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História da Arte Contemporânea Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Profa. Ms. Rita Garcia Jimenez Revisão Textual: Profa. Ms. Alessandra Fabiana Cavalcanti Duchamp, Neodadaísmo, Novo Realismo e Arte Conceitual • Introdução • Para Compreendermos a Importância de Duchamp • Neodadaísmo • Combines • Novo Realismo • Ives Klein: Criador e Criatura • Arte Conceitual • Conceitualismo anos 70 • Caminhos para a Arte Conceitual no Brasil • Neoconcretismo • Liberdade, liberdade • Arte Conceitual no Brasil · Conhecer os aspectos conceituais, históricos e estéticos de Marcel Duchamp, do Neodadaísmo, do Novo Realismo e da Arte Conceitu- al no mundo e no Brasil. · Apreciar, analisar significativamente, ler e criticar manifestações artís- ticas contemporâneas. · Valorizar a pesquisa sobre os aspectos conceituais, históricos e esté- ticos da Arte Conceitual. · Valorizar a arte como construção de conhecimento e de cultura. OBJETIVO DE APRENDIZADO Duchamp, Neodadaísmo, Novo Realismo e Arte Conceitual Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como o seu “momento do estudo”. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo. No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Duchamp, Neodadaísmo, Novo Realismo e Arte Conceitual Contextualização Existem pessoas que mudaram (e mudam) o mundo com suas ações, obras, ideias... Na arte, não é diferente!! E, Marcel Duchamp (1887-1968), é uma dessas pessoas. Ao lado de Pablo Picasso, influenciou e mudou os rumos da arte ocidental. Picasso encarnou e profetizou as mutações registradas no mundo no início do século XX com suas obras e, Duchamp, quebrou todos os paradigmas que ainda sustentavam as obras de arte, questionando as próprias regras da arte. Ao incluir o intelecto, o corpo e o espectador na criação e na recepção da arte e de privilegiar o conceito em favor de concepções tradicionais de estilo e beleza, o artista francês desenhou, pintou e construiu o futuro da arte. A partir de Duchamp a arte nunca mais foi a mesma. Por isso, a importância de estudá-lo; e muito. Mas, o mundo é um eterno mutante e, como tal, ávido por transformações. Foi assim, também, com o Neodadaísmo e com o Novo Realismo que, como os próprios nomes indicam, buscaram o novo. Esses caminhos levaram invariavelmente à Arte Conceitual, nos anos 1960/1970. Também designada como arte da ideia, do pensamento ou da informação, transmitida por propostas escritas, fotografias, documentos, mapas, filme e vídeo, pelo uso do próprio corpo dos artistas, performances, instalações ou até fórmulas matemáticas. Um mundo rico, inesgotável e, muitas vezes, incompreendido. Por isso, mais uma vez, é importante conhecê-lo. E é isso que faremos a partir de agora. Bom estudo! 8 9 Introdução Gosto da palavra crer. Em geral, quando alguém diz eu sei, não sabe, acredita. Creio que a Arte é a única forma de atividade pela qual o homem se manifesta como indivíduo. Só por ela pode superar o estado animal, porque a Arte desemboca em regiões que nem o tempo nem o espaço dominam. Viver é crer – ao menos é isto o que eu creio. Marcel Duchamp (1887-1968). Por que o artista francês Marcel Duchamp (1887-1968) é citado como referência em grande parte dos movimentos, contramovimentos, vanguardas e estilos de arte no século XX? Por que ele é fundamental na passagem da arte moderna para a arte contemporânea? E, por que ainda influencia a arte? As perguntas são muitas, mas a resposta parece ser uma só: Duchamp foi um artista sempre à frente de seu tempo. Entre tantos aspectos que o diferenciam estão o questionamento das regras da arte, o fato de ele incluir o intelecto, o corpo e o espectador na criação e na recepção da arte e de privilegiar o conceito em favor de concepções tradicionais de estilo e beleza. Mas, talvez, a obra de Duchamp, alquímica por excelência, seja toda sua vida, que serve de modelo para todas as novas vanguardas do segundo pós-guerra, do New Dada às experiências de recuperação do corpo como expressão artística, na intenção de fazer coincidir arte e vida. (ARGAN, 1992, p. 661) De 1907 a 1910, o artista realiza uma série de telas à maneira impressionista, logo depois, se aproxima de Cézanne; em 1911, passa pelo Cubismo, e prati- camente encerra suas pinturas em 1912 com A noiva, sua obra-prima como pin- tor de óleo sobre tela, ponto culminan- te de uma longa série de pinturas que se iniciou em 1910 com Casal jovem na primavera. Ele está cercado por pinto- res, poetas e escritores. Seus dois irmãos, Jacques e Raymond, são pintores e escul- tores. Participa dos movimentos Surrea- lismo e Cubismo – ao menos das discus- sões – e pelo convívio com os escritores André Breton e Guillaume Apollinaire. Passa pela Alemanha, em 1912, e pelo movimento Dadá. Duchamp rompe com a prática estética da pintura e se declara “antiartista”. Inicia-se, então, a sua gran- de aventura. Fig. 1 – A noiva (1912), de Marchel Duchamp, óleo sobre tela (0,8 m x 0,5 m) Fonte: Wikimedia Commons 9 UNIDADE Duchamp, Neodadaísmo, Novo Realismo e Arte Conceitual Para Compreendermos a Importância de Duchamp Fig. 2 – Duchamp e sua Roda de bicicleta (1913), durante exposição em Pasadena (Estados Unidos), em 1963 Fonte: Julian Wasser, Pasadena, 1963 Em 1913, Duchamp apresenta Roda de bicicleta, seu primeiro readymade – termo criado por ele que identifica objetos funcionais fabricados industrialmente, exibidos como obras de arte em galerias e em museus, com pouca ou nenhuma alteração. O artista descontextualiza as implicações codificadas pela arte, assumindo o objeto comum como “arte”, por ser o próprio artista a assumi-lo, deslocando a ênfase do objeto para o artista. “Pode alguém fazer obras que não sejam ‘de arte’?”, questionou. Ao expor objetos industrializados e cotidianos como uma roda de bicicleta ou um mictório, em Fonte (1917), Duchamp mostra que a ação do artista mais o deslocamento desse objeto para espaços expositivos o torna uma obra de arte. Fonte (1917) é o readymade mais famoso de Marcel Duchamp. O artista comprou um urinol masculino em uma loja, assinou como “R. Mutt” e o enviou para a seleção do Salão dos Independentes, mostra de artes em Nova York. O objeto foi recusado, mas entrou para a história como uma das referências artísticas do século XX. Fig. 3 – Fonte (1917), de MarcelDuchamp, objeto Fonte: Wikimedia Commons Ex pl or As pessoas reagiram a isso com indignação e perplexidade. A partir desse momento, o estranhamento passou a fazer parte da relação das pessoas com a arte. O papel do espectador, que havia mudado, uma vez que o ato de contemplar uma obra já não bastava mais, a percepção deu lugar à interpretação e o olhar passou a exigir o pensamento, uma ação intelectual. O desejo de Duchamp de confrontar o público com seu conceito de arte e as funções do museu – que até 10 11 então destinava-se a acolher obras trabalhadas habilmente pelas mãos dos artistas – o identificou como a pessoa que ampliou os territórios e a natureza artística. “É o observador que faz o quadro”, disse. Duchamp foi curador de arte antes mesmo que essa atividade existisse. Ele entendia que o modo de expor as coisas influenciava as pessoas no entendimento delas. Em uma ocasião, prendeu sacos de carvão no teto de uma galeria, fazendo com que uma fina poeira caísse sobre as pessoas. Em outra vez, solicitou que algumas crianças entrassem na exposição e jogassem bola, causando desconforto a alguns visitantes. Em um jogo de designação, que consiste em escolher um objeto já existente no uso comum e conceder-lhe um coeficiente de arte, o acréscimo pode vir de uma nova montagem, mas também, e mais necessariamente, dos títulos que o acompanham. Em 1915, o artista iniciava a grande obra de sua vida: O grande vidro ou La mariée a nu par ses célibataires, même (A noiva despida por seus celibatários, mesmo), na qual trabalharia até 1923 e continuaria a intervir nela, “para sempre inacabada”, conforme ele afirmou. A obra, desenvolvida em torno de significados místicos e eróticos, joga com a transparência do espaço, com o significado relacionado à alquimia e à simbologia e com o conceito de androgenia, presente em todos os indivíduos. A placa de vidro extrafino oferece ao observador seu próprio reflexo, misturando-se às inscrições gravadas sobre ela. O espectador faz parte da obra. Fig. 4 – O grande vidro ou A noiva despida por seus celibatários, mesmo (1915-1923), de Marcel Duchamp, óleo, verniz, folha de chumbo, fi o de chumbo e pó sobre dois painéis de vidro (2,7 m × 1,7 m) Fonte: Wikimedia Commons De 1946 a 1966, tendo abandonado desde 1923, os readymades, Duchamp dedicou-se quase que ininterruptamente ao jogo de xadrez, uma de suas grandes paixões. Viajou, apareceu no curta-metragem Entr’Acte (1924, de René Clair), juntamente com Francis Picabia, Man Ray e Erik Satie; realizou filmes como Anémic cinema (1927). A partir do final da década de 1940, o artista começou a trabalhar na instalação Etant donée (1947-1966), visível apenas através de um par de buracos em uma porta de madeira. O que se vê é a imagem de uma mulher nua, deitada de costas, com o rosto escondido e as pernas abertas, segurando em uma das mãos uma lâmpada de gás contra uma paisagem de fundo. A obra é composta por uma porta de madeira velha, pregos, tijolos, latão, folha de alumínio, grampos de pasta 11 UNIDADE Duchamp, Neodadaísmo, Novo Realismo e