Baixe o app para aproveitar ainda mais
Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original
Aulas em pdf/Controles_na_Administracao_Publica_Aula_1.pdf Instituto Serzedello Corrêa Aula 1 Prestação de Contas CONTROLES NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA RESPONSABILIDADE PELO CONTEÚDO Tribunal de Contas da União Secretaria Geral da Presidência Instituto Serzedello Corrêa Diretoria de Diagnóstico, Planejamento e Desenvolvimento de Ações Educacionais Diretoria de Promoção de Ações Educacionais e Relações Institucionais Serviço de Diagnóstico, Planejamento e Desenvolvimento de Ações Educacionais Serviço de Ações Educacionais a Distância CONTEUDISTA Renato Santos Chaves REVISOR Antonio José Saraiva de Oliveira Junior TRATAMENTO PEDAGÓGICO Flávio Sposto Pompeo Silvia Helena de C. Martins REVISÃO GRAMATICAL Gabriella Nascimento Cordeiro Pereira RESPONSABILIDADE EDITORIAL Tribunal de Contas da União Secretaria Geral da Presidência Instituto Serzedello Corrêa Centro de Documentação Editora do TCU PROJETO GRÁFICO Ismael Soares Miguel Paulo Prudêncio Soares Brandão Filho Vivian Campelo Fernandes DIAGRAMAÇÃO Vanessa Vieira © Copyright 2014, Tribunal de Contas de União <www.tcu.gov.br> Permite-se a reprodução desta publicação, em parte ou no todo, sem alteração do conteúdo, desde que citada a fonte e sem fins comerciais. Este material tem função didática. A última atualização ocorreu em novembro de 2014. As afirmações e opiniões são de responsabilidade exclusiva do autor e podem não expressar a posição oficial do Tribunal de Contas da União. Atenção! [ 3 ]Aula 1: Prestação de Contas Aula 1 – Prestação de Contas Quais os princípios que fundamentam o ato de prestar contas? Quem presta contas a quem? O que é cidadania e o que significa accountability? Você já ouviu falar em governança na gestão pública? Iniciamos nossos estudos pela prestação de contas. Trata-se de um tema de suma importância para toda a sociedade, pois é por meio dela que podemos avaliar se os gestores públicos aplicaram de forma correta e eficiente os tributos que recolhemos ao Governo. Para facilitar o estudo, este tópico está organizado da seguinte forma: Aula 1 – Prestação de Contas �����������������������������������������������������������������������������������3 1� Prestação de contas ��������������������������������������������������������������������������������������������������4 2� Quem presta contas a quem? ���������������������������������������������������������������������������������9 3� Cidadania ���������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 12 4� Accountability ���������������������������������������������������������������������������������������������������������� 13 5� Governança na gestão pública ������������������������������������������������������������������������� 17 Síntese ������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 21 Referências bibliográficas ����������������������������������������������������������������������������������� 22 Todos prontos? Então, vamos começar! [ 4 ] CONTROLES NA ADMINISTRAÇÃO 1. Prestação de contas A noção fundamental de prestação de contas consiste no fato de que alguém, pessoa física ou jurídica, justifique o adequado uso de determinada quantia ou mesmo de determinado objeto, instrumento ou ato, não se restringindo apenas a valores financeiros. Prestação significa o ato ou efeito de prestar, prestamento, que, por sua vez, converge para demonstrar, comprovar. Um exemplo de fácil assimilação consiste no pagamento mensal do condomínio, pelos moradores de um prédio de apartamentos. Ao final de um mês, ou outro período estipulado nas normas condominiais, o Síndico apresentará as demonstrações dos gastos, com os respectivos comprovantes, ou seja, irá prestar contas da utilização do dinheiro da coletividade, isto é, dos moradores do condomínio. Em regra, as principais despesas são os salários dos prestadores de serviço como porteiros e faxineiros, conta de água e energia elétrica, contador, advogado e serviços gerais. Cada uma das despesas deve corresponder aos documentos fiscais apresentados pelo Síndico, a exemplo de Notas Fiscais, Recibos, recolhimento do INSS dos prestadores de serviço, dentre outros. Dependendo do tamanho do condomínio, as contas são apresentadas aos representantes dos moradores, geralmente o Conselho Fiscal, escolhido em eleição, que analisará e emitirá um parecer dizendo aprovar ou constestar algumas despesas. O exemplo do condomínio narrado nada mais é do que o ato de prestar contas pelo responsável, no caso, o Síndico. Caso as contas não sejam aprovadas, o Síndico deverá responder pela irregularidade cometida. A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, proclamada em 1789, composta por dezessete artigos e um preâmbulo dos ideais libertários e liberais da primeira fase da Revolução Francesa, previa no art. 15, o seguinte comando: “A sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente público pela sua administração”. Encontramos, no Decreto-Lei nº 200, de 25 de fevereiro de 1967, no art. 93, uma das conceituações mais abrangentes do ato de prestar contas, o qual define que “quem quer que utilize dinheiros públicos terá de justificar seu bom e regular emprego na conformidade das leis, regulamentos e normas emanadas das autoridades administrativas”. Recorrendo à conceituação descrita no Dicionário Aurélio, verificamos que prestação de contas, em sentido financeiro, consiste na “demonstração dos gastos apresentada por pessoas ou entidades que recebem adiantadamente uma quantia para fim ou fins determinados”. Já o Professor A. Lopes de Sá (1995), no seu Dicionário de Contabilidade, define prestação de contas como: “apresentação de fatos relativos a um acontecimento central, comprovando- os, historiciando-os e preparando-os para receber as classificações e verificações de natureza contábil”. Arremata, mencionando que “a prestação de contas é uma satisfação que os administradores dão aos interessados no andamento da empresa”. [ 5 ]Aula 1: Prestação de Contas O Direito Empresarial também fixa responsabilidades ao administrador de bens privados. A Lei nº 6.404/76, que dispõe sobre as Sociedades por Ações, prevê, no art. 153, o dever de diligência, prevendo que “o administrador da companhia deve empregar, no exercício de suas funções, o cuidado e diligência que todo homem ativo e probo costuma empregar na administração dos seus próprios negócios”. Das conceituações e comandos normativos acima expostos, pode- se concluir que, seja no âmbito privado, seja no âmbito público, todo aquele que, de alguma forma administra bens e valores, deve prestar contas da sua boa e regular aplicação a quem de direito, ou seja, aos sócios das empresas ou à sociedade em geral. A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 considera a prestação de contas um princípio constitucional. Assim, caso este princípio seja desrespeitado, a Carta Magna autoriza, em medida de exceção, a União a intervir nos Estados, e os Estados, por sua vez, a intervirem nos seus respectivos Municípios, a fim de restabelecer a normalidade da prestação de contas. Essa interpretação é extraída dos arts. 34 a 36 da Constituição Federal, que tratam do instituto da intervenção. Ainda a Constituição Federal de 1988, em seu art. 70, parágrafo único, prevê que “prestará contas qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiros, bens, valores públicos ou pelos quais a União responda, ou que, em nome desta, assuma obrigações de natureza pecuniária”. Dissecando este comando constitucional, podemos mencionar alguns exemplos práticos que geram a obrigação de prestação de contas: a) o Prefeito Municipal que firma convênio com a União para a execução de objetos de interesses comuns, a exemplo de estradas, escolas, poços artesianos, barragens, ginásios poliesportivos etc; b) uma Associação de Produtores Rurais (Pessoa Jurídica de Direito Privado) que firma convênio ou obtenha recursos a título de fomento à reforma agrária; c) o Serviço Social do Comércio (SESC) que recebe ou arrecada tributos parafiscais (contribuições) dos trabalhadores do comércio, a fim de aplicar tais recursos em benefício da classe; d) a empresa privada que obtém recursos públicos para investimentos no seu patrimônio privado. [ 6 ] CONTROLES NA ADMINISTRAÇÃO Portanto, o comando constitucional abrange as mais variadas formas de utilização de recursos públicos que demandam a apresentação de prestação de contas por parte dos responsáveis. Conforme veremos no assunto inerente ao Tribunal de Contas da União, a não-prestação de contas ou, tecnicamente falando, a omissão no dever de prestar contas, configura irregularidade grave do responsável perante a Administração Pública, culminando em sanções cíveis, penais e administrativas. A prestação de contas, princípio constitucional, conforme vimos, é também norteada por outros dois princípos específicos da Administração Pública: princípio da supremacia do interesse público e princípio da indisponibilidade. O interesse público deve prevalecer sobre o interesse particular. Nesse sentido, a prestação de contas de recursos públicos não é ato de natureza particular, é interesse de toda a sociedade tomar conhecimento da forma e qualidade pelas quais os recursos foram aplicados. Logicamente, os direitos particulares devem ser respeitados, assim, num eventual questionamento sobre falhas e/ou irregularidades na apreciação das contas apresentadas, devem ser concedidos os direitos