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CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS LÚCIO VALENTE Página 1 AULA PRIMEIRA (luciovalente@pontodosconcursos.com.br/msn:joshuaredman@hotmail.com) Olá amigos, Sejam muito bem-vindos ao nosso curso de Direito Penal. Não se esqueçam de me enviar todas as dúvidas pelo Facebook (grupo: LÚCIO VALENTE – DIREITO PENAL). As sugestões e críticas também serão sempre bem recebidas. É muito importante que você obedeça a técnica de estudo apresentada para este curso: Técnica de estudo: 1º Faça uma primeira leitura da aula, buscando apenas um primeiro contato com os tópicos. Nesse momento, sublinhe apenas palavras e termos desconhecidos. Tempo estimado: 30 min. 2º Faça nova leitura da aula. Nesse momento, o aluno deve compreender cada ponto (perceba que divido minha aula em pontos, sendo que cada um traz uma ideia central). Descubra o significado dos termos desconhecidos. Tempo estimado: 2 horas. 3º Faça um resumo com as ideias centrais de cada ponto com palavras- chave ou na forma de perguntas e respostas (ex.: Ponto 10: O que é conduta? R: é a ação ou omissão humana consciente e voluntária voltada para uma finalidade). mailto:luciovalente@pontodosconcursos.com.br/msn CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS LÚCIO VALENTE Página 2 Tempo estimado: 1 hora. 4º Memorize as palavras-chave ou as respostas. Tempo estimado: 1 a 2 horas. Obs.: peça pra alguém lhe “tomar” a aula ou finja que está ensinando para alguém o que aprendeu (seu cachorro pode ser um ótimo aprendiz!). 5ª Estude as questões. Não as use como forma de teste. Leia cada uma buscando as respostas no texto da aula ou nos comentários respectivos. Tempo: 1h30min 6º Antes da aula seguinte, revise a aula estudada. Tempo: 10 minutos. 7º Faça revisões semanais de todas as aulas já estudadas. Para isso, releia seu resumo e só volte ao texto da aula quando precisar recordar determinados pontos. Obs.: divida o estudo da aula em, pelo menos, dois dias (ex.: 1º dia: leitura e resumo; 2º dia: memorização e questões). Antes de iniciarmos a primeira aula, solicito ao aluno que relembre comigo a estrutura do crime apresentada na aula zero (demonstrativa). CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS LÚCIO VALENTE Página 3 Perceba que estamos estudando o fato típico. Dentro do fato típico estamos estudando a conduta. Já estudamos que a conduta é a “ação ou omissão, humana, consciente, voluntária e com finalidade”. Já estudamos (1) ação e omissão {própria e imprópria}; (2) praticada por ser humano; (3) consciente; (4) voluntária; (5) finalística. Veja o gráfico: 1. Formas de conduta típica – Dolo e Culpa O estudo do dolo e da culpa no âmbito da conduta é uma conveniência didática. Na verdade, o dolo e a culpa são realidades típicas, leia-se, são elementos pertencentes ao tipo penal e não à conduta. De fato, podemos afirmar que José agiu fato típico CONDUTA: (1) ação e omissão {própria e imprópria}; (2) praticada por ser humano; (3) consciente; (4) voluntária; (5) finalística. resultado nexo causal tipicidade ilicitude estado de necessidade legítima defesa estrito cumprimento do dever legal exercício regular do direito culpabilidade imputabilidade potencial consciência da ilicitude exigibilidade de conduta diversa CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS LÚCIO VALENTE Página 4 com dolo ao matar João, mas não poderíamos dizer que José agiu com dolo ao beber água para matar a sede. Claro, porque “matar a sede” não é algo previsto como uma conduta típica, mas “matar alguém” sim. A conduta penalmente relevante deve ser necessariamente típica, diga- se, deve encontrar adequação a determinado tipo penal. Esse fenômeno somente pode ocorrer com a existência de dolo ou culpa descritos nos tipos penais. A conduta de disparar arma de fogo, como exemplo, pode ou não ter relevância típica. Se tal ação ocorrer em um stand de tiros, durante treinamento militar, será apenas mais uma conduta humana. Caso essa conduta ocorra em via pública (ex.: pessoa que efetua disparo de arma de fogo para o alto) encontrará adequação a um tipo descrito no Estatuto do Desarmamento. Nesse caso, a conduta dolosa está descrita no tipo penal, trazendo relevância para o estudo do dolo. Dessa forma, a abordagem que faço da conduta é do ponto de vista jurídico-penal. Não falo aqui de qualquer conduta, mas somente daquela com relevância típica. E conduta com relevância típica significa que ela está relacionada a determinado tipo penal. De tal modo, não nos interessa a conduta de “pular”, mas nos interessa muito a conduta de quem pula por sobre alguém causando-lhe lesões corporais. Essa última é conduta com relevância típica. É que os finalistas dividem o tipo penal em duas partes: a objetiva e a subjetiva. A primeira conteria os aspectos objetivos do tipo (conduta, resultado material, nexo causal etc.). A parte subjetiva do tipo estaria relacionada com a representação anímica do agente (dolo e outros eventuais requisitos subjetivos). Pelo princípio da congruência, a adequação típica (tipicidade) depende do encontro dessas duas partes perfeitamente ajustadas. CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS LÚCIO VALENTE Página 5 Essa concepção importa em demonstrar que a existência ou não do dolo pode levar a adequação da conduta para tipos penais distintos. Existem tipos que possuem apenas a forma dolosa (como no delito de dano); há outros que admitem apenas a conduta culposa (ex.: homicídio culposo na direção de veículo automotor); há outros, ainda, que admitem as duas formas (como no homicídio comum doloso e culposo). Se José, por exemplo, atropela dolosamente João desejando-lhe a morte, não poderá ter cometido um delito de trânsito, uma vez que o tipo respectivo não admite a forma dolosa. A adequação ocorrerá, deste modo, ao tipo do art. 121 do Código Penal. Veja a seguinte questão: ( CESPE - 2011 - PC-ES - Delegado de Polícia ) É admissível a denominação de crime de trânsito para a conduta de dano cometida com dolo, a exemplo daquele que, intencionalmente, utiliza o seu veículo para a prática de um crime. Resposta: errado. Feitas essas observações, prefiro manter o estudo do dolo e da culpa na conduta (típica), por ser didaticamente mais adequado.1 Muito bem. Como eu já tive a oportunidade de explicar, a conduta pode ser praticada por um fazer (ação) ou um não fazer (omissão). Ocorre que determinada 1 O professor Cleber Masson (Direito Penal Esquematizado, 4ª Edição, Ed, Método, pg. 263) assim inicia seu estudo de dolo: “ O dolo, no conceito finalista de conduta, integra a conduta. Pode, assim, ser conceituado como elemento subjetivo do tipo. É implícito e inerente a todo crime doloso.” (grifei) Como expliquei, o dolo pertence ao tipo e, por consequencia, à conduta típica dolosa (conduta descrita no tipo penal doloso). CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS LÚCIO VALENTE Página 6 conduta típica ativa ou omissiva pode ainda ser classificada como dolosa ou culposa. É isso que vamos ver a partir de agora. 2. O Dolo: O Código Penal prevê o conceito de dolo em seu artigo 18, da seguinte maneira: “Diz-se o crime: I - doloso, quando o agente quis o resultado (dolo direto) ou assumiu o risco de produzi-lo (dolo eventual)”. Art. 18 do CPB. Como se vê, a lei previu apenas duas hipóteses de “dolo”: o direto e o eventual. 3. Há no conceito de dolo dado pelo artigo 18 do CPB duas teorias que o explicam: a teoria da vontade (querer o resultado) e a teoria do assentimento ou da aceitação(assumir o risco de produzir o resultado). Portanto, é doloso tanto quem, por exemplo, quer matar, como quem, mesmo não querendo, assume o risco de produzir o resultado morte. TEORIAS DO DOLO TEORIA DA VONTADE (DOLO DIRETO) Querer o resultado TEORIA DO ASSENTIMENTO (DOLO EVENTUAL) Aceitação do resultado CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS LÚCIO VALENTE Página 7 Segundo a redação do artigo 18, I, do Código Penal (“Diz-se o crime: I – doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo”), é possível concluir que foi adotada (Delegado de Polícia/NCE-UFRJ/PCDF/2005): a) a teoria do assentimento; b) a teoria da representação; c) as teorias do assentimento e da representação; d) as teorias do assentimento e da vontade; e) as teorias da representação e da vontade. RESPOSTA: D Vamos iniciar o estudo a partir dessa classificação feita pela lei. Após, veremos classificações para o dolo dadas pela doutrina e que, por isso, são comuns em provas. Só gostaria de ressaltar que, basicamente, o dolo ou é direto ou é eventual. Qualquer outra classificação de dolo é meramente doutrinária. Preparado? Então, vamos lá! 4. Dolo direto (o sujeito quer o resultado) Sábado, dia 24 de dezembro, véspera de Natal. Imagine-se tentando estacionar seu veículo no Park Shopping. Dá stress só de pensar, não é mesmo? CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS LÚCIO VALENTE Página 8 Um velho senhor chega com seu carro para comprar o presente do neto. Após rodar por mais de uma hora a procura por uma vaga, eis que surge uma luz de ré. É um carro saindo e liberando uma vaga. Aquele senhor espera o carro sair com seta ligada, indicando que vai estacionar naquele local. Quando vai parar seu carro, outro sujeito acelera e coloca o carro na vaga que ele estava esperando. - Amigo, me desculpe, mas eu estava esperando essa