Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Malária Agente Etiológico Os parasitos causadores de malária pertencem ao filo Apicomplexa, família Plasmodiidae e ao gênero Plasmodium. Apenas quatro espécies parasitam o homem: Plasmodium falciparum, P. vivax, P. malariae e P. ovale. Ciclo Biológico do Plasmódio humano HOSPEDEIRO VERTEBRADO A infecção malárica inicia-se quando esporozoítos infectantes são inoculados nos humanos pelo inseto vetor Os esporozoítos são móveis, apesar de não apresentarem cílios ou flagelos Recentemente foi demonstrado que esporozoítos de Plasmodium podem entrar em células hospedeiras sem nelas se desenvolverem. Isto propicia a sua migração por diferentes células, antes que ocorra a infecção de um hepatócito, com consequente formação de um vacúo1o parasitóforo. O processo de passagem por células é bastante rápido e parece não depender de reconhecimento específico, Entretanto, somente no hepátócito se processa o desenvolvimento parasitário, cerca de 30 minutos após a infecção A eficiência da invasão e a especificidade da célula-alvo sugerem a participação de moléculas do parasito e receptores específicos na superfície da célula hospedeira. Várias evidências experimentais demonstram que a proteína CS participa ativamente deste processo. Uma região altamente conservada desta molécula (Região 11) liga-se a proteoglicanos contendo cadeias de heparan- sulfato na superfície dos hepatócitos, possibilitando assim a invasão. o esporozoíto, pela sua capacidade de migrar por diferentes células, atravesse as células de Kupffer, passando pelo espaço disse, até atingir os hepatócitos. Após invadir o hepatócito, os esporozoítos se diferenciam em trofozoítos pré-eritrocíticos. Estes se multiplicam por reprodução assexuada do tipo esquizogonia, dando origem aos esquizontes teciduais e posteriormente a milhares de merozoítos que invadirão os eritrócitos. Esta primeira fase do ciclo é denominada exo-eritrocítica, préeritrocítica ou tissular e, portanto, precede o ciclo sanguíneo do parasito O desenvolvimento nas células fígado requer aproximadamente uma semana para o P falciparum e P viva e cerca de duas semanas para o P malariae O ciclo eritrocítico inicia-se quando os merozoítos tissulares invadem os eritrócitos. A interação dos merozoítos com o eritrócito envolve o reconhecimento de receptores específicos. Para o P falciparum, o principal receptor são as glicoforinas (glicoproteínas presentes no eritrócito) e para o P viva, a glicoproteína do grupo sanguíneo Dum. Além disso, o P viva invade apenas reticulócitos, enquanto o P falciparum invade hemácias de todas as idades. Já o P malariae invade preferencialmente hemácias maduras O desenvolvimento intra-eritrocítico do parasito se dá por esquizogonia, com consequente formação de merozoítos que invadirão novos eritrócitos. Depois de algumas gerações de merozoítos sanguíneos, ocorre a diferenciação em estágios sexuados, os gametócitos, que não mais se dividem e que seguirão o seu desenvolvimento no mosquito vetor, dando origem aos esporozoítos A fonte de nutrição de trofozoítos e esquizontes sanguíneos é a hemoglobina, porém alguns componentes metabólicos necessários ao seu desenvolvimento são procedentes do plasma: glicose, 2 metionina, biotina, certas purinas e pirimidinas, fosfato e ácido paraminobenzóico (PABA) A ingestão da hemoglobina se faz através de uma organela especializada, o citóstoma A digestão ocorre dentro de um vacúolo digestivo, com a formação do pigmento malárico. Após o término da esquizogonia e o rompimento das hemácias parasitadas, o pigmento malárico acumulado no citoplasma do eritrócito é liberado no plasma e posteriormente fagocitado pelas células de Kupffer no fígado ou pelos macrófagos do baço e de outros órgãos HOSPEDERIO INVERTEBRADO -INSETO Durante o repasto sangüíneo, a fêmea do anofelino ingere as formas sanguíneas do parasito, mas somente os gametócitos serão capazes de evoluir no inseto, dando origem ao ciclo sexuado ou esporogônico No intestino médio o processo de gametogênese (gametócitos se transformam em gametas extracelulares) poucos minutos após a ingestão do sangue O gametócito feminino transforma-se em macrogameta e o gametócito masculino, por um processo denominado exflagelação, dá origem a oito microgarnetas. Em 20-30 minutos, um microgameta fecundará um macrogameta, formando