do contraditório e da ampla defesa para que o responsável apresente suas justificativas. De acordo com o princípio da indisponibilidade, os bens, direitos e interesses públicos são confiados ao administrador (responsável) apenas para sua gestão, nunca para a sua disposição. Desse modo, os atos administrativos, tais como licitações, contratos, alienações, utilização e guarda de bens e recursos públicos, devem sempre ser geridos pelo responsável com respeito aos poderes e deveres conferidos por lei e com a intenção de gestão de tais atos. [ 7 ]Aula 1: Prestação de Contas Ainda de acordo com o princípio da indisponibilidade, não pode o administrador, por exemplo, dar causa à instauração de licitação ou à celebração de contrato fora dos motivos previstos em lei, sob pena de cometimento de crime. Não pode, além disso, o administrador ficar sem prestar contas, ou apresentá-las de forma incompleta, sendo dever do administrador respeitar os prazos estipulados para tal. A sistemática de prestação de contas é bastante compreensível a partir do entendimento da Teoria de Agência, também denominada Teoria do Agente Principal. Conforme definido pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa1, essa teoria consiste em uma das principais teorias de finanças e é considerada a principal abordagem formal para a governança corporativa. Foi formalizada no artigo seminal de Jensen e Meckling (1976). Os autores definem o relacionamento de agência como um “contrato no qual uma ou mais pessoas – o principal – engajam outra pessoa – o agente – para desempenhar alguma tarefa ao seu favor, envolvendo a delegação de autoridade para a tomada de decisão pelo agente”. Dessa forma, é fácil perceber que o “agente” deve prestar contas ao “principal” da gestão dos recursos sob sua responsabilidade. Entre o principal e o agente deverá haver uma relação permanente de prestação de contas, conforme a ilustração a seguir: Em outras palavras, o principal é um delegante, por exemplo, de recursos públicos, enquanto o agente é o delegado, que recebe e gerencia os valores, devendo aplicar tais recursos públicos na exata finalidade que foi inicialmente proposta. Gráfico 1: Teoria de Agência Note-se que esta relação poderá apresentar conflitos, ou seja, embora o agente deva tomar decisões em benefício do principal, muitas vezes, ocorrem situações em que os interesses dos dois são conflitantes, dando margem a um comportamento oportunista por parte do agente. Um exemplo clássico é a situação na qual o agente, ao receber recursos do principal para a aquisição de determinada mercadoria, adquire produto de baixa qualidade, com o valor na Nota Fiscal acima do valor real, ficando com essa diferença de valor entre o declarado na Nota Fiscal e o efetivamente pago. 1 - IBGC (www.ibgc.org.br) Principal (Delegante) Agente (Delegado) Recursos Prestação de Contas [ 8 ] CONTROLES NA ADMINISTRAÇÃO É nesse contexto, que se encontra a origem conceitual da auditoria, e também da moderna governança, como um mecanismo de monitoramento para redução dos conflitos de agência2. A atividade de auditoria, no presente caso, vai atuar sobre a relação de prestação de contas, em favor do principal. Voltaremos a falar sobre a Teoria de Agência ou Teoria do Agente Principal na abordagem do tópico “accountability”. Gráfico 2: Atuação da auditoria na Teoria de Agência 2 - BRASIL. Tribunal de Contas da União. Curso auditoria governamental: módulo 1 – introdução à auditoria. Brasília: TCU, Instituto Serzedello Corrêa, 2010. Principal (Delegante) Auditoria Agente (Delegado) Recursos Prestação de Contas [ 9 ]Aula 1: Prestação de Contas 2. Quem presta contas a quem? Paira uma grande dúvida ou, digamos, confusão, no Brasil, sobre a sistemática de prestação de contas. Isto porque vivemos numa federação que, melhor esclarecendo, é a união de dois ou mais Estados para a formação de um novo, em que as unidades federativas conservam autonomia política, enquanto a soberania é transferida para o Estado Federal. Exemplos: Brasil, Argentina e México. Do conceito anterior, pode-se, então, dizer que os Estados de Minas Gerais, Goiás, Piauí etc. são unidades federativas e conservam autonomia política e administrativa, elegendo seus governantes e cobrando seus tributos. O governo federal é quem possui a soberania. Nessa forma de Estado (federalismo), como não poderia deixar de ser, vigora o federalismo fiscal, isto é, cada unidade federativa possui autonomia para instituir os tributos previstos na Constituição Federal. Assim, segundo o nosso sistema tributário nacional, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituem seus tributos com o objetivo de obter receitas com vistas a investir no bem comum da sociedade, mediante aplicação das despesas públicas. Sabemos, porém, que a arrecadação dos tributos da União é bem superior à dos demais entes federativos. Como meio de amenizar essa disparidade, a União repassa aos Estados, Distrito Federal e Municípios, recursos previstos na Constituição, a exemplo do Fundo de Participação dos Estados (FPE) e do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), segundo as regras de reparticipação das receitas tributárias (Constituição Federal de 1988, arts. 157 a 162). Os Estados também repassam parcela de seus tributos aos respectivos Municípios. Os recursos entregues aos Estados, Distrito Federal e Municípios, transferidos sob o mando constitucional, são considerados recursos próprios destes, não podendo a União interferir no modo e na qualidade de aplicação de tais recursos. Esta forma de repartição ou entrega de receitas é definida pelo termo “transferências constitucionais”. Contudo, ainda assim, a União poderá transferir aos Estados, Distrito Federal e Municípios, recursos financeiros para a execução de ações governamentais comuns, de interesse mútuo entre a União e o ente federado, como pontes, estradas, praças, escolas, poços, ginásios poliesportivos, sistemas de abastecimento de água etc. [ 10 ] CONTROLES NA ADMINISTRAÇÃO Para receber estes recursos, os Estados, Distrito Federal e Municípios firmam com a União convênios ou contratos de repasse. Essa forma de repasse financeiro tem a denominação de “transferência voluntária”. Temos, agora, três situações para a prestação de contas dos recursos públicos geridos pelos entes federativos: 1ª) se o ente federativo (Estados, Distrito Federal ou Municípios) utiliza recursos próprios (englobando as transferências constitucionais), a prestação de contas deverá ser apresentada ao órgão de controle do respectivo ente, ou seja, Tribunal de Contas do Estado; 2ª) se o ente federativo, no caso um determinado Município, recebe e utiliza recursos oriundos de transferências voluntárias repassados pelos respectivos Estados, a prestação de contas, em princípio, deverá ser apresentada ao órgão ou entidade estadual que concedeu os recursos. Em momento posterior, numa segunda fase, as contas do órgão/entidade repassadora dos recursos serão julgadas pelo Tribunal de Contas do Estado respectivo; 3ª) se o ente federativo utiliza recursos oriundos de transferências voluntárias da União, a prestação de contas, em princípio, deverá ser apresentada ao órgão ou entidade federal que concedeu os recursos. Num segundo momento, as contas do órgão/entidade repassadora dos recursos serão julgadas pelo Tribunal de Contas da União. [ 11 ]Aula 1: Prestação de Contas Gráfico 3: Prestação de Contas Em conclusão, conforme a natureza e origem do recurso público que o ente estiver utilizando, se recurso próprio ou de transferência voluntária, os órgãos e/ou entidades que receberão a prestação de contas para análise e julgamento serão distintos. O regramento para fiscalização dos Municípios está previsto no art. 31 da Constituição Federal e, para fiscalização da União, Estados e Distrito Federal, o regramento, de forma geral, está previsto do art. 70 ao 75 da Constituição Federal de 1988. Municípios Recursos de Transferências Voluntárias dos Estados Estado, DF e Municípios Recursos Próprios Estado, DF e Municípios Recursos de Transferências Voluntárias da União Órgãos / Entidades Estaduais Tribunal de Contas do Estado Órgãos / Entidades Federais Prestação de Contas Prestação de Contas Prestação de Contas [ 12 ] CONTROLES NA ADMINISTRAÇÃO 3. Cidadania A República Federativa do Brasil tem como fundamentos a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo político. Segundo Moraes (2010), a cidadania representa um status e apresenta-se simultaneamente como objeto e um direito fundamental das pessoas. Isto quer dizer que a cidadania é uma situação na qual os cidadãos podem eleger seus representantes, bem como ser eleitos, participando da democracia do país. A cidadania também confere à sociedade os direitos fundamentais como o direito à vida, à liberdade de ir e vir e de expressão, o acesso ao trabalho digno, à alimentação, à saúde, à segurança, à educação, dentre outros direitos fundamentais. A cidadania moderna é construída a partir de um processo de aquisição cumulativa de direitos por parte dos membros da sociedade, implicando a aquisição desses direitos tanto em limitações ao Estado quanto na incorporação sucessiva de camadas cada vez mais amplas da população na condição de cidadão. Os primeiros direitos de cidadania moderna foram os direitos civis, ou seja, liberdades constitucionalmente garantidas, que correspondiam aos direitos fundamentais do indivíduo enquanto membro da sociedade civil, a exemplo de liberdade pessoal, liberdade de imprensa, liberdade religiosa e liberdade econômica.3 Conforme Dallari, a cidadania expressa um conjunto de direitos que dá à pessoa a possibilidade de participar ativamente da vida e do governo de seu povo. Quem não tem cidadania está marginalizado ou excluído da vida social e da tomada de decisões, ficando numa posição de inferioridade dentro do grupo social.4 A cidadania, portanto, é um fundamento que, no aspecto de controle da Administração Pública, confere aos cidadãos o direito de acesso às informações sobre prestação de contas dos governantes, acesso às demais informações orçamentárias e financeiras, por meio da transparência fiscal, culminando com o denominado controle social, que veremos em tópico específico à frente. Para Silva (2005), a cidadania, nos termos constitucionais, qualifica os participantes da vida do Estado, o reconhecimento do indivíduo como pessoa integrada na sociedade estatal. Significa, também, que o funcionamento do Estado estará submetido à vontade popular, com conexão com os conceitos de soberania popular, de direitos políticos, de dignidade da pessoa humana, como base e meta essencial do regime democrático. 