vaga! - “Qualé” tio, o mundo é dos “eshhpertoshh”! Procura outra vaga! Então, o rapaz sai caminhando rindo do velho senhor. Aquele senhor que nunca antes havia praticado qualquer crime em sua vida, acelera o carro e atropela o rapaz. Após, engata a marcha ré e o atropela novamente. Por fim, engata a primeira marcha e o atropela pela terceira vez para ter certeza que o matou. Aquele senhor quis matar a vítima? Bom, se ele não quis, eu não sei mais o que é querer! Como o diz o povão: “ele quis DE COM FORÇA!” Esse é, portanto, o Dolo Direto. No caso, o agente dirigiu sua vontade final para o resultado criminoso. Diga-se, ele quis o resultado criminoso. DOLO DIRETO SIGNIFICA QUERER O RESULTADO DESCRITO NO TIPO. 5. Como se vê, o dolo direto exige dois elementos para sua configuração: a. Um elemento intelectual: conhecimento atual das circunstâncias de fato do tipo penal (ex.: José sabe que “mata alguém”). O desconhecimento atual de CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS LÚCIO VALENTE Página 9 circunstâncias fáticas (leia-se do fato concreto) leva ao denominado “erro de tipo”, que afasta o dolo (ex.: José, ao matar alguém, pensa que mata uma onça). b. Um elemento volitivo: representado por “querer” incondicionalmente o resultado descrito no tipo penal (Ex.: José efetua disparo contra João, sabendo tratar-se de uma pessoa (elemento intelectual) e pretendendo ceifar sua vida (elemento volitivo)). Obs.: a vontade de ser capaz de causar fisicamente o resultado real, permitindo definir o resultado típico como “obra do autor”. Assim, se José envia João para um passeio de barco querendo sua morte, mas não se envolve em nenhum ato que leve a esse resultado, o naufrágio causado por uma forte e inesperada tempestade não pode ser atribuído a José. O resultado, como se vê, é obra do acaso e não da conduta do autor, que não poderá responder pela morte. Nesse ponto, podemos dizer que José “desejou” a morte de João, o que não é suficiente para caracterizar o dolo. A “teoria da imputação objetiva”, como veremos, pretende explicar essa não imputação com critérios diferentes. Voltaremos ao tema em momento oportuno. Quais são os elementos do dolo direto? Diferencie “desejo” de causar o resultado de “vontade” dirigida ao resultado. 6. Nesse querer do dolo direto, estão implícitas duas situações: o resultado e o meio para esse resultado. Desse raciocínio nascem dois tipos de dolos diretos, o dolo direto de primeiro grau e o dolo direto de segundo grau. Vamos lá, então: 7. O dolo direto pode ser subdividido em: DOLO DIRETO DE PRIMEIRO GRAU: a vontade abrange o resultado típico como fim em si; CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS LÚCIO VALENTE Página 10 DOLO DIRETO DE SEGUNDO GRAU (OU DE CONSEQUÊNCIAS NECESSÁRIAS): o resultado típico é uma consequência necessária dos meios eleitos (escolhidos) para o cometimento do crime. Para Hans Welzel, idealizador da teoria finalista da ação, a vontade final do agente abarca também os efeitos concomitantes da conduta. A explicação seria a de que quando o ser humano age, ele calcula, em certa medida, os efeitos colaterais de seu ato. O exemplo seria aquele em que o sujeito quer matar o presidente que está em um avião. Para isso, coloca uma bomba no avião e acaba matando, além do presidente, outras pessoas que ali estavam. Ao eleger como ação final a morte da vítima por explosão da aeronave, considerou segura ou, no mínimo, contou como certa, a morte das outras vítimas. O resultado é, assim, resultado do seu “querer” final. Observe! O Dolo direto de primeiro grau existe em relação à morte do presidente. O Dolo direto de segundo grau existe em relação às outras pessoas que morrerão, porquanto era uma consequência necessária da conduta, dentro do que foi planejado. Igualmente, no caso do assassínio de irmãos xifópagos (siameses). Dentro do querer matar um dos irmãos, o autor, automaticamente, “quer” indiretamente a morte do outro, sendo essa uma consequência necessária de seu ato. CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS LÚCIO VALENTE Página 11 Outro exemplo de dolo direto de 2º grau: O agente quer afundar seu barco para receber o seguro, o que configuraria fraude para recebimento de seguro (Art. 171, inciso V, do CPB). Ele tem certeza que quando fizer isso vai acabar matando seu funcionário que pilota a embarcação. Bom, se ao afundar o barco ele teve certeza que ia matar o funcionário, ele de certa forma também QUIS a morte do rapaz. Dolo direto de primeiro grau em relação à fraude e dolo direto de segundo grau em relação à morte. 8. Mas, Valente, o dolo direto de segundo grau é muito parecido com o dolo eventual (quando o agente aceita ou assume o risco)! Sim, é verdade! Mas no dolo direto de segundo grau ele tem certeza que a consequência necessária para a finalidade dela ocorrerá. Já no dolo eventual, o resultado pode “eventualmente ocorrer”. DOLO DIRETO O AGENTE QUER O RESULTADO CRIMINOSO DOLO DIRETO DE PRIMEIRO GRAU = A VONTADE SE REALIZA COM A PRODUÇÃO DO RESULTADO FINAL DOLO DIRETO DE SEGUNDO GRAU = SÃO AS CONSEQUÊNCIAS NECESSÁRIAS DA AÇÃO DO AGENTE CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS LÚCIO VALENTE Página 12 POR EXEMPLO, SE ACELERO O MEU CARRO A 160 KM/H EM ÁREA ESCOLAR E SOU INTERPELADO PELO CARONA QUE DIZ: “VALENTE, DESSE JEITO VOCÊ VAI ACABAR MATANDO UMA CRIANÇA QUE EVENTUALMENTE ATRAVESSE A RUA”. SE MINHA RESPOSTA FOR: “DANE-SE! SE OCORRER, TANTO PIOR PRA ELA!” ESTOU AGINDO COM DOLO EVENTUAL, OU SEJA, PODE SER QUE OCORRA OU NÃO. Bom, para que você compreenda isso melhor, vamos ao estudo do dolo eventual. 9. Dolo indireto (eventual) - (não quer o resultado, mas aceita correr o risco.) Caso dos mendigos Russos (Löffler): Durantea Revolução Russa (Revolução Socialista de Lênin, 1917), mendigos mutilavam seus filhos para aumentar a compaixão pública. Ao fazê-lo o pedinte toma como possível a morte do filho, mas isso não o detém de praticar o ato – dolo eventual, portanto. DOLO DIRETO DE 1º GRAU X DOLO EVENTUAL DOLO DIRETO DE 1º GRAU = É UMA CONSEQUÊNCIA CERTA DA MINHA FINALIDADE (GRANDE GRAU DE CERTEZA) DOLO EVENTUAL = PODE SER QUE OCORRA OU NÃO (APENAS POSSIBILIDADE) CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS LÚCIO VALENTE Página 13 Perceba que o mendigo não quer que a criança morra, até porque seria pior para conseguir esmolas, já que a cena de uma criança sempre toca as pessoas. Mas, no caso concreto, se você perguntasse ao mendigo: “Você não vê que esta criança pode pegar uma infecção em meio a tanta sujeira?” Ele pode responder: “Bom, se morrer, pior pra ela. Seja como for, não paro a minha conduta. Ou seja, DANE-SE!” Outro exemplo seria do médico que não possui especialidade em cirurgia, mas resolve, mesmo assim, submeter um paciente a cirurgia de lipoaspiração. O médico tem consciência que pode levar o paciente à morte, mas isso não impede de prosseguir, uma vez que receberá um bom dinheiro pela cirurgia. O médico pensa com ele mesmo: -“Bom, querer matar eu não quero, mas se a paciente morrer tanto pior para ela! Dane-se!” Nas duas situações o agente aceita a produção do resultado. Diga-se, percebe que é possível a ocorrência do resultado gravoso e assume o risco de produzir esse mesmo resultado. Como se vê, no dolo eventual, o agente prevê a possibilidade do resultado criminoso, mas não o quer diretamente. Em verdade, pode ser que o resultado criminoso seja até desinteressante para o agente (no caso do mendigo russo, perder a criança poderia significar menos esmolas), porém a previsão da ocorrência do resultado não impede que o agente prossiga em sua conduta. É como se dissesse para si mesmo: “haja o que houver, ocorra o que ocorrer, não paro minha conduta”. CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS LÚCIO VALENTE Página 14 (Analista – MPU – 2007) João, dirigindo um automóvel, com pressa de chegar ao seu destino, avançou com o veículo contra uma multidão, consciente do risco de ocasionar a morte de um ou mais pedestres, mas sem se importar com essa possibilidade, João agiu com a) culpa b) dolo indireto c) culpa consciente d) dolo eventual Resposta: D ( FCC - 2010 - TRE-AL - Analista Judiciário-adaptada ) Há dolo eventual quando o agente, embora prevendo o resultado, não quer que ele ocorra nem assume o risco de produzi-lo. Resposta: Errado 10. Neste momento, preciso falar uma coisa importante: o posicionamento dos tribunais, em maioria, é de que o dolo direto e o dolo eventual são DOLO EVENTUAL PREVISÃO DO RESULTADO + ACEITAÇÃO DESSE RESULTADO PREVISTO CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS LÚCIO VALENTE Página 15 equiparados pela lei. Quero dizer, tudo que cabe para o dolo direto, cabe para o dolo eventual. Diz o Ministro Francisco Campos na Exposição de Motivos do Código de 1940: “Segundo o preceito do art. 15, I, o dolo existe não só quando o agente quer diretamente o resultado (effetus sceleris), como assume o risco de produzi-lo. O dolo eventual é, assim, plenamente equiparado ao dolo direto. É inegável que arriscar- se conscientemente a produzir um evento vale tanto quanto querê-lo.” Assim, a lei equiparou o dolo direto ao eventual, não sendo correto dizer que um é mais grave do que o outro.” Valente, qual a importância disso? Isso é importante para você acertar questões como a seguinte: (CESPE - 2010 - DPU - Defensor Público ) Em se tratando de homicídio, é incompatível o domínio de violenta emoção com o dolo eventual. Antes de qualquer coisa, lembre-se que a assertiva está se referindo a uma causa de diminuição de pena existente no homicídio que é: “praticar o fato sob domínio de violenta emoção, logo após a injusta provocação da vítima” (Art. 121, § 1º, CPB). Realmente, é difícil pensar nessa causa de diminuição com dolo eventual. Mas, pense na situação do sujeito que tem seu inimigo em frente a seu carro, impedindo a passagem e, ao mesmo tempo, xingando a vítima de “corno” na presença dos filhos deste. O motorista acelera o carro, dominado por violenta emoção provocada por ato injusto da vítima, assumindo o risco de matá-la. Ao praticar tal conduta, acaba por causar sua morte. http://www.questoesdeconcursos.com.br/provas/cespe-2010-dpu-defensor-publico CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS LÚCIO VALENTE Página 16 Eu disse que: “TUDO QUE CABE PARA O DOLO DIRETO, CABE PARA O EVENTUAL.” Então não tenha dúvida de marcar a questão como ERRADA. Ou seja, é plenamente compatível o dolo eventual como “domínio de violenta emoção”. Outra pergunta: cabe tentativa em dolo eventual? A doutrina se divide, mas marque na prova como te ensinei: TUDO QUE CABE PARA O DOLO DIREITO, CABE PARA O EVENTUAL. A resposta é sim, portanto. Dica: sempre que o cespe afirmar que “cabe determinada situação para o dolo eventual”, como nos exemplos acima, a resposta será CORRETA. 