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DIREITO CONSTITUCIONAL O Direito Constitucional está na centralidade do Direito brasileiro. Ele é político; tem alto grau de politicidade; nasce dos embates políticos. Revolução → mudança da ordem constitucional. Teoria Constitucional Acontece nas academias; procura elementos que dão substrato ao Direito Constitucional. Ciência Constitucional Acontece nas academias; busca extrair indicativos científicos. Política Constitucional Acontece nos parlamentos; faz escolhas entre os modelos propostos pelos cientistas; o discurso político delibera sobre o futuro. Os julgamentos, por exemplo, tratam de acontecimentos do passado, assim, o discurso vai deliberar sobre o passado. SENTIDOS E CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES Segundo José Gomes Canotilho, a Constituição é a ordenação sistemática e racional da comunidade política através de documento escrito. 1 Sentidos da Constituição 1.1 Jurídico (Hans Kelsen) É a norma fundamental (válida) de um país, ou seja, o ápice de uma pirâmide, fundamento de validade do ordenamento jurídico. 1.2 Político (Carl Schmitt) É o produto da decisão política fundamental de um povo, pois ela cria e estrutura o Estado, além de estipular a soberania de um povo. A Constituição é o único momento em que o povo se direciona ao Estado. 1.3 Sociológico (Ferdinand Lassalle) Representa os fatores reais de poder, ou seja, o conjunto de forças políticas, econômicas e sociais que rege um país. 2 Classificação das Constituições 2.1 Origem 2.1.1 Promulgadas Produzidas por Assembleias Nacionais Constituintes e editadas pelos representantes do povo. 2.1.2 Outorgadas São impostas ao povo pelos detentores do poder político. 2.1.3 Cesaristas/bonapartistas Elaborada pelo detentor do poder político e ratificada (ou não) pelo povo, ou seja, é feito um referendo. 2.1.4 Pactuadas Acontecem em momentos de crise política, onde nasce de um pacto entre forças opostas. 2.2 Conteúdo 2.2.1 Formal Considera como norma constitucional toda norma que esteja no texto. 2.2.2 Material Composta pelos princípios básicos sem os quais a Constituição se descaracteriza (essenciais, como a organização do Estado, limitação do poder estatal e tripartição do poder). 2.3 Extensão 2.3.1 Sintéticas Composta pelos princípios básicos das ordenação de um país. Ex.: EUA. 2.3.2 Analíticas Busca apreender a realidade de um país; detalha suas normas, traçando verdadeiras regras a serem seguidas tanto pelo legislador infraconstitucional, quanto por todos os operadores do direito, na aplicação e interpretação das normas jurídicas de um dado ordenamento jurídico. Ex.: Brasil. 2.4 Elaboração 2.4.1 Dogmáticas Representa o momento político de um país. Ex.: Brasil, pois se deram várias rupturas que representaram os valores da época. 2.4.2 Históricas Produção permanente; respeita o processo evolutivo de um país, além de fundar o poder constituinte. Ex.: EUA, Inglaterra. 2.5 Ideologia 2.5.1 Ortodoxas Vinculação total a uma certa ideologia. Ex.: China. 2.5.2 Ecléticas Síntese de diversas correntes políticas. Ex.: Brasil. 2.6 Ontologia 2.6.1 Normativas Reflete perfeitamente bem os valores eleitos pelo povo em dado momento (alto grau de legitimidade), além de ter seus princípios e normas cumpridas no decorrer do tempo. 2.6.2 Nominalistas A Constituição é considerada boa, mas não pode ser cumprida na realidade. Há, no entanto, a pretensão de que se torne normativa após determinado tempo. 2.6.3 Semânticas Criada de maneira simbólica, não há pretensão de ser cumprida. 2.7 Alterabilidade 2.7.1 Imutáveis Não pode ser modificada, ou seja, não permite emendas constitucionais. 2.7.2 Rígidas Tem processo legislativo mais complexo e dificultoso do que o adotado para as leis ordinárias. 2.7.3 Flexíveis O processo legislativo é igual ao adotado para leis ordinárias. 2.7.4 Semirrígidas Separam a parte material da formal, onde a parte material só pode ser modificada por processo legislativo dificultoso e a formal tem um processo legislativo mais flexível. 2.7.5 Super-rígidas Uma parte pode ser mudada com processo dificultoso e outra parte é imutável. Não é o caso do Brasil, visto que as cláusulas pétreas podem ser sim modificadas, embora apenas para crescer, ou seja, não podem ser abolidas. 2.8 Forma 2.8.1 Escritas Sistematizadas e organizadas em um único documento. 2.8.2 Não-escritas Não há um texto integral, pode ser costumeira/consuetudinária, estar desmembrada em vários códigos etc. Ex.: Inglaterra, onde a Constituição é consuetudinária, existe uma certa rigidez psicológica (Pontes de Miranda). 