Arte Conceitual de aço, veludo, folhas, galhos, uma forma feminina feita de pergaminho, cabelo, vidro, prendedores de roupa de plástico, tinta a óleo, linóleo, uma variedade de luzes, uma paisagem composta de elementos pintados à mão e fotografados e um motor elétrico alojados em uma lata de biscoitos que gira um disco perfurado. De acordo com a vontade de Duchamp, somente após sua morte, em 1968, que a viúva e o filho permitiram a instalação do trabalho no Museu de Arte de Filadélfia (Estados Unidos), onde foi revelado ao público, em 1969. A obra foi descrita pelo artista norte-americano Jasper Johns (1930-) como “a mais estranha de todas as obras de arte já expostas em qualquer museu do mundo”. Figs. 5 e 6 – Etant donné: 1. La chute d’eau 2. Le gaz d’éclairage (1947-1966), instalação de Marcel Duchamp e a porta pela qual se vê a obra no Museu de Arte de Filadélfia Fonte: Museu de Arte de Filadélfia, 1947-1966 Vejamos o que Calvin Tomkins, autor de Duchamp (Cosac Naify, 2004), escreve sobre o artista: Marcel Duchamp viveu inversamente a relação direta, bastante frequente, entre artista moderno e exposição pública. Tampouco teve uma vida “íntima”, que surpreendesse com inéditas revelações post mortem. Duchamp quase não teve “vida” enfim. Ou teve a vida mais ou menos comum ao indivíduo do século XX, sem glamour. Passou fazendo o mínimo esforço possível. Como dizia, procurava respirar, apenas. O da Vinci da modernidade foi um indivíduo discretíssimo, o reverso da forte personalidade pública de Picasso. O grande iconoclasta da arte moderna era um tímido avesso ao sucesso, que evitou. Irônico, cético e ascético, foi, na terra dos ícones de massa, onde viveu durante meio século, um ilustre desconhecido. Ilustre de fato ele era, para poucos. Antecipador e inspirador da arte contemporânea, dandy possuidor de um só terno, arredio à polêmica e polêmico ainda hoje, foi o artista que, antes de qualquer um, se deu conta do sistema da arte em toda a sua eficácia institucional e ideológica. Com Duchamp entra em crise uma certa visão ingênua e romântica da arte e do artista. (TOMKINS, 2004, p. 7) 12 13 Neodadaísmo No final da década de 1950, havia uma grande tendência na arte em direção à pu- reza formal, como observamos nos abstracionistas pós-pictóricos norte-americanos Kenneth Noland (1924-2010) e Frank Stella (1936-), por exemplo. Entretanto, um grupo de jovens artistas experimentais, muitos residentes em Nova York, ficaram conhecidos como pertencentes ao Neodadá, ou Neodadaísmo, sem jamais terem constituído um movimento artístico organizado. Na realidade, a produção desses artistas recebeu vários rótulos incluindo novos realistas, artistas factuais e artistas do objeto-comum. Em deliberada oposição aos pós-pictóricos, os neodadaístas mescla- ram materiais e mídia, em um espírito de humor, sagacidade e excentricidade. Para artistas como Jasper Johns (1930-), Robert Rauschenberg (1925-2008) – cujas obras abriram caminho para a Pop Art americana, embora Johns nunca te- nha demonstrado interesse pela cultura de consumo de massa –, Larry Rivers (1923-2002), John Chamberlain (1927-2011), Jim Dine (1935-) e o também ex- poente da Pop Art Claes Oldenburg (1929-), en- tre outros, a arte deveria ser expansiva e inclusi- va, apropriando-se de materiais não artísticos, apreendendo a realidade cotidiana e promoven- do a cultura popular. Eles rejeitavam a “alienação e o individualismo” associados aos expressionis- tas abstratos, em favor de uma arte socializante com ênfase na comunidade e no meio ambiente. De forma cooperada, os artistas realizaram proje- tos artísticos em parceria com poetas, músicos e dançarinos e se associaram, em alguns momen- tos, aos novos realistas. A obra conjunta de Larry Rivers e do artista suíço Jean Tinguely (1925-1991), Voltando uma amizade da América e da França (1962), representa, sob vários aspectos, o estilo neodadaísta. Girando como a Terra, ela apresenta a possibilidade e a premência de uma coexistência pacífica e celebra a prática do comércio (simbolizado por maços de cigarros) e a promoção de intercâmbios culturais. O grupo neodadá, como fonte de inspiração, renovou interesse pela obra do francês Marcel Duchamp (1887-1968), sobretudo nos Estados Unidos, com seus readymades; também pelos surrealistas no sentido de transformar o encanto dos objetos cotidianos em uma linguagem pública compartilhada; pelas colagens de Pablo Picasso e, é claro, pela atitude dadaísta de que tudo é válido, a partir da utilização de materiais nada ortodoxos em protesto contra as tradições da arte. Também receberam influências do compositor John Cage, do inventor Buckminster Fig. 7 – Voltando uma amizade da América e da França (1962), de Larry Rivers e Jean Tinguely, pintura a óleo, metal, madeira, motor elétrico e lona (2 m x 1 m x 0,9 m) Fonte: Courtesy Hauser & Wirth,2016 13 UNIDADE Duchamp, Neodadaísmo, Novo Realismo e Arte Conceitual Fuller e do teórico da comunicação Marshall McLuhan. O conceito de McLuhan de “aldeia global” e a ideia de Fuller de uma “terra interplanetária” pareceram, aos artistas, mais voltados ao futuro e à esperança do que aquele oferecido por uma crítica social e pela filosofia existencial, frequentemente fatalistas. Obras neodadaístas fundamentais incluem Washington atravessando o Delaware (1953), de Rivers; as combines de Rauschenberg, produzidas entre 1954 e 1964; e as bandeiras, mapas, alvos e números de Johns. Entretanto, Rivers não foi bem recebido ao apresentar Washington atravessando o Delaware, releitura de renomada tela do século XIX, pois a nova abordagem, com traços do Expressionismo Abstrato, fez com que o artista fosse visto como alguém que tratava com irreverência os mestres do passado. Fig. 8 – Washington atravessando o Delaware (1953), de Larry Rivers, óleo, grafite e carvão (2,12 m x 2,83 m). Fonte: Estate of Larry Rivers/Licensed by VAGA Johns, por sua vez, obteve fama instantânea com sua primeira exposição, em 1958, em Nova York, quando vendeu 18 das 20 obras apresentadas. Ele disse que a ideia de pintar a primeira bandeira americana veio em um sonho. Embora, inicialmente, tenha utilizado esmalte nas pinturas, logo se voltou para a encáustica, na qual a cera se liga ao pigmento. Como escreveu John Cage sobre a obra de Johns: “Olhando de perto ajuda, embora a tinta seja aplicada de modo sensualmente, há o perigo de se apaixonar”. 14 15 Fig. 9 – Bandeira (1954-1955), de Jasper Johns, encáustica, óleo e colagem sobre tela montada sobre madeira compensada (1,07 m x 1,53 m) Fonte: Philip Johnson in honor of Alfred H. Barr, Jr. Fig. 10 – Mapa (1961), de Jasper Johns, óleo sobre tela (1,98 m x 3,14 m) Fonte: Wikimedia Commons Fig. 11 – Alvo com modelos de gesso (1955), de Jasper Johns, encáustica e colagem sobre tela (0,75 m x 0,66 m) Fonte: Coleção Mr. and Mrs. Leo Castelli Combines Robert Rauschenberg: A pintura diz respeito à arte e à vida. Nenhuma das duas pode ser criada. (Tento atuar na brecha existente entre as duas.), (DEMPSEY, A. 2003). Em 1954, Rauschenberg criou o termo combine para se referir a suas novas obras, que possuíam aspectos tanto da pintura quanto da escultura. As obras que se destinavam a ser penduradas em uma parede, como Cama (1955), foram denominadas combine paintings e, outras obras, que se mantinham em pé, como Monograma (1955), simplesmente de combines. Essas são as obras mais famosas e emblemáticas do artista, devido às reações que provocam ao serem expostas. 15 UNIDADE Duchamp, Neodadaísmo, Novo Realismo e Arte Conceitual Fig. 12 – Cama (1955), de Robert Rauschenberg, combine painting Fonte: The Museum of Modern Art, 2013 Cama foi selecionada para ser incluída em uma exposição de jovens artistas americanos e italianos no Festival dos Dois Mundos em Spoleto, na Itália, em 1958. Os responsáveis pelo festival, no entanto, se recusaram a expor a obra e a removeram para um depósito. Pintada sobre uma colcha de retalhos, a combinação de objetos reais, lixa de unha, escova de dentes e uma pintura que se assemelhava ao Expressionismo Abstrato escandalizou o mundo artístico de Nova York da época. A obra proporciona dicas sobre as inspirações de Rauschenberg: colagens de detritos do cotidiano de Kurt Schwitters (1887-1948), readymades de Duchamp e as pinceladas do Expressionismo Abstrato reunidas em assemblages (composição de materiais originais). No ano seguinte, 1959, quando Monograma foi exposto em Nova York, um rico colecionador se ofereceu para comprá-la para o Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), mas a instituição recusou a doação. Atualmente, pertence ao Moderna Museet, de Estocolomo, Suíça. Fig. 13 – Monograma (1955), de Robert Rauschenberg, combine: plataforma de madeira salpicada com tinta, bode empalhado e um pneu (1 m x 1,6 m x 1,6 m) Fonte: Moderna Museet 16 17 Outra combine painting famosa de Rauschenberg é Canyon (1959). O artista utilizou uma águia empalhada (Fig. 14) arrematada em um leilão do espólio de um escultor falecido. O neodadaísta recolhia animais empalhados, em geral, sem saber exatamente onde poderia utilizá-los. Já o dadaísta Marcel Duchamp, ao contrário, preferia objetos industrializados e, a Pop Art, concentrava-se na cultura do consumo. Fig. 14 – Canyon (1959), de Robert Rauschenberg, combine painting (2,07 m x 1,77 m x 0,6 m) Fonte: Robert Rauschenberg Foundation Fig. 15 – Detalhe da águia na obra Canyon, de Rauschenberg