11. Posição divergente: o STF, no entanto, entende ser incompatível o dolo eventual com a qualificadora do homicídio consistente em praticar o fato com recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido. INFORMATIVO Nº 618 TÍTULO Dolo eventual e qualificadora: incompatibilidade TUDO QUE COUBER PARA O DOLO DIRETO, CABERÁ PARA O DOLO EVENTUAL Cabe tentativa em dolo eventual O dolo eventual é compatível com qualquer qualificadora do homicídio CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS LÚCIO VALENTE Página 17 ARTIGO São incompatíveis o dolo eventual e a qualificadora prevista no inciso IV do § 2º do art. 121 do CP (“§ 2º Se o homicídio é cometido: ... IV - à traição, de emboscada ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido”). Com base nesse entendimento, a 2ª Turma deferiu habeas corpus impetrado em favor de condenado à pena de reclusão em regime integralmente fechado pela prática de homicídio qualificado descrito no artigo referido. Na espécie, o paciente fora pronunciado por dirigir veículo, em alta velocidade, e, ao avançar sobre a calçada, atropelara casal de transeuntes, evadindo-se sem prestar socorro às vítimas. Concluiu-se pela ausência do dolo específico, imprescindível à configuração da citada qualificadora e, em conseqüência, determinou-se sua exclusão da sentença condenatória. Precedente citado: HC 86163/SP (DJU de 3.2.2006). HC 95136/PR, rel. Min. Joaquim Barbosa, 1º.3.2011. (HC-95136) O dolo eventual, como falei, é em tudo equiparável ao dolo direto. Recentemente, por exemplo, ocorreu um fato em Porto Alegre que todos irão se lembrar. Um motorista avançou sobre ciclistas que faziam protesto em uma via pública da capital gaúcha (Veja o vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=8Z2V4BNcLgo&feature=related). Não tenho dúvidas em afirmar que o agente agiu com dolo eventual e deverá, portanto, responder por tentativa de homicídio qualificado pelo recurso que impossibilitou a defesa do ofendido. Não vejo, dessa forma, qualquer incompatibilidade entre os institutos e penso estar muito bem acompanhado pelo STJ. Senão, vejamos julgado recente: Consoante já se manifestou esta Corte Superior de Justiça, a qualificadora prevista no inciso IV do § 2.º do art. 121 do Código Penal é, em princípio, compatível com o dolo eventual, tendo em vista que o agente, embora prevendo o resultado morte, http://www.youtube.com/watch?v=8Z2V4BNcLgo&feature=related CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS LÚCIOVALENTE Página 18 pode, dadas as circunstâncias do caso concreto, anuir com a sua possível ocorrência, utilizando-se de meio que surpreenda a vítima (STJ, HC 120.175/SC, DJe 29/03/2010) De qualquer sorte, o posicionamento apresentado pela Turma do STF deverá ser considerado para provas futuras, apesar de não ser jurisprudência majoritária. O fato é que os examinadores não têm feito diferenciação entre “jurisprudência” (decisão reiterada de um Tribunal dando determinada interpretação a um instituto jurídico no fato concreto) de “precedente” (decisão ou decisões não reiteradas de órgão singular ou colegiado de Tribunal). 12. Elementos subjetivos especiais José, médico ginecologista, é procurado por Maria para realização de exame clínico. José solicita que Maria se deite em uma cama em posição ginecológica. Então, após calçar a luva, introduz o dedo indicador na vagina de Maria. Podemos afirmar, com certeza, que José consciente e voluntariamente introduziu seu dedo na vagina de Maria. Tem, por conseguinte, conhecimento e vontade de praticar um crime? Em princípio, não. Veja que o especial fim de agir de José, suas intenções, suas tendências internas, suas atitudes psicológicas não foram libidinosas (leia-se, de caráter sexual). Podemos afirmar, então, que ao lado do dolo, a lei pode exigir do sujeito ativo determinada atitude psicológica. No estupro, a finalidade de satisfação sexual; no furto, a intenção especial de se apropriar da coisa; a finalidade de uso pessoal, no crime de porte de drogas para uso próprio; a tendência de extrapolar os limites de sua autoridade, no abuso de autoridade; a finalidade de manchar a reputação social da vítima na calúnia e difamação, e por aí vai. CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS LÚCIO VALENTE Página 19 13. Esses elementos subjetivos especiais eram antes apelidados de “dolo específico”. Atualmente, a denominação “elemento subjetivo especial do tipo ou do injusto” é mais utilizada. Bom, a identificação dessas características especiais de cada tipo penal é um trabalho a ser realizado tipo por tipo na parte especial do Código Penal. De qualquer forma, é importante entender o esquema geral de classificação de tais tipos penais. Com efeito, a doutrina classifica os elementos subjetivos especiais do tipo em: a. Delitos de intenção (ou de tendência interna transcendente): ocorre quando o tipo penal descreve um propósito que não precisa se realizar concretamente, mas que deve ser finalidade do autor. Na extorsão mediante sequestro (CPB, art. 159), por exemplo, a lei descreve a conduta de quem sequestra pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate. O sequestrador, nesse caso, deve ter um propósito bem definido: obter o resgate. Ocorre que, mesmo que esse propósito não se cumpra (ex.: a vítima é encontrada pela polícia antes do pagamento) o crime já se realizou. Os delitos de intenção são subdividos em: i. Delitos de resultado cortado: em que o resultado pretendido não exige ação complementar do autor. O furto é um exemplo de delito de intenção com resultado cortado. O art. 155 do CPB descreve: subtrair coisa alheia móvel com a finalidade de (para) ter para si ou para outrem. Assim, temos: Subtrair coisa alheia móvel: dolo genérico. Para si ou para outrem: dolo específico (elemento subjetivo especial) é por isso que não se pune o “furto de uso”, ou seja, aquela situação em que o sujeito “toma emprestada” a coisa sem autorização do dono. Se não existe finalidade de ficar definitivamente com a coisa, não existe furto. CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS LÚCIO VALENTE Página 20 Pois bem, essa finalidade especial não exige uma segunda ação do autor, bastando que exista a finalidade especial em sua mente. Outros exemplos de delitos de intenção com resultado cortado: com o fim de obter (art. 159, CPB – extorsão mediante sequestro); com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que está contaminado (art. 131, CPB – perigo de contágio de moléstia grave); etc. ii. Delitos mutilados de dois ou mais atos: em que o resultado complementar exigiria outras ações por parte do criminoso. Um sujeito que falsifica cédula de Real, por exemplo, tem alguma finalidade especial ao praticar o falso (ex.: praticar estelionato). Entretanto, esse resultado posterior, que não faz parte do tipo de falso, depende de uma ou várias ações do sujeito ativo. Por isso, diz-se que o crime foi mutilado em dois ou mais atos. ( CESPE - 2010 - MPE-RO - Promotor de Justiça) No tocante aos delitos de intenção, assim conceituados por parte da doutrina, há as intenções especiais, que dão lugar aos atos denominados delitos de resultado cortado, tais como o crime de extorsão mediante sequestro, e os atos denominados delitos mutilados de dois atos, tais como o crime de moeda falsa. Resposta: correto. b. Delito de tendência intensificada: a ação do autor está contaminada por uma tendência psicológica que só existe em sua mente. Se tirarmos uma foto da situação, não poderemos dizer se o fato é criminoso ou não. Na maioria das vezes, esses fatos passam sem a percepção de qualquer pessoa, pois o dolo específico só existe no coração do agente. CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS LÚCIO VALENTE Página 21 Em uma situação real, uma mulher procurou a delegacia para relatar que, quando esteva internada em determinado hospital, foi examinada por um médico, o qual apalpou seios. A situação não despertaria qualquer alarde, uma vez que, ao que parece, o exame clínico seria coerente com a enfermidade da vítima. Entretanto, o doutor, ao praticar tal conduta, disse para a vítima: “dá até vontade de beijá-los.” Veja que o aspecto libidinoso é o que permite diferir um simples exame clínico de um eventual delito sexual. c. Delitos de expressão: é o que se caracteriza pela existência de uma desconformidade entre a expressão e a convicção pessoal do autor (ex.: no falso testemunho, o agente diz que não viu o suspeito (expressão mentirosa), quando tem convicção de que viu). PEGANDO O FIO DA MEADA elemento subjetivo do injutos delito de intenção resultado cortado mutilados em vários atos tendência intensificada delitos de expressão CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS LÚCIO VALENTE Página 22 1. A CONDUTA ATIVA OU OMISSIVA PODE SER PRATICADA DOLOSAMENTE OU CULPOSAMENTE; 2. O DOLO PODE SER DIRETO OU EVENTUAL (INDIRETO); 3. NO DOLO DIRETO O SUJEITO QUER O RESULTADO (TEORIA DA VONTADE); 4. O DOLO DIRETO PODE SER DE 1º E DE 2º GRAUS; 5. NO DOLO DIRETO DE PRIMEIRO GRAU O AGENTE VISA A UM FIM DETERMINADO; 6. NO DOLO DIRETO DE SEGUNDO GRAU O AGENTE PRATICA OUTRO CRIME COMO UMA CONSEQUÊNCIA NECESSÁRIA DENTRO DO PLANEJAMENTO QUE ELE ARQUITETOU. 