o ovo ou zigoto. Dentro de 24 horas após a fecundação, o zigoto passa a movimentar-se por contrações do corpo, sendo denominado oocineto. Este atravessa a matriz peritrófica (membrana que envolve o alimento) e atinge a parede do intestino médio, onde se encista na camada epitelial do órgão, passando a ser chamado oocisto. Inicia-se então o processo de divisão esporogônica e, após um período de nove a 14 dias, ocorre a ruptura da parede do oocisto, sendo liberados os esporozoítos formados durante a esporogonia. Estes serão disseminados por todo o corpo do inseto através da hemolinfa até atingir as células das glândulas salivares. Estes esporozoítos atingirão o canal central da glândula e ingressarão no ducto salivar para serem injetados no hospedeiro vertebrado, juntamente com a saliva, durante o repasto sanguíneo infectante. Habitat O hábitat varia para cada fase do ciclo dos plasmódios humanos. No homem, as formas infectantes, os esporozoítos, circulam brevemente na corrente sanguínea. o parasito se desenvolve no interior do hepatócito posteriormente, nos eritrócitos. No inseto vetor, as diferentes formas evolutivas, desenvolvem-se sucessivamente no interior da matriz peritrófica, no epitélio médio, na hemolinfa e nas glândulas salivares.. Transmissão A transmissão natural da malária ao homem se dá quando fêmeas de mosquitos anofelinos (gênero Anopheles), parasitadas com esporozoítos em suas glândulas salivares, inoculam estas formas infectantes durante o repasto sangüíneo. Primatas não-humanos podem funcionar como reservatórios de P malariae Apesar de infrequente, a infecçáo malárica pode ser transmitida acidentalmente, como resultado de transfusão sanguínea, compartilhamento de seringas contaminadas e acidentes em laboratório. A infecção congênita tem sido também raramente descrita Morfologia ESPOROZOÍTO - é alongado apresenta núcleo central único. Sua estrutura interna é semelhante nas diferentes espécies de plasmódio. Sua membrana é formada por duas camadas sendo a mais externa formada principalmente pela proteína CS, a qual 3 participa de diversas interações celula durante o ciclo vital do parasito. FORMA EXO-ERITROCITICA - após a penetração do esporozoíto no hepatócito, ocorre a perda das organelas do complexo apical e o parasito se toma arredondado. Esta forma é chamada trofozoíto e após sucessivas divisões celulares dará origem ao esquizonte tissular (ou criptozoíto), composto por uma massa citoplasmática e milhares de núcleos filhos. O número de merozoítos formados varia entre as espécies de plasmódios humanos, mas é, em geral, acima de 10.000 parasitos MEROZOÍTO - independente da sua origem, se pré eritrocítica ou sanguínea, os merozoítos são células similares e capazes de invadir somente hemácias. Estruturalmente, assemelham-se aos esporozoítos, sendo porém menores e arredondados, tendo uma membrana extema composta por três camadas. FORMAS ERITROCÍTICAS - compreendem os estágios de trofozoítos jovem, trofozoíto maduro, esquizonte e gametócitos. MICROGAMETA - célula flagelada originária do processo de exflagelação. Apresenta de 20 a 25pm de comprimento, sendo constituída de uma membrana que envolve o núcleo e o único flagelo. MACROGAMETA – Célula que apresenta uma estrutura proeminente na superfície por onde se dá a penetração do microgameta. OOCINETO - forma alongada de aspecto vermiforme, móvel,contendo núcleo volumoso e excêntrico. Oocisto - estrutura esférica de 40 a 80pm. Apresenta grânulos pigmentados em seu interior, os quais têm caractensticas de cor e distribuição que variam entre as espécies. Está envolto por uma cápsula com espessura em tomo de 0,lpm e apresenta tamanho único em infecções de baixa densidade e dimensões múltiplas nas infecções intensas. Em infecções antigas a parede do oocisto se mantém aderida ao intestino médio, tomando-se quitinosa. Estima-se que um único oocisto possa produzir, em média, 1 .O00 esporozoítos. Imunidade INATA A resistência inata é uma propriedade inerente do hospedeiro e independe de qualquer contato prévio com o parasito. Pode ser absoluta, quando protege completamente o indivíduo da doença, ou relativa nos casos em que, mesmo havendo o desenvolvimento do parasito, o processo infeccioso é autolimitado Fatores do hospedeiro, geneticamente determinados podem influenciar a suceptibilidade da malária. A ausência