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SEGURANÇA PUBLICA 6 - segurança pública, direito e justiça/organizador Jefferson Florencio Rozendo

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Estanislau Ferreira Bié
Henrique Cunha Junior
Francisco José R. de Abreu
Maria Elineide F. Sampaio
Eliseu Ferreira Guimarães
Francisco Alex de A. Gomes
Brenda Cristine L. de Oliveira
Jefferson Florencio Rozendo
 
(Organizadores)
análise e proposições 
Estanislau Ferreira Bié
Henrique Cunha Junior
Francisco José R. de Abreu
Maria Elineide F. Sampaio
Eliseu Ferreira Guimarães
Francisco Alex de A. Gomes
Brenda Cristine L. de Oliveira
Jefferson Florencio Rozendo
 
(Organizadores)
análise e proposições 
 
 SEGURANÇA PÚBLICA 
ANÁLISE E PROPOSIÇÕES
Diretores da série:
Prof. Dr. Estanislau Ferreira Bié
Prof. Dr. Henrique Cunha Júnior
Prof. Francisco José Ribeiro Abreu
Comitê Científico e Editorial:
Direito e Justiça Brasileira
Segurança Pública
Série
Ana Beatriz Souza Gomes
Universidade Federal do Piauí-UFPI
Cícera Nunes
Universidade Regional do Cariri-URCA
Cláudia Teixeira Marinho
Universidade Federal do Ceará-UFC
Eduardo Davi de Oliveira
Universidade Federal da Bahia-UFBA
Estanislau Ferreira Bié
Universidade Federal do Ceará-UFC
Francisco Valdemy Acioly Guedes
Universidade Federal do Ceará-UFC
Gustavo Henrique de Araújo Forde
Universidade Federal do Espírito Santo-UFES
Henrique Cunha Júnior
Universidade Federal do Ceará-UFC
Ivan Costa Lima
Universidade da Integração Internacional da 
Lusofonia Afro-Brasileira-UNILAB
Izabel Cristina Evaristo da Silva
Universidade Federal da Paraíba-UFPB
João Marcus Figueiredo Assis
Universidade Federal do Estado do RJ-UNIRIO
Kiusam Regina de Oliveira
Universidade Federal do Espirito Santo-UFES
Marcilene Garcia de Souza
Instituto Federal da Bahia-IFBA
Maria Auxiliadora Martins da Silva
Universidade Federal de Pernambuco-UFPE
Maria de Fátima Vasconcelos da Costa
Universidade Federal do Ceará-UFC
Marizilda dos Santos Menezes
Universidade Estadual Paulista-UNESP
Moacyr Gonçalves de Aquino Junior 
Universidade de San Lorenzo - UNISAL
Rinaldo Pereira Pevidor
SME/Vitória-ES
 SEGURANÇA PÚBLICA 
ANÁLISE E PROPOSIÇÕES
Estanislau Ferreira Bié
Henrique Cunha Junior
Francisco José R. de Abreu
Maria Elineide F. Sampaio
Eliseu Ferreira Guimarães
Francisco Alex de A. Gomes
Brenda Cristine L. de Oliveira
Jefferson Florencio Rozendo
(orgs.)
Fortaleza - Ceará
2019
Editora Via Dourada
Diagramação: Estanislau Ferreira Bié
Capa: Felipe Bezerra Ferreira
O padrão ortográfico e o sistema de citações e referências bibliográficas são 
prerrogativas de cada autor. Da mesma forma, o conteúdo de cada capítulo 
é de inteira e exclusiva responsabilidade de seu respectivo autor.
Todos os livros publicados pela Editora Via Dourada
estão sob os direitos da Creative Commons 4.0
https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/deed.
pt_BR
Série Segurança Pública, Direito e Justiça Brasileira - 6
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
BIÉ, Estanislau Ferreira; et al (Org.)
Segurança pública: análise e proposições / Estanislau Ferreira Bié; Henrique 
Cunha Junior; Francisco José Ribeiro de Abreu; Maria Elineide Fernandes 
Sampaio; Eliseu Ferreira Guimarães; Francisco Alex de Almeida Gomes; 
Brenda Cristine Lima de Oliveira; Jefferson Florencio Rozendo -- Fortaleza, 
CE: Editora Via Dourada, 2019.
342p.
ISBN - 978-65-80609-32-1
Disponível em: http://www.editoraviadourada.org
1. Segurança pública; 2. Análise e proposições; I. Título. II. Série
CDD: 340
Índices para catálogo sistemático:
1. Direito 340
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO, 10
CAPÍTULO 1, 12
“A POLÍCIA DE CADA UM”: REATIVIDADE, 
NORMATIVIDADE E CRITICIDADE NA CONSTRUÇÃO 
DA IDENTIDADE POLICIAL
Ledervan Vieira Cazé 
CAPÍTULO 2, 69
TECNOLOGIAS EMERGENTES NA SEGURANÇA 
PÚBLICA: UM ESTUDO DE CASO NA SECRETARIA DE 
SEGURANÇA PÚBLICA E DEFESA SOCIAL DO ESTADO 
DO CEARÁ (SSPDS-CE) 
Deibyson Uchôa Barroso Bizerra 
CAPÍTULO 3, 100
A LEI DA FICHA LIMPA E SUA (IN)
CONSTITUCIONALIDADE: 
LEI COMPLEMENTAR N°135/2010 
PhD.Francisco Apoliano Albuquerque 
Prof. Ms.(ando) Jefferson Florêncio Rozendo 
Dr. Estanislau Ferreira Bié 
CAPITULO 4, 123
SEGURANÇA PÚBLICA: POR QUE É TÃO DIFÍCIL 
COMBATER O CRIME ORGANIZADO/FACÇÕES 
CRIMINOSAS NO ESTADO DO CEARÁ?
Ermesson Rodrigues de Loiola 
CAPITULO 5, 144
DIREITO TRIBUTÁRIO BRASILEIRO E O PRINCÍPIO 
DO NON OLET 
Prof. PhD. Francisco Apoliano Albuquerque
Prof. Ms.(ando) Thiago Luís de O. Albuquerque
Prof. Ms.(ando) Jefferson Florencio Rozendo
CAPÍTULO 6, 163
A EXECUÇÃO DO ORÇAMENTO PÚBLICO À LUZ DO 
DIREITO ADMINISTRATIVO
Prof. PhD. Francisco Apoliano Albuquerque
Prof. Ms.(ando) Thiago Luís de O. Albuquerque
Prof. Ms.(ando) Jefferson Florencio Rozendo
CAPÍTULO 7, 188
AÇÕES E PRÁTICAS DA GESTÃO JUDICIÁRIA: 
ELEMENTOS ESTRATÉGICOS DA MODERNIZAÇÃO
Prof. PhD. Francisco Apoliano Albuquerque 
Ms.(ando) Jaques Ferreira de Aguiar 
Prof. Ms.(ando) Jefferson Florencio Rozendo
CAPÍTULO 8, 211
ADOÇÃO INTERRACIAL
Francisco Valdemy Acioly Guedes 
CAPITULO 9, 237
AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA: UM AVANÇO TARDIO DO 
PROCESSO PENAL BRASILEIRO 
Pedro Queiroz da Silva 
CAPÍTULO 10, 279
O DESRESPEITO AOS DIREITOS HUMANOS DOS 
POLICIAIS MILITARES DO CEARÁ 
Rafael Lima da Silva 
CAPÍTULO 11, 304
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA: POR QUE ALGUMAS 
MULHERES PERMANECEM NUMA SITUAÇÃO DE 
VIOLÊNCIA? 
Ermesson Rodrigues de Loiola 
Aline Feitosa Azevedo 
CAPÍTULO 12, 322
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA: POR QUE ALGUMAS 
MULHERES PERMANECEM NUMA SITUAÇÃO DE 
VIOLÊNCIA? 
Ermesson Rodrigues de Loiola 
Aline Feitosa Azevedo 
APRESENTAÇÃO
Uma nova abordagem revoluciona silenciosamente o ser e o 
fazer da segurança pública cearense, que é a reflexão sobre a missão 
das instituições que lhe compõem sob o viés da produção científica. 
A coletânea “Segurança Publica, Direito e Justiça brasileira” emerge 
para sinalizar esta revolução cultural que entremeia todas as 
categorias e níveis hierárquicos no âmbito da Segurança Pública 
no Ceará. Esta obra possibilita que o conhecimento produzido 
na busca de soluções para os problemas cotidianos que afetam 
a sociedade sejam compartilhados. Parte dessa produção é fruto 
da lida acadêmica, mas outra parte advém da busca que policiais 
e bombeiros militares, policiais civis e peritos forenses, agentes 
prisionais e operadores do direito, dentre outros profissionais de 
encontrar meios de expressarem os dilemas do cotidiano e contribuir 
para o aperfeiçoamento das suas instituições e, encontraram na 
metodologia e no rigor científico a chave para dialogar com a 
sociedade. Desse modo, os artigos aqui apresentados visam a 
reinvenção organizacional, a avaliação de estratégias, inovação, 
aplicação de novas tecnologias, a reflexão da ética e deontologia
profissional, a formação profissional e a educação continuada, 
a governança corporativa e tudo mais que possa afetar gestão dos 
recursos organizacionais no âmbito da segurança pública. Diante 
deste novo cenário esta série pretende
estimular o livre pensar e convida a todos a debaterem 
e refletirem, sob o viés da ciência, “Segurança publica, direito e 
justiça brasileira”.
Editora Via Dourada
CAPÍTULO 1
“A POLÍCIA DE CADA UM”: REATIVIDADE, 
NORMATIVIDADE E CRITICIDADE NA 
CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE POLICIAL
 
Ledervan Vieira Cazé 
Resumo: O presente artigo objetiva compreender como distintas 
experiências formativas traduzem, a partir de uma conjuntura 
incipiente, a construção da personalidade policial, a compreensão 
teórica do cotidiano profissional esperado e a percepção do “ser 
policial” como ideia dinâmica, mas que carrega reincidências que 
configuram a identidade policial através de fatores comuns. De 
forma geral, o estudo tem o intuito de analisar a construção do 
sujeito policial e do seu ego profissional nas distintas forças de 
segurança atuantes na cidade de Fortaleza-CE. Para tanto, utilizouse 
uma metodológica qualitativa, essencialmente exploratória e de 
observação participante, dado a condição desse pesquisador no 
campo; com aplicação de questionários semiabertos aos profissionais 
egressos dos cursos de formaçãoda Polícia Civil, da Polícia Militar 
e da Guarda Municipal de Fortaleza. Nesse sentido, constatou-
se que parte relevante da amostragem analisada apresentou 
características que, entendendo ser comum à estrutura policial 
das três forças de segurança analisadas, permitiram estabelecer 
possíveis modelos de significação policial, ajustados a três visões 
analisadas: visão reativa, visão normativa e visão crítica. Por fim, a 
análise dos dados revela uma condição policial que, condicionando 
a identidade dos sujeitos pesquisados, ecoa da cultura policial local 
e elabora o espírito profissional dos jovens policiais que, aliado a 
uma agenda pontual de estudos e a pesquisa, pode fazer da polícia 
uma instituição prospera e mais humana. 
Palavras chave: Polícia. Cultura. Identidade Profissional. 
Série Segurança pública, direito e justiça brasileira: Volume 6
 Ledervan Vieira Cazé| 13
1 INTRODUÇÃO 
 
