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Danila da Silva Miyazato Juliana Nicolose Reny Walery Dias Antonio Silvia Fernanda Bueno ANTROPOLOGIA: REALIDADE BRASILEIRA E DIVERSIDADE ÉTNICO-RACIAL ANTROPOLOGIA E CULTURA ESCOLAR Jundiaí- SP 2019 DANILA DA SILVA MIYAZATO JULIANA NICOLOSE RENY WALERY DIAS ANTONIO SILVIA FERNANDA BUENO ANTROPOLOGIA: REALIDADE BRASILEIRA E DIVERSIDADE ÉTNICO-RACIAL ANTROPOLOGIA E CULTURA ESCOLAR Trabalho apresentado à Uniplena Educacional, como requisito parcial para obtenção do título de Licenciatura em Pedagogia – Turma 100 - Polo Jundiaí. Professor Ms. Alcides Góes Coordenação: Natália Souza Jundiaí-SP 2019 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 3 1 ANTROPOLOGIA DA CRIANÇA ................................................................................... 4 2 CONCEPÇÃO DE CULTURA ESCOLAR ...................................................................... 6 3 DIALOGICIDADE DOS TERMOS .................................................................................. 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................... 9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 10 3 INTRODUÇÃO O estudo a seguir tem por objetivo tratar a respeito das relações entre antropologia e cultura escolar e promover uma reflexão quanto à aplicação de ambos os termos dentro do contexto educacional. Por mais que se pense em termos complexos demais para serem discutidos dentro do fazer pedagógico, o conhecimento e consciência destes fatores vêm para auxiliar professor e escola a pensar o papel que desempenham socialmente. A antropologia, posta como ciência que observa e compreende os fatos ligados ao homem e sua centralização diante de todas as dimensões sociais existentes, também pode ser aplicada ainda na infância, como um instrumento capaz de entender um fenômeno em seu cenário social e cultural. Já a cultura escolar é um conceito derivado da antropologia e que tem sua origem na escola, podendo ser definida como a filosofia da instituição de ensino que será transmitida à seus alunos, o que está diretamente veiculado ao Projeto Político Pedagógico, onde devem estar claras as intencionalidades da escola, buscando uma identidade própria de ver o aluno e de expandir sua conduta e princípios. Estas duas ideias podem estabelecer uma dialogicidade do ponto de vista antropológico, uma vez que se faz necessário identificar as multiculturalidades presentes no ambiente escolar e os valores, hábitos, pensamentos e formas de organização e desenvolvimento dos espaços sociais que desejam ser transmitidos. Logo, espera-se que o leitor compreenda os conteúdos explanados e aplique-os em sua prática docente pois antropologia e cultura devem ser assuntos cada vez mais pensados e analisados dos pontos de vista, respectivamente, infantil e educacional. 4 ANTROPOLOGIA DA CRIANÇA Para refletir a respeito deste conceito, utiliza-se a obra homônima a este subtítulo, de Clarisse Cohn (2005), onde a autora reflete sobre os principais debates em torno deste assunto. A autora define a antropologia como [...] a ciência social responsável pelo estudo de outras sociedades e culturas. Ao longo do século, essa sua definição é cada vez menos precisa, e antropólogos passam a se interessar (também) pelo estudo de nossa própria sociedade. Sem deixar de estudar outros modos de viver em sociedade, cada vez mais se dedicam a fenômenos sociais que nos são próximos. Hoje, portanto, uma antropologia da criança pode ser desde aquela que analisa o que significa ser criança em outras culturas e sociedades até aquela que fala das que vivem em um grande centro urbano. Se a antropologia ampliou assim seus horizontes de estudo, não deixou de se definir como uma ciência social com certas particularidades. (COHN, 2005, p. 8-9). Logo, pode se pensar a antropologia da criança como a interpretação do papel social que a criança desempenha, onde ela atua como um organismo que se envolve mutuamente entre pessoas e seus ambientes. A criança, como indivíduo em formação cultural, necessita de um