de receptores específicos na superfície dos eribócitos impede a com merozoitos (ABSOLUTA) Algumas populações negras não apresentam FYFY (grupo sanguíneo duffy) e são resistência ao vivax Certo polimorfismo genético estão associados a distribuição mundial de P. falciparum o exemplo mais convincente é o da anemia falciforme. Crianças africanas que morrem de malária grave raramente apresentam o traço falciforme (HbAS), embora este fenótipo seja altamente frequente naquela região. Desta forma, em área de intensa transmissão de malária, indivíduos heterozigotos que apresentam o traço falciforme (HbAS) são protegidos e apresentam vantagens seletivas sobre indivíduos homozigotos (HbAA), que podem se infectar e vir a morrer de malária. Nos eritrócitos falciformes, o nível de potássio intracelular está diminuído em virtude da baixa afinidade da hemoglobina S pelo oxigênio, o que causa a morte do parasito. Talssemias, ou seja, proporções anormalmente elevadas de cadeias gama ou delta, substituindo a cadeia beta da hemoglobina, também podem impedir o desenvolvimento parasiiário no interior do eritrócito. Entretanto, este mecanismo de resistência inata a malária não tem grande importância na epidemiologia da doença ADQUIRIDA Nessas áreas, onde o P falciparum é predominante, os recém-nascidos são protegidos de malária grave durante os três primeiros meses de vida. A transferência passiva de anticorpos IgG da mãe imune para o filho é considerada um dos principais fatores responsáveis pela resistência do recém-nascido. Outros fatores também podem estar envolvidos, como a presença de eritrócitos contendo grandes quantidades 4 de hemoglobina fetal (HbF), gerando um microambiente desfavorável ao crescimento parasitário. Existem algumas evidências de que a dieta alimentar do recémnascido, deficiente em PABA, também possa impedir o desenvolvimento do parasito. Após este período, as crianças são altamente suscetíveis a malária grave, sendo frequentes as infecções fatais durante os dois a três primeiros anos de vida Atingindo a idade adulta, os sintomas clínicos da doença são menos pronunciados e os níveis de parasitos sangiiíneos muito baixos, refletindo, então, o desenvolvimento de uma imunidade "antiparasito", também denominada preimunição. Embora os mecanismos envolvidos neste estado de equilíbrio imune ainda não sejam totalmente elucidados, o processo tem características muito definidas, que podem ser assim resumidas: estado imune adquirido lentamente, após anos de exposição em áreas de intensa transmissão; imunidade não-esterilizante que mantém níveis de parasitemia abaixo de um limiar de patogenicidade, determinando infecções assintomáticas; imunidade dependente de exposição contínua ao parasito, sendo perdida por indivíduos imunes após cerca de um ano, na ausência de exposição; equilíbrio suprimido durante a gravidez, principalmente na primigesta. MECANISMO DA RESPOSTA IMUNE ADQUIRIDA Durante a fase aguda da malária é desencadeada uma potente resposta imune dirigida contra os diferentes estágios evolutivos do parasito. Assim, sabe-se que a imunidade naturalmente adquirida é espécie-específica e também estágio-especifica. Os esporozoítos, apesar de sua rápida permanência na coqente sanguínea, induzem uma resposta imune que resulta na produção de anticorpos dirigidos contra antígenos de sua superfície, em particular contra a proteína CS. Acredita que tais anticorpos ajam bloqueando a motilidade necessária a invasão da célula hospedeira. Entretanto, o envolvimento de anticorpos anti-CS na proteção adquirida contra malária ainda não está bem definid Durante a fase de desenvolvimento intra-hepático, o parasito também é capaz de funcionar como alvo da resposta imune. Durante esta fase do desenvolvimento intracelular do parasito, os mecanismos celulares parecem atuar diretamente através da citoxicidade de linfócitos ou indiretamente através de citocinas, y como o interferon gama (IFN-y), interleucinas (IL) 1 e 6, e o fator de necrose tumoral alfa (TNF-a). Recentemente, esses experimentos foram repetidos, confmando que IgG purificada de soros de adultos imunes (área hiperendêmica) é capaz de controlar a infecção por P falciparum em crianças, reduzindo a parasitemia e protegendo-as de doença grave. Análise in vitro e in vivo dos efeitos dos anticorpos protetores tem mostrado que pelo menos