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TRECHO Weber em a questão do sentido

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TRECHO DO TEXTO “A questão do sentido na sociologia e na semiótica” de autoria do 
professor Euclides Guimarães, publicado no periódico “Cadernos de |Ciências Sociais”, PUCMINAS, 
1998. 
 
Para que possamos entender a sociologia compreensiva, própria do século XX, é 
preciso que nos reportemos ao pensamento de Max Weber. Esse erudito alemão do 
início do século XX é certamente um dos mais ilustres pensadores da plêiade 
iconoclasta que assolou a Europa, não deixando pedra-sobre-pedra na “Torre de Babel” 
que foi o rígido racionalismo do século anterior. Na fonte cristalina de suas ideias bebeu 
toda a teoria e grande parte da metodologia aplicada na sociologia contemporânea, de 
sorte que o peso desse autor para essa ciência não encontra paralelos, a não ser em um 
Einstein para a física, ou um Freud para a psicanálise(10). 
Antes de Weber, seja em sua vertente positivista, seja na marxista, a sociologia era vista 
como a ciência de um fenômeno coletivo por definição. A sociedade é, para todo o 
pensamento do século XIX, um fenômeno sui generis, dotado de existência própria, que 
em princípio independe do indivíduo. Quando imerso no mundo do social, o indivíduo 
apenas se adapta e seu comportamento particular se separa como que em outro estatuto 
de realidade, de seu comportamento como membro de uma coletividade. Com Weber, 
essa postura muda radicalmente: 
“Weber, pelo contrário, tenta a todo custo relacionar 
instituições e estruturas de um lado e acções humanas de 
outro. Daí o seu ataque cerrado à idéia (durkheimiana) de 
que a sociedade constitui como que um ser coletivo, 
reificado. Daí a tese de que a sociedade mais não é, em 
cada momento, do que a combinação de múltiplas 
interações de indivíduos, num dado meio, cristalizadas em 
formações que se faz mister designar enquanto entidades 
(Estado, Igreja, Direito, etc.), mas que convirá não 
esquecer serem resultados, modalidades de acções e 
relações em permanente tensão e devir. Daí, finalmente, a 
preferência em falar de processos, em vez de estruturas” 
(SILVA, 1988, p.65). 
 
Weber define a ação como o “ato intencional” e a “ação social” como “ação individual 
dirigida a ou orientada por outrem”(11). As instituições e organizações, no interior das 
quais têm lugar as atitudes coletivas ou comportamentos médios, não são mais que 
ações e relações que se cristalizam e se realizam enquanto são capazes de fazer sentido 
para os atores que as legitimam. Um fato social é fundamentalmente um fenômeno de 
legitimação e, para que ações sejam legítimas, basta que elas estejam dotadas de sentido 
para os atores que, assim motivados, as realizam. 
O sentido de uma ação não é necessariamente o mesmo para todos os atores que 
agem de uma mesma maneira, nem sequer são necessariamente os mesmos os motivos 
que os levam a agir de uma mesma forma, mas se não produz sentido para aquele que 
age, não o motiva a agir. 
Weber, influenciado pela teoria da racionalidade de Kant, postula que a razão 
iluminista é apenas uma das formas de racionalidade acessíveis ao indivíduo enquanto 
ator social; notadamente aquela que define uma vocação para a modernidade ocidental, 
que Kant já havia denominado “razão prática”. Essa forma de razão caracteriza-se pela 
articulação de meios para se alcançar fins. O que motiva o indivíduo é, por conseguinte, 
um objetivo. Mas, assim como o ator pode ser motivado por fins, ele também pode se 
motivar por valores, ou tradições, sendo então levado a outras formas de racionalidade; 
ou ainda pode agir pela afetividade, sendo, nesse caso, passional e não racional. Esses 
motivantes da ação, que estão na base da produção dos sentidos, funcionam como 
substratos que justificam comportamentos médios, definindo características para as 
instituições e para os momentos históricos. À sociologia cabe investigar 
compreensivamente as conexões de sentidos e as causas das ações, num primeiro 
momento, para descrevê-los e, em seguida, para realizar previsões acerca de suas 
possíveis consequências e ou decorrências. 
“Compreender equivale a captar interpretativamente (de 
modo a conseguir a ‘evidência’ racional que torne 
“inteligível’ o sentido) o sentido ou a conecção de sentido 
implicados na ação. (SILVA, 1988. p 65) 
 
Importante, para que fique clara a determinação de Weber em realizar uma ciência 
compreensiva, destacar o princípio epistemológico que funda a perspectiva das ciências 
sociais contemporâneas. Esse princípio hoje é tão patente para a sociologia como para a 
semiótica. Para Weber, o mundo das relações sociais implica em infinitas possibilidades 
e, sendo infinito, não pode ser apreendido in totum pelo conhecimento. Tudo o que o 
cientista pode fazer é eleger uma determinada fração dessa infinitude e estudá-la 
compreensivamente. 
“Ocorre que, tão logo tentamos tomar consciência do 
modo como se nos apresenta imediatamente a vida, 
verificamos que se nos manifesta, ‘dentro’ e ‘fora’ de nós, 
sob uma quase infinita diversidade de eventos que 
aparecem e desaparecem sucessiva e simultaneamente. E 
a absoluta infinidade dessa diversidade subsiste, sem 
qualquer atenuante do seu caráter intensivo, mesmo 
quando prestamos a nossa atenção, isoladamente, a um 
único objeto - por exemplo, uma transação concreta - e 
isso tão logo tentamos sequer descrever de forma 
exaustiva essa singularidade em todos os seus 
componentes individuais, e muito mais ainda quando 
tentamos captá-la naquilo que tem de causalmente 
determinado. Assim, todo o conhecimento reflexivo da 
realidade infinita realizado pelo espírito humano finito, 
baseia-se na premissa tácita de que apenas um fragmento 
limitado dessa realidade poderá constituir de cada vez o 
objeto da compreensão cientifica, e de que só ele será 
essencial no sentido de digno de ser conhecido”. (Weber, 
1991. P 88) 
 
Por esse enfoque, tudo o que o conhecimento pode é produzir enunciados 
compreensivos e não normativos como se pensou antes. 
A emergência de uma sociologia compreensiva em Weber foi determinante para 
o futuro dessa ciência. Nem positivistas declarados, como Karl Popper, ou “marxistas 
de carteirinha” como Adorno ou Fromm, puderam fechar os olhos para o princípio 
epistemológico de Weber. Estava então definitivamente configurado um novo telos para 
a ciência: não mais a utopia da coincidência entre o conhecimento e a natureza das 
coisas, mas a modéstia da compreensão a partir de um limitado e delimitado ponto de 
vista. 
A influência de Weber, que reiteramos ter sido definitiva para as ciências sociais 
contemporâneas, fez-se notar com especial fertilidade naquela sociologia americana que 
aqui denominamos “interacionista”. Weber havia tido uma fulgurante passagem pelos 
EUA, onde proferiu conferências sobre sua concepção de ciência, tendo deixado 
bastante impressionados seus ouvintes. A ideia básica que sustenta o interacionismo, na 
qual o símbolo ocupa posição central, é perfeitamente consonante com a teoria da ação 
e da legitimação em Weber. Para ambos, o sentido, em sua flexibilidade, sustenta-se no 
âmbito das negociações cotidianas entre os indivíduos enquanto atores sociais. Para 
ambos, o grande desafio da sociologia é explicar a ordem, perceber as causas quase 
sempre tênues que nos permitem explicar os comportamentos médios.

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