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ADOLESCÊNCIA E AIDS Experiências e reflexões sobre o tema

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Saber Viver
E D I Ç Ã O E S P E C I A L P A R A P R O F I S S I O N A I S D E S A Ú D E
ADOLESCÊNCIA E AIDS
Experiências
e reflexões
sobre o tema
EDIÇÃO ESPECIAL SABER VIVER PROFISSIONAIS DE SAÚDE
JANEIRO 2004
Coordenação, organização e edição:
Adriana Gomez e Silvia Chalub
Saber Viver Comunicação - saberviver@uol.com.br
Projeto Gráfico e Arte Final:
A 4Mãos Comunicação e Design
Impressão:
Minister
Programa Nacional DST Aids:
Alexandre Grangeiro, Diretor PNDST Aids
Raldo Bonifácio, Diretor Adjunto
Ricardo Pio Marins, Diretor Adjunto
Denise Doneda, Unidade de Prevenção
Vera Lopes, Unidade de Prevenção
Eliane Izolan, Ascom
Mauro Siqueira, Ascom
Rogério Scapini, UDAT
Cledy Eliana, UDAT
Ilustrações:
Jovens vivendo com HIV/aids 
que participaram das oficinas 
realizadas pelo Programa Nacional
de DST/aids em diversas
cidades do país em maio de 2003.
Tiragem:
100.000 exemplares
É permitida a reprodução total ou parcial dos artigos desta publicação,
desde que citados a fonte e o respectivo autor.
As opiniões aqui representadas são de exclusiva 
responsabilidade dos autores.
Agradecimentos especiais a todos os profissionais de saúde
que participaram desta publicação, divulgando suas experiências.
SV
Saber Viver Comunicação
Material financiado pelo Programa Nacional de DST e AIDS / SVS-Ministério da Saúde
Uma atenção especial ao adolescente soropositivo
por Vera Lopes, Cledy Eliana e Suely Andrade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .6
Adolescência como oportunidade
por Mario Volpi . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .8
Os adolescentes nos serviços de saúde
por Viviane Castello Branco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .10
A consulta do adolescente e jovem 
por Luiza Cromack, Maria Helena Ruzany, Eloísa Grossman e Stella Taquette . . . . . .12
Como atender o adolescente soropositivo
por Maria Letícia Santos Cruz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .15
Adolescentes e o tratamento anti-retroviral
por Jorge Pinto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .17
A diferença entre quem se infectou pelo HIV por transmissão vertical e horizontal
por Marinella Della Negra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .18
Revelação do diagnóstico e aconselhamento em HIV/aids
por Débora Fontenelle, Denise Serafim e Sandra Filgueiras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .19
Gestante HIV+: o atendimento em sala de espera
por Iraína F de Abreu Farias, Maria de Fátima L Garcia, Regina T C Mercadante,
Verônica M da Costa e Virgínia de A Ximenes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .22
Sexualidade, uso do preservativo e direito reprodutivo
por Valdi Craveiro Bezerra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .24
O espaço ideal para o adolescente soropositivo
por Sidnei Pimentel . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .27
Serviço de saúde e sociedade civil: a importância das parcerias
por Alaíde Elias da Silva e Edvaldo Souza . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .29
Tributo a um guerreiro
por Juliana Mattos e Maria Helena Leite de Castro Mendonça . . . . . . . . . . . . . . . . . .31
Crianças e adolescentes no Fórum ONG/Aids de São Paulo
por Elizabeth Franco Cruz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .34
A experiência da Brinquedoteca do Gapa/Ba
por Gladys Almeida e Isadora Oliveira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .36
Adolescer em casa de apoio
por Júlio Lancelotte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .38
Trabalhar com adolescentes soropositivos: alegrias e problemas
por Maria Lúcia Araújo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .39
O outro lado da moeda
por Terezinha C R Pinto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .40
A inclusão do adolescente na escola
por Nájla Veloso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .42
Lições de um programa de redução de danos
por Tarcísio de Andrade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .45
Jovens em situação de rua: desafios para a prevenção
por Verônica de Marchi . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .47
Adolescentes em conflito com a lei
por André de Souza . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .49
Oficinas com adolescentes soropositivos
por Luiza Cromack . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .50
Livros, sites, telefones e endereços – Dicas úteis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .54
Sumário
4 Saber Viver >> [Profissionais de Saúde]
[Profissionais de Saúde] << Saber Viver 5
Trabalhar com jovens soropositivos:
Uma experiência
enriquecedora
aids no Brasil já completou 20 anos.As previsões
pessimistas que tomavam conta da sociedade no
início da epidemia, felizmente, não se concre-
tizaram.Apesar de muitas perdas,hoje temos o que
celebrar.
A chegada à adolescência de meninos e meninas
que, ao nascer na década de 80 ou início de 90,
infectados pelo HIV, tinham pouca ou nenhuma
chance de tratamento, sem dúvida, é um bom
indício de que a aids está se tornando uma doença
crônica. Cada aniversário desses jovens guerreiros
foi e será motivo de comemoração para eles e para
todas pessoas à sua volta,sejam familiares,funcionários de casas de apoio,voluntários
de ONGs ou profissionais de saúde.Todos, sempre, com a emoção à flor da pele e
também com a certeza de que terão muitos desafios pela frente.
Foi pensando nesses desafios que a Saber Viver elaborou esta publicação destinada
aos profissionais de saúde que, em seu cotidiano profissional, convivem com esses
jovens. Nós nos aliamos ao esforço do Programa Nacional de DST/aids em aperfeiçoar
o atendimento aos adolescentes vivendo com HIV/aids e promover a integração
social deste grupo. Por diversas vezes,este ano,o PNDST/aids reuniu profissionais que
já trabalham com jovens vivendo com HIV/aids em eventos realizados pelo Brasil. Na
maioria deles,a Saber Viver esteve presente,colhendo dados e entrevistando pessoas.
Ao organizar a presente revista,construída a partir dos temas discutidos durantes
os encontros,nosso objetivo é tornar acessível aos profissionais de saúde,experiências
e reflexões que possam colaborar para o aperfeiçoamento de ações voltadas aos
adolescentes vivendo com HIV/aids e tornar a convivência de profissionais e jovens
uma experiência enriquecedora para ambos.
Além desta publicação,está sendo lançada,concomitamente,uma edição especial
da Saber Viver destinada ao jovem soropositivo,voltada ao universo desse grupo.
A partir do que aprendemos com estes trabalhos, temos a certeza de que não há
regras pré-estabelecidas para o atendimento ideal. Pelo contrário, as especificidades
individuais,culturais e sociais de cada jovem devem ser respeitadas e preservadas.
Um grande abraço.
Adriana Gomez e Silvia Chalub
Saber Viver Comunicação
A
Uma atenção especial ao
adolescente soropositivo 
Programa Nacional de DST/aids desenvolveu, em
2003, uma ampladiscussão sobre a situação dos
adolescentes vivendo com HIV no país e sua rede
de apoio social. A partir de um grupo de pro-
fissionais de saúde e representantes de ONGs que,
com sua larga experiência de trabalho junto a ado-
lescentes,expressou diferentes preocupações no sentido de ampliar este trabalho,foi
desencadeada uma série de encontros envolvendo adolescentes de algumas cidades
e profissionais de todos os estados,com o objetivo de juntos elaborarmos diretrizes
e propostas dirigidas ao trabalho com os adolescentes vivendo com HIV.
Mais da metade das novas infecções por HIV que ocorre na atualidade afeta jovens
de 15 a 24 anos de idade.No Brasil,estima-se que,a cada ano,quatro milhões de jovens
tornam-se ativos sexualmente. Segundo a BEMFAM (DHS 1996), a idade mediana da
primeira relação sexual para homens é de 14 anos, e para as mulheres, 15 anos. O
início precoce da vida sexual pode ser considerado um agravante para o com-
portamento de risco frente ao HIV/ aids. Em alguns países da América Latina e Caribe,
pesquisas revelam um baixo índice do uso freqüente do preservativo entre os jovens
de baixa escolaridade e um alto índice de gravidez e abortos realizados em condições
de alto risco,entre pré-adolescentes e adolescentes.
Na população brasileira,desde 2000,estão ocorrendo mais casos de aids em meninas
do que em meninos,com idade entre 13 a 19 anos. No período de 2000 a 2002,foram
notificados 531 novos casos de aids em meninas de 13 a 19 anos,contra 372 casos em
rapazes da mesma idade,mostrando uma proporção de dois novos casos em mulheres
para um caso em homens,logo no início da atividade sexual.Na faixa etária subseqüente
(de 20 a 24 anos), a relação praticamente se igualou, com 2.346 casos em homens e
2.299 casos em mulheres nos últimos dois anos.
O número elevado de ocorrências de gravidez na adolescência em jovens entre 10
e 19 anos (210.946 partos e 219.834 casos de abortos atendidos no Sistema Único de
Saúde - SUS, no período de 1999 até abril deste ano), o aumento da ocorrência de
doenças sexualmente transmissíveis e a intensificação do consumo de drogas lícitas
(álcool, cigarro e tranqüilizantes) e ilícitas (maconha, cocaína e crack) – com a
agravante do uso de drogas injetáveis com compartilhamento de agulhas e seringas
– ajudam-nos a entender melhor porque os jovens brasileiros são,em cada vez maior
número,vulneráveis à infecção pelo HIV/aids.
6 Saber Viver >> [Profissionais de Saúde]
O
VERA LOPES1, CLEDY ELIANA2 E SUELY ANDRADE3
1. ANTROPÓLOGA, ASSESSORA TÉCNICA DA UNIDADE DE PREVENÇÃO/PN DST AIDS
2. MÉDICA, ASSESSORA TÉCNICA DA UNIDADE DA UDAT/PN DST AIDS
3. PSICÓLOGA, ASSESSORA TÉCNICA DA SCDH/PN DST AIDS
Caracteriza-se, ainda, como fator de
vulnerabilidade dos jovens frente ao
HIV/aids, a violência sexual praticada
contra adolescentes, incluindo o abuso
sexual e a exploração sexual comercial.