Afinal, como surgem os policiais? 
Como sujeitos do povo, homens comuns, internalizam a 
lógica profissional da segurança pública e transformam-se nos 
mais distintos tipos de “agentes da lei”? 
Desde outrora essa indagação percorreu o imaginário de 
muitos curiosos. De especialistas à admiradores da cultura policial, 
as opiniões se multiplicam e os profissionais de segurança ganham 
muitas significações a partir das falas de outros sujeitos “não 
policiais” que contribuem para a produção e promoção dos diversos 
conceitos, sentidos e noções de polícia. 
De heróis a vilões, na arte ou na vida, esses sujeitos são 
amados e odiados, são compreendidos, incompreendidos e 
até subjugados. Em suma, se deparam com um pluralismo de 
classificações que permeiam sua cultura e que os caracterizam 
a partir de definições normativas, institucionais ou daquelas 
construídas na dimensão do senso comum, que os rotulam, quase 
sempre, como agressivos, violentos, indiferentes, ou como heróis, 
justiceiros e/ou personificações do próprio “Estado-Polícia”. 
Todavia e ainda que se prepondere uma visão puramente 
instrumental, operando apenas dois polos opostos (perspectiva 
progressista e perspectiva conservadora) e produzindo reflexões 
marcadamente burocráticas e estáticas do significado de polícia, 
é necessário compreender que não existe organização formal sem 
qualquer disposição informal que acompanhe sua execução. De 
forma sucinta e mesmo que a polícia encarne a força coercitiva do 
Estado, quase sempre, o fazer policial acontece nas incertezas do 
cotidiano profissional, pelas práticas e pelas vivências. 
Nesse sentido e em grande demanda, esse arranjo foge à 
estrutura e é tecido nas relações individuais com seus pares, com 
os outros “não policiais” e com toda cultura existente na dimensão 
policial. 
14 | Segurança pública: análise e proposições
Editora Via Dourada
Desse modo, evidencia-se no respectivo artigo o interesse 
fundamental em conhecer o policial enquanto sujeito social a 
partir de um estudo que contemple as diferentes percepções que 
os agentes de segurança constroem de si, dos ofícios e das funções 
que executam, bem como do significado e da ideologia introjectada 
através do aprendizado teórico, prático e/ou daquele proveniente 
da experiência adquirida com a cultura. De forma sucinta, objetiva-
se compreender, através das distintas condições da atividade 
profissional, como se fomenta, incipientemente, a identidade do 
sujeito policial. 
Para alcançar tal expectativa, optou-se por uma abordagem 
essencialmente qualitativa, acontecendo a partir de observação 
participante, aplicação de questionários e conversas informais com 
agentes recém-nomeados e egressos dos cursos de formação da 
Guarda Municipal de Fortaleza, da Polícia Militar e da Polícia Civil. 
Ressalta-se ainda que o estudo aconteceu em momentos distintos, 
mas oportunos, dado a condição desse pesquisador no campo e a 
oportunidade de atuar como docente nas respectivas academias de 
segurança pública. 
Destarte e dentro da disponibilidade ofertada nos cursos 
de formação, a pesquisa de campo contou com a colaboração de 
sessenta e três (63) jovens policiais recém-nomeados nas três forças 
de segurança participantes do estudo. De forma geral, responderam 
os questionamentos vinte e sete (27) Guardas Municipais de 
Fortaleza, vinte e um (21) Policiais Militares e quinze (15) Policiais 
Civis do estado do Ceará. 
Ressalta-se ainda que o questionário apresenta um caráter 
semiestruturado, objetivo e especulativo, onde os policiais puderam 
expor suas opiniões acerca de sua futura atuação, da expectativa da 
prática, das motivações da escolha profissional, do sentimento de 
atuarem como agentes da lei e das dificuldades que acreditarão 
encontrar ao longo da carreira. 
Destaca-se novamente que, concomitantemente a aplicação 
Série Segurança pública, direito e justiça brasileira: Volume 6
 Ledervan Vieira Cazé| 15
do questionário e em alguns casos, ocorreu entrevistas abertas, de 
caráter informal, onde os colaboradores conversaram sobre suas 
perspectivas e convicções acerca da temática; proporcionando uma 
interação e uma troca mútua de saberes e conhecimento. 
Cabe salientar ainda que o Questionário de opinião foi 
elaborado na perspectiva de tentar alcançar a real sensação do 
Policial, ou seja, objetivou-se alcançar a “intimidade” da sujeito, 
perpassando por características de reconhecimento, identidade e 
empatia com a respectiva atuação profissional, além de opiniões 
acerca dos enfrentamentos e conflitos institucionais e de oficio no 
âmbito do universo policial. 
Prosseguindo e além da revisão dos aspectos teóricos, 
do trabalho de produção e coleta de informações e da análise e 
interpretação dos dados coletados, dividiu-se a pesquisa em quatro 
momentos distintos, mas complementares no desvendamento da 
identidade policial, na compreensão da personalidade profissional 
e dos múltiplos desafios que se impõem ao fazer policial. 
O primeiro, de caráter introdutório, enfatiza uma descrição 
necessária do trabalho, bem como elabora uma leitura parcial 
do tema, da metodologia e dos procedimentos da pesquisa. Em 
suma e a partir de uma leitura incipiente, revela ao leitor o nível 
de comprometimento do autor que, na condição de policial civil e 
pesquisador do fenômeno policial, sente-se na responsabilidade de 
comunicar as nuanças da segurança pública e suas mais distintas 
peculiaridades. 
Avançando e no segundo tópico, intitulado de “Revolução 
e Conservadorismo na instituição policial: a fomentação das 
perspectivas reacionária, normativa e/ou progressista do trabalho 
policial”, o estudo pontua, através de suas respectivas subseções, 
três visões da atividade policial que avoca distintas perspectivas 
construídas à luz das percepções e disposições provenientes da 
cultura, dos saberes e do hábito policial. 
Destarte e a partir de uma visão marcadamente reativa, 
16 | Segurança pública: análise e proposições
Editora Via Dourada
outra normativa e outra essencialmente crítica do papel da polícia, 
da função e do sentido que se atribui a condição de policial, o tópico 
discute o desejo de autonomia, a concepção dualista do policiamento 
criminal e o caráter autoritário que advém do oficio de policiar. 
Assim e debatendo a discrepância entre o cotidiano de 
trabalho, o aparato normativo que permeia a prática policial e as 
expectativas tecidas pelos jovens policiais, o texto também reflete a 
divergência entre as categorias que compõem a identidade policial, 
bem como promove um pensar sobre o verdadeiro papel da polícia 
e sobre o modelo clássico e instrumental da instituição policial. 
Além de outras questões pertinentes. 
No tópico três, intitulado de “Caminhos para a prosperidade 
policial: manifesto pelo avanço do pensamento crítico e pelo 
estudo das práticas policiais”, o texto invoca uma critica necessária 
ao clássico imobilismo de estudos protagonizados por policiais e 
uma convocação à ruptura desse paradigma como pressuposto 
de desenvolvimento da polícia e de prosperidade da abordagemcritica. 
O recorte argumenta a ideia de que a pesquisa sobre a polícia 
deve ser entendida como trabalho de polícia e que, portanto, deve 
servir de aporte teórico para subsidiar o exercício, envolver de saber 
científico as ações policiais e desenvolver os distintos significados 
acerca do trabalho na área de segurança pública. 
Prosseguindo, no momento final do texto e mesmo 
reconhecendo a existência de peculiaridades ontológicas nas 
organizações estudadas, posto que se evidenciam conflitos 
institucionais, de ofício e de valores entre elas, a pesquisa destaca 
que parte da amostragem analisada (nas três forças de segurança) 
apresentou traços comuns de uma personalidade policial coletiva, 
mas a contrassenso dessa compreensão, os indivíduos revelaram 
diferentes perspectivas do sentido prático, conceitual e político de 
polícia. 
Em suma e a partir de uma reivindicação constante por 
Série Segurança pública, direito e justiça brasileira: Volume 6
 Ledervan Vieira Cazé| 17
autonomia profissional (“menos controle interno e externo”), 
pelo privilégio da autoridade (“poder policial”) e pela lógica da 
ação (“combate ao crime”) em detrimento à lógica da assistência 
e das garantias sociais, parte significante dos jovens policiais 
internalizaram uma ideologia policial superficial, construída na 
perspectiva da reação e na reedição do modelo de polícia ostensiva. 
Mesmo como expressão de um estudo marcadamente 
estrutural, salta à análise acima peculiaridades construídas a 
partir de expectativas que, reveladas nas falas e nas concepções 
individuais dos sujeitos analisados, traduzem certos tipos de 
significados que nos permite classificar sentidos e comportamentos, 
uma vez que, o propósito é entender e perceber, não apenas os 
territórios e categorias comuns aos policiais, advento da estrutura 
e da aquisição da cultura pela prática profissional, mas destacar e 
refletir os condicionamentos e reflexões que os diferenciam. 
Nesse sentido, do “Paladino” ao “Justiceiro”, os distintos 
tipos de policiais compartilham, desde o primeiro momento de 
suas carreiras, uma multiplicidade identitária que justifica a ideia 
de heterogeneidade da condição policial e que, por consequência, 
vai ajustando a identidade policial no tempo, na conveniência, na 
expectativa ou na frustração de cada profissional. 
Por fim, percebe-se que a condição e a identidade policial são, 
em meio à pós-modernidade, objetos multifacetados que carecem 
de análise, pois o Policial é, ao mesmo tempo, um fenômeno carente 
de reconhecimento e um conceito que precisa ser reconstruído, ou 
ainda construído, nas Ciências Sociais. 
 
