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Sarcopenia e envelhecimento

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Fisioter Mov. 2011 jul/set;24(3):455-62
 ISSN 0103-5150
Fisioter. Mov., Curitiba, v. 24, n. 3, p. 455-462, jul./set. 2011
Licenciado sob uma Licença Creative Commons
[T]
Sarcopenia e envelhecimento
 [I]
Sarcopenia and aging
[A]
Tatiane da Silva Pícoli[a], Larissa Lomeu de Figueiredo[b], Lislei Jorge Patrizzi[c]
[a] Pós-Graduada em Fisioterapia Cardiorrespiratória pela Universidade de Franca (Unifran), Franca, SP - Brasil, e-mail: 
tatianepicoli@yahoo.com.br 
[b] Especialista em Geriatria pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Pós-Graduanda em Fisioterapia Ortopédica, 
Traumatológica e Desportiva pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), Poços de Caldas, MG - 
Brasil, e-mail: larissalf.fisio@gmail.com
[c] Professora adjunta do curso de Fisioterapia da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), Uberaba, MG - Brasil, 
e-mail: lpatrizzi@uol.com.br
[R]
Resumo
Introdução: O envelhecimento está ligado ao grupo de alterações do desenvolvimento que ocorrem nos 
últimos anos de vida e está associado a alterações profundas na composição corporal. Essa perda rela-
cionada à idade foi denominada “sarcopenia”. Objetivos: Avaliar a força muscular no processo de enve-
lhecimento e identificar as variações entre os músculos do abdômen, membros superiores e inferiores. 
Materiais e métodos: Participaram deste estudo 48 indivíduos, que foram divididos em quatro grupos de 
acordo com a faixa etária: (G1) 11 a 18 anos, (G2) 20 a 26 anos, (G3) 45 a 60 anos e (G4) 66-82 anos. Os 
instrumentos de avaliação utilizados foram: 1) esfigmomanômetro (EM) – para análise da força de flexores 
e extensores da articulação do joelho; 2) flexão de tronco em decúbito dorsal – para avaliação da força dos 
músculos abdominais (graus 0 a 5); 3) dinamômetro Jamar – para avaliação da força de preensão palmar; 
e 4) dinamômetro Preston Pinch Gauge – para avaliação da força na pinça dos dedos (polegar e indicador). 
Resultados: Foi observado crescente incremento da força muscular de membros inferiores e superiores 
com o avançar da idade (G1, G2 e G3) e significativa diminuição da força muscular em todos os segmentos 
avaliados no G4 quando comparado com o G3. Foi observada importante variação entre a força muscu-
lar dos segmentos avaliados e a idade. O trabalho sugere que a diminuição da força muscular torna-se 
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evidente a partir da sexta década de vida, e que esta apresenta variações entre os músculos do abdômen, 
membros superiores e inferiores. [#]
 [P]
Palavras-chave: Envelhecimento. Força muscular. Sarcopenia. [#]
[B]
Abstract
Introduction: The aging process refers to a group of developmental disorders that occur in recent years and 
is associated with profound changes in body composition. This age-related loss has been termed “sarcopenia”. 
Objectives: Evaluate the muscular strength in the ageing process and identify the changes between the abdomi-
nal muscles, upper and louver edges. Materials and methods: 48 individuals participated in this study, being 
divided into four groups according to the age: (G1) 11 to 18 years old, (G2) 20 to 26 years old, (G3) 45 to 60 years 
old and (G4) 66-82 years old. The evaluation instruments used were: 1) sphygmomanometer (MS) – to analyze the 
strength of flexors and extensors of the knee joint; 2) trunk flexion in the supine position – to evaluate the strength 
of the abdominal muscles (grades 0-5); 3) Jamar dynamometer – for evaluation of grip strengthand; 4) Preston 
Pinch Gauge dynamometer – to evaluate the strength of the gripperfingers (thumb and forefinger). Results: We 
have observed increasing development of the muscular strength of the upper and louver members with the ageing 
process (G1, G2 and G3) and significant decrease of the muscular strength of all segments tested in G4 when 
comparing with G3. We also observed an important variation between the muscular force of the tests segments 
and the age. The work suggests that the decrease of the muscular force becomes evident from the life sixth 
decade and that there are variations of strength among the abdominal muscles, upper and louver members. [#]
 [K]
Keywords: Aging. Muscular strength. Sarcopenia. [#]
A sarcopenia estabelece seus sintomas princi-
palmente em indivíduos fisicamente inativos, mas 
também é vista em sujeitos que permanecem fisica-
mente ativos ao longo de suas vidas, com isso corro-
boram fatores pertinentes à saúde pública. Diversos 
autores verificaram que o treinamento de força pode 
minimizar ou retardar o processo de sarcopenia para 
obter significantes respostas neuromusculares (hi-
pertrofia muscular e força muscular), por meio do 
aumento da capacidade contrátil dos músculos es-
queléticos (4, 5).