A Rede Feminista de Saúde identificou
que 48% dos atendimentos nos serviços
de abortos previstos por lei são de
jovens entre 10 e 19 anos.
Educar os jovens sobre os riscos de
transmissão do HIV, apoiá-los na cons-
trução de habilidades para negociar,
resolver conflitos e ter opiniões críticas
melhora a confiança em si mesmos e
aumenta a capacidade de tomar decisões
responsáveis para se proteger e motivar
seus parceiros e colegas para que tomem
decisões seguras. Não é diferente para os
adolescentes vivendo com HIV.
Como conseqüência do uso da terapia
anti-retroviral no Brasil,atualmente,chega-
mos à primeira geração de adolescentes
vivendo com HIV que se enquadram na
categoria de transmissão vertical.São 1675
pessoas entre 10 e 19 anos fazendo uso da
terapia anti-retroviral no país. No entanto,
ainda nos deparamos com muitas barreiras
que contribuem para uma baixa adesão ao
tratamento em diferentes regiões do país.
Daí a importância da abordagem
integral do adolescente, para além do
tratamento e administração da terapia
anti-retroviral.
O PN DST/Aids tomou a iniciativa de
ouvir os adolescentes sobre o atendi-
mento nos serviços de saúde e na rede
de apoio social para orientar a formu-
lação de diretrizes do Ministério da
Saúde, considerando as demandas dos
adolescentes.Para tanto,foram realizadas
8 oficinas de trabalho com os adolescen-
tes em 8 cidades,além de três encontros
macro regionais, nos quais estiveram
presentes representantes de todas as
unidades federadas: profissionais que
atuam em serviços de saúde,profissionais
da área da saúde do adolescente,ONGs,
adolescentes vivendo com HIV/aids e
adolescentes em situação de risco social.
Finalmente,um fórum nacional alinhavou
propostas para serem discutidas com
outros programas governamentais,já que
a atenção integral ao adolescente
depende de políticas intersetoriais.
As falas dos adolescentes vivendo
com HIV nos mostraram avanços alcan-
çados e,ao mesmo tempo,muitas neces-
sidades e lacunas, tal como consta no
documento preliminar do Fórum Na-
cional:
� Os adolescentes com vida sexual ativa têm
tido acesso ao preservativo nos serviços de saúde;
� Os adolescentes não têm espaços coletivos
de interlocução para tratar de temáticas como a
sexualidade, saúde reprodutiva, acesso e per-
manência na escola, troca de vivências e suas
percepções sobre as instituições de apoio social;
� Os cuidadores/ familiares destes ado-
lescentes têm pouca ou nenhuma oportunidade
de discutirem, em espaços coletivos, suas dúvidas
e alternativas para apoiarem adequadamente os
adolescentes;
� A maioria dos adolescentes que vivem em
instituições de apoio, embora reconheçam e
mantenham vínculo afetivo com estes cuidadores,
têm expectativa de viverem com maior autonomia
para tomada de decisões e em ambiente familiar
– com madrinha, padrinho, avós, tios, etc;
� A revelação do diagnóstico é uma grande
dificuldade para profissionais de saúde e
familiares – sendo que muitos adolescentes,
embora "desconfiem" que são portadores do HIV,
não tiveram ainda seu diagnóstico explicitado. A
maioria destas situações foi constatada entre os
adolescentes da categoria de transmissão vertical;
� Muitos adolescentes têm tomado conhe-
cimento do diagnóstico durante internação, na
transmissão vertical ou no pré-natal, quando da
transmissão sexual;
� Estrutura dos serviços inadequada para
atendimento dos adolescentes – espaços pouco
humanizados e pensados para os adolescentes –
ou são de pediatria ou são de adultos;
� Falta de articulação dos serviços es-
pecializados de aids e serviços de saúde do
adolescente;
� Reconhecem nos profissionais de saúde
um bom acolhimento individual e apontam para a
necessidade de serem atendidos por diferentes
profissionais, como psicólogos e assistentes
sociais;
� Discriminação – receio de revelar seu
estado sorológico a amigos, receio do isolamento,
referência a situações de discriminação pre-
conceito na escola.
Enfim, propor atenção especial para o
adolescente soropositivo nos remete à
necessidade de avaliar o quanto temos
dedicado de atenção ao aolescente de um
modo geral… Como os profissionais da
saúde têm convivido com as especifici-
dades expressas neste período da vida?
[Profissionais de Saúde] << Saber Viver 7
O PN DST Aids tomou a
iniciativa de ouvir os
adolescentes sobre o
atendimento nos
serviços de saúde e na
rede de apoio social
para orientar a 
formulação de diretrizes
do Ministério da Saúde,
considerando as
demandas 
dos adolescentes
visão predominante e estereotipada de nossa
sociedade sobre adolescência pode ser resumida
na expressão "aborrecência". Mais do que uma
simples brincadeira com a palavra, trata-se de uma
visão fundada noolhar do adulto sobre esta fase
da vida. Um olhar preconceituoso que vê o
adolescente por aquilo que ele não é: não é
maduro, não é responsável, não é paciente, não é
obediente ...
Diversas explicações sobre esta fase da vida
foram construídas a partir da observação de aspectos do desenvolvimento físico e
psicológico do adolescente, resultando numa visão reducionista da adolescência
como fase da explosão de hormônios, das tensões e conflitos por afirmação da
identidade,da inquietude e da contestação dos valores dos adultos.
Ao observarmos a participação dos adolescentes nos diferentes campos da vida
social,percebemos que os aspectos citados fazem parte da adolescência,mas não são
toda a adolescência. Fase da vida,com características específicas de desenvolvimento,
a adolescência está longe de ser um problema como pode parecer a adultos e teóricos
do tema.Antes de tudo,a adolescência é uma grande oportunidade.
Oportunidade para o próprio adolescente, pois, em função do seu desen-
volvimento,sua capacidade de aprendizagem é mais veloz e sua abertura para novas
relações possibilita-lhe transcender ao universo familiar. Como sujeito que vai
ampliando sua autonomia diante do mundo, o adolescente abre-se para novas
experiências,enfrentando desafios e propondo-se a participar como parte da solução
dos seus próprios problemas e dificuldades.
Oportunidade para a família, que passa a ter um sujeito que, além de demandar
atenção e cuidados, pode contribuir na tomada de decisões; ajuda na solução de
problemas; insere a família em novos contextos culturais, artísticos e de lazer; e
interage de forma mais crítica, levando os pais e adultos a reverem suas atitudes,
posturas e valores.Toda a família cresce e evolui quando o adolescente encontra nela
um espaço de realização. O mito de que a adolescência é uma fase de ruptura com a
família não se sustenta quando observamos o resultado da pesquisa “A voz dos
adolescentes” (Unicef, 2002), que demonstrou que, entre diferentes formas de
8 Saber Viver >> [Profissionais de Saúde]
Adolescência
como oportunidade 
A
MÁRIO VOLPI
OFICIAL DE PROJETOS DO UNICEF NO BRASIL E
COORDENADOR DO PROGRAMA CIDADANIA DOS ADOLESCENTES
expressão, 95% dos adolescentes afirmaram ser a família o seu principal espaço de
realização e de prazer, onde se sentem bem, onde buscam apoio e onde se sentem
valorizados.
A adolescência é também uma grande oportunidade para a comunidade. Grupos
de adolescentes fazendo teatro, música, esportes, defendendo o meio ambiente,
debatendo as questões relativas à sexualidade, produzindo seus próprios meios de
comunicação,organizando ações de voluntariado e assumindo responsabilidades nos
grupos e associações comunitárias dão vida às comunidades e constituem-se em
verdadeiros atores sociais capazes de modificar para melhor o lugar onde vivem. São
adolescentes comunicadores que,na rádio comunitária,no jornalzinho que circula na
escola e no grupo de teatro que debate questões como a violência, movimentam
toda a comunidade com idéias novas e abordagens diferenciadas para velhos temas,
gerando uma dinâmica de descobertas dos valores,da cultura,da história e das pessoas
da comunidade que, em geral, são esquecidas pela supervalorização dos produtos
culturais da sociedade de consumo.
A adolescência é também uma grande oportunidade para as políticas públicas.A
escola,os programas de saúde,de assistências social,de trabalho,de cultura,esporte
e lazer,dentre outros,podem se transformar em espaços de experiências profundas
de cidadania, desde que sejam capazes de favorecer o diálogo, a participação e a
presença dos adolescentes com seus saberes,desejos, sonhos e vivências.
As experiências de participação de adolescentes na gestão das políticas públicas
como, por exemplo, nos Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente,
demonstram que a simples presença de adolescentes nas plenárias do conselho
modifica a agenda,obriga a um debate mais objetivo e pragmático e traz a discussão
das políticas públicas para o cotidiano de suas necessidades e direitos.
Portanto, os mais de 21 milhões de adolescentes brasileiros representam uma
grande oportunidade de desenvolvimento e mudanças positivas para o país.Tratá-los
como problema implica reprimir todas as forças criativas e construtivas presentes
nesta fase da vida.Tratá-los como cidadãos, sujeitos de direitos e atores sociais com
uma contribuição específica para a sociedade, contribuirá para fazer um mundo
melhor para todos.
