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Livro - Fundamentos Historicos, Metodologicos do Servico Social I e II

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FUNDAMENTOS HISTÓRICOS, 
TEÓRICOS E METODOLÓGICOS 
DO SERVIÇO SOCIAL I E II
Faculdade Educacional da Lapa (Org.)
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Curitiba
2018
Fundamentos 
Historicos, Teóricos 
e Metodológicos do 
Serviço Social I e II
ó
Faculdade Educacional da Lapa (Org.)
Ficha Catalográfica elaborada pela Editora Fael. 
F981 Fundamentos históricos, teóricos e metodológicos do serviço 
social I e II / organização de Faculdade Educacional da Lapa. – 
Curitiba: Fael, 2018
127 p.: il.
ISBN 978-85-5337-042-9
1. Serviço Social 2. Assistência Social I. Faculdade Educacional da 
Lapa II. Título
CDD 361.3
Direitos desta edição reservados à Fael.
É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael.
FAEL
Direção Acadêmica Francisco Carlos Sardo
Coordenação Editorial Raquel Andrade Lorenz
Projeto Gráfico Sandro Niemicz
Diagramação Editora Coletânea
Imagem da Capa Shutterstock.com/REDPIXEL.PL
Arte-Final Evelyn Caroline dos Santos Betim
Sumário
Fundamentos Históricos, Teóricos e 
Metodológicos do Serviço Social I | 5
1. O Capitalismo Monopolista | 5
2. O Serviço Social como Profissão Institucionalizada | 15
3. O Serviço Social e as Questões do Sistema 
Capitalista Monopolista | 23
4. A Atuação do Estado | 31
5. O Serviço Social como Prática Social | 37
6. O Papel da Igreja Católica | 45
7. Qualificação dos Profissionais Leigos | 53
Fundamentos Históricos, Teóricos e 
Metodológicos do Serviço Social II | 61
8. O Serviço Social e sua atuação sob influência 
da teoria Neotomista | 61
9. Positivismo, Funcionalismo e sua influência na atuação 
profissional do Serviço Social Tradicional | 69
10. A aproximação do Serviço Social com a fenomenologia | 81
11. O Serviço Social e o desenvolvimentismo | 87
12. O Serviço Social e a “Geração 1965” | 97
13. Serviço Social nos anos 70 | 107
14. O Serviço Social e o Marxismo | 115
Referências | 123
1
O Capitalismo 
Monopolista
Este é o primeiro tema da nossa disciplina. Diz respeito ao 
surgimento do capitalismo na sua terceira fase, a monopolista. 
O capitalismo passou por três fases desde seu início, são elas: 
Capitalismo ou Pré-capitalismo, Capitalismo Industrial e Capita-
lismo Monopolista-financeiro. Essas fases dizem respeito ao sur-
gimento do capitalismo, respectivamente, a partir do firmamento 
do comércio mercantilista, o fim do sistema feudal e firmamento 
do sistema industrial e o surgimento do monopólio com as fusões 
de empresas, o aumento do investimento na tecnologia, para a 
ampliação da produção e consequentemente o aumento nos lucros.
Vamos compreender a origem do modelo monopólico, bem 
como suas consequências para a classe trabalhadora. O monopó-
lio é marcado pelo novo direcionamento da atuação do Estado, 
no enfrentamento das expressões da questão social.
Fundamentos Históricos, Teóricos e Metodológicos do Serviço Social I
– 6 –
As condições socioeconômicas dos trabalhadores, no capitalismo 
monopolista, tornaram-se muito difíceis e agravantes. Esse fato exige, 
por parte do Estado, respostas por meio de políticas públicas sociais, 
visando a minimizar as mazelas que se alastraram pela sociedade como o 
desemprego, a falta de moradia, as doenças, entre outras. Essas respostas 
são uma forma de conter revoltas ou organização da classe trabalhadora, 
para reivindicar melhorias na qualidade de vida: essa população sente 
as mudanças provocadas pelo capitalismo de monopólio, que expropria 
ainda mais as classes subalternas. Vamos conhecer melhor esse processo 
que provoca mudanças nas sociedades, no início do século XX.
1.1 A Origem do Capitalismo Monopolista
O sistema capitalista é gerado a partir da decadência do modo de pro-
dução feudal, provocada, entre outros fatores, pela ampliação do comércio 
externo e interno na Europa (mercantilismo), desenvolvimento das ciên-
cias experimentais, descoberta de novas formas de produção, a partir de 
alternativas energéticas (água, carvão e, no final do século XIX, petróleo) 
e o consequente crescimento das cidades. Nesse novo contexto, começam 
a organizar-se novos segmentos sociais, entre outros, a burguesia comer-
cial e trabalhadores assalariados.
 Saiba mais
Burguesia: classe social detentora dos meios de produção, constituída 
pelos mercadores e burgos medievais. É a camada social que se desen-
volveu com a Revolução Industrial, tendo se tornado a classe domi-
nante no capitalismo.
O modelo capitalista europeu consolida-se com o crescimento das 
fábricas e, posteriormente, das indústrias, sendo também desenvolvido nos 
Estados Unidos da América. Na primeira fase do chamado Capitalismo 
Industrial, a Inglaterra, locus da Revolução Industrial, lidera a economia 
mundial (século XIX). A partir dos século XX, a hegemonia econômica 
mundial pertence aos EUA.
– 7 –
O Capitalismo Monopolista
O quadro social nessa nova sociedade sofre grandes transformações: 
formam-se as classes sociais, grosso modo, médias e proletárias urbanas, 
e, no topo da pirâmide social, a burguesia, proprietários dos meios de pro-
dução, com o objetivo fundamental do lucro com a venda de seus produtos. 
Recrudesce a exclusão social de grande parte da população sem emprego 
e, consequentemente, miseráveis que constituem o quarto estrato dessa 
pirâmide. A questão social torna-se cada vez mais grave, pelas condições 
de vida dos trabalhadores, sem garantias trabalhistas, com moradias sem 
saneamento, saúde precária e quase nenhuma escolarização.
 Saiba mais
Classe Social é um grupo de indivíduos que ocupam uma mesma posi-
ção nas relações de produção, em determinada sociedade.
Sobre a sociedade de classe fundada sob a compra e venda da força 
de trabalho no sistema capitalista, Martinelli (1993, p. 54) afirma que
[...] o capitalismo fez de tal processo de expansão uma das páginas 
mais violentas na história da relação capital-trabalho. Instaurando-
-se como uma forma peculiar de sociedades de classes fundadas 
sob a compra e venda da força de trabalho, revelou desde logo sua 
força opressora em relação ao proletariado. Com o capitalismo se 
institui a sociedade de classe e se plasma um novo modo de rela-
ções sociais, mediatizadas pela posse privada de bens. O capita-
lismo gera o mundo da cisão, da ruptura, da exploração da maioria 
pela minoria, o mundo em que a luta de classes se transforma na 
luta pela vida, na luta pela superação da sociedade burguesa.
A exploração da força de trabalho é uma das estratégias utilizada 
pelos donos do capital para obter lucros e, consequentemente, aumen-
tar suas riquezas. Um dos mecanismos utilizados para facilitar a explo-
ração da mão-de-obra operária, pelos capitalistas, prende-se ao aumento 
progressivo de trabalhadores no mercado, que constitui um exército de 
reserva dos capitalistas, para substituição da força de trabalho, quando 
julgarem conveniente.
Além desse exército de reserva favorecer à concorrência entre os traba-
lhadores, Martinelli (1993, p. 79) aponta outros benefícios para os capitalistas.
Fundamentos Históricos, Teóricos e Metodológicos do Serviço Social I
– 8 –
Circulando perifericamente pelo mercado e aguardando a oportuni-
dade de nele adentrar, essa população excedente era ardilosamente 
utilizada pelo capitalista como um fator de contenção de salários, 
um freio aos movimentos e reivindicação trabalhistas. Para o capi-
talista, essa superpopulação trazia sempre a possibilidade de man-
ter uma alta rotatividade de sua mão-de-obra, substituindo os que 
questionavam, afastando os que reivindicavam.
As contradições geradas, nesse modo de produção, entre trabalhado-
res e proprietários dos meios de produção, provocam a organização dos 
trabalhadores para lutar por seus direitos. A luta de classes emerge com 
força e organizada contra os arbítrios da classe empresarial.Saiba mais
O exército de reserva é constituído pelos trabalhadores que estão à mar-
gem do mercado, esperando uma oportunidade de trabalho.
A classe dominante, para manter a ordem e seus interesses, utilizava 
de estratégias, conforme exigências do mercado, como a prolongada jor-
nada de trabalho, visando diminuir custos com mão-de-obra, bem como 
substituir trabalhadores contestadores por outros disponíveis no mer-
cado (exército de reservas) para desmobilizar a classe operária na luta 
por melhores condições de trabalho. Paulatinamente, com muitas lutas, 
os operários conquistam algumas melhorias, como a regulamentação do 
trabalho, a redução da jornada de trabalho, o teto mínimo salarial, condi-
ções melhores no ambiente de trabalho, etc. O que não significa, evidente-
mente, a erradicação da exploração de seu trabalho, em função dos lucros 
dos empresários.
No início do século XX, cresce o monopólio de empresas que se agru-
pam e controlam a produção e o mercado para venda de seus produtos, 
com fortes leis protecionistas, aumento da produtividade pelo desenvol-
vimento de novas técnicas de produção e novas alternativas energéticas.
Segundo Netto (2005), o modelo monopólico foi criado pela burgue-
sia, como estratégia para atender seu objetivo principal: aumentar o lucro. 
Com essa finalidade, a burguesia passa a exercer o controle do mercado, 
– 9 –
O Capitalismo Monopolista
por meio das grandes corporações financeiras, dentre elas o sistema ban-
cário e as grandes empresas (multinacionais). Esse controle é realizado 
pela apropriação privada da produção de mercadorias.
 Saiba mais
Podemos afirmar que o Mercado é a relação estabelecida entre a oferta 
e a procura de bens e/ou serviços e/ou capitais.