dois mecanismos estão envolvidos: 1) participação de anticorpos opsonizantes que promovem a fagocitose de eritrócitos infectados; 2) participação de anticorpos citofílicos (subclasses IgG 1 e IgG3 no homem) que se ligam a monócitos e promovem a inibição do crescimento do parasito intra-eritrocítico, não requerendo para isso contato entre células efetoras e eritrócitos infectados o que ocorre de TNF-CX, liberada por monócitos ativados, que impedirá o desenvolvimento das formas sangiiíneas no interior da célula hospedeira. Patogenia Apenas o ciclo eritrocítico assexuado é responsável pelas manifestações clínicas e patologia da malária Os possíveis mecanismos determinantes das diferentes formas clínicas da doença baseiam-se, fundamentalmente, na interação dos seguintes fenômenos patogênicos: • destruição dos eritrócitos parasitados; • toxicidade resultante da liberação de citocinas; seqüestro dos eritrócitos parasitados na rede capilar, • no caso específico do P. falciparum; • lesão capilar por deposição de imunocomplexos, no caso do P. malariae. DESTRUIÇÃO DOS ERITROCITOS PARASITADOS O processo de destruição dos eritrócitos está presente em todos os tipos de malária e em maior ou menor grau participam do desenvolvimento da anemia. Entretanto, na maior parte dos casos, a anemia não se correlaciona com a parasitemia, indicando que a sua gênese seja devida a outros fatores, entre os quais podem-se citar: destruição de eritrócitos não- parasitados pelo sistema imune ou por aumento da 5 eritrofagocitose esplênica; participação de auto- anticorpos com afinidades tanto para o parasito como para o eritrócito; disfunção da medula óssea estimulada por ação de citocinas (diseritropoiese). TOXICIDADE RESULTANTE DA LIBERAÇÃO DE CITOCINAS Durante a fase aguda da malária, ocorre ativação e mobilização de células imunocompetentes que produzem citocinas que agirão direta ou indiretamente sobre o parasito, mas que podem ser nocivas para o hospedeiro. A febre, por exemplo, é resultado da liberação de pirogênio endógeno pelos monócitos e macrófagos, ativados por produtos do parasito. Acredita-se que esta citocina atue de forma direta sobre o endotélio e, de forma indireta, induzindo moléculas de citoaderência. Como conseqüência da lesão endotelial, pode haver extravasamento delíquido para o espaço intersticial de estruturas nobres, como os alvéolos e glomérulos, produzindo manifestações de malária grave pulmonar e renal, respectivamente. Outras ações tóxicas das citocinas já foram demonstradas na malária grave. Sua ação inibitória da gliconeogênese é responsável pela hipoglicemia, e seus efeitos sobre a placenta são responsáveis pela gravidade da malária na gestação, tanto para a mãe quanto para o feto. SEQUESTRO DOS ERITROCITOS PARASITADOS NA REDE CAPILAR Durante o desenvolvimento esquizogônico sanguíneo, o P. falciparum induz uma série de modificações na superfície da célula parasitada, que permitem a sua adesão a parede endotelial dos capilares. Este fenômeno de citoaderência é mediado por proteínas do parasito expressas na superfície dos eritrócitos infectados A citoaderência endotelial e o fenômeno de formação de rosetas(eritrócitos contaminados ou não juntos) ocorrem principalmente nas vênulas do novelo capilar de órgãos vitais (substância branca do cérebro, coração, figado, rins, intestino). Dependendo da intensidade, podem levar a obstrução da microcirculação e consequente redução do fluxo de oxigênio, ao metabolismo anaeróbico e a acidose láctica. Pode ocorrer lesão capilar, coagulação LESÃO CAPILAR POR DEPOSIÇÃO DE IMUNOCOMPLEXOS Em infecções crônicas por p. malariae é descrita a ocorrência de glomerulonefrite transitória e autolimitada, a qual se apresenta com síndrome nefrítica A lesão é produzida pela deposição de imunocomplexos e componentes do complemento glomerular , alterando sua permeabilidade e induzindo perda maciça de proteínas Quadro Clinico Período de incubação da malária • p. Falciparum 9-14 dias • P. vivax 12-17 dias • P. malariae 18-40 dias • P. ovale 16-18 dias Um fase sintomática inicial caracterizada por mal-estar, cefaleia, cansaço, mialgia, geralmente precede a clássica febre da malária O ataque paroxístico agudo conicidade com a ruptura das hemácias ao final da esquizogônica , e geralmente acompanhado de calafrios e sudorese. Essa fase dura de 15 min a 1 horas, sendo