7. NO DOLO EVENTUAL O SUJEITO ACEITA PRODUZIR O RESULTADO (TEORIA DO ASSENTIMENTO); 8. TUDO QUE CABE PARA O DOLO DIRETO, CABE PARA O DOLO EVENTUAL (EXEMPLO: TENTATIVA). 9. O STF ENTENDE NÃO SER COMPATÍVEL DOLO EVENTUAL COM A QUALIFICADORA DA SUPRESA NO HOMICÍDIO. 10. OS ELEMENTOS SUBJETIVOS ESPECIAIS REPRESENTAM UM ESPECIAL FIM DEAGIR POR PARTE DO AGENTE. 14. Bom, como eu falei agora a pouco, o Código Penal (art. 18) apenas classificou o dolo em DIRETO e EVENTUAL. Todavia, existem outras classificações para o DOLO que devem ser estudadas. Lembro que, de uma forma ou de outra, o dolo será direto ou eventual. PARA APROFUNDAR! CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS LÚCIO VALENTE Página 23 Outras classificações do dolo: a. Dolo alternativo: o autor quer, de forma indiferente, um ou outro resultado ( Ex.: Caio atira em Mévio, poucoimportando para matá-lo ou feri-lo). b. Dolo cumulativo: O agente pretende alcançar dois resultados, em sequência. O exemplo pode ser o de que o agente deseja espancar a vítima e, só depois, matá-la. No caso, a lesão ficará absorvida pelo homicídio se for meio para a realização deste. c. dolo de ímpeto (ação dolosa sem cogitação, sem premeditação): impulsivo, não presumido. Ocorre muitas vezes em discussões de trânsito em que o agente efetua um disparo na vítima após tomar uma fechada. d. Dolo específico: (também chamado de elemento subjetivo do tipo ou delito de tendência) – quando a lei especifica o tipo de crime, “com o fim de, com a finalidade de, com o intuito de, com a intenção de”. Exemplo: “Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate” (Extorsão mediante seqüestro, art. 159 do CPB). (CESPE_Procurador do MP_TC_GO_2007) No crime de falsificação de documento público o dolo é específico. Resposta: Errado (CESPE_Procurador do MP_TC_GO_2007) Para a configuração do crime de peculato-desvio, é necessária a presença do dolo genérico e do dolo específico. CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS LÚCIO VALENTE Página 24 Resposta: Correto. e. Dolo geral (Ex. o sujeito quer matar por veneno, mas mata enforcado simulando o suicídio) No dolo Geral teríamos uma só conduta, dividida em dois ou mais atos: o agente dispara contra a vítima, que desmaia; ele pensa que a vítima já morreu e joga seu corpo ao rio para encobrir o crime anterior; descobre-se depois que ela morreu não pelo disparo, mas sim pelo afogamento. Quis matar e, de fato, matou, respondendo pelo resultado normalmente. O dolo geral é também denominado “erro sobre o nexo causal”. Por que a denominação “dolo geral”? Porque o dolo do agente o acompanha até o resultado, mesmo que este não advenha da forma como imaginou inicialmente. RESUMINDO: QUIS MATAR, MATOU! Obs.: O dolo geral é tratado pela doutrina como uma forma de erro (erro sobre o nexo causal). Voltaremos ao assunto em aula específica. f. Dolo de perigo: em verdade, não é propriamente o dolo que é de perigo, mas o tipo penal (tipo de perigo concreto ou de perigo abstrato). Os doutrinadores dividem os TIPOS DE PERIGO em: (a) perigo abstrato (ex.: omissão de socorro), onde o perigo não precisa ficar demonstrado, pois ele se presume; CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS LÚCIO VALENTE Página 25 (b) perigo concreto (Ex.: Periclitação à vida ou à saúde de outrem), onde o crime só se consuma com a demonstração efetiva do perigo para pessoa(s) determinada(s). Imagine que o sujeito saiba que é portador de uma moléstia venérea, o que não impede de manter relações sexuais desprotegido com uma moça, sem alertá-la dessa situação. Bom, no caso, a vítima ficou CONCRETAMENTE em perigo. Mesmo que não lhe seja transmitida a doença, o agente responde pelo crime de “perigo de contágio venéreo” (Expor alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato libidinoso, a contágio de moléstia venérea, de que sabe ou deve saber que está contaminado, art. 130 do CPB). Referido crime é de perigo concreto, tendo de existir demonstração do efetivo perigo. Caso a doença seja transmitida à moça, o crime será de LESÕES CORPORAIS (Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem, ART. 129 do CPB), uma vez que o PERIGO se transformou em LESÃO. Diferente seria o caso de alguém andar armado. Não se faz necessário que fique demonstrado que determinada pessoa ou grupo de pessoas tenha sido concretamente colocado em perigo com essa conduta. Isso porque se presume que andar armado ilegalmente seja algo perigoso. Assim, porte ilegal de arma de fogo (art. 14, Lei 10.826/03) é crime de perigo abstrato, vez que o perigo se presume. DOLO DE PERIGO Abstrato: se presume Concreto: não se presume CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS LÚCIO VALENTE Página 26 15. A culpa Diz-se o crime culposo (ou não intencional) quando o agente não quer o resultado, nem mesmo assume o risco de produzi-lo, porém, por inobservância do dever de cuidado e diligência, na forma de imprudência, negligência e imperícia acaba causando um resultado criminoso. Em uma noite de sábado, José dirige seu carro para a casa de sua namorada. Durante o trajeto, utiliza-se de seu celular para enviar uma mensagem de texto para ela, avisando sua chegada. Ao fazer isso, tira o foco da direção e acaba por atropelar uma velhinha que atravessava a rua em uma faixa de pedestres. Ao retirar sua atenção da pista para utilizar o celular, José quebrou um dever de cuidado a que todos os motoristas estão obrigados. Ao atropelar e matar a velhinha poderá responder pelo resultado, mesmo que não intencional. OUTRAS FORMAS DE DOLO Dolo alternativo Dolo de perigo Dolo cumulativo Dolo específico Dolo geral CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS LÚCIO VALENTE Página 27 Pergunto: Existiu vontade (voluntariedade) na conduta de José? Sim, claro! TODA CONDUTA TEM VOLUNTARIEDADE, lembra-se? Lembrando os elementos da conduta: O que ocorre na conduta culposa é que a vontade não é dirigida (finalisticamente) para algo criminoso. Veja que José, por exemplo, apenas queria mandar uma mensagem para sua namorada, mas por imprudência acabou causando um acidente. Assim, o elemento essencial do injusto culposo não é o resultado em si (ex.: atropelamento), mas a forma de conduta descuidada que levou ao resultado. Se há quebra do dever de cuidado, há culpa (ex.: atropelamento por desrespeito às normas de trânsito). Caso contrário, não há culpa (ex.: não há culpa pelo resultado na conduta do motorista que atropela alguém que se joga de forma suicida em frente ao veículo). CONDUTA AÇÃO OU OMISSÃO HUMANA CONSCIENTE VONTADE FINALIDADE CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS LÚCIO VALENTE Página 28 A culpa, portanto, é a quebra de um dever objetivo de cuidado. Por cuidado objetivo, devemos levar em conta que a vida em sociedade produz determinados riscos (tráfego de veículos, construções de edifícios, manipulação de objetos perigosos etc.). Os riscos, basicamente, podem ser permitidos (ex.: tráfego de veículo com obediência às normas de trânsito), e riscos não tolerados (ex.: cirurgia médica sem que o profissional tenha sido treinado adequadamente). Os crimes culposos nascem, justamente, do segundo grupo. Aquele que causa um acidente após imprimir velocidade acima daquela de segurança da via, poderá responder pelo resultado danoso (ex.: morte do outro motorista. Como bem ensina Welzel, com a observância do cuidado objetivo (no caso, com a observância das regras de trânsito) desaparece o crime culposo. “Se se produz a lesão de um bem jurídico como consequência de uma ação desse tipo, trata-se de uma desgraça, mas não de um injusto”. O princípio que fundamenta os delitos culposos pode ser compreendido pelo antigo brocardo latino: Quidquid agis, prudenter agas et respice finem (Qualquer coisa que faças, faze-o com prudência e considere o resultado). 16. Como alguém pode quebrar o dever de cuidado? a. Por Imprudência: é um fazer descuidado Exemplo: acelerar o veículo acima da velocidade permitida. b. Por negligência: é um não fazer descuidado; Exemplo: deixar de fazer a manutenção do veículo. c. Por Imperícia: é um não saber fazer (falta de habilidade técnica). CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS LÚCIO VALENTE Página 29 Exemplo: dirigir o veículo sem ter carteira de habilitação. 