Com a implantação do modelo monopólico, ocorre a fusão de 
indústrias, o que propicia o surgimento de grandes empresas avançadas 
em tecnologia. As empresas defendem a internacionalização das merca-
dorias e a centralização de sua comercialização. Essa fusão de empresas 
é chamada de truste – união de várias empresas que controlarão todas as 
etapas de produção de determinada mercadoria. Foram criados, ainda, 
pelo capitalismo monopolista, os cartéis, que são acordos feitos entre 
as empresas para estabelecerem os preços de suas mercadorias, a quan-
tidade da produção e, ainda, para dividirem o mercado consumidor, isto 
é, os lucros devem ser iguais para todas as empresas que fazem parte 
do cartel.
Netto (2005) retrata dois elementos próprios do capitalismo mono-
polista: a supercapitalização e o parasitismo. O primeiro elemento refere-
-se à acumulação de capital, que encontra dificuldade de valorização; o 
segundo elemento se instaura na vida social e favorece, por um lado, a 
natureza parasitária da burguesia e, por outro, uma generalizada burocrati-
zação da vida social das pessoas. Esta burocratização tem como finalidade 
legitimar o monopólio.
Ao se legitimar, o monopólio gera uma grande luta entre grupos 
monopolistas e aqueles que ainda não são monopolizados. Agindo assim, 
o modelo monopólico coloca no auge a contradição entre a socialização 
da produção de mercadorias e a apropriação privada desses bens. A partir 
dessa contradição, a produção de mercadorias passa a ser internaciona-
lizada, favorecendo aos grupos monopolistas (grandes empresas) com o 
controle decisivo da produção.
Fundamentos Históricos, Teóricos e Metodológicos do Serviço Social I
– 10 –
Nessa nova etapa, capitalismo monopolista, a luta de classe se agrava 
e ganha maior dimensão pelo alto grau de exploração dos trabalhadores.
O capitalismo monopolista, com sua lógica de acúmulo de lucros, 
causou graves consequências para a classe trabalhadora na sociedade. 
Essas consequências favoreceram o fortalecimento da luta de classe entre 
burguesia (dona dos meios de produção) e classe trabalhadora (dona da 
força de trabalho).
1.2 Consequências à implantação 
do capitalismo monopolista
Com a implantação do sistema capitalista monopolista, a sociedade 
passa a enfrentar graves problemas sociais, haja vista que o modelo mono-
pólico utiliza-se de estratégias, como a economia do trabalho humano com 
a introdução da tecnologia, provocando o aumento progressivo do índice 
de desemprego, para alcançar seu objetivo primordial de acumular lucros.
Essas estratégias permeiam as áreas econômica, política, social e 
cultural da sociedade, influenciando, decisivamente, a dinâmica da vida 
social e dos indivíduos.
Para alcançar o acréscimo de lucros, o capital dos monopólios desen-
volveu uma política econômica entre as grandes empresas, visando à res-
trição da concorrência para, assim, conseguir elevar e controlar os preços 
das mercadorias. Segundo Netto (2005), essa política gerou consequên-
cias para a sociedade como:
 2 aumento progressivo dos preços das mercadorias;
 2 aumento das taxas de lucros;
 2 concentração de investimentos nos setores de maior concorrência;
 2 introdução da tecnologia;
 2 economia do trabalho humano;
 2 elevação dos custos de vendas;
 2 aumento do contingente de consumidores improdutivos (desem-
pregados).
– 11 –
O Capitalismo Monopolista
Segundo Iamamoto (2002), todos esses fatos provocados pelos donos 
do capital foram condições propícias ao desenvolvimento do modelo 
monopólico de sociedade.
Os maiores prejudicados com o sistema monopolista foram os tra-
balhadores: passaram a vivenciar inúmeros problemas sociais como o 
desemprego e, consequentemente, a falta de moradia e de condições bási-
cas de sobrevivência, expressões da questão social. Essas condições de 
vida impostas às classes subalternizadas, que viviam do trabalho, foram 
instituídas em nome do lucro e geravam toda sorte de mazelas na vida des-
sas classes. Os trabalhadores não contavam com legislações pertinentes às 
causas trabalhistas e os salários pagos não eram suficientes para sanar nem 
mesmo as necessidades básicas dessa população.
Esse modelo econômico implementado pelos capitalistas gerou a 
mobilização e organização da classe operária na luta por resolução de suas 
demandas. O Estado, por sua vez, começa a elaboração de estratégias que 
objetivam o contorno das situações de confronto e conflito das classes 
sociais (burguesia x trabalhadores). Essa intervenção estatal, que desem-
boca em intervenções sistemáticas nos problemas sociais apresentados, 
são, na verdade, um posicionamento unilateral em favor do controle dos 
operários: o Estado tem seu posicionamento político e social voltado para 
o beneficio do capital monopolista.
Diante de tantas dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores, foiram 
necessárias a organização dos movimentos e a criação dos sindicatos com 
o intuito de defender a classe trabalhadora que ampliava a sua luta coletiva.
Segundo Martinelli (2006, p. 59), “[...] o direito de associação con-
quistado pelos trabalhadores ingleses, no início da terceira década do século 
XIX, ampliou muito sua base associativa e fortaleceu seus movimentos rei-
vindicatórios”. A aprovação desse direito foi o impulso dos movimentos que 
desencadearam a adesão dos trabalhadores em toda a Europa: o movimento 
Luddita e o Cartismo, movimentos de expressão, responsáveis por estraté-
gias que garantiram vitórias trabalhistas. Os movimentos foram repudiados 
com forte repressão e violência pelo estado capitalista, com o intuito de 
garantir a exploração e o lucro, mas os trabalhadores, após sofrerem derro-
tas consecutivas, amadureceram seu posicionamento político e prolongaram 
sua luta, em busca de melhorias na qualidade de vida e de trabalho.
Fundamentos Históricos, Teóricos e Metodológicos do Serviço Social I
– 12 –
 Saiba mais
O movimento Luddita tem seu nome em alusão ao seu líder William 
Ludd, que realizou movimentos de forma anárquica, quebrando as 
máquinas das indústrias, atribuindo aos maquinários a revolta pela 
exploração do operário, o que desencadeou a ira dos proprietários dos 
meios de produção. O Cartismo foi um documento de uma comissão 
liderada por William Lovett,que redigiu um documento denominado 
de carta do povo, no qual descrevia oposições contra a burguesia e 
continha, em seu teor, reivindicações trabalhistas.
Martinelli (2006, p. 59) afirma que os trabalhadores
em plena vigência do surto expansionista da industrialização capi-
talista, já mais amadurecidos em suas estratégias, conseguiram 
vitórias trabalhistas, que além de reduzir as violências do cotidiano 
ajudavam a recompor as forças para sua luta.
Essas conquistas dos trabalhadores, mediante a luta de classes, foram 
estrategicamente aceitas pelo Estado e pela burguesia. Com intenção de 
instituir o controle das reivindicações dos operários, foi necessário esva-
ziar o sentido político da luta de classes, pois se as conquistas fossem 
instituídas, a identidade coletiva de união por uma causa dos trabalhadores 
ficaria sem sentido. O Estado burguês, cada vez mais aliado do capital 
monopolista de fusões, utiliza-se do aparato institucional para criar estra-
tégias com ênfase na direção de atenção aos problemas que advinham da 
industrialização e do monopólio capitalista e de seu fluxo expansionista.
O Estado então cria mecanismos de respostas aos trabalhadores, 
visando a criar uma debilidade no movimento de luta da classe subalterna, 
e subordinar os trabalhadores aos ardis do capital monopolista.
Conclusão
Neste capítulo, apontamos os modelos capitalistas, detendo-nos no 
capitalismo monopolista. No início do século XX cresce o monopólio de 
empresas que se agrupam e controlam a produção e o mercado para venda 
– 13 –
O Capitalismo Monopolista
de seus produtos, com fortes leis protecionistas, aumento da produtividade 
pelo desenvolvimento de novas técnicas de produção e novas alternativas 
energéticas. Essa nova forma de produção afeta principalmente as con-
dições de vida dos operários e apresenta sequelas que desembocam em 
expressões da questão social, tais como desemprego, moradia insalubre, 
inexistência de direitos sociais. Apontamos, ainda, o posicionamento do 
Estado perante esse quadro conjuntural, que, para legitimar o capitalismo 
monopolista, implementa estratégias para sanar os problemas sociais. 
Essas resoluções são enquadradas na ótica de correção dos conflitos exis-
tentes entre a burguesia capitalista e os trabalhadores.
Neste capítulo, vamos conhecer o processo de institucio-
nalização do Serviço Social. Esse processo está intrisecamente 
relacionado às estratégias criadas pelo Estado e pelo capital, para 
criar mecanismos de controle da classe trabalhista e refreamento 
dos conflitos entre trabalhadores e donos do capital.
O Serviço Social 
como Profissão 
Institucionalizada
2
Fundamentos Históricos, Teóricos e Metodológicos do Serviço Social I
– 16 –
2.1 A Intrínseca Relação do Serviço 
Social com o Sistema Capitalista
Apontamos a você, aluno de serviço social, no capítulo um, os pro-
blemas sociais que afetaram a classe trabalhadora, no processo de insti-
tuição do modelo econômico de monopólio, por parte da classe burguesa 
capitalista detentora dos modos de produção.
O processo de exploração acelerado, implantado pela expansão do 
capitalismo de monopólio, com o objetivo de aumento nos lucros, afetou, 
de forma recrudescida, a classe operária, que sofrem, como consequên-
cia desse processo, o desemprego, a redução dos salários em virtude do 
aumento do exército de reserva cultivado pelo capitalismo monopolista, 
o que fez surgir movimentos de organização por parte dos trabalhadores. 
Esses movimentos fizeram a burguesia ficar apreensiva e, como medida 
de autopreservação, com o apoio do Estado, implementa estratégias palia-
tivas de proposição para sanar os problemas sociais das classes operárias.
