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Psicologia Geral I
Aula 1: As principais teorias da psicologia no século XX
Psicologia enquanto ramo da Filosofia estudava a alma. A Psicologia científica nasce quando, de acordo com os padrões de ciência do século XX, Wundt preconiza a Psicologia “sem alma”. O conhecimento tido como científico passa a ser aquele produzido em laboratórios, com o uso de instrumentos de observação e medição. Se até então a Psicologia estava subordinada à Filosofia, a partir daquele século ela passa a ligar-se a especialidades da Medicina, que assumira, antes da Psicologia, o método de investigação das ciências naturais como critério rigoroso de construção do conhecimento. 
Psicólogo John Watson (1878-1958) 
Dedica-se ao estudo das interações entre o individuo e o ambiente, entre as ações do individuo (suas respostas) e o ambiente (as estimulações). S ―> R 
Para os behavioristas o comportamento é um conjunto de respostas adquiridas que visa permitir ao organismo uma melhor adaptação ao mundo exterior.
B. F. Skinner (1904-1990) 
Suas pesquisas com cobaias levaram-no ao desenvolvimento de uma teoria da aprendizagem conhecida como modelagem. Quando as consequências de um comportamento aumentam a frequência desse mesmo comportamento diante do estímulo que o eliciou, Skinner chamou tais consequências de reforços. De forma contrária, quando as consequências diminuem a frequência do comportamento diante do estímulo que o eliciou, chamou de punições. Esquemas de reforços e punições são, segundo ele, as forças modeladoras de quaisquer comportamentos. 
A palavra reforço tem a ver com algo que reforça o comportamento antes que este seja emitido (seja positiva ou negativamente). Já a punição só ocorre após a emissão de um comportamento ou resposta indesejada.
Behaviorismo: modelagem de comportamentos
Tomemos o caso da criança que desenvolveu o comportamento de fazer birra. Se a mãe desejar que esse comportamento não mais se manifeste, ela pode proceder a determinados arranjos de contingências que levem à extinção do mesmo. Não fornecendo a bala que instalou o comportamento inadequado, a frequência da resposta birra tende a ser nula.
Outro esquema, nesse mesmo caso, poderia ser a apresentação de um estímulo aversivo — ou reforçador negativo.
A mãe pode castigar fisicamente a criança, por exemplo, o que irá reduzir mais rapidamente a frequência da resposta.
Os comportamentalistas, especialmente os skinnerianos, não consideram válido o emprego de procedimentos punitivos como esse, inclusive porque eles podem instalar, por imitação, novos comportamentos indesejáveis.
Gestalt é um termo alemão de difícil tradução. O termo mais próximo em português seria forma ou configuração. 
Ernst Mach (1838-1916), físico, e Christian von Ehrenfels (1859-1932), filósofo e psicólogo, desenvolviam uma psicofísica com estudos sobre as sensações (o dado psicológico) de espaço-forma e tempo-forma (o dado físico) e podem ser considerados como os mais diretos antecessores da Psicologia da Gestalt.
Psicanálise (Sigmund Freud, criador do paradigma psicanalítico)
Estuda as manifestações do desequilíbrio psicológico e foi no contato com seus pacientes que elaborou sua teoria.
Método de investigação: interpretativo – busca o significado oculto daquilo que é manifesto por meio de ações e palavras ou pelas produções imaginárias, como os sonhos, os delírios, as associações livres, os atos falhos.
Prática profissional (forma de tratamento): análise – busca o autoconhecimento.
A descoberta do inconsciente
“ Qual poderia ser a causa de os pacientes esquecerem tantos fatos de sua vida interior e exterior?”
Resistência: Força psíquica que se opõe a tornar consciente, a revelar um pensamento.
Repressão: Processo psíquico que visa encobrir, fazer desaparecer da consciência, uma ideia ou representação insuportável e dolorosa que está na origem do sintoma.
A teoria da personalidade
A personalidade é formada por três instâncias: 
- ID :É regido pelo princípio do prazer
O íd é a instância que, contém os impulsos inatos, as inclinações mais elementares do indivíduo. Composto por energias - pulsões (de vida e de morte) - determinadas biologicamente e determinantes de desejos e necessidades que não reconhecem qualquer norma socialmente estabelecidas. 
Não é socializado, não respeita convenções, e as energias que o constituem buscam a satisfação incondicional do organismo.
- Ego (EU): É regido pelo princípio da realidade ( junto com o princípio do prazer rege o funcionamento psíquico).
Estabelece o equilíbrio entre as exigências do id, da realidade e as “ordens” do suprego.
Desenvolve-se no decorrer da vida da pessoa.
Convive segundo regras socialmente aceitas, sofre as pressões imediatas do meio e executa ações destinadas a equilibrar o convívio da pessoa com os que a cercam.
- Superego : Origina-se com o complexo de Édipo, a partir da internalização das proibições, dos limites e da autoridade.
É um depositário das normas e princípios morais do grupo social a que o indivíduo se vincula. 
Seu conteúdo refere-se a exigências sociais e culturais.
O foco de atenção da Psicanálise dirige-se à relação entre as energias oriundas do id e os impedimentos que o superego lhes impõe. 