2.9 Finalidade 2.9.1 Garantista É aquela que possui um vasto catálogo de direitos e garantias fundamentais, sem, no entanto, intervir na discricionariedade do gestor público; objetiva principalmente proteger as liberdades públicas contra a arbitrariedade do Estado. Corresponde ao primeiro período de surgimento dos direitos humanos. Os garantistas são contrários à relativização dos direitos fundamentais. Os consequencialistas, por outro lado, prezam pela opinião pública; desse modo, não se "limitam" à interpretação fiel da Constituição e relativizam os direitos fundamentais. 2.9.2 Dirigente Concebida para proteger os direitos fundamentais, além de traçar diretrizes que devem nortear a ação estatal (suas escolhas políticas), prevendo, para isso, as chamadas normas programáticas. Limita a discricionariedade do poder político. Dirige o plano de desenvolvimento, como, por exemplo, erradicar a pobreza. 2.10 Classificação das Constituições brasileiras 1824 → outorgada, formal, analítica, histórica, eclética, garantista, semirrígida e normativa. 1891 → promulgada, material, analítica, dogmática, eclética, garantista, rígida e normativa. 1934 → promulgada, formal, analítica, dogmática, eclética, dirigente, rígida e normativa. 1937 → outorgada, material, analítica, dogmática, ortodoxa, dirigente, rígida e semântica. 1946 → promulgada, formal, analítica, dogmática, eclética, dirigente, rígida e normativa. 1967 → outorgada, formal, analítica, dogmática, ortodoxa, garantista, rígida e semântica. 1988 → promulgada, formal, analítica, dogmática, eclética, dirigente, rígida e normativa. PODER CONSTITUINTE É o poder que tem faculdade/competência para criar ou reformar constituições. 1 Espécies de poder constituinte 1.1 Originário É o poder de criar uma constituição (texto integral) pela primeira vez. Tem como característica ser Inicial, pois apaga todo poder que existia antes; o ordenamento começa dele; autônomo, pois não é subordinado à ninguém, a não ser ao povo, que pode convocar as assembleias; ilimitado (com relação ao Direito Interno), pois sua única limitação é quanto aos direitos humanos, que têm de ser respeitados; permanente, pois o poder permanece em estado de latência, podendo ser convocado a qualquer momento para se criar uma nova constituição; e incondicionado, pois não existe norma jurídica que possa regê-lo; a assembleia vai criar seu próprio regimento. O Estado é um fato jurídico, deve ser reconhecido pelas Nações Unidas para ser assim chamado. 1.2 Derivado Poder que tem competência apenas para modificar a Constituição, baseado nos procedimentos legislativos nela previstos. Características do poder derivado: limitado, condicionado. 1.2.1 Revisor Possibilidadede o Congresso revisar toda a Constituição (revisão geral). “A revisão constitucional será realizada após cinco anos, contados da promulgação da Constituição, pelo voto da maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional, em sessão unicameral.” (CF — Art. 3º dos Atos das Disposições Constitucionais Transitórias) 1.2.2 Decorrente Poder constituinte do Estado; elabora e modifica as constituições estaduais. “Cada Assembléia Legislativa, com poderes constituintes, elaborará a Constituição do Estado, no prazo de um ano, contado da promulgação da Constituição Federal, obedecidos os princípios desta. Parágrafo único. Promulgada a Constituição do Estado, caberá à Câmara Municipal, no prazo de seis meses, votar a Lei Orgânica respectiva, em dois turnos de discussão e votação, respeitado o disposto na Constituição Federal e na Constituição Estadual.” (CF — Art. 11 dos Atos das Disposições Constitucionais Transitórias) Estados → Constituição Estadual; Municípios → Lei Orgânica. 1.2.2.1 Lei orgânica Organiza uma instituição estatal. Nesse caso, organiza os órgãos de um município. Municípios não têm poder constituinte. As constituições estaduais são subordinadas à Constituição Federal. 1.2.3 Reformador É pontual; serve para reformar determinadas matérias da Constituição, através de emendas constitucionais. 