Martinelli (1993, p. 61) assevera que
tal expansão deixava a burguesia muito apreensiva, pois era um 
retrato vivo daquilo que, até mesmo como estratégia de autopre-
servação do capitalismo, pretendia ocultar: a face da exploração, 
da opressão, da dominação, da acumulação da pobreza e da gene-
ralização da miséria.
Para a permanência do capitalismo monopolista era importante a dis-
simulação dessa realidade antagônica e conflitante entre as classes sociais. 
Foi, portanto, imprescindível a criação de estratégias que contivessem o 
vigor das manifestações operárias e a proliferação da pobreza, bem como 
das consequências que normalmente a ela estão associadas.
A estratégia utilizada pela burguesia foi a aproximação desta com 
os agentes responsáveis por ações filantrópicas de intervenção junto à 
pobreza e às mazelas sociais provocadas pelo capitalismo. Dessa forma, 
Martinelli (1993, p. 63) afirma: “a burguesia queria apropriar-se da prá-
tica social para submetê-la aos seus desígnios”, o que nos faz apontar o 
surgimento das primeiras estratégias de prática social, como uma forma 
de garantir o agradecimento dos trabalhadores, podendo controlar os con-
frontos com o capital.
– 17 –
O Serviço Social como Profissão Institucionalizada
O Estado, a burguesia e a igreja, que atuava em práticas sociais 
humanistas, uniram-se para formar um bloco de fusão no resgate da con-
vivência pacífica entre as classes sociais. Temos, nesses fatos, a origem 
do serviço social, uma profissão que nasce conservadora, engendrada pelo 
projeto hegemônico, com característica de ações assistencialistas e com 
caráter acentuado de prática de prestação de serviços.
2.2 O Serviço Social como Profissão 
Institucionalizada e o Capitalismo Monopolista
Após entendermos a relação intrínseca entre o capital e o serviço 
social conservador, vamos saber mais um pouco acerca da institucionali-
zação da profissão.
Essa discussão será norteada, em especial, pelo livro Capitalismo 
Monopolista e Serviço Social, do autor José Paulo Netto (2005).
O referido autor suscita uma nova discussão no âmbito do serviço 
social a respeito da institucionalização da profissão, inserida na divisão 
social do mercado de trabalho. Sua obra traz reflexões sobre a visão de 
outros autores sobre o assunto.
Para Netto (2005), o que favoreceu a institucionalização do serviço 
social como profissão foi a necessidade e, consequentemente, a criação de 
um espaço ocupacional no mercado de trabalho que demanda o assistente 
social como um profissional técnico.
Conforme Netto (2005, p. 70-71), existe uma relação de continuidade 
da institucionalização do serviço social com a filantropia, com base na 
caridade, instituída pela igreja católica.
Esta relação é inegável e, em realidade, muito complexa; de um 
lado, compreende um universo ideo-político e teórico-cultural, que 
se apresenta no pensamento conservador; de outro, envolve moda-
lidades de intervenção características do caritativismo – ambos os 
veios cobrindo igualmente a assistência “organizada” e o serviço 
social. Sobretudo, a relação de continuidade adquire uma visibi-
lidade muito grande porque há uma instituição que desempenha 
papel crucial nos dois âmbitos – a igreja católica.
Fundamentos Históricos, Teóricos e Metodológicos do Serviço Social I
– 18 –
Essa relação de continuidade repercute na institucionalização da pro-
fissão; entretanto, ela não é exclusiva no processo de profissionalização 
do serviço social. Existe, também, uma relação de ruptura que se constitui 
como decisiva nesse processo.
Netto (2005, p. 72) atribui o processo de ruptura à necessidade que 
surge dos agentes leigos desenvolverem papéis executores em projetos 
sociais, sua função independe de sua vontade profissional. A função exer-
cida pelos profissionais é determinada pelos empregadores. Assim,
[...] a localização dos agentes no topo particular da estrutura 
sócio-ocupacional, quase sempre escamoteada pela auto-repre-
sentação dos assistentes sociais, marca a profissionalização: 
precisamente quando passam a desempenhar papéis que lhes 
são alocados por organismos e instâncias alheias às matrizes 
originais das plataformas do serviço social é que os agentes se 
profissionalizam.
A plataforma do serviço social está relacionada com a instituição igrejacatólica. Essas instituições desenvolvem atividades que são exteriores à 
lógica do mercado de trabalho, a partir de ações filantrópicas e voluntárias.
Somente quando os profissionais do serviço social começam a exer-
cer funções que lhes são exigidas pelo mercado é que ocorre sua profis-
sionalização. Isso não significa que não houve a continuidade de práticas 
assistencialistas. No entanto, sua ação profissional passa a ter novo sen-
tido social, pois,
[...] o agente passa a inscrever-se numa relação de assalariamento 
e a significação social do seu fazer passa a ter um sentido novo na 
malha da reprodução das relações sociais. Em síntese: é com este 
giro que o serviço social se constitui como profissão, inserindo-se 
no mercado de trabalho, com todas as consequências daí decor-
rentes (principalmente com o seu agente tornando-se vendedor da 
sua força de trabalho). [...] Na emergência profissional do serviço 
social, não é este que se constitui para criar um dado espaço na 
rede sócio-ocupacional, mas é a existência deste espaço que leva à 
constituição profissional (NETTO, 2005, p. 72-73).
Para Netto (2005), não é a relação de continuidade com práticas da 
igreja católica que explica a institucionalização profissional do serviço 
social. O que define a constituição da profissão é a ruptura com a diretriz 
– 19 –
O Serviço Social como Profissão Institucionalizada
religiosa, adotando práticas leigas, a partir de uma necessidade e, conse-
quentemente, a criação de um espaço ocupacional para o assistente social, 
na divisão social do mercado de trabalho, pois é este que propicia a neces-
sidade desse profissional.
O espaço na divisão social e técnica no mercado de trabalho para o 
serviço social, como uma profissão institucionalizada, surge no momento 
em que o capitalismo monopolista se consolida.
De acordo com Netto (2005), o serviço social, como profissão, não 
está relacionado exclusivamente com a evolução da caridade fundamen-
tada na filantropia realizada pelos profissionais leigos da igreja católica. 
Para o autor, o serviço social público, e, socialmente com caráter profis-
sional, está vinculado literalmente à dinâmica da ordem monopólica, pois 
é ela que propicia o espaço de necessidade social desta profissão.
No capitalismo monopolista, o Estado tem a necessidade de inter-
vir na questão social. Essa intervenção é realizada pelas políticas sociais 
públicas, o que passa a requerer profissionais técnico-operativos para for-
mular e implementar essas políticas como resposta às diversas expressões 
da questão social. Assim, está posto o mercado de trabalho do assistente 
social como agente executor das políticas sociais.
O Estado Novo então instituído, defronta-se com duas deman-
das: absorver e controlar os setores urbanos emergentes e buscar, 
nesses mesmos setores, legitimação política. Para isso adota uma 
política de massa [...]. Ao mesmo tempo que desenvolve o controle 
das demandas populares, institui ações normativas e assistenciais 
como mecanismos de esvasiamento e de controle do potencial de 
mobilização dos trabalhadores urbanos, servindo, igualmente, para 
rebaixamento dos níveis salariais (SILVA, 1995, p. 24).
O assistente social torna-se um dos agentes que contribuem para 
subordinar a classe trabalhadora às diretrizes das classes dominantes, em 
contraposição aos movimentos socialistas realizados pelos trabalhadores, 
em prol de direitos e contra todas as formas de exploração do trabalho.
O assistente social vai atuar na preservação e controle da força de 
trabalho, conforme interesses do capital pois,
é somente na ordem societária comandada pelo monopólio que se 
gestam as condições histórico-sociais para que na divisão social 
Fundamentos Históricos, Teóricos e Metodológicos do Serviço Social I
– 20 –
(e técnica) do trabalho, constitua-se um espaço em que se pos-
sam mover práticas profissionais como as do assistente social 
(NETTO, 2005, p. 73).
A função do assistente social, no capitalismo monopolista, é defender 
os interesses da burguesia e, para tanto, ele se ergue como um profissio-
nal ligado à ideologia conservadora da igreja católica junto ao Estado, 
atuando via políticas públicas sociais, para dar respostas à questão social.
A ação profissional vai independer da vontade do assistente social, 
uma vez que ele se constituirá como vendedor de sua força de trabalho para 
os donos do capital e são estes quem definirão sua prática profissional, pois
suas bases de legitimação são deslocadas para o Estado e para 
os setores empresariais da sociedade, ao mesmo tempo em que o 
assistente social se transforma numa típica categoria profissional 
assalariada, que passa a absorver, além de representantes das elites 
que constituem a predominância da composição dos profissionais, 
setores médios e da pequena burguesia, que passam a se interessar 
por essa profissão remunerada (SILVA, 1995, p. 25).
O alvo da intervenção profissional do assistente social são os trabalha-
dores e aqueles que estão à margem do mercado de trabalho. O caminho que 
o usuário do serviço social vai percorrer para ser atendido pelo assistente 
social perpassa pelos serviços prestados pelas instituições assistenciais.
Ao inserir-se na divisão do trabalho, o serviço social passa a ser uma 
profissão institucionalizada com caráter interventivo nas relações sociais 
entre classe dominante e classe trabalhadora.
Nessa perspectiva, Iamamoto e Carvalho (2005, p. 111) afirmam que
a profissão se institucionaliza dentro da divisão do trabalho como 
partícipe de políticas específicas levadas a efeitos por organismos 
públicos e privados, inscritos no esforço de legitimação do poder 
de grupos e frações das classes dominantes que controlam ou têm 
acesso ao aparato estatal.
Portanto, o serviço social, em sua origem, bem como em sua insti-
tucionalização, vai ter uma intervenção de caráter conservador, funda-
mentada em práticas assistencialistas, pois prima pela consolidação da 
ordem societária estabelecida pelos donos do capital e pela difusão da 
ideologia dominante.