Estudos epidemiológicos (6, 7) sugerem que di-
ferentes fatores contribuem para o desenvolvimento 
da sarcopenia, incluindo alterações hormonais, perda 
de neurônios motores, nutrição inadequada, inativi-
dade física e baixo grau de inflamação crônica. Essas 
alterações têm sido apresentadas até mesmo em in-
divíduos saudáveis, fisicamente ativos, resultando 
em perda da massa muscular de, aproximadamente, 
1% a 2% por ano, a partir dos 50 anos de idade (8). 
A diminuição da força e da potência do músculo 
pode influenciar na autonomia, no bem-estar e na 
qualidade de vida dos idosos (9). 
O objetivo deste estudo foi avaliar a força muscu-
lar no processo de envelhecimento e identificar as 
Introdução
A população de idosos está aumentando cada vez 
mais no Brasil e no mundo, resultando em profun-
das mudanças na dinâmica demográfica. Nos últimos 
60 anos, houve um acréscimo de 15 milhões de in-
divíduos idosos no País, passando de 4% para 9% 
da população brasileira. Em 2025, estima-se um au-
mento de mais de 33 milhões, tornando o Brasil o 
sexto país com maior percentual populacional de 
idosos no mundo (1, 2).
O envelhecimento está ligado ao grupo de altera-
ções do desenvolvimento que ocorrem nos últimos 
anos de vida e está associado a alterações profundas 
na composição corporal. Com a idade, há um aumen-
to na massa de gordura corporal, especialmente com 
o acúmulo de depósitos de gordura na cavidade ab-
dominal, e uma diminuição da massa corporal magra. 
Essa diminuição ocorre basicamente como resultado 
das perdas da massa muscular esquelética. Essa per-
da, relacionada à idade, foi denominada “sarcopenia” 
(3). O desenvolvimento da sarcopenia é um processo 
multifatorial que inclui inatividade física, unidade 
motora remodelada, nivelação de hormônio dimi-
nuído e diminuição da síntese de proteína (4). 
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e o outro membro posicionado em extensão. 
Durante o teste de extensão de joelho, os su-
jeitos ficaram em decúbito ventral, com os dois 
membros em extensão, o EM foi posicionado 
sob o tornozelo, tendo então como base o pon-
to de apoio (chão) e como topo o tornozelo. 
O aparelho foi insuflado a 140 mmHg como 
ponto de referência em ambos os testes. O vo-
luntário foi induzido a exercer esforço máximo, 
por meio de estímulos verbais de encorajamen-
to de flexão e extensão do joelho (10).
b) Flexão de tronco na posição supino: solicitou-
se aos participantes que fizessem a flexão de 
tronco a partir do decúbito dorsal, com os mem-
bros inferiores em extensão, para a avaliação 
da força dos músculos abdominais. Em todo o 
teste o paciente ficou com as mãos entrelaça-
das atrás da cabeça. O paciente realizava o teste 
até o seu limite. A avaliação seguiu a graduação 
proposta por Kendall (11), em grau de 0-5.
c) Dinamômetro Jamar: Instrumento confiável e 
seguro para avaliar a força de preensão palmar. 
O indivíduo foi posicionado sentado com o om-
bro aduzido em posição neutra, cotovelo fletidoa 90° e antebraço em semipronação. Durante a 
preensão manual, o braço permaneceu imóvel, 
havendo somente a flexão das articulações in-
terfalangeana e metacarpofalangeana.
d) Dinamômetro Preston Pinch Gauge: Instru-
mento para avaliação da força de pinça dos de-
dos (polegar e indicador). O paciente foi posi-
cionado sentado, com o ombro aduzido e em 
posição neutra e o cotovelo fletido em ângulo 
reto. O polegar e o indicador foram posiciona-
dos em discreta flexão da interfalângica pro-
ximal, e os demais dedos não envolvidos na 
pinça foram mantidos em semiflexão. 