[Profissionais de Saúde] << Saber Viver 9
Grupos de 
adolescentes dão
vida às 
comunidades e
constituem-se em
verdadeiros
atores sociais
capazes de 
modificar para
melhor o lugar
onde vivem
VIVIANE MANSO CASTELLO BRANCO
PEDIATRA – MESTRE EM SAÚDE PÚBLICA COLETIVA – GERENTE DO PROGRAMA
DE SAÚDE DO ADOLESCENTE DA SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE-RJ
u,que era apenas uma menina de cabeça baixa,perce-
bi que conseguia fazer tudo o que queria: consegui
dar apoio às meninas grávidas, dei informações, con-
segui dar amor e,melhor,consegui me sentir útil.Ago-
ra, vejo a vida com outro olhar.Aprendi que devemos
lutar pelos nossos objetivos" (Branco et al. 2003). O
depoimento de C., jovem de 18 anos, mãe de dois filhos e promotora de saúde do
Adolescentro da Maré, no Rio de Janeiro, ilustra porque diferentes trabalhos (Costa,
1999;Brasil,1999) têm apontado o protagonismo juvenil como estratégia privilegiada
para promover a saúde e o desenvolvimento do adolescente e da comunidade na qual
está inserido. O envolvimento direto do adolescente no planejamento,implementação
e avaliação das ações aumenta sua auto-estima, favorece sua autonomia, amplia suas
oportunidades de desenvolvimento pessoal e profissional,melhora sua qualidade de
vida e contribui para dar legitimidade e relevância ao trabalho do setor saúde junto
a outros jovens.
Embora a experiência venha mostrando a relevância da atuação dos adolescentes
como promotores de saúde nas unidades de saúde e na comunidade, a implantação
dessa proposta não é simples. Para que os profissionais incentivem a participação do
adolescente,é preciso que aceitem a sua autonomia e percebam o que é ser jovem na
sociedade atual e as contribuições que os adolescentes podem dar. Exige, portanto,
uma nova relação dos profissionais de saúde com eles mesmos,com os adolescentes
e com os demais setores da sociedade.A avaliação do Programa de Saúde do Adoles-
cente da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro,realizada em parceria com
o NESC/UFRJ (Branco,2002), identificou alguns dos elementos que dificultam a par-
ticipação dos adolescentes nos serviços de saúde.Ao estudar os sentidos que os pro-
fissionais de saúde atribuem à saúde do adolescente, percebe-se uma ênfase muito
grande na informação. Dessa forma,os profissionais valorizam o seu próprio trabalho,
e a crença na sua capacidade de mudar comportamentos,deixando em segundo pla-
no o papel da sociedade,da família e dos próprios adolescentes em promover a saú-
de.Além disso, ao descreverem o adolescente que sua unidade atende, destacam as
10 Saber Viver >> [Profissionais de Saúde]
Os adolescentes 
nos serviços de saúde
E“
carências em detrimento de suas poten-
cialidades. Essas posturas dificultam uma
relação mais horizontal com os adoles-
centes. Por outro lado,o mesmo estudo
mostrou importantes avanços como a
valorização do trabalho em equipe e a
ênfase na disponibilidade do profissio-
nal,na escuta e na adequação da unidade
às necessidades dos adolescentes como
elementos importantes na captação,
adesão e qualidade na atenção.
Para que se possa avançar na promo-
ção da autonomia,da saúde e do bem es-
tar dos adolescentes e ampliar suas opor-
tunidadesde participação é fundamental
que os serviços de saúde:
� garantam espaços democráticos
de planejamento, avaliação e troca de
experiências entre os trabalhadores da
unidade. Se os profissionais não opinam
sobre o seu próprio trabalho, como
podem abrir espaço para a participação
dos adolescentes ou de qualquer outro
usuário? As atividades devem favorecer
uma reflexão sobre o papel dos profis-
sionais frente ao adolescente,à família e
à comunidade, de forma a promover
mudanças;
� propiciem a seus trabalhadores
oportunidades de reflexão e auto-conhe-
cimento, abrindo para os profissionais
de saúde novas possibilidades de trans-
formação e crescimento pessoal em ou-
tras áreas que estão além do intelecto
(Branco e Robin, 2002). É importante
que eles possam repensar valores, dese-
jos,sentimentos,surpreender-se consigo
mesmos e descobrir suas próprias poten-
cialidades,sua criatividade e capacidade
de transformação. Só dessa forma pode-
rão valorizar as potencialidades dos ado-
lescentes e estar disponíveis para im-
plantar as inovações propostas por eles;
� percebam que o adolescente não
é "propriedade" de nenhum serviço em
especial.Toda a unidade deve se respon-
sabilizar pelos adolescentes,capacitando-
se para lidar com suas especificidades
individuais, culturais e sociais, mesmo
que haja profissionais mais interessados
e preparados para lidar com esse grupo.
O intercâmbio entre os programas, os
serviços e os usuários de diferentes
gerações é essencial para uma aborda-
gem mais holística.Um adolescente soro-
positivo,por exemplo,além de ser acom-
panhado pelo serviço específico, deve
poder participar dos grupos de adoles-
centes e das demais atividades culturais,
esportivas e lúdicas desenvolvidas pelos
parceiros. Pouco adianta organizar um
serviço de qualidade, se as diferentes
portas de entrada da unidade (como o
balcão,o guarda,o setor de Imunizações,
o teste de gravidez,entre outros) afastam
os adolescentes por desrespeitarem os
princípios básicos do atendimento;
� resguardem o sigilo e a confiden-
cialidade como elementos fundamentais
para a captação e adesão dos adolescen-
tes ao serviço;
� consigam dar visibilidade aos ado-
lescentes que já freqüentam a unidade
de saúde,como clientes ou como acom-
panhantes, aproveitando ao máximo
todas as oportunidades para divulgar e
facilitar o acesso às atividades que o
serviço oferece;
� respeitem as singularidades relati-
vas à idade,gênero,raça/etnia,condição
sócio-econômica, vínculos familiares,
domicílio, incapacidades,escolaridade e
trabalho,entre outras;
� utilizem metodologias participati-
vas que promovam o desenvolvimento
de habilidades e favoreçam a reflexão e
a troca de experiências;
� estabeleçam parcerias e projetos
integrados com outros setores de forma
a ampliar sua atuação junto aos adoles-
centes, criar retaguardas e oferecer
acesso a atividades profissionalizantes,
esportivas, artísticas e de convivência
comunitária;
� ampliem gradativamente os espa-
ços de participação dos adolescentes
nos serviços,ouvindo e implementando
suas propostas e criando parcerias com
grupos organizados de jovens.
Só o esforço integrado dos diferentes
atores poderá tornar os serviços de
saúde mais aptos a interagir com os
adolescentes, incentivando a sua
participação nas atividades de aconse-
lhamento e promoção de saúde desen-
volvidas na unidade e na comunidade.
Dessa maneira, estarão criando oportu-
nidades para que outros jovens de cabe-
ça baixa possam erguê-la e encarar a vida
de forma mais construtiva e otimista.
Referências Bibliográficas:
COSTA, A.C.G. O Adolescente como Protagonista. In:
SCHOR,N; MOTA, M.S.T; BRANCO, V.C (org). Cadernos de
Juventude, Saúde e Desenvolvimento. Brasília: Ministério da
Saúde, 1999.
BRASIL. Saúde e desenvolvimento da juventude brasileira:
construindo a agenda nacional. Brasília: Ministério da Saúde,
Secretaria de Políticas de Saúde, 1999. 
BRANCO, V.M.C., ROBIN, M. Contribuindo para o
desenvolvimento pessoal do profissional de saúde. Saúde em
foco. Rio de Janeiro, n.23, julho/2002.
BRANCO, V.M.C. Emoção e razão: os sentidos atribuídos
por profissionais de saúde à atenção ao adolescente.
Dissertação de Mestrado em Saúde Coletiva. Rio de Janeiro:
Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva, Universidade Federal do
Rio de Janeiro, 2002.
BRANCO, V.M.C; COUTINHO, M.F.G.C; MEDEIROS, d.C.;
PEREIRA,A.R. Fomentando a participação dos adolescentes.
Anais do VII Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva. ABRASCO,
2003.
[Profissionais de Saúde] << Saber Viver 11
s adolescentes atravessam um processo dinâmico e
complexo de mudanças.As transformações do cor-
po, o surgimento de novas habilidades cognitivas e
seu novo papel na sociedade são determinantes do
questionamento dos valores que os cercam. Muitas
vezes se predispõem a novas experiências, que po-
dem ameaçar sua saúde,como por exemplo,exposição a risco de acidentes,relações
sexuais desprotegidas e uso de drogas.
A assistência aos adolescentes e jovens nos serviços de saúde não deve ser desvinculada
do contexto em que vivem.Houve mudanças significativas no perfil de morbi-mortalidade
neste grupo populacional, com aumento de agravos que poderiam ser evitados por
medidas de promoção de saúde e prevenção, como a aids. Cabe aos profissionais de
saúde incluir medidas preventivas como componente fundamental de sua prática clínica.
A equipe de saúde
A atenção integral à saúde de adolescentes e jovens requer a abordagem de
profissionais de diversas disciplinas que devem interagir através de um enfoque multi
ou interdisciplinar. O trabalho multidisciplinar tem como principal característica a
prestação do serviço a uma mesma população através da interconsulta ou referência.
Essa atuação, mesmo com uma boa interação entre os componentes da equipe, é
realizada de forma independente, às vezes em diferentes locais e na maioria das
situações com a visão apenas de sua própria especialidade e/ou disciplina.
O trabalho interdisciplinar é centrado no sujeito,não havendo limites disciplinares.
Define-se a equipe interdisciplinar como um conjunto de profissionais de diferentes
disciplinas que interatuam para prestar o atendimento ao cliente. Ele permite uma
discussão conjunta.As decisões são compartilhadas e tomadas dentro das diferentes
perspectivas,resultando em uma proposta de intervenção mais eficaz.
