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F3-Enfrentamento-da-violencia-contra-crianca-compressed

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enfrentamento à
violência sexual contra
crianças e adolescentes
NOSSA VOZ. NOSSA FORTALEZA.
enfrentamento à
violência sexual contra
crianças e adolescentes
NOOSSSSA VOOZ. NOOSSSSA FOORTALEZA.
AS EXPRESSÕES DE
VIOLÊNCIA CONTRA 
CRIANÇAS E ADOLESCENTES
Marcos
Conceituais
Fernando Luz
3
SUMÁRIO
1. Contextualização ...................................................................35
2. Os conceitos presentes na Lei nº 13.431/2017 .....................36
3. Expressões da violência contra crianças e adolescentes ....39
4. Outras faces da violência ......................................................46
Referências ..........................................................................................47
Perfis do autor e do ilustrador .........................................................48
1.
Contextualização
O presente curso tem por objeto aprofun-
dar o debate sobre um grave problema 
social, ainda muito marcante no Brasil: a 
violência sexual contra crianças e ado-
lescentes. Esse é um problema de grande 
complexidade, sobretudo porque está as-
sociado a muitos fatores. 
Um destes é o fato de que muitas ve-
zes a violência sexual é acompanhada de 
várias outras violências que acarretam em 
diversas violações do direito à sobrevi-
vência e ao desenvolvimento saudável de 
crianças e adolescentes, premissa funda-
mental da Doutrina da Proteção Integral.
A Convenção sobre os Direitos da 
Criança (CDC) estabelece que Estados de-
vem enviar todos os esforços para evitar 
que crianças e adolescentes1 sejam víti-
mas de qualquer tipo de violência. Mais 
que isso, encarrega a família ou qualquer 
pessoa com responsabilidade sobre a 
criança de pô-la a salvo da violência. É o 
que se verifi ca em seu art. 19:
1 Quando a CDC se refere à Criança, abrange toda 
pessoa menor de 18 anos, ou seja, crianças e 
adolescentes, conforme normas brasileiras.
1. Os Estados Partes adotarão to-
das as medidas legislativas, admi-
nistrativas, sociais e educacionais 
apropriadas para proteger a criança 
contra todas as formas de violência 
física ou mental, abuso ou trata-
mento negligente, maus tratos ou 
exploração, inclusive abuso sexual, 
enquanto a criança estiver sob a 
custódia dos pais, do representante 
legal ou de qualquer outra pessoa 
responsável por ela.
enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 35
2.
Os conceitos 
presentes 
NA LEI Nº 13.431/2017
A Lei nº 13.431/ 2017 representa um refor-
ço dos mecanismos para enfrentar a vio-
lência contra crianças e adolescentes, fi -
xando um conjunto de conceitos, regras e 
procedimentos atinentes ao atendimento 
de vítimas de violência. 
Muito embora a referida lei disponha 
sobre um conjunto de ações e atri-
buições em relação a vítimas de vio-
lência e à atuação dos serviços em 
tais casos, ela representa um passo 
importante, pois é a primeira vez 
que uma norma brasileira concei-
tua o que vem a ser violência contra 
crianças e adolescentes.