– 21 –
O Serviço Social como Profissão Institucionalizada
No Brasil, a institucionalização do serviço social ocorre como uma 
forma de doutrinação e controle do processo de organização política do 
operariado. Os operários enfrentavam condições de vida precárias, o que 
gerava um clima de intranquilidade no conflito capital x trabalho, em vir-
tude de reivindicações da classe trabalhadora.
O Estado, a priori, respondia minimamente as reivindicações dos 
trabalhadores; porém, com a preocupação em coibir a violência advinda 
dos conflitos sociais em virtude do agravamento na situação trabalhista e 
sócio-econômica dos operários, em 1930, o Governo Getúlio Vargas cria 
o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio.
A criação do ministério abriu procedentes para a criação do salário 
mínimo e, após, a criação dos Institutos de Aposentadoria e Pensão. Em 
1943, consolida-se o Conjunto de Leis do Trabalho – CLT, conquistas dire-
cionadas aos trabalhadores urbanos. Com a criação dessas leis, o governo 
brasileiro se define como regulador das leis de proteção ao trabalhador e 
utiliza desses mecanismos para instituir um sistema de dominação e con-
trole do trabalhador brasileiro. É nessa conjuntura que se consolidava o 
serviço social, que já tem escolas formando profissionais no Brasil desde 
1936; em 1942, é criada a Legião Brasileira de Assistência – LBA. Silva 
(1995, p. 10) assevera que
inicialmente voltada para o atendimento dos pracinhas da Segunda 
Guerra Mundial, estruturando-se, mais tarde, como o primeiro 
grande órgão de assistência pública do país, direcionado para a 
maternidade e a infância.
O serviço social se institucionaliza a partir de 1940, como profissão 
emergente, que expressa, em sua prática, a prestação de serviços e orien-
tação individual de cunho neotomista. Tem sua institucionalização vin-
culada ao desenvolvimento das grandes instituições estatais de assistên-
cia. Os assistentes sociaisatuavam utilizando-se dos instrumentais: visita 
domiciliar e técnicas de entrevistas, objetivando reforçar os interesses ins-
titucionais de reprodução e manutenção do sistema capitalista de acúmulo 
de lucros, com a expropriação da classe operária.
Após a institucionalização, a formação do assistente social, que se 
detinha em uma doutrina de cunho neotomista, passa então a ser pautada 
Fundamentos Históricos, Teóricos e Metodológicos do Serviço Social I
– 22 –
pela eficiência, neutralidade e modernização: esses elementos vêm de 
encontro ao projeto de expansão do país. Os assistentes sociais trabalham 
na perspectiva de manipulação política da classe trabalhadora e na ide-
ologia de integração dos trabalhadores em busca pela modernização de 
industrialização do país. 
Segundo Silva (1995), o milagre econômico, advindo da moderniza-
ção do país, só é possível mediante a repressão das tensões sociais exis-
tentes. Por isso são implementados políticas e programas em que se inse-
rem os profissionais assistentes sociais, desenvolvendo ações de cunho 
tradicional convergentes com o sistema capitalista e o posicionamento 
desenvolvimentista. A categoria dos assistentes sociais fica responsável 
pelo gerenciamento e pelo trabalho nesses programas, sob a influência da 
política de governo. Uma atuação do serviço social excluída dos proces-
sos de decisão e atribuindo à prática profissional fortes características de 
assistencialismo, paternalismo, subordinação e clientelismo, em relação à 
distribuição de benefícios vinculados às decisões institucionais.
Sob essa perspectiva, o serviço social atuava colaborando com o 
Estado na questão de disciplinar os usuários da política social, para a 
busca de um consenso, quanto ao regime político instituído.
Conclusão
Neste capítulo, apontamos o surgimento do serviço social de forma 
intrínseca aos interesses da classe burguesa. Como necessidade de prá-
tica profissional que interviesse nos problemas sociais, para amenizar as 
mazelas sociais e controlar as reivindicações dos trabalhadores, bem como 
os confrontos entre capital e trabalho. Esse cenário, como vimos neste 
capítulo, favoreceu a institucionalização do serviço social como profissão. 
Apreendemos, ainda, que foi a necessidade dessa prática social que con-
sequentemente abriu caminho para a criação de um espaço ocupacional 
no mercado de trabalho que demandou um profissional técnico, ou seja, o 
assistente social.
A questão social tem seu surgimento nos conflitos existen-
tes na sociedade capitalista, entre os trabalhadores e donos dos 
meios de produção (capitalistas burgueses). A exploração da 
força de trabalho, os salários baixos e o fomento do exército de 
reserva são fatores que contribuem para a ampliação das mazelas 
sociais que atingem os trabalhadores e se traduzem nas expres-
sões da questão social.
O Serviço Social 
e as Questões do 
Sistema Capitalista 
Monopolista
3
Fundamentos Históricos, Teóricos e Metodológicos do Serviço Social I
– 24 –
3.1 A Questão Social no Capitalismo Monopolista
A questão social surgiu na Europa no século XIX, com o surgimento da 
sociedade capitalista e pelas grandes transformações provocadas pelo pro-
cesso de industrialização, iniciado na Inglaterra com a Revolução Industrial.
Para retratar a questão social no modelo monopólico, faz-se neces-
sário contextualizar, embora de forma breve, o processo histórico do sur-
gimento do Sistema Capitalista e a instauração da Revolução Industrial.
A questão social está relacionada, diretamente, com os problemas 
sociais, políticos, econômicos e culturais que afetam a vida dos indivíduos 
em sociedade. Então,
por questão social, no sentido universal do termo, queremos sig-
nificar o conjunto de problemas políticos, sociais e econômincos 
que a classe operária impôs no curso da constituição da sociedade 
capitalista. Assim, a questão social está fundamentalmente vincu-
lada ao conflito entre o capital e o trabalho (CERQUEIRA citado 
por NETTO, 2005, p. 17).
Como vimos, anteriormente, após a constituição do sistema capita-
lista, a sociedade se compos de classes: classe burguesa, média e operá-
ria, além do segmento social marginalizado, integrante dessa sociedade. A 
grande polarização ocorre entre trabalhadores (classe operária) e a burgue-
sia (capitalistas). A modernização da produção no campo (demarcação de 
grandes propriedades, mecanização da agricultura, etc.) expulsa os traba-
lhadores rurais para as cidades, pela expropriação da pequena propriedade 
e redução da mão-de-obra rural.
Com o êxodo rural dos camponeses para a cidade, a questão social 
se agrava, pois as cidades não tinham infra-estrutura adequada, nem mer-
cado de trabalho para acolher tantas pessoas. Alastram-se pela sociedade a 
miséria, a pobreza, a fome, o desemprego, as doenças, a falta de moradia, 
etc. denominadas de expressões da questão social. Como afirma Iama-
moto (2002, p. 27) a
questão social apreendida como o conjunto das expressões das 
desigualdades da sociedade capitalista madura que tem uma raiz 
comum: a produção social cada vez mais coletiva o trabalho torna-
-se amplamente social, como a apropriação dos seus frutos man-
tém-se privada, monopolizados por uma parte da sociedade.
– 25 –
O Serviço Social e as Questões do Sistema Capitalista Monopolista
No século XX, até a década de 1960, as contradições sociais provo-
cam os conflitos e as lutas dos trabalhadores, que se organizam nos sindi-
catos para defender seus direitos, proclamados nas constituições de países 
democráticos, e não efetivados.
O Estado burguês passa a atender suas reivindicações, por meio de 
intensas negociações, segundo Martinelli (1993, p. 93-94), uma vez que
o próprio Estado burguês, capturado diante das evidências, passara a 
considerar mais atentamente as pautas de reivindicações dos traba-
lhadores, rendendo-se à realização de negociações coletivas. A pres-
são dos trabalhadores era encarada com mais seriedade, sendo pon-
derável sua influência sobre a organização do processo de trabalho.
A situação mundial do capitalismo, no final da segunda década do 
século XX, torna-se crítica: após a 1ª Guerra Mundial (1914-1918), a 
queda da produção, culminando na quebra da bolsa de valores de Nova 
Iorque, gera a recessão, desemprego em massa, descontentamento genera-
lizado das classes média e proletária.
Outro fenômeno concorrencial com as sociedades capitalistas hege-
mônicas europeias e a norte americana deve-se à implantação, pela Revo-
lução Social na Rússia (1917), do regime socialista, com forte crescimento 
da economia planejada e coletiva, investimento na saúde e educação para 
toda a população. A ideologia socialista pregava a luta internacional para 
a queda do capitalismo e ascensão do socialismo (e posteriormente do 
comunismo), e inúmeros países do leste europeu, na Ásia, África e Amé-
rica Central, por meio de revolução, implantam o regime socialista.
 Reflita
O Comunismo: prevê a eliminação do estado e a gestão autônoma da 
produção e distribuição dos bens, acredita no coletivo social, elimi-
nando as desigualdades sociais.
Após a 2ª Guerra Mundial (1940-1945), inicia-se a chamada Guerra 
Fria entre as lideranças dos dois blocos hegemônicos: EUA e União Sovi-
ética, disputando adesão dos países, com fortes medidas intervencionistas 
nos países em disputa.
Fundamentos Históricos, Teóricos e Metodológicos do Serviço Social I
– 26 –
 Reflita
Segundo Karl Marx o Socialismo é a primeira etapa para implantação 
do regime comunista: há a expropriação da propriedade privada dos 
meios de produção; o Estado é o grande proprietário e gestor da socie-
dade. Existem as Produções coletivas, a redução das desigualdades 
sociais, a universalização da educação e do atendimento à saúde.
Nesse contexto, os países hegemônicos capitalistas, liderados pelos 
EUA, inspirados na teoria econômica de Keynes (1883-1946), introduzem 
medidas para novamente provocar o crescimento da economia capitalista, 
com intervenção doEstado para planejamento e apoio dos investimentos 
às empresas. Surge a conhecida política do bem-estar social, com ações 
sociais que melhorassem as condições dos trabalhadores, entre as quais, 
instituição de teto salarial, a previdência social estatal para aposentadoria 
e outros benefícios. As organizações, por sua vez, com base nessa nova 
filosofia, irão ampliar suas ações sociais internas e externas em favor das 
equipes de trabalho e projetos sociais que reduzissem as situações de 
pobreza nas localidades onde se encontram.
