveis de renda, de educação, etc.
Um partido funciona através de interesses equilibrados, levando em consideração combinações socioeconômicas. Cada partido possui sua combinação sui generis, que, no fim, revela uma composição social dominante. Rodrigues (2009) trabalha este conceito ao definir que as categorias socioeconômicas majoritárias de um partido detêm o poder de determinar a ideologia, o programa, metas e estratégias a serem seguidas. Ideologia e os segmentos sociais que representam são elementos principais. Cada partido reflete suas singularidades através das diferenças regionais, valores e crenças e as ambições individuais de ascensão. Na maioria das vezes as coligações seguem a lógica da afinidade ideológica.
Uma bancada partidária é composta através da oferta de candidatos, proposta pelos partidos aos eleitores. A organização vai obedecer ao sistema eleitoral vigente do país.
Afinal, quem são os políticos que compõem estes seis partidos? São indivíduos vindos de famílias tradicionais que há gerações estão envolvidas na política (membros da alta sociedade), operários, pessoas da classe baixa e média eleitos pela causa trabalhista, assim como profissionais liberais.
Em nações que possuem baixos índices de desenvolvimento acabam com uma classe política formada pelas camadas mais altas da sociedade. Com a amplificação do capitalismo industrial e a modernização das sociedades ocidentais as camadas populares se iniciaram na vida política, assim como a democratização do sistema político, diversidade de políticos e ampliação do corpo eleitoral. O mesmo processo ocorreu no Brasil, mas em cada região do país aconteceu de forma distinta, seguindo as diferenças e particularidades locais.
Rodrigues (2009) conclui, através do prisma das primeiras eleições realizadas seguindo a Constituição de 1988 que: PDSB teve um desempenho superelevado e constante, seguido do PT. O PFL teve um pequeno crescimento e constante. O PPB sofreu um pequeno declínio. PMDB e PDT sofreram fortes quedas e constantes. Ele enxerga uma melhora significativa no sistema partidário brasileiro no que corresponde a representação, organização interna e disciplina. O multipartidarismo se consagrará através de menores intervenções externas ao sistema e a permanência da democracia.
Para a realização do estudo o autor utiliza-se de métodos quantitativos e qualitativos para coleta e exploração dos dados. As fontes de dados utilizadas foram: o Repertório Biográfico da Câmara dos Deputados – da 51ª Legislatura (1999-2013), onde a maioria dos parlamentares preencheram os dados relativos ao seu perfil (profissão, data e local de nascimento, etc.) e o Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro.
	Rodrigues (2009) traz uma proposta instigante nesta obra. Após décadas e mais décadas de República, passagem de vários partidos pela Câmara, continuamos nos perguntamos quem são elesque estão lá em cima e que dizem nos representar. É um estudo que coaduna com o nosso momento político atual, que nos faz questionar o porquê das mesmas figuras políticas (figurinhas carimbadas) continuarem no poder. 
	Ao contrário do pensamento habitual de considerar as representações políticas como pessoas homogêneas e de objetivos (ideologias) semelhantes, a pesquisa nos mostra um quadro de heterogeneidade e mais representatividade.
O autor nos fez este favor, embora em um período um pouco longínquo do ano atual, em nos mostrar em detalhes estas composições políticas. É indispensável estudar esta investigação mesmo sendo de tempos mais antigos. É uma leitura que abarca todos os públicos, ou seja, não está restrito apenas ao âmbito acadêmico com seu linguajar técnico que aborda temas importantes de interesse social.

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