Fonte: Robert Rauschenberg Foundation 17 UNIDADE Duchamp, Neodadaísmo, Novo Realismo e Arte Conceitual A popularidade de Rauschenberg aumentou rapidamente perante o público e os artistas. Ele passou a participar de retrospectivas organizadas por museus, no início dos anos 1960, em Nova York e Londres, principalmente. Em 1964, um crítico de arte londrino o descreveu como “o mais importante artista americano desde Jackson Pollock”. No mesmo ano, recebeu o Grande Prêmio Internacional de Pintura na Bienal de Veneza. Após, 1964, distanciou do estilo criado por ele para realizar experiências com serigrafia, tecnologia, dança e performance. A ênfase que os neodadaístas deram à participação e à performance se refletiu no ativismo político e na arte performática no final dos anos 1960. Seu conceito de comunidade mundial antecipou os futuros protestos contra a guerra, em favor do meio ambiente, de manifestações estudantis e pelos direitos civis. Vejamos o que Duchamp fala sobre o movimento: Esse Neodadaísmo, a que eles chamam Novo Realismo, Arte Pop, Assemblage, etc., é uma saída fácil e sustenta-se do que o Dadaísmo fez. Quando descobri os readymades pensei estar desencorajando a estética. No Neodadaísmo, eles tomaram os meus readymades e recuperaram a beleza estética neles. Joguei-lhes o porta-garrafas e o mictório na cara como um desafio... e agora eles os admiram por sua beleza estética! (STANGOS, 1991, p. 163) Novo Realismo O início dos anos 1960, marcou, na França, a criação do movimento Novo Re- alismo, muito em decorrência da percepção de artistas europeus de que a proliferação do Expressionismo Abstrato teria desconectado a arte das realidades sociais. O grupo exami- nava o mundo à sua volta, criando obras que se relacionavam diretamente com a socieda- de urbana e contemporânea. Mudanças po- líticas agitavam a Europa, surgiam avanços tecnológicos surpreendentes em um mundo cada vez mais participativo, mesmo com suas contradições e frustrações. O grupo, formado por Yves Klein (1928-1962), Ar- mand Pierre Fernandez 1928-2005) – co- nhecido como Arman – e Raymond Hains (1926-2005), entre outros, rejeitava o culto do artista associado aos pintores abstratos e encorajava a participação dos espectadores em suas criações. Fig. 16 – Lar doce lar (1960), de Arman, máscaras de gás e caixa de madeira (1,6 m x 1,4 m x 0,2 m) Fonte: Musée National d’Art Moderne, PARIS 18 19 Fig. 17 – Big parade (1976), de Arman, acumulação de trombones (0,9 m x 1,6 m x 0,8 m) Fonte: Arman Studio Em outubro de 1960, na residência de Klein, em Paris, o crítico de arte francês Pierre Restany fundou oficialmente o grupo Novos Realistas. Ele e oito artistas – os franceses Klein, Arman, Hains, François Dufrêne (1930-1982), Martial Raysse (1936-) e Jacques de La Villeglé (1926-), além dos artistas suíços Daniel Spoerri (1930-) e Jean Tinguely (1925-1991) –, assinaram uma declaração como sendo uma plataforma básica que propiciou uma atividade coletiva, mas diferente entre si: “Isto é o Novo Realismo: novas e sensíveis abordagens do real”. Essa definição ampla envolveu uma variada gama de obras. Posteriormente, participaram do movimento outros artistas franceses, italianos e o búlgaro Christo Vladimirov Javacheff (1935-), conhecido como Christo, que, embora tenha participado de inúmeras exposições e festivais dos novos realistas, noinício de sua carreira, não se considerava novo realista. Os novos realistas tinham como objetivo descrever a realidade do cotidiano sem idealização e encontraram inspiração nos dadaístas (mais próximos, ainda, dos neodadaístas), nos readymades de Marcel Duchamp, na estética das máquinas cubistas de Fernand Léger (1881-1955) e nos surrealistas, que encontravam o “maravilhoso” no “comum”. O grupo compartilhou suas inspirações e suas motivações artísticas com colegas norte-americanos como Robert Rauschenberg, Jasper Johns e Larry Rivers, com quem formaram fortes vínculos de amizade. Restany percebeu essa crescente amizade e, em 1961, organizou uma exposição em Paris chamada de Le Nouveau Réalisme à Paris et à New York, que apresentou obras dos novos realistas e dos americanos. O crítico observa: “... o acúmulo de x objetos da mesma natureza sugere outra coisa e mais que um objeto único, considerado isoladamente...”. Estes novos realistas consideram o mundo como um quadro, a grande obra fundamental da qual se tornam certos fragmentos dotados de significado universal. Mostram-nos o real nos diversos aspectos de sua totalidade expressiva. O que se manifesta pelo tratamento dessas imagens objetivas é a realidade toda, o bem comum da atividade dos homens, a natureza no século XX, tecnológica, industrial, publicitária, urbana. (Pierre Restany) 19 UNIDADE Duchamp, Neodadaísmo, Novo Realismo e Arte Conceitual Ives Klein: Criador e Criatura Yves Klein é o mais conhecido de todos os novos realistas, sua variada produção exerceu grande influência em muitas áreas da arte, a partir da segunda metade do século XX como a multimídia, a arte multidisciplinar, a arte performática, o minimalismo, a body art, etc. Ele começou a pintar nos anos 1940, quando ainda era estudante. De 1948 a 1952, viajou pela Itália, pela Inglaterra, pela Espanha e pelo Japão, até se estabelecer em Paris, em 1955. Sua personalidade oferecia vida a tudo que fazia. Em 1957, pintou inúmeros monocromos idênticos em um forte azul (patenteado por ele como IKB – International Klein Blue). Restany interpreta o que era o azul Klein para Yves: “Representa para ele a revelação; é o suporte de instituições que não se encerram em fórmulas, o veículo das grandes emoções, a imagem captada do firmamento e da intimidade do mundo, a lembrança dessa dimensão ‘imaterial’ do universo”. No ano seguinte, 1958, o artista apresenta, em Paris, na galeria Íris Clert, a exposição O Vazio. No dia da abertura, os visitantes – recepcionados por uma banda militar contratada para a ocasião – passavam através de uma cortina tingida de Azul Internacional Klein pendurada na porta da galeria. Ao entrarem na “exposição”, as pessoas se deparavam com um local completamente vazio com as paredes pintadas de branco, sob argumento de que continham a sensibilidade do artista. O propósito, de acordo com Klein, seria criar um clima pictórico invisível. Segundo teorias filosóficas orientais – lembremos que ele viajou pelo Japão –, o vazio é sagrado, faz nascer todas as coisas, é origem e fim. Em 1960, Klein apresentou Antropometrias. A performance mostrava mulhe- res nuas, pintadas com tinta IKB, que se comprimiam em grandes telas colocadas no chão, enquanto uma orquestra executava a Sinfonia Monótona, composta por ele (uma única nota tocada durante 20 minutos, em alternância com 20 minutos de silêncio). A plateia, vestida a rigor, assistia mantendo um silêncio respeitoso. Fig. 18 – Yves Klein prepara uma modelo Fonte: Charles Wilp, 1960 Fig. 19 – Mortalha mundo cão (1961), de Yves Klein, pigmento, resina sintética sobre gaze (2,7 m x 3 m). Fonte: Tudo sobre arte, Sextante, 2011 Fonte: Walker Art Center 20 21 Vejamos o que o historiador da arte Giulio Carlo Argan escreve sobre o artista: Como se vê, não mais se pensa em uma função, mas apenas no compor- tamento do artista no interior da realidade social. Pode parecer uma grave limitação; na verdade, reflete a recusa de considerar a sociedade somente em sua organização com vistas à produção industrial, a vontade de parti- cipar de sua existência global...Este salto foi dado pelo francês Y. KLEIN, com suas sucessivas intervenções espetaculares, que são indubitavelmen- te ‘operações estéticas’, porém, não mais ‘obras de arte’ identificáveis num objeto produzido. Quando Klein enche a superfície da tela com uma única cor, sem a menor variação, certamente está propondo modificar a relação entre o fruidor e o ambiente, mas não agindo sobre o ambiente (“combinando-o” com certa cor, como Rothko e, em outro sentido, Fon- tana), e sim sobre o fruidor, levando-o a “sentir” o ambiente segundo uma determina cor, isto é, a “viver” em azul, rosa ou dourado. Por isso, acen- tua o aspecto espetacular e ritual de seu gesto autoritário, recorrendo, por exemplo, a “pinceis vivos”, ou seja, modelos nus molhados de tinta, que estampam sua marca na parede. É evidente que já não está em jogo uma técnica nem, a rigor, um “estilo”: a operação consiste em atos de escolha, cujos motivos dizem respeito apenas ao artista, mas cujos efeitos agem sobre a sociedade inteira. (ARGAN, 1992, p. 555). Arte Conceitual Em meados dos anos 1960, teve início uma movimentação que definiu toda a produção de artes plásticas na contemporaneidade, denominada de Arte Conceitual, ou Conceitualismo. O termo Arte Conceitual foi criado pelo artista californiano Edward Kienholz (1927-1994), no começo dos anos 60. As pesquisas da nova arte abriam-se em vertentes, às vezes, coincidentes como pesquisa do cerne da linguagem artística e crítica ao estatuto da arte como mercadoria e da realidade social. Havia um posicionamento contra o objeto de arte, visto como artigo de luxo, portátil, valorizável e/ou comercializável. Os meios expressivos artísticos se descolaram dos meios tradicionais, como pintura e escultura. O Conceitualismo visou a mente mais do que o olho. O movimento surgiu como um desafio às classificações impostas à arte por museus e galerias. As galerias afirmavam categoricamente ao público: “Isto é arte”. Já a Arte Conceitual buscava questionar a própria natureza da arte, perguntando: “O que é arte?”, em consonância com as ideias e as obras de Marcel Duchamp (1887-1968). Na realidade, as origens do novo estilo de arte recaem em várias obras e posturas neodadaístas, como as “combinações” de Robert Rauschenberg, a tentativa do neorrealista Yves Klein de voar, documentada em Salto no vazio (1960), e os corpos humanos assinados por Piero Manzoni (1933-1963). 