mecanismo capaz de compreender seu mundo a partir de seu próprio ponto de vista (COHN, 2005). Os estudos antropológicos feitos a respeito das crianças tiveram origens nas décadas de 1920 e 1930, onde antropólogos como Margaret Mead procuravam entender a significação por trás do ser criança em diferentes perspectivas socioculturais. A partir da década de 1960, houve um engajamento em reavaliar conceitos, propondo uma análise inovadora da criança, apoiando-se nos conceitos de cultura, sociedade, agência e ação social A respeito de cultura, Cohn diz que: [...] os antropólogos, ao invés de tomá-la como algo empiricamente observável e delimitado, cada vez mais abdicam de falar em costumes, valores ou crenças para frisar que o que de fato interessa está mais embaixo. Ou seja, não são 5 os valores ou as crenças que são os dados culturais, mas aquilo que os conforma. E o que os conforma é uma lógica particular, um sistema simbólico acionado pelos atires sociais a cada momento para dar sentido a suas experiências. Ele não é mensurável, portanto, e nem detectável em um lugar apenas é aquilo que faz com que as pessoas possam viver em sociedade compartilhando sentidos, porque eles são formados a partir de um mesmo sistema simbólico. (COHN, 2005, p. 19). Essas ressignificações permitiram um novo olhar a respeito da própria criança, onde: Ao contrário de seres incompletos, treinando para a vida adulta, encenando papéis sociais enquanto são socializados ou adquirindo competências e formando sua personalidade social, passam a ter um papel ativo na definição de sua própria condição. Seres sociais plenos, ganham legitimidade como sujeitos nos estudos que são feitos sobre elas. (COHN, 2005, p. 21). Uma vez que antropologia e cultura são termos intimamente ligados, a antropologia da criança envolve, também, um olhar sobre a construção cultural durante a infância, de maneira que a criança se torna atuante na constituição das relações sociais em que se engaja, de modo que “interage ativamente com os adultos e as outras crianças, com o mundo, sendo parte importante na consolidação dos papéis que assume e de suas relações” (COHN, 2005, p. 28). Cohn ainda aponta que “A questão, para a antropologia, não é saber em que condição cognitiva a criança elabora sentidos e significados, e sim a partir de que sistema simbólico o faz” (COHN, 2005, p. 33-34), isto é, qual a construção que a criança elabora a partir do que lhe é imputado, tornando-se não apenas resultados de culturas, mas criadoras de suas próprias culturas, relações e visões do mundo, obtendo, assim, uma relativa autonomia cultural. É neste momento que a escola, de certa forma, interfere, não como produtora de cultura, mas como um parâmetro que compreende e identifica as culturas presentes e que dissemina outras diversas culturas, colaborando para a diversidade, autonomia, criticidade e produtividade da criança em seu próprio ambiente e suas próprias relações. 6 CONCEPÇÃO DE CULTURA ESCOLAR O termo foi empregado no Brasil a partir da década de 70, com a finalidade de pensar acerca de uma racionalidade político-cultural, onde a escola também é um mundo social, com suas próprias características e não deixa de ser um espaço com cruzamentos de diferentes culturas. Autores como Jean-Claude Forquin, António Nóvoa e Antônio Viñao Frago se destacam por seus estudos nestas áreas, o que veremos a frente. Forquin (1993) define cultura como: [...] é o conteúdo substancial da educação,sua fonte e sua justificação última: a educação não é nada fora da cultura e sem ela. Mas, reciprocamente, dir- se-á que é pela e na educação, através do trabalho paciente e continuamente recomeçado de uma “tradição docente” que a cultura se transmite e se perpetua: a educação “realiza” a memória como memória viva, reativação incessante e sempre ameaçada, fio precário e promessa necessária da continuidade humana. Isto significa que, neste primeiro nível muito geral e global de determinação, educação e cultura aparecem como duas faces, rigorosamente recíprocas e complementares, de uma mesma