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PRECEDENTES JUDICIAIS E SUA APLICABILIDADE AO SISTEMA BRASILEIRO

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Prévia do material em texto

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO 
FACULDADE DE DIREITO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PEDRO PAULO RIBAS HÜMMEL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PRECEDENTES JUDICIAIS E SUA APLICABILIDADE AO SISTEMA BRASILEIRO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SÃO PAULO 
PEDRO PAULO RIBAS HÜMMEL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PRECEDENTES JUDICIAIS E SUA APLICABILIDADE AO SISTEMA BRASILEIRO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Trabalho de Monografia Jurídica apresentado 
ao Curso de Especialização (pós-graduação), 
como parte dos requisitos para obtenção do 
título de especialista em Direito, na área de 
Direito Processual Civil, sob orientação do 
Professor-Orientador Cássio Scarpinella 
Bueno. 
 
 
 
 
SÃO PAULO/SP 
MARÇO/2017 
DEDICATÓRIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
à minha família pelo amor, apoio, carinho, 
entusiasmo, força e zelo incondicionais; 
à Luiza pelo amor, apoio, carinho, entusiasmo, 
força, zelo e, principalmente, paciência 
incondicionais; 
aos meus amigos pelos momentos prazerosos; 
aos meus chefes e colegas profissionais, pelos 
inúmeros ensinamentos. 
AGRADECIMENTOS 
 
Agradeço aos meus professores de Pós-graduação, especialmente na figura de 
Stella Economides Maciel pela dedicação às aulas ministradas, pela proposição de novos 
ensinamentos e reflexões. 
 
Agradeço, especialmente, ao Professor e Orientador Cássio Scarpinella Bueno, 
responsável pela realização deste trabalho. 
 
Agradeço, também, aos meus colegas de classe, que tornaram esses anos tão 
agradáveis, notadamente à Bruno Trachard Passos, hoje mais que simples colega, um amigo. 
 
Agradeço à minha família, especialmente aos meus pais, irmãos e Luiza pelo amor, 
apoio, carinho, força, zelo e, principalmente, o entusiasmo compartilhado a cada nova 
conquista. 
 
Agradeço, ainda, aos meus amigos, que embora não soubessem, iluminaram os 
meus pensamentos. 
EPÍGRAFE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“e se disseres que ajo como louca, eu te 
respondo que só sou louca na razão de um 
louco” (Sófocles, Antígona) 
RESUMO 
 
O novo Código de Processo Civil (Lei Federal nº 13.105, de 16 de março de 2015 – 
o “CPC/2015”) propôs inúmeras e profundas alterações no sistema jurídico brasileiro. 
 
Dentre as alterações propostas pelo CPC/2015 e ao que se ocupa este trabalho, veio 
à tona a teoria dos precedentes judiciais e sua aplicabilidade ao sistema jurídico brasileiro. 
 
Isso porque, como erigido o novo diploma processual, há quem sustente que o 
CPC/2015, através da teoria dos procedentes judiciais, pretende dotar de eficácia vinculante 
outras decisões além daquelas tomadas no julgamento de ação direta de 
inconstitucionalidade e de ação declaratória de constitucionalidade (art. 102, § 2º, da 
Constituição Federal – a “CF”) e daquelas propostas pelo Supremo Tribunal Federal (o “STF”) 
como súmula vinculante. 
 
Assim, diante da pretensa atribuição de eficácia vinculante a outras decisões afora 
àquelas previstas pela CF, é grande o embate, por ora, apenas doutrinário, sobre a 
constitucionalidade da previsão do CPC/2015 e, admitida a constitucionalidade da referida 
proposição, a sua aplicabilidade no sistema jurídico brasileiro. 
 
Conquanto não se menospreze a relevância das proposições do CPC/2015, esse 
estudo é, eminentemente, doutrinário. 
 
Palavras-chaves: (i) precedentes judiciais (ii) common law; (iii) civil law; (iv) modelo 
constitucional do direito processual civil brasileiro. 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 8 
2 SISTEMAS JURÍDICOS OCIDENTAIS .......................................................................... 9 
2.1 CIVIL LAW ................................................................................................................. 9 
2.2 COMMON LAW ........................................................................................................ 13 
2.3 MITOS DOS SISTEMAS JURÍDICOS E CONFLUÊNCIA ENTRE O CIVIL LAW E O 
COMMON LAW................................................................................................................ 18 
3 PREMISSAS PARA COMPREENSÃO DA ADOÇÃO DA TEORIA DOS 
PRECEDENTES JUDICIAIS NO DIREITO PROCESSUAL CIVIL BRASILEIRO – MODELO 
CONSTITUCIONAL DO DIREITO PROCESSUAL CIVIL BRASILEIRO ............................. 20 
3.1 PRINCÍPIOS ............................................................................................................ 20 
3.2 FUNÇÃO .................................................................................................................. 21 
3.3 CONCEITO DE PRECEDENTE ............................................................................... 26 
3.4 ELEMENTOS ........................................................................................................... 32 
3.5 EFEITOS PRAGMÁTICOS DA ADOÇÃO DA TEORIA DOS PRECEDENTES 
JUDICIAIS NO DIREITO PROCESSUAL CIVIL BRASILEIRO .......................................... 33 
3.5.1 DURAÇÃO RAZOÁVEL DO PROCESSO ........................................................ 34 
3.5.2 DESESTÍMULO À LITIGÂNCIA ........................................................................ 34 
3.5.3 SOLUÇÃO PARA CAUSAS REPETITIVAS ...................................................... 34 
4 PRÁTICA DA TEORIA DOS PRECEDENTES JUDICIAIS NO SISTEMA 
PROCESSUAL CIVIL VIGENTE ......................................................................................... 36 
4.1 APLICAÇÃO DO PRECEDENTE AO CASO CONCRETO ........................................ 36 
4.2 REJEIÇÃO DO PRECEDENTE AO CASO CONCRETO .......................................... 36 
4.2.1 DISTINÇÃO DO CASO CONCRETO AO PRECEDENTE – DISTINGUISHING 
DO COMMON LAW ..................................................................................................... 37 
4.2.2 SUPERAÇÃO DO PRECEDENTE – FORMAÇÃO DE NOVO PRECEDENTE – 
OVERRULING DO COMMON LAW ............................................................................. 38 
5 REFLEXOS DA ADOÇÃO DO SISTEMA DE PRECEDENTES ................................... 40 
5.1 DOGMA DA EXCLUSÃO DOS FUNDAMENTOS DECISÓRIOS DA COISA JULGADA
 40 
6 CONCLUSÃO .............................................................................................................. 42 
BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................... 44 
8 
1 INTRODUÇÃO 
 
O novel compêndio processual civil propôs a adoção da teoria dos precedentes 
judiciais. 
 
Para que se possa compreender a teoria dos precedentes judiciais, em primeiro 
lugar, não há como deixar tratar dos dois grandes sistemas jurídicos ocidentais – civil law e 
common law –, especialmente as principais distinções entre um e outro. 
 
Por se tratar de pedra fundamental do common law, nesse capítulo, ainda, adentrar-
se-á à teoria dos precedentes judiciais. 
 
Em conclusão ao primeiro capítulo, abordar-se-ão os dogmas propostos acerca da 
impossibilidade de coexistência do civil law e do common law – e a teoria dos precedentes 
judiciais – em um único sistema jurídico. 
 
Demonstrada a possibilidade de confluência dos dois grandes sistemas jurídicos 
ocidentais, o capítulo seguinte ocupar-se-á da análise de admissibilidade da teoria dos 
precedentes judiciais perante o sistema jurídico brasileiro, à luz do modelo constitucional do 
direito processual civil brasileiro. 
 
Nessas linhas, será necessário compreender os princípios, os fundamentos, a função 
o conceito e os elementos de um precedente, bem como a sua aplicação, sua rejeição, sua 
distinção e sua superação no julgamento de um caso concreto. 
 
Diante de tais proposições, surge a questão: a observância aos precedentes 
obrigatórios e/ou vinculantes depende de autorização/determinaçãoexpressa da 
Constituição? 
 
Na linha proposta neste trabalho, veremos que a resposta é negativa, ao menos 
quando se tratar de precedente erigido da ponderação de princípios. 
 
Caminhando ao final da jornada traçada, a presente monografia apontará breve 
reflexo da adoção da teoria dos precedentes judiciais, especialmente em relação à teoria da 
coisa julgada. 
 
9 
 
2 SISTEMAS JURÍDICOS OCIDENTAIS 
 
Para que se possa compreender o atual estágio da teoria dos precedentes judiciais 
no sistema jurídico brasileiro, antes, há que se resgatar as distinções basilares do civil law e 
do common law. 
 
Diante da adoção, primordial, do civil law no sistema jurídico brasileiro, parece mais 
lógico tratar desta cultura primeiro, para o reestabelecimento de algumas premissas, e, em 
seguida, confrontá-la com o common law e, ao final, a possibilidade de coexistência desses 
modelos em um único sistema jurídico. 
 
2.1 CIVIL LAW 
 
O sistema jurídico do civil law, também conhecido como sistema romano-germânico 
ou romano-canônico, nos remete ao direito romano e aos seus fundamentos. 
 
Lucas Buril de Macêdo1 enumera três fatores históricos para a definição da tradição 
jurídica do civil law: (i) direito romano imperial, (ii) filosofia católica e (iii) movimento de 
codificação. 
 
Em primeiro lugar, Lucas Buril de Macêdo aponta que “o direito romano imperial foi 
(...) acolhido na Europa Continental, tido como a própria ‘razão escrita’, mediante o estudo na 
Universidades Corpus Juris Civilis, sobretudo do Digesto – cinquenta livros contendo 
fragmento das obras dos principais juristas”2. 
 
Por oportuno, impede destacar, desde já, grande distinção entre o civil law e o 
common law – o prestígio dos doutrinadores naquele regime e, como será demonstrado em 
momento oportuno, o apreço dos Juízes neste regime. 
 
A partir desse fato histórico, aliás, já se denotam os primeiros sinais para o 
movimento de codificação no civil law. 
 
 
1 MACÊDO, Lucas Buril. Precedentes judiciais e o direito processual civil, p. 30. 
2 MACÊDO, Op. cit., p. 30. 
10 
Em segundo lugar, Lucas Buril de Macêdo sustenta que a filosofia católica tem 
grande influência perante a tradição do civil law em razão do domínio da Igreja perante o 
Estado durante boa parte da cultura medieval, especialmente nos aspectos morais e éticos. 
 