seguida por fase febril com temp corporal atingindo 41 graus ou mais Após um período de 2 a 6 horas ocorre uma desfervecencia da febre o paciente apresenta sudoreza profunda e fraqueza intensa. Depois de algumas horas o paciente sente melhor, os sintomas desaparecem Após a fase inicial a febre assume um caráter intermitente relacionado com o tempo de ruptura de uma hemácias contendo esquizontes maduros. Portanto a periocidade dos sintomas está na dependência do tempo de duração do ciclo eritrocítico. Entretanto, a constatação desta regularidade é pouco comum nos dias atuais, em decorrência de tratamento precoce, realizado ainda a fase de assincronismo das esquizogônicas sanguíneas. Desta forma, o padrão mais observado é o da febre irregular cotidiana 6 Malária não complicada As manifestações clínicas mais frequentemente observadas na fase aguda são comuns as quatro espécies que parasitam os humanos. Em geral, os acessos maláricos são acompanhados de intensa debilidade física, náuseas e vômitos. Ao exame físico, o paciente apresenta-se pálido e com baço palpável A anemia, apesar de frequente, apresenta-se em graus variáveis, sendo mais intensa nas infecções por P. falciparum Em áreas endêmicas, quadros prolongados de infecção podem produzir manifestações crônicas da malária. Um quadro conhecido como síndrome de esplenomegalia tropical pode ocorrer em alguns adultos jovens altamente expostos a transmissão. Estes apresentam volumosa esplenomegalia, hepatomegalia, anemia, leucopenia e plaquetopenia, sendo importante o diagnóstico diferencial com a leishrnaniose viscera], esquistossomose hepatoesplênica ou leucemias Malaria Grave e Complicada Adultos não-imunes, bem como crianças e gestantes, podem apresentar manifestações mais graves da infecção, podendo ser fatal no caso de P. falciparum. A hipoglicemia, o aparecimento de convulsões, vomitos repetidos, hiperpirexia, icterícia e distúrbio da consciência são indicadores de pior prognóstico e podem preceder as seguintes formas cií-' nicas da malária grave e complicada: Malária cerebral: estima-se que ocorre em cerca de 2% dos indivíduos não-imunes, parasitados pelo f? falciparum. Os principais sintomas são uma forte cefaléia, hipertermia, vômitos e sonolência. Em crianças ocorrem convulsões. O paciente evolui para um quadro de coma, com pupilas contraídas e alteração dos reflexos profundos. Insuficiência renal aguda: caracteriza-se pela redução do volume urinário a menos de 400ml ao dia e aumento da uréia e da creatinina plasmáticas. É mais frequente em adultos do que em crianças, e tem sido descrita como a complicação grave mais frequente de áreas de transmissão instável, como o Brasil. Edema pulmonar agudo: é particularmente comum em gestantes e inicia-se com hiperventilação e febre alta. As formas mais graves caracterizam-se por intensa transudação alveolar, com grave redução da pressão arterial de oxigênio (síndrome da angústia respiratória do adulto). Hipoglicemia: mais frequente em crianças, ocorre geralmente em associação com outras complicações da doença, principalmente a malária cerebral. Os níveis de glicose sanguínea são inferiores a 30mgldl e a sintomatologia pode estar ausente ou ser mascarada pela sintomatologia da malária. Icterícia: definida como coloração amarelada da pele e mucosa, em decorrência do aumento da bilimbina sérica. Pode resultar de hemólise excessiva ou de comprometimento da função hepática na malária grave. Hemoglobinúria: caracterizada por hemólise intravascular aguda maciça, acompanhada por hiper- hemoglobinemia e hemoglobinúria, ocorre em alguns casos de malária aguda e também em indivíduos que tiveram repetidas formas de malária grave por f? falciparum. O paciente apresenta urina colúria acentuada, vômitos biliosos e icterícia intensa. Necrose tubular aguda com insuficiência renal é a complicação mais frequente e que pode levar a morte. Epidemiologia A malária é uma doença que ocorre nas áreas tropicais e subtropicais do mundo. Entretanto, sua distribuição nessas regiões não é homogênea. E considerada endêmica, quando existe uma incidência constante de casos no decorrer de muitos anos sucessivos, e epidêmica, quando ocorre agravamento periódico ou ocasional da curva endêmica Uma outra forma de avaliar epidemiologicamente a malária é feita pelo seu perfil de incidência no decorrer do