A recepção nos serviços de saúde
A acolhida aos adolescentes e jovens nos serviços deve ser cordial e compreensiva,
para que se sintam valorizados e à vontade,buscando garantir sua adesão ao serviço,
12 Saber Viver >> [Profissionais de Saúde]
A consulta do
adolescente e jovem
O
LUIZA CROMACK1, MARIA HELENA RUZANY2,
ELOÍSA GROSSMAN3, STELLA TAQUETTE4
1 GINECOLOGISTA E OBSTETRA. MESTRADO EM SAÚDE COLETIVA PELO NESC/UFRJ
2.DIRETORA DO NÚCLEO DE ESTUDOS DA SAÚDE DO ADOLESCENTE (NESA)
3 E 4. PEDIATRAS DO NESA
que deve ser permanentemente acessível. Muitas vezes, eles têm dificuldades em
respeitar os horários de agendamento, determinando que o serviço construa
mecanismos de organização mais flexíveis. Vale lembrar que toda a equipe está
envolvida neste acolhimento e deve estar capacitada para o mesmo: segurança,
porteiro, recepcionista, auxiliar de enfermagem
A adequação do espaço físico
Em geral, os adolescentes preferem uma sala de espera exclusiva para sua
utilização nos horários de atendimento. Esse espaço deve ser, acima de tudo,
acolhedor e confortável para os clientes e seus acompanhantes. Isto pressupõe
locais amplos, bem ventilados e limpos, adequados para o desenvolvimento de
atividades de grupo que podem ter múltiplos objetivos,tais como a apresentaçãodo
serviço, integração com a equipe e educação para a saúde. O acesso a materiais
educativos (livros, revistas, vídeos, programas de informática) é de grande valor
porque, além de facilitar a troca de informações, ajuda a aproveitar o tempo livre e
permite o desenvolvimento de autonomia nas escolhas. Divulgação dos serviços
existentes e local para distribuição de preservativos,bem como materiais específicos
sobre DST/aids e práticas sexuais mais seguras devem estar disponíveis.
A entrevista – características do profissional de saúde
Independentemente da razão que faz com que o adolescente/jovem procure o
serviço de saúde, cada visita oferece ao profissional a oportunidade de explorar
outros aspectos de sua vida,contribuindo para a detecção,reflexão e resolução de ou-
tras questões distintas do motivo principal da consulta.A entrevista deste usuário e
sua família ou acompanhante é um exercício de comunicação interpessoal, que
engloba a comunicação verbal e a não-verbal.Além das palavras,deve-se estar atento
às emoções, gestos, tom de voz e expressão facial do cliente. É importante formular
perguntas que auxiliem a conversação, buscando compreender sua perspectiva,
afastar preconceitos, evitando fazer julgamentos, especialmente no que diz respeito
à abordagem de determinadas temáticas como sexualidade e uso de drogas.
O profissional de saúde não deve ficar restrito a obter informações sobre o motivo
focal que levou o adolescente ao serviço de saúde,mas oferecer um espaço de escuta,
para que o adolescente se sinta à vontade para trazer dúvidas e anseios, que muitas
vezes escondem-se em uma dor física.
As ações preventivas como componentes da consulta
É importante trocar informações com os adolescentes a respeito de seu
crescimento físico e desenvolvimento psicossocial e sexual. Deve ser discutida a
importância de se tornarem ativamente envolvidos em decisões pertinentes aos
cuidados de sua saúde, como uso de preservativos e outros métodos para evitar
gravidez, adesão a tratamentos etc.As consultas são momentos privilegiados para o
aconselhamento de práticas sexuais responsáveis e mais seguras.Também se tornam
um espaço de esclarecimento de dúvidas,de conversa sobre a importância do afeto,
do cuidado e do prazer nas relações e de aconselhamento sobre situações de risco
para abuso sexual.
O consumo de cigarros,álcool ou drogas ilícitas e anabolizantes deve ser abordado
nas consultas para reflexão e encaminhamento. Outros assuntos importantes são as
dificuldades na escola e no trabalho. Essa abordagem deverá ser desenvolvida de
[Profissionais de Saúde] << Saber Viver 13
forma criativa,não se revestindo de um caráter inquisitivo. Não há obrigatoriedade de
esgotar todos os tópicos em uma única ocasião.
A familia
É importante estar disponível para atender o paciente e sua família sem
autoritarismos, promovendo uma relação profissional horizontal. De forma ideal,
devem existir dois momentos na consulta: o adolescente sozinho e com os fami-
liares/acompanhantes. Entrevistar o adolescente sozinho cria a oportunidade de es-
timulá-lo ao diálogo,buscando que se torne,de forma progressiva,responsável por sua
própria saúde e pela condução de sua vida.A entrevista com a família é fundamental
para o entendimento da dinâmica e estrutura familiar e para a elucidação de dados da
história pregressa e atual. Bem como inserir a família/cuidadores no acompanhamen-
to e apoio do adolescente,construindo um vínculo de parceria entre equipe de saúde
– familiares e adolescente. É fundamental que o adolescente e a família tenham cla-
ro o papel confidencial e sigiloso da consulta do adolescente, que é o foco da equi-
pe, sem o que ficaria comprometida toda a assistência.
Trabalho de grupo/dinâmicas
É bastante interessante que todo o serviço voltado para adolescentes possa
desenvolver práticas educativas de grupo. Estas práticas visam proporcionar um
espaço de troca de vivências, no qual o adolescente possa sentir-se à vontade para
trazer suas dúvidas e compartilhá-las com o grupo. Neste espaço, trabalha-se com o
conhecimento trazido pelos participantes buscando a construção do conhecimento
daquele grupo. Para isso, são utilizadas técnicas lúdicas, tais como desenho, corte e
colagem, dramatização, exposição de vídeo entre outras.A coordenação idealmente
é realizada por dois profissionais de saúde capacitados, de qualquer categoria
profissional. O adolescente sugere os temas a serem discutidos e estabelece con-
juntamente com a coordenação as normas de funcionamento do grupo. São temas que
sempre surgem:conhecimento do corpo,gênero,sexualidade,namoro,masturbação,
virgindade,contraceptivos e DST/aids.
O grupo deve ter duração máxima de duas horas para não perturbar a rotina de
adolescentes e cuidadores,e a confidencialidade é um ponto a ser marcado. É uma ati-
vidade de que os adolescentes gostam muito e que complementa o trabalho da
consulta individual. O mesmo trabalho pode também ser realizado com familiares e
cuidadores.
Conclusão
O momento da consulta dos adolescentes e jovens,bem como das atividades de
grupo, deve ser aproveitado pela equipe de saúde para a troca de informações. A
equipe deve ter em mente que,tratando-se de uma população em constante mudança,
é necessário que,para aumentar a efetividade dos serviços,exista uma preocupação
de conhecer o que está em transição e os novos costumes adotados.
Outra questão,que muitas vezes os serviços evitam adotar,é a maior participação
do usuário na gestão e na atenção prestada. Com esse grupo etário,o distanciamento
poderá significar a pouca compreensão das normas e condutas, diminuindo a
aderência ao serviço e às atividades planejadas. É muito importante que o adolescente
sinta que faz parte daquele serviço e ajude a construí-lo.
14 Saber Viver >> [Profissionais de Saúde]
A atenção integral 
à saúde de 
adolescentes e
jovens requer a
abordagem de
profissionais de
diversas disciplinas
que devem interagir
através de um
enfoque multi ou
interdisciplinar
oucas são as unidades que possuem serviço ou setor voltado
para a assistência ao adolescente. Normalmente,os serviços
de Medicina do Adolescente estão em hospitais universi-
tários e a maioria dos programas de aids não conta com es-
sa opção de assistência.
Para muitos profissionais de saúde,os adolescentes são
pessoas desagradáveis, mal educadas e intratáveis. A
intolerância e o despreparo de muitos profissionais dificultam e podem inviabilizar o
acesso do jovem aos cuidados necessários.
O serviço que recebe pessoas soropositivas entre 10 e 20 anos deve contar com
profissionais que gostem de trabalhar com adolescentes e que estejam preparados
especificamente para acompanhar portadores de HIV.A identificação de profissionais
com essas características é o ponto de partida para o trabalho.A complexidade da
demanda faz com que seja indispensável o trabalho em equipe. Não queremos aqui
propor nenhuma fórmula ou composição formal de equipe, mas pelo menos duas
pessoas precisam estar envolvidas e disponíveis para a assistência a adolescentes
HIV +. Podem ser dois médicos, um médico e um enfermeiro, um médico e um
psicólogo ou assistente social. O ideal é que essas pessoas estejam articuladas às
diferentes formas de assistência que podem ser necessárias (SAE, Hospital Dia,
internação e atendimento domiciliar) e que mantenham o contato com os pacientes
mesmo quando eles forem transferidos temporária ou definitivamente para esses
serviços. O objetivo deve ser prestar assistência integral ao adolescente HIV+ desde
o momento do diagnóstico até o fim da adolescência (idade variável) quando ele
poderá ser transferido para um programa de aids geral, dentro da mesma unidade e
às vezes com a mesma equipe.A experiência do Hospital dos Servidores 
do Estado do Rio de Janeiro
O atendimento a adolescentes soropositivos no Hospital dos Servidores do Estado
ocorre no serviço de Doenças Infecciosas e Parasitárias (DIP). O hospital não conta
com serviço específico para adolescentes. Definimos,no ambulatório geral do DIP,um
horário específico para atendê-los.
[Profissionais de Saúde] << Saber Viver 15
Como atender o
adolescente
soropositivo
Maria Letícia Santos Cruz
MÉDICA PEDIATRA E INFECTOLOGISTA DO SERVIÇO DE DOENÇAS INFECCIOSAS DO
HOSPITAL DOS SERVIDORES DO ESTADO DO RJ P O serviço devecontar com profissionais quegostem de 
trabalhar com
adolescentes e
que estejam
preparados
especificamente
para acompanhar
portadores de HIV
A equipe é composta por uma
médica infectologista e uma pediatra,
uma psicóloga e duas enfermeiras. O
serviço de DIP conta com uma assistente
social e com setores de SAE,internação,
Hospital Dia e atendimento domiciliar.