3 - MAGALHÃES, José Antônio Fernandes. Ciência Política. Vestcon: Brasília, 2001. 4 - DALLARI, Dalmo. Direitos Humanos e Cidadania. São Paulo: Moderna, 1998. p.14. http://www.dhnet.org. br/direitos/sos/textos/oque_e_cidadania.html <Acessado em 26/11/2010> http://www.dhnet.org.br/direitos/sos/textos/oque_e_cidadania.html http://www.dhnet.org.br/direitos/sos/textos/oque_e_cidadania.html [ 13 ]Aula 1: Prestação de Contas 4. Accountability O termo accountability não possui tradução exata para a língua portuguesa, porém, remete à ideia de obrigação dos integrantes da administração de determinada corporação a prestar contas a instâncias superiores. Dito de outra forma, corresponde ao que foi explanado sobre a Teoria de Agência, na qual o agente (delegado) presta contas ao principal (delegante), só que, agora, de forma permanente. Valendo-nos dos ensinamentos abordados no curso de auditoria governamental do TCU5, extraímos que essa obrigação constante de prestação de contas denomina-se accountability e representa o processo de contínua demonstração, por parte do agente, de que sua gestão está alinhada às diretrizes previamente fixadas pelo principal. Ou seja, o agente deve prestar contas de sua atuação a quem o fez a delegação e responde integralmente por todos os atos que praticar no exercício desse mandato. O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa conceitua accountability como o termo que, traduzido para o português, é sinônimo de prestação de contas ou responsabilização pelas decisões tomadas. A responsabilização consiste num dever, que obriga o agente (ou o gestor de recursos), uma vez que este assumiu obrigação, perante a sociedade, de bem administrar o dinheiro público. Por exemplo, se um gestor público não prestar contas de recursos que recebeu para construir uma escola, ele poderá ser responsabilizado em devolver os recursos recebidos, sofrer multa pela má gestão dos recursos, ter os direitos políticos suspensos, isto é, não poderá ser candidato a cargo eletivo (Vereador, Deputado, Prefeito etc.) por um determinado período, não poderá contratar com a Administração Pública etc. O agente é responsável pelos atos dele, respondendo, perante o principal, pelas falhas cometidas. 5 - BRASIL. Tribunal de Contas da União. Curso auditoria governamental: módulo 1 introdução à auditoria. Brasília: TCU, Instituto Serzedello Corrêa, 2010 (Antônio Alves de Carvalho Neto Conteudista). [ 14 ] CONTROLES NA ADMINISTRAÇÃO Gráfico 4: Sistemática de Accountability Analisando o gráfico 4, podemos considerar, no setor público, que o principal (delegante de recursos) é a sociedade, pois a Constituição Federal de 1988 diz que todo poder emana do povo. Acontece que a sociedade é representada por parlamentares que escolhemos nas eleições. Assim, tais parlamentares, Senadores, Deputados e Vereadores são os representantes do principal. Na outra ponta, encontram-se aqueles que recebem os recursos públicos para aplicarem em benefício de toda a sociedade, que são os delegados ou agentes, representados pelos Governadores, Prefeitos, Presidente da República e demais agentes (gestores) que recebem e utilizam recursos públicos. A sistemática de accountability no setor público está representada no gráfico 5, apresentado a seguir, o qual representa o seguinte: a) a sociedade (principal) é a dententora dos recursos públicos, já que a Constituição Federal de 1988 diz que todo poder emana do povo; b) a sociedade é representada por Senadores, Deputados e Vereadores, não daria para ser toda a sociedade; c) os agentes são os gestores que aplicam os recursos públicos como o Presidente da República, os Governadores, prefeitos e demais gestores com poderes para aplicar recursos; d) a prestação de contas dos recursos aplicados deve ser apresentada ao Poder Legislativo, que representa a sociedade; e) por sua vez, o Poder Legislativo nada mais é que a representação da sociedade. Principal (Delegante) Auditoria Agente (Delegado) Accountability [ 15 ]Aula 1: Prestação de Contas A accountability, portanto, é este processo contínuo de prestação de contas, desde os gestores (agentes/delegados) até a sociedade (principal/ delegante). Gráfico 5: Sistemática de Accountability no Setor Público Salienta-se que os agentes devem prestar contas de forma constante, representando o ato de accountability. A prestação de contas constante depende do nível de transparência pública do ente governamental. Por exemplo, você sabe quanto é pago mensalmente, em seu Município, pelo serviço de coleta de lixo? E quanto é gasto com a saúde, educação, merenda escolar etc.? Bem, a Constituição Federal de 1988, no art. 31, § 3º, prevê que “as contas dos Municípios ficarão, durante sessenta dias, anualmente, à disposição de qualquer contribuinte, para exame e apreciação, o qual poderá questionar-lhes a legitimidade, nos termos da lei”. Já a Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar nº 101/2000)6, no capítulo que trata da “transparência, controle e fiscalização”, artigos 48 e 49, diz que “as contas apresentadas pelo Chefe do Poder Executivo ficarão disponíveis, durante todo o exercício, no respectivo Poder Legislativo e no órgão técnico responsável pela sua elaboração, para consulta e apreciação pelos cidadãos e instituições da sociedade”. Sociedade Principal (Delegante) Poder Legislativo (Representante do Principal) Presidente, Governadores, Prefeitos Agente (Delegado) Accountability Recursos Prestação de Contas Prestação de Contas Recursos [ 16 ] CONTROLES NA ADMINISTRAÇÃO Com o advento da internet, a rede mundial de computadores, ficou bem mais fácil verificar as contas apresentadas pelos gestores. Assim dispõe o art. 48 da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF): “São instrumentos de transparência da gestão fiscal, aos quais será dada ampla divulgação, inclusive em meios eletrônicos de acesso público: os planos, orçamentos e leis de diretrizes orçamentárias; as prestações de contas e o respectivo parecer prévio; o Relatório Resumido da Execução Orçamentária e o Relatório de Gestão Fiscal; e as versões simplificadas destes documentos”. Verifique a disponibilidade dessas informações no seu município. Quanto maior for a transparência pública, a cobrança dos órgãos de controle e a cobrança da sociedade, mais fortalecido será o processo de accountability. No tópico sobre controle social, estarão exemplificados alguns links que permitem verificar os recursos repassados e aplicados em diversas ações governamentais. Verifique a disponibilidade, pelo seu município, de documentos como: os planos, orçamentos e leis de diretrizes orçamentárias; as prestações de contas e o respectivo parecer prévio; o Relatório Resumido da Execução Orçamentária e o Relatório de Gestão Fiscal; e as versões simplificadas destes documentos. Estes são documentos de transparência da gestão fiscal previstos pela LRF. 6 - BRASIL. Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000. Estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/Leis/LCP/Lcp101.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LCP/Lcp101.