tempo. Pode ser considerada como estável, se o nível de transmissão é alto e não sofre oscilação no decorrer dos anos, embora flutuações sazonais possam ocorrer. Nessas áreas, é comum a aquisição de imunidade coletiva, sendo infrequente o aparecimento de epidemia. Já nas áreas de malária instável, como é o caso do Brasil, é comum a variação anual da incidência, podendo ocorrer epidemias, já que a maior parte da população exposta permanece vulnerável ao parasito. Por conseguinte, a associação desses fatores determina os diferentes níveis de risco para adquirir a malária. São eles: • fatores biológicos, que incluem cada elo da cadeia de transmissão: vetor, homem, parasito; 7 • fatores ecológicos, que compreendem as condições ambientais que podem favorecer ou dificultar a transmissão; • fatores socioculturais, que determinam as atitudes e os comportamentos dos agrupamentos humanos; • fatores econÒmicos e políticos. Fatores associados ao hospedeiro vertebrado estabelecem a suscetibilidade relativa de um indivíduo a infecção pelo plasmódio. Em áreas de alta transmissão de malária, crianças e adolescentes são considerados as principais fontes de infecção para o mosquito vetor, por apresentarem níveis de gametócitos circulantes superioresaqueles observados entre indivíduos adultos imunes. Por outro lado, são as crianças e os adolescentes as maiores vítimas da infecção malárica. O nível de imunidade naturalmente adquirida depende das taxas de transmissão em uma dada área, sendo evidente em situações de hiper-holoendemicidades. Situaçao Atual da Malária e Perspectiva Para o seu Controle Essa estratégia visa prevenir a mortalidade e aliviar as perdas sociais e econômicas produzidas pela doença, através do fortalecimento dos níveis regionais e locais de atenção a saúde. Estes objetivos deverão ser alcançados através de: diagnóstico precoce e tratamento imediato dos casos; uso de medidas seletivas contra vetores; detecção oportuna de epidemias; avaliação regular da situação local da malária, através do monitoramento dos fatores de risco. Diagnostico da Malária O diagnóstico de certeza da infecção malárica só é possível pela demonstração do parasito, ou de antígenos relacionados, no sangue periférico do paciente A OMS, em suas orientações atuais para o controle da malária no mundo, preconiza tanto o diagnóstico clínico quanto o diagnóstico laboratorial como norteadores da terapêutica da doença DIAGNOSTICO CLINICO Por orientação dos programas oficiais de controle, em situações de epidemia e em áreas de dificil acesso da população aos serviços de saúde, indivíduos com febre são considerados portadores de malária. Por tudo isso, o elemento fundamental no diagnóstico clínico da malária, tanto nas áreas endêmicas como nas não-endèmicas, é sempre pensar na possibilidade da doença os sintomas da malária são inespecíficos, não se prestando a distinção entre a malária e outras infecções agudas do homem DIAGNOSTICO LABORATORIAL o diagnóstico da malária continua sendo feito pela tradicional pesquisa do parasito no sangue periférico, seja pelo método da gota espessa, ou pelo esfregaço sanguíneo. Um método semiquantitativo de avaliação da parasitemia, expressado em "cruzes" é então obtido, conforme se segue: + = 1- 10 parasitos por 100 campos de gota espessa ++ = 1 1 - 1 00 parasitos por 100 campos de gota espessa +++ = 1-10 parasitos por campo de gota espessa +t++ = mais de 10 parasitos por campo de gota espessa Mais recentemente, métodos de diagnóstico rápido da malária foram desenvolvidos, utilizando anticorpos monoclonais e policlonais dirigidos contra a proteína 2 rica em histidina do P falciparum (PfHRP-2) e contra a enzima'desidrogenase do lactato (pDHL) das quatro espécies de plasmódio Possui alta sensibilidade e alta especificidade, sendo úteis para a triagem e mesmo para a confirmação diagnóstica da malária, principalmente para turistas que visitam as áreas endêmicas. Uma desvantagem, portanto, é não permitir o diagnóstico de uma infecção mista PCR Tratamento Antes do surgimento da resistência do P falciparum a cloroquina, esta droga era utilizada para as quatro espécies de plasmódios que parasitam o homem. Hoje, além da cloroquina, o P falciparum apresenta resistência a diversos outros antimaláricos, tomando o seu tratamento um dilema para o médico e um desafio para as autoridades de saúde responsáveis pelo controle da malária. O tratamento da malária visa à interrupção da esquizogonia sanguínea, responsável pela patogenia e manifestações clínicas da infecção. Entretanto, pela diversidade do seu ciclo biológico, é também objetivo da terapêutica proporcionar a erradicação de formas latentes do parasito no ciclo tecidual (hipnozoítos) das espécies P. vivax e P. ovale, evitando assim as recaídas tardias. 