21 UNIDADE Duchamp, Neodadaísmo, Novo Realismo e Arte Conceitual Fig. 20 – Merda de artista (1961), de Piero Manzoni, metal, papel e excremento (4,8 cm x 6,5 cm Ø) Fonte: MAM - Museu de Arte Moderna Em 1961, Manzoni protagonizou um tipo – até então – inusitado e provocativo de ques- tionamento sobre a produção em massa e o consumismo, e da própria natureza da arte. Ele produziu, numerou e assinou 90 latinhas com o rótulo Merda de artista (Fig. 20), que, supostamente, continham seu próprio excre- mento e valiam seu peso em ouro. Como se acreditava que abrir as latas significaria destruir o valor da obra, durante muito tempo não se soube ao certo o que elas continham de fato. Em 2007, depois que algumas foram vendidas por 80 mil dólares, um colaborador de Man- zoni, afirmou a um jornal italiano que as latas continham gesso. Também designada como arte da ideia, do pensamento ou da informação, a Arte Conceitual fazia parte de uma rejeição geral ao tradicional objeto de arte. No lugar dele, surgiu uma ênfase sem precedentes: as ideias, as informações, os temas e os interesses contidos em um só objeto, seriam, a partir de então, transmitidos mais apropriadamente por propostas escritas, fotografias, documentos, mapas, filmes e vídeos, pelo uso do próprio corpo dos artistas, performances, instalações ou até fórmulas matemáticas. Os artistas, muitas vezes, usavam de modo consciente formatos visualmente desinteressantes como intuito de focar a atenção sobre a ideia ou a mensagem central. O resultado foi uma arte que tinha sua existência mais completa e mais complexa nas mentes dos artistas e de seu público, exigindo uma nova forma de atenção e de participação mental por parte do espectador. Ao desprezar o conceito de objeto artístico singular, buscou alternativas para o espaço circunscrito das galerias de arte e, também, para o sistema de mercado do mundo da arte. Definido, inicialmente, em Nova York, logo o termo Arte Conceitual foi aplicado a vários artistas, transformando o estilo em um movimento internacional. Em 1967, o artista norte-americano Sol LeWitt (1928-2007) – também considerado como um dos protagonistas do Minimalismo – escreveu o artigo Parágrafos sobre a Arte Conceitual no qual afirmava que a nova arte era uma inversão de práticas anteriores e que trazia o conceito e as ideias da criação para o primeiro plano, tornando a produção da própria arte algo secundário. Ele a definiu como aquela que “é feita para envolver mais a mente do espectador do que seu olhar ou suas emoções” e declarou que “a ideia em si, mesmo que não se torne visual, é uma obra de arte tanto quanto qualquer produto acabado”. Era seu objetivo declarado remover todos os elementos de acaso e subjetividade, criando obras seriais compostas por números e letras, para serem lidas como narrativas, além de desenhos murais, cujas redes de linhas eram aplicadas por 22 23 qualquer assistente que se dispusesse a seguir as instruções precisas do artista. Para enfatizar a importância da ideia na arte, LeWitt criou várias obras em que o produto final não era visível, como um cubo de metal que enterrou no solo na Holanda, chamado Caixa em um buraco (1968). A peça foi documentada com fotos, mas sua localização exata não foi revelada. Fig. 21 – Projeto serial, I (ABCD) (1966), de Sol LeWitt, cubos dispostos sobre grade (0,5 m x 3,9 m x 3,9 m) Fonte: Sol LeWitt/Artists Rights Society (ARS), New York A Arte Conceitual costumava empregar palavras escritas ou declarações. Joseph Kosuth (1945-), outro destacado artista norte-americano do movimento, usou a linguagem escrita para expressar suas mensagens. Para ele, o desafio do artista consistia em descobrir e definir a natureza e a linguagem da arte. Um dos primeiros exemplos de Arte Conceitual praticada por ele foi a obra Uma e três cadeiras (Fig. 22), de 1965. Kosuth se propunha a conscientizar o espectador sobre a natureza linguística da arte e da realidade, e sobre a interação entre a ideia e sua representação visual e verbal. Ele estimula que o espectador analise como a arte e a cultura são forjadas por meio da linguagem e dos significados e não por meio da beleza e do estilo. Fig. 22 – Uma e três cadeiras (1965), de Joseph Kosuth, instalação: madeira e fotografi a Fonte: Larry Aldrich Foundation Fund 23 UNIDADE Duchamp, Neodadaísmo, Novo Realismo e Arte Conceitual Detalhes da obra Uma e três cadeiras (1965), de Joseph Kosuth 1. Cadeira (Fig. 23) – De madeira, a cadeira foi retirada de seu contexto usual e reconfigurada no ambiente de um museu. Privada de sua função utilitária, recebe um novo significado como objeto de arte para contemplação. A aparência física da cadeira não tem importância, pois uma cadeira diferente é usada e fotografada em cada exposição onde a obra é mostrada. O artista escreveu instruções sobre como as três formas devem ser dispostas. Fig. 23 – Uma e três cadeiras (1965), de Joseph Kosuth, instalação: madeira e fotografia (detalhe) Fonte: Larry Aldrich Foundation Fund Fig. 24 – Uma e três cadeiras (1965), de Joseph Kosuth, instalação: madeira e fotografia (detalhe) Fonte: Larry Aldrich Foundation Fund 2. Fotografia (Fig. 24) – Em preto e branco, a fotografia levanta questões a respeito da verdade e da imitação do espaço de um museu. É a fotografia da própria cadeira que está na obra de arte e, portanto, ela muda sempre que a instalação é montada em um novo local. 3 – Definição de “cadeira” (Fig. 25) – Kosuth foi um dos primeiros artistas a investigar a natureza linguística da proposta artística. A partir da leitura da definição de um dicionário da palavra “cadeira”, o espectador poderá associá-la à cadeira da obra ou, de forma isolada, lembrar de outras cadeiras a partir de sua vivência pessoal. Fig. 25 – Uma e três cadeiras (1965), de Joseph Kosuth, instalação: madeira e fotografia (detalhe) Fonte: Larry Aldrich Foundation Fund Ex pl or Na década de 1960, a Arte Conceitual desafiou o status quo político e cultural. O artista alemão Joseph Beuys (1921-1986) buscava dar visibilidade à autoridade e, às vezes, a desafiava diretamente. Em uma de suas performances mais famosas Como explicar pinturas para uma lebre morta (Fig. 26), realizada, em 1965, na Alten Galerie Schmela, Dusseldorf, Alemanha, ele caminhou pela galeria durante três horas, carregando uma lebre empalhada e sussurrando na orelha do animal 24 25 palavras como se estivesse explicando as obras expostas. Ele cobriu seu rosto com mel e folhas de ouro. Uma chapa de metal foi presa embaixo de seu sapato direito e, na medida em que caminhava, as pessoas que assistiam à performance ouviam um forte estalo no chão. A encenação pretendeu expressar ao público a necessidade de se compreender a arte tanto espiritual quanto intelectualmente. Para o artista, que era professor, essa ideia ia além da galeria e para dentro da sala de aula. Beuys, uma espécie de xamã moder- no, encenou eventos extremamente pes- soais, que muitas vezes tinham caráter de confronto, nos quais ele dramatizou essas questões. Quando lhe perguntaram por que misturava arte com política, respon- deu: “Porque as verdadeiras intenções políticas futuras têm de ser artísticas”. Fig. 26 – Como explicar pinturas para uma lebre morta (1965), de Joseph Beuys, performance na Alten Galerie Schmela, Dusseldorf, Alemanha Fonte: Wikimedia Commons Figs. 27 e 28 – Detalhes da performance de Beuys Como explicar pinturas para uma lebre morta (1965). O público assistindo Fonte: Wikimedia Commons Conceitualismo anos 70 Enquanto grande parte dos primeiros artistas conceituais se preocuparam essencialmente com a linguagem da arte, outros, nos anos 1970, ampliaram seu campo de atuação, produzindo obras que incluíam fenômenos naturais como o americano Robert Barry (1936-), o holandês Jan Dibbets (1941-) e o alemão Hans Haacke (1936-) e os Earth artists (artistas da Terra); obras com narrativas e o contar de histórias permeadas de humor e de ironia como o americano John Baldessari (1931-) e o japonês On Kawara (1933-2014); e obras com críticas às estruturas de poder do universo da arte e, em um plano mais geral, as condições 25 UNIDADE Duchamp, Neodadaísmo, Novo Realismo e Arte Conceitual Fig. 29 - MoMA – Pesquisa de opinião (1970), de Hans Haacke Fonte: Wikimedia Commons sociais, econômicas e políticas do mundo como o belga Marcel Broodthaers (1924-1976) e o britânico Victor Burgin (1941-), entre outros. Obras de Haacke e Broodthaers, por exemplo, destroem o mito de que arte e cultura existem em uma esfera separa- da e apolítica. Suas instalações e outras criações chamam a atenção para a au- toridade das instituições de arte e como isso determina sua produção e recep- ção. A obra sociopolítica de Haacke, baseada na informação, preocupa-se com as ideologias das instituições artís- ticas. Com a obra MoMA – Pesquisa de opinião (1970), o artista convidava os visitantes da exposição a preencher cédulas em resposta a uma pergunta. O conteúdo da mostra dependia