Para todos os testes foram solicitados aos parti-
cipantes três repetições sucessivas, sendo o resul-
tado final a média desses valores. Este estudo foi 
aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Uni-
versidade de Franca (Protocolo 088/08).
Análise estatística
Foi realizada uma análise descritiva das variáveis 
estudadas. A normalidade da distribuição da amos-
tra foi testada aceitando-se valores de p > 0,05. Caso 
variações entre os músculos do abdômen, membros 
superiores e inferiores.
Metodologia
Sujeitos 
Quarenta e oito indivíduos participaram volun-
tariamente deste trabalho, divididos em 4 grupos de 
12 participantes, sendo 6 homens e 6 mulheres: (G1) 
11 a 18 anos, (G2) 20 a 26 anos, (G3) 45 a 60 e (G4) 
66-82 anos. Os participantes foram selecionados nas 
dependências da Unifran e em residências da cidade 
de Franca, São Paulo, Brasil. Os critérios de exclusão 
envolveram pessoas que: praticavam atividade física 
com frequência, acima de três vezes/semana; tinham 
artrose severa, déficit cognitivo, obesidade; sofreram 
acidente vascular cerebral; e faziam uso de órteses 
para membro inferior ou tinham sofrido fraturas, 
com ou sem implantes metálicos. Os sujeitos, após 
serem previamente esclarecidos sobre os propósitos 
da investigação e procedimentos aos quais seriam 
submetidos, assinaram um Termo de Consentimento 
Livre e Esclarecido (Protocolo 088/08).
Instrumentação
Para a avaliação da força muscular foram utili-
zados: o esfigmomanômetro BD – para análise da 
força de flexores e extensores de joelho; o dinamô-
metro Jamar – para avaliar a integridade funcional 
dos membros superiores; e o dinamômetro Preston 
Pinch Gauge – para avaliação de pinça das mãos.
Procedimentos
a) Esfigmomanômetro (EM): foi utilizado para 
análise da força de flexores e extensores da ar-
ticulação do joelho. Antes de realizar o teste, o 
voluntário recebeu as instruções de como de-
veria proceder e foi solicitado que realizasse o 
movimento desejado uma única vez, em cada 
segmento, como forma de aprendizagem, antes 
que o EM fosse posicionado e que o teste fosse 
iniciado. Durante o teste de flexão de joelho, os 
indivíduos ficaram em decúbito dorsal, com o 
membro a ser avaliado em uma flexão de 95° 
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Tabela 1 - Médias obtidas entre os grupos nas variáveis estudadas
FMId 
(mmHg)
FMIe
(mmHg)
EMId
(mmHg)
EMIe
(mmHg)
PPd
(Kg)
PPe
(Kg)
Pd
(Kg)
Pe
(Kg)
FAb
(0-5*)
G1 (11-18 anos) 210,8 201,8 186,3 182,5 33,8 35,1 5,7 5,7 4,2
G2 (20-26 anos) 221,8 225 206,1 198 42,6 40 7,5 6,5 4,5
G3 (45-60 anos) 237,4 232,6 214,2 203,5 45,6 43,8 7,8 7,2 3,8
G4 (66-82 anos) 192 199,5 199 198,1 34,4 33,1 4,7 4,0 2,2
Legenda: FMId = fl exão membro inferior direito; FMIe = fl exão membro inferior esquerdo; EMId = extensão membro inferior direito; EMIe = 
extensão membro inferior esquerdo; PPd = preensão palmar direita; PPe = preensão palmar esquerda; Pd = pinça direita; Pe = 
pinça esquerda; FAb = força abdômen; * = Kendall. 
Fonte: Dados da pesquisa.
Tabela 2 - Dados referentes à perda (%) de força muscular no G4 nos segmentos estudados
FMId 
(mmHg)
FMIe
(mmHg)
EMId
(mmHg)
EMIe
(mmHg)
PPd
(Kg)
PPe
(Kg)
Pd
(Kg)
Pe
(Kg)
FAb
(0-5*)
G4 (66-82 ano) 19,13% 14,24% 7,1% 2,7% 24,6% 24,5% 39,8% 44,5% 51,2%
Legenda: FMId = fl exão membro inferior direito; FMIe = fl exão membro inferior esquerdo; EMId = extensão membro inferior direito; EMIe = 
extensão membro inferior esquerdo; PPd = preensão palmar direita; PPe = preensão palmar esquerda, Pd = pinça direita; Pe = pinça 
esquerda; FAb = força abdômen; * = Kendall). 