1.2.3.1 Limites do poder constituinte derivado reformador 1.2.3.1.1 Circunstanciais Intervenção federal, estado de defesa ou estado de sítio (art. 60, § 1º — CF). Estado de defesa → “O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional, decretar estado de defesa para preservar ou prontamente restabelecer, em locais restritos e determinados, a ordem pública ou a paz social ameaçadas por grave e iminente instabilidade institucional ou atingidas por calamidades de grandes proporções na natureza.” (art. 136 caput — C.F.) Estado de sítio → “O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional, solicitar ao Congresso Nacional autorização para decretar o estado de sítio nos casos de: I - comoção grave de repercussão nacional ou ocorrência de fatos que comprovem a ineficácia de medida tomada durante o estado de defesa; II - declaração de estado de guerra ou resposta a agressão armada estrangeira.” (art. 137 caput, I e II — C.F.) 1.2.3.1.2 Formais “A proposta será discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos respectivos membros.” (art. 60, § 2º — C.F.) “A emenda à Constituição será promulgada pelas Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, com o respectivo número de ordem.” (art. 60, § 3º — C.F.) 1.2.3.1.3 Materiais Proposta de emenda tendente a abolir a forma federativa de Estado; o voto direto, secreto, universal e periódico; a separação dos Poderes e os direitos e garantias individuais não será objeto de deliberação (art. 60, § 4º, I ao IV — CF). 1.2.3.1.4 Temporais “A matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por prejudicada não pode ser objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa.” (art. 60, § 5º — C.F.) (C.F.) Art. 59. O processo legislativo compreende a elaboração de: I - emendas à Constituição → alteração feita em determinado texto específico presente na Constituição de um Estado, alterando as bases da lei em determinada matéria; II - leis complementares → finalidade de regulamentar norma prevista na Constituição Federal; III - leis ordinárias → normas gerais e abstratas, “na forma da lei”; IV - leis delegadas → ato normativo elaborado pelo chefe do Poder Executivo no âmbito federal, com a solicitação ao Congresso Nacional, relatando o assunto que se irá legislar; V - medidas provisórias → ato unipessoal do presidente da República, com força imediata de lei, sem a participação do Poder Legislativo, que somente será chamado a discuti-la e aprová-la em momento posterior; VI - decretos legislativos → ato normativo de competência exclusiva do poder legislativo com eficácia análoga a de uma lei; VII - resoluções → norma jurídica destinada a disciplinar assuntos do interesse interno do Congresso Nacional. Parágrafo único. Lei complementar disporá sobre a elaboração, redação, alteração e consolidação das leis. 1.3 Supranacional → global. 1.3.1 Ordem jurídica supra-estatal Tratados internacionais de direitos humanos editados pelas Nações Unidas. “Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.” (CF — Art. 5º, § 2º) “Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.” (CF — Art. 5º, § 3º) No entanto, esses tratados acabam entrando no ordenamento jurídico de forma supralegal, ou seja, abaixo da Constituição e acima das leis infraconstitucionais. 1.3.1.1 Vertentes de tutela dos direitos humanos ● Direito Internacional dos Direitos Humanos; ● Direito dos Refugiados; ● Direito humanitário. 1.3.2 Ordem jurídica supra-estatal regional Ex.: sistema europeu, sistema árabe, liga africana, sistema interamericano etc. 1.3.2.1 Sistema interamericano (Pacto de São José da Costa Rica) ● OEA → Organização dos Estados Americanos. ● Comissão Interamericana de Direitos Humanos → elabora documentos e faz recomendações aos países. ○ Os recursos internos têm que ser todos esgotados, ou o tempo de espera por um processo deve ser muito longo. ● Corte Interamericana de Direitos Humanos → órgão judicial repressivo. 1.4 Difuso Vem da ressignificação da Constituição pelo Poder Judiciário; modifica o sentido/conteúdo da Constituição. Informal no sentido de que não há um processo legislativo. 1.4.1 Mutação constitucional Atualizar a Constituição através da interpretação; é a alteração do significado de determinada norma da Constituição. 1.4.2 Por que da mutação constitucional? Nova percepção do Direito (releitura do que deve ser considerado ético ou justo) e mudança na realidade fática. 1.4.3 Legitimidade da mutação constitucional A mutação precisa ter lastro democrático, ou seja, corresponder a uma demanda social efetiva, estando respaldada pela soberania popular. A legitimidade deve ser baseada no equilíbrio entre a rigidez da Constituição e a plasticidade das suas normas. 1.4.4 Aspectos que diferenciam a Constituição/sistema jurídico do Brasil → supremacia da Constituição e ambiguidade da norma. A Constituição brasileira é principiológica. 