Em terceiro e último lugar, Lucas Buril de Macêdo aponta o surgimento do Código de 
Napoleão como confirmação do movimento de codificação do civil law, eis que tal dispositivo 
se prestou a corroborar os ideais da Revolução Francesa – liberdade, igualdade e 
fraternidade. Com efeito, impende apontar que codificação permitiria, ao menos 
hipoteticamente, a igualdade formal entre os cidadãos. 
 
Aqui, ainda, é oportuno ressaltar que a codificação do civil law importou na expansão 
do racionalismo, “na medida em que se busca dar trato científico, sistemático e exato ao 
direito”3, o que, adiante-se, ganhou forças com a teoria da separação dos poderes. 
 
Em arremate aos contornos históricos determinantes para a correta compreensão da 
formação e extensão do civil law, o Lucas Buril de Macêdo adianta que o civil law e a common 
law não se distinguem, essencialmente, pela codificação normativa – eis que a common law 
também se vale desse mecanismo para previsibilidade do direito –, mas, sim, da valoração 
dada à codificação em cada um dos sistemas jurídicos. 
 
Superada essa questão histórica, o referido doutrinador se preocupa em enumerar 
as características tradicionais do civil law. Ao que interessa a esse trabalho, podemos apontar: 
(i) rígida tripartição dos poderes, (ii) função e valor dos juízes e dos legisladores, (iii) as fontes 
do direito, (iv) a fonte do direito como ciência e o papel da doutrina. 
 
Apoiado nos ideais da Revolução francesa e adotando a teoria da tripartição dos 
poderes desenvolvida pelo francês Montesquieu, o civil law contribuiu para a supervalorização 
do Poder Legislativo em relação ao Poder Judiciário, outorgando-se ao primeiro o encargo da 
“atividade produtiva do direito”4 e ao segundo a mera declaração (e aplicação) da lei, daí 
porque a máxima de que o juiz não passa de la bouche de la loi. 
 
Seguir a teoria da separação dos poderes como proposta acima importava aceitar o 
pressuposto de que a lei era – e seria – suficiente para a solução de qualquer fato jurídico – 
o que, porém, o tempo mostrou o contrário. Nessas linhas, aliás, como anota Teresa Arruda 
 
3 MACÊDO, Op. cit., p. 32. 
4 MACÊDO, Op. cit., p. 35. 
11 
Alvim Wambier, “hoje a lei está repleta de conceitos vagos ou indeterminados, de cláusulas 
gerais”5. 
 
Igualmente, por ser o Poder Legislativo o representante direto e imediato do povo, a 
principal fonte do direito no civil law é a lei, sendo outras fontes do direito – costumes, doutrina 
e jurisprudência – meramente secundárias. 
 
Aqui, todavia, surge grande contradição desse sistema. Isso porque, embora a 
doutrina seja fonte subsidiária do direito, ao decidir o caso concreto, o juiz do civil law emprega 
referências de obras de juristas renomados – que, contudo, “muitas vezes se limitar a operar 
com conceitos abstratos, negligenciando a facticidade, e por outras tenta elevar o que é feito 
em um caso concreto a encontrar teorias cientificamente aplicáveis do que em resolver 
problemas práticos com justiça”6 – ou seja, a lei era – e é – insuficiente para a solução de 
todos os fatos jurídicos. 
 
Nessa toada e em paralelo ao tema aqui proposto, José Rogério Cruz e Tucci7 afirma 
que o CPC/2015, enquanto norma legal escrita de um sistema jurídico predominantemente 
civil law, perdeu a oportunidade de se valer dos ensinamentos da doutrina e conceituar, por 
exemplo, o que é um precedente judicial. 
 
Feitas essas considerações, é necessário destacar que algumas dessas 
características tradicionais do civil law encontram-se superadas – especialmente as fontes do 
direito –, por força do movimento do (neo)constitucionalismo. 
 
Isso porque, como explica Júlio Cesar Rossi, “Por meio desse movimento enfatizou-
se a rigidez funcional e, por consequência, ressaltou-se a superioridades das constituições 
como fonte primeira do direito, inaugurando uma nova hierarquia ou teoria das fontes”8. 
 
Por oportuno, diante das disposições gerais de uma constituição e da insuficiência 
legal – seja mera lacuna, seja, pior, omissão legislativa – aos diversos fatos jurídicos, em 
determinados sistemas jurídicos adeptos ao civil law – tal qual o Brasil – já não se 
 
5 WAMBIER, A vinculatividade dos precedentes e o ativistmo judicial – paradoxo apenas 
aparente, p. 263. 
6 Op. cit., p. 37. 
7 Em palestra proferida no “Congresso sobre o novo CPC após um ano de vigência – Em homenagem 
aos 85 anos da OAB SP e aos 190 anos da Faculdade de Direito do Largo São Francisco”, realizado 
em São Paulo, no dia 24 de março de 2017. 
8 ROSSI, Precedente à brasileira: a jurisprudência vinculante no CPC e no Novo CPC, p. 68. 
12 
desconsidera “a possibilidade de a jurisprudência vir a regular determinadas situação 
concreta, desde que, evidentemente, referida construção esteja em total e completa 
compatibilidade com o texto constitucional”9. 
 
Tal entendimento, ademais, coloca em xeque as teorias (i) da subsunção (do fato à 
norma) – caminhando-se para a teoria da ponderação (de princípios e regras) –, (ii) da 
predileção do Poder Legislativo ao Poder Judiciário10, (iii) da impossibilidade de criação do 
direito pelo juiz11 e (iv) ausência de precedentes vinculantes e/ou obrigatórios – todas 
características comum do common law. 
 
9 ROSSI, Precedente à brasileira: a jurisprudência vinculante no CPC e no Novo CPC p. 69. 
10 “Embora possa haver muita discussão a respeito de quais foram as teorias métodos, ideologias ou 
movimentos jurídicos mais marcantes no período de vigência da Constituição de 1988, dúvidas alguma 
existirá com relação ao fato de queo fortalecimento do que se convencionou chamar de 
‘neoconstitucionalismo’ foi um dos fenômenos mais visíveis da teorização e aplicação do Direito 
Constitucional nos últimos 20 anos no Brasil. 
É certo que não há apenas um conceito de ‘neoconstitucionalismo’. A diversidade de autores, 
concepções, elementos e perspectivas é tanta que torna inviável esboçar uma teoria única do 
‘neoconstitucionalismo’. (...) Mesmo assim, podem ser apontadas algumas mudanças fundamentais – 
ocorridas ou meramente desejadas, em maior ou em menor intensidade – desse movimento de 
teorização e aplicação do Direito Constitucional denominado de ‘neoconstitucionalismo’: princípios em 
vez de regras (ou mais princípios do que regras) ponderação no lugar de subsunção (ou mais 
ponderação do que subsunção); justiça particular em vez de justiça geral (ou mais análise individual e 
concreta do que geral e abstrata); Poder Judiciário e menos Poderes Legislativo e Executivo); 
Constituição e substituição à lei (ou maior, ou direta, aplicação da Constituição em vez da lei).” (ÁVILA, 
Humberto. “Neoconstitucionalismo”: Entre a “ciência do direito” e o “direito da ciência”, P.1/2) 
11 “Em síntese, o que dissemos neste artigo foi o seguinte: 
(a) É inescondível que o juiz, ao decidir, exerce em diferentes graus, muito frequentemente, 
atividade de índole criativa. 
(b) Deve fazê-lo à luz do ethos dominante – e não de seus medos, de suas convicções religiosas 
ou políticas etc. 
(c) Via de regra, os casos que proporcionam ao juiz oportunidade de, legitimamente, exercer certa 
dose de liberdade, localizam-se em ambientes decisionais frouxos: em que a qualidade da 
decisão é mais importante que a segurança jurídica. 
(d) A liberdade que os sistemas de civil law proporcionam destina-se ao JUDICIÁRIO, e não a 
cada juiz, individualmente considerado. O legislativo fazer a lei, o judiciário a interpreta e a 
aplica. 
(e) Portanto, uma vez decidida a questão pelas Cortes Superiores (com liberdade) devem os 
demais órgãos do Judiciário – e, é evidente TAMBÉM AS PRÓPRIAS CORTES SUPERIORES! 
– respeitar a opção feita naqueles precedentes (sem liberdade). 
(f) Quando se trata de decisões proferidas em ambientes frouxos, os casos quase nunca são 
idênticos. Há, todavia, formas de identificar a essência de casos cujos fatos são diferentes, que 
o jurista brasileiro deve estudar. Isto, se pode aprender com os povos de common law.” 
(WAMBIER, A vinculatividade dos precedentes e o ativistmo judicial – paradoxo apenas 
aparente, p. 274) 
13 
2.2 COMMON LAW 
 
Ao contrário do sistema do civil law, a história do common law se desenvolveu de 
forma mais uniforme e constante. 
 
O common law teve início com a conquista da Inglaterra pelos Normandos, em 1066. 
Isso porque, os Normandos sistematizaram o estado inglês, contribuindo para “o espírito de 
administração inteligente, de governo organizado e de execução severa dos direitos reais, 
base determinantes para a construção da tradição de common law”12. 
 
Apesar da sistematização implementada pelos Normandos e a execução severa dos 
direitos reais, Lucas Buril de Macêdo aponta que “os normandos tiveram grande tolerância 
com as leis e costumes ingleses, mantiveram suas Hundred Courts e County Courts, e foi 
publicada uma carta régia expressamente acolhendo a aplicação do direito anterior para os 
nativos”13. 
 
Contudo, a decisão dos normandos por manter determinadas tradições dos ingleses 
logo deu causa à uma crise no sistema judiciário, “gerada pela multiplicidade de costumes e 
competências, não sendo rara a intervenção do Rei por meio de um royal writ, ordenando ou 
proibindo algo”14. 
 
Em continuidade, e mais uma vez a partir da sistematização dos Normandos, iniciou-
se processo de centralização e especialização do sistema judiciário, especialmente com a 
instituição do “Tribunal Real de Justiça (King’s Court ou Curia Regis), vulgarmente designado 
Court of Westminster tomando o nome do lugar onde se estabeleceram seus juízes, órgãos 
de grande valor para a formação do common law”15. 
 
Concomitantemente, houve a disseminação do costume e prática das decisões da 
King’s Court, através dos juízes em deslocamentos (justices in eyre), para a substituição dos 
costumes locais. 
 
Por oportuno, impende apontar que a grande razão para a coexistência de dois 
sistemas jurídicos se dá em razão do amadurecimento precoce do direito inglês, que já havia 
 
12 MACÊDO, Precedentes judiciais e o direito processual civil, p. 40. 
13 MACÊDO, Op. cit., p. 40. 
14 MACÊDO, Op. cit., p. 41. 
15 MACÊDO, Op. cit., p. 41/42. 
14 
centralizado as demandas nos tribunais reais enquanto os demais países ainda aplicavam 
direitos locais ou regionais. 
 