Novas bases do capitalismo de monopólio são lançadas, conforme 
Martinelli (1993, p. 94)
nessa busca de reerguimento do capitalismo, o Estado foi assu-
mindo um papel destacado na expansão dos investimentos e do 
mercado e a industrialização capitalista passou a se fazer com um 
elevado grau de monopólio. Criavam-se, assim, as bases para uma 
nova fase do capitalismo, o monopolista.
A política de bem-estar social, como resposta aos problemas sociais 
descritos acima, implementadas por meio de políticas sociais públicas, 
prestação de serviços sociais (assistenciais e previdenciários) são anali-
sadas por Iamamoto e Carvalho (2000, p. 92) apontam que
[...] Tais serviços nada mais são, na sua realidade substancial, do 
que uma forma transfigurada de parcela do valor criado pelos tra-
balhadores e apropriado pelos capitalistas e pelo Estado, que é 
devolvido a toda sociedade (e em especial aos trabalhadores, que 
deles mais fazem uso), sobre a forma de serviços sociais. Reafir-
– 27 –
O Serviço Social e as Questões do Sistema Capitalista Monopolista
mando: tais serviços públicos ou privados nada mais são do que a 
devolução à classe trabalhadora de parcela mínima de produto por 
ela criado mas não apropriado, sob nova roupagem: a de serviços 
ou benefícios sociais.
A partir da prestação de serviços sociais, o Estado passa a adminis-
trar as expressões da questão social, para preservar e controlar a força 
de trabalho e apresenta-se como mediador de interesses e conflitos entre 
classe burguesa e classe operária. Netto (2005, p. 31) afirma que “[...] a 
funcionalidade essencial da política social do Estado burguês no capita-
lismo monopolista se expressa nos processos referentes à preservação e ao 
controle da força de trabalho”.
 Saiba Mais
As Políticas Sociais Públicas são ações de enfrentamento das expres-
sões da questão social, orientadas para o bem comum. Desenvolvidas 
pelo poder público municipal, estadual e federal, com a participação 
da sociedade civil. Visa à concretização de direitos garantidos por lei 
por meio da distribuição de bens e serviços sociais como respostas às 
demandas sociais.
3.2 A Questão Social no Brasil 
do Capital de Monopólios
No Brasil a questão social tem origem com as contradições e confli-
tos ocorridos entre capital e trabalho. O aprofundamento do modelo de 
monopólio instituído pelo segmento coorporativista das empresas capi-
talistas, adotado pela politica econômica de industrialização provoca o 
crescimento dos problemas enfrentados pelos operários.
Esse modelo econômico adota políticas de rebaixamento de sálarios, 
desemprego, manutenção do exército de reserva, fazendo com que a popu-
lação que vive do trabalho fique ainda mais empobrecida. Ocorre uma 
deterioração das condições de vida da classe trabalhadora, provocando 
o crescimento das mazelas sociais que afetam as classe subalternas, tais 
Fundamentos Históricos, Teóricos e Metodológicos do Serviço Social I
– 28 –
como moradias impróprias, doenças, analfabetismo, alcoolismo, prostitui-
ção, trabalho infantil, exploração das mulheres, entre outras.
No Brasil, a questão social e suas expressões eram consideradas caso 
de polícia e as primeiras reinvindicações das classes trabalhadoras foram 
fortemente reprimidas. Segundo Silva (2002, p. 7),
apesar da questão social ser considerada sobretudo caso de polí-
cia, constituindo-se responsabilidade dos aparelhos repressivos 
do Estado, registram-se várias manifestações operárias, principal-
mente de 1917 a 1920, reinvindicando melhores salários, regula-
mentação do trabalho de mulheres e menores.
As conquistas da classe trabalhadora foram acontecendo de forma 
lenta e em virtude do objetivo do Estado de controlar os conflitos sociais 
e conseguir consenso entre a população subalternizada. Silva (2002, p. 9) 
nos assevera que
o Estado apresenta-se como catalizador geral da nação, com o 
papel fundamental de incorporar a classe trabalhadora no sistema 
de dominção, e o serviço social surge, nesse contexto, como um de 
seus instrumentos.
A questão social no Brasil, como na Europa, surge e se expande pro-
vocada pela acumulação de lucro do capital que se utiliza da força traba-
lhadora, desencadeando a deteriorização da vida social e econômica da 
população urbana subalterna.
Essa deterioração ocorre de forma acelerada e essa conjuntura desen-
cadeia uma série de situações que compõem o conjunto de problemas 
sociais associados à pobreza, sendo a principal massa de trabalhadores 
que compunha um tecido social faminto que percorria as ruas em busca de 
alimentos ou auxílio.
A estratégia de intervenção para modificar essa situação foi a criação 
de politicas de intervenção, com a prática do profissional de serviço social. 
O instrumento mais utilizado pelo profissional e mais usual era a visita 
domiciliar, até porque esse instrumental permitia um maior contato com 
os indivíduos e a abertura para influenciar os trabalhadores ao consenso 
às ideias capitalistas de acumulação. Essa estratégia também objetivava 
impor um certo receio ao trabalhador, em relação à prática de reinvindica-
– 29 –
O Serviço Social e as Questões do Sistema Capitalista Monopolista
ções e ao trabalho da moral e despolitização da classe operária. Segundo 
Martinelli (1993), a visita domiciliar e o inquérito com muita frequencia 
eram utilizados, então, como instrumento de intimidação do trabalhador 
ou de fiscalização de sua vida pessoal e familiar.
Esse processo de intevenção da profissão foi um grande trampolim 
para o aumento das expressões da questão social no Brasil. O trabalho 
realizado com os trabalhadores era paliativo, de cunho assistencialista. 
As políticas tinham o intuito de controle e não se tinha ainda os direitos 
adquiridos e instituídos para todos os brasileiros. Os problemas se agrava-
ram com velocidade para uma dimensão alarmante e o processo rígido de 
controle do trabalhador era a ordem do trabalho do assistente social.
Martinelli (1993, p. 105) afirma que
a desconfiança contra os trabalhadores era grande, até mesmo seus 
problemas de saúde eram encarados como estratégias para fugir 
das árduas jornadas de trabalho.
O esforço concentrado do trabalho do assistente social era voltado 
para garantir a participação do trabalhador no processo de aumento da 
produção e, consequentemente, a ampliação do lucro do capital. Podemos, 
então, apontar que neste fato se encontra o campo fecundo para o aumento 
das questões sociais: as intevenções eram paliativas e não propunham a 
resolução dos problemas sociais das classes subalternas.
Conclusão
Neste capítulo, aprendemos como a questão social surgiu, a partir da 
expansão do capital de monopólios, tanto nos países Europeus, quanto no 
Brasil. Esse modelo econômico adotado deterioriza as condições de tra-
balho das classes operárias, aumentando a condição de pobreza da popu-
lação subalterna. O modelo monopolista adotado em função da busca por 
aumento do lucro traz consequências nefastas para os empobrecidos, atin-
gidos pelas expressões da questão social, tais como: desemprego, baixos 
salários, alcoolismo, trabalho infantil, exploração das mulheres, doenças, 
entre outras.
Neste capítulo, vamos discutir a atuação do Estado no capi-
talismo monopolista. O Estado se constitui como instrumento de 
preservação e controle da força de trabalho, por meio de políticas 
públicas sociais para assegurar o desempenho dos trabalhadores 
e para garantir o acúmulo de lucrospara os donos do capital.
O Estado também intervém na administração das expres-
sões da questão social, para minimizar as mazelas sociais provo-
cadas e geradas pelo modo de produção capitalista, em sua fase 
monopolista. No modelo monopólico, a inserção do indivíduo no 
mercado de trabalho é de sua responsabilidade, sendo o fracasso 
ou o sucesso com o trabalho atribuído ao indivíduo. Conforme 
os autores trabalhados neste capítulo (IAMAMOTO, 2002; 
NETTO, 2005), o Estado foi capturado pela lógica do modelo 
monopólico e sua missão maior é propiciar condições necessá-
rias para asegurar a acumulação e a valorização do capital.
A Atuação do Estado
4
Fundamentos Históricos, Teóricos e Metodológicos do Serviço Social I
– 32 –
4.1 O Estado e o Capitalismo Monopolista
Com a implantação do modelo monopólico de sociedade, a questão 
social ganha maior dimensão, exigindo, por parte do Estado, respostas 
de enfrentamento aos problemas sociais existentes. O Estado vai intervir 
junto à classe empobrecida, para diminuir as mazelas sociais geradas pelo 
modo de produção capitalista.
Em conformidade com Netto (2005), no modelo monopólico, o 
Estado atua na organização econômica e sua função visa atender aos inte-
resses da classe dominante e contribuir diretamente para assegurar o acú-
mulo de lucros para os donos do capital.
Para alcançar o aumento dos lucros, pelo controle do mercado, o 
monopólio vai intervir na atuação do Estado, procurando redimensioná-la. 
O Estado detém o poder extra-econômico e, desde a ascensão da burgue-
sia, ele já intervinha no processo econômico capitalista. Importa ressaltar 
que, nessa época, o Estado se apresentava como árbitro. Segundo a con-
cepção de Karl Marx, o Estado se apresentava e atuava como guardião e 
garantidor da propriedade privada e intervinha na sociedade sempre que 
os objetivos da burguesia fossem ameaçados.
Para Karl Marx, o Estado significa uma forma de dominação criada 
pelos capitalistas, para manter a maioria submetida aos seus interesses e 
determinações. Nessa perspectiva marxista, o Estado representa os inte-
resses da classe dominante, de modo que se utiliza, inclusive, da força 
para garantir a ordem social existente.