1.4.5 Mecanismos interpretativos 1.4.5.1 Interpretação construtiva Em casos de conceitos indeterminados, há a construção da norma pelo juiz. “Ampliação do sentido/extensão do alcance da Constituição para o fim de criar uma nova figura/hipótese de incidência não prevista originalmente (de forma expressa).” Encontrar uma forma de aplicar a norma. Alcance: abrangência jurídica da norma. 1.4.5.2 Interpretação evolutiva Aplicação da Constituição a situações que não foram contempladas quando de sua elaboração/promulgação,mas que se encaixam no espírito e nas possibilidades semânticas do texto constitucional. DIREITO INTERTEMPORAL O direito intertemporal estuda as normas jurídicas no tempo e no espaço, ou seja, normas jurídicas que já foram revogadas mas continuam a produzir efeitos jurídicos. 1 Presunção 1.1 Relativa (juris tantum) Determinado(a) fato/condição é considerado(a) verdadeiro(a) até que seja provado o contrário. 1.2 Absoluta (juris et de jure) O resultado (de uma sentença, por exemplo), não pode ser modificado, apenas se for para benefício. 2 Recepção Quando da mudança de Constituição, todas as leis são válidas/constitucionais, até que se prove o contrário (seja feita uma avaliação), então ela será revogada. A recepção é uma presunção (de verdade) relativa. 3 Repristinação Fenômeno através do qual uma norma jurídica constitucional ou infraconstitucional já revogada volta a produzir efeitos jurídicos em virtude da revogação daquela que lhe sucedeu. Fenômeno não previsto na Constituição. 4 Desconstitucionalização Fenômeno através do qual uma norma jurídica perde a sua condição de fundamentalidade, mas continua a vigorar como norma infraconstitucional, ou seja, lei ordinária ou complementar. 5 Direito adquirido, ato jurídico perfeito e coisa julgada “A lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada.” (art. 5º, XXXVI, CF) 5.1 Direito adquirido O direito já adquirido por uma pessoa, por uma legislação anterior, não pode ser prejudicado por uma nova lei. Pode ser decorrente da coisa julgada ou do ato jurídico perfeito. 5.1.1 Expectativa de direito O fato aquisitivo se iniciou, mas não se completou. 5.1.2 Direito adquirido O fato aquisitivo já se completou, mas o efeito previsto na norma ainda não se produziu. 5.1.3 Direito consumado O fato aquisitivo já se completou e o efeito previsto na norma já se produziu integralmente. 5.2 Ato jurídico perfeito Praticado em respeito a todas as regras legais. 5.3 Coisa julgada Sentença que transitou em julgado; não cabe mais qualquer recurso. TEORIA DA NORMA CONSTITUCIONAL 1 Introdução: Constituição como sistema normativo aberto de regras e princípios. Aberto pois é suscetível a atualização. 1.1 Dispositivo Fragmento de determinada legislação da CF; a forma do comando; identificação formal do texto; localização na CF. 1.2 Enunciado normativo Texto escrito passível de interpretação, ou seja, ainda por interpretar. 1.3 Norma jurídica É o produto da interpretação do enunciado normativo; fruto da interação entre o texto e a realidade. É um enunciado normativo composto por preceito e efeitos jurídicos. Distinção entre norma jurídica e norma constitucional → fundamentalidade. 2 Regras e princípios Gênero: norma. Espécies: regras e princípios. Autor da distinção entre regras e princípios: Ronald Dworkin. 2.1 Regras Subsunção; aplicação mecânica; dimensão lógico-dedutiva. As regras são normas que podem ou não ser cumpridas; se uma regra é válida, logo deverá fazer exatamente o que ela diz. 2.2 Princípios Ponderação; dimensão argumentativa. Segundo Robert Alexy, princípios são normas que ordenam que algo seja realizado na medida do possível, dentro das possibilidades jurídicas e reais existentes. 2.3 Critérios de distinção 2.3.1 Grau de abstração Necessita de interpretação. Princípios: alto grau de abstração. Regras: baixo grau de abstração. As regras podem ser aplicadas de forma direta ao caso concreto, enquanto os princípios não. 2.3.2 Grau de determinabilidade Leva em consideração o caso concreto. Princípios vão carecer de mediação concretizadora do juiz; o juiz vai construir a norma. Regras são diretamente aplicáveis. 2.3.3 Proximidade da ideia de direito Princípios: tem proximidade com a moral; vão exigir justificação voltada para a ideia de Justiça; pretensão de acerto/correção. Regras: caráter funcional. 2.3.4 De natureza normogenética Princípios são os fundamentos éticos e valorativos das regras. Os princípios são normas qualitativamente distintas. 