Assim, é por força da propagação das decisões da King’s Court que se diz que o 
common law é constituído, eminentemente, da criatividade jurisprudencial. 
 
Tal assertiva, contudo, não é absoluta, mormente quando comparado o common law 
inglês ao common law americano. 
 
Nessas linhas, de acordo com Mortimer Sellers16, a concepção do common law 
americano diverge da concepção inglesa pois os americanos se valeram da lei e do 
precedente para restringir o poder do monarca, enquanto as autoridades britânicas 
reafirmavam as decisões cada vez mais autoritárias do monarca. 
 
De acordo com o referido autor, ainda, o common law americano adotou o common 
law inglês em sua “teoria pura”, enquanto a Inglaterra caminhava ao entendimento de que a 
lei é um comando referencial a alguém anteriormente obrigado a obedecer. 
 
Assim, enquanto os ingleses viam os precedentes como uma forma de “legislação 
judicial” – pois passavam a atribuir maior valor à legislação –, os americanos se sentiam 
constrangidos a descobrir e respeitar o common law através da razão e dos precedentes 
judiciais, de modo que não estariam criando o direito, mas tão somente declarando-o. 
 
Nessas linhas, oportuno ressaltar o entendimento de Luiz Guilherme Marinoni, para 
quem “não é porque a decisão é chamada de declaração e não de direito que ela perderá 
autoridade e deixará de merecer deferência”17. 
 
Superada essa premissa histórica, Lucas Buril de Macêdo se preocupa em enumerar 
as características tradicionais do common law. Ao que interessa a esse trabalho, podemos 
apontar: (i) inexistência de doutrina rígida da tripartição dos poderes, (ii) função e valor dos 
juízes e dos legisladores, (iii) as fontes do direito, (iv) o direito como atividade prática; (v) 
distinção entre processo e direito material; (vi) jurisdição única e judicial review. 
 
 
16 SELLERS, Mortimer N.S. The doctrine of precedente in the United States of America. The American 
Journal of Comprative Law, vol. 54, 2006, p. 69, apud MACÊDO, p. 43. 
17 MARINONI, Precedentes obrigatórios [livro eletrônico] 
15 
Como dissemos acima, ao conquistar a Inglaterra, os Normandos contribuíram para 
a formação de um governo eficiente e organizado. Daí porque o common law não se 
preocupou em precisar as atividades típicas e atípicas dos poderes do Estado, sendo mais 
correto falar em coordenação dessas funções através do sistema de check and balances 
(pesos e contrapesos). 
 
Assim, o fato de o common law ser constituído sem a clara distinção dos Poderes do 
Estado e em atenção aos costumes fez com que os doutrinadores da Inglaterra discutissem 
sobre a natureza da função jurisdicional (se constitutiva ou declaratória). 
 
Isso porque, como aponta Luiz Guilherme Marinoni, “Desejava-se esclarecer se a 
decisão judicial criava o direito ou somente o declarava e, bem por isso, intuiu-se que se 
estava discutindo uma teoria da jurisdição”18. 
 
Consolidou-se, pois, o entendimento de que os juízes criavam o direito, posição 
representada pelas expressões judge-made law (direito criado pelos juízes) e case law (direito 
criado caso a caso ou extraído dos julgamentos dos tribunais). 
 
Nessas linhas, todavia, é necessário ressaltar que os juízes agiamcom prudência e 
técnica no julgamento caso a caso e, ademais, que a atividade criativa não era exclusiva dos 
juízes, mas compartilhada aos litigantes, daí porque toda decisão judicial carrega em si grande 
responsabilidade social, econômica e jurídica. 
 
Aliás, é essa responsabilidade empregada às decisões judiciais que contribui para a 
formação das teorias do precedent (precedente), stare decisis (respeito pelo Tribunal de seus 
precedentes), binding effect (vinculação dos tribunais inferiores às decisões dos tribunais 
superiores) e binding precedent (precedente vinculante) 
 
Diante da relevância atribuída ao Poder Judiciário, diferentemente do que ocorreu no 
civil law, a doutrina tem pouco papel no common law, sendo o ensino jurídico encarregado 
aos barrister (advogados atuantes nos tribunais) e juízes, e eminentemente empírico, sem 
preocupação doutrinária. 
 
 
18 MARINONI, Op. cit. 
16 
Nessas linhas, em razão da formação prática dos juristas do common law, a 
subsunção (do fato à norma) e o raciocínio dedutivo/silogístico não eram suficientes para a 
solução do caso concreto. 
 
Ainda, vale pontuar que o raciocínio jurídico é essencialmente analógico/comparativo 
e daí surge outro termo comum à teoria dos precedentes judiciais – distiguishing. Igualmente, 
o exercício jurídico é indutivo e casuístico, o que contribuiu para o desenvolvimento de outro 
termo comum à teoria dos precedentes judiciais – ratio decidendi. 
 
Diferentemente do civil law, no common law, especialmente em sua origem, na 
Inglaterra, não houve distinção e especificação dos ramos do direito, tão somente entre 
common law (direito costumeiro) e equity (decisões proferidas pelos Tribunais do Chanceler 
do Rei, cabendo a essas decisões “um papel puramente corretivo, complementar da common 
law, um tipo de magistério moral”19, contudo, em respeito ao direito – equity follow the law). 
 
Conquanto não tenha havido diferenciação entre os ramos do direito, por força da 
eminência prática do direito do common law, houve prevalência do direito processual sobre o 
material – e, por consequência natural, do direito público sobre o privado –, sendo assente o 
brocardo “ubi remedium ibi ius, ou seja: caso estivesse um writ para o caso, haveria tutela do 
direito pleiteado”20. 
 
Logo, inescapável a conclusão de que o sistema jurídico do common law era 
extremamente formalista – o que somente foi superado com a extinção das formas de ação e 
unificação dos Tribunais e procedimentos. 
 
Finalmente, no common law não existia separação entre jurisdição administrativa e 
comum. Em razão dessa característica, aliás, surgiu nos Estados Unidos outra teoria muito 
próxima à dos teoria dos precedentes judiciais – a teoria do judicial review (teoria do controle 
dos atos do Poder Legislativo). 
 
Por opotuno, de acordo com as palavras de Lucas Buril de Macêdo, vale apontar que 
é a partir do judicial review que surge o controle difuso da constitucionalidade. 
 
 
19 SÉROUSSI, Roland. Introdução ao direito inglês e norte-americano – Trad. Renata Maria Parreira 
Cordeiro – São Paulo: Landy Editora, 2006, p. 22. 
20 MACÊDO, Op. cit. p. 49. 
17 
Nessas linhas, é imperioso anotar que a relação entre o judicial review e a teoria dos 
precedentes judiciais se dá, ao menos no sistema jurídico brasileiro, em razão da força 
atribuída às decisões tomadas no julgamento de ação direta de inconstitucionalidade e de 
ação declaratória de constitucionalidade (art. 102, § 2º, da CF), típicas hipóteses de controles 
dos atos do Poder Legislativo. 
 
18 
2.3 MITOS DOS SISTEMAS JURÍDICOS E CONFLUÊNCIA ENTRE O CIVIL 
LAW E O COMMON LAW 
 
Sopesadas as tradições históricas e principais características dos sistemas jurídicos 
do common law e do civil law, é oportuno apontar breves mitos erigidos sobre os referidos 
sistemas. 
 
Pois bem. Apesar de os costumes serem a principal fonte do direito no sistema do 
common law, Luiz Guilherme Marinoni, apontando as lições de William Blackstone, afirma que 
na Inglaterra “existiria a lex non scripta – o direito não escrito ou o common law – e a lei escrita 
– o direito escrito ou o statute law”21. Destarte, cai por terra a crença de que o common law é 
desprovido de normas legais escritas. 
 
Igualmente, partindo-se do pressuposto de que o respeito obrigatório aos 
precedentes (stare decisis) exigiria a criação do direito como antecedente lógico, Luiz 
Guilherme Marinoni afirma que daí surgiram três mitos: “i) o common law não existe sem o 
stare decisis – o que não é verdade, uma vez que o stare decisis é, apenas, uma evolução do 
common law enquanto fonte do direito jurisprudencial, representado pela vinculação do Poder 
Judiciário às suas decisões anteriores –; ii) o juiz do common law, por criar o direito, realiza 
uma função absolutamente diversa daquela do seu colega do civil law – o que também não é 
verdade, ao menos no Brasil, onde os juízes tem certa possibilidade de criar a direito, 
notadamente a partir de normas “cláusulas gerais” –; e iii) o stare decisis é incompatível com 
o civil law”22 – o que igualmente não é verdade, ao menos como se pretende no Brasil, pois o 
stare decisis, enquanto fonte do direito, não afasta a lei, mas a complementa. 
 
Superados esses mitos – dentre tantos outros que se poderia erigir –, hodiernamente 
é grande a percepção de confluência de ambos os sistemas. 
 
Nessas linhas, Ronaldo Cramer aponta que o fenômeno da convergência entre os 
sistemas é distinto do fenômeno de hibridização. O primeiro fenômeno, segundo o jurista 
carioca, “é a incorporação de institutos de outra tradição, para resolver, de maneira mais 
eficiente, os problemas práticos do sistema jurídico local, sem descaracterização da tradição 
originária”23, e, por sua vez, o segundo fenômeno “constitui a mistura, por opção ideológica, 
 
21 MARINONI, Precedentes obrigatórios [livro eletrônico]. 
22 MARINONI, Op. cit. 
23 CRAMER, Ronaldo. Precedentes judiciais: teoria e dinâmica – 1ª ed. – Rio de Janeiro: Forense, 
2016, p. 29. 
19 
de elementos estruturais das duas tradições, que resulta numa tradição mista, sem a 
preponderância de características de uma ou de outra”24 – fenômeno esse a qual Ronaldo 
Cramer intitula de mixed jurisdictions. 
 
Segundo com as lições de Ronaldo Cramer, a convergência dos sistemas jurídicos 
parte de duas causas genéricas – contudo, acrescento, interligadas –: (i) globalização e (ii) 
solução das deficiências de cada um dos sistemas. 
 
Diz-se causas genéricas, porém, interligadas, pois se de um lado a globalização 
contribui para a integração social, cultura econômico e política, de outro, a solução das 
deficiências de cada um dos sistemas é realizada, repita-se, a partir da incorporação de 
institutos de outra tradição. 
 