8 Além disso, a abordagem terapêutica de pacientes residentes em áreas endêmicas pode visar também a interrupção da transmissão, pelo uso de drogas que eliminam as formas sexuadas dos parasitos As principais drogas antimaláricas podem ser assim classificadas: pelo seu grupo químico pelo ação biológica do parasita. A decido de como tratar o paciente com malária deve precedida de informações sobre os seguintes aspectos: gravidade da doença: pela necessidade de drogas injetaveis e com ação mais rapida sobre os parasitos, adotar medidas precoces para reduzir mortalidade; espécie de plasmódio: pelo perfil variado de resposta do P. faIciparum aos antimaláricos. Caso não seja possível, determinar a especie do parasitose optar pelo trar tamento do falciparum, pelo rim de evolução grave; Idade do paciente: pelo pior prognóstico da malária na infancia, além de alguns antimalaricos serem contra-inL dicados nessa faixa etária; história de exposição anterior à infecção: indivíduos não-imunes (proinfectados) tendem a apresentar for- , mas mais graves da doença; Sucetibilidade dos parasitos da região aos antimalaricos convencionais: risco de atraso no efeito teraiputico e agravamento do quadro clínico; custo da medicação: em geral, as drogas mais ativas, . e menos tóxicas são mais caras e nem sempre são acesssíveis aos pacientes. TRATAMENTO DAS MALARIAS CAUSADAS POR P. VIVAX, OVALE, MALARIAE As malarias causadas pelo I? vivax, P. ovale e R malariae, também chamadas malarias benignas, devem ser tratadas com a cloroquina. Esta droga é ativa contra as formas sanguíneas e também contra os gametocitos dessas espécies Em geral, a cloroquina é de baixa toxicidade, sendo muito bem tolerada pelos pacientes e inocua quando utilizada na gravidez. Para se conseguir a cura radial da malária causada pelo R vivax ou P. ovale é necessária a associação de um esquizonticida tecidual, a primaquina, para atuar sobre os seus hipnozoítas. Pelo seu rapido metabolismo no figado, as doses terapeuticas desse medicamento precisam ser repetidas durante sete ou 14 dias para o sucesso terapêutica A primaquina e ativa contra os gametócitos de todas as espécies de plasmbdios humanos P. FALCIPARUM Após o surgimento da resistência do i? falciparum a cloroquina a associação quinina + doxiciclina como esquema de primeira escolha para o tratamento do i? falciparum. A mefloquina, um esquizonticida sanguíneo eficaz em dose única, é um produto deste esforço e continua sendo urna das melhores armas do arsenal terapêutico antimalárico No Brasil, pacientes que recebem tratamento fora da área de transmissão (em geral fora da Amazônia Legal) ou aqueles que não toleram ou apresentam baixa resposta ao esquema de quinina + doxiciclina, devem receber mefloquina Nos últimos anos, um grande avanço na terapêutica da malária falciparum foi conseguido com a descoberta de drogas do grupo da artemisinina. Seus principais derivados são o artemeter e o artesunato, sendo o primeiro indicado apenas para uso intramuscular Em casos de formas graves de malária por i? falciparum, indicam-se os derivados da artemisinina como primeira opção. Após a melhora do paciente, complementa-se o tratamento com outro antimalárico, podendo ser a mefloquina ou um antibiótico. Para a malária não-complicada, a associação de artesunato oral + tetraciclina ou doxicilina tem sido sugerida em nosso meio. TRATAMENTO DAS INFECÇOES MISTAS Para pacientes com infecção mista causada por l? falcipamm + l? vivax, o tratamento deve incluir medicamento esquizonticida sangiiíneo eficaz para o l? falciparum, associado a primaquina, como esquizonticida tecidual. Se a infecção mista é causada pelo l? falciparum + l? malariae, o tratamento deve ser dirigido apenas para o l? falciparum. TRATAMENTO DA MALÁRLA NA GRAVIDEZ Sabe-se que a placenta favorece o desenvolvimento do parasita na gestante, e que a gravidez é causa conhecida de depressão da resposta imune. Portanto, a malária