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LCP/Lcp101.htm [ 17 ]Aula 1: Prestação de Contas 5. Governança na gestão pública O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) define governança corporativa como “o sistema pelo qual as sociedades são dirigidas e monitoradas, envolvendo os relacionamentos entre acionistas/ cotistas, conselho de administração, diretoria, auditoria independente e conselho fiscal”. A conceituação acima exposta aborda a governança corporativa no setor privado referente à atuação das empresas no mercado. Perceba que a conceituação destaca o termo “sistema pelo qual as sociedades são dirigidas e monitoradas”. Envolve pessoas ou atores da cúpula da organização, como acionistas, diretores, administradores, fiscais e auditores. Numa visão sintética e simplória, pode-se definir que “governança corporativa” corresponde a uma espécie de fiscalização da alta gestão, verificando se os atores envolvidos estão respeitando as normas e códigos, com o objetivo de reduzir ou eliminar os conflitos de interesse. Quais seriam os conflitos de interesse? Bom, a resposta é vasta. Para mencionar alguns, teríamos: ausência ou pouca transparência dos atos de gestão, fiscalização falha, auditoria superficial, direção ineficaz, dentre outros. E como é a tal governança corporativa na gestão pública? É semelhante à governança no setor privado? Quais são as características da governança no setor público? Para responder a estes questionamentos, adotaremos a explanação constante do estudo sobre “critérios gerais de controle interno na administração pública”, cujo objetivo é subsidiar discussão, no âmbito do Senado Federal, de anteprojeto de proposta legislativa para definição de critérios gerais de controles internos, gestão de riscos e governança na administração pública brasileira. O presente estudo foi produzido no âmbito da Diretoria de Métodos e Procedimentos de Controle do Tribunal de Contas da União. O item VI do documento aborda o tema “governança”, que reproduzimos a seguir: “(...) VI. GOVERNANÇA Nos últimos tempos, a governança tornou-se um conceito-chave, que todos utilizam sem saber exatamente o que é. O que tem a ver governança com riscos e controles? Já que se cunhou até um acrônimo, GRC, Este estudo está disponível na biblioteca virtual do curso. [ 18 ] CONTROLES NA ADMINISTRAÇÃO para designar e demonstrar a relação Governança, Riscos e Controles. Expressões como governança corporativa, governança organizacional, governança institucional e governança pública estão por toda parte. O uso amplo da expressão exige que se precise o seu significado no contexto em que é aplicado. Para este trabalho, interessa-nos a governança das instituições públicas, portanto, no campo da governança organizacional, em geral, e da governança institucional, em particular. Controles internos e governança são assuntos inter-relacionados, mas não são sinônimos. A estrutura de controles internos, como já vimos, é estabelecida para governar os acontecimentos dentro de uma organização que possam impactar na consecução dos objetivos, isto é, os riscos. Portanto, controle interno é a fiscalização das atividades feita pela própria entidade, ou seja, pela própria administração e pelo seu corpo funcional. No entanto, a fiscalização da administração da entidade é feita por quem? Aqui surge o conceito de governança, representado pela adoção de boas práticas, consubstanciadas nos princípios adiante descritos, que asseguram equilíbrio entre os interesses das diferentes partes que, no caso do setor público, inclui a sociedade e os seus representantes, o parlamento, as associações civis, o mercado, os órgãos reguladores e de controle, dentre outros. A moderna governança surgiu com a necessidade de administrar os chamados conflitos de agência, que aparecem quando o bem-estar de uma parte (denominada principal) depende das decisões tomadas por outra (denominada agente). Embora o agente deva tomar decisões em benefício do principal, muitas vezes ocorrem situações em que os interesses dos dois são conflitantes, dando margem a um comportamento oportunista por parte do agente (CARVALHO, 2002, p.19 apud SILVA, 2003). O conceito não é novo, mas só recentemente tomou corpo. Para Peters (2007, p.27) ele já existe desde que as empresas passaram a ser administradas por agentes distintos dos proprietários [...] há cerca de 100 anos. Por essa época, começou a ser delineado o conflito de agência, em que o agente recebe uma delegação de recursos [...] e tem, por dever dessa delegação, que gerenciar estes recursos mediante estratégias e ações para atingir objetivos [...], tudo isto mediante uma obrigação constante de prestação de contas. [ 19 ]Aula 1: Prestação de Contas Alguns dos princípios fundamentais da boa governança, comuns a diversos autores, são estes: transparência (disclosure): representa o processo de contínua demonstração, pelo agente, de que sua gestão está alinhada às diretrizes estratégicas previamente fixadas pelo principal. Não é só limitar-se à “obrigação de informar” (accountability), o agente (a administração) deve cultivar o “desejo de informar”; equidade (fairness): tratamento justo e igualitário a todas as partes interessadas, sendo totalmente inaceitáveis atitudes ou políticas discriminatórias, sob qualquer pretexto; prestação de contas (accountability): os agentes da governança devem prestar contas de sua atuação a quem os fez delegação e respondem integralmente por todos os atos que praticarem no exercício desse mandato; e responsabilidade (responsability): definição de uma política de responsabilidade que assegure a máxima sustentabilidade dos negócios, incorporando considerações de ordem ética, social e ambiental em todos os processos e relacionamentos. A administração pública brasileira deve obediência a todos esses princípios, espalhados que estão por todo o texto constitucional, e especificamente aos sintetizados no art. 37 da CF/88, que representam os requisitos de sua atuação. Os agentes da governança institucional de órgãos, entidades, programas e fundos públicos, por subsunção a tais princípios, devem contribuir para aumentar a confiança sobre a forma como são geridos os recursos colocados à sua disposição, reduzindo a incerteza dos membros da sociedade sobre o que acontece no interior da administração pública. Essa contribuição será tanto mais efetiva quanto melhor for a qualidade dos instrumentos e mecanismos de governança institucional arregimentados e mantidos pelos agentes responsáveis pela coisa pública. Boas estruturas de gestão de riscos e controles internos são pré-requisitos para uma organização bem administrada, e esses três elementos são pré-requisitos para uma boa governança. Desse modo, Governança, Riscos e Controles devem ser geridos de forma integrada, objetivando o estabelecimento de um ambiente que respeite não apenas os valores, interesses e expectativas da instituição e dos agentes que a compõem, mas também de todas as partes interessadas, tendo o cidadão e a sociedade como os vetores principais desse processo. (...)” [ 20 ] CONTROLES NA ADMINISTRAÇÃO Ainda sobre o tema, algumas indagações surgem sobre a exata diferenciação entre governança e governabilidade. Este assunto (governança X governabilidade) ganhou destaque quando da divulgação do Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado, em novembro de 1995. Tal plano, elaborado no âmbito do então Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado (Mare), cujo titular da pasta à época era Luiz Carlos Bresser Pereira, definia objetivos e estabelecia diretrizes para a reforma da administração pública brasileira, ante o quadro de forte crise fiscal, persistente cenário inflacionário e avassaladora deterioração dos serviços públicos oferecidos pelo país. Na introdução do documento (Plano de Reforma) consta que: “O governo brasileiro não carece de ‘governabilidade’, ou seja, de poder para governar, dada sua legitimidade democrática e o apoio com que conta na sociedade civil. Enfrenta, entretanto, um problema de governança, na medida em que sua capacidade de implementar as políticas públicas é limitada pela rigidez e ineficiência da máquina administrativa”. Não é tarefa fácil definir exatamente a diferenciação entre governança e governabilidade, dada a variação de conceitos entre diversos autores. No entanto, a título didático, podemos dissecar o tema da seguinte forma: Governança - Capacidade de implementar de forma eficiente políticas públicas / capacidade de governar o Estado / maior condição de implementar leis e políticas públicas. Governabilidade - Poder para governar, dada sua legitimidade democrática e o apoio que encontra na sociedade civil / idéia de legitimidade. Àqueles que desejam aprofundamento no tema, indicamos o seguinte site na internet: www.bresserpereira.org.br (Professor Luiz Carlos Bresser Pereira). O Plano Diretor de Reforma do Aparelho do Estado pode ser consultado, na íntegra, no seguinte link: http://www.bresserpereira.org. br/Documents/MARE/PlanoDiretor/planodiretor.pdf http://www.bresserpereira.org.br Governança - Capacidade de implementar de forma eficiente políticas públicas / capacidade de governar o Estado / maior condição de implementar leis e políticas públicas. Governabilidade - Poder para governar, dada sua legitimidade democrática e o apoio que encontra na sociedade civil / idéia de legitimidade. Governança - Capacidade de implementar de forma eficiente políticas públicas / capacidade de governar o Estado / maior condição de implementar leis e políticas públicas. Governabilidade - Poder para governar, dada sua legitimidade democrática e o apoio que encontra na sociedade civil / idéia de legitimidade. [ 21 ]Aula 1: Prestação de Contas Síntese Nesta aula compreendemos o mecanismo de prestação de contas na Administração Pública. Percebemos que a prestação de contas é uma obrigação dos gestores públicos e que ela está fundamentada em princípios constitucionais. Estudamos que o exercício do direito de acesso às informações sobre a prestação de contas dos governantes é uma das formas de se exercer a cidadania. De forma a consolidar nossos conhecimentos sobre o assunto, verificamos que o processamento de prestação de contas é melhor entendido a partir das concepções sobre os temas accountability e governança na gestão pública. [ 22 ] CONTROLES NA ADMINISTRAÇÃO Referências bibliográficas BRASIL. Constituição Federal Brasileira. Disponível em <http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm> Acesso em 28 de novembro de 2014. BRASIL. Tribunal de Contas da União. Curso auditoria governamental: módulo 1 – introdução à auditoria. Brasília: TCU, Instituto Serzedello Corrêa, 2010. DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 17 ed. São Paulo: Atlas, 2004. MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro, 26ª ed. Malheiros Editores. São Paulo, 2001. MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 24. ed. São Paulo: Atlas, 2010. SÁ, Antônio Lopes de. Dicionário de Contabilidade. 