realidade: uma não pode ser pensada sem a outra e toda reflexão sobre uma desemboca imediatamente na consideração da outra. (FORQUIN, 1993, p. 14). Dentro deste panorama, é possível enxergar o campo educacional como um objeto de propagação da cultura de diferentes perspectivas, da mesma forma que a cultura em si se posiciona como um meio para finalidades educativas. Ambas são indissociáveis e necessárias dentro da cultura escolar, mesmo que se reconheça que a escola ensina apenas “uma parte extremamente restrita de tudo o que constitui a experiência coletiva, a cultura de uma coletividade humana” (FORQUIN, 1993, p. 15), ainda é possível que esta se posicione de maneira a colaborar na construção do indivíduo, colocando-o em contato com diversos elementos culturais para que ele mesmo defina quais conceitos há de incorporar em sua formação cultural. É deste modo que a educação deve ser pensada atualmente, não se tratando apenas de um instrumento comum de conhecimento, mas de uma plataforma capaz de proporcionar um desenvolvimento amplo dentro dos aspectos sociais, de tal maneira que, a partir de noções de 7 diversidade cultural e respeito às diferenças, o aluno seja capaz dialogar em meio à um espaço cultural repleto de variedades. António Nóvoa (1999) busca trazer a ideia de conceito organizacional para o ambiente da escola, onde afirma que “as escolas são instituições de um tipo muito particular, que não podem ser pensadas como qualquer fábrica ou oficina: a educação não tolera a simplificação do humano (...) que a cultura da racionalidade empresarial sempre transporta (NÓVOA, 1999, p. 16). Isto é, cada instituição de ensino possui sua particularidade e a ideia de cultura se manifesta em todas as ações cotidianas, seja no modo como a aprendizagem e conduzida, seja nas políticas de gestão e coordenação, seja na escola dos conteúdos abordados, cada um destes elementos refletem a cultura escolar e dizem a respeito do que se pretende dentro de tal formação, respeitando as individualidades do estudante. Por fim, Viñao Frago argumenta acerca das funções que a escola em seu contexto cultural deve apresentar um conjunto de práticas, ideias e princípios que expressem o modo de pensar e agir dentro do dia a dia da escola, sendo: [...] esses modos de fazer e de pensar – mentalidades, atitudes, rituais, mitos, discursos, ações – amplamente compartilhados, assumidos, não postos em questão e interiorizados, servem a uns e a outros para desempenhar suas tarefas diárias, entender o mundo acadêmico-educativo e fazer frente tanto às mudanças ou reformas como às exigências de outros membros da instituição, de outros grupos e, em especial, dos reformadores, gestores e inspetores (Viñao Frago, 2000, p. 100). O autor ainda reforça que não existe intenção em doutrinar ou incutir uma ideia que o aluno não reconheça e não se identifique. Apenas cabe à escola promover as diferentes culturas e realidades sociais, de maneira que o indivíduo compreenda, também, a cultura escolar dentro de sua forma de organização, comunicação, linguagens, o que Forquin descreve como “características de vida próprias, seus ritmos e ritos, sua linguagem, seu imaginário, seus modos próprios de regulação e de transgressão, seu regime próprio de produção e de gestão de símbolos” (FORQUIN, 1993, p. 167). Logo, identificar a cultura como um dos elementos que mais dialoga com a educação e se apresenta diante deste conceito, convém analisar as relações existentes em cultura escolar e antropologia da criança. 