Para atender os interesses do capitalismo monopolista, o Estado 
assume funções diretas e indiretas.
a) Funções diretas:
 2 insere-se como empresário e oferece, a baixo custo, energia 
elétrica;
 2 privatiza as instituições públicas para subsidiar o monopó-
lio para garantir seus lucros.
b) Funções indiretas:
 2 investe em meios de transporte;
– 33 –
A Atuação do Estado
 2 oferece infra-estrutura;
 2 prepara a força de trabalho.
Netto (2005) certifica que o Estado foi capturado pela lógica do 
modelo monopólico, tendo como missão precípua propiciar condições 
necessárias para a acumulação e valorização do capital. Para tanto, ocorre 
uma integração entre os aparatos privados do sistema capitalista monopo-
lista e as instituições do Estado. Essa integração prima por uma atuação 
do Estado, em defesa dos interesses da burguesia em detrimento da defesa 
dos interesses da classe trabalhadora.
Para garantir a legitimação do modelo monopólico, o Estado passa 
a atuar, também, como instrumento de preservação e controle da força 
de trabalho, garantindo direitos civis e sociais para a classe trabalhadora. 
Dessa forma, o Estado assegura o desempenho dos trabalhadores, por 
meio de políticas públicas sociais, para aumentar os lucros do capital. 
Assim, Iamamoto (2002, p. 80) expõe que
esse processo é acompanhado de uma radicalização do poder 
burguês, por intermédio do “Estado autocrático-burguês”, que 
é fortalecido, concentrando a ação reguladora das relações 
sociais e a capacidade de gerir a economia. Torna-se a reta-
guarda necessária à iniciativa privada na dinamização da acu-
mulação capitalista monopolista.
Ao atender às reivindicações da classe operária, a partir de suas mobi-
lizações, o Estado propicia a essa classe o sentimento de que é representada 
por ele. Essas reivindicações são atendidas de forma fragmentada e ime-
diatista e são resultantes da luta de classes entre burguesia e trabalhadores, 
por meio de grandes mobilizações dos operários que, ao serem atendidas, 
o alvo principal será revertê-las em benefícios para o capital monopolista.
Na relação com a sociedade, o Estado vai atuar de diferentes for-
mas, de modo a manter a estabilidade e garantir o bem-estar dos cidadãos. 
Todavia, quando se observa a organização de indivíduos e grupos contrá-
rios à ação do Estado em determinadas situações, estabelece-se o conflito. 
É o que ocorre na relação com os movimentos reivindicatórios da classe 
trabalhadora, especialmente quando se refere aos mais combativos e ques-
tionadores da ordem social imposta pelo sistema capitalista.
Fundamentos Históricos, Teóricos e Metodológicos do Serviço Social I
– 34 –
Na perspectiva de Karl Marx, a sociedade é o lugar de embates e de 
conflitos políticos e econômicos, onde os indivíduos convivem, divididos 
em classes sociais, com projetos societários antagônicos, tendo como fator 
preponderante as relações estabelecidas em torno do trabalho.
Na sociedade capitalista há uma tensão, que faz com que haja uma 
luta constante entre aqueles que dominam os meios de produção, os 
quais, para atender os seus interesses, exploram a classe dominada. Nesta 
perspectiva, no capitalismo monopolista, o Estado passa a intervir como 
mediador entre interesses dominantes e os interesses das classes subalter-
nas. Para mediar os conflitos existentes entre as classes, o Estado atua na 
administração das expressões da questão social, para preservar e controlar 
a força de trabalho e garantir que os interesses do capitalismo monopolista 
sejam garantidos.
As contradições sociais são mediadas pelo Estado, a partir da ide-
ologia do capitalismo, em que prevalecem os interesses de uma classe 
sobrepondo-se à maioria. Diante dessa situação, os trabalhadores são sub-
metidos a uma forma de vida em que são preparados apenas para manter 
um sistema. No modelo monopólico, o sucesso do trabalho é de respon-
sabilidade do trabalhador. Se este não consegue inserir-se no mercado a 
culpa é dele.
Ainda que o Estado implemente políticas públicas voltadas para aten-
der as sequelas da questão social, enfrentadas pelos trabalhadores, como o 
desemprego, no modelo monopólico o fracasso ou o sucesso com o traba-
lho é atribuído ao indivíduo. Netto (2005, p. 35-36) esclarece que
[...] A ordem burguesa supõe necessariamente que, em última ins-
tância, o destino pessoal é função do indivíduo como tal; a conse-
quência inelutável é que tanto o êxito como os fracassos sociais 
são creditados ao sujeito individual tomado como mônada social. 
[...] A criação pela via de ações públicas, de condições sociais para 
o desenvolvimento dos indivíduos não exclui sua responsabilidade 
social e final pelo aproveitamento ou não das possibilidades que 
lhes são tornadas acessíveis [...].
No capitalismo monopolista predomina a ótica do individualismo, 
em contraposição à ótica da coletividade. Os problemas sociais são atri-
buídos ao indivíduo, pois o mesmo é livre para buscar e aproveitar as 
– 35 –
A Atuação do Estado
possibilidades de desenvolvimento sociais que lhes são oferecidas por 
meio do Estado. Netto (2005, p. 36), afirma que “[...] o Estado burguês 
no capitalismo monopolista converte às refrações da questão social em 
problemas sociais” com caráter individualista.
Conclusão
Neste capítulo, você aprendeu que, com o modelo monopólico de 
sociedade, a questão social se agravou, o que exigiu, por parte do Estado, 
respostas de enfrentamento aos problemas sociais existentes, para dimi-
nuir as mazelas sociais geradas pelo modo de produção capitalista. A atu-
ação do Estado contribui diretamente para assegurar o acúmulo de lucros 
para os donos do capital. O monopólio intervém na atuação do Estado, o 
qual passa a assumir funções diretas e indiretas. Nas funções diretas, o 
Estado insere-se como empresário,oferecendo, a baixo custo, alguns ser-
viços. Privatiza as instituições públicas para subsidiar o monopólio para 
garantir seus lucros. Nas funções indiretas, o Estado investe em serviços 
diversificados. Dessa forma, o Estado é capturado pela lógica do modelo 
monopólico e sua missão precípua é propiciar condições necessárias para 
a acumulação e valorização do capital.
O Estado atua, também, como instrumento de preservação e controle 
da força de trabalho, por meio de políticas públicas sociais para assegurar 
o desempenho dos trabalhadores. O Estado atende às reivindicações da 
classe operária, a partir de suas mobilizações e, assim, propicia a essa 
classe o sentimento de que é representada por ele. No entanto, essas rei-
vindicações são atendidas de forma fragmentada e imediatista. O Estado 
também intervém na administração das expressões da questão social. No 
modelo monopólico, o sucesso do trabalho é de responsabilidade do tra-
balhador. O fracasso ou o sucesso com o trabalho é atribuído ao indivíduo.
Neste capítulo, vamos conhecer o processo de surgimento 
do serviço social como prática social e sua contribuição no con-
trole da força de trabalho, bem como no atendimento aos proble-
mas sociais provocados pelo sistema capitalista.
O Serviço Social, como prática social, surge com o advento 
do modo de produção capitalista. Este serviço é desenvolvido 
por agentes leigos que têm como missão maior defender os inte-
resses dos donos do capital. O Serviço Social contribui com o 
capitalismo difundindo, junto à classe trabalhadora, a ideia de 
que o trabalhador, para garantir sua sobrevivência, deve vender 
sua força de trabalho e aceitar todas as condições de exploração 
do trabalho impostos pelos donos do capital.
O Serviço Social, como prática social, é uma estratégia do 
modo de produção capitalista, para se legitimár como sistema 
hegemônico e alcançar seus interesses de acúmulo de riquezas.
O Serviço Social 
como Prática Social
5
Fundamentos Históricos, Teóricos e Metodológicos do Serviço Social I
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5.1 O Capitalismo e a Exploração 
da Força de Trabalho
O Serviço Social, antes de ocupar espaço no campo universitário, já exis-
tia como prática social que respondia às demandas do sistema capitalista, no 
atendimento da questão social, aberta pela exploração da força de trabalho.
Martinelli (2006, p. 53) afirma que o sistema capitalista é um “[...] 
Modo de produção profudamente antagônico e pleno de contradições, 
desde o início de sua fase industrial instituiu-se como um divisor de águas 
na história da sociedade e das relações ente os homens”.
O capitalismo sempre utilizou estratégias, para alcançar o seu maior 
interesse: acumular lucros. A expoloração da força de trabalho era uma 
das estratégias, pois, conforme Martinelli (2006, p. 55)
visualizando a classes trabalhadora como um mero atributo do 
capital, como um modo de existência deste, os capitalistas não 
hesitavam em criar formas coercitiva de recrutamento do opera-
riado e de sua abusiva exploração.
A exploração da força de trabalho ganha maior dimensão, a partir da 
Revolução Industrial, que se expande pelo mundo no século XIX e que 
demandou intensiva mão-de-obra. Martinelli (2006, p. 57) afirma que
durante praticamente toda a primeira metade do século XIX, a bur-
guesia se utilizou seu poder de classe para manipular livremente 
salários e condições de trabalho. Apoiando-se em um antigo dis-
positivo legal, cujas origens remontavam a longínquas épocas da 
história da humanidade – Estatuto dos Trabalhadores, de 1349, que 
proibia reclamações de salário e de organização do processo de 
trabalho –, excluía o trabalhador das decisões sobre sua própria 
vida trabalhista.
Os trabalhadores, que se recusavam a vender sua força de trabalho 
para os capitalistas, poderiam ser recolhidos em casas de correção, que 
ofereciam como penalidades a restrição alimentar, os trabalhos forçados, 
entre outros. O estatuto do trabalhadores de 1349 assegurava às autorida-
des locais o direito de determinar o valor do salário a ser pago ao traba-
lhador, bem como formas de coerção para recrutamento de mão-de-obra. 