9. ed. São Paulo: Atlas, 1995. SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 25 ed. São Paulo: Malheiros, 2005. Aulas em pdf/Controles_na_Administracao_Publica_Aula_2.pdf Instituto Serzedello Corrêa CONTROLES NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Aula 2 Controle da Administração Pública RESPONSABILIDADE PELO CONTEÚDO Tribunal de Contas da União Secretaria Geral da Presidência Instituto Serzedello Corrêa Diretoria de Diagnóstico, Planejamento e Desenvolvimento de Ações Educacionais Diretoria de Promoção de Ações Educacionais e Relações Institucionais Serviço de Diagnóstico, Planejamento e Desenvolvimento de Ações Educacionais Serviço de Ações Educacionais a Distância CONTEUDISTA Renato Santos Chaves REVISOR Antonio José Saraiva de Oliveira Junior TRATAMENTO PEDAGÓGICO Flávio Sposto Pompeo Silvia Helena de C. Martins REVISÃO GRAMATICAL Gabriella Nascimento Cordeiro Pereira RESPONSABILIDADE EDITORIAL Tribunal de Contas da União Secretaria Geral da Presidência Instituto Serzedello Corrêa Centro de Documentação Editora do TCU PROJETO GRÁFICO Ismael Soares Miguel Paulo Prudêncio Soares Brandão Filho Vivian Campelo Fernandes DIAGRAMAÇÃO Vanessa Vieira © Copyright 2014, Tribunal de Contas de União <www.tcu.gov.br> Permite-se a reprodução desta publicação, em parte ou no todo, sem alteração do conteúdo, desde que citada a fonte e sem fins comerciais. Este material tem função didática. A última atualização ocorreu em novembro de 2014. As afirmações e opiniões são de responsabilidade exclusiva do autor e podem não expressar a posição oficial do Tribunal de Contas da União. Atenção! [ 3 ]Aula 2: Controle da Administração Pública Aula 2 – Controle da Administração Pública O que é a Administração Pública? Quem controla a Administração Pública? Quais as modalidades de controle existentes? Iniciamos nossos estudos pelo controle da Administração Pública. Veremos que é importante termos noção da divisão e subdivisão da administração, a fim de compreendermos a atuação de cada um dos órgãos de controle. De fato, a existência de vários órgãos de controle, a exemplo do Ministério Público, da Polícia Federal, da Advocacia-Geral da União e da Controladoria-Geral da União pode gerar certa confusão na população, ou seja, não se sabe qual, ao certo, é o campo de atuação específico dos mencionados órgãos. Pensando nisso, estudaremos as funções ou áreas de atuação de alguns órgãos de controle, lembrando sempre que os órgãos podem ser da esfera federal, estadual ou, ainda, municipal. Antes disso, porém, é salutar que estudemos as modalidades de controle existentes, isto é, qual momento ou qual órgão pode exercer o controle em determinadas situação. Isso será desvendado nesta lição. Para facilitar o estudo, esta aula está organizada da seguinte forma: Todos prontos? Então vamos começar! Aula 2 – Controle da Administração Pública ������������������������������������������������� 3 1� O conceito de Controle na Administração Pública �������������������������������� 4 2� Espécies de Controle ������������������������������������������������������������������������������������������������ 6 3� Controles específicos ���������������������������������������������������������������������������������������������� 9 3�1� Ministério Público ��������������������������������������������������������������������������������������������� 9 3�2� Polícia Federal ���������������������������������������������������������������������������������������������������11 3�3� Advocacia-Geral da União ����������������������������������������������������������������������������13 3�4� Controladoria-Geral da União ��������������������������������������������������������������������14 3�5� Controles da Atividade Judiciária ���������������������������������������������������������������16 Síntese ��������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������17 Referências bibliográficas ������������������������������������������������������������������������������������18 [ 4 ] CONTROLES NA ADMINISTRAÇÃO 1. O conceito de Controle na Administração Pública Antes de iniciarmos o estudo sobre o controle na Administração Pública, teceremos breves comentários sobre o que é Administração Pública. Imagine que uma determinada Prefeitura Municipal ofereça serviços de creche, ensino fundamental e básico, forneça merenda e transporte escolar, disponibilize ações de assistência social, como o programa de erradicação do trabalho infantil, preste serviços de saúde, obras, assistência técnica rural etc. Percebeu quantos atos administrativos são efetuados? Sabemos que, para a consecução dos atos acima mencionados, o governo deve organizar, em cada órgão/entidade, uma estrutura organizacional para coordenar pessoas e recursos quanto às atividades e tarefas a serem realizadas. Dependendo do porte do Município e/ ou Estado (unidade da federação), a estrutura organizacional pode ser bastante ampla, com várias seções, departamentos, secretarias, razão pelas quais vários atos administrativos são delegados aos gestores chefes ou titulares desses núcleos de serviço. A Administração Pública subdivide-se em Administração Direta, representada pelos órgãos ligados diretamente ao Prefeito, Governador ou Presidente da República, e, em Administração Indireta, representada por Empresas Públicas, Sociedades de Economia Mista, Fundações e Autarquias, a exemplo das Universidades Federais. Ora, esse conjunto de órgãos (Administração Direta) e entidades (Administração Indireta) forma a Administração Pública. Os atos administrativos, mencionados no início deste tópico, servem para ilustrar o cotidiano da máquina pública. Dito isto, e voltando ao exemplo dos atos administrativos mencionados no início deste tópico, perguntamos: será que todas aquelas ações estão sendo bem conduzidas.? Os serviços de saúde atendem a todos de forma qualificada? A aquisição de material de expediente, de combustíveis, de merenda escolar atende aos preceitos da lei de licitações e contratos? As obras estão sendo executadas e atendendo aos padrões de qualidade? Quem deve responder a estas indagações? A resposta pode ser encontrada em outro questionamento. Existe órgão que fiscaliza e controla aqueles atos administrativos emanados da Prefeitura Municipal? A resposta é sim, veremos quais são esses órgãos. Aproximamo-nos, enfim, da função controle, do controle da Administração Pública. O conjunto de órgãos da Administração Direta e entidades da Administração Indireta forma a Administração Pública. Recorrendo à conceituação doutrinária, temos que a Administração Pública, em sentido formal (orgânico) é o conjunto de órgãos instituídos para consecução dos objetivos do Governo. Administração Pública, em sentido material (funcional) é o conjunto das funções necessárias aos serviços públicos em geral. Administração Pública, em acepção operacional, é o desempenho perene e sistemático, legal e técnico, dos serviços próprios dos Estados por ele assumidos em benefício da coletividade. [ 5 ]Aula 2: Controle da Administração Pública Di Pietro (2004) define o controle da Administração Pública como o poder de fiscalização e correção que sobre ela exercem os órgãos do Poder Judiciário, Legislativo e Executivo, com o objetivo de garantir a conformidade de sua atuação com os princípios que lhe são impostos pelo ordenamento jurídico. Pelo princípio dos freios e contrapesos, cada Poder exerce controle sobre os demais, mantendo o equilíbrio e a harmonia entre os três Poderes. No caso da Administração Pública, alguns Poderes e órgãos exercem o controle dos atos administrativos oriundos de outros Poderes e órgãos. A visualização desse controle pode ser representado pelo esquema do gráfico 1, que demonstra o Poder Legislativo exercendo controle sobre os demais Poderes, o controle exercido pelo Tribunal de Contas da União sobre toda a Administração, a atuação de controle do Ministério Público e a atuação interna do Poder Executivo sobre seus próprios atos. Gráfico 1: Controle da Administração Pública Administração Pública Poder Executivo Ministério Público Poder Judiciário Poder Legislativo TCU [ 6 ] CONTROLES NA ADMINISTRAÇÃO 2. Espécies de Controle As modalidades de controle são definidas quanto às seguintes espécies: a. quanto ao órgão; b. quanto ao momento em que se efetua; c. quanto ao ambiente (posição: interno ou externo); d. de legalidade ou de mérito. Quanto ao órgão podem ser: • controle administrativo: é o poder de fiscalização e correção que a Administração Pública exerce sobre a própria atuação, sob os aspectos de legalidade e mérito, por iniciativa própria ou mediante provocação; • controle legislativo: basicamente compreende o controle político e o financeiro. O controle político aprecia se as decisões administrativas atendem aos aspectos legais e de oportunidade e conveniência diante do interesse público. O controle financeiro é exercido com auxílio do Tribunal de Contas que implementa fiscalizações contábeis, financeiras, orçamentárias, patrimoniais e operacionais; • controle judicial: dotado de garantias de imparcialidade que permitam apreciar e invalidar os atos ilícitos perpetrados pela Administração Pública. Quanto ao momento em que se efetua podem ser: • controle prévio: quando o ato administrativo fica