É importante fazer uma ressalva de 
que conceitos são aprimorados enquanto 
categorias no meio acadêmico por estu-
diosos que se debruçam sobre determi-
NA LEI Nº 13.431/2017
A Lei nº 13.431/ 2017 representa um refor-
ço dos mecanismos para enfrentar a vio-
lência contra crianças e adolescentes, fi -
xando um conjunto de conceitos, regras e 
procedimentos atinentes ao atendimento 
Muito embora a referida lei disponha 
sobre um conjunto de ações e atri-
buições em relação a vítimas de vio-
que uma norma brasileira concei-
tua o que vem a ser violência contra 
É importante fazer uma ressalva de 
que conceitos são aprimorados enquanto 
categorias no meio acadêmico por estu-
diosos que se debruçam sobre determi-
Do mesmo modo, a Constituição Fe-
deral (CF/88) e o Estatuto da Criança e do 
Adolescente (ECA) convocam todos – fa-
mília, sociedade e estado – a serem vigi-
lantes e protegerem crianças e adolescen-
tes de qualquer tipo de violência:
CF/ 88:
Art. 227. É dever da família, da socie-
dade e do Estado assegurar à crian-
ça, ao adolescente e ao jovem, com 
absoluta prioridade, o direito à vida, 
à saúde, à alimentação, à educa-
ção, ao lazer, à profi ssionalização, 
à cultura, à dignidade, ao respeito, 
à liberdade e à convivência familiar 
e comunitária, além de colocá-los a 
salvo de toda forma de negligência, 
discriminação, exploração, violên-
cia, crueldade e opressão.
ECA:
Art. 5º Nenhuma criança ou adoles-
cente será objeto de qualquer forma 
de negligência, discriminação, explo-
ração, violência, crueldade e opres-
são, punido na forma da lei qualquer 
atentado, por ação ou omissão, aos 
seus direitos fundamentais.
Desse modo, antes de aprofundar as-
pectos relacionados à violência sexual pro-
priamente dita, é oportuno que se domine 
melhor conceitos relacionados às diversas 
expressões de violência contra crianças e 
adolescentes, pois tais violências poderão 
confi gurar distintos delitos e demandar me-
didas protetivas específi cas, bem como inter-
venções especializadas por parte de diversos 
órgãos de promoção ou defesa de direitos.
36 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste
enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 37
nado tema, assim como podem vir 
a ser adotados através de uma defi -
nição legal. O fato de determinada lei 
conceituar uma categoria, não signifi ca 
que aquela é a defi nição mais precisa ou 
correta, porém é a que vincula as organi-
zações operadoras do direito e, por isso 
mesmo, não podem ser desconsideradas.
A lei em questão considera como for-
mas de violência: 
1. violência física; 
2. violência psicológica (condutas 
depreciativas e preconceituosas, 
alienação parental e exposição a 
crime violento); 
3. violência sexual (abuso sexual, 
exploração sexual comercial e tráfi co 
para fi ns de exploração sexual); e 
4. violência institucional.
Desse modo, adiante serão abor-
dados os marcos conceituais sobre a 
violência historicamente amadurecidos do 
ponto de vista acadêmico e institucional, 
fazendo-se um paralelo sobre como esses 
conceitos são legalmente compreendidos 
no Brasil a partir da Lei nº 13.431/2017.
nado tema, assim como podem vir 
a ser adotados através de uma defi -
nição legal. O fato de determinada lei 
conceituar uma categoria, não signifi ca 
que aquela é a defi nição mais precisa ou 
correta, porém é a que vincula as organi-
zações operadoras do direito e, por isso 
mesmo, não podem ser desconsideradas.
A lei em questão considera como for-
mas de violência: 
1. violência física; 
2. violência psicológica (condutas 
depreciativas e preconceituosas, 
alienação parental e exposição a 
crime violento); 
3. violência sexual (abuso sexual, 
exploração sexual comercial e tráfi co 
para fi ns de exploração sexual); e 
4. violência institucional.
Desse modo, adiante serão abor-
dados os 
violência historicamente amadurecidos do 
ponto de vista acadêmico e institucional, 
fazendo-se um paralelo sobre como esses 
conceitos são legalmente compreendidos 
no Brasil a partir da Lei nº 13.431/2017.
enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 37
38 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste
TÁ NA Lei
LEI Nº 13.431/2017
Art. 4º Para os efeitos desta Lei, 
sem prejuízo da tipifi cação das 
condutas criminosas, são formas 
de violência:
I - violência física, entendida 
como a ação infl igida à criança ou 
ao adolescente que ofenda sua 
integridade ou saúde corporal ou 
que lhe cause sofrimento físico;
II - violência psicológica:
a) qualquer conduta de 
discriminação, depreciação ou 
desrespeito em relação à criança ou 
ao adolescente mediante ameaça, 
constrangimento, humilhação, 
manipulação, isolamento, 
agressão verbal e xingamento, 
ridicularização,indiferença, 
exploração ou intimidação 
sistemática (bullying) que possa 
comprometer seu desenvolvimento 
psíquico ou emocional;
b) o ato de alienação 
parental, assim entendido como 
a interferência na formação 
psicológica da criança ou do 
adolescente, promovida ou 
induzida por um dos genitores, 
pelos avós ou por quem os tenha 
sob sua autoridade, guarda ou 
vigilância, que leve ao repúdio de 
genitor ou que cause prejuízo ao 
estabelecimento ou à manutenção 
de vínculo com este;
c) qualquer conduta 
que exponha a criança ou 
o adolescente, direta ou 
indiretamente, a crime violento 
contra membro de sua família 
ou de sua rede de apoio, 
independentemente do ambiente 
em que cometido, particularmente 
quando isto a torna testemunha;
III - violência sexual, 
entendida como qualquer 
conduta que constranja a criança 
ou o adolescente a praticar ou 
presenciar conjunção carnal ou 
qualquer outro ato libidinoso, 
inclusive exposição do corpo em 
foto ou vídeo por meio eletrônico 
ou não, que compreenda:
a) abuso sexual, entendido 
como toda ação que se utiliza da 
criança ou do adolescente para 
fi ns sexuais, seja conjunção carnal 
ou outro ato libidinoso, realizado 
de modo presencial ou por meio 
eletrônico, para estimulação sexual 
do agente ou de terceiro;
b) exploração sexual comercial, 
entendida como o uso da criança 
ou do adolescente em atividade se-
xual em troca de remuneração ou 
qualquer outra forma de compen-
sação, de forma independente ou 
sob patrocínio, apoio ou incentivo 
de terceiro, seja de modo presen-
cial ou por meio eletrônico;
c) tráfi co de pessoas, entendido 
como o recrutamento, o transporte, 
a transferência, o alojamento ou 
o acolhimento da criança ou do 
adolescente, dentro do território 
nacional ou estrangeiro, com o fi m 
de exploração sexual, 
mediante ameaça, uso de força 
ou outra forma de coação, 
rapto, fraude, engano, abuso de 
autoridade, aproveitamento
de situação de vulnerabilidade 
ou entrega ou aceitação de 
pagamento, entre os 
casos previstos na legislação;
IV - violência institucional, 
entendida como a praticada por 
instituição pública ou conveniada, 
inclusive quando gerar revitimização.
eletrônico, para estimulação sexual 
 exploração sexual comercial, 
ou do adolescente em atividade se-
tráfi co de pessoas, entendido 
como o recrutamento, o transporte, 
nacional ou estrangeiro, com o fi m 
inclusive quando gerar revitimização.
38 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste
3. 
Expressões
da violência 
CONTRA CRIANÇAS 
E ADOLESCENTES
Segundo Faleiros (2000), a literatura 
sobre o tema assinala uma preocupa-
ção em dividir (classifi car) a violência 
em três modalidades: física, psicoló-
gica e sexual. Essa divisão por si só 
e de forma estanque é imprecisa. Daí 
porque a isso se acrescem referên-
cias à violência estrutural, à violência 
institucional e à violência simbólica. 
Trata-se de uma tentativa de com-
preender o fenômeno em suas diferen-
tes manifestações. Porém, quando da 
análise de situações concretas de violên-
cia, verifi ca-se que as suas variadas for-
mas se misturam. 
A violência física, por exemplo, pode 
ser também psicológica, institucional e 
estrutural; não se trata de conceitos fe-
chados e isolados uns dos outros, mas de 
entendimentos que são importantes para 
dar pista sobre como a família, a socieda-
de e o Estado devem enfrentar as expres-
3. 