Os adolescentes têm consultas
mensais no DIP, geralmente no dia em
que é desenvolvida uma atividade em
grupo. O início dos anti-retrovirais é
adiado enquanto o estado clínico e imu-
nológico (contagem de células CD4)
permitirem. Sempre que possível,
optamos por usar esquemas simplifica-
dos, com drogas que possam ser usadas
uma ou duas vezes ao dia. Todos são
tratados de acordo com o Guia de Trata-
mento Clínico da Infecção pelo HIV em
adultos e adolescentes do Programa
Nacional de DST/aids do Ministério da
Saúde.
No serviço de DIP do Hospital dos
Servidores do Estado, são atendidos
adolescentes provenientes de dois pro-
gramas:aids pediátrico e ambulatório de
prevenção de transmissão vertical do
HIV.Apesar de terem em comum o vírus,
são populações com características bem
distintas.
Da Imunopediatria 
para o DIP
Os pacientes da Imunopediatria
normalmente já são acompanhados
naquele setor há alguns anos e estão
habituados ao ambulatório e enfermaria
de Pediatria. Os pediatras,muitas vezes,
adiam ao máximo a transferência desses
pacientes para o programa de adolescen-
tes. São jovens que, em alguns casos,
apresentam atraso no desenvolvimento
somático e emocional decorrentes da in-
fecção e de situações de perdas asso-
ciadas ao HIV. A transferência geralmen-
te só se concretiza quando se torna
inevitável,como na necessidade de uma
internação hospitalar que não pode mais
ocorrer na enfermaria de pediatria. Nes-
sas situações, a internação tem sido tra-
balhada pela equipe como uma opor-
tunidade de aproximação do jovem com
o serviço do DIP,devido à possibilidade
de contatos diários entre o paciente e
diferentes profissionais. Esses pacientes
geralmente já estão em uso de anti-re-
trovirais e nessa ocasião a administração
das drogas deve ser revista pela equipe,
que identifica quem é o responsável por
"se lembrar" dos remédios.Normalmente
um adulto ou irmão mais velho tem essa
responsabilidade e o adolescente pode
ou não estar comprometido com seu
tratamento. Durante esses primeiros
contatos, o comprometimento com o
próprio tratamento é estimulado.
Outro problema com os adolescen-
tes provenientes do programa de aids
pediátrico é que eles,por vezes,chegam
ao nosso ambulatório ainda sem conhe-
cer sua condição de portador de HIV.
A revelação do diagnóstico pode
levar bastante tempo ou se completar
em poucas consultas.Tudo depende da
resposta do adolescente, à medida que
damos as informações. Logo nas primei-
ras consultas, conversamos na presença
dos pais sobre o que o novo paciente
sabe a respeito do problema que o traz
tão freqüentemente às consultas. Deixa-
mos claro para os pais que vamos preci-
sar informar o adolescente sobre sua
condição de HIV + . Nem sempre os pais
aceitam bem a idéia neste momento. Às
vezes, a família precisa de um tempo
antes da revelação.
Gravidez precoce e HIV
As meninas provenientes do
ambulatório de prevenção de trans-
missão vertical do HIV (onde a cada ano
cresce o número de gestantes infectadas
entre 13 e 18 anos) chegam ao serviço
precisando lidar com dois fatos novos
em suas vidas: a maternidade precoce
(apesar de algumas vezes desejada e até
planejada) e a infecção pelo HIV. O
serviço oferece testagem para os
parceiros das gestantes e aqueles com
diagnóstico positivo para o HIV que
estão na mesma faixa etária das parceiras
também são admitidos para acom-
panhamento.
Grupos de discussão
Desde o início,tivemos a proposta de
formar um grupo de adolescentes que
favorecesse a discussão e a troca de
experiências entre jovens com o mesmo
"desafio". Mas o grupo demorou mais de
oito meses para se formar.Durante os pri-
meiros meses, o encontro dos jovens
ocorreu apenas na sala de espera do
ambulatório,pois a freqüência era muito
irregular e a resistência ao acompanha-
mento era patente. Apesar de conversa-
rem muito pouco entre si, eles percebe-
ram que aquele espaço/horário era
destinado a eles e que o serviço os estava
acolhendo. Nesses primeiros meses,eles
tiveram acesso a atendimentos indivi-
duais com a médica,a psicóloga e a enfer-
meira. Com o tempo,esses encontros in-
formais facilitaram a formação do grupo.
Desde que tiveram início, em 2002,
os encontros em grupo têm acontecido
regularmente e são agendados uma vez
16 Saber Viver >> [Profissionais de Saúde]
Procuramos afinar
o conhecimento
dos profissionais
sobre adolescência
e discutir os casos
regularmente
O adolescente infectado pelo HIV
através de transmissão sexual ou uso de
drogas injetáveis,após a puberdade,pare-
ce ter curso clínico semelhante ao do
adulto. Entretanto,um número crescente
de crianças infectadas perinatalmente
pelo HIV está atingindo a adolescência e
apresenta curso clínico diferente dos
adolescentes infectados mais tardiamente.
A prescrição de medicação anti-retro-
viral deve ser adaptada de acordo com o
estadiamento da puberdade. Para isto,
utiliza-se a escala de Tanner. O adoles-
cente nas fases iniciais da puberdade
(Tanner I e II) deve ser tratado segundo
as recomendações pediátricas,enquanto
aquele em fase adiantada de maturação
sexual (Tanner V) deve seguir as reco-
mendações estabelecidas para os adultos.
Nas fases intermediárias (Tanner III e IV),
o tratamento deve ser individualizado a
critério médico. As rápidas transfor-
mações biológicas observadas nos adoles-
centes requerem adequações posológicas
freqüentes, monitorando toxicidade e
eficácia do regime anti-retroviral em uso.
Os adolescentes precisam conhecer sua
condição de infectados pelo HIV e ser
totalmente informados sobre os diferentes
aspectos e implicações da infecção,a fim de
cumprirem adequadamente as orientações
médicas. Além disso, necessitam ser
orientados sobre os aspectos de sua
sexualidade e os riscos de transmissão
sexual aos seus parceiros. Finalmente,
devem ser encorajados a envolver seus pais
ou responsáveis em seu atendimento.
A adesão do adolescente à terapia anti-
retroviral sofre a influência de algumas
peculiariedades observadas nessa faixa
etária, tais como: a negação e o medo de
sua condição de infectado pelo HIV;a de-
sinformação; o comprometimento da
auto-estima; o questionamento sobre o
sistema de saúde e a eficácia da tera-
pêutica e as dificuldades em obter apoio
familiar e social.
Com a finalidade de melhorar o acom-
panhamento clínico e a adesão ao trata-
mento,sugerem-se as seguintes estratégias:
� Preparar adequadamente o adoles-
cente para a revelação do diagnóstico,de
preferência com suporte psicológico;
� Negociar um plano de tratamento
em que haja envolvimento e com-promisso do adolescente, informando-o
adequadamente sobre questões ligadas
ao prognóstico;
� Buscar a participação da família,
amigos e, eventualmente, de instituições
para apoiá-lo durante seu tratamento;
� Estimular a criação de grupos de
discussão entre a clientela de adoles-
centes atendida pelo serviço;
� Na escolha do regime anti-
retroviral, considerar não somente a po-
tência, mas também a viabilidade do
esquema, levando em conta a como-
didade posológica;
� Esclarecer sobre a possibilidade de
efeitos colaterais e conduta frente a
eles.
por mês. Para ser convidado a participar
do grupo, o adolescente precisa co-
nhecer seu estado de portador do HIV.
Os assuntos tratados no grupo são
sugeridos pelos adolescentes. O termo
HIV surgiu desde o primeiro encontro e
raramente deixa de ser o centro das
discussões. Os principais temas abor-
dados em grupo têm sido:preconceitos,
medo de contar o diagnóstico a familiares
e amigos, contar ou não contar para os
namorados,o impacto do diagnóstico em
suas vidas, o que significam os exames
que fazem periodicamente (CD4 e carga
viral) e a possibilidade do vírus se tornar
resistente aos medicamentos.
O entrosamento da equipe de profis-
sionais é fundamental para o bom anda-
mento deste trabalho. Procuramos afinar
o conhecimento dos profissionais sobre
adolescência e discutir os casos regular-
mente. Algumas noções sobre aspectos
práticos ao longo da adolescência po-
dem ser úteis.
[Profissionais de Saúde] << Saber Viver 17
Adolescentes e o
tratamento antiretroviral 
(modificado do Guia de Tratamento Clínico da Infecção pelo HIV em Crianças 2002/2003)
Jorge Andrade Pinto
PROF. ADJUNTO DO DEPARTAMENTO DE PEDIATRIA E COORDENADOR DO GRUPO DE AIDS MATERNO INFANTIL DA FACULDADE DE MEDICINA DA UFMG
uando traba-
lhamos com
adolescentes
soropositivos,
notamos que
há, tanto na
parte clínica
como na psi-
cossocial,uma
grande dife-
rença entre os adolescentes de trans-
missão vertical e adolescentes de
transmissão horizontal.
Os adolescentes do primeiro grupo,
ou seja,infectados através da transmissão
mãe / filho,são adolescentes que durante
sua vida já foram submetidos a segui-
mento e tratamento,deles próprios e de
seus pais. Estão convivendo com pais
doentes ou já são órfãos. São cuidados
por familiares ou estão institucionaliza-
dos. Esta população é tratada com muito
cuidado e poupada,na maioria das vezes,
do seu diagnóstico,crescendo e chegan-
do à adolescência sem ter o conhecimen-
to do porquê do constante acompanha-
mento médico e da medicação utilizada.