sujeito à autorização ou aprovação prévia, visando impedir que seja praticado ato ilegal ou contrário ao interesse público; • controle concomitante: é o que acompanha a atuação administrativa no momento em que o ato administrativo é executado como, por exemplo, o acompanhamento do procedimento licitatório, a execução orçamentária da despesa etc; [ 7 ]Aula 2: Controle da Administração Pública • controle posterior: tem o objetivo de rever os atos já praticados, para corrigi-los, desfazê-los ou apenas confirmá-los. Conforme exemplifica Di Pietro, abrange atos como os de aprovação, homologação, anulação, revogação, convalidação. Quanto à posição (interna ou externa) em que se localiza o controle: • controle interno: é o controle decorrente de órgão integrante da própria estrutura em que se insere o órgão controlado. Por exemplo, a auditoria interna de um Município realizando auditoria numa Secretaria Municipal; • controle externo: é o controle exercido por um dos Poderes sobre o outro, ou a auditoria realizada por um órgão que não é componente da estrutura da administração que está sendo fiscalizada. Quanto ao controle: • legalidade: é o controle que pode ser exercido pelos três Poderes sobre a legalidade dos atos administrativos verificando se esses estão de acordo com as normas; • mérito: é exercido pela própria Administração Pública verificando a oportunidade de realização do ato administrativo. Todos estes controles apresentados são exercidos nos meandros da Administração Pública pelos Poderes, seus órgãos e entidades. Devemos destacar o controle exercido pela sociedade, denominado controle social, previsto na Constituição Federal de 1988. O controle social é um conceito amplo e, conforme já estudado, quanto mais transparente for a Administração Pública, maior será o grau de controle social. O controle social será estudado em tópico específico mais à frente. Por enquanto, fiquemos com a representação gráfica desse tipo de controle: [ 8 ] CONTROLES NA ADMINISTRAÇÃO Administração Pública Poder Executivo Ministério Público Poder Judiciário Poder Legislativo TCU Sociedade Controle Social Gráfico 2: Controle Social [ 9 ]Aula 2: Controle da Administração Pública 3. Controles específicos A Administração Pública conta, na sua estrutura, com diversos órgãos incumbidos de exercer o controle sobre a própria Administração, tendo a Constituição Federal de 1988 reservado atribuições específicas a eles. Vejamos a atuação de alguns desses órgãos. 3.1. Ministério Público Nos termos do art.128 da Constituição Federal de 1988, o Ministério Público abrange: I – Ministério Público da União, que compreende: a) Ministério Público Federal; b) Ministério Público do Trabalho; c) Ministério Público Militar; d) Ministério Público do Distrito Federal e Territórios; II – o Ministério Público dos Estados. O Ministério Público é órgão independente, permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. O Ministério Público poderá promover inquérito civil e ação civil pública para a proteção do patrimônio público e social do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos. O Ministério Público Federal (MPF) atua em conjunto com a Polícia Federal, exercendo, inclusive, o controle externo da atividade policial. As várias ações deflagradas pela Polícia Federal são oriundas de procedimentos investigatórios autuados por Procuradores da República, que solicitam aos juízes federais a quebra de sigilos telefônicos e bancários, além da busca e apreensão de bens e documentos, bem como a prisão temporária de envolvidos em irregularidades e corrupções. A sociedade poderá representar ao Ministério Público Federal, ou seja, levar ao Procurador da República informações quanto a qualquer [ 10 ] CONTROLES NA ADMINISTRAÇÃO tipo de irregularidade cometida contra Administração Pública, seja por servidores ou outras autoridades. Quando o Tribunal de Contas da União (TCU) julga as contas dos gestores responsáveis pela aplicação de verba federal, sendo tal julgamento pela irregularidade, o TCU encaminha cópia da decisão para o Ministério Público Federal, que promoverá as ações específicas para o caso (ações cíveis, penais e/ou de improbidade administrativa). Como exemplo, podemos citar o caso de um Prefeito Municipal que firma convênio com a União, não executa de forma correta o objeto proposto, e tem as contas julgadas irregulares pelo TCU. Além das sanções aplicadas pelo Tribunal (condenação para devolução do dinheiro recebido e multa), o TCU encaminha cópia do Acórdão (decisão) para o Ministério Público Federal, a fim de que esse promova as ações pertinentes. Geralmente, o Ministério Público apresenta ao Poder Judiciário ações penais e ações de improbidade administrativa. Vejamos uma nota divulgada pela Assessoria de Comunicação do MPF: 20/01/2010 - Ex-prefeito de Nazaré do Piauí é condenado por improbidade O ex-prefeito de Nazaré do Piauí, [nome omitido], foi condenado em mais uma ação de improbidade administrativa movida pelo Ministério Público Federal no Piauí, por meio do procurador da República Carlos Wagner Barbosa Guimarães. O ex-gestor teve os direitos políticos suspensos por quatro anos porque não prestou contas de recursos federais repassados ao município por meio de convênio firmando com o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Além da suspensão dos direitos políticos, a juíza Maria da Penha Fontenele acolheu outro pedido do procurador da República condenando [nome omitido] a ficar proibido de contratar com o Poder Público ou receber benefícios, incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de três anos. O Convênio nº 9.911/97 tinha como objetivo a construção de uma escola municipal e aquisição de equipamentos necessários a sua instalação e funcionamento, no valor de 39.092,00 (trinta e nove mil e noventa e dois reais). Mas em Tomada de Contas Especial realizada pelo Tribunal de Contas da União (TCU) as contas do respectivo convênio apresentadas pelo ex-gestor foram julgadas irregulares. Essas irregularidades levaram a Corte de Contas a condená-lo ao pagamento de multa e ressarcimento do débito ao erário, documentação probatória utilizada pelo MPF para embasar a ação. A juíza não condenou o ex-gestor a ressarcir o dano e ao pagamento de multa, outro pedido do MPF, em razão de condenação feita pelo TCU sobre os mesmos fatos, o que, segundo a Lei, se reveste de força executória. Assessoria de Comunicação Procuradoria da República no Piauí [ 11 ]Aula 2: Controle da Administração Pública Os Ministérios Públicos Estaduais estão presentes nas várias regiões das unidades da federação, divididas em Comarcas. Nestas Comarcas atuam Promotores de Justiça que têm por função, também, assegurar respeito às normas e direitos da sociedade. Os Promotores estão mais próximos das populações municipais, podendo ser acionados por qualquer cidadão para garantir os direitos previstos na Constituição Federal. É no Município que as políticas públicas, ou programas de governo, ou as ações governamentais são executadas. Por exemplo, a prestação dos serviços de saúde, a merenda escolar, o transporte escolar etc, são todos executados no Município. Caso estas ações encontrem-se deficitárias, apresentando algum problema, comunique ao Procurador de Justiça que atua na sua Comarca para que ele possa verificar o que está acontecendo de errado e possivelmente constituir ação de improbidade administrativa contra o gestor faltoso. Lembrete: Devemos lembrar que é competência do Ministério Público Federal zelar pelas ações executadas por meio de recursos públicos federais. Já nas ações implementadas pelo Estado e/ou Município, a competência para agir é do Ministério Público Estadual. Recursos públicos federais Recursos públicos estaduais/municipais Ministério Público Federal Ministério Público Estadual Competência Competência Gráfico 3: Competência pela fiscalização de recursos exercida pelo Ministério Público 3.2. Polícia Federal Nos termos da Constituição Federal de 1988, a Polícia Federal destina- se a apurar infrações contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços de interesses da União ou de suas entidades autárquicas [ 12 ] CONTROLES NA ADMINISTRAÇÃO e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme. A Polícia Federal exerce, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União, ou seja, é um órgão da segurança do Estado que tem como principal função apurar as infrações penais e a sua autoria por meio da investigação policial, procedimento administrativo com característica inquisitiva, que serve, em regra, de base à pretensão punitiva do Estado formulada pelo Ministério Público, titular da ação penal1. Conforme mencionado anteriormente, a Polícia Federal é acionada pelo Ministério Público Federal para executar ações de investigação e mandados de busca e apreensão nas operações contra atos de corrupção. Vejamos uma nota sobre a atuação da Polícia Federal: MPF, Polícia Federal e CGU realizam operação conjunta em Eldorado do Sul (RS) Quinta-feira, 07 de Outubro de 2010 12:40 Suspeita é de direcionamento de licitações e crimes contra a administração pública no município A Polícia Federal, acompanhada pelo Ministério Público Federal e pela Controladoria-Geral da União, realizou na manhã desta quinta-feira a Operação Muisca. Foram cumpridos nove mandados de busca e apreensão de documentos e materiais que podem comprovar suposto direcionamento de licitações e crimes contra a administração pública no município gaúcho de Eldorado do Sul. As suspeitas