Martinelli (2006, p. 57) afirma que
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O Serviço Social como Prática Social
as alternativas do trabalhador empobrecido, em face das condições 
de trabalho que os donos do capital estabeleciam, eram sombrias: 
ou se rendia à lei geral da acumulação capitalista, vendendo sua 
forção de trabalho a preços de concorrências cada vez mais vis, 
ou capitulava diante da draconiana legislação urbana, tornando-
-se dependente do Estado, e no mesmo instante, decrarado não-
-cidadão, ou seja, indivíduo destituído de cidadania econômica, da 
liberdade civil.
A força de trabalho, no modo de produção capitalista, foi mercantili-
zada. O trabalhador foi obrigado a vender sua mão-de-obra para os donos 
do capital e se submeter a todo o processo de exploração do trabalho. Esse 
processo implicou na organização da classe trabalhadora contra as formas 
de exploração impostas pelo capitalismo. Os trabalhadores se organiza-
vam por meio de movimentos sindicais reivindicatórios, que tinham como 
bandeira de luta as questões trabalhistas, como regulamentar a jornada de 
trabalho que na época chegava a 14 horas diariamente. Assim Martinelli 
(2006, p. 59) assevera que
as questões sindicais e trabalhistas continuavam, porém, a animar 
o movimento operário que prosseguia em sua marcha, predomi-
nantemente sob o signo da prática sindical. Assim nenhuma das 
medidas propostas pela legislação trabalhista, ao longo desse perí-
odo, significou uma concessão do poder público ou dos donos do 
capital. Todas decorreram de árduas e complexas lutas e negocia-
ções dos trabalhadores.
Contamitantemente com a exploração da força de trabalho, o sistema 
capitalista provocou inúmeros problemas sociais, decorrentes do cresci-
mento exorbitante da população urbana, visto que as cidades não tinha 
infra-estrutura adequadas para comportar tantas pessoas. Assim, se alastra 
pela sociedade uma crescente pobreza acompanhada da fome, de doenças, 
de moradia precárias entre outros problemas. Todos os problemas sociais 
são denominados de esxpressões da questão social.
Com o afloramento da questão social e, consequentemente, a mobili-
zação da classe trabalhadora por melhores condições de trabalho e sobre-
vivência, a burguesia passou a utilizar-se de estratégias para conter as rei-
vindicação dos trabalhadores, pois
obsecada por um pensamento fixo – o de expandir e consolidar 
o modo burguês de produção, tornando-o irreversível -, a bur-
Fundamentos Históricos, Teóricos e Metodológicos do Serviço Social I
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guesia se mantinha sempre em busca de estratégias e táticas que 
pudessem viabilizar a consecussão de seus objetivos. A estrutura 
petrificada de sua consciência erguia-se como uma verdadeira 
muralha, através da qual tentava-se isolar-se e proteger-se dos 
inúmeros problemas sociais produzidos pela expansão do capi-
talismo, injusto regime que se nutre do que suga do trabalhador, 
da crescente exploração de sua força de trabalho (MARTINELLI, 
2006, p. 60).
Várias são as estratégias utilizadas pela burguesia para conter a luta 
da classe trabalhadora: primeiramente, ela leva essa luta para o âmbito da 
legislação; depois, para o campo ideológico, propiciando condições para 
o surgimento do serviço social como prática social.
5.2 Estratégias do Capitalismo para 
alcançar seus Interesses
Para conter as reivindicações dos trabalhadores, “as classes dominan-
tes procuram direcionar as lutas populares, enquadrando-as no âmbito da 
legislação burguesa, cuja tramitação e controle cabem ao Estado” (CAS-
TRO 2003, p. 45).
Ao perceber a necessidade de conter o movimento de luta da classe 
trabalhadora, a burguesia criou leis para atender às reivindicações dos 
trabalhadores, como regulamentar a jornada de trabalho. O objetivo era 
resolver ou apasiguar os problemas e continuar alcançando seus objetivos: 
aumentar suas riquezas. No entanto, conformeaponta Castro (2003, p. 46),
aquela legislação se foi definindo sob a aparência de conseções 
burguesas – e, mesmo constituindo conquista popular, permite à 
burguesia canalizar o protesto do povo e perceber que, se adquiri-
rem maior dimensão, aqueles germes de organização e combativi-
dade tornar-se-ão de difícil controle.
Essa legislação atendeu em especial aos interesses do capital e não 
conseguiu conter a luta dos trabalhadores por melhores condições de 
sobrevivência. A classe operária teve que se organizar, em função da 
sua condição de assalariada e vendedora de sua única mercadoria (sua 
força de trabalho), passando sua vida a ser dirigida conforme sua con-
dição de proletário.
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O Serviço Social como Prática Social
O processo de adaptação a essa nova vida exigia profissionais para exer-
cer a função de adaptá-los à sua nova condição de assalariado. Assim, emerge, 
no cenário da sociedade capitalista, o serviço social para assumir uma prática 
social para controlar a força de trabalho e minimizar os problemas sociais.
Ao perceber que a luta de classe não poderia ganhar maior dimensão, 
pois prejudicaria a legitimação do capital, o grupo hegemônico levou a 
luta para o campo ideológico, visando a instaurar, na sociedade, mecanis-
mos de intervenção para dar continuidade ao desenvolvimento do capital. 
É a partir dessa lógica de intervenção do capital que derivam critérios para 
o desenvolvimento do serviço social. Para Martinelli (2006, p. 67),
[...] O serviço social era, pois, na verdade, um importante ins-
trumento da burguesia, que tratou de imediato de consolidar sua 
identidade atribuída, afastando-o da trama das relações sociais, do 
espaço social mais amplo da luta de classes e das contradições que 
as engendram e são por ela engendrada.
Portanto, o Serviço Social, como prática social, teve a missão de difundir, 
no seio das famílias proletárias, a ideia de que o trabalhador era o vendedor 
de sua força de trabalho e, ainda, de conscientizar os trabalhadores a aceitar as 
condições de exploração impostas pelos donos do capital. A competência do 
serviço social seria a de difundir a ideologia da classe dominante para, assim, 
contribuir para a consolidação e legitimação do sistema capitalista.
5.3 A Prática Social como Mecanismo 
de Controle da Força de Trabalho
As relações entre classe burguesa e classe trabalhadora são marcadas por 
interesses antagônicos. De um lado, a burguesia, detentora dos meios de pro-
dução e das propiedades privadas, para se legitimar como classe dominante e 
aumentar cada vez mais suas riquezas, utiliza, como estratégia, a exploração 
da força de trabalho. Do outro lado, a classe trabalhadora, detentora da força 
de trabalho, para sobreviver precisa vendê-la para os donos do capital e, ao 
mesmo tempo, ir de encontro com todas as formas de exploração do trabalho. 
Os trabalhadores se unem para reivindicar condições dignas de trabalho, salá-
rios justos e denunciar os problemas sociais de diversas naturezas, gerados 
pelo sistema capitalista. Nesta perspectiva, Martinelli (2006, p. 84) afirma que
Fundamentos Históricos, Teóricos e Metodológicos do Serviço Social I
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as relações marcadamente antagônicas entre as classes determina-
vam um clima de tensão permanente na sociedade, onde interesses 
contrapostos chocavam-se, produzindo consideráveis impactos 
sociais. Tais impactos [...] com o adensamento da “questão social” 
passavam a lhe trazer viva preocupação, adquirindo mesmo o sig-
nificado de um perigo iminente [...]. Temerosa e assustada, a classe 
dominante procurava pensar estatégias que contivessem as amea-
ças que colocavam em risco as suas propriedades, e, no limite, o 
própirio regime que as legitimava.
Para conter a mobilização da classe trabalhadora e o alastramento 
dos problemas sociais, uma das estratégias da burguesia foi a criação 
da Sociedade de Organização da Caridade, na Inglaterra, em 1869. Essa 
Sociedade tinha como finalidade desenvolver ações assistenciais junto 
à classe trabalhadora. Segundo Martinelli (2006), as ações desenvolvi-
das pela Sociedade de Organização da Caridade não foram legitimadas 
pelos trabalhadores, uma vez que não respondiam a suas reivindica-
ções trabalhistas, bem como considerava a pobreza como problema de 
caráter. Enfim, a Sociedade utilizava-se da assistência para controlar a 
pobreza e corrigir as disfunções sociais. Embora não contando com o 
apoio da classe trabalhadora, a Sociedade de Organização da Caridade 
se expandiu no controle da pobreza e da miséria. Assim, como ensina 
Martinelli (2006, p. 87),
a Sociedade de Organização da Caridade passou a incluir as ques-
tões de saúde em sua área de atuação. A ação social desejada pela 
burguesia nessas décadas finais do século XIX, quando buscou a 
aproximação com o Estado e tratou de fortalecer as alianças com 
os agentes sociais, transcendia, porém, as questões particulares, ou 
das situações específicas. O que preocupava era o processo social, 
sobre o qual desejava exercer um controle mais rigoroso.
A burguesia faz uma aliança com o Estado, para garantir sua hege-
monia e, assim, assume a “direção da prática social, fazendo da Sociedade 
de Organização da Caridade e de seus agentes os modernos guardiões da 
questão social” (MARTINELLI, 2006, p. 87).
Ainda, de acordo com Martinelli (2006), os donos do capital, com o 
auxílio dos agentes, dominavam a prática social que atendia, exclusiva-
mente, aos interesses da burguesia e contribuía para reproduzir as relações 
sociais de produção capitalista.
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O Serviço Social como Prática Social
Os agentes sociais tinham a missão de difundir a ideologia dominante 
junto à classe trabalhadora, com o intuito de mascarar a luta e as contradi-
ções de classes e propagar uma sociedade homogênea e harmônica. Assim,
esvaziada de suas dimensões fundamentais, de construção histó-
rica, de tempo e movimento, distanciada da luta de classes e do 
processo histórico real, a identidade atribuída, qual um amál-
gama, fixo e petrificado, composto pelos desejos e aspirações da 
classe dominante, passou a determinar o percurso da prática social 
(MARTINELLI, 2006, p. 88).