2 REVOLUÇÃO E CONSERVADORISMO NA 
INSTITUIÇÃO POLICIAL: A FOMENTAÇÃO DAS 
PERSPECTIVAS REACIONÁRIA, NORMATIVA E 
PROGRESSISTA DO TRABALHO POLICIAL. 
 
Em sentido orgânico a polícia assume o caráter de força 
18 | Segurança pública: análise e proposições
Editora Via Dourada
pública que tem como função essencial garantir a manutenção 
do ordenamento e da paz social, bem como promover a regulação 
constante da segurança através do policiamento que, a partir da 
ótica tradicional, acontece de forma ostensiva, ou seja, como ação de 
combate ao fenômeno criminal, as transgressões e a marginalidade 
de forma geral (CATHALA, 1975). 
Ainda que os policiais não sejam iguais no tempo e no 
espaço, pois a diversidade profissional da polícia autoriza uma 
diferenciação daqueles que detêm seu estatuto, a definição mais 
usual do conceito ainda está vinculada ao panorama instrumental 
que a concebe como “[...] um conjunto de pessoas, autorizadas por 
um grupo social, a regular as relações interpessoais dentro de uma 
comunidade, através do uso da força física [...]” (BAYLEY, 2001 
apud RIBEIRO, 2002, p.453). 
Não obstante e desde o primeiro momento desse tópico, 
verifica-se no respectivo conceito um sentido marcadamente 
conservador que atesta a reedição de um modelo vulgar de 
policiamento e provoca certa inatividade profissional quando nega o 
aspecto informal do trabalho policial e seu potencial transformador. 
Destarte e como consequência de tal condição, a instituição 
policial acaba por não desenvolver-se enquanto organização e fica 
a mercê de qualquer legislação disjuntiva de sua realidade. Essa 
leitura generalizadora apoia-se, a meu ver, em paradigmas mal 
construídos que não estabelecem uma diferença necessária entre a 
individualidade do agente (eu policial) e o estrito cumprimento do 
seu dever na instituição policial, por exemplo. 
Ainda que o policiamento seja quase universal, como nos 
ensina Bayley (2001), Monjardet (2012) nos orienta que para 
compreender o universo policial é necessário considerar a tríade 
de fatores que cooptam a estrutura do aparelho policial e, por 
consequência, condicionam o seu agente maior. 
Em um primeiro momento deve-se refletir acerca 
dos aspectos institucionais que fazem da polícia um órgão 
Série Segurança pública, direito e justiça brasileira: Volume 6
 Ledervan Vieira Cazé| 19
instrumentalizado no interesse coletivo (aparelho de controle), 
segundo, que os aspectos organizacionais caracterizam qualquer 
instituição policial na observância irrestrita das regras (disciplina), 
procedimentos e técnicas do trabalho da segurança e, terceiro, que 
os aspectos profissionais, formais e informais (vivências, formação 
e experiências), condicionam a construção de identidades, da 
cultura e dos interesses próprios e distintos do grupo policial. 
Mais a frente no texto, apresenta-se uma figura ilustrativa sobre o 
respectivo desenho teórico. 
Não obstante e por não ser levado em conta esse conjunto 
de aspectos é que, segundo o autor, surgem os equívocos e as 
lacunas acerca da instituição policial. Tal reflexão é legitimada 
no exemplo da ação policial propriamente dita, quando o policial 
age, comumente, a partir de uma lógica própria que implica até 
na inversão dos formalismos legais impostos à atividade policial 
mais clássica, conforme verificaremos na segunda subseção desse 
tópico. 
Ainda que existam leis gerais que regulam o policiamento, 
a polícia assume diferentes funções na sociedade o que fomenta, 
através dos sujeitos policiais, diferentes interpretações acerca das 
atribuições, do trabalho e das funções policiais (BAYLEY, 2001). 
Ainda conforme o autor, a atividade policial dividir-se em 
três partes distintas, mas complementares no contexto de sua 
atuação. Dito de outra forma e a partir do desígnio policial, ou 
seja, de uma descrição organizacional das práticas policiais, do 
confronto situacional propriamente dito (entendido aqui como o 
envolvimento da polícia com o público em geral) e do conjunto de 
procedimentos próprios da polícia, Bayley (2001) nos revela a uma 
possível teoria do trabalho policial. 
Prosseguindo e acerca daquilo que os colaboradores do 
estudo entendem por polícia, por ser policial e pela missão 
profissional que justifica suas práticas no âmbito da Sociedade, 
a pesquisa aponta, em maior demanda, para a reedição de um 
20 | Segurança pública: análise e proposições
Editora Via Dourada
modelo marcadamente reativo de segurança pública, operado na 
lógica normativa e cooperando para ações de segurança baseadas, 
ideologicamente, na eliminação do inimigo criminoso. 
De forma geral, a análise dos dados aponta para a 
superioridade de uma perspectiva conservadora de polícia. Tal 
singularidade é compartilhada por 77,70% dos jovens policiais 
e envolve dois grupos de policiais que, através das falas, revelam 
uma percepção reativa (41,10%), normativa (14,80%) e/ou mista 
(14,80%) da atividade policial, conforme verificado no gráfico 
abaixo. 
Não obstante, mas fundamental para apresentar um 
panorama progressista do oficio, a pesquisa também revelou que 
22,20% dos sujeitos entrevistados apresentam uma concepção 
heterodoxa da atividade policial, considerando a existência de um 
terceiro grupo que, na percepção desse policial-pesquisador, indica 
uma visão mais crítica da prática, do sentido e do significadode 
polícia que emerge dos cursos de formação, ainda como decurso da 
profissionalização e da especialização da organização de trabalho. 
GRÁFICO 01: “Noção geral do sentido de Polícia” 
 Fonte: Elaboração pessoal, com base na pesquisa de campo. 
Avançando e refletindo os dados provenientes do grupo 
reacionário, percebe-se nas falas desses sujeitos policiais certa 
Série Segurança pública, direito e justiça brasileira: Volume 6
 Ledervan Vieira Cazé| 21
concordância que, reincidente nas frases mais usuais acerca do 
papel da polícia, revelam três características culturais que, na 
concepção de Monjardet (2012) reinterpretado pelas vivências 
desse policial-pesquisador e por esse estudo em si, equiparam-se a 
princípios comuns e localizados do comportamento policial. 
 
GRÁFICO 02: “Visões e aspectos da atividade policial” 
Fonte: Elaboração pessoal, com base na pesquisa de campo. 
 
 
Nesse sentido, analisando o gráfico acima e argumentando 
a partir de temas clássicos da cultura policial, ilustrados nas falas 
dos colaboradores, como “proteção do cidadão ou da Sociedade”, 
“defesa da paz, disciplinação ou pacificação social”, “vigilância 
e promoção da sensação de segurança” ou, principalmente, 
“combate ao crime, ao criminoso e a marginalidade”, cerca 
de 48,10% dos jovens policiais desenvolveram um sentido 
marcadamente reacionário de polícia e outros 14,80% uma 
definição essencialmente normativa do ofício. 
Destarte e para justificar tal contexto, a pesquisa percebe 
nas falas desses colaboradores uma invocação constante dos 
princípios da autoridade, da ação e da teatralização do crime. De 
forma geral e independente da força policial a que pertencem, os 
membros inter-relacionam essas noções e se fazem valer do que 
22 | Segurança pública: análise e proposições
Editora Via Dourada
reconhecem como “poder de polícia” (legitimizado na norma), 
para justificar sua força e seu papel de protagonista na luta, 
homérica, contra a atividade criminosa; esgotando essa atividade 
como fonte principal e, por vezes, única, de insegurança social. 
Por fim e na emergência daquilo que Bourdieu (2013) 
entendeu como oposição fundamental da ordem social, emerge do 
discurso policial mais recente uma lógica crítica que, ampliando 
o leque de funções policiais, submete a organização policial a 
uma novíssima conjuntura, rompendo incipientemente com o 
conservadorismo e com a tradicionalidade. 
De forma geral, os 22,20% de policiais que constroem 
uma visão mais crítica da identidade profissional amparam suas 
falas numa perspectiva mais humanizada da prática e direcionam 
os resultados das ações policiais ao desenvolvimento macro da 
cidadania. 
Nesse sentido e a partir de falas como a do Colaborador 24 (33 
anos, Guarda Municipal), que revela entender a verdadeira missão 
policial como a responsabilidade de “[...] proteger as pessoas mais 
vulneráveis [...]” ou a do Colaborador 31 (27 anos, Policial Militar) 
que entende como aspecto de seu serviço “[...] influenciar de forma 
positiva a atitude das pessoas e mudar a sociedade [...]”, a lógica 
progressista ganha espaço dentro da polícia e avança desafiando 
a ordem vigente. Em suma e na opinião desse pesquisador, é um 
novo olhar que desponta de um momento ímpar na seleção e na 
formação dos profissionais de segurança. 
Prosseguindo na exposição dos resultados e ampliando a 
debate acima, nos tópicos abaixo, o artigo apresenta, a partir de 
teoria específica e dos dados construídos no campo, uma reflexão 
mais ampla dos pontos apresentados, bem como a exposição das três 
perspectivas mais gerais na construção da identidade profissional 
dos jovens policiais. 
De forma genérica e a partir de uma visão reativa, uma 
normativa e outra crítica da atividade policial, a pesquisa apresenta 
Série Segurança pública, direito e justiça brasileira: Volume 6
 Ledervan Vieira Cazé| 23
distintas concepções que atestam os muitos sentidos e significados 
que os jovens policiais constroem de seu ofício, missão e campo de 
atuação; formulando assim certa condição policial que engendra a 
gênese da própria identidade profissional. 
Sem mais, segue o debate. 
 
2.1 A “VISÃO REATIVA”: A INTERNALIZAÇÃO DOS 
PRINCÍPIOS DA AUTORIDADE, DA AÇÃO POLICIAL 
E DA DRAMATIZAÇÃO DO FENÔMENO CRIMINAL 
NA ATIVIDADE POLICIAL. 
 