durante a gravidez constitui risco substancial para a mãe, o feto e o recém-nascido. Em geral, mulheres grávidas no segundo e terceiro trimestres são mais suscetíveis aos quadros gravese 9 complicados da malária causada pelo l? falciparum, o que pode resultar em aborto espontâneo, prematuridade, baixo peso ao nascer e morte materna. Por essa razão, o tratamento da malária deve ser precoce, a fim de impedir essas complicações. Além disso, é recomendável avaliar criteriosamente o recém- nascido durante as quatro primeiras semanas de vida, pelo risco de malária congênita. A gestante portadora de malária causada pelo l? vivax deve ser tratada apenas com a cloroquina, que é fármaco seguro na gravidez. O uso da primaquina como esquizonticida tecidual deve ser postergado até o final da amamentação. A paciente deve ser conscientizada de que recaídas podem acontecer durante a gravidez e que o tratamento com cloroquina deve ser repetido. Em algumas situações, a utilização de cloroquina semanal (dose de 300mg) representa um recurso eficiente para prevenir as recaídas durante a gestação. No caso de malána por l? falciparum durante a gestação, apenas a quinina em monoterapia ou a quinina associada a clindamicina deve ser utilizada. A tetraciclina e a doxiciclina são contra-indicadas, enquanto a mefloquina e os derivados da artemisinina ainda requerem mais informações sobre sua segurança na gravidez. Exceção é feita aos derivados da artemisinina nos casos de malária grave, caso seja iminente o risco de vida da mãe. Padrão de Resposta dos Plasmodios ao Tratamento Antimalárico Profilaxia da Malária Do ponto de vista teórico, a profilaxia da malária pode ser feita em níveis individual e coletivo MEDIDAS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL Pode ser citada a chamada profilaxia de contato, a qual consiste em evitar o contato do mosquito com a pele do homem. Como o anofelino tem, em geral, hábitos noturnos de alimentação, recomenda-se evitar a aproximação As áreas de risco após o entardecer e logo ao amanhecer do dia. O uso de repelentes nas áreas expostas do corpo, telar portas e janelas e dormir com mosquiteiros também são medidas que têm este objetivo. Quimioprofilaxia a política adotada atualmente com relação a profilaxia da malária é centrada na orientação para o diagnóstico e tratamento precoces (na presença de qualquer sinal suspeito) e nas medidas de proteção individual, para reduzir a probabilidade de picada de mosquito MEDIDAS COLETIVAS Combate ao vetor adulto Através da borrifação das paredes dos domicílios com inseticidas de ação residual. Esta medida baseia-se no conhecimento de que os anofelinos costumam repousar nas paredes após o repasto sanguíneo, nos casos de contato endofilic Assim, em vez de borrifação de paredes, tem sido praticada a nebulização espacial com inseticidas no peridomicílio Medidas de Combate às Larvas Através de larvicidas. Devido a extensão das bacias hidrográficas existentes nas áreas endêmicas e ao risco de contaminação ambienta1 com larvicidas químicos, esta estratégia tem sido pouco aplicada. Mais recentemente, o controle biológico de larvas, utilizando o Bacilus turigiensis e o B. sphericus, tem sido proposto e parece ser uma boa medida para se atingir o objetivo sem prejudicar a biodiversidade local. Medidas de Saneamento Básico Para evitar a formação de "criadouros" de mosquitos, surgidos principalmente a partir das águas pluviais e das modificações ambientais provocadas pela garimpagem do ouro. Medidas para Melhorar as Condições de Vida Através da informação, educação e comunicação, a fim de provocar mudanças de atitude da população com relação aos fatores que facilitem a exposição a transmissão. 10 Vacina contra Malária Com base no conhecimento da imunidade naturalmente adquirida, muito se tem feito no sentido de identificar antígenos de diferentes estágios do parasito que seriam responsáveis pela indução da imunidade protetora. Esses antígenos, se utilizados em uma vacina, poderiam induzir mecanismos capazes de diminuir ou mesmo bloquear os efeitos do parasito e da doença no homem. A busca de vacinas eficazes contra a malária tem sido realizada em várias direções, incluindo estudos com as muitas formas evolutivas do parasito, os esporozoítos, as formas hepáticas, as formas assexuadas eritrocíticas e os gametócitos
Compartilhar