Esses adolescentes, devido às con-
dições em que são cercados durante o
crescimento,apresentam,na maioria das
vezes, um retardo em seu desenvolvi-
mento psicossocial. Há uma resistência
por parte de familiares e cuidadores da
revelação diagnóstica,apesar da tentativa
dos profissionais de saúde (médicos,
psicólogos) de convencer os cuidadores
do quanto é importante que o adoles-
cente saiba da sua condição sorológica
para que possa tomar as rédeas de seu
próprio tratamento,de seu cuidado e do
próximo.
Os adolescentes de transmissão hori-
zontal,ou seja, infectados por via sexual,
usuários de drogas endovenosas e
infectados por sangue e hemoderivados,
com exceção desses últimos, que têm
por parte da família e do serviço de saúde
um tratamento e cuidados semelhantes
ao de transmissão vertical, apresentam
um comportamento de sua parte e do
serviço de saúde, totalmente diferente.
Os adolescentes infectados por via
sexual e uso de drogas endovenosas não
têm, via de regra, um atraso no desen-
volvimento psicossocial.São,em sua maio-
ria,originários de famílias desestruturadas
e das quais não recebem apoio.
Quando esses adolescentes, por
alguma razão,procuram o serviço de saúde
e é pedido um teste para HIV (muitos são
adolescentes grávidas que fazem o teste
no pré-natal),o resultado lhe é passado sem
nenhum preparo prévio, mesmo tendo
este adolescente a mesma idade do ado-
lescente de transmissão vertical,como se o
fato de praticar sexo ou usar droga, os
preparassem para receber um resultado
deste porte.
Acredito que,devido ao aumento do
número de adolescentes vivendo com
HIV/AIDS, é a hora propícia para que,
juntos,os profissionais de saúde e esses
adolescentes discutam uma melhor abor-
dagem e o melhor momento, por parte
da equipe profissional e dos familiares
em revelar o diagnóstico, para que pos-
samos ter um resultado mais promissor
no tratamento, na socialização e na
qualidade de vida.
18 Saber Viver >> [Profissionais de Saúde]
A diferença entre quem se
infectou pelo HIV por
transmissão vertical ou horizontal
Marinella Della Negra
SUPERVISORA DA 2ª UNIDADE DE INTERNAÇÃO DO INSTITUTO DE INFECTOLOGIA EMÍLIO RIBAS
Q
prática do aconselhamento desempenha um pa-
pel fundamental no contexto da epidemia da aids
e se reafirma como uma tecnologia de cuidado
estratégico para o momento da revelação do diag-
nóstico do HIV e na promoção da integralidade na
atenção à saúde.
O trabalho no campo da aids tem,por um lado,demonstrado a falência do modelo
técnico-científico-normativo,prescritivo e coercitivo – que é insuficiente para atender
as necessidades das pessoas que vivem e convivem com a aids. E,por outro lado,tem
revelado o quanto faltam respostas no cotidiano dos profissionais de saúde, em
especial no atendimento ao adolescente com HIV/aids. Com certeza, não teremos
respostas para tudo, mas é importante entendermos o aconselhamento como uma
tecnologia estratégica, que favorece o emergir de respostas indispensáveis para o
processo de cuidado à saúde, à medida que o profissional estimula a autonomia e
liberdade do adolescente para expressar suas questões,utilizando seu conhecimento
para escutá-lo melhor e pensar com ele em como podem resolver o seu problema.
O aconselhamento é uma ação em saúde que implica a construção de uma relação
de confiança mútua e o estabelecimento do diálogo "profissional – adolescente" e
"profissional – família – adolescente".Prima pela utilização de linguagem acessível,pela
confidencialidade e o respeito às diferenças e à cidadania. Desta forma, contribui
para que temas relacionados à aids,difíceis e necessários de serem abordados,como
sexualidade, morte, uso de drogas, tabus, estigma e preconceitos, fluam mais
naturalmente.
As principais características do processo de aconselhamento são a ESCUTA e a
TROCA. Escutando os anseios e medos do adolescente, reconhecendo suas crenças
e valores,podemos conhecê-lo melhor. Do mesmo modo, trocando saberes, afetos e
experiências, podemos perceber os limites e também as possibilidades que o
[Profissionais de Saúde] << Saber Viver 19
Revelação do diagnóstico
e aconselhamento em
HIV/aids
A O aconselhamentoé uma ação em
saúde que implica a 
construção de uma
relação de confiança
mútua e o 
estabelecimento do
diálogo “profissional
– adolescente” e 
“profissional – família
– adolescente”
Débora Fontenelle1, Denise Serafim2 e Sandra Filgueiras3
1MÉDICA CLÍNICA GERAL DO HUPE-UERJ (NÚCLEO DE EPIDEMIOLOGIA ) 
E GERÊNCIA DE DST/AIDS DA SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DO RIO DE JANEIRO (SMS), 
2 ASSESSORA TÉCNICA DA UNIDADE DE PREVENÇÃO DO PNDST/AIDS,
3 PSICÓLOGA SANITARISTA DA ASSESSORIA ESTADUAL DE DST/AIDS - SES/RJ 
adolescente tem para lidar com as adversidades do viver com o vírus da aids. O
aconselhamento implica uma reflexão conjunta,na qual o adolescente é estimulado
a participar ativamente e, junto com o profissional, encontrar recursos para o alívio
do sofrimento físico e psíquico. Pressupõe o acolhimento do sofrimento que o
adolescentetraz e o entendimento de seu contexto de vida.
O momento da revelação do diagnóstico pelo HIV é uma situação crucial para o
adolescente e pode gerar ansiedade e estresse para o profissional de saúde.A postura
acolhedora do profissional no processo de aconselhamento contribui para uma
melhor condução deste momento. Este processo implica CONHECER.
Quem é o adolescente com HIV/aids que estamos atendendo?
� aquele que adquiriu o HIV por transmissão mãe-filho; pelo uso de drogas
injetáveis;por transfusão sanguínea;por transmissão sexual;que descobriu ter
o vírus durante a gravidez; ou que ainda desconhece seu diagnóstico porque
a família não quer / não consegue contar;
� aquele que reage a esta situação com raiva,revolta,desespero,tristeza,negação,
passividade,ou que consegue lidar com sua condição de soropositivo;
� aquele que não tem com quem contar ou o que tem o apoio da família e/ou de
uma rede social;
� aquele que faz parte de algum grupo social (escola, igreja, rua ...) ou não faz
parte de nenhum grupo;
� que se culpa ou culpa o outro;
� que gosta de usar drogas;
� que tem namorado(a),companheiro(a) e tem vida sexual
Qual é a maior preocupação deste adolescente?
� fazer parte de um grupo, ter amigos,namorado(a);
� a revelação do diagnóstico para os outros;
� ser discriminado;
� ser abandonado;
� o medo da morte;
� o exercício da sexualidade;
� como viver uma relação afetiva,constituir família.
Conhecendo o adolescente,podemos contextualizar melhor nossas mensagens à
sua vivência e torná-las mais eficazes. Na continuidade do processo de
aconselhamento,aspectos como as dúvidas,o saber,crenças,valores,anseios e medos
deste adolescente potencializam o diálogo, contribuindo para que a orientação de
medidas preventivas seja mais compatível a sua realidade. É importante realizar uma
avaliação de risco com o adolescente,ajudando-o a identificar as situações que vivencia
em relação ao HIV/aids e outras DST,para evitar ou,pelo menos,minimizar os riscos,
de acordo com as suas possibilidades e limites.
Cada adolescente é capaz de despertar diferentes sentimentos em nós,
profissionais. Muitas vezes,nos sentimos impotentes quando os pais não permitem a
revelação do diagnóstico ao adolescente, quando o adolescente não quer revelar o
diagnóstico à parceria sexual. Ficamos ansiosos em abordar aspectos da sexualidade,
nos sentimos culpados pela não adesão do adolescente a medidas de prevenção e ao
20 Saber Viver >> [Profissionais de Saúde]
O momento da
revelação do 
diagnóstico pelo
HIV é uma
situação crucial
para o 
adolescente e
pode gerar
ansiedade e
estresse para o
profissional de
saúde
tratamento e podemos até identificar o adolescente com nossos próprios filhos etc.
Para o aconselhamento fluir, é importante que possamos, além de conhecer o
adolescente, identificar nossos sentimentos e dificuldades durante o atendimento,
evitando ruídos na comunicação e até iatrogenia. Compartilhar com a equipe nossas
dúvidas e sentimentos pode nos ajudar na condução do atendimento. Neste sentido,
entendemos que a construção de uma prática interdisciplinar é de suma importância
para o aprimoramento da atenção. Contar com uma equipe interdisciplinar facilita a
abordagem de questões complexas e, muitas vezes, difíceis de serem tratadas por
um único profissional.
Também a participação da família, de pessoas mais próximas e dos parceiros/as
sexuais do adolescente é fundamental para garantir a integralidade e a resolutividade
da ação.Todos precisam de atenção e apoio emocional para se integrar ao processo
de assistência do adolescente.
Por fim, cabe ressaltar o quanto é comum na assistência ao adolescente com
HIV/aids, principalmente nos infectados por transmissão vertical, uma tendência a
adiar a comunicação de sua condição sorológica. Muitos deles chegam a passar anos
tomando anti-retrovirais sem saber explicitamente o seu diagnóstico. Com o
argumento de "proteger" o adolescente,a família e os profissionais de saúde se tornam
cúmplices no "silêncio" da questão, o que pode implicar a infantilização deste
adolescente. Observamos aí uma enorme dificuldade dos pais e profissionais,adiando
o enfrentamento desta situação e a abordagem de temas como sexualidade,
reprodução,consumo de drogas,doença e morte, supostamente mais "reservados" à
vida adulta.
É importante lembrar que, como qualquer pessoa, o adolescente tem direito de
saber seu diagnóstico. O aconselhamento pressupõe uma postura de acolhimento e
respeito por parte do profissional,para estabelecer o diálogo,apesar das diferenças.