De forma geral, a polícia ainda apresenta na 
contemporaneidade um caráter reativo, ostensivo, punitivo e 
repressivo de sua atividade e contrapõe o que Carvalho e Silva 
(2011, p. 60) colocaram como excelência de política de segurança, 
entendida pelos autores como “[...] ações pontuais combinadas 
a programas consistentes e duradouros, fincados, sobretudo, na 
valorização do ser humano sob todos os aspectos, considerando o 
contexto social de cada cidadão [...]”. 
Prosseguindo e justificando a análise a partir da fala do 
Colaborador 38 (28 anos, Policial 
Militar) que entende a missão policial como a responsabilidade 
de “[...] reprimir o crime e proteger a sociedade de pessoas de má 
índole que atrapalham a convivência [...]”, o sentido de polícia 
compartilhado por esse grupo é cooptado por resquícios de um 
modelo profissional marcadamente limitado pelo ofício de infligir 
força contra indivíduos que destoam do padrão, ou seja, e arriscando 
uma analogia simplista, para esses sujeitos a polícia é um “martelo” 
que existe entre o “ferreiro” (Estado) e a “bigorna” (Sociedade) 
(DESAUNAY, 1989 apud BITTNER, 2017). 
Destarte e segundo os colaboradores desse grupo, a missão 
policial é reagir ao crime ostensivamente e/ou preventivamente, 
sob o aparato da beligerância e da vigilância, regulando qualquer 
24 | Segurança pública: análise e proposições
Editora Via Dourada
demanda de força privada e promovendo segurança através de 
práticas instrumentais, força simbólica e todos os meios de ação 
não contratuais inerentes à organização policial. Podendo até “[...] 
combater o crime com as armas do crime [...]” (MONJARDET, 
2012, p. 29). 
Dito de outra forma e ainda segundo Monjardet (2012, p. 26-
29) “[...] a polícia é encarregada de fazer, ou de manter, a corrente 
substancial dos ‘interesses coletivos’ [...]”; todavia, esse ofício é 
entendido pelos policiais como a própria razão do Estado, dando 
as políticas de segurança um caráter essencialmente regalista e 
carente de substância, já que o “[...] instrumento policial não tem 
conteúdo próprio [...]”, pois existe a mercê da autoridade política, 
de suas conveniências e vontades. 
Tal perspectiva, evidenciada nas falas, revela, a meu ver, os 
princípios da “autoridade”, do “ato policial” e da “dramatização 
constante do fenômeno criminal” como paradigmas que 
reivindicam o pragmatismo da repressão em detrimento de um 
entendimento mais crítico e abrangente do fazer policial. Em e suma 
e numa perspectiva geral, para os sujeitos desse grupo a função 
da polícia é usar a força para regular as relações interpessoais na 
sociedade. Nesse sentido, “[...] a manutenção do controle social é 
fundamentalmente uma questão política [...]” (BAYLEY, 2001, p. 
203). 
 De forma geral é mais fácil restringir a compreensão do 
papel policial na premissa de que “[...] a polícia está, salvo exceções 
em que são impostos limites, habilitada a intervir em todos os 
lugares, em todos os tempos e em relação a qualquer um [...]” do 
que pensa-la de forma diferente, ampliada e como instrumento de 
políticas verdadeiramente sociais (MONJARDET, 2012, p. 26). 
Prosseguindo na análise e como já colocado, é recorrente 
nas falas desse grupo a demanda por autoridade que, dito de forma 
simples, pode ser explicada pelo entendimento objetivo que se 
constrói da natureza do trabalho policial. 
Série Segurança pública, direito e justiça brasileira: Volume 6
 Ledervan Vieira Cazé| 25
Como exemplificado na fala do Colaborador 06 (42 anos, 
Guarda Municipal) abaixo, a percepção recorrente entre os agentes 
desse grupo é que o ofício policial é marcado pelo combate ao crime 
e pela responsabilidade deintimidar toda e qualquer atitude que 
exista a contrassenso da ordem social estabelecida. 
[...] Ser policial é fazer um trabalho ostensivo para intimidar 
aos que estão fora da lei. Ser policial é cuidar da segurança 
da população. É trazer a paz para a população de tal forma 
que cada pessoa sinta segurança em transitar sem medo de 
ter sua liberdade cessada por meliantes [...] Polícia é aquela 
que faz o trabalho ostensivo, que intimida para que o crime 
não venha ocorrer ou pelo menos diminua [...] a missão 
policial é trazer a paz social[...] 
 
Todavia e para alcançar tal empreendimento, é fácil 
entender que os agentes desse grupo não hesitariam em intervir 
com demasiada energia caso necessário e que, desde o primeiro 
momento da ação policial, avocariam a superioridade e a ação 
policial como instrumentos de garantia e manutenção do poder, 
destes, sobre os outros “não policiais” envolvidos no conflito. 
Todavia e esclarecendo parte da questão, J. Skolnick (1966) 
apud Monjardet (2012, p. 157) nos ensina que: 
[...] para um policial em intervenção é essencial garantir 
primeiramente sua autoridade [...], pois sem isso sua 
intervenção pode degenerar em conflito aberto [...] sem 
está assegurado de ter a última palavra [...]. 
 Em suma, essa máxima é um aprendizado comum nos 
cursos de formação e, para os jovens policiais pesquisados, 
independente do que possa surgir no ambiente de trabalho 
é fundamental garantir, sobre os sujeitos envolvidos e 
sobre qualquer situação, um arbítrio próprio e hegemônico, 
justificado pelo poder de polícia que garanta o sucesso da 
ação, uma vez que, nessa visão, o policial é “[...] um agente 
26 | Segurança pública: análise e proposições
Editora Via Dourada
mantenedor da ordem social [...]” e a polícia “[...] é um corpo 
responsável pela preservação, contenção e resolução de crimes 
contra a sociedade [...]”, conforme preceitua o Colaborador 
11(32 anos, Guarda Municipal) e o Colaborador 42 (26 anos, 
Policial Militar). 
Avançando na questão e arriscando uma análise mais crítica 
do respectivo princípio, Cathala (1975, p. 54) nos orienta a pensar 
tal comportamento como condição de certa petulância, inerente à 
cultura policial e proveniente de uma incompreensão daquilo que 
se entende por “poder de polícia”, uma vez que: 
Alguns policiais, felizmente assaz raros em razão de 
aperfeiçoamento introduzidos no recrutamento e na 
formação profissional apresentam constantemente um 
aspecto arrogante e presunçoso, um tom autoritário e 
desabrido e uma linguagem chã, para não dizer vulgar, que 
não podem deixar de descontentar o público a que atendem 
em muitas circunstâncias. 
 
Nesse sentido e para justificar sua autoridade, é recorrente o 
policial, representante da força pública, imaginar-se desempenhando 
uma função excepcional, gloriosa e superior a todas as outras no 
âmbito da sociedade. Tal condição, na opinião desse pesquisador, 
evidencia uma inevitável presunção profissional e desencadeia 
efeitos danosos na prática e no sentido de polícia. 
Não obstante e como interpretação produzida a partir da 
análise dos dados, o elevado sentido que os colaboradores da 
pesquisa dão à missão policial e o caráter imponente constantemente 
atribuído ao policial, revelam certa arrogância institucional 
estendida aos membros que, tomada como característica geral do 
comportamento profissional, mesmo velado em muitos momentos 
sob regras de conduta, atestam esse traço vaidoso compartilhado 
entre os membros da polícia. 
Em suma e na visão de Cathala (1975), essa insolência 
Série Segurança pública, direito e justiça brasileira: Volume 6
 Ledervan Vieira Cazé| 27
policial é uma embriaguez proveniente do poder e da condição de 
autoridade que encontra justificativa no sentimento de orgulho, 
no mérito individual, no fundamento da honra institucional e na 
dramatização do fenômeno criminal. Além de outras situações, 
é igualmente comum vale-se da autoridade policial sempre 
que o agente, e por extensão a Polícia, estiver na eminência da 
desmoralização. 
Como circunstância e exemplo da premissa destacam-
se os casos de desacato que, como situação atemporal, também 
traz o mesmo entendimento na atualidade, pois no ano corrente, 
conforme informação oficial no sitio eletrônico do Processo Judicial 
Eletrônico do Ceará – PJE-CE, já existem mais de dois mil processos 
por crime de desacato em aberto no estado. 
Sobre a premissa, Cathala (1975, p. 57) coloca que: 
[...] muitos casos de desacato a agentes da força pública, 
que levam seus autores ao tribunal correcional, resultam 
de reações desagradáveis a que estes são levados em virtude 
do mau tratamento recebido quando da intervenção policial 
[...]. 
 
Em parte e legitimizando a opinião do autor, as falas dos 
colaboradores desse grupo ensejam um desejo associado ao 
controle e a regulação e, como consequência mais que lógica da 
questão, introjectam a responsabilidade de promover a paz social 
pela imposição da autoridade que o Estado lhe confere pelo cargo. 
Dito isso, “[...] acham-se investidos no que se denomina de poder 
de polícia, que representa parcela significativa da atribuição 
regulamentar reservada a essas mesmas autoridades 
[...]” (CATHALA, 1975, p. 59). 
[“...] (ser policial é) fazer cumprir a ordem [...] (a 
“verdadeira” missão policial é) “apontar a flecha” e atirar 
[...] “enxugar o gelo”, pois a justiça não ajuda (o trabalho 
da polícia)”. É frustrante [...]” (COLABORADOR 15, 31 anos, 
Guarda Municipal). 
28 | Segurança pública: análise e proposições
Editora Via Dourada
 Tomando a liberdade de estabelecer uma análise sucinta, 
mas substancial, da fala acima, os sujeitos policiais do respectivo 
grupo acreditam fielmente personificar o aspecto mais “justo” de 
sua função ao atribui-la à manutenção da paz social pela imposição 
da força policial destinada, sobretudo, aos grupos sociais que não 
se dobram com facilidade ao respectivo imperativo, pois como nos 
alerta Monjardet (2012, p. 158) “[...] Alguém encarregado de aplicar 
uma regra tem todas as possibilidades de crer ser necessário que as 
pessoas com quem ele se relaciona o respeitem [...]”, pela força ou 
pelo medo. O que, teoricamente, faz bastante sentido. 
Todavia e refletindo a premissa, Cathala (1975, p. 23) nos 
ensina que “[...] a concentração de tal extensão de poderes nas mãos 
de alguns acarretaria, sem dúvida, o perigo de abusos lamentáveis 
em prejuízo daqueles que lhes estão sujeitos [...]”. Infelizmente, tal 
concepção reflete, em parte, a realidade do trabalho policial. 
Nesse sentido, o resultado do serviço policial existe quase 
sempre na dimensão da repressão e na imposição da sua competência 
em detrimento de qualquer tentativa de se fazer aplicar as regras 
ou promover a segurança. Dito de outra forma, aos sujeitos desse 
grupo interessa mais obrigar os outros “não policiais” a respeitar 
as atividades da polícia do que exercer ou promover tais atividades 
como atribuição profissional da segurança. 
Talvez como consequência do princípio de autoridade e 
de sua aplicação prática no cotidiano de trabalho, é notório entre 
os colaboradores da pesquisa uma compreensão do fazer policial 
associada ao pragmatismo da ação. Em outros termos, a valorização 
policial expressada nas falas dos jovens policiais contempla sempre 
o imediato, ou seja, é sempre atribuída ao ato policial propriamente 
dito e quase nunca a uma situação alcançada por planejamento ou 
prevenção. É a emergência do princípio da ação. 
Sobre a premissa, Monjardet (2012, p. 159) explica que: 
Série Segurança pública, direito e justiça brasileira: Volume 6
 Ledervan Vieira Cazé| 29
O pragmatismo, frequentemente descrito como um traço 
cultural policial, enraizado nas “exigências situacionais” da 
tarefa, se concebe muito mais como adaptação razoável a 
um sistema de sanções que concentra as retribuições sobre 
os resultados da prática policial. 
 