Expressões
da violência 
CONTRA CRIANÇAS 
E ADOLESCENTES
Segundo Faleiros (2000), a literatura 
sobre o tema assinala uma preocupa-
ção em dividir (classifi car) a violência 
em três modalidades: física, psicoló-
gica e sexual. Essa divisão por si só 
e de forma estanque é imprecisa. Daí 
porque a isso se acrescem referên-
cias à violência estrutural, à violência 
institucional e à violência simbólica. 
Trata-se de uma tentativa de com-
preender o fenômeno em suas diferen-
tes manifestações. Porém, quando da 
análise de situações concretas de violên-
cia, verifi ca-se que as suas variadas for-
mas se misturam. 
A violência física, por exemplo, pode 
ser também psicológica, institucional e 
estrutural; não se trata de conceitos fe-
chados e isolados uns dos outros, mas de 
entendimentos que são importantes para 
dar pista sobre como a família, a socieda-
de e o Estado devem enfrentar as expres-
enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 39
sões de violência. Afi nal, um dos primeiros 
passos para se superar determinado pro-
blema é conhecê-lo. Tal esforço é funda-
mental também para melhor delimitação 
dos responsáveis em cada espectro de ex-
pressão de violência. 
Os conceitos adiante expostos partem 
da síntese utilizada pelo Disque 100, na 
publicação Sistematização da Metodolo-
gia do Disque Denúncia Nacional – DDN 
100 (2009), serviço de denúncias de vio-
lações de direitos humanos, do Governo 
Federal, bem como dos conceitos presen-
tes na publicação Escola que Protege, do 
Ministério da Educação.
De forma geral, a violência contra 
crianças e adolescentes pode ser compre-
endida como todo ato, de qualquer na-
tureza, atentatório à dignidade humana 
da criança ou adolescente, praticado por 
agente em situação de poder e de desen-
volvimento desigual em relação a esta 
(CARVALHO, PAIVA, ROSENO, 2007).
3.1 VIOLÊNCIA FÍSICA
Representa o uso da força física de forma 
intencional, não acidental, por um autor 
que a provoca. Por vezes esses agentes 
são os próprios pais ou responsáveis, ou 
pessoas que possuem algum vínculo fa-
miliar ou de confi ança, que muitas vezes 
machucam a criança ou adolescente, mes-
mo sem a intenção de fazê-lo. A violência 
física pode deixar marcas evidentes e, em 
casos extremos, até causar a morte.
A violência física se manifesta por 
meio de: (i) disciplina física abusiva de 
caráter supostamente corretivo (tapa, sur-
ra, beliscão, cascudo etc.); torturas; con-
fi namento; trabalho forçado ou mesmo 
pelo uso do corpo para prática de ato de 
cunho sexual (violência sexual).
É muitas vezes acompanhada de so-
frimento psíquico (violência psicológi-
ca), gerando medo, trauma, ansiedade 
etc. Ao chegar aos serviços de proteção, 
é comum que essa violência seja negada 
e suas marcas justifi cadas como decorren-
tes de acidentes. Profi ssionais dos servi-
ços de saúde que atendem situações de 
violência ou de escolas que constatam ter 
o dever legal de notifi car tais casos.
Nos termos da Lei nº 13.431/2017, 
considera-se violência física “a ação in-
fl igida à criança ou ao adolescente que 
ofenda sua integridade ou saúde corpo-
ral ou que lhe cause sofrimento físico”. 
No caso, o conceito legal está em sinto-
nia com o entendimento doutrinário e 
acadêmico de tal expressão.
3.2 VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA
A violência psicológica constitui um con-
junto de atitudes, palavras e ações que 
podem envergonhar, censurar e pressio-
nar a criança ou o adolescente de modo 
temporário ou permanente. Ela ocorre 
quando se xinga, rejeita, isola, aterroriza, 
constrange, se exige demais das crianças e 
dos adolescentes, ou mesmo se utiliza delas 
para atender às necessidades dos adultos.