Fonte: Dados da pesquisa.
Foi observada diferença significativa (5% de sig-
nificância), em pelo menos um grupo, para as variá-
veis FMId (p = 0,02), PPd (p = 0,01), Pd (p = 0,04), 
Pe (p = 0,01), FAb (p = 0,001), sendo consideradas 
estatisticamente iguais às variáveis FMIe (p = 0,09), 
EMIe (p = 0,2), EMId (p = 0,06), PPe (p = 0,2) entre 
os grupos avaliados (Tabela 1).
Discussão
Estudos evidenciam que a força muscular atinge 
seu pico por volta dos 30 anos de idade e é satisfa-
toriamente preservada até os 50 anos (12). Durante 
a senescência, ocorre diminuição da força muscular, 
em uma taxa que varia de 20% a 40%, na popula-
ção entre 70-80 anos. Ao considerar idosos nona-
genários, essa taxa é agravada e a redução da força 
é maior do que 50% (13). Contudo, um declínio da 
força ocorre entre os 50 e 60 anos de idade e evolui 
lentamente, com um grau bem mais rápido de dimi-
nuição após os 60 anos (14). 
Sowers et al. (15), a partir de um estudo obser-
vacional, apresentaram uma relação direta entre a 
indicativo de normalidade na distribuição, o teste 
ANOVA foi utilizado para comparação dos dados nor-
mais e para os dados normais após transformação 
(teste de Johnson).
Para os dados que não indicaram normalidade na 
distribuição da amostra mesmo após transformação, 
foi utilizado o teste de Kruskal Wallis (não paramé-
trico), sendo estabelecido o nível de significância de 
p < 0,05 para todas as análises estatísticas. Já para a 
análise das variações encontradas entre os múscu-
los do abdômen, membros superiores e inferiores 
foram comparados os valores máximos obtidos (G3 
e G4 FAb) com o G4 (Tabela 2).
Resultados
Foi observado crescente incremento da força 
muscular de membros inferiores e superiores com 
o avançar da idade (G1, G2 e G3) e significativa di-
minuição da força muscular em todos os segmentos 
avaliados no G4 quando comparado com o G3. Ob-
servou-se importante variação entre a força muscu-
lar dos segmentos avaliados e a idade (Tabela 2).
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mais incapacidades físicas quando comparada aos 
somente sarcopênicos (S) ou somente obesos (O). 
Entre os homens, o risco foi de 8,7 (S-O) versus 3,8 
(S) versus 1,3 (O). Nas mulheres, foi de 12 (S-O) versus 
3 (S) versus 2,2 (O) (18).
Os comprometimentos adicionais na função mus-
cular, associados às doenças agudas ou crônicas, às 
hospitalizações por trauma ou por cirurgia e à ina-
tividade, podem acelerar o declínio da força muscu-
lar (19). 
Com o aumento da população idosa e da expecta-
tiva de vida, começam a surgir com maior frequência 
doenças e comorbidades relacionadas ao processo 
de envelhecimento, como, por exemplo, a sarcopenia 
(14). O termo não deve ser considerado em casos de 
perda muscular associados a processos inflamatórios, 
perda de peso ou doenças em estágios avançados (20).
A sarcopenia do envelhecimento está associada 
ao declínio progressivo da massa e, consequente-
mente, da função muscular (força, potência e resis-
tência). Esse déficit pode ser relacionado a uma 
contração muscular inadequada, seja em função de 
alterações nas proteínas actina e miosina ou por 
um estresse oxidativo nas células. O início e a pro-
gressão dessa perda muscular estão relacionados à 
perda de miócitos via apoptose, essa perda é mais 
pronunciada nas fibras do tipo II (21, 22).
Segundo Rebelatto et al. (23), as alterações ana-
tomofisiológicas características do processo de en-
velhecimento são muito importantes do ponto de 
vistafuncional do sistema muscular. A sarcopenia 
ocorre principalmente pela diminuição do peso mus-
cular e diminuição da área de secção transversal. Con-
sequentemente, o idoso terá menor qualidade em 
sua contração muscular, menor força, menor coorde-
nação dos movimentos e, provavelmente, maior pro-
babilidade de sofrer acidente (por exemplo, quedas).