Assim, 24,10% dos colaboradores argumentam diretamente 
que “[...] o serviçopolicial é mais prático do que teórico [...]” por 
entenderem a polícia como um modo de produção avaliado por 
resultados mensuráveis na dimensão ostensiva. 
Equivocamente e como consequência de tal leitura, atribui-
se a polícia o poder de, em certa medida, ditar normas, ou seja, 
o direito de interdição imediata ou regulamentação sobre certas 
atividades da vida comum das pessoas (CATHALA, 1975). 
Em suma, o bom serviço policial é medido pela quantidade 
de atos de repressão o que explica, em parte, o combate ao crime 
como tarefa prioritária, se não exclusiva, já assumida pela maioria 
dos jovens policiais, conforme demonstra os resultados alcançados 
na pesquisa e a maioria esmagadora das falas: 
“[...] a missão da Polícia é ajudar a sociedade combatendo 
o crime [...]” (COLABORADOR 01, 29 anos, Guarda 
Municipal). 
“[...] a verdadeira missão policial é garantir a segurança 
da sociedade de forma preventiva e ostensiva [...]” 
(COLABORADOR 53, 32 anos, Policial Civil). “[...] a 
verdadeira missão policial em minha opinião é a pacificação 
social [...]” (COLABORADOR 07, 23 anos, Guarda 
Municipal). 
“[...] a verdadeira missão policial é reprimir o crime 
combatendo ou evitando [...]” (COLABORADOR 42, 28 
anos, Policial Militar). 
 Ainda que uma apreciação mais simples da polícia 
perceba a repressão ao crime como uma tarefa socialmente 
mais visível, dominante e recorrente do fazer policial, é 
notório para qualquer observador mais atento que esse papel 
30 | Segurança pública: análise e proposições
Editora Via Dourada
não toma a totalidade do cotidiano de trabalho e não alcança 
todos os setores da organização policial. 
Todavia, essa demanda do trabalho é, sem dúvida, a mais 
valorizada, com amplo reconhecimento no âmbito policial, 
enaltecimento e possibilidade de ascensão profissional, pois 
o melodrama constante do fenômeno criminal é um costume 
marcante da cultura policial e eleva o aspecto reativo do trabalho a 
condição de “nobre” mister. “[...] Quanto mais o crime se amplia, 
tanto mais a função social de ‘último baluarte contra a barbárie’ é 
essencial [...]” (MONJARDET, 2012, p. 161). 
Do grande golpe que traz notoriedade, medalha e promoção, 
até a caça à “cabeça” cotidiana, toda a profissão policial, 
assim, se convence – e é confirmada em sua convicção pela 
hierarquia, o ministro e a mídia - que a repressão ao crime 
é a sua tarefa prioritária (MONJARDET, 2012, p. 160) 
 
Sem especificar o contexto e tomando como geral a ideia 
de dramatização do fenômeno criminal como característica 
reincidente nas organizações policiais, a pesquisa evidenciou que 
os jovens policiais constroem uma primeira noção do crime, e de 
suas nuanças, a partir de narrativas ficcionais dos policiais mais 
experientes e dos relatos da “mídia policial” que, no estado do Ceará, 
toma aproximadamente dezoito horas da programação televisiva. 
Dito de outra forma, o contato inicial do jovem policial com 
modelos simbólicos de outros policiais declaradamente violentos 
e a intensa exposição midiática da violência, condiciona qualquer 
entendimento que se possa construir da atividade policial, do 
infrator e do fenômeno criminal. 
O crime, como temática polêmica do cotidiano policial e da 
sociedade, enaltece o caráter carismático das vítimas, mas também 
dos criminosos que, no âmbito da transgressão, transformam-se 
em celebridades da violência banalizada e assumem o antagonismo 
teatral narrado pelos atores que se envolvem na situação. Esses 
Série Segurança pública, direito e justiça brasileira: Volume 6
 Ledervan Vieira Cazé| 31
reclamam a condição de vilões, ou seja, encarnam e personificam 
o “mal”. 
Não obstante e do outro lado da “espada”, posicionam-se os 
policiais, protagonistas e “nobres” defensores da paz pública que, 
através de violência reacionária, formalmente legítima e socialmente 
compartilhada por seus pares, interagem de forma dominante 
com o indivíduo criminoso e são, de forma geral, reconhecidos e 
recompensados internamente por isso. 
Corroborando com a reflexão acima e indagados a respeito 
dos fatores potenciais desse fenômeno, 28,57% dos jovens policiais 
apresentaram uma compreensão marcadamente reacionária acerca 
das condições geradoras do crime e da origem do agente criminoso. 
Enquanto outros 46,95% recusaram-se a comentar o tema, ou não 
conseguiram desenvolver uma reflexão mais substancial sobre suas 
possibilidades. 
Outro não e como exemplo recorrente nas falas, os policiais 
desse grupo compreendem objetivamente o criminoso como “[...] 
infrator, que tem que pagar pelos seus crimes [...]” (COLABORADOR 
29, NI, Policial Militar) e a reincidência do delito como uma escolha 
pessoal ou como condição única de impunidade e fragilidade do 
sistema judiciário, conforme expressa os colaboradores 25 (26 anos, 
Guarda Municipal), 31 (23 anos, Guarda Municipal), 13 (32 anos, 
Guarda Municipal), 44 (24 anos, Policial Militar), 45 (NI, Policial 
Militar) e 24 (33 anos, Guarda Municipal), respectivamente. 
“[...] O crime é causado, em muitas vezes, porque o 
criminoso não quer sair de sua zona de conforto e preferir 
o mais fácil [...]”. 
“[...] Ele pode até ser vítima da sociedade, mas isso não 
define seu caráter e suas escolhas [...]”. 
“[...] Acho o crime lamentável, porque nada justifica. Todos 
tem a mesma oportunidade na lei [...]”. 
“[...] a certeza da impunidade impulsiona o criminoso [...]”. 
“[...] O crime existe porque tem muita impunidade, pois não 
existe lei para os cidadãos infratores [...]”. “[...] O criminoso 
é alguém que quebrou as regras e deve ser punido de acordo. 
O crime é causado pela impunidade [...]”. 
32 | Segurança pública: análise e proposições
Editora Via Dourada
 Em grande demanda, o sentimento profissional 
expressado nas falas dos colaboradores reverbera o que Bandura 
(1973) e Short (1968) apud Menandro (1979, p. 143) nos 
ensinam sobre a relação do policial com o sujeito criminoso. 
De forma geral, os autores colocam que tal correspondência 
é por vezes dual e mecânica, uma vez que: “[...] o tipo de interação 
mais comum entre estes não é cooperativa, nem mesmo pacífica 
[...] o policial aprende que o uso da força é mais útil que o tato para 
o cumprimento do dever imediato 
[...]”. Outro não, tal noção também é disseminada nos 
cursos de formação como uma pseudoverdade que, oculta na 
matriz curricular, versa supostamente sobre a prática corriqueira 
do serviço. 
Destarte e como uma tentativa de esclarecer certa ignorância 
dos limites da ação policial, os autores também enfatizam que “[...] 
em subculturas nas quais a hierarquia social está determinada 
por façanhas de combate, as ameaças ao status provocam 
rápidas respostas de agressão defensiva [...]” (SHORT, 1968 apud 
MENANDRO, 1979, p. 143) 
Assim, percebe-se nas falas dos jovens policiais uma frágil 
relação entre a realidade e a ficção que, sob a égide da mídia, do 
choque geracional e de toda cultura “pop” que desenha o caráter 
heroico do profissional da segurança e o nefasto, do sujeito 
criminoso, condiciona a prática policial à ação propriamente dita e 
enxuga o significado do fazer policial ao embate violento. 
Em suma e a meu ver, a ilusão ficcional da polícia produz, 
senão, obstáculos à compreensão do seu real papel na sociedade. O 
que se costuma fazer é, tão somente, negar a realidade do cotidiano 
de trabalho e projetar um “real” desejado da atividade policial que, 
de forma fantasiosa, atenda os anseios dos agentes que esperam, 
na polícia, reconhecimento, status e aprovação social. 
Nesse sentido e conforme nos ensina Bandura (1973, p. 264) 
apud Menandro (1979, p. 143144): 
Série Segurança pública, direito e justiça brasileira: Volume 6
 Ledervan Vieira Cazé| 33
Esse sistema de reconhecimento é quase legitimado pela 
existência de uma ética privada (doravante da condição 
policial) da polícia que não vê como transgressão o uso 
de métodos violentos para prender os que infligem à lei 
[...] os policiais são frequentemente recompensadospor 
ocorrências alheias à estrutura policial. 
 
Numa análise simples da citação e conforme percebido 
na pesquisa, os neófitos policiais incorporam, por coerção e/ou 
espontaneidade, uma noção equivocada da realidade policial e 
introjectam, já nos cursos de formação e a partir de uma transmissão 
formal e/ou informal da cultura policial, um sistema interno de 
aprovação proveniente da ação e do combate imediato à atividade 
criminosa. 
Refletindo a premissa, Sá (2002, p. 13) nos ensina que: 
[...] o status profissional escolhido, com suas hierarquias de 
valores e códigos sociais próprios, orientará e alimentará – 
através das expectativas, disposições e motivações próprias 
– a construção do significado de sua identidade social e vice-
versa. A incorporação do indivíduo ao grupo profissional 
poderá implicar uma adoção “natural” e “espontânea” do 
grupo pelo indivíduo, transformandoo em status, referência 
e participação social de primeira grandeza para a sua vida 
social total. 
 