3 Eficácia (social e jurídica), aplicabilidade e aplicação 3.1 Eficácia social A norma se concretiza na realidade social; seus efeitos se fazem sentir. Conceitos ligados: plano da análise sociológica do Direito; desuetude (Kelsen); princípio da observância; efetividade; realização. 3.2 Eficácia jurídica Conceito dogmático; significa a aptidão para que uma norma seja aplicada; é uma potência; é a capacidade de produzir efeitos jurídicos. 3.3 Aplicabilidade Elemento que sucede a eficácia jurídica; ato que pressupõe uma ação. É a possibilidade de atuação de uma autoridade judiciária ou administrativa para utilizar determinada norma jurídica para a solução de conflitos intersubjetivos de interesses. 3.4 Aplicação Ato concreto do juiz em aplicar uma norma jurídica. 4 Classificações As seguintes classificações levam em consideração a eficácia jurídica e a aplicabilidade da norma. 4.1 Thomas Cooley (Ruy Barbosa) 4.1.1 Normas auto aplicáveis São aquelas que estão aptas para serem aplicadas a partir da promulgação constitucional; têm aplicabilidade direta. 4.1.2 Normas não autoaplicáveis Dependem de lei regulamentadora para que possam ser aplicadas. Existe a necessidade de lei infraconstitucional para que elas adquiram eficácia jurídica. Ex.: determinados chamados, como "na forma da lei", "segundo lei complementar" etc. 4.2 Pontes de Miranda Incidência. Há primeiro a incidência da norma, e então a sua aplicação. No entanto, as normas que incidem nem sempre são aplicadas. 4.2.1 Normas bastantes em si Estão aptas a incidir (transformar o fato em fato jurídico; o suporte fático é preenchido). O suporte fático é um fato, seja evento ou conduta, que poderá ocorrer no mundo e que, por ter sido considerado relevante, tornou-se objeto da normatividade jurídica. 4.2.2 Normas não bastantes em si Não estão aptas a incidir, ou seja, não podem incidir enquanto não houver complementação a seu respeito. 4.2.3 Normas programáticas Não estabelecem uma conduta, estabelecem diretrizes, metas, objetivos etc. 4.3 José Afonso da Silva (classificação adequada à realidade do Brasil) 4.3.1 Normas constitucionais de eficácia plena Eficácia jurídica imediata e aplicabilidade direta, ou seja, desde a sua promulgação, as normas estão aptas para produzir efeitos e podem ser aplicadas pelo juiz. Existem normas de eficácia plena que podem ser regulamentadas, porém elas têm uma natureza clarificadora, ou seja, vai clarificar o conceito/direito que está previsto na Constituição. 4.3.2 Normas constitucionais de eficácia contida A aplicabilidade é direta, mas a eficácia é passível de ser restringida por uma lei, ou seja, são aquelas que estão aptas para produzir efeitos e ser aplicadas para a solução de casos concretos, podendo ter seu espectro de atuação restringido mediante lei ordinária ou complementar. Ex.: CF, art. 5º, XIII, “é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer.” 4.3.3 Normas constitucionais de eficácia limitada São aquelas que não estão aptas para produzir efeitos enquanto não for editada lei regulamentadora. Ex.: CF, art. 9, caput, “é assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobrea oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender.” 4.3.3.1 Normas de princípios institutivos São aquelas que disciplinam a organização dos poderes e instituições estatais. Ex.: magistratura, Poder Judiciário, Executivo e Legislativo; Tribunal de Contas, Defensoria Pública etc. Se dão por meio de lei orgânica. 4.3.3.2 Normas de princípios programáticos São aquelas, de natureza cogente, que estabelecem objetivos, metas, diretrizes, planos, ou programas a serem implementados por lei. 5 Teorias da interpretação A hermenêutica é uma disciplina que surge com muita força na Idade Média, sobretudo nos centros de estudos religiosos (conventos, mosteiros, seminários, abadias etc). A hermenêutica surge para conseguir estabelecer o conteúdo das escrituras sagradas (que têm linguagem simbólica). A hermenêutica se desenvolve até chegar à hermenêutica jurídica. 5.1 Hermenêutica Segundo Carlos Maximiliano, é a teoria da arte de interpretar. A hermenêutica se manifesta por métodos e princípios. 5.2 Hermenêutica jurídica Disciplina que tem o objetivo de estabelecer princípios e métodos destinados à descoberta do conteúdo de determinada norma jurídica. 5.3 Interpretação Ação concreta de um sujeito cognoscente que vai estabelecer a norma jurídica. 