Segundo Deschenes (7), o decréscimo no núme-
ro de fibras musculares é a principal causa de sarco-
penia, embora a atrofia da fibra, particularmente do 
tipo II, também esteja envolvida. 
Para Rebelatto et al. (19), com o passar dos anos 
as fibras de contração rápida ou do tipo II vão dimi-
nuindo em número e volume e as fibras de contra-
ção lenta ou do tipo I também diminuem, mas em 
menor proporção que as primeiras. Esse fato talvez 
explique a menor velocidade que se observa nos mo-
vimentos do idoso.
Sabe-se que a força gerada por um músculo não 
é diretamente proporcional à quantidade de fibra 
perda de massa muscular comum ao envelhecimen-
to, diminuição de força de membros inferiores e ve-
locidade da marcha, além do aumento do tempo da 
fase de apoio duplo na deambulação. Segundo esse 
estudo, a perda de massa magra, apesar de estar 
relacionada ao desempenho funcional, parece estar 
mais fortemente ligada à força de membros inferio-
res (15). No entanto, no presente estudo foi obser-
vado o crescente incremento da força muscular de 
membros inferiores e superiores com o avançar da 
idade (G1, G2 e G3) e significativa diminuição da 
força muscular em todos os segmentos avaliados no 
G4 quando comparado com o G3. Observou-se im-
portante variação entre a força muscular dos seg-
mentos avaliados e a idade (Tabela 2).
Deschenes (12) e Kauffman (14) citam que, após 
a quinta década de vida, a taxa de progressão de redu-
ção da força se dá em torno de 8% a 15% por década, 
e tanto homens quanto mulheres exibem o mesmo 
padrão de diminuição da força durante o envelheci-
mento. Contudo, investigações longitudinais têm re-
velado diminuição da força em idosos maior do que 
as apresentadas por estudos transversais.
Homens e mulheres idosos com menor atividade 
física têm também menor massa muscular e maior 
prevalência de incapacidade física (16). A prática 
regular de exercícios desde a juventude lentifica a 
perda muscular do idoso. E a intervenção mais efi-
caz para a prevenção e recuperação da perda mus-
cular são os exercícios de resistência (17). A habili-
dade para desempenhar atividades da vida diária, a 
massa e a força muscular são bastante relacionadas 
entre si. No estudo do Novo México, mulheres e ho-
mens sarcopênicos tinham, respectivamente, 3,6 e 
4,1 maiores chances de incapacidade quando com-
parados àqueles com maior massa muscular. Da 
mesma forma, o uso de órteses e a maior frequência 
de quedas foram mais relatados pelos idosos com 
menor massa muscular. Recentemente, o mesmo gru-
po descreveu maior prevalência de sarcopenia em 
mulheres idosas com grande prejuízo funcional. 
O estudo ainda mostrou a importância de iden-
tificar indivíduos obesos e sarcopênicos, uma vez 
que o aumento de gordura corporal e a estabilida-
de do peso dificilmente suscitam interesse sobre a 
perda muscular. Nessa população, tanto obesidade 
quanto sarcopenia se associaram a limitações fun-
cionais, incapacidade e maior número de quedas, 
particularmente no sexo feminino. A população sar-
copênica e obesa (S-O) tinha alto risco para três ou 
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pode identificar idosos com diminuição da força e 
potência muscular de membros inferiores, com de-
clínio funcional e risco para limitações de membros 
inferiores (26).
Um instrumento bastante utilizado para se esti-
mar a força muscular global em idosos é a força de 
preensão palmar. De forma geral, os idosos que apre-
sentam força de preensão manual reduzida são se-
dentários, possuem déficits de massa corporal, apre-
sentam problemas de saúde e limitações funcionais 
em atividades que exigem a participação dos mem-
bros superiores e inferiores. Portanto, essa medida 
deixa de ser apenas uma simples medida da força da 
mão, limitada à avaliação do membro superior, e 
passa a apresentar outras implicações clínicas (27).
Os valores da força de preensão manual têm mos-
trado associação significativa com a incapacidade 
funcional: indivíduos com menores valores de força 
apresentaram menor velocidade de andar e risco 
duas vezes maior de incapacidade de autocuidado, 
sugerindo que a medida dessa variável na idade 
adulta pode servir como fator prognóstico de risco 
de incapacidade física na velhice (28).