Decorre de uma relação de poder de-
sigual entre adultos dotados de autorida-
de e crianças e adolescentes dominados. 
caráter supostamente corretivo (tapa, sur-
ra, beliscão, cascudo etc.); torturas; con-
fi namento; trabalho forçado ou mesmo 
pelo uso do corpo para prática de ato de 
É muitas vezes acompanhada de so-
frimento psíquico (violência psicológi-
ca), gerando medo, trauma, ansiedade 
etc. Ao chegar aos serviços de proteção, 
é comum que essa violência seja negada 
e suas marcas justifi cadas como decorren-
tes de acidentes. Profi ssionais dos servi-
ços de saúde que atendem situações de 
violência ou de escolas que constatam ter 
Nos termos daLei nº 13.431/2017, 
considera-se violência física “a ação in-
fl igida à criança ou ao adolescente que 
ofenda sua integridade ou saúde corpo-
ral ou que lhe cause sofrimento físico”. 
No caso, o conceito legal está em sinto-
nia com o entendimento doutrinário e 
 VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA
 constitui um con-
junto de atitudes, palavras e ações que 
podem envergonhar, censurar e pressio-
nar a criança ou o adolescente de modo 
temporário ou permanente. Ela ocorre 
quando se xinga, rejeita, isola, aterroriza, 
constrange, se exige demais das crianças e 
dos adolescentes, ou mesmo se utiliza delas 
para atender às necessidades dos adultos.
Decorre de uma relação de poder de-
sigual entre adultos dotados de autorida-
de e crianças e adolescentes dominados. 
40 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste
enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 41
Muitas vezes se percebe um grau excessivo 
de tolerância diante de sua prática, em ra-
zão de aspectos culturais que normalizam 
ou justifi cam tais condutas. 
Além disso, não deixa marcas aparen-
tes, como no caso da violência física, de-
mandando olhar atento para percebê-la. 
Nesse sentido, a intervenção profi ssional 
deve enxergá-la como uma questão de 
saúde mental.
Uma das formas dessa violência que 
ganhou maior notoriedade é a intimida-
ção sistemática (bullying), quando quem a 
pratica é as vezes outra pessoa – criança 
ou adolescente – do mesmo recorte ge-
racional e inserido num mesmo contexto 
que a vítima (na escola, por exemplo).
Suas formas extremas também podem 
confi gurar delitos, de acordo com o Códi-
go Penal, tais como Constrangimento Ile-
gal, Difamação, Injúria etc. 
Para a Lei nº 13.431/2017, há três tipos 
de violência psicológica: (a) a decorrente 
de discriminação, depreciação, intimi-
dação, constrangimento que possa com-
prometer o desenvolvimento psíquico ou 
emocional da vítima; (b) a alienação paren-
tal, quando um dos genitores ou alguém 
com poder familiar fomenta na criança ou 
adolescente repúdio ou depreciação em 
relação ao outro genitor; (c) a exposição 
de criança ou adolescente a crime violento 
contra membro de sua família ou rede de 
apoio. Tais conceitos são amplos e guar-
dam sintonia com o que já se compreende 
acerca deste tipo de violência.
42 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste
3.3 NEGLIGÊNCIA
A negligência é a expressão da omissão de 
quem tem o dever de cuidar de crianças e 
adolescentes; família, sociedade e Estado. 
É fruto do descaso, da indiferença, da ne-
gação da existência.
NÃO SEGUE O Fio
Muitas vezes, a negligência é o 
“primeiro estágio” e também “o fi o 
da meada” das diferentes formas 
de violência praticadas contra 
crianças e adolescentes. A falta 
de cuidado vai se agravando e 
evolui para outras expressões de 
violência, como física, psicológica 
ou sexual. A naturalização da falta 
de cuidado e respeito pode ter 
consequências sérias para crianças 
e adolescentes.