5.4 Correntes interpretativas 5.4.1 Interpretativista Nega toda e qualquer possibilidade de o juiz criar o Direito indo além do que o texto lhe permite; baseia-se na lei ou nas aberturas que a lei dá. 5.4.2 Não interpretativista Defende um ativismo judicial na interpretação, permitindo ao juiz exercer atividade criadora da lei, inclusive invocando princípios e valores constitucionais. Realiza, portanto, uma interpretação substancial da Constituição voltada para a efetividade dos valores constitucionais, para a criação do Direito e para uma postura proativa do magistrado. Obs.: prevalecente nos EUA. 5.4.2.1 Ativismo judicial Postura filosófica relacionada à atuação do judiciário na criação do direito, e tem premissas bastante claras: 1) possibilidade do juiz criar o Direito; e 2) o juiz deve ser proativo. 5.5 Métodos de interpretação 5.5.1 Gramatical Método pelo qual faz-se uma análise sintática do enunciado normativo. 5.5.2 Histórico Método pelo qual o intérprete vai buscar nos documentos legislativos as razões que justificaram a existência de determinado projeto de lei. 5.5.3 Teleológico Método pelo qual faz-se uma análise do objetivo da lei e os objetivos atingidos pela norma. Deve-se levar em conta as exigências econômicas e sociais que ela buscou atender e conformá-la aos princípios da justiça e do bem comum. 5.5.4 Sistemático Método pelo qual faz-se análise da norma dentro do contexto em que ela está inserida, ou seja, “comparar o dispositivo com outros do mesmo repositório ou de leis diversas, mas referentes ao mesmo objeto”. 5.5.5 Analógico Ocorre quando não há previsão para um caso concreto, porém o juiz precisa julgar, assim, busca-se um caso similar para tal. HERMENÊUTICA CONSTITUCIONAL A hermenêutica constitucional se dá com o surgimento de novos métodos e princípios. A ciência da hermenêutica constitucional é a busca de ferramentas para a interpretação. Segundo Gilmar Mendes, em sua doutrina, Curso de Direito Constitucional: “interpretação constitucional é a atividade que consiste em fixar o sentido das normas da lei fundamental – sejam essas normas regras ou princípios –, tendo em vista resolver problemas práticos, se e quando a simples leitura dos textos não permitir, de plano, a compreensão do seu significado e alcance.” Segundo Robert Alexy, princípios constitucionais são mandados de otimização que devem ser aplicados diante da situação fático-jurídica presente em determinada circunstância. 1 Princípios norteadores da interpretação constitucional 1.1 Princípio da unidade da Constituição Analisar/interpretar a Constituição como uma unidade de valores. É a análise da Constituição como um sistema unitário e buscar o fundamento para a efetivação de direitos. 1.2 Princípio do efeito integrador Tem forte relação com o consequencialismo. Esse princípio leva em consideração a repercussão que determinada decisão terá na sociedade. Recomenda-se que o juiz procure antecipar as consequências da sentença e se comprometa a que a decisão seja integrada da sociedade, ou seja, tenha integração social. 1.3 Princípio da máxima efetividade da Constituição Parte da constatação de que o juiz deve sempre buscar realizar a norma constitucional na decisão concreta. A norma constitucional não pode ser vista apenas como um princípio, ela deve ser cumprida na prática. A efetivação da norma consiste também na execução da sentença. Segundo Pedro Lenza, esse princípio deve ser entendido no sentido de a norma constitucional ter a mais ampla efetividade social. Pode-se haver crises de efetividade dos direitos sociais, como no Brasil atualmente. 1.4 Princípio da conformidade funcional A conformidade funcional é um parâmetro que o juiz deve usar para averiguar se os princípios de determinado órgão ou instituição estão em execução, ou seja, faz-se uma análise das competências dos órgãos/instituições contidos na Constituição para assim evitar abuso de poder. 1.5 Princípio da concordância prática ou harmonização Está relacionado ao princípio da unidade da Constituição. Acontece quando da ocorrência de choques entre o exercício de determinados direitos, geralmente fundamentais. O juiz deve ter a tendência à concordância prática. 1.6 Princípio da força normativa da Constituição Estabelece que toda norma constitucional possui, ainda que em grau reduzido, eficácia. Logo, a Constituição deve incorporar em sua essência a realidade sócio-política, conformando a realidade e, ao mesmo tempo, sendo conformada por ela. Assim, a Constituição deve ser interpretada de modo que lhe seja assegurada força normativa, reconhecendo a eficácia de suas normas, já que não se trata de uma mera carta política de intenções . 