 
24 CRAMER, Op.cit., p. 29. 
20 
3 PREMISSAS PARA COMPREENSÃO DA ADOÇÃO DA TEORIA DOS 
PRECEDENTES JUDICIAIS NO DIREITO PROCESSUAL CIVIL BRASILEIRO – MODELO 
CONSTITUCIONAL DO DIREITO PROCESSUAL CIVIL BRASILEIRO 
 
Feitas as digressões acima sobre os sistemas jurídicos ocidentais, agora esse 
trabalho se dedica a estabelecer premissas para a compreensão da adoção da teoria dos 
precedentes judiciais no direito processual civil brasileiro, à luz do modelo constitucional do 
direito processual civil brasileiro. 
 
3.1 PRINCÍPIOS 
 
Antes de mais nada, é imperioso resgatar alguns princípios que sustentam a adoção 
da teoria de precedentes judiciais. 
 
Em primeiro lugar, podemos apontar os princípios da segurança jurídica, isonomia e 
congruência como alicerces do sistema de precedentes judiciais, pois, em conjunto e em 
resumo, buscam evitar imprevisibilidade da resposta judicial. 
 
Com efeito, não é desejável que, em determinado momento histórico, casos iguais 
sejam tratados de forma desiguais, nem que o caso concreto se preocupe com outras 
questões senão aquelas postas em juízo. 
 
A fim de assegurar a observânciaaos princípios da segurança jurídica, isonomia e 
congruência, o CPC/2015, em boa hora, tenta traçar balizas relativamente objetivas para o 
princípio da legalidade lato sensu – ou seja, em compatibilidade das normas, inclusive aquelas 
erigidas do Poder Judiciário, ao sistema de Direito. 
 
Tais parâmetros são dispostos pelo art. 926 do CPC/2015: jurisprudência (i) estável, 
(ii) íntegra e (iii) coerente. 
 
Sobre o tema, Teresa Arruda Alvim Wambier, Maria Lúcia Lins Conceição, Leonardo 
Ferres da Silva Ribeiro e Rogério Licastro Torres de Mello elucidam que os tribunais: 
 
“Devem procurar não alterar a sua jurisprudência, salvo quando se estiver 
frente a duas hipóteses: (a) quando o entendimento modificado for 
reconhecidamente errado; (b) quando alterações ocorridas no plano da 
sociedade — culturais, portanto — exigirem que se dê à lei interpretação 
diferente daquela que se vinha dando até então. 
21 
Portanto, e essa exigência é pressuposto da manutenção da forma 
sistemática do direito, a jurisprudência dos Tribunais do país deve ser 
uniforme, firme e estável.”25 
 
Em segundo lugar, outro importante princípio que justifica a adoção do sistema de 
precedentes judiciais é o (sub)princípio da colegialidade. 
 
Diz-se (sub)princípio da colegialidade pois decorre do princípio do duplo grau de 
jurisdição, que garante ao jurisdicionado a apreciação da questão judicial duas vezes pelo 
Poder Judiciário e a segunda, via de regra, pela comunhão de julgadores. 
 
Assim, apenas a decisão colegiada é capaz de formar precedente judicial. 
 
Outros princípios igualmente coligados e de extrema importância à teoria do 
precedente judicial são os princípios (i) do contraditório, (ii) da motivação e (iii) da publicidade. 
 
Isso porque, como estatuímos acima, a decisão judicial apenas poderá ser integra, 
estável e coerente quando tiver oportunizado amplo contraditório, inclusive através da criação 
de “agenda pública” – conceito que será trabalhado no capítulo seguinte –, e estiver 
devidamente fundamentada – outro conceito que será melhor trabalhado no capítulo seguinte. 
 
Por sua vez, o princípio da publicidade está intimamente ligado aos princípios da 
segurança jurídica, isonomia e congruência, eis que não há que se falar na observância de 
precedente judicial desconhecido/ignorado. 
 
3.2 FUNÇÃO 
 
Conquanto ainda não tenha se apresentado o conceito dos precedentes judiciais, é 
oportuno enumerar as funções que se espera que este instituto jurídico apresente dentro de 
um sistema jurídico. 
 
Sobre o tema, Ronaldo Cramer aponta serem seis as funções de um precedente: (i) 
ser modalidade de argumentação jurídica; (ii) uniformizar a compreensão da norma jurídica; 
(iii) uniformizar a jurisprudência, (iv) gerar previsibilidade da resposta judicial, (v) criar agendas 
e (vi) colaborar para a formação da identidade nacional. 
 
25 WAMBIER, Teresa Arruda Alim; et.al. Primeiros comentários ao novo código de processo civil 
– Artigo por Artigo [livro eletrônico] – 1ª ed. em e-book baseada na 1ª ed. impressa– São Paulo: 
Editora Revista dos Tribunais, 2015. 
22 
 
Relativamente à primeira função acima apontada, o processualista carioca, relaciona 
a invocação de um precedente ao êxito da demanda, especialmente na hipótese de se evocar 
precedente dito vinculante. Quando invocado precedente, apenas, persuasivo, Ronaldo 
Cramer afirma que o juiz deve motivar a sua não aplicação. 
 
Aqui, contudo, fazemos um adendo à afirmação do processualista carioca – qualquer 
que seja o precedente, vinculante ou persuasivo, o juiz deve fundamentar a sua aplicação ou 
não. 
 
Isso porque, tratando de norma legal, há, de certa maneira, que se realizar a sua 
subsunção aos fatos discutidos. 
 
Com efeito, é oportuno lembrar que a fundamentação da decisão judicial ganhou 
contornos especiais com a promulgação do CPC/2015, uma vez que o referido diploma 
processual tentou estabelecer parâmetros relativamente objetivos ao determinado pelo art. 
93, inciso IX, da CF: 
 
“o dispositivo [art. 489, § 1º, do CPC/2015] não inseriu grande novidade no 
sistema normativo. Trata-se muito mais de uma tentativa de traçar balizas 
relativamente objetivas para o dever de fundamentar encartado no art. 93, 
X, da Constituição Federal”26 
 
A respeito do conceito de fundamentação, Nelson Nery Junior afirma que 
““Fundamentar significa o magistrado dar as razões, de fato e de direito, que o convenceram 
a decidir a questão daquela maneira”27. 
 
Nesse sentido, ainda, Leonard Ziesemer Schmitz afirma que os motivos do dever de 
motivar as decisões é: 
 
“impedir arbítrios e possibilitar o controle da decisão. Se é assim, a 
fundamentação acaba por ser mais relevante e importante ao sucumbente 
do que àquele cujas razões foram adotadas pelo julgados. Isso quer dizer 
 
26 PEREIRA, Newton, NETO, Ramos. Fundamentação das decisões judiciais no novo CPC: a tarefa 
de (re)construção do Direito no âmbito dos tribunais. In: DIDIER JR, Fredie (Coord.) [et al.]. 
Normas Fundamentais – Salvador: Juspodivm, 2016, Coleção Grandes Temas do Novo CPC, v.8, 
coordenador geral Fredie Didier Jr., p. 464/465 
27 NERY JUNIOR, Nelson. Princípios do processo na Constituição Federal: processo civil, penal 
e administrativo – 9ª ed., rev., ampl. e atual. com as novas Súmulas do STF simples e vinculantes e 
com análise sobre a relativização da coisa julgada – São Paulo: SP: Editora Revista dos Tribunais, 
2009, p. 286. 
23 
que a justificar de uma decisão envolve explicar o porquê, e o porquê não; 
abranger tanto dar razões para o que foi decidido quanto dar razões para 
refutar argumentos contrários. Apenas quando a fundamentação põe a 
própria decisão à prova de possíveis críticas ela é completa. 
(...) 
cabe ao julgador acatar uma das alegações da parte vencedora e contrastá-
la com todas as alegações da parte vencida. Do contrário, nem mesmo se 
saberá se aquele fundamento adotado é realmente o mais adequado ao 
caso. O fundamento suficiente para a tomada de uma decisão deve, 
necessariamente, ser ‘mais forte’ que os possíveis fundamentos contrários; 
eis a exigência da análise em resposta”28 
 
Igualmente, como Ronaldo Cramer29 aponta, não há que se confundir argumentação 
conforme o precedente com a prática do ementismo, ou seja, mero apontamento de ementa 
de julgado que representaria o entendimento pacífico do Tribunal. 
 
Com efeito, como visto rapidamente acima e conforme será melhor analisado a 
seguir, o que se deve extrair de um precedente como forma de argumentação não é sua 
conclusão genérica e abstrata, mas as suas razões (a ratio decidendi para os ingleses e 
holding para os americanos). 
 
Voltando-se, pois, à análise das funções do precedente, Ronaldo Cramer aponta que 
o precedente se presta a (tem a função de) dizer o que é a norma, ou melhor, em outras 
palavras, a apontar qual é a interpretação que deve ser dada à norma, “não só para o caso 
concreto, mas para os casos futuros e, inclusive, para a sociedade”30. 
 
Apresentada a função nomofilática do precedente segundo o entendimento do 
processualista carioca, impende resgatar crítica sobre tal posicionamento apresentada por 
Lenio Luiz Streck e Georges Abboud: 
 
“(...) o precedente genuíno no common law nunca nasce desde-sempre 
precedente. (...) Se ele tiver coerência, integridade e racionalidade 
suficientes para torná-lo ponto de partida para discussão de teses jurídicas 
propostas pelas partes, e, ao mesmo tempo, ele se tornar padrão decisório 
para os tribunais e demais instâncias do Judiciário, então é que ele poderá 
com o tempo vir a se tornar precedente. 
Ou seja, no common law, o que confere essa dimensão de precedente à 
decisão do tribunal superior é sua aceitação primeiro pelas partes e, em 
seguida, pelas instâncias inferiores do Judiciário. Daí ele ser dotado de uma 
 
28 SCHMITZ, Leonard Ziesemer. Por que fundamentar, o que fundamentar e como (não) 
fundamentar no CPC/15. In:DIDIER JR, Fredie (Coord.) [et al.]. Normas Fundamentais – Salvador: 
Juspodivm, 2016, Coleção Grandes Temas do Novo CPC, v.8, coordenador geral Fredie Didier Jr., p. 
432 e 435. 
29 CRAMER, Op. Cit., p. 99. 
30 CRAMER, Op. Cit., p. 99. 
24 
aura democrática que o precedente à brasileira não possui, uma vez que os 
provimentos vinculantes do CPC já nascem — e isso é uma jaboticaba — 
dotados de efeito vinculante, independentemente da qualidade e da 
consistência da conclusão de suas decisões.”31 
 
“no common law, precedentes não são construídos para, a partir de teses, 
vincular julgamentos futuros.”32 
 
A terceira função do precedente (uniformizar a jurisprudência) decorre da anterior. 
De acordo com o processualista carioca, a questão da uniformização da jurisprudência ganha 
maior ou menor relevo conforme a estrutura hierárquica do tribunal que a profere. 
 