TÁ NA Lei
CÓDIGO PENAL
ABANDONO DE INCAPAZ
Art. 133. Abandonar pessoa que está 
sob seu cuidado, guarda, vigilância 
ou autoridade, e, por qualquer 
motivo, incapaz de defender-se dos 
riscos resultantes do abandono:
Pena: detenção, de seis 
meses a três anos.
EXPOSIÇÃO OU ABANDONO 
DE RECÉM-NASCIDO
Art. 134. Expor ou abandonar 
recém-nascido, para ocultar 
desonra própria:
Pena: detenção, de seis meses a 
dois anos.
OMISSÃO DE SOCORRO
Art. 135. Deixar de prestar 
assistência, quando possível fazê-
lo sem risco pessoal, à criança 
abandonada ou extraviada, ou 
à pessoa inválida ou ferida, ao 
desamparo ou em grave e iminente 
perigo� ou não pedir, nesses casos, 
o socorro da autoridade pública:
Pena: detenção, de um a seis 
meses, ou multa.
Em situações extremas, a negligência 
pode confi gurar crimes (ex.: abandono de 
incapaz, exposição ou abandono de re-
cém-nascido, omissão de socorro).
enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 43
3.4 VIOLÊNCIA SEXUAL
É a violação dos direitos sexuais de crian-
ças e adolescentes, porque abusa do cor-
po e da sexualidade, seja pela força ou 
outra forma de coerção, ao envolvê-las em 
atividades sexuais impróprias para a sua 
idade cronológica ou para seu desenvolvi-
mento pessoal. 
Trata-se de toda ação na qual uma pes-
soa, em situação de poder, obriga outra à 
realização de práticas sexuais, por meio 
da força física, da infl uência psicológica 
(intimidação, aliciamento, sedução) ou 
mesmo do uso de arma ou droga.
A violência sexual é todo ato, de qual-
quer natureza, atentatório ao direito 
humano ao desenvolvimento sexual da 
criança e do adolescente, praticado por 
agente em situação de poder e de desen-
volvimento sexual desigual em relação 
a crianças e adolescentes vítimas. Esta 
abordagem nos permite entender que a 
violência sexual:
• é uma violação aos direitos huma-
nos de crianças e adolescentes e que 
crianças e adolescentes têm direito 
ao desenvolvimento harmonioso e 
protegido de sua sexualidade; 
• pode ser realizada por atos comple-
xos e de distintas expressões (físicas 
e ou psicológicas); 
• é praticada por alguém numa situ-
ação de poder e desenvolvimento 
sexual desigual em relação à criança 
ou adolescente, valendo-se o autor 
desta relação desigual para a reali-
zação da violência, razão pela qual 
deve ser considerada como conduta 
ilegal, passível de responsabilização.
Historicamente, as formas de violência 
sexual foram sistematizadas pelo Instituto 
Interamericano del Niño (IIN), vinculado 
à Organização dos Estados Americanos 
(OEA), posteriormente consolidado pelo 
III Congresso Mundial de Enfrentamento 
da Exploração Sexual de Crianças e Ado-
lescentes, subdividindo-se em:
• abuso sexual: o qual pode ser intra-
familiar ou extrafamiliar;
• exploração sexual: se subdivide, 
por sua vez, em: no contexto da 
prostituição, no contexto do turis-
mo, pornografi a infantil e tráfi co 
para fi ns de exploração sexual.
O detalhamento dessa expressão de 
violência será objeto de módulos subse-
quentes, razão pela qual não serão abor-
dados aqui tais conceitos.