das res- postas fornecidas por esses visitantes. Broodthaers, um poeta que se voltou para a arte, examina a condição da representação por meio de obras que se assemelham a quebra-cabeças, nas quais interagem palavras, imagens e objetos. Entre 1968 e 1972, ele fundou, em sua residência em Bruxelas, o seu Museu de Arte Moderna – Departamento de Águias. O primeiro setor, intitulado Século XIX, apresentavacartazes, cartões-postais, embalagens e inscrições com imagens de águias. Em 1972, juntamente com a Seção de Figuras, as peças eram expostas com legendas no estilo de René Magritte (1898-1967) – a quem ele conheceu em 1940 –, nas quais se lia: “Isto não é uma obra de arte”. O museu fictício de Broodthaers desafiava o espectador a refletir sobre os fatores que determinam se um objeto pode ou não ser considerado uma obra de arte e a questionar a versão histórica apresentada pela coleção de um museu. Fig. 30 – Projeção de dinheiro (1968), de Marcel Broodthaers, 50 slides de pinturas com reproduções do século XIX e 21 cartões postais. Fonte: Musée d’Art Moderne, Département des Aigles, Section XIXème 26 27 O que a maior parte das obras conceituais compartilha é um apelo às faculdades intelectuais do espectador. O que é arte? Quem determina o que ela é? Quem decide como ela é exposta e criticada? Isso reflete a crescente politização de muitos artistas, especialmente no período da Guerra do Vietnã (1959-1975), dos protestos estudantis, assassinatos de líderes mundiais, luta pelos direitos civis e a ascensão do feminismo, além dos movimentos antinuclear e ambiental. A Arte Conceitual foi importante devido ao estímulo que suscitou para o debate, o questionamento, além de abrir caminho para as instalações e para a arte performática. Não se tratou necessariamente de uma questão de beleza, mas sobretudo de ideias e essas ideias podiam ser realizadas através de qualquer meio que o artista escolhesse, desde mil seres humanos aos berros a uma sala cheia de talco. Ou, como uma alternativa, por meio do próprio corpo do artista, em performances. O movimento, que atingiu seu apogeu em meados da década de 1970, foi superado pelo surgimento de artistas cujo interesse estava voltado para os materiais tradicionais da arte e na expressão das emoções como o Neoexpressionismo. Ocorreu, entretanto, uma retomada pelo interesse da arte conceitual por parte dos artistas que surgiram nos anos 1980, muitos associados ao Pós-modernismo. A Arte Conceitual exerceu, também, grande influência sobre as novas gerações, entre elas a dos Jovens Artistas Britânicos. As ideias do conceitualismo continuam a subsidiar grande parte da arte contemporânea. A artista americana Jenny Holzer (1950-), por exemplo, trabalha com textos, geralmente em letreiros lumi- nosos colocados em espaços públicos. Em Sem título (1989), esses textos podem assumir a forma de premis- sas, como “Você é vítima das regras que cria”. Ao projetar várias frases, às vezes, contraditórias nas fachadas de prédios e galerias de arte, a artista questiona o significado da linguagem com sua arte. Fig. 31 – Sem título (1989), de Jenny Holzer, vários materiais Fonte: Solomon R. Guggenheim Museum Caminhos para a Arte Conceitual no Brasil Para entendermos como a Arte Conceitual chegou ao Brasil, nos anos 1960/1970, precisamos voltar no tempo e falar um pouco sobre Arte Concreta e Neoconcretismo. A Arte Concreta foi definida pelo artista e teórico holandês Theo van Doesburg (1883-1931), no manifesto As bases da Arte Concreta, publicado no primeiro e único número da publicação Art Concret, em 1930. Vejamos o conteúdo desse manifesto, o que nos auxiliará na compreensão do movimento: 27 UNIDADE Duchamp, Neodadaísmo, Novo Realismo e Arte Conceitual Declaramos: 1. A arte é universal. 2. A obra de arte deve ser inteiramente concebida e formada pela mente antes de sua execução. Ela não deve receber nada das propriedades formais da natureza ou da sensualidade e do sentimentalismo. Queremos excluir o lirismo, a dramaticidade, o simbolismo, etc. 3. O quadro deve ser construído inteiramente a partir de elementos puramente plásticos, isto é, superfícies e cores. Um elemento pictórico não possui outro significado além de “si mesmo” e, portanto, o quadro não tem outro significado além de “si mesmo”. 4. A construção do quadro, bem como seus elementos, deve ser simples e controlável visualmente. 5. A técnica deve ser mecânica, isto é, anti-impressionista. 6. Esforço usando absoluta clareza. Arte Concreta refere-se à pintura feita com linhas e ângulos retos, utilizando-se as três cores primárias (vermelho, amarelo e azul) e as não-cores (preto, branco e cinza). As composições deveriam ser reduzidas ao mínimo, as superfícies das obras não revelariam o trabalho dos pinceis e o objetivo seria construir imagens em que prevalecessem a harmonia e a ordem. O termo significava uma redefinição do con- ceito de abstração, em busca de uma maior adequação à verdade do trabalho de arte, principal ponto de partida para muitos artistas desde os anos 1930 até 1950. No Brasil o Concretismo foi introduzido a partir das exposições do artista suíço Max Bill (1908-1994) e da delegação de seu país na I Bienal de São Paulo, em 1951. A partir desse momento, o concretismo nacional ganhou densidade e espe- cificidade própria, principalmente no Rio de Janeiro e em São Paulo. No Rio, em torno de Ivan Serpa (1923-1973), reuniram-se Lygia Clark (1920-1988), Hélio Oiticica (1937-1980), Lygia Pape (1927-2004), Amilcar de Castro (1920-2002), Franz Weissmann (1911-2005), entre outros, além do poeta Ferreira Gullar, teóri- co do grupo, e do crítico Mário Pedrosa (1901-1981), que analisou a importância da Bienal de São Paulo para o Brasil: Antes de tudo, a Bienal de São Paulo veio ampliar os horizontes da arte brasileira. Criada literalmente nos moldes da Bienal de Veneza, seu primeiro resultado foi romper o círculo fechado em que se desenrolavam as atividades artísticas no Brasil, tirando-as de um isolamento provinciano. Ela proporcionou um encontro internacional em nossa terra, ao facultar aos artistas e ao público brasileiro o contato direto com o que se fazia de mais ‘novo’ e de mais audacioso no mundo. Fig. 32 – Cartaz da I Bienal de São Paulo (1951) Fonte: Antonio Maluf, 1951 28 29 Fig. 33 – Unidade tripartida (1948-1949), de Max Bill, escultura em aço inoxidável (1,1 m x 0,8 m x 0,9 m), primeiro prêmio em escultura na I Bienal de São Paulo (1951) Fonte: Biennale 2013 Venice Graças às circunstâncias sociais e econômicas que facilitaram o fortalecimento do Concretismo em São Paulo foi possível ao artista, crítico e teórico Waldemar Cordeiro (1925-1973) liderar um grupo com o objetivo de integrar a força da arte ao desenho industrial, à comunicação visual, à publicidade, ao paisagismo e ao urbanismo, como Lothar Charoux (1912-1987), Leopold Haar (1910-1954), Luiz Sacilotto (1924-2003) e Geraldo de Barros (1923-1998), entre outros. A Arte Concreta tornava-se no início da década de 1950, sinônimo de um trabalho racionalista, objetivo, privilegiando procedimentos matemáticos e transformando o artista em uma espécie de “designer superior”, pesquisador de formas a serem aproveitadas pela indústria, nos vários setores da complexa vida urbana. Fig. 34 – Movimento (1951), de Waldemar Cordeiro, têmpera sobre tela (0,9 m x 0,9 m) Fonte: MAC - USP Fig. 35 – Concreção 5522 (1955), de Luiz Sacilotto, óleo sobre madeira (0,4 m x 0,5 m) Fonte: itaucultural.org.br 29 UNIDADE Duchamp, Neodadaísmo, Novo Realismo e Arte Conceitual Neoconcretismo O Neoconcretismo – movimento de vanguarda gerado no Brasil, que teve alcance internacional – foi lançado em 1959, quando Ferreira Gullar estabeleceu suas diretrizes em um manifesto divulgado durante a I Exposição de Arte Neoconcreta, no Museu de Arte Moderna do Rio. Os signatários são Amilcar de Castro, Franz Weissmann, Lygia Clark e Lygia Pape. Logo, em seguida, uniu-se a eles Hélio Oiticica, entre outros artistas. Para os neoconcretistas, o tridimensional constitui um rico terreno de exploração, de que se valeu Lygia Pape em livros e balés e Amilcar de Castro e Franz Weissmann, no campo da escultura. O grupo teve seu tempo de ação em um curto período, de 1959 a 1963. Após, os artistas prosseguiram individualmente com um alto nível de realização, em diferentes campos. Umtexto importante para compreendermos melhor o Neoconcretismo é Teoria do não- objeto, de Ferreira Gullar, publicado originalmente no Jornal do Brasil em março de 1959. Trata-se de uma das fundamentais produções teóricas da arte brasileira. Confira o primeiro parágrafo do texto: A expressão não-objeto não pretende designar um objeto negativo ou qualquer coisa que seja o oposto dos objetos materiais com propriedades exatamente contrárias desses objetos. O não-objeto não é um antiobjeto mas um objeto especial em que se pretende realizada a síntese de experiências sensoriais e mentais: um corpo transparente ao conhecimento fenomenológico, integralmente perceptível, que se tende à percepção sem deixar resto. Uma pura aparência. Toda obra de arte verdadeira é, portanto, um não-objeto, e se adotamos agora essa denominação é porque ela nos ajuda a enfocar os problemas da arte atual de um ângulo que nos parece novo. Leia o artigo completo: https://goo.gl/qmJEn9 Ex pl or Liberdade, liberdade Em 1957, Lygia Clark, antecipando seu percurso singular, escreveu: “A obra (de arte) deve exigir uma participação imediata do espectador e ele, espectador, deve ser jogado dentro dela”. Companheiro e interlocutor de Lygia, Hélio Oiticica, evoluiu no processo de abandono do quadro, na direção da invasão do espaço e na incorporação do tempo. Conforme observou o crítico de arte Frederico Morais: “O Neoconcretismo fez um retorno ao humanismo ante o cientificismo concreto”. O movimento recolocava o homem como ser no mundo e buscou pensar a arte neste contexto. Resgatava-se a noção tradicional de subjetividade contra o privilégio da objetividade concreta. Era praticamente apolítico. Arte, ciência e filosofia eram seus pontos de referência. Além disso, se beneficiava da ausência de pressões por parte do mercado – em sua maioria, era formado por artistas de classe média. De maneira geral, o Neoconcretismo é a promessa da construção do novo. Prega uma linguagem universal, livre de contextos específicos. Libera a arte de questões externas, estabelecendo sua autonomia e suas necessidades formais. 