1 1.7 Princípio da proporcionalidade Tenta-se materializar o princípio da harmonização. Parte da concepção de que toda causa pode ter várias soluções jurídicas. 1.7.1 Critérios racionais para a solução de um conflito 1 Princípios Da Interpretação Constitucional. Conteúdo Jurídico. Disponível em: <https://conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/46149/principios-da-interpretacao-constitucional>. Acesso em: 05 dez. 2019. https://conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/46149/principios-da-interpretacao-constitucional 1.7.1.1 Adequação Busca das decisões mais adequadas; descarte das soluções radicais. Elenca-se todas as soluções possíveis para a decisão e descarta-se aquelas aquém do sistema jurídico. 1.7.1.2 Necessidade Busca quais medidas/decisões são necessárias para a solução do conflito. Elenca-se as necessárias/plausíveis, que não há contradição no sistema jurídico, ou seja, que não vá de encontro à Constituição. 1.7.1.3 Proporcionalidade em sentido estrito Momento de ponderação e tomada de decisão; pode-se escolher uma das possibilidades ou mesclá-las para se ter uma decisão final. Deve-se encontrar as mais necessárias para solucionar o conflito naquele momento. É a operação intelectiva através da qual o juiz promove a escolha das soluções mais eficazes paraa solução do litígio a partir da ponderação entre as opções aceitas pelo sistema jurídico. 1.8 Princípio da presunção de constitucionalidade das leis É uma presunção relativa; parte-se da premissa de que todas as leis são constitucionais, a não ser da declaração judicial de inconstitucionalidade, o que resultará em nulidade da norma. Relaciona-se com o direito intertemporal. 1.9 Princípio da interpretação conforme a Constituição Diante de normas polissêmicas, o intérprete deve optar pela interpretação que mais se compatibilize com a Constituição, afastando as demais interpretações que violem a Constituição. 1.10 Sociedade aberta dos intérpretes da Constituição A ideia de uma sociedade aberta de intérpretes da Constituição, formulada por Peter Häberle, defende que o círculo de intérpretes da Constituição deve ser alargado para abarcar não apenas as autoridades públicas e as partes formais nos processos de controle de constitucionalidade, mas todos os cidadãos e grupos sociais que, de uma forma ou de outra, vivenciam a realidade constitucional . 2 Na Constituição não há contradição, e sim antinomias. Isso ocorre quando há colisão de direitos e faz-se necessário a relevância de tais garantias e decidir qual teria mais expressão perante o caso concreto. EFETIVIDADE DOS DIREITOS SOCIAIS — PRINCÍPIOS 1 Introdução Os direitos sociais se desenvolveram através de políticas públicas; eles obrigam o Estado a fazer algo para que sejam efetivados. Esses direitos nasceram após a 2ª Guerra Mundial, primeiramente nas Constituições do México e de Weimar. O Brasil tem muitas carências a respeito desses direitos; o problema não está apenas na corrupção, mas principalmente na gestão de recursos. 2 Princípio do mínimo existencial Na hermenêutica existem os métodos e os princípios. O princípio da dignidade da pessoa humana é o grande fator, o metaprincípio da Constituição brasileira; dele, pode-se extrair o princípio do mínimo existencial, que engloba um conjunto de direitos que são essenciais e que, se retirados, podem afetar a dignidade humana; direitos básicos. São os direitos assegurados a 2 MENDES, Gilmar. Homenagem à doutrina de Peter Häberle e sua influência no Brasil. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/repositorio/cms/portalstfinternacional/portalstfagenda_pt_br/anexo/homenagem_a_pet er_haberle__pronunciamento__3_1.pdf>. Acesso em: 23 jan. 2020. http://www.stf.jus.br/repositorio/cms/portalstfinternacional/portalstfagenda_pt_br/anexo/homenagem_a_peter_haberle__pronunciamento__3_1.pdf http://www.stf.jus.br/repositorio/cms/portalstfinternacional/portalstfagenda_pt_br/anexo/homenagem_a_peter_haberle__pronunciamento__3_1.pdf todos de satisfação de suas necessidades básicas sob o plano físico (como, por exemplo, segurança alimentar, saúde, segurança pública etc.), psíquico (como, por exemplo, o direito ao lazer) e moral (como, por exemplo, o direito de não sofrer preconceito, desrespeito etc.) O direito/princípio do mínimo existencial, quando evocado em uma causa, precisa estar atrelado à argumentação. 