Nesse sentido, percebe-se que a dimensão simbólica da 
profissão policial enseja aspectos peculiares sobre a ética, sobre os 
valores sociais e sobre a concepção da atividade policial. Em suma, 
a polícia passa a figurar como grupo de referência que salta da 
dimensão profissional e avança para a vida social de cada sujeito, 
pois como nos ensina Elias (1997, 311-312) apud Sá (2002, p. 13) 
“[...] a principal fonte donde uma pessoa deriva seu valor, seu 
significado, mais em longo prazo, pode ser a prática eficiente de 
uma profissão [...]”. 
Sem mais e por fim, a visão reacionária de polícia configura 
como uma perspectiva que produz policiais aptos para combate 
34 | Segurança pública: análise e proposições
Editora Via Dourada
imediato. Corajosos e habilidosos, esses sujeitos representam 
simbolicamente o poder da polícia, pois introjectam, já no momento 
inicial da carreira, o poder coercitivo do Estado e personificam a 
responsabilidade de lutar contra qualquer um que ameace a paz 
pública. 
Em suma, são policiais do tipo guerreiro, paladino ou ainda 
justiceiro. Todavia e como critica necessária a questão, esses sujeitos 
encerram a missão profissional ao policiamento criminal, ou seja, 
ao embate e a vigilância o que, a meu ver, reduz drasticamente o 
potencial da organização policial. 
Segurança pública deve ser entendida para além dessa 
perspectiva. 
2.2 A “VISÃO NORMATIVA”: CONFLITO ENTRE 
LEGALIDADE, DISCRICIONARIEDADE E REALIDADE 
DO TRABALHO POLICIAL. 
 
A lógica normativa enseja uma falsa impressão de que a 
polícia funciona como um sistema rígido, racional e eficaz que 
tem na relação “intensão-resultado” sua principal condição de 
existência. 
Nesse sentido, elege a legalidade, a burocracia e os 
procedimentos como fontes absolutas de orientação, gestão e 
efetivação, como bem preceitua o Colaborador 37 (NI, Policial Militar) 
quando coloca que: “[...] o papel da polícia é o de garantidora da 
ordem e de instrumento de propagação da lei através das técnicas 
policiais [...]”. 
Todavia, a contradição do panorama normativo vem à tona 
quando, por exemplo, se observa o conflito entre o conhecimento 
técnico, transmitido nos cursos de formação, e a lógica informal, 
adquirida na prática e no cotidiano profissional. Destarte, refiro-
me ao que os policiais chamam de “choque de realidade”, entendido 
aos olhos de Muniz (1999, p. 169) como “[...] uma crítica velada ao 
Série Segurança pública, direito e justiça brasileira: Volume 6
 Ledervan Vieira Cazé| 35
modelo de instrução praticado, que parece dialogar muito pouco 
com as situações concretas que aparecem nas ruas [...]”. 
De forma geral e mesmo enaltecendo o aspecto legal da 
atividade policial que, em parte, transcende a teoria e condiciona 
individualmente o comportamento dos sujeitos policiais, como 
evidenciado na pesquisa, é consenso reconhecer uma perspectiva 
íntima que, atribuída à polícia, revela uma informalidade já 
estrutural e compartilhada por seus membros. 
Em parte, essa “[...] organização informal desempenha 
um papel determinante [...]” na execução do serviço, pois a todo 
instante a polícia reivindica, da esfera jurídica e do poder legislativo, 
discricionariedade e autonomia sobre as políticas de segurança e 
sobre suas práticas (MONJARDET, 2012, p. 42). 
Dito de outra forma, Monjardet (2012, p. 42) nos ensina 
que “[...] A polícia é uma grande organização complexa, regida por 
regras coercitivas, cujos membros estão longe de partilhar uma 
visão idêntica das finalidades da polícia em geral e de suas próprias 
missões em particular [...]” o que, grosso modo, justifica o choque 
de opiniões acerca da verdadeira missão policial. 
[...] a análise empírica do trabalho policial mostra 
imediatamente que a ação policial é posta em movimento, 
cotidianamente, numa delegacia, por três fontes. Certas 
tarefas são prescritas de maneira imperativa pela hierarquia 
superior: o serviço deve fornecer no dia tal, à hora tal, 
tantos agentes para uma transferência de detentos, aguarda 
do departamento ou uma expulsão de vagabundos. Outras 
são respostas mais ou menos obrigatórias às solicitações 
do público [...] Outras, enfim, são de iniciativa policial: 
tal observação (informação, acontecimento) suscitou 
o interesse de um policial, ou da patrulha, e ele ou ela 
acompanha o caso. (MONJARDET, 2012, p.15). 
 
Assim e a partir de qualquer análise mais substancial, 
percebe-se que a formalidade da organização policial é, tão 
somente, aparente, e existe apenas na instrumentalidade, pois a 
contrassenso de toda fisionomia exposta, o fazer policial acontece 
36 | Segurança pública: análise e proposições
Editora Via Dourada
na intimidade, na dimensão do “bom senso” e dentro daquilo que 
caracteriza os imponderáveis do cotidiano profissional. 
Toda organização de trabalho comporta, pois, duas faces: um 
lado formal (estrutura, organogramas, recursos humanos 
e materiais, e seu arranjo segundo regras explícitas que 
determinam a maneira como a organização pode operar), e 
outro informal [...] (MONJARDET, 2012, P. 41) 
O que prepondera na prática é um conjunto de 
comportamentos individuais regidos por uma lógica coletiva que 
designa um processo de trabalho e opera o funcionamento da 
instituição policial a partir de interpretação própria, de negociação 
individual, de compromisso pessoal e adaptação das regras formais 
ao improviso do cotidiano policial. Dito de outra forma, a segurança 
pública acaba se tornando aquilo que o policial faz nas ruas. 
Prosseguindo na exposição dos resultados e pontuando 
acerca dos 14,80% dos colaboradores que expressaram um 
caráter fundamentalmente normativo da lógica policial e outros 
14,80% que compartilharam essa racionalidade com o paradigma 
reativo, a pesquisa verifica a reincidência de aspectos legais que, 
de forma geral, assumem um caráter fundamental na prática e 
no significado que esses sujeitos atribuem à polícia e a segurança 
pública; fomentando um tipo legalista de agente e de identidade 
policial. 
Dito de outra forma e no início de suas carreiras, os jovens 
policiais recorrem à crença absoluta nos regimentos, códigos e leis 
que regulamentam teoricamente o fazer policial para justificar suas 
condutas e para alcançar certa linearidade aparente da ação e da 
ideia que concebem de polícia. 
Tal comportamento, a meu ver, se mostrou recorrente 
entre os 29,6% (Visão Normativa + Visão Mista) dos policiais 
entrevistados por apresentar uma resposta imediata e, até certo 
ponto, apaziguadora e reconfortante, do debate sobre as atribuições 
da polícia e de seu papel na sociedade. 
Neste sentido, ainda que a condição policial seja inerente ao 
Série Segurança pública, direito e justiça brasileira: Volume 6
 Ledervan Vieira Cazé| 37
estatuto da polícia, uma vez que a polícia também é “[…] aquela 
organização que tem a legitimidade de intervir quando alguma 
coisa que não deveria acontecer, está acontecendo, e alguém 
tem de fazer alguma coisa agora […]” a relaçãoentre o policial e 
a polícia deve ser entendida para além da estrutura, da estética, 
de sua constituição legal e de sua distribuição funcional, uma vez 
que este agente social é, ao mesmo tempo, regulador do sistema 
normativo e sujeito regulado pela mesma dominação legal que 
exerce (BITTNER, 2017, p. 154). 
Em suma, os policiais são normatizados em mesma demanda 
que os cidadãos que policiam em nome do Estado, uma vez que 
também incorporam, objetivamente e através das práticas policiais, 
um sistema simbólico específico, através dos estatutos, normas, 
códigos e métodos da polícia. 
Consubstanciando com a premissa, Bourdieu (2013, p. 434 
e 435) entende que: 
[...] os esquemas de hábitus, formas de classificação 
originárias, devem sua eficácia própria ao fato de funcionar 
aquém da consciência e do discurso [...] fora do controle 
voluntário [...] 
 
Nesse sentido, introjectam um conjunto de orientações, 
percepções e disposições semiconscientes que se efetivam no agir 
policial e no plano do discurso a partir de reflexões conscientes 
da lógica recebida. Em suma, tentam se adequar a um modelo de 
comportamento institucionalmente definido. 
Todavia e sobre a questão, Cathala (1975, p. 23) coloca que: 
As disposições de alcance mais geral são fixadas por 
lei. Incube ao legislador elaborar os textos e dogmas 
obrigatórios da polícia que traçam as grandes linhas das 
relações profissionais. Mas a lei não pode prever todas as 
situações particulares extremamente variadas que surgem 
a cada instante nos grupos humanos. 
 
38 | Segurança pública: análise e proposições
Editora Via Dourada
Nesse sentido e longe de estabelecer consenso, a visão 
normativa invocada por esse grupo, condiciona o significado do 
fazer policial a uma idealização opaca das práticas, da rotina de 
trabalho e do contato real com a sociedade. 
Tal critério, sem o ajuste das experiências, das vivências e 
da humanização necessária à ocupação policial, aliena os agentes 
e promove empobrecimento da compreensão do papel da polícia, 
uma vez que; 
[...] a função da polícia não pode ser entendida de modo 
apropriado se considerada apenas em termos puramente 
de princípios de legalidade. Longe de só aplicar máximas 
legais de uma maneira ministerial, a Polícia emprega o 
poder discricionário ao invocar a lei. (BITTNER, 2017, p. 
96). 
 
Contribuindo para o debate e nos alertando acerca desse 
paradigma, Bittner (2017, p. 95) também destaca que encerrar o 
papel da polícia à prática de um policiamento restrito aos aspectos 
normativos tem como consequência: 
[...] manter uma pretensa compreensão e concordância. 
Como tais afirmações sobre a função são abstratas e não 
restringem as interpretações que lhes podem ser dadas, 
facilmente elas podem ser invocadas para servir propósitos 
polêmicos tanto daqueles que encontram falhas nas práticas 
existentes como daqueles que soam a fanfarra para louvar 
a polícia. 
 