A prática social dos agentes foi direcionada para o controle dos pro-
blemas sociais e para conter as reivindicações da classe trabalhadora. Com 
essa finalidade, cada vez mais eram fortalecidos os vínculos da prática 
social com os interesses da classe dominante.
Conclusão
Você aprendeu neste capítulo que o serviço social, antes de ocupar 
espaço no campo universitário, já existia como prática social para aten-
der aos interesses do sistema capitalista e contribuir com a expoloração 
da força de trabalho. Juntamente com a exploração da força de trabalho, 
o sistema capitalista provocou inúmeros problemas sociais, resultado do 
crescimento descontrolado das cidades. Alastraram-se pela sociedade pro-
blemas como pobreza, fome, doenças, moradias precárias, entre outros. 
Todos esses problemas sociais provocaram a mobilização da classe traba-
lhadora por melhores condições de trabalho e sobrevivência. A burguesia, 
para se legitimar como classe hegemônica passou a utilizar estratégias 
para conter as reivindicação dos trabalhadores. Uma de suas estratégias é 
serviço social como prática social.
Antes do surgimento do serviço social, as classes dominantes procu-
raram direcionar as lutas populares para âmbito da legislação. No entanto, 
essa legislação não conseguiu conter a luta dos trabalhadores. Para con-
ter a mobilização da classe trabalhadora e o alastramento dos problemas 
sociais, uma das estratégias da burguesia foi a criação da Sociedade de 
Organização da Caridade, na Inglaterra, em 1869, para desenvolver ações 
assistenciais junto à classe trabalhadora.
Neste capítulo, vamos conhecer o papel desempenhado pela 
igreja católica para o surgimento do serviço social. A igreja vai indi-
car a necessidade de intervenção nas expressões da questão social, 
geradas pelo modo de produção capitalista. Essa intervençãose 
realiza pelo serviço social, por meio de uma Ação Social, tendo 
como base a caridade e a filantropia, defendidas pela doutrina social 
da igreja católica. O Serviço Social passa a ser um instrumento da 
igreja, paraatender aos interesses do sistema capitalista, no sentido 
de controlar os movimentos reivindicatórios da classe trabalhadora.
A igreja também busca recuperar sua hegemonia como enti-
dade que orientava a vida em sociedade, visto que esta hege-
monia estava sendo ameaçada com os movimentos socialistas. 
Vamos conhecer as influências das Encíclicas Papais Rerum 
Novarum e Quadragésimo Anno, nas relações sociais, no modo 
de produção capitalista.
O Papel da Igreja 
Católica
6
Fundamentos Históricos, Teóricos e Metodológicos do Serviço Social I
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6.1 A Igreja Católica e o Surgimento 
do Serviço Social
A Igreja Católica desempenhou um impotante papel no surgimento 
do Serviço Social. De acordo com Castro (2003), a Igreja Católica exer-
cia, junto à sociedade, a função de elaborar as diretrizes gerais de com-
preensão dos problemas sociais que afetavam os operários, estabelecendo 
normas para o exercício da fé cristã-católica, de forma doutrinária.
A prática social do serviço social era realizada a partir da doutrina 
da igreja católica, que contribui com o Estado e com seus agentes cola-
boradores na organização da força de trabalho. Nesse processo, conforme 
demonstra Castro (2003, p. 97),
cabia à igreja – a partir de seu ponto de vista particular – ser a 
força moral orientadora deste processo, ser o justo meio que dire-
cionasse o destino da humanidade com o seu discurso caritativo e 
bondoso, com a entrega incondicional de seus militantes, evitando 
– tanto quanto possível – que o cientificismo e pragmatismo bur-
gueses, ou o ameaçador “materialismo” socialista, se colocassem 
como alternativas ao evangelho católico.
Os agentes leigos da Igreja Católica desenvolveram um Serviço 
Social, por meio de uma ação social de cunho assistencialista para conter 
a luta dos movimentos de reivindicação dos trabalahdores por melhores 
condições de trabalho. O Serviço Social tinha uma atuação fundamentada 
na ação católica de orientar os trabalhadores a se organizarem, em função 
da sua condição de assalariado, com vistas à sua adaptação como vende-
dor de sua força de trabalho para os donos do capital. Iamamoto (2002, p. 
20) afirma que
o serviço social aparece aos militantes desses movimentos sociais 
como um alternativa profissionalizante às suas atividades aposto-
lado social, num momento de profundas transformações sociais e 
políticas. A Ação Social e Ação Católica logo se tornam uma das 
fontes preferenciais de recrutamento desses profissionais.
A Igreja Católica partia de uma visão messiânica, que tinha, como 
objetivo último, recristianizar a classe trabalhadora, que naquela época 
estava recebendo orientações dos movimentos socialistas contra a explo-
ração da força de trabalho e com bases a-religiosas.
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O Papel da Igreja Católica
 Saiba Mais
Messianismo é um termo derivado da palavra hebraica mashiach (o 
ungido pelo senhor). O messianismo caracteriza movimentos sociais 
que esperam a chegada ou o retorno do enviado divino com vistas a 
criar um mundo equilibrado de paz e justiça.
Segundo Castro (2003), para recristianizar a sociedade, a igreja pro-
pôs uma reforma social, orientada por um discurso político de cunho 
humanista e antiliberal. O que a igreja pretendia, também, era recuperar 
sua hegemonia política e ideológica que, na época, estava sendo ameaçada 
pela mobilização provocada pelos movimentos sociais.
Para recuperar sua hegemonia e conquistar um outro espaço de inter-
venção no Estado Moderno, a igreja utilizou-se também das Encíclicas 
Papais Rerum Novarum, divulgada pelo papa Leão XIII, em 15 de maio de 
1891, e Quadragésimo Anno, divulgada pelo papa Pio XI, em 15 de maio 
de 1931, justiçadas pela questão social.
 Saiba Mais
Encíclica é uma Carta Circular Pontifícia. É uma carta do papa da Igreja 
Católica Apostólica Romana a todos os bispos do mundo ou de deter-
minada nação (SANTOS, 1994).
6.2 O Papel da Encíclica Rerum Novarum
A Rerum Novarum foi divulgada no período de implantação do 
processo de industrialização, que propiciou grandes transformações nas 
relações de trabalho e inúmeros problemas sociais. Esse contexto foi 
marcado pelo acirramento da luta do movimento operário por melhores 
condições de trabalho.
Na época de divulgação da Rerum Novarum, deu-se o processo 
de profissionalização do serviço social. Nesse período, o serviço social 
Fundamentos Históricos, Teóricos e Metodológicos do Serviço Social I
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começou a ter uma formação profissional de nível superior, pois até então 
existia apenas como prática social.
Segundo Castro (2003), a encíclica Rerum Novarum salientou as for-
mas de exploração da força de trabalho e, com isso, a necessidade de se 
tocar na questão social. Essa tarefa, segundo a enciclíca, competia à igreja, 
pois ela tinha como luta propiciar à sociedade o bem comum. Ao mesmo 
tempo que a encíclica critica a acumulação capitalista e a insensibilidade 
dos donos do capital, enfrenta as propostas dos movimentos socialistas 
realizados pelos trabalhadores, com a defesa do direito da propriedade 
privada. Conforme aponta Castro (2003, p. 52-53),
a encíclica salienta as formas de exploração da força de trabalho 
assalariada, que permitiriam a acumulação capitalista. E se é certo 
que critica a insensibilidade dos homens riquíssimos e opulentos, 
ela tem, igualmente, o objetivo de enfrentar as propostas socia-
listas que, à época, ganhava numerosos adeptos nas fileiras do 
movimento operário, defendendo a propriedade privada, pilar fun-
damental das relações de produção capitalista. De acordo com a 
encíclica, o direito à propriedade é um direito natural que procede 
da generosidade divina: quando Deus concedeu a terra ao homem 
– diz – , fê-lo para que use e desfrute sem que isto se oponha em 
qualquer grau, à existência humana.
A Encíclica, comenta o mesmo autor, afirmou que a propriedade pri-
vada é um direito natural, dado por Deus e que a vontade divina é inques-
tionável. Sendo a terra um direito natural, só depende dos esforços dos 
homens para adquirí-la. Nesta perspectiva, a Rerum Novarum aprova a 
desigualdade social, visto que, nessa época, as propriedades privadas se 
encontravam nas mãos dos capitalistas.
A Rerum Novarum defendeu, também, que o Estado estava sujeito à von-
tade de Deus e, assim, os socialistas não podiam lutar contra o Estado, pois 
estariam contra a vontade divina, pois, de acordo com Castro (2003, p. 54),
assim como a propriedade é um direito natural outorgado e reco-
nhecido pela divindade, a organização do Estado e da sociedade 
está sujeita à vontade de Deus – por isto, quando os socialistas 
lutam contra o Estado operam “contra a justiça natural”.
Para Castro (2003), a Rerum Novarum defende que a desigualde é 
natural e conveniente à coletividade, visto que é necessária a variedade de 
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O Papel da Igreja Católica
talentos e ofícios. Para a igreja, Deus tinha premiado alguns com riqueza 
e outros com miséria. A igreja defende que as classes burguesa e operária 
precisavam estar sempre em harmonia.
A Igreja pregava que a relação conflituosa entre capital e trabalho deve 
buscar soluções conforme os desígnios da religião cristã, uma vez que só 
ela pode trazer a união entre as classes. Capital e proletários precisavam 
celebrar a compra e a venda da força de trabalho, submetendo-as à lógica e 
leis do mercado. Nessa perspectiva, Castro (2003, p. 57) aponta que
o operário deveria contribuir para a conciliação de classe, aceitando 
disciplinadamente a sua condição de explorado e, por consequência, 
não só se negar a participar nos movimentos que pudessem atentar 
contra a segurança do capital, mas, mais ainda: deveria militar con-
tra eles, especialmente contra as organizações sindicais proletárias, 
emergentes graças aos influxos do pensamento

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