Nesse sentido, nos remetemos à ideia de vinculação vertical, horizontal e 
autoprecedente apontada no capítulo anterior. 
 
Quando os precedentes estabelecem parâmetros decisórios, surge a sua quarta 
função: gerar previsibilidade para as demandas, ou seja, dar uma mesma solução para casos 
análogos (treat like cases alike). 
 
Em seguida, Ronaldo Cramer sustenta que os precedentes judiciais tem poder para 
criar agendas, isto é, convocar a população para discussão do tema em pauta para melhor – 
e mais justa – decisão. 
 
Por oportuno, necessário apontar que, a função a qual o professor carioca denomina 
“criação de agenda”, Gilberto Andreassa Junior denomina “judicialização da política” e a 
conceitua como: 
 
“(...) a intervenção decisória do Poder Judiciária em matérias que, a priori, 
deveriam ser debatidas exclusivamente pelos Poderes Executivos e 
Legislativo. É a resolução de conflitos de ordem política, moral, científica ou 
social realizada pelo Poder Judiciário, em face dos demais Poderes. Tal 
atitude ocorre em função da omissão dos Poderes Executivo e Legislativo; 
inclusive esta omissão é chamada por alguns autores como síndrome das 
normas constitucionais.”33 
 
 
31 STRECK, Lenio Luiz, ABBOUD, Georges. O que é isto – sistema (sic) de precedentes no CPC? 
Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2016-ago-18/senso-incomum-isto-sistema-sic-precedentes-
cpc>, acessado em 29/03/2017. 
32 STRECK, Lenio Luiz. Crítica às teses que defendem o sistema de precedentes – Parte II 
Disponível em: < http://www.conjur.com.br/2016-set-29/senso-incomum-critica-teses-defendem-
sistema-precedentes-parte-ii>, acessado em 29/03/2017. 
33 ANDREASSA JUNIOR, Gilberto. Ativismo judicial & teoria dos precedentes: integração dos 
poderes e coerência nas decisões do judiciário – Curitiba, Juruá, 2015, p. 33. 
http://www.conjur.com.br/2016-ago-18/senso-incomum-isto-sistema-sic-precedentes-cpc
http://www.conjur.com.br/2016-ago-18/senso-incomum-isto-sistema-sic-precedentes-cpc
http://www.conjur.com.br/2016-set-29/senso-incomum-critica-teses-defendem-sistema-precedentes-parte-ii
http://www.conjur.com.br/2016-set-29/senso-incomum-critica-teses-defendem-sistema-precedentes-parte-ii
25 
E a implementação dessa agenda foi expressamente prevista pelo CPC/2015: 
 
“Art. 982. Admitido o incidente, o relator: 
(...) 
II - poderá requisitar informações a órgãos em cujo juízo tramita processo 
no qual se discute o objeto do incidente, que as prestarão no prazo de 15 
(quinze) dias; 
III - intimará o Ministério Público para, querendo, manifestar-se no prazo de 
15 (quinze) dias.” 
 
“Art. 983. O relator ouvirá as partes e os demais interessados, inclusive 
pessoas, órgãos e entidades com interesse na controvérsia, que, no prazo 
comum de 15 (quinze) dias, poderão requerer a juntada de documentos, 
bem como as diligências necessárias para a elucidação da questão de 
direito controvertida, e, em seguida, manifestar-se-á o Ministério Público, no 
mesmo prazo. 
§ 1º Para instruir o incidente, o relator poderá designar data para, em 
audiência pública, ouvir depoimentos de pessoas com experiência e 
conhecimento na matéria. 
§ 2º Concluídas as diligências, o relator solicitará dia para o julgamento do 
incidente.” 
 
Apesar de o referido dispositivo se encontrar no capítulo que trata do incidente de 
resolução de demanda repetitiva, o Fórum Permanente de Processualista Civil já firmou 
enunciado a respeito da aplicação dos referidos dispositivos legais no processamento de 
outros institutos, formando-se um microssistema: 
 
Enunciado 201. (arts. 947, 983 e 984) Aplicam-se ao incidente de assunção 
de competência as regras previstas nos arts. 983 e 984. 
 
Enunciado 345. (arts. 976, 928 e 1.03698). O incidente de resolução de 
demandas repetitivas e o julgamento dos recursos extraordinários e 
especiais repetitivos formam um microssistema de solução de casos 
repetitivos, cujas normas de regência se complementam reciprocamente e 
devem ser interpretadas conjuntamente. (Grupo: Precedentes; redação 
revista no V FPPC-Vitória) 
 
Enunciado 460. (arts. 927, §1º, 138) O microssistema de aplicação e 
formação dos precedentes deverá respeitar as técnicas de ampliação do 
contraditório para amadurecimento da tese, como a realização de 
audiências públicas prévias e participação de amicus curiae. (Grupo: 
Precedentes, IRDR, Recursos Repetitivos e Assunção de competência) 
 
Enunciado 427. (arts. 947, 179, 976, §2º, 982, III, 983, caput, 984, II, “a”) O 
Ministério Público deve ser obrigatoriamente intimado no incidente de 
assunção de competência. (Grupo: Precedentes, IRDR, Recursos 
Repetitivos e Assunção de competência) 
 
26 
Última função do precedente, especialmente daqueles desenvolvidos em sede dos 
tribunais superiores, é a formação da identidade nacional, ou seja, a revelação da cultura 
jurídico, social, política do país. 
 
Por oportuno, vale lembrar que esses julgamentos importam a divulgação da 
cultura/identidade nacional aos demais países. 
 
3.3 CONCEITO DE PRECEDENTE 
 
Apesar de o termo precedente ter sido citado diversas vezes até aqui, não foi 
apresentado o seu conceito. 
 
Nessa toada, como apontam Fredie Didier Jr, Paula Sarno Braga e Rafael Alexandria 
de Oliveira: 
 
“Em sentido lato, o precedente é a decisão judicial tomada à luz de um caso 
concreto, cujo elemento normativo pode servir como diretriz para o 
julgamento posterior de casos análogos. 
O precedente é composto pelas: a) circunstância de fato que embasam a 
controvérsia; b) tese ou o princípio jurídico assentado na motivação (ratio 
decidendi) do provimento decisório; argumentação em torno da questão. 
Assim, embora comumente se faça referência à eficácia obrigatória ou 
persuasiva do precedente, deve-se entender que o que pode ter caráter 
obrigatório ou persuasivo é a sua ratio decidendi, que é apenas um dos 
elementos que compõem o precedente. 
Na verdade, em sentido estrito, o precedente pode ser definido como a 
própria ratio decidendi. 
A ratio decidendi – ou, para os norte-americanos, a holding – são os 
fundamentos jurídicos que sustentam a decisão; a opção hermenêutica 
adotada na sentença, sem a qual a decisão não teria sido proferida como 
foi. “A ratio decidendi (...) constitui a essência da tese jurídica suficiente para 
decidir o caso concreto (rule of law)”.”34 
 
Sobre a possibilidade de o precedente judicial revestir-se de eficácia obrigatória no 
sistema jurídico brasileiro, vale lembrar a crítica tecida por, dentre outros, Cassio Scarpinella 
Bueno: 
 
“(...) os arts 926 a 928 [do CPC/2015] não se ocupam, em si mesmos, com 
a produção das decisões que querem fazer as vezes de “precedentes”, mas 
como seus efeitos. 
 
34 DIDIER JR. Fredie, BRAGA, Paula Sarno, OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de direito 
processual civil: teoria da prova, direito probatório, ações probatórias, decisão, precedente, 
coisa julgada e antecipação dos efeitos da tutela – 11ª ed., rev., ampl. e atual. – Editora JusPodivm: 
Salvador, 2016, v2. p. 455 
27 
As disposições ferais, que correspondem ao Capítulo I do Título I doLivro 
III da Parte Especial, compreendem três dispositivos. Os dois primeiros (arts. 
926 e 927) ocupam-se com o papel esperado, pelo CPC de 2015, da 
“jurisprudência” e com as diversas formas de sua manifestação e regime 
jurídico O terceiro daqueles dispositivo, o art. 928, limita-se a indicar o que, 
para o CPC de 2015, deve ser compreendido como “julgamento de casos 
repetitivos”, que é uma das técnicas – apenas uma – que ele elege como 
produtora de decisões judiciais que merecem ser compreendidas no 
contexto dos arts. 926 e 927. 
(...) 
É essa razão pela qual parece-me importante compreender aqueles dois 
dispositivos (como de resto, todos os que, ao longo do CPC de 2015, direta 
ou indiretamente com eles se relacionam, e não são poucos) como normas 
diretivas de maior otimização das decisões paradigmáticas no âmbito dos 
Tribunais e dos efeitos que o CPC de 2015 quer que estas decisões, as 
paradigmáticas, devam surtir nos demais casos em todos os graus de 
jurisdição, a começar pelo STF. 
Saber se o CPC de 2015 pode querer que os efeitos das decisões 
paradigmáticas devam ser acatadas pelos órgãos jurisdicionais em geral, 
criando-se, com isto, verdadeira hierarquia no Judiciária Federal e Estadual, 
é questão que não pode mais ser evitadas. 
Sim, porque sou daqueles que entendem que decisão jurisdicional com 
caráter vinculante no sistema brasileiro depende de prévia autorização 
constitucional – tal qual a feita pela EC n. 45/2004 – e, portanto, está fora da 
esfera de disponibilidade do julgador infraconstitucional. 
Assim não parece haver nenhuma obviedade ou imanência em negar 
genericamente o caráter vinculante às decisões jurisdicionais, mesmo 
àquelas emitidas pelos Tribunais Superiores. Isso porque a tradição do 
direito brasileiro não é de common law. É analisar criticamente dentre tantos 
outros fatores, o real alcance das cinquentenárias Súmulas (não 
vinculantes) do STF e sua cotidiana aplicação totalmente alheia a uma ou 
qualquer teoria sobre precedentes, sejam os do common law ou não, para 
chegar a esta conclusão. Não é diversa a experiência, embora mais recentes 
das próprias Súmulas vinculantes daqueles Tribunal e, nos últimos vinte e 
cinco anos, das Súmulas do STJ. 
(...) 
Por fim, não vejo como, aplicando o que já escrevi querer enxergar no CPC 
de 2015 e nas pouquíssimas vezes que a palavra “precedente” é 
empregada, algo próximo ao sistema de precedentes do common law. A 
palavra é empregada, nos diversos dispositivos que indiquei, como sinônimo 
de decisão proferida (por Tribunal) que o CPC de 2015 quer que seja 
vinculante (paradigmática, afirmo eu). Nada além disso. É o que basta, 
penso, para evitar a importação de termos e técnicas daqueles sistemas 
para compreender o que aparece de forma tão clara e tão evidente no 
próprio CPC de 2015. 
(...) precedentes serão aquelas decisões que, originárias dos julgamentos 
de casos concretos, inclusive pelas técnicas do art. 928, ou do incidente de 
assunção de competência, querem ser aplicadas também em casos futuros 
quando seu substrato fático e jurídico autorizar. São precedentes não 
porque vieram de países de common law, são porque foram julgados antes 
e, de acordo com o caput do art. 927, é desejável que aquilo que expressam 
seja observado em casos que serão julgados posteriormente. Se o CPC de 
2015 os tivesse nominado de antecedentes, não haveria mal nenhum, a não 
ser a maior dificuldade de legitimá-los à luz do que não é (e continua a não 
ser) nosso. Nada de novidades, portanto, como se elas, por serem, 
28 
pudessem legitimar eventuais tomadas de posição para além dos limites do 
nosso “modelo constitucional”.”35 
 
