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TEMA 4 MODELOS

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Modelos
Antonio Fernando Zanatta e José Tadeu de Almeida
Introdução
A Economia é a área do conhecimento que visa compreender as formas com que o ser humano 
interage no esforço de atender às suas necessidades materiais e imateriais. Ela estuda a relação 
entre as necessidades humanas, sempre ilimitadas, diante de uma quantidade limitada de recursos. 
Para compreender como a Economia realiza essa alocação entre necessidades e recursos, são uti-
lizados os modelos econômicos como instrumentos de análise, os quais você estudará nesta aula.
Objetivos de aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:
 • compreender o que é um modelo e para que serve.
1 Conceituação
As ciências econômicas, como área de conhecimento, representam os esforços em explicar a 
realidade econômica (que consiste em seu objeto de estudo) por meio das teorias e seus modelos.
Modelos são estruturas analíticas, de natureza algébrico-matemática, que destinam-se a 
investigar o comportamento de uma série de dados ou observações de uma realidade ao longo 
do tempo, ou mesmo a antecipar possíveis tendências em torno de algum fenômeno de natureza 
econômica. Há vários modelos em uso nas ciências econômicas atuais, sendo que vários de seus 
autores já foram laureados com o Prêmio Nobel de Economia.
SAIBA MAIS!
Desde 1969, o Prêmio do Banco da Suécia para as Ciências Econômicas, o Nobel de 
Economia, já premiou 78 pesquisadores que contribuíram para o desenvolvimento 
dessa área do conhecimento. Em 2016, os premiados foram os professores Oliver 
Hart e Bengt Holmström, que ajudaram a desenvolver a teoria dos contratos.
Veja mais sobre eles no link: <https://goo.gl/EdaQBY>.
É possível, assim, analisar o processo de construção das teorias e modelos econômicos 
como instrumentos analíticos de explicação dos fenômenos e projeção dos seus resultados.
2 Objetivo
O mundo real possui diferentes complexidades, inerentes ao funcionamento de um sistema 
econômico: há relações de produção, entre produtores e consumidores, entre economias, fluxos 
de capitais e mercadorias, entre diferentes países... Para Rizzieri (2005, p. 4.), a teoria “[...] pode 
ser entendida como um conjunto de ideias sobre a realidade, sempre analisada de forma interde-
pendente [...]”. Para ele, as teorias são compostas por: 1) definições, que são os significados das 
ideias; 2) argumentos, que são as condições nas quais as ideias se sustentam; e 3) hipóteses, que 
são as afirmações de como as questões se comportam na realidade estudada.
Mais adiante, Rizzieri (2005, p. 4) acrescenta que os modelos são “[...] a representação das 
principais características dos componentes de uma teoria [...]”. Sendo assim, os modelos cum-
prem o papel de expressar as relações entre os elementos previstos na teoria.
Esses elementos podem possuir diversas origens e naturezas. Pode-se modelar, por exemplo, 
o comportamento da taxa de inflação no Brasil, seu crescimento e o desemprego nos últimos 12 
anos, a fim de efetuarmos estimativas sobre a performance da economia no futuro. Mas, atenção! 
Modelos econômicos não preveem o futuro, pois economistas não são visionários; os modelos 
são ferramentas de análise de fenômenos que permitem antever futuros resultados possíveis em 
alguma variável de natureza econômica. Modelos são necessários e sua existência se justifica por 
serem mecanismos que simplificam, na medida do possível, a complexidade do mundo real, atra-
vés de hipóteses sobre a condução da economia e da sociedade.
Figura 1 – Modelagem econômica
Fonte: Gajus/Shutterstock.com
FIQUE ATENTO!
A Economia tem o propósito de explicar os fenômenos econômicos por meio de 
teorias. Estas são formadas por premissas iniciais, propondo hipóteses e argumen-
tos que as sustentam. Os modelos representam as relações funcionais presentes 
na teoria e buscam prever certos resultados decorrentes dessas relações.
Inicialmente, definem-se as premissas, que são as proposições iniciais que organizam o 
raciocínio a ser desenvolvido pela teoria e pelo modelo. Adotaremos um exemplo a respeito do 
comportamento da demanda. Há algumas premissas iniciais como:
 • os consumidores buscam atender às suas necessidades materiais e imateriais, que 
são ilimitadas.