30 31 Lygia Clark Fig. 36 – Trepantes (Obra mole), 1964, de Lygia Clark, borracha Fonte: Fundació Antoni Tàpies, 1997 Fig. 37 – Bichos LC3 (1969), de Lygia Clark, escultura em alumínio (0,2 m 0,2 m x 0,2 m) Fonte: DES/ESTUTURAS - Fundação Vera Chaves Barcellos Mineira, de Belo Horizonte, Lygia Clark inicia estudos com Roberto Burle Max (1909-1994), no Rio de Janeiro, em 1947. Em 1952, fixa-se na abstração geométrica, em uma tentativa de incorporar o espaço externo ao quadro, eliminando a moldura e integrando-a como um elemento plástico. A série Bichos, exposta pela primeira vez em 1960, constituída de chapas metálicas articuladas por dobradiças, insere na obra da artista a participação do espectador, que será o núcleo de seu projeto artístico. O aspecto mais orgânico de seu trabalho a aproximou do Neoconcretismo. Em 1968, a Bienal de Veneza apresenta uma retrospectiva de sua obra. Neste mesmo ano, a artista instala-se em Paris onde permanece até 1976. Leciona em um núcleo experimental da Universidade de Sorbonne, na capital francesa, onde desenvolve suas ideias a respeito da arte integrada à vida. Ao retornar ao Brasil mantém suas atividades até 1988, último ano de sua vida. A trajetória de Lygia Clark faz dela uma artista atemporal, estabelecendo um vínculo com a vida. A proposta de utilizar objetos do cotidiano (água, conchas, borracha, sementes), aponta no seu trabalho uma intenção de desvincular o lugar do espectador dentro da instituição de arte, e aproximá-lo de um estado, onde o mundo se molda e se transforma. Hélio Oiticica Em 1954, Hélio começa a estudar pintura com Ivan Serpa no Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro. Em 1959, assina o Manifesto Neoconcreto e participa de exposições em Salvador, Rio e São Paulo. Na passagem para os anos 1960, abandona o suporte bidimensional. Oiticica cria as séries Bilaterais e Relevos Espaciais, em 1959, com peças tridimensionais coloridas suspensas. Segue, na sequência, como propostas de uma relação interativa entre o observador como em Bólides, explorados corporalmente pelo espectador. 31 UNIDADE Duchamp, Neodadaísmo, Novo Realismo e Arte Conceitual Fig. 38 – B11 Bólido Caixa 09 (1964), de Hélio Oiticica, madeira, vidro e pigmento (0,4 m x 0,5 m x 0,3 m) Fonte: Wikimedia Commons Em Opinião 65 – exposição marcante realizada no MAM, no Rio, em 1965 –, a participação de Oiticica foi importante na passagem da discussão construtiva dos anos 1950, e um outro fazer artístico dos anos 1960. Na mostra, ele apresentou publicamente seus Parangolés – obras com estandartes, bandeiras, tendas e capas de vestir ou de exibir, elaboradas por camadas de panos coloridos –, associando dança, poesia e música em uma manifestação cultural coletiva. O trabalho de Oiticica requeria a participação mais ativa do espectador e não sua mera observação ou contemplação. A palavra “parangolé” era uma gíria do Rio de Janeiro para “agitação súbita”, “animação”, “alegria”. Fig. 39 – Hélio Oiticica e seus Parangolés Fonte: heliooiticicaofilme.com.br Em 1967, as questões levantadas com os Parangolés desembocam nas Manifestações Ambientais com destaque para as obras Tropicália (1967), Apocalipopótese (1968) e Éden (1969). Tropicália, apresentada na exposição Nova Objetividade Brasileira, no MAM-RJ, é considerada o apogeu de seu programa ambiental – é uma espécie de labirinto sem teto que remete à arquitetura das favelas e em seu interior apresenta um aparelho de TV sempre ligado. Depois que 32 33 o compositor Caetano Veloso passa a usar o termo tropicália, como título de uma de suas canções, ocorrem diversos desdobramentos na música popular brasileira e na cultura que ficam conhecidos como Tropicalismo. Em 1970, Oiticica muda-se para Nova York, contemplado com uma bolsa da Fundação Guggenheim. Retorna ao Brasil em 1978. Até sua morte, em 1980, realiza performances, maquetes de instalações ambientais e de objetos sempre em busca da integração entre arte e vida. Ligia Pape A artista carioca também frequenta os cursos do MAM-RJ, onde entra em contato com Oiticica, desde a década de 1950. Em 1958, apresenta Ballet Neoconcreto – bailarinos foram reduzidos a motores, pois apenas emprestavam o movimento de seus corpos às formas geométricas que os ocultavam –, sendo a primeira entre os concretistas a tratar as questões do corpo. No ano seguinte, assina o Manifesto Neoconcreto e participa de exposições do grupo. Pioneira no uso do livro como obra de arte, realiza os Livros da Criação, do Tempo e da Arquitetura, concebidos entre 1959 e 1960, os Livros da Luz (também chamado Noite/Dia, que trata do cinema, seus cortes e a montagem) e dos Caminhos, iniciados em 1963 e concluídos em 1976 (livros-objeto cujas pranchas são diagramas cromáticos do fluxo do tempo e da historicidade dos espaços construídos pelo homem). Nas obras, o vocabulário de formas e cores constitui uma experiência lúdica e poética com a participação ativa do “leitor”. Em 1968, cria trabalhos que também propõem a participação do espectador, como Ovo – exibido no evento Apocalipopótese organizado por Oiticica no Rio – e Divisor, um pano de 20 m x 20 m com perfurações para o encaixe de dezenas de cabeças de espectadores, apresentando uma favela. A artista passa a criar muitos trabalhos em uma linguagem que, atualmente, de forma muito próxima denomina- se Instalação como Ttéia (1978), Ovos do vento (1979) e Luar do Sertão (1995), entre outros. Fig. 40 – Livro do Tempo (Noite e Dia), 1963 / 1976, de Lygia Pape, têmpera sobre madeira, 365 unidades (0,16 m x 0,16 m x 0,015 m cada) Fonte: lygiapape.org.br 33 UNIDADE Duchamp, Neodadaísmo, Novo Realismo e Arte Conceitual Fig. 41 – Divisor (1968), de Lygia Pape, tecido de algodão com fendas (20 m x 20 m) Fonte: lygiapape.org.br Em texto sobre a obra de Lygia Pape, o crítico inglês Guy Brett afirma: Foi esseespírito rebelde da vanguarda brasileira nos anos 50 e 60 que a possibilitou penetrar a fundo as ideias de abstração europeia sem qualquer cerimônia exageradamente respeitosa ou sentimento de inferioridade. Era possível, portanto, para estes artistas visar o universal, até o cósmico, estando ao mesmo tempo imersos no local e no particular. Eles conseguiram escapar da sorte típica dos artistas do “terceiro mundo”: a de fornecer à metrópole imagens de escape exótico. Em vez disso, eles valiam-se da realidade brasileira para tentar resolver alguns dos dilemas contemporâneos mais profundos. (...) Não se pode encaixar o trabalho desses artistas no esquema da arte do pós-guerra como se ele fosse uma variação local de movimentos centrados na Europa ou na América do Norte. A fusão particular que eles realizaram, à medida que se tornar mais conhecida, deve mudar os princípios básicos de interpretação daquela história. No processo, o elo entre os artistas brasileiros e certos artistas do ocidente – especialmente em torno das inovações da “participação do espectador” – também se tornará claro. Fonte: www.lygiapape.org.br Arte Conceitual no Brasil O Ato Institucional nº 5 (AI-5), baixado em 13 de dezembro de 1968, e que vigorou até 1978, durante o período conhecido como ditadura militar brasileira (1964-1985), deu poder de exceção aos governantes para punir arbitrariamente os que fossem inimigos do regime ou como tal considerados. Com o AI-5 e o recrudescimento da censura na época, os artistas foram obrigados a encontrar formas de expressão em que a referência ao social fosse menos direta. A dinâmica do circuito das artes tornou possível uma reação política dos artistas por meio de suas obras. Atuando sob um regime militar, os artistas brasileiros criaram estratégias simbólicas e metafóricas para tentar ultrapassar o cerco à liberdade de expressão, 34 35 acusar a mercantilização da arte, apontar para a necessidade de interação público/ espectador, denunciar o aburguesamento social, debater o “desaparecimento” da arte no país e a fragilidade da vida na época. A utilização de materiais precários e, muitas vezes efêmeros, possibilita que a arte se desvincule de seus aspectos mais pragmáticos e, particularmente, mercadológicos para exercer papeis sociais e políticos. A Arte Conceitual foi um dos veículos utilizados para os artistas percorrerem esse período. O Salão da Bússola – realizado no MAM-RJ, em novembro e dezembro de 1969, nasceu como um evento sem pretensões maiores e acabou indicando, literalmente, um