recaem principalmente sobre as áreas de saúde e transporte. As investigações se iniciaram em março de 2009 na Procuradoria Regional da República da 4ª Região, unidade do MPF, a partir de representação oferecida por um cidadão. Foram realizadas diligências, buscas em bancos de dados oficiais e, em julho de 2010, Polícia Federal e CGU passaram a auxiliar no trabalho. Ao todo, foram reunidos 22 volumes de documentos. Os mandados cumpridos nesta quinta foram expedidos pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região a pedido do Ministério Público Federal. O nome da operação é alusivo à tribo onde surgiu a lenda do Eldorado. Participaram da operação 40 policiais federais, além de servidores da CGU e do MPF. Assessoria de Comunicação Procuradoria Regional da República na 4ª Região 1. http://pt.wikipedia.org/wiki/Pol%C3%ADcia_Judici%C3%A1ria http://pt.wikipedia.org/wiki/Pol%C3%ADcia_Judici%C3%A1ria [ 13 ]Aula 2: Controle da Administração Pública 3.3. Advocacia-Geral da União A Advocacia-Geral da União (AGU) é a instituição que representa a União judicial e extrajudicialmente. Em outros termos, a AGU, por meio da procuradoria da união, promove ações que visam a proteger a União, a exemplo de ações de ressarcimento de dinheiro público desviado de forma criminosa. Ressalte-se que, quando o Tribunal de Contas da União profere uma decisão, esta se torna título executivo extrajudicial, ou seja, é um título que confere a obrigação de pagar pelo devedor. Quando o devedor não efetua o pagamento, quem executa o título perante o Poder Judiciário é a Advocacia-Geral da União. A AGU promove uma pesquisa dos bens do responsável pelo pagamento, com a finalidade de que esses bens garantam a dívida devida. Vejamos uma notícia sobre a atuação da Advocacia-Geral da União: Notícia Combate à corrupção Evento divulga ações para recuperar dinheiro público desviado na Paraíba Data da publicação: 10/12/2009 Na Semana Internacional de Combate à Corrupção, a Advocacia-Geral da União participou das atividades programadas pelo Fórum de Combate à Corrupção na Paraíba. Na última quarta-feira, 22 órgãos públicos, dentre eles a Procuradoria da União na Paraíba (PU/PB), enviaram representantes até a praça central da cidade de João Pessoa onde foi realizada a “Feira contra a Corrupção”. Na ocasião a PU/PB apresentou balanço com resultados da atuação pelo ressarcimento de dinheiro público desviado em atitudes criminosas. Durante o ano, 55 ações foram ajuizadas no estado na tentativa de recuperar aos cofres públicos um valor que supera R$ 10 milhões. A maioria desses processos foram abertos contra ex-prefeitos, ex-presidentes de fundações e até contra membros de comissões de licitação. Já as execuções baseadas em decisões do TCU originaram 34 ações de ressarcimento que totalizam o valor de R$ 5,9 milhões. As fiscalizações feitas pela Controladoria-Geral da União (CGU) no estado embasaram 20 ações de improbidade administrativa, número três vezes maior que em 2008. Os valores atingem a marca de R$ 3.9 milhões. Para o Procurador-Chefe da PU/PB, Dário Dutra Sátiro Fernandes, além de divulgar a atuação da Advocacia-Geral, o evento estreitou as relações do órgão com a sociedade. “A participação da Procuradoria da União no Fórum é de fundamental importância para a divulgação do papel da AGU no combate à corrupção, aproximando-a da sociedade, demonstrando a sua atuação pró-ativa na recuperação das verbas públicas malversadas e consolidando a sua imagem de advocacia de estado”, disse. A PU/PB é uma unidade da Procuradoria-Geral da União (PGU), órgão da AGU. [ 14 ] CONTROLES NA ADMINISTRAÇÃO 3.4. Controladoria-Geral da União A Controladoria-Geral da União (CGU) é o órgão de controle interno do Poder Executivo federal. Sua área de atuação engloba a maioria dos órgãos e entidades públicas. A CGU também é composta da Corregedoria-Geral da União, cuja função é investigar, por meio de Sindicâncias e Processos Administrativos Disciplinares, as faltas cometidas no exercício da função pelos servidores públicos federais. A CGU também engloba a Ouvidoria-Geral da União, que recebe e trata as informações encaminhadas a ela sobre irregularidades e demais denúncias de competência de atuação da CGU. A Controladoria-Geral da União possui em sua estrutura organizacional a Secretaria Federal de Controle Interno (SFC), cuja missão consiste em zelar pela boa e regular aplicação dos recursos públicos. As ações de controle implementadas pela CGU são: auditorias e fiscalizações. Fiscalizações são ações de controle mais rápidas sobre determinados atos e fatos administrativos, enquanto as auditorias são trabalhos mais extensos e aprofundados sobre determinadas áreas da gestão pública. A CGU, desde 2003, implementou o Programa de Fiscalização a Partir de Sorteio Público, que consiste em verificar a aplicação de recursos públicos federais nas bases municipais e estaduais. Ao encontrar falhas e irregularidades, a Controladoria-Geral da União recomenda ao órgão ou entidade federal repassador dos recursos que implemente os meios necessários para ajustar a aplicação dos recursos federais, seja por meio de ajustes ou de instauração de processos de Tomada de Contas Especial com vistas à recomposição do prejuízo causado ao erário federal. Também consta da estrutura organizacional da Controladoria-Geral da União a Secretaria de Transparência e Prevenção da Corrupção (STPC), criada em 24 de janeiro de 2006 e reestruturada por meio do Decreto 8.109, de 17 de setembro de 2013. Com a criação da STPC, passou a existir uma área específica capaz de centralizar todas as ações de inteligência e prevenção da corrupção. Esse novo modelo dotou a Controladoria dos instrumentos e da capacidade de utilizar técnicas inovadoras na prevenção da corrupção. Além de promover a centralização e o fomento das ações preventivas, a nova estrutura tornou viável a organização de uma unidade de inteligência, colocando o Brasil em sintonia com os países que se encontram na vanguarda da prevenção à corrupção. Tomada de Contas Especial (TCE) é um processo instaurado pelo órgão ou entidade concedente de recursos públicos, cuja finalidade consiste em identificar o responsável que causou dano ao patrimônio público, bem como definir o valor desse dano, para fins de cobrança. O processo de TCE é julgado no Tribunal de Contas da União. [ 15 ]Aula 2: Controle da Administração Pública Muitas são as indagações de seguinte teor: 1) a CGU faz as mesmas atividades do TCU? 2) qual a diferença entre o trabalho do TCU e da CGU? 3) não há sobreposição de esforços entre TCU e CGU? Esclareçamos, então, tais indagações: 1. A Controladoria-Geral da União é um órgão de controle interno do Poder Executivo Federal e produz auditorias e fiscalizações. O Tribunal de Contas da União, auxiliar do Congresso Nacional no exercíco do controle externo, também realiza fiscalização, mas essa é apenas umas das funções do TCU, que engloba função consultiva, informativa, judicante, sancionadora, corretiva, normativa e de ouvidoria (conforme veremos no tópico específico sobre o Tribunal de Contas da União). 2. O trabalho da CGU está afeto ao Poder Executivo Federal, enquanto o TCU realiza ações de controle tanto no Poder Executivo quanto nos Poderes Legislativo e Judiciário. A diferença consiste basicamente em que o TCU, por julgar contas dos administradores e responsáveis, autua diversos processos de controle externo, seguindo um rito processual que engloba os princípios da legalidade, da ampla defesa e do contraditório. Por conta disso, o TCU realiza determinações e aplica sanções, conforme suas funções típicas explanadas na resposta anterior. 3. O TCU e a CGU se comunicam constantemente para evitar a sobreposição de esforços sobre determinadas ações da Administração Pública. Pode até ocorrer uma fiscalização do mesmo objeto, porém tais ações de controle terão enfoque diferenciado. A implementação da Rede de Controle da Gestão Pública, que será estudada em tópico específico mais adiante, propicia um canal de comunicação, planejamento e ação que neutraliza a sobreposição de esforços. [ 16 ] CONTROLES NA ADMINISTRAÇÃO 3.5. Controles da Atividade Judiciária A Constituição Federal de 1988, a partir da Emenda Constitucional nº 45/2004, instituiu dois órgãos que cuidam do controle da atividade judiciária. São eles: o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). Ao CNJ, presidido pelo Presidente do Supremo Tribunal Federal, compete o controle da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes, além de outras atribuições previstas na própria Carta Magna (CF, art. 103-B). Ao CNMP, presidido pelo Procurador-Geral da República, compete o controle da atuação administrativa e financeira do Ministério Público e do cumprimento funcional de seus membros, cujas atribuições estão previstas no texto da Constituição Federal (CF, art. 130-A). [ 17 ]Aula 2: Controle da Administração Pública Síntese Nesta aula estudamos o controle exercido sobre a Administração Pública. Partindo da noção de estado federal, subdividido no Brasil em União, Estados e Municípios, compreendemos o que é administração direta e indireta. A partir dessa subdivisão, estudamos espécies de atuação do controle. Chegamos, então, a compreender a atuação de alguns órgãos que exercem o controle sobre a Administração Pública [ 18 ] CONTROLES NA ADMINISTRAÇÃO Referências bibliográficas BRASIL. Constituição Federal Brasileira. Disponível em <http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm> Acesso