 • o Estado não exerce impacto significativo sobre o comportamento dos consumidores 
e da demanda.
Cabe lembrar que, quando estudamos modelos, costumamos adotar algumas reduções de 
possibilidades para não os tornar mais complexos do que devem ser, atendo-se ao principal. Ao 
analisarmos as possibilidades do crescimento da renda de um consumidor, dada a inflação e o 
crescimento da economia, assumimos, como hipótese, que todas as outras variáveis que podem 
interferir na economia e no comportamento do consumidor, como crises financeiras, falências 
e movimentos comerciais negativos, são constantes, ou seja, não interferem no modelo. Esta 
expressão “tudo o mais constante”, em latim, é conhecida como coeteris paribus.
3 Hipóteses
Partindo-se da definição expressa pelas premissas iniciais cujo objetivo é o de estabelecer 
relações de consumo excluindo todas as outras possibilidades e enfatizando-se o papel do Estado, 
temos uma hipótese que, pelo fato de ele não impactar as escolhas dos consumidores, o Estado 
não legisla favorecendo grupos ou pessoas, agindo, assim, de forma igualitária e limitando-se 
a cuidar do bem-estar dos consumidores em seu mercado, evitando distorções neste mercado.
Observe que a hipótese apresentada constitui-se em um desdobramento de nossas premis-
sas iniciais a respeito do comportamento dos consumidores em um mercado, de modo que discu-
tiremos ainda mais sobre esses conceitos posteriormente.
EXEMPLO
A formulação de hipóteses (que é uma afirmação a respeito do comportamento de 
certas variáveis de estudo) faz parte do cotidiano. Quando você ajusta o seu relógio 
para despertar na manhã seguinte, está considerando, em hipótese, que terá uma 
quantidade certa de minutos para tomar seu café e que o trânsito estará em tal or-
dem que você, ao acordar naquele horário definido, terá tempo suficiente para não 
chegar atrasado ao seu trabalho.
4 Exemplos
Estabelecidas as premissas, a definição e a hipótese, é possível construir alguns tipos de 
modelos, a saber: o modelo teórico; o modelo determinístico e o modelo econométrico.
O modelo teórico é, essencialmente, uma tradução mais genérica de uma definição estabe-
lecida anteriormente, utilizando a linguagem matemática. Por exemplo, considerando que o preço 
do produto é essencial para o consumidor que o compre, teríamos a seguinte equação:
Qd = f(Pr)
Veja que, neste caso, a quantidade demandada (Qd), que é a variável determinada, está em 
função do nível do preço do produto (Pr), que é a variável determinante da relação. Um modelo 
teórico se destina a investigar comportamentos de variáveis (como preços e quantidades de bens, 
por exemplo) ao longo de um determinado período ou série de dados.
O modelo determinístico conduz a uma previsão única (exata), a depender de cada nível de 
preço. Ele difere do modelo teórico na medida em que considera a hipótese que opera a relação. 
No caso que estamos estudando, você pode observar uma relação inversa entre as variáveis:
Qd = a – b * (Pr)
Na equação apresentada, temos que: Qd corresponde à quantidade demandada; a é um 
coeficiente linear (parâmetro); b é um coeficiente angular (e também um parâmetro); e Pr é o 
preço do produto.
EXEMPLO
Considere que a demanda apresenta o seguinte comportamento em relação aos 
diversos níveis dos preços, com base na função: Qd = 13,5 – 2,5 (Pr). É possível es-
timar as quantidades demandadas por um bem em função dos preços praticados 
no mercado, conforme a tabela:
Tabela 1 – Tabela 1 – Perfil de demanda
Preços (Pr) Quantidade demandada (Qd)
1,00 11,00
2,00 8,50
3,00 6,00
4,00 3,50
Fonte: elaboradapelo autor, 2016.
Figura 2 – Gráfico de um modelo determinístico
0
1
2
3
4
5
6
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Preço (Pr)
Quantidade demandada (Qd)
Função demanda
Qd = a – b(Pr)
Qd = 13,5 – 2,5 (Pr)
Fonte: elaborado pelo autor, 2016.
O importante a destacar neste modelo determinístico é que, quando o preço se eleva, a quan-
tidade demandada será menor. E, em sentido oposto, quando o preço decresce, a quantidade 
demandada pelos consumidores aumentará.