outro direcionamento da arte brasileira, seja em suas novas pesquisas artísticas, ligadas à Arte Conceitual ou em sua possibilidade reiterada de atuação crítica. O salão teve a oportunidade de mostrar trabalhos de artistas não apresentados em outros certames devido à censura e o boicote à X Bienal de São Paulo, em 1969, por exemplo. Os prêmios foram concedidos a artistas jovens que consolidaram suas trajetórias nos anos 1970, entre eles Cildo Meireles (1948-), Antonio Manuel (1947-), Ascânio MMM (1941-), Thereza Simões (1941-), Artur Barrio (1941-), Luiz Alphonsus (1948-) e Guilherme Vaz (1948-). Dois trabalhos foram especialmente significativos no salão, para se traçar um painel da vanguarda no final dos anos 1960: Soy loco por ti, de Antonio Manuel e Túnel – Desenho ao longo de dois planos, de Luiz Alphonsus. A obra de Manuel, cujo título fora retirado da canção Soy loco por ti América (Gilberto Gil e Capinam), era um ambiente formado por um colchão de capim, que tinha ao fundo um painel coberto por pano negro. Ao puxar-se o pano, des- vendava-se um mapa da América Latina vazado na cor vermelha. A precariedade dos materiais lembra- va Tropicália de Oiticica, mas um dado circunstancial tornou a obra mais contundente para aquele con- texto: a decomposição do capim e o decorrente mau cheiro exalado. Fig. 42 – Soy loco por ti (1969), de Antonio Manuel, madeira, tecido, plástico, palha e corda (2,2 m x 1,6 m x 2,1 m) Fonte: Galeria Luisa Strina A obra de Luiz Alphonsus, Túnel – Desenho ao longo de dois planos, foi realizada em 27 de setembro de 1969, das 15 às 17 horas, no túnel que liga Botafogo a Copacabana, no Rio de Janeiro. O trabalho consistiu na documentação em sons e em imagens de dois grupos de pessoas – entre elas o próprio Alphonsus –, que partiram do lado de Botafogo do túnel. Um grupo caminhava por dentro do túnel ao lado do tráfego de carros e o outro atravessava a montanha, passando por áreas verdes e por uma favela, e no final, dois traços simbólicos encontravam-se 35 UNIDADE Duchamp, Neodadaísmo, Novo Realismo e Arte Conceitual do outro lado, em Copacabana. Os trabalhos de Manuel e de Alphonsus operavam com delimitações de espaço, um o espaço político e vivencial da América Latina e o outro o espaço da cidade e da diferença urbana e social. Alphonsus, afirmou, em depoimento de 1986 que “éramos conceituais, mas não gostávamos de ser chamados de conceituais, um pouco como os artistas da ‘pop’, no Brasil, que também recusavam o rótulo”. Cildo Meireles Eu não me considero brasileiro, ou isso ou aquilo, eu me considero artista plástico e acho que a arte é um território de liberdade. Uma das maiores obrigações do artista é manter a arte como território livre porque isso é a garantia de compreensão do que passou e de criação de condições para que outras coisas venham. (Cildo Meireles) O carioca Cildo Meireles teve sua formação artística em Brasília no curso do artista peruano Felix Barrenechea (1921-2013), em 1963. Posteriormente, frequentou a Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro. Em abril de 1970, na exposição/manifestação Do Corpo à Terra, organizada pelo crítico Frederico Morais, em Belo Horizonte, Cildo promove a mais contundente ação artística dentro da manifestação com a obra Tiradentes: totem-monumento ao preso político. A ação ocorreu no dia 21 de abril de 1970, na área externa ao Palácio das Artes na qual encontravam-se um quadrilátero de pano e 10 galinhas vivas atadas a um poste/estaca (2,5 m) encimado por um termômetro clínico. Em torno ao poste, um grupo de pessoas assistiu à queima das galinhas com gasolina. A tomada de posição política, social e ética fora dada pela mais deliberada violência e a participação do espectador, dada na comunhão coletiva do horror, espécie de teatro da crueldade. A obra se trata de uma referência aos mortos pela ditadura militar no Brasil. Fig. 43 - Tiradentes: totem-monumento ao preso político (1970), de Cildo Meireles, instalação: poste de madeira, pano branco, termômetro, dez galinhas vivas, gasolina, fogo Fonte: Luiz Alphonsus Guimarães, 1970 36 37 Fig. 44 – Tiradentes: totem-monumento ao preso político (1970), de Cildo Meireles Fonte: Luiz Alphonsus Guimarães, 1970 Desde o fim da década de 1960, Cildo Meireles tem se afirmado na arte contemporânea, construindo uma obra identificada pela linguagem internacional da Arte Conceitual, mas que dialoga de maneira pessoal com o legado poético do Neoconcretismo de Lygia Clark e de Hélio Oiticica. Seu trabalho no campo da arte da instalação mostra grande diversidade de suportes, técnicas e materiais, apontando quase sempre para questões mais amplas, de natureza política e social. Desvio para o Vermelho é um de seus trabalhos mais complexos e ambiciosos. Concebido em 1967, foi montado em diferentes versões desde 1984, e, atualmente, é exibido no Instituto Inhotim, em Minas Gerais, em caráter permanente desde 2006. A obra é formada por três ambientes articulados entre si: em Impregnação há uma exaustiva coleção monocromática de móveis, objetos e obras de arte em diferentes tons. Em Entorno e Desvio, tem lugar o que o artista chama de explicações anedóticas para o mesmo fenômeno da primeira sala, em que a cor satura a matéria, se transformando em matéria. Aberta a uma série de simbolismos e metáforas, desde a violência do sangue até conotações ideológicas, o que interessa aoartista nesta obra é oferecer uma sequência de impactos sensoriais e psicológicos ao espectador. Figs. 45 e 46 – Desvio para o vermelho (1967-1984), de Cildo Meireles, materiais diversos Fonte: Pedro Motta 37 UNIDADE Duchamp, Neodadaísmo, Novo Realismo e Arte Conceitual Tunga O pernambucano Tunga (1952-2016) conhece desde cedo o modernismo brasi- leiro. Inicia sua carreira nos primeiros anos da década de 1970, em pleno momen- to do Conceitualismo. Na época, faz desenhos e esculturas. Traça imagens figura- tivas com temas ousados, como na série Museu da Masturbação Infantil (1974). Na segunda metade da década, realiza peças tridimensionais e instalações. Utiliza correntes, lâmpadas, fios elétricos e materiais isolantes, como o feltro e a borra- cha. Busca relações fortes entre os diferentes materiais. Como na obra do artista alemão Joseph Beuys (1921-1986), a justaposição desses materiais modifica seus sentidos simbólicos. Nas peças de feltro, feitas entre 1977 e 1980, sugere relações de troca de energia entre as partes da obra. O tecido envolve os fios e circunda uma lâmpada. A comunhão dos dois insinua a criação de uma fonte de energia. Desde seus primeiros desenhos, dizia que suas obras partiam de reflexões entre versos e teorias filosóficas e científicas, “nunca demonstráveis nem refutáveis”. No campo da escultura, a maior parte de sua obra, que surgiu sempre aliada à performance, usava materiais como cobre, aço e ímãs em construções que lembram o corpo humano, tecidos, pele, cartilagens e esqueletos. Em 1981, Tunga monta a instalação Ão, na qual mostra um filme feito em uma curva do túnel Dois Irmãos, no Rio de Janeiro. O trecho se repete, como se a câmera andasse em círculos pelo trajeto, sem encontrar saída e nem entrada. O artista sugere uma estrutura circular no interior de uma rocha, sem comunicação com o exterior. Depois de Ão, seguem-se trabalhos em que explora peças semelhantes a achados da arqueologia ou das ciências naturais. O interesse por elementos da arqueologia é conjugado ao gosto por formas herméticas. Nos anos 1980, cria outras situações fantásticas, como A Vanguarda Viperina (1986) e Xipófagas Capilares (1985). Em ambos, tenta extrair sentidos simbólicos de situações que se desviam da normalidade. Fig. 47 – Ão (1981), de Tunga, projeção de filme P&B 16 mm em looping e instalação de som, dimensões variáveis Fonte: tungaoficial.com.br 38 39 A partir de Lizarte (1989), abre-se um campo de relações entre diferentes materiais constituído com objetos recorrentes na poética do artista. Reaparecem os cabelos, os tacapes, o ímã e as tranças. A ligação violenta entre os ímãs ressurge em Lúcido Nigredo (1999). Da década de 1990 em diante, a expansão das peças é conquistada na interação do trabalho tridimensional com as performances, como Inside Out, Upside Down (1995) e Resgate (2001). Fig. 48 – Inside Out, Upside Down (1995), de Tunga, performance Fonte: tungaoficial.com.br Em 2002, volta a realizar parceria com um cineasta, desta vez Murilo Salles, na perfomance Sopão Floresta – Mondrongos Jambo na qual, sete meninas, no meio da Floresta da Tijuca, interagem com uma montagem de sua obra A Bela e a Fera (2001). Cobrem as peças com grande quantidade de maquiagens em tons carnais e, sem seguida, seus próprios corpos, ao som de violonistas que interpretam variações sobre músicas do compositor Heitor Villa-Lobos (1887-1959). O experimentalismo de suas obras, como a união de uma instalação e de uma performance é chamada pelo artista de “instauração”. Em 2005, é um dos primeiros artistas contemporâneos a expor no Museu do Louvre. Escolhe o espaço abaixo da pirâmide, por onde entram os visitantes, e a obra À Luz de Dois Mundos, um esqueleto sem cabeça deitado em uma rede suspensa, equilibrada por caveiras içadas. A obra é uma continuidade de sua série True Rouge (1997), uma de suas obras mais famosas – atualmente em exposição no Instituto Inhotim (MG) – que se relaciona com o espaço sendo, segundo o artista, um derradeiro “cemitério da