em 25 de agosto de 2014. DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 17 ed. São Paulo: Atlas, 2004. LIMA, Luiz Henrique. Controle Externo: teoria, jurisprudência e mais de 400 questões. Rio de Janeiro: Campus, 2007. MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro, 26ª ed. Malheiros Editores. São Paulo, 2001. MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 24. ed. São Paulo: Atlas, 2010. SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 25 ed. São Paulo: Malheiros, 2005. Aulas em pdf/Controles_na_Administracao_Publica_Aula_3.pdf Instituto Serzedello Corrêa CONTROLES NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Aula 3 Controle Externo RESPONSABILIDADE PELO CONTEÚDO Tribunal de Contas da União Secretaria Geral da Presidência Instituto Serzedello Corrêa Diretoria de Diagnóstico, Planejamento e Desenvolvimento de Ações Educacionais Diretoria de Promoção de Ações Educacionais e Relações Institucionais Serviço de Diagnóstico, Planejamento e Desenvolvimento de Ações Educacionais Serviço de Ações Educacionais a Distância CONTEUDISTA Renato Santos Chaves REVISOR Antonio José Saraiva de Oliveira Junior TRATAMENTO PEDAGÓGICO Flávio Sposto Pompeo Silvia Helena de C. Martins REVISÃO GRAMATICAL Gabriella Nascimento Cordeiro Pereira RESPONSABILIDADE EDITORIAL Tribunal de Contas da União Secretaria Geral da Presidência Instituto Serzedello Corrêa Centro de Documentação Editora do TCU PROJETO GRÁFICO Ismael Soares Miguel Paulo Prudêncio Soares Brandão Filho Vivian Campelo Fernandes DIAGRAMAÇÃO Vanessa Vieira © Copyright 2014, Tribunal de Contas de União <www.tcu.gov.br> Permite-se a reprodução desta publicação, em parte ou no todo, sem alteração do conteúdo, desde que citada a fonte e sem fins comerciais. Este material tem função didática. A última atualização ocorreu em novembro de 2014. As afirmações e opiniões são de responsabilidade exclusiva do autor e podem não expressar a posição oficial do Tribunal de Contas da União. Atenção! [ 3 ]Aula 3: Controle Externo Aula 3 – Controle Externo Quem é o titular do controle externo da Administração Pública? Quem controla a Administração Pública? Quais as modalidades de controle existentes? Sabemos que os atos administrativos executados pelos gestores públicos, que devem obediência às leis orçamentárias, são controlados por órgãos criados especificamente para esse controle. Nesse sentido, o controle orçamentário-financeiro da administração pública federal é exercido pelo Congresso Nacional, instituição que representa o povo. Nos níveis estaduais e municipais, de acordo com o princípio da simetria, o controle da administração pública é exercido pelas respectivas Casas Legislativas. No entanto, tais Casas, tanto o Congresso Nacional quanto as Assembleias Legislativas nos Estados e as Câmaras Municipais nos Municípios, são auxiliadas tecnicamente pelos Tribunais de Contas. A partir dessa divisão de tarefas, ou seja, de controlar os atos administrativos no que se refere à aplicação dos recursos públicos, a administração pública ganha contornos complexos no tema controle. Existem órgãos de controle da própria administração (controle interno), assim como órgãos de controle exteriores à estrutura administrativa (controle externo). Há órgãos específicos para a avaliação da eficiência dos gastos públicos, assim como órgãos que podem responsabilizar judicialmente os gestores públicos por ato de improbidade. Esta aula é de extrema importância para que possamos entender de forma técnica a atuação dos diversos órgãos de controle existentes na administração pública brasileira, especialmente a atuação do Tribunal de Contas da União, além de obtermos conhecimentos sobre a Rede de Controle da Gestão Pública. [ 4 ] CONTROLES NA ADMINISTRAÇÃO Para facilitar o estudo, esta aula está organizada da seguinte forma: Aula 3 – Controle Externo ���������������������������������������������������������������������������������������� 3 1� Conceito e exercício do Controle Externo ������������������������������������������������� 5 2� Tribunal de Contas da União �������������������������������������������������������������������������������� 7 3� Rede de Controle da Gestão Pública �������������������������������������������������������������18 Síntese ��������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������21 Referências bibliográficas �������������������������������������������������������������������������������������22 Todos prontos? Então vamos começar! [ 5 ]Aula 3: Controle Externo 1. Conceito e exercício do Controle Externo A Constituição Federal de 1988, no art. 70, dispõe que: “a fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial da União e das entidades da administração direta e indireta, quanto à legalidade, legitimidade, economicidade, aplicação das subvenções e renúncias de receitas, será exercido pelo Congresso Nacional, mediante controle externo e pelo sistema de controle interno de cada Poder”. Portanto, quem é o titular do controle externo da Administração Pública, sob o enfoque de fiscalização orçamentário-financeira, é o Congresso Nacional. Logicamente, quando nos referimos ao Congresso Nacional, estamos falando da fiscalização exercida sobre a Administração Pública federal ou sobre as pessoas físicas e/ou jurídicas que utilizem recursos públicos federais. O controle externo nos Estados é de responsabilidade das Assembleias Legislativas e, nos Municípios, das Câmaras de Vereadores. No Distrito Federal, a titularidade do controle externo recai sobre a Câmara Legislativa do DF. Nas palavras de Hely Lopes Meirelles (1997), controle externo é o que se realiza por órgão estranho à Administração responsável pelo ato controlado e visa comprovar a probidade da Administração e a regularidade da guarda e do emprego de bens, valores, dinheiros públicos, bem como a fiel execução do orçamento. Para Lima (2007), o objeto do controle externo são os atos administrativos em todos os Poderes constituídos, nas três esferas de governo e atos de gestão de bens e valores públicos. Conforme vimos, a titularidade do controle externo é do Poder Legislativo, exercido pelos parlamentares eleitos pelo povo, representantes da sociedade. Entretanto, o controle é exercido com o auxílio técnico do Tribunal de Contas da União, no caso federal e, nos Estados e Municípios, com auxílio técnico do Tribunal de Contas dos Estados. Veja que não existem tribunais de contas nos municípios, à exceção dos Tribunais de Contas dos Municípios do Rio de Janeiro e de São Paulo. Quatro Estados da federação (Bahia, Ceará, Goiás e Pará) criaram a figura dos Tribunais de Contas dos Municípios. Não são tribunais de contas municipais, são, na realidade, órgãos da estrutura Segundo Lima (2007), o controle externo da administração pública, realizado pelas instituições a quem a Constituição atribuiu essa missão, é exigência e condição do regime democrático, devendo, cada vez mais, capacitar-se tecnicamente e converter-se em eficaz instrumento da cidadania, contribuindo para o aprimoramento da gestão pública. [ 6 ] CONTROLES NA ADMINISTRAÇÃO do Estado, ou seja, são órgãos colegiados estaduais responsáveis por julgar as contas dos Governos dos Municípios, enquanto os Tribunais de Contas dos Estados julgam as contas dos Governos Estaduais. O art. 71 da Constituição Federal de 1988 apresenta as competências do Tribunal de Contas da União, enquanto o art. 75 da Carta Magna prevê que “as normas estabelecidas nesta seção aplicam-se, no que couber, à organização, composição e fiscalização dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, bem como dos Tribunais e Conselhos de Contas dos Municípios.” Para arrematar o assunto, vejamos o que nos ensina Lima (2007) acerca dos tribunais de contas estaduais e municipais: O primeiro Tribunal de Contas estadual foi o do Piauí, em 1899, seguido pela Bahia, em 1915, São Paulo, em 1924, Rio Grande do Sul e Minas Gerais em 1935, e Rio de Janeiro, em 1936 . (...) Com a Constituição de 1946, cada Estado pôde instituir a sua própria Corte de Contas. O mais recente é o de Tocantins, instalado em 1989. O TCM [Tribunal de Contas do Município] do Rio de Janeiro herdou as atribuições das antigas Cortes de Contas do Distrito Federal e do Estado da Guanabara. Além do Rio de Janeiro, somente o Município de São Paulo dispões de uma Corte própria. Em quatro Estados, além do Tribunal de Contas do Estado, cuja jurisdição alcança apenas a administração pública estadual, existe também um Tribunal de Contas dos Municípios – no plural – responsável pelo controle externo das administrações de todos os municípios do Estado. São eles: Bahia, Ceará, Goiás e Pará. Nos demais Estados, o TCE atua na fiscalização tanto da administração estadual, como das municipais, excetuando-se no caso do TCE-RJ e do TCE-SP as respectivas capitais.” Pelo princípio da simetria, as regras e competências da esfera federal são aplicáveis aos Estados e aos Municípios, naquilo que for possível. Dessa forma, ao abordarmos o assunto sobre o Tribunal de Contas da União, sua natureza jurídica, competência e decisões, devemos saber que são também aplicadas nos demais tribunais de contas, no que couber. [ 7 ]Aula 3: Controle Externo 2. Tribunal de Contas da União O Tribunal de Contas da União, com sede em Brasília, é órgão administrativo, composto por 9 (nove) Ministros. É um órgão que auxilia tecnicamente o Congresso Nacional nas funções de controle externo da Administração Pública. Deve-se esclarecer que, apesar de
Compartilhar