17. Classificação de Culpa Observe uma coisa: o Direito Penal nunca punequalquer pessoa por resultados que ocorram extraordinariamente fora da possibilidade de previsão. Quero dizer que, se o resultado for imprevisível, o agente não se responsabiliza por ele. Muito bem. Se o resultado é previsível (leia-se, uma pessoa de mediana inteligência pode prever) pode ocorrer de o sujeito prever ou não esse resultado. Digo, pode prever ou não prever o previsível. Dentro desse raciocínio surgem dois tipos de culpa: a culpa consciente (com previsão) e a culpa inconsciente (sem previsão). Tenha calma e vamos lá! 18. A culpa pode ser consciente ou inconsciente. a. Culpa Consciente (com previsão): é aquele que o sujeito prevê o resultado, mas acredita sinceramente que não ocorrerá. Lembro que quando eu era criança, meu pai me levou ao circo no dia do meu aniversário de sete anos. Uma das atrações do circo era o atirador de facas. O sujeito atirava as facas em direção a uma moça presa a uma roda em movimento. FORMAS DE CULPA IMPRUDÊNCIA NEGLIGÊNCIA IMPERÍCIA CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS LÚCIO VALENTE Página 30 Pense! O sujeito ao atirar facas em direção à moça não tinha intenção de matá-la, pelo menos é o que se espera. Ele até previu que um erro poderia ser trágico, mas acredita sinceramente que esse erro não ocorrerá, até porque ele treina esse número há anos. Ocorre que o pior acaba por acontecer, por erro no lançamento da faca, o atirador acerta o peito da moça, matando-a. Eis a culpa consciente! O sujeito acredita, sinceramente, que o resultado não ocorrerá, mas acaba causando esse resultado por imprudência, negligência ou imperícia. 19. Qual a diferença entre DOLO EVENTUAL e CULPA CONSCIENTE? O DOLO EVENTUAL se aproxima da CULPA CONSCIENTE, porém com ela não se confunde, por que: (a) no DOLO EVENTUAL há conformação com o resultado (seja como for, dê no que dê, não deixo de agir); ao passo que (b) na CULPA CONSCIENTE não se conforma com o resultado e acredita não sua não ocorrência. (até pode acontecer, mas não acredito que aconteça). (CESPE - 2008 - TCU - Analista de Controle Externo ) Durante um espetáculo de circo, Andrey, que é atirador de facas, obteve a concordância de Nádia, que estava na platéia, em participar da sua apresentação. Na hipótese de Andrey, embora prevendo que poderia lesionar Nádia, mas acreditando sinceramente que tal resultado não viesse a ocorrer, atingir Nádia com uma das facas, ele terá agido com dolo eventual. Resposta: errado CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS LÚCIO VALENTE Página 31 b. Culpa Inconsciente (sem previsão): O sujeito não prevê um resultado que lhe seria previsível. Diga-se, não vê o resultado que poderia e deveria prever. ( FCC - 2010 - TRE-AL - Analista Judiciário-adaptada ) Há culpa inconsciente quando, embora previsível o resultado, o agente não o prevê por descuido, desatenção ou desinteresse. Gabarito: correto. Imagine que o sujeito deixe seu filho de um ano de idade dentro do carro enquanto vai ao banco pagar contas. Ao fazer isso, o pai não pensou que algo de mal poderia ocorrer com seu filho. Mas, qualquer pessoa medianamente inteligente poderia ter previsto que tal ato é de extremo perigo ao infante. Assim, podemos dizer que a eventual morte da criança era algo PREVISÍVEL para qualquer pessoa normal. Enfim, o pai não previu algo que seria perfeitamente previsível. Por isso, deve responder pelo resultado. Ambas as formas de culpa (previsível e imprevisível) são equiparadas. Esse estudo é realizado, principalmente, para demonstrar a diferença entre culpa DOLO EVENTUAL X CULPA CONSCIENTE DOLO EVENTUAL É O DANE-SE! CULPA CONSCIENTE É O IH, DANOU! CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS LÚCIO VALENTE Página 32 consciente (culpa com previsão) e dolo eventual (o agente assume o risco de produzir o resultado). Então vamos lá mais uma vez. Qual a diferença entre DOLO EVENTUAL e CULPA CONSCIENTE? Dolo eventual – o agente vê o resultado como possível e aceita esse resultado; Culpa consciente – o agente vê o resultado como possível, mas acredita sinceramente que ele não ocorrerá. (CESPE_Analista Judiciário _Execução de Mandados_TJDFT_2008) Se o sujeito ativo do delito, ao praticar o crime, não quer diretamente o resultado, mas assume o risco de produzi-lo, o crime será culposo, na modalidade culpa consciente. Resposta: errado (CESPE_PROCURADOR ESPECIAL DE CONTAS – TCE-ES_2009) A culpa consciente ocorre quando o agente assume ou aceita o risco de produzir o resultado. Nesse caso, o agente não quer o resultado, caso contrário, ter-se-ia um crime doloso. Resposta: errado. CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS LÚCIO VALENTE Página 33 20. A previsibilidade objetiva (possibilidade de previsão) Cuidado com uma coisa! Na culpa consciente existe previsão do resultado, enquanto na culpa inconsciente não existe essa previsão. Mas, PREVISÃO é diferente de PREVISIBILIDADE. Todo crime exige previsibilidade (a capacidade ou possibilidade de previsão). Se não há previsibilidade de ocorrer um crime não haverá culpa. Note que o agente pode PREVER ou não como possível o resultado. Se não previu o que era previsível, não houve PREVISÃO, mas ainda existe a previsibilidade (possibilidade de ter previsto). Hehe, confuso? Vamos lá então! O filho que, ao ouvir trovões, sai de casa sem proteção contra chuva pode ter incorrido nas seguintes hipóteses: CULPA = QUEBRA DO DEVER DE CUIDADO CULPA CONSCIENTE: CULPA COM PREVISÃO CULPA INCONSCIENTE: CULPA SEM PREVISÃO CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS LÚCIO VALENTE Página 34 a) Saiu de casa PREVENDO que choveria, mas como o trajeto era curto, não se molharia. Ocorre que por negligenciar a capa acaba se molhando (molhou-se por culpa consciente). RESULTADO: VAI TOMAR UM PUXÃO DE ORELHA DA MAMÃE; b) Apesar de ter ouvido os trovões não previu a chuva, fato que poderia ser previsto por qualquer pessoa mentalmente normal. Ao sair de casa acaba se molhando (culpa inconsciente ou sem previsão) RESULTADO: VAI TOMAR UM PUXAO DE ORELHA DA MAMÃE. Observe que não houve PREVISÃO efetiva pelo sujeito, mas o fato lhe era previsível (houve previsibilidade). A previsibilidade objetiva toma como parâmetro o “homem médio”, ou seja, um indivíduo comum, de atenção, diligência e perspicácia normais à generalidade das pessoas. ( CESPE - 2010 - TRT - 1ª REGIÃO (RJ) - Juiz) No ordenamento jurídico brasileiro, de acordo com a doutrina majoritária, a ausência de previsibilidade subjetiva - a possibilidade de o agente, dadas suas condições peculiares, prever o resultado - exclui a culpa, uma vez que é seu elemento. PREVISÃO X PREVISIBILIDADE Previsibilidade: potencial para prever Previsão: a efetiva visualização do resultado futuro. Requer previsibilidade CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS LÚCIO VALENTE Página 35 Resposta: errado. Veja um último exemplo sempre citado pelo sempre inspirador Professor Edson Smaniotto (Desembargador do TJDFT) em exemplo proferido em sala de aula em curso de pós-graduação em Direito Penal: "Um pai pediu para que seus dois filhos o auxiliasse na reparação da cisterna de sua chácara. Os dois filhos entraram na cisterna e sentaram-se em uma taboa improvisada para que enchessem o balde com os entulhos que entupiam a cisterna, puxando a corda como sinal para o pai suspender o balde quando este estava cheio. Em determinado momento, devido o sol ter mudado de posição, o interior da cisterna ficou muito escuro e os filhos reclamaram da falta de luminosidade ao pai. Este providenciou um holofote alimentado por um gerador de energia a diesel. Ligou oaparelho, que iluminou por completo a cisterna, com o cuidado de posicioná-lo de forma que a fumaça emitida tomasse direção oposta à mesma. Os garotos reiniciaram então a tarefa. O pai, percebendo a demora na emissão do sinal de balde cheio, resolveu olhar para o fundo do poço e percebeu os dois meninos deitados inertes na tábua. Estavam mortos. O laudo pericial constatou que devido à combustão incompleta do combustível, além da água e gás carbônico foi liberado um gás extremamente tóxico, o monóxido de carbono (CO). Como é um gás invisível e sem cheiro, não foi percebido e tomou conta do ambiente onde os garotos se encontravam. Uma quantidade equivalente a 0,4% no ar em volume é letal para o ser humano, em um tempo relativamente curto. Esse gás se combina com a hemoglobina do sangue e esta combinação é extremamente estável. Devido a esta combinação, os glóbulos vermelhos não podem transportar o oxigênio e o gás carbônico, e os tecidos deixam de receber o oxigênio. A morte dos garotos ocorreu por asfixia química. Para se ter uma ideia do potencial tóxico do gás, se um carro ficar ligado em uma garagem fechada de 4 m de comprimento, 4 m de largura e 2,5 m de altura, tendo, portanto, um volume de 40 000 litros, à temperatura ambiente e a pressão ao nível do mar, durante aproximadamente CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS LÚCIO VALENTE Página 36 10 minutos, a quantidade de monóxido de carbono produzido já atingirá a quantidade letal." Percebe-se que tal morte não pode ser atribuída ao pai dos garotos, pois era absolutamente imprevisível o resultado trágico (faltou possibilidade potencial para previsão). Já