Apesar de não restar claro no trecho acima transcrito, a principal crítica que se faz à 
teoria dos precedentes judiciais obrigatórios e/ou vinculantes, a meu ver, reside na alegada 
violação ao princípio da separação dos poderes. 
 
Contudo, assim como Ronaldo Cramer, entendo que o precedente judicial não viola 
o referido princípio. Nas palavras do processualista carioca: 
 
“(...) num sistema de precedentes adotado pelo Civil Law, principalmente em 
nosso sistema jurídico, a norma não é forjada a partir da vontade do julgador 
ou da observação dos costumes da sociedade, mas com base em texto 
julgador ou da observação dos costumes da sociedade, mas com base em 
texto normativo, que, por sua vez, ou é a própria lei ou não pode ser contrário 
à lei. 
Como as leis produzidas são produto da vontade popular – um vez que os 
parlamentares que as criam são representantes eleitos pelo povo –, os 
tribunais quando extraem a norma do precedente a partir das leis ou em 
harmonia com elas, conformam-se com essa vontade. 
Pondere-se que é difícil imaginar, em nosso sistema jurídico atual, tão 
prógido em leis e atos normativos escritos, a possibilidade de os tribunais 
produzirem uma norma jurídica a partir de um costume. De qualquer sorte, 
mesmo que essas circunstância, excepcionalmente, ocorra, o costume, para 
forjara norma em nosso sistema, não pode violar a lei. Ou seja, é a lei que 
justifica o precedente em nosso sistema.”36 
 
Faço, todavia, algumas ressalvas. Isso porque, nesse primeiro momento, Ronaldo 
Cramer parecer reduzir a norma jurídica à lei. 
 
De imediato, porém, devo ressaltar que a norma não deve ser reduzida ao princípio 
da legalidade stricto sensu – à lei –, mas, antes, apreciada de acordo com o princípio da 
legalidade lato sensu – ou seja, em compatibilidade ao sistema de Direito. 
 
Aliás, de certo modo, o próprio doutrinador carioca parece pretender corrigir seu 
aparente equívoco mais à frente de seu trabalho, quando afirma que “a norma criada pelo 
precedente pode ser princípio ou regra”37. Com efeito, diferentemente do inicialmente erigido, 
Ronaldo Cramer38 reconhece que o precedente judicial “pode fixar um princípio que antes se 
 
35 BUENO, Cassio Scarpinella. Manual de Direito Processual Civil: inteiramente estruturado à luz 
do novo CPC – Lei nº 13.105, de 13-3-2015 – 1ª ed. – São Paulo: Saraiva, 2015 , p. 538/542. 
36 CRAMER, Op. Cit. p. 65. 
37 CRAMER, Op. Cit. p. 91. 
38 CRAMER, Op. Cit.,p . 91. 
29 
encontrava implicitamente previsto no sistema processual” –, o que, entretanto, entendemos 
incorreto, devendo-se ler “sistema de Direito” – ou “extrair um princípio de outro já existente”. 
 
Mas, segundo entendo, não para por aí. Diante do atual estágio de consciência do 
estudo constitucional do Direito, o precedente pode ser formulado a partir da ponderação entre 
princípios. 
 
A esse título, situação emblemática é representada pelo julgamento do Habeas 
Corpus nº 268.459, em que o Superior Tribunal de Justiça (o “STJ”) teve que ponderar entre 
o princípio do direito à vida e o princípio do direito à liberdade religiosa acerca da possibilidade 
de oposição à transfusão de sangue por motivos religiosos – tendo prevalecido, 
acertadamente, o princípio do direito à vida. 
 
Destarte, percebe-se que precedente judicial nada mais é senão o resultado 
interpretativo de uma norma, não havendo, portanto, motivos para deixar de reconhecê-lo 
como fonte do direito, afinal, a norma não existe em si mesma. 
 
Isto posto, encerra-se – ou ao menos se pretende encerrar – discussão acerca da 
obrigatoriedade e/ou vinculação ao precedente judicial, eis que, como afirma Lucas Buril de 
Macêdo, “a hierarquia da norma do precedente dependerá do referente para a sua 
construção”39. 
 
Com efeito, na eventualidade de surgirem antinomias entre o precedente judicial 
(entendimento como norma) e as demais fontes de direito basta o jurista recorrer aos critérios 
clássicos para a solução de antinomias de normas. 
 
Tratando da antinomia entre princípio e regra, prevalece o primeiro. Tratando-se da 
antinomia entre princípios (p. ex.: um positivado e outro decorrente de um precedente judicial), 
ter-se-á que ponderar os direitos tutelados. Finalmente, tratando-se da antinomia entre regras, 
resolver-se-á a questão pelos critérios(i) hierárquico; (ii) cronológico ou (iii) da especificidade. 
 
A título de exemplo do exposto acima, podemos afirmar que é vedado ao legislador 
infraconstitucional legislar em sentido contrário ao estabelecido pelo STJ no julgamento do 
HC nº 268.459, para reputar justa oposição à transfusão de sangue por motivos religiosos, eis 
que o precedente judicial foi constituído a partir da análise de princípios constitucionais, não 
 
39 MACÊDO, Precedentes judiciais e o direito processual civil, p. 247. 
30 
podendo regra legal pretender revogá-la, sob pena de autorizar, inclusive, o seu controle 
difuso de constitucionalidade. 
 
Ainda à guisa de exemplo, vale apontar a superação de algumas antinomias entre 
regras decorrentes de precedentes judiciais e regras decorrentes de outras fontes do direito 
(aqui, em especial, o Código de Processo Civil de 1973 – o “CPC/1973”) – superadas a partir 
da aplicação do critério cronológico, pois os precedentes judiciais “vigiam” até promulgação 
do CPC/2015, a demonstrar a impossibilidade se criar um sistema rígido de subordinação 
entre precedente judicial e outras normas do direito: 
 
i) Precedentes judiciais que admitiam o parcelamento do título executivo judicial 
na vigência do CPC/1973 (interpretação do art. 745-A do referido diploma 
legal – p. ex.: STJ, REsp 1.264.272/RJ, T4, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, J. 
15/05/2012) superados pelo art. 916, § 7º, o CPC/2015; 
ii) Precedentes judiciais que não conheciam os recursos aos tribunais 
superiores por irregularidade de representação (embora enunciado de súmula 
e precedente não se confundam, p. ex.: enunciado nº 115 da súmula do STJ) 
superados pelos arts. 932, parágrafo único; art. 76, § 2º; art. 104, § 2º; art. 
1.029, § 3º, do CPC/2015. 
 
Feitos esses breves esclarecimentos, podemos acompanhar o conceito de 
precedente judicial estatuído por Ronaldo Cramer: “precedente é todo julgado de tribunal que, 
por foça de sua condição originária ou de reconhecimento posterior, cria a norma jurídica a 
ser seguida, obrigatoriamente ou não, em casos idênticos”40, não sem antes, novamente, fazer 
um último adendo. 
 
Diante do exposto acima quanto às fontes do direito, a obrigatoriedade ou não do 
precedente judicial deve ser analisada sobre a dimensão institucional entre os tribunais. 
 
Nessas linhas, eis os escólios de José Rogério Cruz e Tucci: 
 
“(...) a dimensão institucional (...) deve ser analisada à luz da organização 
judiciária e a forma pela qual a relação de subordinação hierárquica entre os 
tribunais é escalonada. Entram aqui e cena as espécies de precedente 
vertical, horizontal e autoprecedente. 
 
40 CRAMER, Op. cit., p. 86-87. 
31 
Desde que exista uma estrutura burocrática de sobreposição de tribunais, é 
natural que o precedente de tribunal superior exerça um grau de influência 
maior no âmbito das cortes e juízos inferiores. 
É claro que o denominado autoprecedente, via de regra, também se impõe, 
interna corporis, como medida de coerência, além, é claro, da segurança 
jurídica que deve ser preservada pelos tribunais. 
Pelo contrário, os precedentes horizontais, provenientes de órgãos postados 
no mesmo patamar hierárquico, possuem relativa eficácia persuasiva. 
Ressalte-se que, nessa hipótese, a autoridade intrínseca do julgado, 
sobretudo quando estiver enfrentando matéria nova, poderá realmente ser 
seguida por outros tribunais.”41 
 
A corroborar o exposto, vale lembrar o sustentado por William Soares Pugliese42, 
para quem a observância ao precedente judicial decorre, também – não exclusivamente –, da 
hierarquia entre os tribunais e que tal assertiva encontra respaldo na Constituição Federal. 
 
Em resumo, partindo das disposições da Constituição americana, William Sores 
Pugliese aponta que a instituição de uma Corte “suprema” pelo Poder constituinte originário e 
a outorga de poder ao Congresso, portanto, mero órgão do Poder Legislativo, para criar 
tribunais “inferiores” poderia ser o suficiente para atestar a observância ao precedente judicial 
a partir da teoria da hierarquia. 
 
Todavia, por reconhecer não haver regra rígida na Constituição americana acerca da 
observância ao precedente judicial, William Soares Pugliese diz que é preciso justificar as 
razões para a vinculação aos precedentes dos tribunais superiores. 
 