Assim e como atributo velado do trabalho policial, o processo 
de obtenção da discricionariedade acontece, em maior demanda, 
a contrassenso da postura normativa. Portanto, propaga-se 
burlando a disciplina, os códigos de conduta e toda a burocracia 
estatal. Enfim, executase sob um processo de seleção das práticas 
(dentro do conjunto potencial de tarefas existentes na dimensão 
da segurança pública), acumulação de experiência e qualificação 
individual. 
Série Segurança pública, direito e justiça brasileira: Volume 6
 Ledervan Vieira Cazé| 39
Não obstante, mas admitindo ser uma característica 
marcante do trabalho policial, como apresentado na pesquisa, o 
“discernimento”, condição de discricionariedade, admite a evidência 
da informalidade e de uma realidade policial para além da aplicação 
mecânica das leis, procedimentos e ordens institucionais. 
Consubstanciando com a perspectiva, Monjardet (2012, p. 
45) nos ensina que: 
Essa acepção da autonomia está igualmente afinada com a 
concepção dominante da qualificação entre os policiais [...] 
de longa aprendizagem pela prática em campo e em contato 
com os veteranos [...] o trabalho policial não procede de 
uma adição de tarefas prescritas, mas da seleção, pelos 
próprios interessados, de suas atividades. Por esse motivo, 
são os mecanismos desse processo de seleção que são os 
principais determinantes da definição, da organização e da 
análise do trabalho policial. 
 
Avançando e tomando como análise as falas dos colaboradores 
10 (29 anos, Guarda Municipal), 33 (23 anos, Policial Militar) e 57 (38 
anos, Policial Civil), respectivamente, é notório que, na ausência de 
qualquer reflexão mais crítica do significado de polícia, ou mesmo 
a elucidação de leis adicionais de procedimento, os jovens policiais 
encontram na norma geral uma alternativa de julgamento para 
orientar suas práticas. 
O que, a meu ver, apenas atesta a falta de entendimento e 
justifica a necessidade de uma agenda de estudos acerca da polícia, 
dos policiais e dos papeis sociais, pois conforme se observa nas falas 
dos colabores, a visão normativa acaba produzindo uma matriz 
ficcional da realidade policial, quando atribui à polícia um leque 
de responsabilidades incondicionais que não podem ser atingidas, 
senão e apenas, no campo teórico do Direito. 
“[...] O policial é um agente da lei [...] A Polícia é a força 
do Estado para que as leis sejam cumpridas e caso isso não 
aconteça fazer com que a justiça seja feita [...] a missão (da 
Polícia) é proteger, combater qualquer ação que se oponha 
40 | Segurança pública: análise e proposições
Editora Via Dourada
a lei [...]” 
“[...] o policial age para manter e garantir a paz social dentro 
das leis [...] A polícia constitue o poder coercitivo do Estado 
que visa manter a pacificação social [...]” 
“[...] (a “verdadeira” missão policial é) buscar que a lei 
seja cumprida de maneira mais normal possível ou tenha 
o mínimo de dano [...] ser policial é buscar uma excelência 
nas ações, onde será necessário executar de maneira legal 
[...]”. 
 
De forma geral e ainda que a aplicação da lei seja indissociável 
a qualquer arranjo social propriamente dito, Monjardet (2012) nos 
ensina que teoricamente a polícia é uma instituição opaca; existe 
como um meio, sem substância, para alcançar a segurança. 
Ela resiste como uma força que, instrumentalizada na prática 
de uma organização de trabalho, é conduzida por critérios políticos, 
ou seja, pela razão do Estado, mas se movimenta empiricamente 
a partir de interesses específicos e, até certo ponto, individuais, 
pois não há polícia sem policiais (MONJARDET, 2012). Desse 
modo, atesta-se que “[...] o policiamento criminal é uma prática 
condicional, mesmo que seja comumente considerado como 
incondicional [...]” (BITTNER, 2017, p. 257). 
Assim e como campo profissional e organização de trabalho, 
a polícia acontece na periferia da lógica normativa, pois desenvolve, 
a partir dos detentores do estatuto policial (policiais), interesses 
próprios de uma cultura de ofício, bem como elementos de 
identidade e um sistema de distinção efetivado nas condições de 
trabalho, emprego, práticas cotidianas etc. 
Pois conforme nos ensina Bourdieu (2001; 2013, p. 205), os 
policiais, na condição de agentes, são estruturantes e estruturados 
a partir da produção de sentido que eles próprios produzem de 
si e da polícia, ou seja, são “[...] sujeitos de atos de construção 
desse mundo [...]” e a polícia acaba figurando como um sistema 
de esquemas incorporado, ou seja, como uma estrutura social 
introjectada, um “[...] produto da incorporação de uma estrutura 
social sob a forma de uma disposição quase natural [...]”. 
Série Segurança pública, direito e justiça brasileira: Volume 6
 Ledervan Vieira Cazé| 41
 FIGURA 01: As dimensões policiais e suas interações. 
Fonte: Elaboração pessoal com base em Monjardet (2012). 
 
Nesse sentido, a concepção de habitus policial, pode ser 
entendida como uma maneira de se comportar, mas ainda como 
uma distinção, ou seja, como uma percepção e/ouuma disposição 
sobre o mundo da segurança pública, que se constrói na dimensão 
profissão, mas que acontece intrínseca das demais (BOURDIEU, 
2001; MONJARDET, 2012). 
Numa análise simples da figura acima, percebe-se que o 
aparelho policial é, indissociavelmente, um instrumento de poder 
(controle social), um serviço público (política social) e uma profissão, 
desenvolvida a partir dos interesses materiais, corporativos e 
profissionais de sua categoria. 
Não obstante, mas essencialmente importante para 
entendermos a compreensão sobre a perspectiva policial é entender 
que o simbólico exerce força e transforma o material porque, 
mesmo construído na subjetividade, existe no concreto e se efetiva 
na vida social dos sujeitos policiais sob um aspecto de dominação 
42 | Segurança pública: análise e proposições
Editora Via Dourada
institucional e profissional. 
Destarte, policiais e polícia trocam singularidades e exercem, 
um sobre o outro, uma força transformadora. Contudo, é difícil 
determinar quem escolhe quem, ou seja, quem exerce sobre o 
outro uma força de socialização maior, uma vez que, essa relação 
dociliza as condutas quando da busca pelo reconhecimento e 
pela aprovação. Não obstante, mas a partir desse entendimento, 
podemos afirmar que o capital simbólico policial, ou seja, o “animus” 
desse jogo social específico, existe apenas pela crença, legítima e 
total, do reconhecimento de sua valoração por todos aqueles que 
comungam a existência do campo profissional da segurança pública 
(BOURDIEU, 2001). 
Também de forma resumida a dominação do corpo é exercida, 
velada e aceita nas disposições do habitus (sistema de disposições 
e percepções aberto), ou seja, é construída em meio a estruturas 
predispostas a funcionam como reguladoras da interação dos 
agentes no campo e com o campo (BOURDIEU, 2001; 2013). 
De forma geral, o autor evidencia a existência de um 
disciplinamento velado, mas efetivo que pode ser associado, sem 
forçar qualquer entendimento, a formação dos sujeitos policiais e 
a internalização dos costumes, cotidiano, valores e da totalidade da 
cultura policial. 
Prosseguindo e localizando a reflexão dentro da Figura 01 
acima, a perspectiva normativa que permeia o fazer policial e que 
condicionou a visão de parte relevante dos colaboradores da pesquisa 
(29,6%) existe, em maior demanda, na dimensão institucional, ou 
seja, como um critério necessário à própria instrumentalidade da 
polícia e ao seu projeto organizacional. 
Todavia e em parte, tal perspectiva acontece como condição 
de constrangimento, conflito e tensão estrutural, pois, longe de 
estabelecer consenso, a visão normativa decorre de um projeto 
inacabado e impossível, uma vez que, sozinha e partir do aparato 
jurídico, a polícia não pode levar justiça ou paz social à totalidade 
Série Segurança pública, direito e justiça brasileira: Volume 6
 Ledervan Vieira Cazé| 43
das pessoas, como anseia os jovens policiais desse grupo. Outro 
não, isso é apenas o que se espera ou se deseja que ela faça. 
Nesse sentido e como consequência dessa premissa, o que 
se evidencia é uma relação de incertezas, ou seja, um conjunto de 
ambiguidades que influencia a obrigação do desfecho e condiciona 
a produção de estratégias discricionárias. Destarte e como já 
colocado na pesquisa, à prática do serviço policial, dentro da 
dimensão profissional, é marcadamente informal, e até marginal. 
Justificando a reflexão, Monjardet (2012, p. 211) coloca que: 
[...] a atividade policial é sempre suscetível de ser falha, 
pois o estrito respeito aos meios prescritos tem um efeito 
negativo nos resultados obtidos. Assim, a busca exclusiva 
de resultados superiores leva a se liberar dos meios 
autorizados. 
 
A tomada de autonomia policial, pela discricionariedade 
proveniente do discernimento, reverbera, para descontentamento 
dos policiais que invocam a visão normativa, um ajustamento ao 
cotidiano de trabalho que acontece, como já colocado no texto, 
em meio a negociações, adaptações e ajustes. É a condição de 
improviso do trabalho que, mesmo evidente entre os policiais que 
compartilham seu dia-a-dia, é velado e até negado pelo discurso 
oficial do Estado. 
Pois como coloca Bittner (2017, p. 256): 
[...] ao decidir de vão ou não invocar a legislação, os policiais 
devem considerar alguns interesses políticos gerais. Por 
exemplo, comumente se entende que a legislação não deve 
ser invocada contra cidadãos com fichas totalmente limpas 
que forem suspeitos de terem cometido delitos técnicos e 
relativamente triviais. 
 
Por fim, a partir de um entendimento possível do dilema 
e enquanto instituição, a polícia existe como gênese do sistema 
normativo, mas como organização profissional, a corporação 
funciona, em maior demanda e a contrassenso das expectativas 
44 | Segurança pública: análise e proposições
Editora Via Dourada
do Estado, na informalidade o que justifica localizar-se, por vezes, 
na periferia da lei, executando suas tarefas como ajustamentos 
legítimos e ilegítimos do cotidiano policial. E isso, caro leitor, é 
mais uma verdade inconveniente do cotidiano policial. 
 