vi nos noticiários várias vezes pessoas morrerem nos Estados Unidos durante o inverno, pois se trancam dentro dos veículos ligados enquanto acionam o ar quente. Como o gelo acaba por entupir o escapamento do veículo, o monóxido de carbono fica em seu interior, matando seus ocupantes. Últimas informações sobre o crime culposo 21. Compensação e concorrência de culpas Compensação de culpas – não é admitida no direito penal. Exemplo: vítima atravessa fora da faixa e motorista não para, pois está em alta velocidade. O motorista responde pelo resultado, apesar de a vítima também ter sido imprudente. Lógico que o juiz vai considerar isso no momento do art. 59 do CPB ( dosimetria da pena). (CESPE – Procurador de Vitória-ES – 2007) Suponha que o motorista de um veículo, por negligência, deixe de observar a má conservação do sistema de freios de seu carro e, ao trafegar em via pública, atropele e mate um pedestre que tenha cruzado a pista em local inadequado. Nessa situação, caso se comprove que o evento danoso tenha decorrido da falta de freios no veículo atropelador, responderá culposamente o seu condutor pela morte do pedestre, mesmo diante da imprudência da vítima. CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS LÚCIO VALENTE Página 37 Resposta: correto. CESPE_PROCURADOR ESPECIAL DE CONTAS – TCE-ES_2009) A compensação de culpas no direito penal, aceita pela doutrina penal contemporânea e acolhida pela jurisprudência pátria, diz respeito à possibilidade de compensar a culpa da vítima com a culpa do agente da conduta delituosa, de modo a assegurar equilíbrio na relação penal estabelecida. Resposta: errado. 22. Concorrência de culpas – é possível em direito penal. A compensação de culpas é incabível em matéria penal. Não se confunde com a concorrência de culpas. Suponha-se que dois veículos se choquem num cruzamento, produzindo ferimentos nos motoristas e provando-se que agiram culposamente. Trata- se de concorrência de culpas; os dois respondem por crime de lesão corporal culposa. 23. Excepcionalidade do crime culposo - Em respeito ao disposto no art. 18, inciso II, parágrafo único do Código Penal, salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente. (CESPE_Analista Judiciário _Execução de Mandados_TJDFT_2008) Excetuadas as exceções legais, o autor de fato previsto como crime só poderá ser punido se o praticar dolosamente. Resposta: correto. CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS LÚCIO VALENTE Página 38 (CESPE_Procurador do MP_TC_GO_2007) Excetuadas as exceções legais, o autor de fato previsto como crime só poderá ser punido se o praticar dolosamente. Resposta: correto. Trata-se do princípio da excepcionalidade do crime culposo, que determina que o crime culposo só seja punível se houver expressamente determinado pelo código penal, geralmente através de expressões como: “se o crime é culposo, “no caso de culpa”. Essa previsão não existe para o crime de aborto (arts. 124 a 127 do CPB), por exemplo. Por esse motivo, não se admite a figura do aborto culposo. 24. Culpa mediata ou indireta: ocorre quando o agente pratica um fato secundário de forma culposa, como no exemplo em que José ameaça João com uma arma de fogo em via pública (resultado 1) e João, apavorado, atravessa a pista e acaba por ser atropelado e morto (resultado 2). 25. Culpa imprópria ou culpa por extensão: o estudo da culpa imprópria deve ser feito na Teoria do Erro em aula específica. Contudo, adianto que ocorrerá a culpa imprópria quando o agente age com dolo, mas erra na análise de uma excludente de ilicitude (legítima defesa, por exemplo). A isso se dá o nome de excludente putativa (legítima defesa putativa, por exemplo). A palavra “putativa” significa “imaginária”. O exemplo seria daquele que ataca um inimigo por pensar, precipitadamente, que estava sendo atacado por este, mas na verdade era uma aproximação para pedido de desculpas. Veremos que a culpa imprópria é uma espécie de erro (de tipo ou de proibição, dependendo do caso). CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS LÚCIO VALENTE Página 39 Vamos retornar ao assunto quando falarmos de erro de tipo. (CESPE_PROCURADOR ESPECIAL DE CONTAS – TCE-ES_2009) A culpa imprópria ou culpa por extensão é aquela em que a vontade do sujeito dirige-se a um ou outro resultado, indiferentemente dos danos que cause à vítima. Resposta: errado. PEGANDO O FIO DA MEADA 1. A CULPA É A QUEBRA DO CUIDADO POR IMPRUDÊNCIA, NEGLIGÊNCIA OU IMPERÍCIA; 2. A CULPA CONSCIENTE OCORRE QUANDO HÁ PREVISÃO DO RESULTADO; 3. A CULPA INCONSCIENTE OCORRE QUANDO O AGENTE NÃO PREVIU O QUE DEVERIA TER PREVISTO; NO CRIME CULPOSO NÃO CABE COMPENSAÇÃO DE CULPAS CABE CONCORRÊNCIA DE CULPAS SÓ HAVERÁ CRIME CULPOSO SE A LEI FOR EXPRESSA NESSE SENTIDO CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS LÚCIO VALENTE Página 40 4. O DOLO EVENTUAL É O “DANE-SE” E A CULPA CONSCIENTE É O “IH, DANOU-SE”! 26. CRIME PRETERDOLOSO (CRIMES AGRAVADOS PELO RESULTADO) ESPÉCIES DE CRIMES AGRAVADOS PELO RESULTADO Pode ocorrer, em situações muito específicas, que a lei imponha lei mais severa na ocorrência de um determinado resultado. Note-se que é necessário esse resultado mais gravoso advenha de dolo ou culpa. Nos crimes agravados pelo resultado temos duas etapas a serem observadas: (a) o fato antecedente: causado por dolo ou culpa; (b) fato consequente: causado por dolo ou culpa. São quatro as possibilidades de crimes agravados pelo resultado: 1º Dolo no antecedente e dolo no consequente (dolo + dolo) CRIME AGRAVADO PELO RESULTADO FATO ANTECEDENTE: CAUSADO POR DOLO OU CULPA FATO CONSEQUENTE: CAUSADO POR DOLO OU CULPA CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS LÚCIO VALENTE Página 41 Fato antecedente: Desferir um soco (Art. 129 do CPB: Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem); Fato consequente: Deixar lesão permanente resultante daagressão (Art. 129, § 2º, inciso IV, do CPB: “se resulta lesão permanente”. Responderá pela lesão dolosa qualificada pela lesão permanente. 2º Culpa no antecedente e culpa no consequente (culpa + culpa) Fato antecedente: Causar incêndio culposo ( art. 250, § 2º) Fato consequente: Causar a morte de alguém devido ao incêndio culposo causado anteriormente (art. 258) Responderá por incêndio culposo qualificado pela morte culposa. 3º Culpa no antecedente e dolo no conseqüente (crimes preterculposos) Fato antecedente: Atropelar alguém culposamente (Lesão Corporal Culposo no trânsito, art. 303 da Lei 9.503/97); Fato consequente: Deixar de prestar socorro à vítima atropelada ( Art. 302, inciso III da Lei 9.503/97) Responde pela lesão culposa no trânsito agravada pela omissão de socorro. 4º Dolo no antecedente e culpa no conseqüente (crime preterdoloso ou preterintencional) Fato antecedente: Desferir um soco em alguém com dolo de lesioná-lo (art. 129 do CPB) CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS LÚCIO VALENTE Página 42 Fato consequente: Após o soco, a vítima se desequilibra e acaba por bater a cabeça no chão e morre de traumatismo craniano (art. 129,§ 3°: “Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo. ) Responde por Lesão corporal seguida de morte. Bom, como se vê, o crime preterdoloso é apenas uma forma de crime agravado pelo resultado. CESPE – CONSULTOR LEGISLATIVO DO SENADO/2002) Diz-se que o crime é doloso, quando o agente quis o resultado; preterdoloso, quando, embora não querendo o resultado, o agente assumiu o risco de produzi-lo. Resposta: errado. CRIMES QUALIFICADOS PELOS RESULTADO DOLO+DOLO CULPA+CULPA CULPA+DOLO (PRETERCULPA) DOLO+CULPA (PRETERDOLO) CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS LÚCIO VALENTE Página 43 BIZU DO VALENTE! TENTATIVA NO CRIME PRETERDOLO: não é possível, já que o resultado agravador não era desejado, e não se pode tentar produzir um evento que não era querido. Exceção: a doutrina tem admitido que no crime de aborto qualificado pela morte da gestante (art. 127 do CPB), caso o feto sobreviva ao procedimento abortivo, mas a mãe não, teríamos um caso de tentativa de crime preterdoloso. Voltarei ao assunto quando falarmos do crime de aborto. FATO TÍPICO – RESULTADO fato típico conduta RESULTADO nexo causal tipicidade ilicitude estado de necessidade legítima defesa estrito cumprimento do dever legal exercício regular do direito culpabilidade imputabilidade potencial consciência da ilicitude exigibilidade de conduta diversa CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS LÚCIO VALENTE Página 44 Lembrando que estamos estudando o crime através de seus elementos. De acordo com a tabela que coloquei na segunda aula, o crime tem os seguintes elementos: Fato típico, ilicitude (ou antijuridicidade) e Culpabilidade. Já estudamos completamente a conduta, a qual pertence ao Fato típico. Vamos ao segundo elemento do Fato Típico, o Resultado. 