Nessa ótica, o referido jurista aponta três causas para se admitir a pretensa 
vinculação aos precedentes dos tribunais superiores: (i) existência de uma corte que ocupa 
papel central no Judiciário, pois não cabe recurso contra suas decisões a outro tribunal; (ii) a 
competência dos tribunais – aqui, em especialmente, em razão do modelo federalista de 
estado – e (iii) a importância de cada tribunal. 
 
Em comparativo ao Brasil, William Soares Pugliese afirma que (i) não cabe recurso 
contra decisão do Supremo Tribunal Federal “papel”; (ii) há expressa divisão de competência 
dos tribunais e (iii) o STF e o STJ ocupam posição de destaque. 
 
 
41 TUCCI, José Rogerio Cruz e. Precedente judicial como fonte do direito – São Paulo: Editora 
Revista dos Tribunais, 2004, p. 305. 
42 PUGLIESE, William Soares. Precedentes e a civil law brasileira: interpretação e aplicação do 
novo código de processo civil – São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016 
32 
Assim, nas palavras do mencionado doutrinador, negar a existência de hierarquia 
entre os órgão do Poder Judiciária Brasileiro significa (i) negar organização no processo de 
decisão judicial, (ii) que os juízes tem poder para criar o direito segundo suas convicções e 
não do próprio órgão ao qual é vinculado, (iii) que não há segurança jurídica (coerência e 
consistência do direito) e (iv) prevalecem os princípios da independência e livre 
convencimento (motivado) aos princípios da igualdade e segurança. 
 
3.4 ELEMENTOS 
 
Como já adiantamos em algumas rápidas passagens acima, o precedente judicial 
possui, essencialmente, dois elementos: (i) ratio decidendi – ou holding, para os norte-
americanos – e (ii) obiter dictum – ou, simplesmente, dictum. 
 
O primeiro elemento “refere-se às razões de decidir ou razões para a decisão, e 
configura sinônimo de norma jurídica. No direito brasileiro, o termo é utilizado como razões de 
decidir ou motivos determinantes pelo Supremo Tribunal Federal e pelo Superior Tribunal de 
Justiça”43. 
 
Em acréscimo a esse posicionamento, Ronaldo Cramer afirma que a “ratio decidendi 
são as razões necessárias e suficientes para a solução da causa ou de qualquer questão 
julgada pelo tribunal”44. 
 
Para que a justificativa acima não fique sem sentido, é imperioso apontar o que se 
deve entender por “razão necessária” e “razão suficiente” para o processualista carioca. 
 
Nessas linhas, eis a lição apresentada por Ronaldo Cramer: 
 
“No Common Law, são conhecidas as definições de Rupert Cross e Neil 
MacCormick para ratio decidendi. O primeiro sustenta que ratio decidendi 
são as razões necessárias para a solução do caso, enquanto que ratio 
decidendi são as razões suficiente, sustenta que a palavra “necessária” 
conferiria uma abrangência maior ao significado de ratio. 
Para demonstrar a crítica de MacCormick, imagine-se o seguinte caso. Um 
tribunal julgou duas questões para dar provimento ao recurso: uma referente 
à prescrição e outra relativa à responsabilidade do réu. Na primeira, o 
tribunal refutou o argumento da prescrição e, na segunda, decidiu que o réu 
é responsável. Pela ideia de necessidade, o afastamento d prescrição seria 
uma etapa necessário para se chegar à conclusão do caso e, por 
 
43 MACÊDO, Op. cit., p. 233. 
44 CRAMER, Op. cit., p. 106. 
33 
conseguinte, integraria a ratio decidendi. Porém, pela perspectiva da 
suficiência, a rejeição da prescsrição não seria bastante para definir a 
responsabilidade do réu e, por isso, não comporia a ratio. 
Conforme explanado, a crítica de MacCormick faz sentido, a ideia de 
necessidade gera uma compreensão de ratiodecidendi que, a depender do 
caso concreto, pode ser muito ampla, gerando, sobretudo, transtornos na 
sua identificação.”45 
 
Como colocado o problema, entretanto, penso que a ratio decidendi é/são a 
razão(ões) suficiente(s) para a solução da causa ou de qualquer questão julgada pelo tribunal, 
sendo a necessidade entendida como um antecedente lógico da ratio decidendi. 
 
Não obstante a ratio decidendi, o precedente judicial também é composto pelo obiter 
dictum. 
 
Ao tratar o referido elemento do precedente, Luiz Guilherme Marinoni enuncia que “A 
discussão acerca do significado de obiter dictum é tão antiga, intensa e difícil quanto a travada 
sobre o significado de ratio decidendi. Isso porque o conceito de obiter dictum é absolutamente 
atrelado ao de ratio decidendi.”46 
 
Isso porque, como apontar Ronaldo Cramer, “a fundamentação do precedente é um 
texto e, como todo texto, não vai necessariamente direto ao ponto que interessa. Existem 
argumentos de aproximação, passagens ilustrativas ou trechos digressivos que surgem na 
fundamentação para completar o raciocínio contido na ratio decidendi. Essas passagens são 
os obiter dicta ou, no singular, obiter dictum”47. 
 
Como aponta Ronaldo Cramer, o obiter dictum de um precedente nada mais é senão 
que fundamento de apoio da ratio decidendi e, portanto, no caso em que erigido o precedente, 
era, inclusive, dispensável. 
 
3.5 EFEITOS PRAGMÁTICOS DA ADOÇÃO DA TEORIA DOS 
PRECEDENTES JUDICIAIS NO DIREITO PROCESSUAL CIVIL BRASILEIRO 
 
Apresentadas algumas premissas para a compreensão da teoria dos precedentes 
judiciais no direito processual civil brasileiro, é válido apontar, também, alguns efeitos 
pragmáticos que a adoção dessa teoria implicará no sistema jurídico brasileiro. 
 
45 CRAMER, Op. cit., p. 106. 
46 MARINONI., Op. cit. 
47 CRAMER, Op. cit., p. 107. 
34 
 
3.5.1 DURAÇÃO RAZOÁVEL DO PROCESSO 
 
Admitida a teoria dos precedentes judiciais, Ronaldo Cramer aponta que o “uso de 
precedentes abrevia o procedimento do processo e acelera a entrega da prestação 
jurisdicional”48. 
 
Nesse ponto, entendo que a abreviação do procedimento se dá não em razão da 
simples vinculação dos órgãos do Poder Judiciário aos precedentes judiciais, mas, em 
essência e em verdade, diante da proposição de “novas” soluções aos possíveis conflitos que 
surjam. 
 
Com efeito, quanto menor é a divergência entre as possíveis soluções de uma 
demanda, menos é tempo para sua solução, diante do enfrentamento de um menor número 
de questões. 
 
3.5.2 DESESTÍMULO À LITIGÂNCIA 
 
Acolhida a força vinculante dos precedentes judiciais, a teoria aqui proposta 
importará no desestímulo à litigância, uma vez que os conflitos estarão menos sujeitos à sorte 
do entendimento pessoal do julgador e mais sujeitos ao entendimento dos tribunais. 
 
Em outras palavras, instituir-se-á a percepção de que “litigar contra um precedente 
não tem muito proveito”49. 
 
3.5.3 SOLUÇÃO PARA CAUSAS REPETITIVAS 
 
Último efeito prático da adoção da teoria dos precedentes judiciais no direito 
processual civil brasileiro aqui proposta relaciona-se à apresentação de resposta para as 
causas repetitivas. 
 
Isso porque, hodiernamente, percebe-se que os tribunais pátrios estão atolados do 
julgamento de demandas envolvendo as mesmas teses jurídicas, cada ação, contudo, erigida 
sobre uma possível solução distinta. 
 
48 CRAMER, Op. cit., p. 63. 
49 CRAMER, Op. cit., p. 63. 
35 
 
Uma vez decidida a tese aplicável a esses casos, resolver-se-ão as causas 
repetitivas e, mais, instituir-se-á nova cultura/identidade nacional, inclusive como forma de 
desestímulo à litigância. 
 
36 
4 PRÁTICA DA TEORIA DOS PRECEDENTES JUDICIAIS NO SISTEMA 
PROCESSUAL CIVIL VIGENTE 
 
4.1 APLICAÇÃO DO PRECEDENTE AO CASO CONCRETO 
 
Como pontuado acima, o precedente judicial nada mais é senão que uma norma 
jurídica. 
 
Em essência, Juraci Mourão Lopes Filho50 afirma que existem três modos pelo qual 
se faz uso de um precedente: (i) dedutiva ou discursiva; (ii) legalista ou substantiva e (iii) 
magistral ou argumentativa. 
 
Criticando a falta de desenvolvimento da teoria dos precedentes judiciais no Brasil, o 
referido autor afirma que o uso dos precedentes judiciais parte 
 
“de técnicas positivias para interpretar/aplicar os precedentes, pode-se 
como um modo dedutvista (em razão do métido subsuntivo utilizado), 
legalista (pois não se entrea no âmago das discussões eventualmente 
travadas no julgado anterior, contentando-se com ementa) e magisterial (a 
simples menção ao precedente, muitas vezes, é tida por suficiente para 
fundamentar o novo julgado).” 51 
 
Como qualquer norma, ao decidir conforme o precedente, o juiz deve fundamentar 
as razões de aplicação do precedente, demonstrando o encaixe da ratio decidendi (a norma) 
ao caso concreto. 
 
Em outras palavras, o juiz deve provar que o precedente “cai como luva” para a 
solução dos fatos narrados. 
 
4.2 REJEIÇÃO DO PRECEDENTE AO CASO CONCRETO 
 
Na qualidade de norma jurídica, o precedente judicial pode não ser aplicável ao caso 
concreto, sendo, pois, o caso da sua rejeição. 
 
 
50 LOPES FILHO, Juraci Mourão. Os precedentes judiciais no constitucionalismo brasileiro 
contemporâneo – 2ª ed. rev. e atual. – Salvador: JusPodivm, 2016, p. 226 
51 LOPES FILHO, Op. cit. p. 226-227 
37 
Em essência, a rejeição do precedente judicial ocorre em duas hipóteses: (i) distinção 
entre os fatos e fundamentos relevantes à formação da ratio decidendi do precedente e o caso 
em concreto e (ii) superação da ratio decidendi do precedente. 
 
4.2.1 DISTINÇÃO DO CASO CONCRETO AO PRECEDENTE – 
DISTINGUISHING DO COMMON LAW 
 
Sobre a rejeição do precedente por força da sua distinção em relação ao caso 
concreto, Ronaldo Cramer afirma que não existe um método específico para fazer tal 
exercício, “sendo a sua identificação casuística, pos leva em conta, sobretudo, a clareza do 
texto dos julgados que estão sendo cotejados”52. 
 