Cabe registrar que a Lei nº 13.431/2017 
fez uma distinção no conceito de violência 
sexual ao suprimir das manifestações da ex-
ploração sexual a ocorrida “no contexto 
do turismo”. Ademais, cuidou acer-
tadamente de assinalar que tan-
to o abuso quanto a explora-
ção podem acontecer no 
meio físico ou no am-
biente virtual (atra-
vés das tecnologias 
de informação e co-
municação – TICs).
sexual ao suprimir das manifestações da ex-
ploração sexual a ocorrida “no contexto 
do turismo”. Ademais, cuidou acer-
tadamente de assinalar que tan-
to o abuso quanto a explora-
ção podem acontecer no 
meio físico ou no am-
biente virtual (atra-
vés das tecnologias 
de informação e co-
municação – TICs).
44 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste
TRADUZINDO A VIOLÊNCIA
Interno
Internacional
Violência 
contra crianças 
e adolescentes
Institucional
Sexual
Psicológica
Física
Negligência
Abuso sexual
Exploração 
sexual
Intrafamiliar
Extrafamiliar
Pornografi a
No contexto 
da prostituição
No contexto 
do turismo
Tráfi co
Física
Negligência
enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 45
4.
Outras faces 
DA VIOLÊNCIA
Alguns pontos ainda merecem desta-
que ao se abordar o tema da violência. 
Adiante são elencados aspectos que não 
representam expressões de violência pro-
priamente ditas, mas destacam questões 
relacionadas ao contexto em que se dão 
determinadas violações de direito
4.3 VIOLÊNCIA SIMBÓLICA
O sociólogo Pierre Bourdieu criou essa ca-
tegoria com o intuito de descrever o pro-
cesso pelo qual a classe dominante impõe 
sua cultura aos dominados,partindo do 
princípio de que a cultura ou o sistema 
simbólico são arbitrários e nem sempre 
estão pautados na realidade, mas muitas 
vezes em falsas construções sociais. 
Exemplos dessa violência: supor que a 
mulher é mais fraca do que o homem; que o 
índio é preguiçoso; que o negro é menos in-
teligente; que o adolescente é revoltado etc. 
Tais estigmas também atingem e podem 
causar graves consequências no desenvol-
vimento da infância e da adolescência.
4.1 VIOLÊNCIA 
INSTITUCIONAL
Segundo a Lei nº 13.431/2017, a violência 
institucional é aquela “praticada por ins-
tituição pública ou conveniada, inclusive 
quando gerar revitimização”.
Percebe-se, assim, que tal conceito diz 
respeito à violência cometida por quem 
tem o dever legal de cuidar de crianças 
e adolescentes; as instituições integran-
tes do Sistema de Garantia de Direitos. É 
aquela violência física, psicológica, sexu-
al ou negligência que ocorre em abrigos, 
escolas, unidades de saúde, conselhos 
tutelares, delegacias, fóruns, serviços de 
assistência social, dentre outros.
É importante destacar ainda, nesse 
contexto, a negligência profi ssional, ocor-
rida quando o profi ssional de determina-
da instituição despreza sinais, riscos ou 
mesmo se nega a perceber evidências de 
violações de direitos, seja por motivação 
religiosa ou política, preconceito, desinte-
resse, despreparo etc.
4.2 VIOLÊNCIA ESTRUTURAL
Falar de violência estrutural no Brasil 
é importante, pois, segundo Faleiros 
(2007), o Brasil é um país “com enormes 
desigualdades econômicas e sociais e 
historicamente classista, adultocêntrico, 
machista e racista”, especialmente violen-
to com crianças e adolescentes pobres. 
Exemplo claro disso é o alto índice 
de adolescentes negros e pobres víti-
mas da letalidade do Estado ou do cri-
me organizado.
IMPORTANTE
Para entender melhor o tema, 
vale a pena conferir a publicação 
e campanha Cada Vida Importa, 
realizada pelo Comitê Cearense 
pela Prevenção de Homicídios 
na Adolescência, da Assembleia 
Legislativa do Ceará.