Trata-se de procurar uma comunicação clara e objetiva, dando instrumentos ao
adolescente para cuidar da sua saúde com autonomia e liberdade.
Referências bibliográficas:
CN DST/AIDS. COORDENAÇÃO NACIONAL DE DST E AIDS, 1997. Aconselhamento em DST, HIV e Aids: Diretrizes e
Procedimentos Básicos.
ABIA. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA INTERDISCIPLINAR DE AIDS, 2003. Reflexões sobre Assistência à Aids – Relação Médico-
Paciente, Interdisciplinaridade, Integralidade.
PAULO FREIRE. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. Editora Paz e Terra: 1996. p. 127-137.
[Profissionais de Saúde] << Saber Viver 21
As dúvidas, 
o saber, crenças,
valores, anseios
e medos deste 
adolescente 
potencializam 
o diálogo, 
contribuindo 
para que a
orientação de
medidas 
preventivas seja
mais compatível 
a sua realidade
O atendimento 
em sala de espera
ASSISTÊNCIA INTEGRAL À GESTANTE HIV+
atendimento à gestante com HIV+ iniciou-se em
1996 no Instituto de Puericultura e Pediatria Marta-
gão Gesteira (IPPMG),uma unidade da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) que passou a ser
uma das referências para o Programa de Assistência
Integral à Gestante HIV+ no Estado do Rio de Janeiro. No programa atuam dois
infectologistas,um obstetra,duas enfermeiras,uma assistente social,uma nutricionista
e uma psicóloga. À exceção dos médicos,os demais profissionais realizam também o
atendimento de sala de espera.
Em relação à estratégia proposta como sala de espera,é importante destacar que
a mesma ocorre em um espaço físico restrito no Setor Materno Infantil,onde as ges-
tantes aguardam o atendimento.
Os encontros têm como objetivo trabalhar as informações e vivências, pois
consideramos que, a partir dos sentimentos mais clarificados, há possibilidade de
melhor absorção das informações e conseqüentemente uma perspectiva de adesão
ao acompanhamento,visando evitar a transmissão vertical.
No tocante à adolescência,cabe ressaltar que esta é uma fase de mudanças e desco-
bertas.Na busca de sua identidade individual e grupal,os adolescentes vivenciam cada vez
mais cedo novos valores comportamentais relacionados à afetividade e vida sexual que,
associados à pouca valorização para percepção de risco e o limitado acesso efetivo às in-
formações sobre sexualidade,DSTs,aids e drogas,acabam tornando-os mais vulneráveis.
O despreparo dos serviços de pré-natal em oportunizar um atendimento específico
à gestante adolescente, por diferentes justificativas, acaba retardando o início do
acompanhamento e conseqüentemente observa-se demora na realização dos exames,
dentre eles a testagem para o HIV. Como unidade de referência,recebemos em média
seis adolescentes por mês na faixa de 14 a 18 anos para a confirmação de diagnóstico
de HIV.Não raro,no segundo ou terceiro trimestre de uma gestação não planejada,não
desejada ou rejeitada pela família,isso quando há referência desta e com agravante de
22 Saber Viver >> [Profissionais de Saúde]
O
Representação da adolescente no grupo, sobre
a expectativa do filho ser HIV negativo
EQUIPE DA SALA DE ESPERA DO INSTITUTO DE PUERICULTURA (IPPMG) DA UFRJ:
IRAÍNAFERNANDES DE ABREU FARIAS (ENFERMEIRA)
MARIA DE FATIMA LAGO GARCIA (PSICÓLOGA)
REGINA TIRRE CARNEVALE MERCADANTE (ENFERMEIRA)
VERÔNICA MEDEIROS DA COSTA (NUTRICIONISTA)
VIRGINIA HELANE DE ALMEIDA XIMENES (ASSISTENTE SOCIAL)
não terem recebido adequado aconse-
lhamento pré e pós-teste HIV, como
recomendado pelo Ministério da Saúde.
Diante da confirmação do diagnós-
tico, é oferecido à gestante o espaço do
grupo como parte do seu acompanha-
mento.Em nossos encontros,observamos
várias situações conflituosas a partir de
colocações feitas pelas adolescentes ou
por seus responsáveis, que estão relacio-
nadas à: descoberta e aceitação do dia-
gnóstico;revelação do resultado ao com-
panheiro e/ou familiares; início do
tratamento; uso do preservativo; sigilo;
preconceito;direitos e benefícios sociais;
mudança dos hábitos alimentares; lazer,
drogas lícitas e ilícitas; os horários da
medicação;a impossibilidade de amamen-
tar; cuidados no pós-parto com o corpo;
adesão ao acompanhamento do recém
nato; fortalecimento da cidadania e pers-
pectiva de futuro.
Constatamos, ao longo desses anos, a
necessidade de atendermos as adolescen-
tes de forma diferenciada, considerando
as particularidades da fase vivenciada.
Sendo assim, destacamos a importância
em priorizar cada vez mais o acon-
selhamento pré e pós-teste HIV como
marco inicial na trajetória do diagnóstico
e manutenção do acompanhamento em
relação à condição de ser adolescente,
estar grávida e com diagnóstico de HIV,
como garantia da qualidade de vida atual
e futura. Porém,tal não ocorre conforme
preconizado.
Cabe ressaltar a importância da cons-
trução em equipe, de uma abordagem
específica, levando em conta, entre
outros,os seguintes aspectos:
� Assegurar a abordagem multipro-
fissional;
� Acolher desde o atendimento
inicial;
� Estimular o comparecimento de
um responsável no atendimento;
� Considerar as informações prévias
quanto à infecção do HIV/aids,mé-
todos contraceptivos, uso do pre-
servativo etc;
� Esclarecer dúvidas mencionadas e
veladas;
� Sensibilizar o responsável para o
acompanhamento à adolescente
na gestação e pós-parto;
� Estimular o resgate do vínculo
familiar;
� Garantir sigilo;
� Orientar quanto aos cuidados
necessários ao recém-nato;
� Incentivar a continuidade do
acompanhamento da adolescente
e da criança;
� Interagir com as coordenações de
áreas visando assegurar os fluxos
de encaminhamentos precoces;
� Estimular a inclusão em programas
específicos à adolescência.
Devemos destacar que as reações e
sentimentos, mesmo estando a adoles-
cente "assistida", poderão estar fragmen-
tados e suscetíveis às interferências
alheias, e suas expressões podem nos
levar à reflexão...
"O profissional me tratou como uma
tábua ao me falar do resultado do
exame de HIV" 
"Estou me sentindo um ET"
"Meu pai disse que estou bichada"
"Estou preocupada com o que eu
vou falar quando me perguntarem por
que não estou dando o peito"
"Eu não sabia que estava fazendo
esse exame"
"Você tem aids. Procure este
hospital, aqui está o endereço"
"Pensei que ia morrer no dia
seguinte"
"Aqui é o único lugar que posso
conversar, só tenho vocês pra falar
sobre isso..."
Acreditamos que o trabalho em
equipe que valoriza as atividades em
grupo nas discussões sobre a infecção
pelo o HIV junto às adolescentes propor-
ciona novas reflexões sobre a prevenção,
para uma qualidade de vida melhor. O
grupo de sala de espera revela-se um
espaço promissor como estratégia educa-
tiva e terapêutica, pois possibilita o tra-
balho em equipe e a caminhada para a
atuação interdisciplinar.
[Profissionais de Saúde] << Saber Viver 23
"Se trago as mãos distantes do meu peito,
é que há distância entre intenção e gesto."
(Fado Tropical – Chico Buarque & Ruy Guerra)
pesar dos três temas do título possuírem uma
estreita correlação óbvia no discurso,a maneira
como nós, governo, profissionais e sociedade,
agimos em relação a cada um deles é de forma
totalmente dissociada e perigosa.
Entendemos a sexualidade como o exercí-
cio da vida com prazer. Exercemos nossa sexua-
lidade quando intencionalmente colocamos
prazer em nossas relações com o mundo e com
nós mesmos. O prazer é um ato intencional da
subjetividade humana, o qual consiste em dar
um sentido e um significado específico a uma sensação, que pode ser agradável,
desagradável ou neutra. No entanto,o prazer não se reduz a esta sensação. Enquanto
para alguns a sensação de queimação intensa de uma pimenta malagueta pode ser uma
experiência extremamente desagradável, para outros a mesma sensação se constitui
num imenso prazer. O que diferencia as duas experiências é o significado dado pelo
sujeito da experiência a esta sensação. Do mesmo modo, apesar do estupro ser uma
relação sexual,a vítima não exerce sua sexualidade nesse momento.O prazer produzido
em um relacionamento sexual consensual parece até o momento não ter precedentes
comparativos,mesmo levando em conta seus efeitos colaterais.A gravidez não planejada
e as DSTs, tendo a aids como a mais recente e mais temida,são seus efeitos colaterais
mais comuns e perseguem a humanidade até os dias de hoje. Enquanto o homem
paga o preço das DSTs,a mulher sofre com os dois.A gravidez não planejada sempre
foi o preço que a mulher, casada ou não, teve que pagar pelo exercício de sua
sexualidade, ou, quando pior, por sofrer o exercício da sexualidade do homem pela
violência ou por seus "deveres matrimoniais",o que de fato é a mesma coisa.
As tentativas para se evitar uma gravidez na história da humanidade vão desde o
coito interrompido,provavelmente a maneira mais antiga,que mesmo interrompido
era e continua sendo pecado, passando por vários métodos de barreira, como as
primeiras camisinhas utilizando intestinos de animais,até os métodos mais eficientes
atualmente,como a camisinha de látex,os contraceptivos orais e o DIU.
24 Saber Viver >> [Profissionais de Saúde]
Sexualidade,
uso do preservativo e direito reprodutivo
Valdi Craveiro Bezerra
CLÍNICO DE ADOLESCENTES (HEBIATRA), PSICOTERAPEUTA, TERAPEUTA DE FAMÍLIA.