27. Resultado A conduta dolosa ou culposa pode levar a um resultado. Às vezes esse resultado é físico (perceptível pelos sentidos humanos), como a morte no homicídio. É o que a doutrina denomina de “resultado material”. Outras vezes esse resultado não existe no mundo físico, porém existe no mundo do direito. É o que os juristas titulam de “resultado jurídico ou formal”. Imagine que você seja xingado por alguém. O resultado desse ato injurioso é ferimento de sua honra subjetiva. Isso não pode ser medido fisicamente. Ocorre que juridicamente (ou seja, para o Direito) houve um resultado relevante, apesar de não poder ser medido quão injuriado você foi. Basicamente, o crime pode ser classificado quanto ao resultado: CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS LÚCIO VALENTE Página 45 28. Crimes Materiais O crime de resultado material é aquele em que o tipo penal (a lei) descreve um resultado físico (perceptível aos sentidos humanos), e sem esse resultado não há consumação do crime. Estava este professor ministrando aula em curso preparatório de Brasília em um dia de sexta-feira, isso por volta das 22 horas. Nesse momento, outro professor interrompe minha aula: - Valente, vem comigo aqui correndo ao estacionamento! -Poxa, amigo, eu não posso abandonar a turma assim! -Valente, o negócio é sério, meu! Percebendo a aflição do colega, resolvi descer para ver o que estava ocorrendo. Pense se a turma inteira não me seguiu de curiosidade! (hehe) Quando chegamos ao carro do professor, ele mostra o capô do veículo, onde havia riscos feitos a prego por uma ex-namorada. TIPOS DE RESULTADO CRIME DE RESULTADO MATERIAL CRIME DE RESULTADO FORMAL CRIME DE MERA CONDUTA CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS LÚCIO VALENTE Página 46 Bom, fora as questões particulares, houve sobre o carro do professor um crime praticado por sua ex-namorada. Você sabe dizer qual? Isso mesmo. Trata-se do crime de DANO, uma vez que ela danificou o veículo do tal professor. Veja o que diz o tipo penal: “Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia” (Dano, Art. 163 do CPB). O crime de dano é exemplo de crime material, pois o tipo penal exige o resultado físico para a consumação. Outros exemplos de crimes materiais: homicídio (art. 121); Infanticídio (art. 122); Aborto (Arts. 124 a 127); Furto (art. 155); Roubo (art. 157). O CRIME DE RESULTADO MATERIAL EXIGE UM RESULTADO FÍSICO PARA SUA CONSUMAÇÃO. 29. Crimes Formais No crime formal (de consumação antecipada ou de resultado cortado) os tipos penais descrevem uma ação e um resultado material possível, mas não o exige para sua consumação. É o que o ocorre na extorsão mediante sequestro (Art. 159, CPB). O tipo descreve a seguinte ação: “Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate”. Note que o agente sequestra pessoa com uma determinada finalidade – obter vantagem como condição ou preço do resgate -, mas não há necessidade que o criminoso, efetivamente, receba o resgate para que se faça consumado o crime em tela (resultado material). A extorsão mediante sequestro consuma-se com a privação da liberdade da vítima, independentemente da obtenção da vantagem pelo agente. Nesse CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS LÚCIO VALENTE Página 47 caso, um possível resultado material, apesar de não influenciar na adequação típica, poderá influenciar o juiz na dosimetria da pena (aplicação da pena). Esses dias eu estava vendo no noticiário que um médico cirurgião de um hospital conveniado ao SUS estava exigindo dinheiro dos pacientes para realização da cirurgia. Caso o valor não fosse pago, o paciente perderia a vez na fila. A cirurgia já seria paga pelo SUS, mas mesmo assim médico faz a sórdida exigência. Veja o que diz a lei: Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida (Concussão, art. 316 do CPB.) Vamos supor que o paciente (no caso, vítima do crime) negue-se a pagar o valor exigido e comunica o fato à polícia. Você como Delegado o indiciaria pela Concussão consumada ou tentada? O caso é de Concussão consumada, por se tratar de crime formal. Perceba que se o resultado material (naturalístico) ocorrer será mero exaurimento do crime, leia-se, não poderá ser considerado para aumentar a pena, a menos que seja descrito na lei como tal. (Magistratura – TJPI -2007 – adaptada) A consumação dos crimes formais ocorre com a prática da conduta descrita no núcleo do tipo, independentemente doresultado naturalístico, que, caso ocorra, será causa de aumento de pena. Resposta: errado CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS LÚCIO VALENTE Página 48 30. Outros exemplos de crimes formais: “Deixar o médico de denunciar à autoridade pública doença cuja notificação é compulsória” (Omissão de notificação de doença, art. 269 do CPB) Conduta: “deixar de realizar a notificação”. Resultado material possível, mas não exigido par a consumação: a efetiva contaminação ou epidemia. “Divulgar alguém, sem justa causa, conteúdo de documento particular ou de correspondência confidencial, de que é destinatário ou detentor, e cuja divulgação possa produzir dano a outrem” (Divulgação de Segredo, art. 153 do CPB). Conduta: “divulgar o segredo”. Resultado material possível, mas não exigido par a consumação: o efetivo dano a terceira pessoa. Crimes de Mera Conduta Os crimes de mera conduta não descrevem a possibilidade de um resultado naturalístico, como no crime de Violação de domicílio (art. 150). Um sujeito faz um churrasco em sua casa e convida Dicró. Dicró era um cara bacana, mas quando bebia ficava um tanto inconveniente. Após algumas horas, Dicró começa a paquerar as moças presentes, o que desagradou seus respectivos companheiros. O dono da festa determina que Dicró saia de sua casa imediatamente. CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS LÚCIO VALENTE Página 49 Dicró se nega a sair e deita no chão. Veja o que diz a lei: “Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade expressa ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências.” (Violação de Domicílio, art. 150 do CPB.) Conduta: “entrar ou permanecer”. Resultado material possível: não existe. Formas especiais de consumação Crimes instantâneos ou de estado: são aqueles em que a consumação ocorre em um único momento determinado, sem se prolongar no tempo (ex.: CP, art. 121). Crimes Permanentes: são aqueles em que a consumação se protrai no tempo, por vontade do agente (ex.: CP, art. 158). Divide-se em: a) necessariamente permanentes: o tipo penal exige, necessariamente, que a consumação típica se alongue no tempo, como no sequestro (CP, art. 148). b) eventualmente permanentes: são crimes instantâneos que admite determinada forma de consumação permamente, como no furto de energia elétrica (CP, art. 155, § 3º). Crimes instantâneos de efeitos permanentes: o crime é de consumação instantânea, mas os efeitos do crime costumam perdurar indeterminadamente, como no homicídio (CP, art. 121). CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS LÚCIO VALENTE Página 50 Crimes a prazo: são aqueles em que o tipo penal exige a fluência de determinado tempo para, somente após, considerar o fato típico, como ocorre na apropriação indébita previdenciária (“Deixar de repassar à previdência social as contribuições recolhidas dos contribuintes, no prazo é forma legal ou convencional”, CP, art. 168-A). PEGANDO O FIO DA MEADA 1. TODO CONDUTA CAUSA UM RESULTADO; 2. O RESULTADO PODE SER FÍSICO (MATERIAL). NESTE CASO, TEMOS OS CRIMES MATERIAIS; 3. O RESULTADO PODE SER APENAS JURÍDICO (FORMAL). NESTE CASO TEMOS OS CRIMES FORMAIS E DE MERA CONDUTA; 4. NOS CRIMES FORMAIS, A LEI DESCREVE UM RESULTADO MATERIAL POSSÍVEL, MAS NÃO O EXIGE PARA A CONSUMAÇÃO; 5. OS CRIMES DE MERA CONDUTA (OU MERA ATIVIDADE), NÃO EXISTE UM RESULTADO MATERIAL POSSÍVEL. A CONDUTA JÁ É O RESULTADO; QUESTÕES COMENTADAS CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS LÚCIO VALENTE Página 51 1. (CESPE_Procurador do MP_TC_GO_2007) Excetuadas as exceções legais, o autor de fato previsto como crime só poderá ser punido se o praticar dolosamente. Comentário: Trata-se do princípio da excepcionalidade do crime culposo. Só haverá a possibilidade de punição por culpa se a lei expressamente trouxer isso por escrito. Exemplo: No homicídio é possível o crime culposo, porque o art. 121 do Código Penal traz a hipótese em seu parágrafo terceiro: Homicídio simples Art. 121. Matar alguém: Pena - reclusão, de seis a vinte anos. (...) Homicídio culposo § 3º Se o homicídio é culposo: Pena - detenção, de um a três anos. Perceba que não existe furto culposo, por exemplo, porquanto o Código Penal não previu essa hipótese. GABARITO: CERTO 2. (CESPE_Procurador do MP_TC_GO_2007) Julgue os itens a seguir, concernentes às espécies de dolo: No crime de falsificação de documento público o dolo é específico. CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS LÚCIO VALENTE Página 52 Comentário: O dolo específico ocorre quando o tipo penal traz uma finalidade específica para que ocorra o crime. Exemplo: Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar fazer alguma coisa (Extorsão, art. 158 do Código Penal). O crime de Extorsão acima exige o “dolo específico” para que ele ocorra, qual seja o intuito de obter a indevida vantagem econômica. Quanto ao crime de falsificação de documento, vejamos o que diz a lei: Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar documento público verdadeiro (art. 297 do CPB). Como se vê, não existe dolo específico nesse crime. GABARITO: ERRADO 3. (CESPE_Procurador do MP_TC_GO_2007) Para a configuração do crime de peculato-desvio, é necessária a presença do dolo genérico e do dolo específico. Comentário: O Peculato é um crime contra a Administração Pública previsto nos arts. 312 do Código Penal. “Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio” No peculato desvio a conduta consiste em desencaminhar, mudar o destino do valor público ou particular, de que tem a posse em razão da função