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RESENHA: TOTEM E TABU - SIGMUND FREUD Freud, S. (1913) Totem e Tabu. In:Obras psicológicas completas: Edição Standart Brasileira. Rio de Janeiro: Imago,1996. Totem e Tabu, obra de Sigmund Freud, explica as relações humanas de um grupo de nativos australianos, por meio do totem, que seria uma entidade mantenedora de uma relação peculiar com todo o clã, podendo ser um animal ou mais raramente um fenômeno da natureza, objeto ou até mesmo um vegetal. De forma geral, a abordagem da obra nos remete ao fato de que fatores culturais e costumes possuem referências mais primitivas do que nós esperamos. Nesse aspecto, utilizando-se do incesto como exemplo, é possível analisar que até mesmo em civilizações ditas “selvagens” havia uma organização social sistematizada, criada com o intuito de se evitar transgressões. Observa-se que nas antigas tribos australianas é comum notar a divisão por totem, sendo esse uma representação fidedigna de seus antepassados. Diante desse aspecto, a criação de clãs foi fundamental para que se houvesse o reconhecimento dos próprios descendentes, evitando destruir o próprio totem. Nesse sentido, têm-se os totens com caracteristicas de hereditariedade e imutabilidade ainda que pelo fator casamento. Portanto, sendo o respeito a este sagrado e irrestrito (totem), e a sua violação um tabu, podendo haver a imposição ao seu infrator de pena de morte em virtude do descumprimento das obrigações a eles impostas, ou seja, a relação de um clã com seu totem seria a base de todas as suas obrigações sociais, sobrepondo até mesmo às suas relações sociais e sanguíneas. Em suma, podemos inferir que esse caráter totêmico que é incorporado ao clã, junto as obrigações, devem ser estendidas a todos os integrantes da tribo, haja vista que não raramente reproduzem os atributos e movimentos de seu totem em danças, comemorações e cerimônias. Retomando o contexto em que Freud sustenta sua obra, observamos que a relação dos aborígenes australianos com suas linhagens é o âmago das suas obrigações, sobrepondo antes mesmo de suas relações consanguíneas. Logo, uma das principais características desas civilizações é que a maioria dos lugares em que existem totens, existe uma lei com a proibição de relações sexuais e casamento entre pessoas do mesmo totem. Sendo uma norma de obrigatoriedade severa, a qual sua transgressão resulta como punição a morte. Portanto, a existência da lei de exogamia é de fundamental importância para essas sociedades, na medida que evita relacionamentos entre parentes consanguíneos, essencialmente pelo fato de que um clã é uma grande linhagem de uma só família. A criação do totem, portanto, representa uma formação social entre individuo e sociedade que vai além do nosso conhecimento, na qual o individuo considera pai e mãe não somente seus progenitores consanguíneso, mas todo e qualquer um que poderia tê-lo concebido, dessa forma, estreitando as relações socias entre homem e tribo. Nesses aspectos, podemos notar também uma convergência acentuada na mitolofia grega e sua respectiva abordagem a respeito do tema do incesto que foi tratado na obra Édipo Rei, de Sófocles.Nessa obra, há um paralelo entre a tragédia grega e o horror de relações sexuais entre parentes próximos (incesto), em resumo o personagem Édipo Rei, ao descobrir que contraiu matrimônio com sua própria mãe e matado seu pai em um duelo, fura os seus próprios olhos para não ver mais a sua cidade, Tebas, que estava sofrendo um período de desgraça por sua causa. Na verdade, a tragédia grega, assemelha-se a um conjunto rigoroso de regras de totem e tabu, no sentido que é possível notar que independente dos povos e da época, o incesto( hoje também denominado de Complexo de Édipo) sempre causou e continua causando sentimentos de horror e angústia na sociedade em geral, sendo uma lei mantida no inconsciente de todos que não pode ser posta em questão, ainda que não se saiba ao certo o motivo de tal proibição. Desta forma, o tabu em relação ao incesto seria mais antigo que os deuses e remontaria a um período anterior a existência de qualquer espécie de norma moral, religiosa e até mesmo jurídica, sendo ele uma norma inconsciente. Portanto, notamos a presença de um comportamento anti-incesto em vários grupos e civilizações no mundo. Na sociedade ocidental, por exemplo, a Igreja Católica há séculos busca evitar o casamento entre irmã e irmão. A palavra Tabu (origem polinésia) não possui tradução para o nosso idioma, mas seu significado converge para a concepção de algo diferente, proibido e misterioso, sendo principalmente algo expresso de proibições. O tabu não representa nenhuma ordem divina ou de caráter moral, portanto não possui fundamentos ou origem conhecida. Apesar disso, apresenta diversas funções, funcionando de forma a realizar um dado controle social-moral. Portanto, a ligação dos grupos primitivos com o tabu se caracteriza pela aceitação de questões sem que haja o mínimo de questionamento, submetendo ao indivíduo o cumprimento a uma inflacionária quantidade de regras de forma natural. Ainda que não haja uma previsão de punição legítima, há uma punição automática, sendo a fé nessas consequências, o controle do povo. Logo, a intrínseca relação do tabu com a questão espiritual fez com que as sociedades atribuíssem aos transgressores de um tabu a própria intitulação de tabu.
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