2.3 A “VISÃO CRÍTICA”: O PARADIGMA CLÁSSICO, 
O DISCURSO DA MUDANÇA E A HUMANIZAÇÃO 
DA ATIVIDADE POLICIAL. 
 
Ainda que seja uma reflexão clichê entre os profissionais da 
segurança pública, é comum reconhecer como verdade a ideia de 
que, na prática, “trabalhar com segurança pública é caminhar numa 
linha tênue entre o certo e o errado!”. Não concordo e, diante disso, 
vou justificar minha posição narrando um dos muitos episódios 
profissionais que atestam a informalidade do serviço policial, a 
escolha individual dos sujeitos policiais e a faceta mais nefasta de 
suas práticas, protagonizada por homens cruéis que não deveriam 
fazer parte do quadro profissional da polícia. 
Todavia, ressalto que selecionar apenas um episódio que 
exemplifique o caráter mais danoso da instituição policial é mais 
difícil do que se possa imaginar, pois o universo de acontecimentos, 
numa carreira de onze anos de profissão em duas diferentes forças 
de segurança, é como um baú repleto de lembranças boas e algumas 
bem ruins. Contudo, julgo essencial narrar um episódio que, pela 
crueldade dos fatos, surgem nas páginas deste trabalho como uma 
denúncia necessária. Portanto, serei sucinto. 
Tarde da noite, ao patrulhar os arredores da Praia de Iracema, 
tradicional local de lazer da cidade de Fortaleza, minha equipe 
deparou-se com uma denúncia informal de possíveis assaltos no 
“espigão”, construção de contenção marítima localizada perto da 
Av. João Cordeiro. De pronto, nos deslocamos ao local informado e, 
lá chegando, desembarcamos da viatura. Com cautela, em virtude 
Série Segurança pública, direito e justiça brasileira: Volume 6
 Ledervan Vieira Cazé| 45
da escuridão, caminhamos até o local e, ao verificar atentamente os 
arredores, nada encontramos. Não satisfeitos, avançamos um pouco 
mais no espigão em direção ao oceano. Todavia e para frustração 
ou “felicidade” da equipe, a noite parecia transcorrer na mais 
perfeita normalidade e, portanto, resolvemos retornar a viatura e 
continuar a ronda corriqueira. Contudo e quando caminhávamos 
de volta a praia, o comandante do grupo (policial mais antigo em 
serviço) observou um jovem casal namorando furtivamente no 
local. Naturalmente e por questão de privacidade, estavam em 
um local bastante ermo e escuro do paredão rochoso. Tomado 
pela curiosidade, o comandante caminhou até o casal e chegando 
a certa distância, percebeu se tratar de um casal homoafetivo. 
Imediatamente e sem qualquer razão aparente, partiu pra cima 
dos jovens com uma ferocidade irracional, motivada, a meu ver, 
pela mais injusta manifestação de homofobia. Em uma fração 
de segundos, o policial envolveu os jovens numa “abordagem” 
injustificada e demasiadamente violenta. Começou com gritos 
e, num piscar de olhos, já estava desferindo golpes violentos e 
desproporcionais com a “Tonfa” (bastão policial). Os namoradosforam agredidos a medida que se negavam a aceitar tamanha 
injustiça. Relutante, no estágio probatório e por medo de sofrer 
assédio moral posterior, intervi de forma tímida, mas o suficiente 
para cessar as agressões. De forma furtiva, orientei os jovens para 
que fossem denunciar o ocorrido na corregedoria da instituição, 
revelando o prefixo da viatura e o nome do agressor. No dia seguinte, 
procurei o supervisor imediato e relatei o fato, mas nada consegui, a 
não ser uma “suspeita” transferência de equipe. Nada mais soube a 
respeito, não recebi nenhuma convocação oficial da corregedoria e 
o assunto entrou no esquecimento. Contudo, o ocorrido marcoume 
intensamente e me fez perceber o quanto a minha atitude pode, 
de fato, gerar transformação. Prometi pra min, enquanto policial 
e ser humano, que jamais deixaria aquilo acontecer novamente. A 
polícia tem que fazer o certo e nada mais. 
46 | Segurança pública: análise e proposições
Editora Via Dourada
Tomando o desfecho do episódio acima como um relato 
espúrio de “ética corporativista” que, em verdade, é a própria 
negação da ética e a prova factual da existência de um paradigma 
policial que precisa ser superado, para o bem de todos e, sobretudo, 
para a valorização dos policiais de bem que ainda compõem a boa 
polícia, ecoa de dentro das organizações o desejo de mudança e de 
reconhecimento de uma nova forma ver a atividade policial. 
Na sua essência, a segurança pública é construída à luz 
da democracia, pois figura como um dever do Estado, como um 
direito e como responsabilidade de todos os cidadãos. Portanto, 
todos os brasileiros podem colaborar para o bom andamento 
das políticas de segurança, bem como opinar e contribuir para 
o desenvolvimento da polícia, da sua organização e dos aspectos 
profissionais que alcançam seus membros. Nesse sentido e diante 
da complexidade de seu campo profissional, a sociedade anseia da 
polícia uma concepção mais humana de suas práticas e um juízo 
inovador do seu sentido. 
Assim, na emergência do séc. XXI e diante dos muitos 
aspectos políticos que nos fazem crer no desenvolvimento da 
instituição policial, ecoa dos cursos de formação um julgamento 
essencialmente crítico da atividade policial que almeja marcar o 
fim do paradigma conservador e construir um novíssimo olhar 
sobre o significado que se atribui aos sujeitos policiais. 
Destarte e com a profissionalização constante da polícia, 
essa perspectiva avançou no final do séc. XX e se efetivou no século 
posterior como um conjunto de medidas que tomaram a agenda da 
Secretaria Nacional de Segurança Pública e postularam novas ações 
formativas para os profissionais de segurança pública. O que, dito 
de outra forma, movimentou o paradigma vigente sobre a polícia 
e produziu uma concepção mais humanizada, potencializando o 
caráter pedagógico, cidadão e ético do sujeito policial. 
Assim e sobre reflexão, Balestreri (1998, p. 8) afirma que: 
Há, assim, uma dimensão pedagógica no agir policial que, 
Série Segurança pública, direito e justiça brasileira: Volume 6
 Ledervan Vieira Cazé| 47
como em outras profissões de suporte público, antecede as 
próprias especificidades de sua especialidade. Os paradigmas 
contemporâneos na área da educação nos obrigam a 
repensar o agente educacional de forma mais includente. 
No passado, esse papel estava reservado unicamente 
aos pais, professores e especialistas em educação. Hoje é 
preciso incluir com primazia no rol pedagógico também 
outras profissões irrecusavelmente formadoras de opinião: 
médicos, advogados, jornalistas e policiais, por exemplo. 
 
Destarte e a fim de estabelecer um parâmetro para o 
respectivo desafio, os primeiros projetos que ensejam o desígnio de 
conceber um plano de segurança progressista remontam a década 
de 1990 onde começaram os esforços sistemáticos de elaboração 
de políticas públicas de segurança baseadas numa perspectiva 
contemporânea, identificada com a combinação entre eficiência e 
direitos humanos (CARVALHO E SILVA, 2011). 
Todavia, foi apenas em 2002 que surgira o Programa Nacional 
de Segurança que, a meu ver, é a incipiente noção de um plano 
de segurança integrado e reflexivo, contemplando diversos setores 
sociais e dando voz a totalidade dos especialistas “não policiais” 
(CARVALHO E SILVA, 2011). 
Tal compreensão, despontando como um debate em 
processo de hegemonia, projetou a Nova Matriz Curricular que 
passou a vigorar em 2014 com o slogan de “novos tempos, novas 
medidas”. O projeto almejou caracteriza-se como um referencial 
teórico e metodológico para orientar as ações formativas, iniciais e 
continuadas, dos profissionais da segurança pública. 
Outro não, “[...] as ações realizadas nos espaços educativos 
deveriam estar voltadas para o desenvolvimento das competências 
profissionais necessárias à atuação do profissional de segurança 
pública no contexto em que as necessidades e as exigências sociais 
se estabelecem [...]”, ou seja, o novo olhar sobre a segurança pública 
rompe com o modelo reativo de polícia e oportuniza formar policiais 
adaptados as singularidades sociais. Em suma, é o projeto de um 
policial mais humanizado e sensível às condições dos outros, “não 
48 | Segurança pública: análise e proposições
Editora Via Dourada
policiais” (BRASIL, 2014). 
Destarte e conforme Balestreri (1998, p. 11), a ideia era 
formar bons policiais que, para além dos atributos físicos e da 
destreza, entendessem seu papel social, ou seja, internalizassem a 
ideia de ser “[...] um verdadeiro policial, ciente de seu valor social 
[...]”. 
De forma geral e na opinião desse policial-pesquisador, o 
projeto em si não funcionou na totalidade daquilo que desejava. 
Todavia e como condição de transformação política, provocou o 
germe da mudança e fez surgir, dos cursos de formação, jovens 
policiais e novíssimas visões sobre o papel da polícia que justificam, 
atualmente, a visão crítica dos 22,20% dos colaboradores da pesquisa. 
Nesse sentido e conforme verifica-se na fala do Colaborador 01 (29 
anos, Guarda Municipal) “[...] ser policial é servir a comunidade 
[...], a visão crítica da atividade policial promove a construção de 
sujeitos, cuja a identidade policial perpassa pelo desenvolvimento 
de uma concepção ampliada do papel da polícia. 
Outro não, atesta-se como um argumento reincidente nesse 
grupo, a ideia de encarar a missão policial como uma prática para 
além do policiamento criminal. Em suma, como um conjunto 
de ações que englobam certo amparo social e um contato mais 
humanizado com qualquer pessoa ou situação de conflito. 
“[...] A verdadeira missão policial é está sempre à disposição 
de qualquer cidadão para ajudar [...]” (COLABORADOR 
23, 29 anos, Guarda Municipal). “[...] A Polícia é formada 
por agentes da lei que se designam a serem homens 
que promovem a justiça e protegem a sociedade [...]” 
(COLABORADOR 39, 25 anos, Policial Militar). 
 
Dito de outra forma, esses sujeitos policiais entendem a 
própria condição policial e, até o sujeito criminoso, a contrassenso 
dos modelos anteriores. Como evidenciado nas falas abaixo e a 
partir de uma visão crítica, os policiais acabam despertando uma 
consciência mais ampla das categorias que permeiam sua prática, 
Série Segurança pública, direito e justiça brasileira: Volume 6
 Ledervan Vieira Cazé| 49
bem como do sentido que constroem de si. 
“[...] Não existe resposta certa. Muitos crimes são cometidos 
por pessoas que estão à margem da sociedade e não 
conseguem ter as mesmas oportunidades do que aqueles 
que têm toda uma base familiar e uma boa renda econômica 
[...]” (COLABORADOR 33, 23 anos, Policial Militar). 
“[...] Aquele que na sua vida sofre preconceitos, dificuldades, 
onde o Estado não está presente e isso acarreta problemas 
sociais, gerando violência e atingindo a sociedade [...]” 
(COLABORADOR 31, 27 anos, Policial Militar). “[...] 
(o criminoso) é um sujeito vulnerável nessa sociedade 
desigual e preconceituosa que fica a mercê de um sistema 
hipócrita

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