8 DIALOGICIDADE DOS TERMOS Observando os dois termos já apresentados, sendo a antropologia da criança a área correspondente aos estudos acerca do comportamento infantil, suas multifaces e suas capacidades como indivíduo que age socio e culturalmente e a cultura escolar como o ambiente que proporciona este desenvolvimento à criança, de maneira que ela adquira o conhecimento implícito com o qual se identifica, seja através de práticas pedagógicas, ou seja através de sua inserção na instituição de ensino que deixa claro seus ideais e perspectivas de mundo através de sua organização, é válido refletir acerca destas proposições e analisar o papel crítico-formador da escola e do profissional da educação. Debater a respeito dos dois termos nos leva à um lugar comum onde: a criança, amparada pela antropologia enquanto seres ativos e propostos a investigar o mundo à sua maneira, encontra seu espaço no contexto escolar para então ter contato com as diversidades existentes, sejam elas dentro ou fora do cenário educacional. É então que se aprende a expor, desde cedo, seus pontos de vista e mecanismos de criticidade que irão auxiliar quanto ao respeito pelo multiculturalismo e ao desenvolvimento de sua própria cultura, uma vez que passa a ser entendida como um sistema simbólico. Clarisse Cohn complementa: [...] deve-se sempre começar do começo, por mais óbvio que pareça o que se observa ou talvez possa se dizer que, quanto mais óbvio parecer o que se vê e ouve, mais se deve desconfiar e buscar desatar as tramas. Porque não há imagem produzida sobre a criança e a infância, ou pela criança, que não seja, de algum modo, produto de um contexto sociocultural e histórico específico [...]. (COHN, 2005, p. 50). Portanto, criança, escola e cultura se tornam elementos participativos na formação de um indivíduo capaz de conscientizar-se das diferentes manifestações culturais existentes dentro do espaço escolar e tornar-se participativo em meio ao processo de identificação, criação e respeito às diferentes modalidades de cultura. Assim, a escola torna-se capaz de cumprir mais uma de suas exigências do mundo atual: formar cidadãos com vivências distintas e que se posicionem culturalmente em uma sociedade que se nega à preservação e valorização da cultura nacional. 9 CONSIDERAÇÕES FINAIS A análise dos conceitos de antropologia da criança e cultura escolar foram indispensáveis para a prática pedagógica reflexiva contida no presente trabalho acadêmico, o qual tem a finalidade de promover relações entre diferentes áreas do conhecimento mas que caminham continuamente na busca por uma formação mais autônoma, crítica e participativa no que se refere às diversidades culturais existentes. A antropologia infantil busca compreender a criança enquanto seres completos e capazes de compreender as diferentes formas de cultura que permeiam a sociedade onde vivem, podendo se desenvolver, adquirir, produzir e refletir acerca destes elementos. A cultura escolar se encaixa dentro deste parâmetro por conta de a escola se tratar de um espaço culturalmente estabelecido e organizado a partir de um conjunto de normas e regras que definem a cultura a ser cultivada, podendo o aluno identificar-se com esta ou não. É em meio a estes parâmetros que a criança se posiciona como indivíduo que reconhece, desenvolve e participa das variadas culturas a serem manifestadas no âmbito escolar, fazendo do aluno um ser capaz de ponderar sobre o que lhe interessa, criar sua própria cultura e valorizar as demais, resultando de uma formação não apenas para fins escolares, mas, também, fins sociais. Sendo assim, espera-se que o professor se posicione frente à está formação com um cunho mais social, nãona intenção de doutrinar, mas de apresentar diferentes conceitos culturais e promover o respeito e valorização da diversidade, contribuindo para o desenvolvimento amplo da criança em todas as esferas sociais. 10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS COHN, Clarice. Antropologia da Criança. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005. FORQUIN, Jean-Claude. Escola e Cultura: as bases sociais e epistemológicas do conhecimento escolar. Tradução de Guacira Lopes Louro. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993. NÓVOA, António. As organizações Escolares em Análise. Lisboa: Dom Quixote, 1999. VIÑAO FRAGO, Antonio. El Espacio y el Tiempo Escolares como Objeto Histórico. In: Warde, M. J. (org). Contemporaneidade e Educação. Temas de História da Educação. Rio de Janeiro: Instituto de Estudos da Cultura da Educação, 2000.
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