A incapacidade funcional exerce grande efeito 
negativo no bem-estar individual, gerando mais ne-
cessidade de assistência à saúde e cuidados por lon-
gos períodos. Incapacidade funcional é comumente 
definida como a restrição da capacidade do indiví-
duo de desempenhar atividades normais da vida di-
ária. Refere-se também a limitações específicas no 
desempenho de papéis socialmente definidos e de 
tarefas dentro de um ambiente sociocultural e físi-
co particular. Estão incluídas as atividades básicas e 
instrumentais de vida diária, os papéis no trabalho, 
nas atividades não ocupacionais, nos recreativos ou 
de lazer (29).
Para Hunter et al. (30), o decréscimo da função 
muscular, com a consequente diminuição da funcio-
nalidade, pode tornar-se um ciclo vicioso, visto que 
a diminuição da função muscular induz a uma baixa 
no nível de atividade física, que, por sua vez, causa 
um decréscimo ainda maior na função muscular com 
consequências diretas na qualidade de vida do idoso. 
À medida que a população envelhece torna-se 
cada vez mais evidente a necessidade do estudo 
dos fatores associados à sarcopenia, visto que me-
lhores e mais eficazes estratégias e intervenções de 
prevenção e tratamento poderão ser desenvolvidas 
para minimizar a incapacidade e otimizar a inde-
pendência de idosos (19).
muscular presente nele. Com base nesse fato, recen-
temente o termo dinapenia (dyna = força; penia = 
perda) foi proposto por Clark e Manini (24) para 
definir a perda específica da força muscular relacio-
nada ao envelhecimento, e para dissociar a perda 
de força da perda de massa muscular. Essa recente 
informação, indicando a dissociação entre massa 
muscular e a força, suporta a noção de que outras 
adaptações de função fisiológica (celular, neural e 
metabólica) são mediadoras da perda de força re-
lacionada à idade. Isso sugere que ganhos de força, 
a curto prazo, não estão relacionados a fatores as-
sociados à capacidade intrínseca do músculo. Esses 
fatores constituem uma interação complexa entre 
mudanças nas propriedades de ativação das unida-
des motoras, bem como a adaptação no comando 
central para o aprendizado (24).
Em 2002, Janssen, Heymsfield e Ross (25) de-
senvolveram um novo método para mensuração da 
sarcopenia relativa utilizando uma estratégia para 
correção da massa gorda, de modo a não influenciar 
no resultado do cálculo. O índice de músculo es-
quelético (IME) foi definido com a fórmula: massa 
muscular esquelética (estimada por meio da análise 
de bioimpedância) dividida pela massa corporal × 
100, o que irá representar a porcentagem de mas-
sa muscular sobre a massa corporal do indivíduo. 
Nesse mesmo estudo foi elaborado um sistema de 
classificação da sarcopenia, a fim de graduar a perda 
de massa muscular, bem como o impacto dessa per-
da nas atividades funcionais de indivíduos sarcopê-
nicos. A sarcopenia classe I é considerada presente 
em indivíduos em que o IME se encontra entre um e 
dois desvios-padrões dos valores de adultos jovens, 
e a sarcopenia classe II está presente em indivíduos 
que possuem IME abaixo de dois desvios-padrões 
dos valores de adultos jovens. Essa forma de classi-
ficação é semelhanteà forma utilizada para se clas-
sificar a densidade mineral óssea em normal, oste-
openia e osteoporose. Clinicamente, a classificação 
da sarcopenia elaborada por Janssen et al. (25) pa-
rece não ser muito utilizada, porém tem sido forte-
mente adotada por pesquisadores.
Outro estudo demonstrou que a força do joelho 
aliada ao equilíbrio é preditora do desenvolvimento 
de limitações severas na caminhada. Essa limitação é 
definida como velocidade de marcha menor que 0.4 
m/s, inabilidade para caminhar um quarto de mi-
lha ou inabilidade total de caminhar. Assim, pode-
se concluir que a lentidão da velocidade de marcha 
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Sarcopenia e envelhecimento
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Conclusão
O trabalho sugere que a diminuição da força 
muscular torna-se evidente a partir da sexta déca-
da de vida, e que tal diminuição apresenta variações 
entre os músculos do abdômen, membros superio-
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Recebido: 29/09/2010
Received: 09/29/2010 
Aprovado: 13/05/2011 
Approved: 05/13/2011 
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