civilização”. True Rouge inicia o grupo de obras içadas. Estas obras trazem um repertório de elementos conjuntivos que separam e ao mesmo tempo conectam o corpo da marionete ao corpo do manipulador. São cabos, hastes, ganchos, correntes e ventosas. Figs. 49 e 50 – True Rouge (1997), de Tunga, vidro fundido, esponja marinha, poliamida, poliéster, cerda natural, madeira, resina fenólica, corante, água, cobre Fonte: tungaoficial.com.br 39 UNIDADE Duchamp, Neodadaísmo, Novo Realismo e Arte Conceitual Tunga sempre realizou um trabalho pertencente ao mundo, a partir de referências colhidas na especificidade dos materiais, por vezes em suas próprias excentricidades (cabelo, ossos, barro etc.), no lúdico, e solidamente amparado numa visão filosófica da arte. Desde o começo da década de 1980, quando representou o Brasil na Bienal de Veneza, e apresentou trabalhos em quatro edições da Bienal de São Paulo, teve mostras no MoMA, em Nova York, na Whitechapel, em Londres, no Jeu de Paume, em Paris, entre outras instituições de renome mundial. Nelson Leirner Outro importante artista que circulou pela Arte Conceitual foi Nelson Leirner (1932-). Em 1956, teve aulas de pintura com Joan Ponç, abandonando-as para buscar outras formas estimulantes para seu trabalho, além da pintura sobre tela. Em 1961, realizou sua primeira exposição individual. Foi selecionado para as três edições da Bienal de São Paulo (1963, 1965 e 1967). Em uma exposição na Galeria Atrium (1965), apresentou objetos que anunciavam a noção de apropriação que iria marcar sua carreira e seu trabalho. Em 1966, com outros cinco artistas, formou o grupo Rex, um coletivo que questionava, por meio de exposições, ações e debates, o excesso da institucionalização da arte. Em 1967, participou da exposição Nova Objetividade Brasileira (Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro) e foi premiado na IX Bienal de Tóquio com as obras Homenagem a Fontana I e Homenagem a Fontana II. Leirner, em uma homenagem “marota” ao artista argentino Lucio Fontana (1899-1968) – que abriu fendas em suas pinturas, contrariando a natureza milenar de planos –, colocou zíperes, atualizando a obra pelo desenvolvimento industrial. Fig. 51 – Homenagem a Fontana II (1967), de Nelson Leirner, múltiplo, tecido e zíper (1,8 m x 1,2 m) Fonte: Pinacoteca do Estado de São Paulo/Brasil Ainda em 1966, realizou Exposição-não-exposição, um happening de encerramento das atividades do Grupo Rex, e foi selecionado para o IV Salão de Arte Moderna de Brasília com os trabalhos O porco com presunto e Matéria e forma: tronco e cadeira, combustível para o que passaria a ser conhecido como o Happening da crítica. Leirner, ao ter sua obra, um porco empalhado em um engradado com um peda- ço de presunto pendurado no pescoço, aceita no salão de Brasília de 1967, ao con- trário das cenas de protesto que os artistas fazem ao não serem aceitos, interpelar publicamente o júri, em jornais, questionando sobre os critérios utilizados para se aceitar um porco como arte. 40 41 Figs. 52 e 53 – O porco (1967), de Nelson Leirner, animal empalhado e madeira Fonte: nelsonleirner.com.br Importante! Porco “sem” presunto O título original da obra inscrita no IV Salão Nacional do Distrito Federal, em 1967, Porco com presunto, foi trocado por Leirner simplesmente para Porco. A razão foi que o presunto sumiu quando do transporte da obra, provavelmente furtado. O artista teria comentado: “É muito comum em Brasília”. Você Sabia? Convidado, em 1969, para se juntar à Bienal de São Paulo, aderiu ao boicote internacional à instituição e se recusou a participar. Produziu, no mesmo ano, a exposição Playground, no Museu de Arte de São Paulo – MASP, com peças feitas para serem manipuladas pelo público. Em 1971, recusou novamente o convite para se juntar à Bienal de São Paulo, em uma sala especial, devido à censura contra a representação brasileira na Bienal de Paris. Em 1987, fezparte da mostra coletiva Modernidade: arte brasileira do século XX, no Museu de Arte Moderna de Paris. Figs 54 e 55 – Playground (1969), de Nelson Leirner, objetos que necessitam a integração direta do público, MASP Fonte: nelsonleirner.com.br 41 UNIDADE Duchamp, Neodadaísmo, Novo Realismo e Arte Conceitual Em 1996, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde passou a coordenar o curso básico da Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Participou frequentemente de exposições no Brasil e no exterior, em eventos coletivos e individuais. Os trabalhos apresentados no XVI Salão Nacional, realizado em 1998 no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, foram apreendidos pelo juiz da Vara da Infância e Adolescência sob a alegação de obscenidade, um fato que desencadeou uma campanha nacional contra a censura nas artes visuais. No mesmo ano, as obras censuradas foram apresentadas na Galeria Brito Cimino, em uma exposição proibida para menores de 18 anos de idade. Em 1999, representou o Brasil na 48ª Bienal de Veneza. Em 2002, Leirner participou, em uma sala especial, da 25ª Bienal de São Paulo e foi o tema da exposição antológica “Adoração”. Participou da exposição Dreamlands, no Centro Georges Pompidou, Paris, em 2010, e da 29ª Bienal de São Paulo. Em 2011, foi homenageado pelos seus 80 anos com a retrospectiva Nelson Leirner 2011-1961 = 50 anos, na FIESP/Sesi-SP, e Who’swho, em Miami, Estados Unidos. 42 43 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Arte Conceitual. Material educativo para o professor propositor. Autoria de Christiane Coutinho e Erick Orloski, São Paulo: Instituto Arte na Escola, 2006. https://goo.gl/M27R0a Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas – Anpap https://goo.gl/zFchs6 Enciclopédia Itaú Cultural Enciclopédia de Arte e Cultura Brasileira de pesquisa sobre conteúdos de artes visuais, dança, música, cinema, teatro e literatura. São mais de 5 mil verbetes, divididos entre biografias, comentários críticos e análises históricas de pessoas, grupos, instituições, eventos e obras, além de definições sobre termos e conceitos. http://enciclopedia.itaucultural.org.br/ Monoskop Wiki (em inglês, mas com opção de tradução) para estudos colaborativos das artes, meios de comunicação e humanidades. https://monoskop.org/Monoskop Filmes Entr’acte Entr’acte (Entreato), de 1924. Curta-metragem dirigido por René Clair. A música foi composta por Erik Satie. Os dadaístas colaboram no projeto que criou um novo método de produção: a instantaneidade. O filme completo leva cerca de 20 minutos. Mil e uma Mil e uma. Direção: Susana Moraes, 1996, cor, 90 min., Brasil/Portugal. Sinopse: o filme conta a história de Alice, que tem como meta realizar um filme sobre uma viagem imaginária de Marcel Duchamp ao Brasil. Durante a produção ela se apaixona e acaba se envolvendo num complicado caso de corrupção. Um folhetim cheio de erotismo, bom humor e surrealismo, com fartas referências à Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll e à obra revolucionária de Marcel Duchamp. 43 UNIDADE Duchamp, Neodadaísmo, Novo Realismo e Arte Conceitual Livros Isso é arte? GOMPERTZ, W. Isso é arte? Rio de Janeiro: Zahar, 2013. Através: Inhotim PEDROSA, A. e MOURA, Rodrigo. Através: Inhotim. Brumadinho/MG: Instituto Cultural Inhotim, 2008. Catálogo de exposição ARMAN. São Paulo: Galerie Nationale du Jeu de Paume, 1999. 237p. Catálogo de exposição, 30 nov 1999-9 jan 2000, Museu de Arte de São Paulo (Masp), São Paulo/SP. Visite Instituto Cultural Inhotim Um dos mais relevantes acervos de arte contemporânea do mundo e uma coleção botânica que reúne espécies raras e de todos os continentes. Os acervos são mobilizados para o desenvolvimento de atividades educativas e sociais para públicos de faixas etárias distintas. Rua B, 20, Brumadinho/MG, fone: 31 3571-9700. Terça a sexta-feira: 9h30 às 16h30; sábado, domingo e feriado: 9h30 às 17h30. www.inhotim.org.br Museu de Arte Moderna de São Paulo (Masp) Primeiro museu moderno do país, o MASP foi criado em 1947 pelo empresário brasileiro Assis Chateaubriand. A coleção do museu reúne mais de 8 mil obras, incluindo pinturas, esculturas, objetos, fotografias e vestuário de diversos períodos, abrangendo a produção europeia, africana, asiática e das Américas. Avenida Paulista, nº 1578, Bela Vista, São Paulo/SP, telefone: 11 3149 5959, www.masp.art.br. Entrada gratuita às terças-feiras, das 10h às 18h. Museu de Arte do Rio de Janeiro Eu, você e o MAM é o novo educativo do museu sob a direção do artista plástico Luiz Pizarro, tem como objetivo a dinamização da cultura do seu espaço e do cotidiano como instrumento de potencialização para a integração e a transformação participativa de sujeitos no seu tempo. Av. Infante Dom Henrique, nº 85, Parque do Flamengo, Rio de Janeiro/RJ, telefone: 21.3883.5600, www.mamrio.org.br. 44 45 Referências ARCHER, M. Arte contemporânea – Uma história concisa. São Paulo: Martins Fontes, 2001. ARGAN, G. C. Arte moderna. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. BELL, J. Uma nova história da arte. São Paulo: Martins Fontes, 2007. BRITO, R. Neoconcretismo – Vértice e ruptura do projeto construtivo brasileiro. São Paulo: Cosac & Naify, 1999. CANTON, K. Do moderno ao contemporâneo. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2009. CANTON, K. Novíssima Arte Brasileira – um guia de tendências. São Paulo: Iluminuras, 2001. 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