A medida da variação de Qd, a cada nível de preço, é dada pelo parâmetro “b” (coeficiente 
angular). Já o parâmetro “a” (coeficiente linear) apenas indica que há certa quantidade demandada 
que independe da variação do preço.
FIQUE ATENTO!
Uma das diferenciações do modelo determinístico em relação ao modelo teórico é a 
inclusão de coeficientes que ajudam a explicar as oscilações das variáveis em análise.
Por fim, no modelo econométrico, as relações econômicas possuem uma variabilidade nos 
seus resultados. Para poder capturar essa variação, utiliza-se o método estatístico aplicado à eco-
nomia (Econometria), que permite isolar outros fatores não previstos no modelo (erro estatístico) 
que interferem na variação do componente dependente da relação. Isolando os efeitos não pre-
vistos no modelo, desde que não sejam significativos, é possível estabelecer uma relação mais 
confiável entre os elementos que explicam o modelo e o componente que é explicado por ele.
No caso da curva da demanda, temos que:
Qd = β1 – β2 Pr + u
Observe que, agora, os parâmetros “a” e “b” são substituídos por β1 e β2, que expressam os 
valores a serem estimados por meio de uma base de dados estatística levantada no mercado. Já 
a variável “u” é aquela que captará a variabilidade na quantidade demandada causada por fatores 
não previstos no modelo. É importante que a variável aleatória “u” não tenha uma dimensão sig-
nificativa que invalide a análise.
FIQUE ATENTO!
Todas as ciências utilizam modelos, não somente as Ciências Econômicas. Por 
exemplo, a Astrofísica utiliza-se do modelo do “Big Bang” para explicar a origem do 
universo, com hipóteses (o universo encontrava-se em sua origem comprimido sob 
forte pressão) e seus desdobramentos (o universo continua a expandir-se).
Figura 3 – Gráfico de um modelo econométrico
Preço (Pr)
Quantidade demandada (Qd)
Qd = β1 – β2 Pr + u
u
Fonte: elaborada pelo autor, 2016.
SAIBA MAIS!
A aplicação dos modelos econométricos é de extrema relevância como instrumento 
de orientação para a tomada de decisão dos gestores econômicos. Um exemplo 
disso são os Boletins Focus do Banco Central, que apresentam semanalmente as 
expectativas para os próximos 12 meses das principais variáveis macroeconômicas 
(inflação, juros, câmbio), que são desenvolvidas pelos departamentos econômicos 
dos bancos e corretoras brasileiros. Para ver o relatório, acesse o link do Banco 
Central do Brasil: <https://goo.gl/AYdsDa>.
Você observou, portanto, a importância que os modelos têm para auxiliar nas tomadas de 
decisões econômicas, como eles são desenvolvidos e aplicados em nosso cotidiano.
Você, caro aluno, perceberá que as Ciências Econômicas, como regra geral, operam através 
de modelos. As deduções apresentadas como conclusões, portanto, dependem destes modelos, 
querem eles confirmando hipóteses, quer não.
Fechamento
Nesta aula, você teve a oportunidade de:
 • compreender que a Economia é tanto uma área de conhecimento quanto um objeto 
de estudo;
 • entender que os modelos econômicos são formas funcionais de operacionalização das 
teorias e são de três tipos: modelo teórico, modelo determinístico, e modelo econométrico.
Referências
BANCO Central do Brasil. Focus – relatório de mercado. Atualizado em 9 dez. 2016. Disponível em: 
<https://goo.gl/AYdsDa>. Acesso em: 16 dez. 2016.
GLOBO.com. Oliver Hart e Bengt Holmström vencem o Prêmio Nobel de Economia. G1 – Econo-
mia. 10 out. 2016. Disponível em: <https://goo.gl/EdaQBY>. Acesso em: 16 dez. 2016.
GREMAUD, Amaury Patrick et al. Manual de Economia. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2005.
PINDYCK, Robert Stephen; RUBINFELD, Daniel L. Microeconomia. 5. ed. São Paulo, 2002.
RIZZIERI, Juarez Alexandre Baldini. Introdução à economia. In PINHO, Diva Benevides; VASCON-
CELLOS, Marco Antônio Sandoval. Manual de Economia. São Paulo: Saraiva, 2005.

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