COORDENADOR DO ADOLESCENTRO CENTRO DE REFERÊNCIA, PESQUISA, CAPACITAÇÃO E ATENÇÃO À ADOLESCÊNCIA E FAMÍLIA - DF
A
A camisinha, quando usada corretamente, isto é, sem falha no uso e no
acondicionamento, oferece uma proteção de 99% contra a aids e de 100% para
gravidez não planejada. Considerando as possibilidades de ruptura e deslizamento
intravaginal,o uso da camisinha durante um ano oferece uma proteção para a gravidez
não planejada de 97% se usada de forma correta, e de 86% se for usada sem muitos
cuidados (Trussel e col,2001). Este mesmo autor calculou que a economia feita com
o uso de camisinha por ano por adolescente sairia em média de 946 dólares para o
setor privado e de 525 dólares para o setor público. O custo anual calculado por
adolescente para uma gravidez foi de 1.079 dólares e de 188 dólares com tratamento
para DST,num total de 1.267 dólares para o setor privado e de 677 dólares (541 para
gravidez e 137 com tratamento para DST) para o setor público. (Trussell e col,1997a
e 1997b).A conclusão lógica é que o uso da camisinha é seguro, eficiente e muito
econômico para qualquer governo que invista em seu uso,no entanto,tanto a gravidez
quanto a aids estão aumentando na faixa etária da adolescência. Costumamos
responsabilizar os adolescentes por estas taxas, sem nos perguntarmos por nossa
participação neste fenômeno.
Neste momento entramos no chamado direito reprodutivo, o que significa que
temos o direito de escolher se queremos ou não ter filhos. Para garantir uma escolha
ou outra, lançamos mão dos métodos contraceptivos,ea camisinha é um deles. Com
isso fechamos o ciclo: sexualidade, uso do preservativo e direito reprodutivo. Até
agora parece uma simples lógica matemática,mas a questão é que,em outras palavras,
direito reprodutivo quer dizer que nós, inclusive "nós adolescentes", temos o direito
de nos relacionarmos sexualmente sem termos que pagar com uma gravidez não
planejada ou uma doença sexualmente transmissível pelo pecado de exercermos
nossa sexualidade. A questão é que, na verdade, não concedemos esse direito aos
nossos filhos adolescentes.
Se nossa preocupação como pais, profissionais de saúde, educadores, governo e
sociedade em geral fosse de fato evitar os danos causados por uma gravidez não
planejada ou uma DST/aids, o uso da camisinha como solução para diminuir estes
enormes problemas de saúde pública deveria ser estimulado e principalmente
viabilizado.A camisinha deveria ser distribuída segundo a necessidade de cada um,em
todos os locais de encontros, como as escolas, quartéis, locais de diversão, e
principalmente nos serviços de saúde.
Apesar das campanhas freqüentes para o uso da camisinha, nós, profissionais da
saúde,educação e governo,sistematicamente desenvolvemos formas de distribuição
que são verdadeiras maratonas cheias de constrangimentos,que parecem planos bem
elaborados para afastarmos nossos adolescentes do exercício de uma sexualidade
protegida. Para um adolescente obter 6 camisinhas,dependendo do serviço de saúde,
deverá marcar uma consulta com um médico ou enfermeira e ser cadastrado,o que
significa declarar que já está tendo relacionamento sexual. Toda esta dificuldade
criada é justificada pela necessidade de fazer uma educação sexual e de obter uma
estatística. Esta desculpa,no entanto,pode estar encobrindo a verdadeira razão dessa
estratégia,que é o controle ao exercício da sexualidade do adolescente.
Em agosto de 2003,o governo lançou um projeto dos Ministérios da Educação e
da Saúde para disponibilizar camisinhas para colégios da rede pública de ensino,que
comprovarem que seus alunos já recebem educação sexual. Imediatamente surgiram
"profissionais" questionando a distribuição, afirmando que isso seria um estímulo à
relação sexual desenfreada,ou que a distribuição por si só não resolveria o problema,
[Profissionais de Saúde] << Saber Viver 25
Se nossa 
preocupação como
pais, profissionais
de saúde,
educadores, 
governo e
sociedade em geral
fosse de fato evitar
os danos causados
por uma gravidez
não planejada ou
uma DST/aids, o
uso da camisinha
deveria ser 
estimulado e 
principalmente
viabilizado
e outras asneiras mais. Não duvidamos que a educação sexual seja a estratégia mais
importante e eficiente. A questão é que a mesma não sai do papel há mais de 20
anos,pela mesma necessidade de controle da sexualidade do outro. Com isso,criaram-
se dois problemas. O primeiro é que alguns de nossos filhos adolescentes, seguindo
nossos passos iniciados com o advento do contraceptivo oral na década de 60, já
saltaram do avião e já estão tendo relações,queiramos ou não. Em plena queda livre,
nós ficamos discutindo sobre quem empurrou, se realmente era a hora de saltarem,
ou concluímos que está tudo errado e que não deveriam ter feito isso,que deveriam
ter tido aulas de pára-quedismo antes. Nessa situação,o mais sensato e honesto que
temos de fazer é perguntar: "alguém sabe como abrir um pára-quedas?". — Nossa
obrigação é garantir que nossos adolescentes cheguem são e salvos até embaixo, e
com eles vivos, sem danos, discutirmos todas as outras opções. Em outras palavras,
devemos proceder com a distribuição de camisinhas de forma livre e sem
constrangimentos – o pára-quedas. O outro problema diz respeito à turma que ainda
não subiu no avião. São os adolescentes que ainda não iniciaram sua atividade sexual
e, se continuarmos a não fazer nada a respeito, como educação para um exercício
saudável da sexualidade sem problemas,inexoravelmente,ficarão na mesma situação
dos que já estão pulando.
No Adolescentro, disponibilizamos a camisinha na sala de espera em uma caixa
confeccionada para este fim, para quem quiser pegar seu preservativo. Além dos
adolescentes,os pais,mães,tios,avós pegam camisinhas para outros filhos,sobrinhos,
netos e amigos. A cada dia somos gratos a essas pessoas maravilhosas, nossos
verdadeiros multiplicadores no combate contra a aids e a gravidez não planejada,por
fazerem nossa tarefa. Em nenhum momento, nenhum pai ou mãe questionou nossa
atitude. As únicas reações contrárias a esta forma de distribuição vieram dos
profissionais. O mais interessante é que,com este fornecimento de livre demanda,as
questões sobre métodos contraceptivos aumentaram em todas as consultas. Se um
adolescente faz da camisinha um balão de festa,de duas uma:1) Este ato é um ótimo
indicador de uma dificuldade na sua relação com ele mesmo e com o mundo,aí nós
podemos ajudá-lo, ou 2) será pura gozação (merecida) sobre nossa maneira
compulsiva de querer controlar a sexualidade dos outros.
Referências bibliográficas:
TRUSSELL J, KOENIG J, ELLERTSON C, STEWART F. (1997a) Preventing unintended pregnancy: the cost-effectiveness of three
methods of emergency contraception. Am J Public Health, Jun; 87(6):932-7 
TRUSSELL J, KOENIG J, STEWART F, DARROCH JE (1997b) Medical care cost savings from adolescent contra-ceptive use.
Fam Plann Perspect, 1997 Nov-Dec;29(6):248-55, 295.
TRUSSELL J, WIEBE E, SHOCHET T, GUILBER E. (2001) Cost savings from emergency contraception pill en Canada. Obstet
Gynecol, May;97(5Pt1):789-93. 
26 Saber Viver >> [Profissionais de Saúde]
No Adolescentro,
disponibilizamos 
a camisinha na
sala de espera ...
nenhum pai ou 
mãe questionou
nossa atitude.
As únicas reações
contrárias vieram
dos profissionais
[Profissionais de Saúde] << Saber Viver 27
PEDIATRIA OU AMBULATÓRIO DE ADULTOS
O espaço ideal para
o adolescente soropositivo
Sidnei Pimentel
INFECTOPEDIATRA DO AMBULATÓRIO DE PEDIATRIA E HOSPITAL-DIA DO
CENTRO DE REFERÊNCIA E TREINAMENTO EM DST/AIDS DE SÃO PAULO
alvez um dos tópicos mais discutidos quando se aborda a ques-
tão do atendimento ao adolescente soropositivo é o espaço
ideal para isso. Nesse momento, duas correntes principais se
distanciam: uma defende o seguimento em ambulatório de
pediatria, principalmente motivada pela questão do vínculo
como fator imprescindível para a aderência; a outra é a favor
do seguimento no ambulatório de adultos,uma vez que os adolescentes não se sen-
tiriam bem ao ser atendidos num ambiente voltado para a pediatria,com brinquedos
espalhados e gravuras de bonequinhos nas paredes. Lembremos ainda que falamos de
uma população heterogênea: de um lado, as crianças infectadas por transmissão
vertical,acompanhadas desde a infância e que adolesceram;de outro,aqueles adoles-
centes que adquiriram a doença já nesta fase da vida através de relações sexuais,uso
de drogas ou por via sangüínea.
Em verdade,o espaço ideal para o seu atendimento seria aquele especificamente
criado para a clientela de adolescentes. Ou seja: uma equipe multidisciplinar e
interdisciplinar treinada para as especificidades dos adolescentes, num espaço com
características especiais e atividades voltadas para aquela faixa etária.
Por "equipe multidisciplinar e interdisciplinar treinada" se entende aquela formada
por profissionais de diversas áreas capazes de se inter-relacionar e abordar as questões
específicas surgidas na adolescência, como as dificuldades de adesão, o sigilo do
diagnóstico, o afloramento da sexualidade, a lipodistrofia, o medo do preconceito e
da discriminação etc.
O espaço físico ideal seria aquele que não lembrasse um ambiente infantil (uma
vez que é comum no adolescente o conflito entre manter

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