Disponível em: 
cadavidaimporta.com.br
46 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste
#FICAADICA 
Alguns fi lmes que abordam 
diferentes expressões da violência:
• Preciosa: Uma História 
de Esperança: Claireece 
“Preciosa” Jones sofre 
privações inimagináveis em 
sua juventude. Abusada pela 
mãe, violentada por seu pai, 
ela cresce pobre, irritada, 
analfabeta, gorda, sem amor e 
geralmente passa despercebida. 
Uma história intensa de 
adversidade e esperança 
(2009, Estados Unidos, 
Diretor: Lee Daniels).
• Má Educação: Quando um 
velho amigo entrega ao cineasta 
Enrique Goded um roteiro 
baseado na adolescência dos 
dois, Enrique é obrigado a 
reviver sua juventude em um 
internato católico. Alternando 
passado e presente, o roteiro 
acompanha um travesti que 
se reconecta com a antiga 
namorada. O encontro faz a 
personagem refl etir sobre a 
vitimização sexual e o trauma
de esconder sua orientação 
sexual (2004, Espanha,
Diretor: Pedro Almodóvar).
Referências
BRASIL. Constituição da República 
Federativa do Brasil. Brasília: Casa Civil, 
1988. Disponível em: http://www4.planalto.
gov.br/legislacao. Acesso em: 02 out. 2019.
BRASIL. Estatuto da Criança e do 
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Comitê Nacional de Enfrentamento 
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FALEIROS, Vicente de Paula; FALEIROS, Eva 
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PAIVA, Leila. Violência Sexual 
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Escola que protege: enfrentando 
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Secretaria Especial dos Direitos Humanos 
da Presidência da República/ Subsecretaria 
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do Adolescente/ Programa Nacional de 
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Crianças e Adolescentes, 2009.
enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 47
FERNANDO LUZ (autor)
Advogado, graduado em Direito pela Universidade Federal do Ceará (UFC), mestre em Gestão 
do Conhecimento pela Universidade Católica de Brasília e integrante do Grupo de Pesquisa Nú-
cleo de Estudos e Pesquisas Avançadas no Terceiro Setor (NEPATS) da Universidade Católica 
de Brasília. É consultor do projeto Edulivre (Unesco e Sesi). Atuou como consultor jurídico do 
Conselho Nacional do Sesi, coordenador adjunto do PAIR Mercosul, coordenador das áreas de 
encaminhamento e monitoramento do Disque 100 e assessor técnico do Programa Nacional 
de Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes da Secretaria de Direitos 
Humanos da Presidência da República. 
RAFAEL LIMAVERDE (ilustrador)
É ilustrador, chargista e cartunista (premiado internacionalmente) e xilogravurista. Formado em 
Artes Visuais pelo Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia do Ceará (IFCE). Escreve 
e possui livros ilustrados nas principais editoras do Ceará e em editoras paulistas.
Realização
NOSSA VOZ. NOSSA FORTALEZA.
Apoio
EXPEDIENTE: FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA João Dummar Neto Presidente André Avelino de Azevedo 
Diretor Administrativo-Financeiro Raymundo Netto Gerente Editorial e de Projetos Emanuela Fernandes 
e Aurelino Freitas Analistas de Projetos UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE Viviane Pereira Gerente 
Pedagógica Marisa Ferreira Coordenadora de Cursos Joel Bruno Designer Instrucional CURSO 
ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES Valéria Xavier Concepção e 
Coordenadora Geral Leila Paiva Coordenadora de Conteúdo Amaurício Cortez Editor de Design e Projeto 
Gráfi co Miqueias Mesquita Designer/Diagramador Rafael Limaverde Ilustrador Milena Bandeira Revisora
ISBN: 978-85-7529-936-4 (Coleção) 
ISBN:978-85-7529-939-5 (Fascículo 3)
Este fascículo é parte integrante do Programa de Combate à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, em decorrência do Termo de Fomento celebrado entre a Fundação 
Demócrito Rocha e a Câmara Municipal de Fortaleza, sob o nº 001/2019.
Todos os direitos desta edição reservados à:
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