Nessas linhas, válido recordar os elementos essenciais para a identidade das ações, 
tão caros nos casos de litispendência ou coisa julgada. 
 
Sobre o tema, pertinente é a lição de Fredie Didier Jr.: 
 
“Todos os elementos da relação jurídica discutida em juízo guardam 
correspondência com os elementos da demanda, numa perfeita simetria: 
enquanto a relação jurídica de direito substancial tem como elementos os 
sujeitos, o fato jurídico e o objeto, a demanda tem como elementos as 
partes, a causa de pedir e o pedido.”53 
 
Contudo, ao que nos interessa, mais interessante é o ensinamento de Teresa Arruda 
Alvim Wambier, apresentado por Ronaldo Cramer54. 
 
De acordo com o processualista carioca, Teresa Arruda Alvim Wambier dintingue a 
identidade da ações em (i) absoluta e (ii) essencial. 
 
Identidade absoluta é a perfeita identidade fática e jurídica entre as demandas, “como 
se dá nas ações repetitivas, em que, a despeito das partes diferentes, existe a mesa tese 
jurídica. Exemplo: consumidores que discutem ser ilegal a cobrança de assinatura básica por 
parte das empresas de telefonia”55. 
 
 
52 CRAMER, Ronaldo. Precedentes judiciais: teoria e dinâmica, p. 142. 
53 DIDIER JR. Fredie. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil, 
parte geral e processo de conhecimento – 18ª ed., rev., ampl. e atual. – Editora JusPodivm: Salvador, 
2016, v.1, p. 288. 
54 CRAMER, Op. cit., p. 143. 
55 CRAMER, Op. cit., p. 143. 
38 
Por sua vez, identidade essencial não demanda a perfeita identidade fática e jurídica 
entre as demandas, mas núcleo fático e valoração jurídica idênticos. São demandas 
essencialmente idênticas aquelas em que discutem o valor da indenização por danos morais 
em decorrência da perda de um membro do corpo. 
 
Assim, concordamos com Teresa Arruda Alvim Wambier, no sentido de que não 
interessa observar exata similitude fática e jurídica entre as demandas, mas,sim, o núcleo 
fático e a valoração jurídica entre as demandas. 
 
Não havendo correlação entre o núcleo fático e a valoração jurídica disposta na ratio 
decidendi do precedente judicial e do caso concreto, ou, ainda, havendo outro núcleo fático 
no caso concreto, a norma do precedente judicial não será aplicável. 
 
4.2.2 SUPERAÇÃO DO PRECEDENTE – FORMAÇÃO DE NOVO 
PRECEDENTE – OVERRULING DO COMMON LAW 
 
Afora a possibilidade de rejeição do precedente em razão da distinção entre o núcleo 
fático e a valoração jurídica disposta na ratio decidendi do precedente judicial e do caso 
concreto, o precedente judicial também pode ser inaplicável em razão da superação da sua 
fundamentação. 
 
Diante da pressão exercida pelo stare decisis enquanto instrumento da segurança 
jurídica na teoria dos precedentes judiciais, Lucas Buril de Macêdo argumenta que: 
 
“(...) para que seja realizada a superação do precedente judicial (overruling) 
é indispensável que o julgador demonstre que as razões substanciais para 
a mudança superam o peso das razões de estabelecer ônus argumentativos 
para a virada jurisprudencial, racionalizando-a, o que acaba por garantir 
alguma segurança na própria realização da mudança.”56 
 
Nessas linhas, de acordo com o referido autor, “superar uma norma, por conseguinte, 
envolve uma colisão de princípios: o stare decisis de um lado (...) e ao menos princípio 
substancial de outro, que exige a mudança”57. 
 
Isso porque, ainda de acordo com Lucas Buril de Macêdo, “para que se proceda com 
a superação do precedente judicial é necessário que as razões para a mudança sejam ais 
 
56 MACÊDO, Lucas Buril. Precedentes judiciais e o direito processual civil, p. 30p. 291. 
57 MACÊDO, Op. cit., p. 291-292. 
39 
fortes do que as razões para a continuidade”58. Em continuidade, é “imprescindível que a nova 
norma do precedente seja mais adequada do que a antiga, demonstrando o tribunal que se 
trata de conteúdo que responde melhor à alguma proposição social, econômica, política ou 
moral, ou ainda que se afigura a melhor interpretação do dispositivo legal interpretado”59. 
 
Assim, “a superação do precedente, ou overruling, deve se pautar na percepção de 
que a mudança do Direito precisa necessariamente tratar com respeito as expectativas 
legítimas geradas pela atuação anterior da jurisdição e não pode ser realizada por quaisquer 
motivos, além de ser imperioso que se assenta a mudança em razões que superem não só a 
qualidade da regra, mas também, e especialmente, a sua estabilidade.” 
 
Poderíamos tratar, ainda, de outros temas correlatos à superação do precedente, ou 
melhor, outros instrumentos para a superação do precedente, porém, ao que interessa a esse 
trabalho, basta conhecer a possiblidade de superação do precedente. 
 
 
58 MACÊDO, Op. cit., p. 292. 
59 MACÊDO, Op. cit., p. 293. 
40 
5 REFLEXOS DA ADOÇÃO DO SISTEMA DE PRECEDENTES 
 
5.1 DOGMA DA EXCLUSÃO DOS FUNDAMENTOS DECISÓRIOS DA COISA 
JULGADA 
 
Como demonstramos acima, não raras vezes, o precedente judicial é definido como 
a própria ratio decidendi do caso concreto, isto é a(s) razão(ões) suficiente(s) para a solução 
da causa ou de qualquer questão julgada pelo tribunal. 
 
Enquanto fundamento (razão) suficiente para a solução de uma causa, inclusive com 
potencial de se tornar vinculante em relação a outras demandas análogas, o tema dos limites 
objetivos da coisa julgada despertou especial interesse em mim. 
 
Nessas linhas, de acordo com Fredie Didier Jr, Paula Sarno Braga e Rafael 
Alexandria de Oliveira60, a coisa julgada é efeito jurídico que torna indiscutível e imutável a 
norma jurídica concreta definida na decisão judicial. 
 
Assim, a meu ver, totalmente inócua a disposição do at. 504 do CPC/2015, à 
semelhança do art. 469 do CPC/1973, ao afirmar que não fazem parte da coisa julgada (i) “os 
motivos, ainda que importantes para determinar o alcance da parte dispositiva da sentença” 
e (ii) “a verdade dos fatos, estabelecida como fundamento da sentença”. 
 
Ora, se a coisa julgada é efeito que torna indiscutível e imutável a norma jurídica 
concreta definida na decisão judicial e, como visto, essa norma pode assumir certo grau de 
abstração e generalidade, não há dúvidas que “os motivos, ainda que importantes para 
determinar o alcance da parte dispositiva da sentença” e “a verdade dos fatos, estabelecida 
como fundamento da sentença” tem aptidão para serem incluídos dentro dos limites objetivos 
da coisa julgada. 
 
A questão, ademais, ganha relevo quando o art. 337, §§ 1º e 2º, do CPC/2015 aponta 
como eficácia negativa da coisa julgada o impedimento de se reproduzir ação anteriormente 
ajuizada, apontando, para tanto, a identidade de partes, causa de pedir e pedido. 
 
 
60 DIDIER JR. Fredie, BRAGA, Paula Sarno, OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de direito 
processual civil: teoria da prova, direito probatório, ações probatórias, decisão, precedente, 
coisa julgada e antecipação dos efeitos da tutela – 11ª ed., rev., ampl. e atual. – Editora JusPodivm: 
Salvador, 2016, v2. p. 530 
41 
Em nossa opinião, sem que tais questões componham o núcleo da coisa julgada – 
os limites objetivos da coisa julgada – não há como se demonstrar, efetivamente, a repetião 
de ação anteriormente ajuizada. 
 
 
42 
6 CONCLUSÃO 
 
O presente trabalho buscou apresentar a possibilidade de aplicação da teoria dos 
precedentes judiciais, tão cara no sistema do common law. 
 
Apesar de grande crítica de doutrina abalizada acerca da impossibilidade de 
importação de conceitos desse sistema jurídico, acreditamos ter demonstrado que 
hodiernamente o sistema de common law e civil law não são mais tão distantes, 
especialmente em nosso sistema jurídico, que desde a sua Constituição (enquanto fonte 
normativa) carrega traços importantes do sistema anglo-saxão, especialmente aquele 
desenvolvido nos Estados Unidos. 
 
Igualmente, acreditamos ter dado razoável solução à discussão acerca da 
obrigatoriedade dos precedentes judiciais. 
 
Certo de não ter esgotado o tema, que, ademais, nem era o escopo do presente 
trabalho, esperamos, ao menos, ter chamado a atenção à matéria, servindo de ponto 
referencial para novas reflexões. 
 
Por se tratar de pedra fundamental do common law, nesse capítulo, ainda, adentrar-
se-á à teoria dos precedentes judiciais. 
 
Em conclusão ao primeiro capítulo, abordar-se-ão os dogmas propostos acerca da 
impossibilidade de coexistência do civil law e do common law – e a teoria dos precedentes 
judiciais – em um único sistema jurídico. 
 
Demonstrada a possibilidade de confluência dos dois grandes sistemas jurídicos 
ocidentais, o capítulo seguinte ocupar-se-á da análise de admissibilidade da teoria dos 
precedentes judiciais perante o sistema jurídico brasileiro, à luz do modelo constitucional do 
direito processual civil brasileiro. 
 
Nessas linhas, será necessário compreender os princípios, os fundamentos, a função 
o conceito e os elementos de um precedente, bem como a sua aplicação, sua rejeição, sua 
distinção e sua superação no julgamento de um caso concreto. 
 
43 
Diante de tais proposições, surge a questão: a observância aos precedentes 
obrigatórios e/ou vinculantes depende de autorização/determinação expressa da 
Constituição? 
 
Na linha proposta neste trabalho, veremos que a resposta é negativa, ao menos 
quando se tratar de precedente erigido da ponderação de princípios. 
 
Caminhando ao final da jornada traçada, a presente monografia apontará breve 
reflexo da adoção da teoria dos precedentes judiciais, especialmente em relação à teoria da 
coisa julgada. 
 
44 
BIBLIOGRAFIA 
 
ALVIM, Thereza. Questões prévias e os limites objetivos da coisa julgada – São Paulo, 
Editora Revista dos Tribunais, 1977. 
 
ANDREASSA JUNIOR, Gilberto. Ativismo judicial & teoria dos precedentes: integração 
dos poderes e coerência nas decisões do judiciário – Curitiba,

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