pública. Exemplo: a merendeira desvia os mantimentos que são destinados para a escola para a casa de um amigo, em seu proveito. Ou o Deputado Federal que tem um assessor lotado em seu gabinete e o desvia para ser jardineiro de sua casa. CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS LÚCIO VALENTE Página 53 No peculato desvio exige-se o dolo específico de agir visando proveito próprio ou alheio. GABARITO: CERTO 4. (CESPE_JUIZ FEDERAL 2ª REGIÃO_2009) Nos crimes culposos, o tipo penal é aberto, o que decorre da impossibilidade do legislador de antever todas as formas de realização culposa; assim, o legislador prevê apenas genericamente a ocorrência da culpa, sem defini-la, e, no caso concreto, o aplicador deve comparar o comportamento do sujeito ativo com o que uma pessoa de prudência normal teria, na mesma situação. Comentário: O injusto penal culposo é uma modalidade dos TIPOS PENAIS ABERTOS, pois exige para sua interpretação o exame de elementos exteriores ao tipo para aferir sua adequação à conduta. Quero dizer, a lei não estabeleceu o que é imprudência, negligência ou imperícia. Então, deve haver um juízo de valor para que se chegue aos conceitos necessários. Exemplo: No crime de ato obsceno, art. 233 do CPB, a norma diz: “Praticar ato obsceno em lugar público, ou aberto ou exposto ao público”. Pois muito bem, para se chegar ao conceito de “ato obsceno”, devemos lançar um juízo de valor sobre o termo. Beijar na boca em público é ato obsceno? Fazer sexo em uma encenação de teatro é ato obsceno? Depende do juízo de valor que se fizer. Em uma cidade do interior, um casal de namorados foi preso por estarem se beijando em frente à igreja. Será que eles teriam sido presos se tivessem em um shoppingde uma grande cidade? Viu, juízo de valor! CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS LÚCIO VALENTE Página 54 GABARITO: CERTO 5. (CESPE_PROCURADOR ESPECIAL DE CONTAS – TCE-ES_2009) A culpa consciente ocorre quando o agente assume ou aceita o risco de produzir o resultado. Nesse caso, o agente não quer o resultado, caso contrário, ter-se-ia um crime doloso. Comentário: Quando o agente assume o risco de produzir o resultado, esta cometendo um crime com dolo eventual. A culpa consciente é culpa com previsão. GABARITO: ERRADO 6. CESPE_PROCURADOR ESPECIAL DE CONTAS – TCE-ES_2009) A culpa imprópria ou culpa por extensão é aquela em que a vontade do sujeito dirige-se a um ou outro resultado, indiferentemente dos danos que cause à vítima. Comentário: O exemplo é de dolo alternativo, quando o agente quer um ou outro resultado (quero matar ou ferir). Culpa imprópria é aquela que reside (ocorre) no erro fático sobre as descriminantes putativas (putativo = falso, imaginário). Erro que recai no erro de tipo sobre as justificantes putativas (erro de tipo na cabeça é uma coisa e na realidade é outro). São casos de culpa imprópria as hipóteses previstas no art. 20, § 1º, 2ª parte (“... o erro deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo”), e art. 23, parágrafo único, parte final do Código Penal ( “... responderá pelo excesso doloso e culposo”). A culpa imprópria será mais bem estudada na aula sobre a TEORIA DO ERRO. GABARITO: ERRADO. CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS LÚCIO VALENTE Página 55 7. (CESPE_PROCURADOR ESPECIAL DE CONTAS – TCE-ES_2009) A compensação de culpas no direito penal, aceita pela doutrina penal contemporânea e acolhida pela jurisprudência pátria, diz respeito à possibilidade de compensar a culpa da vítima com a culpa do agente da conduta delituosa, de modo a assegurar equilíbrio na relação penal estabelecida. Comentário: compensação de culpas – não é admitida no direito penal. Exemplo: vítima atravessa fora da faixa e motorista não pára, pois está em alta velocidade. O motorista responde pelo resultado. GABARITO: ERRADO 8. (CESPE_PROCURADOR ESPECIAL DE CONTAS – TCE-ES_2009) A autoria dos crimes culposos é basicamente atribuída àquele que causou o resultado. Com isso admite-se a participação culposa em delito doloso, participação dolosa em crime culposo e participação culposa em fato típico culposo. Comentário: Coautoria em crime culposo – a jurisprudência admite, mas não admite participação. Obs. Existe aqui uma grande confusão na doutrina e jurisprudência, mas a posição do STJ é nesse sentido explicado. APENAS MEMORIZE: CRIME CULPOSO – NÃO ADMITE PARTICIPAÇÃO, SÓ COAUTORIA. Não se preocupe, veremos a diferença entre coautoria e participação na aula sobre Concurso de Pessoas. GABARITO: ERRADO 9 - ( FAE - 2008 - TJ-PR - Juiz Substituto) George Shub, conhecido terrorista, pretendendo matar o Presidente da República de Quiare, planta uma bomba no veículo em que ele sabe que o político é levado por um motorista e dois seguranças até uma inauguração de uma obra. A bomba é por ele detonada à distância, durante o CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS LÚCIO VALENTE Página 56 trajeto, provocando a morte de todos os ocupantes do veículo. Com relação à morte do motorista, George Shub agiu com: a) Dolo direto de primeiro grau b) Dolo direto de segundo grau c) Dolo eventual d) Imprudência consciente Comentário: Vimos que o dolo direto pode ser classificado como (a) dolo direto de primeiro grau – refere-se à finalidade; (b) dolo direto de segundo grau – refere-se aos meios necessários. Desta forma, George agiu como dolo direto de primeiro grau em relação ao presidente da República do Quiare; e como dolo direto de segundo grau em relação ao outros mortos, incluindo o motorista. GABARITO: Letra “b” 10. (CESPE - 2008 - TCU - Analista de Controle Externo ) Durante um espetáculo de circo, Andrey, que é atirador de facas, obteve a concordância de Nádia, que estava na platéia, em participar da sua apresentação. Na hipótese de Andrey, embora prevendo que poderia lesionar Nádia, mas acreditando sinceramente que tal resultado não viesse a ocorrer, atingir Nádia com uma das facas, ele terá agido com dolo eventual. Comentário: Vimos que na culpa consciente o agente prevê o resultado como possível, mas acredita sinceramente que esse não irá ocorrer. Andrey, ao acertar Nádia, fala para si próprio: “Hi! Danou-se!”. Culpa consciente, portanto. CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS LÚCIO VALENTE Página 57 GABARITO: ERRADO 11. (Magistratura – TJPI -2007 – adaptada) A consumação dos crimes formais ocorre com a prática da conduta descrita no núcleo do tipo, independentemente do resultado naturalístico, que, caso ocorra, será causa de aumento de pena. Comentário: De fato, a consumação dos crimes formais é antecipada para a conduta, mesmo sendo possível a realização de um resultado físico. Caso este último ocorra, teremos um mero exaurimento do crime, leia-se, um pós- crime impunível. GABARITO: ERRADO 12. (Analista – MPU – 2007) João, dirigindo um automóvel, com pressa de chegar ao seu destino, avançou com o veículo contra uma multidão, consciente do risco de ocasionar a morte de um ou mais pedestres, mas sem se importar com essa possibilidade, João agiu com a) culpa b) dolo indireto c) culpa consciente d) dolo eventual Comentário: João viu o resultado como possível, mas disse a si mesmo: “para mim tanto faz” (dane-se!). Trata-se de hipótese de dolo eventual. GABARITO: Letra “d” 13. (CESPE – Procurador de Vitória-ES – 2007) Suponha que o motorista de um veículo, por negligência, deixe de observar a má conservação do sistema de freios de seu carro e, ao trafegar em via pública, atropele e mate um pedestre que tenha cruzado a pista em local inadequado. Nessa situação, caso se comprove que o evento CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS LÚCIO VALENTE Página 58 danoso tenha decorrido da falta de freios no veículo atropelador, responderá culposamente o seu condutor pela morte do pedestre, mesmo diante da imprudência da vítima. Comentários: No direito penal brasileiro não se admite a compensação de culpas, quer dizer, a culpa do autor ser compensada pela culpa da vítima. O que pode ocorrer é culpa exclusiva da vítima, o que afasta a responsabilidade do autor. GABARITO: CORRETO 14.( NCE-UFRJ - 2005 - PC-DF - Delegado de Polícia; ) Segundo a redação do artigo 18, I, do Código Penal ("Diz-se o crime: I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo"), é possível concluir que foi adotada: a) a teoria do assentimento; b) a teoria da representação; c) as teorias do assentimento e da representação; d) as teorias do assentimento e da vontade; e) as teorias da representação e da vontade. Comentário: O conceito de dolo pode ser variável conforme a teoria que se adote para conceituá-lo. Podem-se citar as seguintes teorias existentes na doutrina: a) Teoria da Vontade: O agente deve ter vontade e consciência para causar o resultado final. “Quero matá-lo!”. CURSO COMPLETO DE DIREITO PENAL PARAS AS CARREIRAS POLICIAIS LÚCIO VALENTE Página 59 b) Teoria do Consentimento, assentimento ou aprovação: O agente aceita a possibilidade da ocorrência do resultado. “Não quero matar, mas se morrer dane-se, não é por isso que vou deixar de agir!” c) Teoria da Representação: há previsibilidade (capacidade de previsão) da ocorrência do resultado, mas o agente acredita que ele não ocorrerá. Exemplo seria o médico que, sabendo das dificuldades de determinado procedimento cirúrgico, resolve realizá-lo, acreditando que o resultado pior
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