3 Princípio da reserva possível O cumprimento de obrigações está ligado a custos para o Estado. O Estado é uma empresa que visa lucros sociais. As necessidades humanas são ilimitadas e os recursos do Estado são escassos. Esse princípio parte da concepção que o Estado só pode arcar com os custos de determinada causa (?) se o orçamento permitir; é um princípio limitador do gestor público, que está limitado a gastar apenas os valores permitidos pela lei orçamentária. Muitas vezes o princípio do mínimo existencial se choca com o princípio da reserva possível. Há uma antinomia. A jurisprudência tem decidido que o princípio do mínimo existencial prevalece. 4 Princípio da proibição do retrocesso social O princípio da proibição do retrocesso social está ligado ao princípio da progressividade. Segundo Alexy, os direitos sociais estão ligados aos chamados mandados de otimização a serem cumpridos de acordo com as circunstâncias fáticas e jurídicas presentes em cada caso concreto. Os direitos sociais são passíveis de incrementação progressiva (princípio da progressividade; direito internacional). Uma vez alcançadas determinadas marcas/níveis de satisfação dos direitos sociais, não se pode haver retrocesso. O princípio da proibição do retrocesso social protege o princípio da progressividade. Um direito adquirido pode ser modificado, não extinto. 5 Princípio da proibição da proteção deficiente O princípio da proibição da proteção deficiente se refere à estrutura deficiente de um serviço fornecido pelo Estado. Esse princípio visa combater essas deficiências. Pode se chocar com o princípio da reserva possível, mas geralmente se tratam de deficiências, inconsistências no serviço existente, buscando melhorias, não evitar a extinção. 6 Princípio da proibição do excesso O princípio da proibição do excesso está ligado ao abuso de poder, que pode ser 1) extrapolar suas atribuições; ou 2) desvio de poder, ou seja, praticar um ato quando não se é competente para fazê-lo. O princípio da proibição do excesso visa ser um freio, limitar o Estado, para que abusos não sejam cometidos, pois são considerados ilegais. A SOCIEDADE ABERTA DOS INTÉRPRETES DA CONSTITUIÇÃO 1 Introdução: Interpretação das normas jurídicas ● Busca da hermenêutica voltada à sociedade em sua realidade ; 3 ● Estado Democrático de Direito; ● Interpretação consoante legisladores eleitos democraticamente ; 4 ● Interesses sociais no Estado Democrático de Direito. 2 Interpretação pluralista e procedimental da Constituição 5 ● Participação dos atores políticos (ex.: ONGs, associações, cidadãos, entidades religiosas etc.); 3 A norma alcança a todos, dessa forma, os cidadãos podem interpretá-la. A norma atinge a sociedade, a sociedade a interpreta. 4 A interpretação constitucional deve ser em sociedade aberta pois os legisladores foram eleitos democraticamente. 5 Art. 1º, V (CF/88): pluralismo político → conviver de maneira harmônica e inclusiva com as diferenças. ● Influência dos legisladores na produção das leis; ● Afasta monopólio interpretativo do Estado (sociedade fechada → juízes); 6 ● A nova hermenêutica contempla: viés cultural, tradições, legados sociais do povo, costumes sociais, valores, ideais de conduta, modelos culturais. 3 Características 3.1 Sociedade fechada ● Intérpretes jurídicos vinculados às corporações; ● Elemento cerrado com numerus clausus de intérpretes. 7 3.2 Sociedade aberta ● Plural; ● Intérpretes jurídicos convivem com os intérpretes da sociedade aberta; ● Órgãos estatais; ● Cidadãos, grupos sociais, participação democrática; ● Persiste a jurisdição constitucional ; 8 ● Decisões jurisdicionais revestidas de mais legitimidade . 9 4 Na Constituição Federal de 1988 ● “AMICUS CURIAE” → Lei 9868/99 (art. 9º, §1º e art. 20, §1º); 10 ● Audiências públicas — 1ª audiência pública: células-tronco de embriões humanos Ensino religioso nas escolas públicas - ADI 4439/STF; 11 Políticas de Ação Afirmativa de acesso ao ensino superior - ADPF 186 e RE 597.285. 6 Afastar, não inibir. A interpretação pluralista não nega o monopólio do Estado; a última palavra é do Judiciário, porém a sociedade participa da interpretação. 7 Significa determinado, taxado, ou seja, os intérpretes são determinados, há um limite. 8 Decisões são dadas pelo Judiciário,mas a sociedade pode participar da discussão. 9 O julgador não se submete somente à interpretação dos demais, mas há observância; está ligado à ideia de consenso. 10 “Amigo da corte”; representação da sociedade aberta; pessoa aquém do Judiciário que explicita e defende sua própria interpretação. 11 Basicamente, um instrumento para efetivar a análise de inconstitucionalidade de uma norma.
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