Aula 2: Saúde mental e transtorno mental
Entende-se como indivíduo "mentalmente saudável" aquele que: 
- Compreende que não é perfeito
- Entende que não pode ser tudo para todos
- Vivencia uma vasta gama de emoções
- Enfrenta desafios e mudanças da vida cotidiana
- Procura ajuda para lidar com os traumas e transições importantes (não se considera onipotente)
A promoção da saúde mental
Birman & Costa (1994) – hipótese: psiquiatria clássica vem desenvolvendo uma crise teórica e prática devido a uma radical mudança quanto ao seu objeto que deixa de ser o tratamento da doença mental e passa a ser a promoção de saúde mental. 
Dois grandes períodos da Psiquiatria:
1 - Processo de crítica à estrutura asilar, responsável por altos índices de cronificação. Crença de que o manicômio é uma “instituição de cura”. Urge resgatar esse lado positivo da instituição através de uma reforma interna da organização psiquiátrica. Acontece no interior do hospício em direção à periferia. É centrípeto. Ex. movimento das comunidades terapêuticas (EUA, Inglaterra), Psicoterapia Institucional (França).
2 - Extensão da psiquiatria ao espaço público com o objetivo de prevenir e promover a saúde mental. Ex. psiquiatria de setor (França) e psiquiatria comunitária ou preventiva (EUA).
Tanto a Psiquiatria Institucional quanto a comunitária visam a mesma coisa: promoção de saúde mental, caracterizada como um processo de adaptação social. Ou seja, a terapêutica deixa de ser individual e passa a ser coletiva; deixa de ser assistencial e passa a ser preventiva.
Já a antipsiquiatria e a psiquiatria basagliana operam uma ruptura. Ruptura baseada num olhar crítico para o saber e práticas psiquiátricas instituídos. Buscam realizar uma desconstrução na Psiquiatria e defendem o direito e a cidadania dos pacientes. 
Intervenções precoces, segundo a psiquiatria preventiva, evitam o surgimento ou desenvolvimento de doenças mentais. Isto afirma a desnecessidade e obsolescência do hospital psiquiátrico.
Personalidade
Definindo personalidade: O vocábulo "personalidade" se origina de persona, expressão que se referia à máscara que os atores do antigo teatro grego utilizavam para caracterizar as personagens que representavam. 
 Nesse sentido, personalidade é aquilo que é mostrado através dos papéis sociais que as pessoas desempenham. Diversas classificações não científicas de personalidade procuraram relacionar o tipo físico com o comportamento típico do indivíduo (gordo – alegre; magro - sisudo etc). O único resultado prático é a indução de pré-julgamentos; desprovidos de sentido, não consideram fatores cruciais como as influências do meio, a educação recebida, o ambiente de trabalho e a cultura em que o indivíduo encontra-se inserido.
A caminho de uma síntese:
• Hoje, a Psicologia tem a convicção de que a personalidade é uma totalidade sincrética, resultanteda ação dos fatores genéticos e dos paratípicos ou ambientais.
 • A personalidade só se constituirá a partir das interações que ocorrerem entre a criança e o seu meio próximo.
EX: Pais que têm pressa em ver o bebê caminhando e que não favorecem o exercício de tantas outras habilidades, como se arrastar ou engatinhar, que são anteriores e de certa 
forma pré-requisitos para a marcha. Mesmo assim, as influências ambientais não podem ir muito além das possibilidades implícitas na estrutura genética. Por exemplo, nem o meio mais favorável poderá vir a tornar gênio uma pessoa cuja constituição genética tenha lhe reservado déficit intelectual importante.
- Conceito:
Segundo Kaplan e Sadock (1993, p. 556), personalidade é uma "totalidade relativamente estável e previsível dos traços emocionais e comportamentais que caracterizam a pessoa na vida cotidiana, sob condições normais".
Estabilidade, contudo, não significa imutabilidade; 
Gordon Allport transmite adequadamente essa compreensão: "personalidade é a organização dinâmica, dentro do indivíduo, daqueles sistemas psicofísicos que determinam seus ajustamentos únicos ao ambiente" (CAMPBELL; HALL; LINDZEY, 2000, p. 228).
- Sintetizando: 
Conceitua-se personalidade como a condição estável e duradoura dos comportamentos da pessoa, embora não permanente.
Não há personalidade "normal" ou características normais. As emoções do momento têm o poder de alterar a predominância de uma ou mais características e conduzem a comportamentos imprevisíveis ou inesperados, sem que isso indique qualquer tipo de transtorno mental.
Transtornos de personalidade
Distúrbio grave do comportamento que envolve todas as áreas de atuação da pessoa e resulta numa considerável ruptura social e pessoal. O transtorno faz parte de sua constituição caracterológica, porém os distúrbios do comportamento só começam a ser notados no final da infância e início da adolescência.
Na situação de transtorno, uma ou mais características de personalidade predominam ostensivamente; a pessoa perde a capacidade de adaptação exigida pelas circunstâncias do trabalho e da vida social, independentemente da situação vivenciada. Em outras palavras, ocorre perda da flexibilidade situacional.
De acordo com a CID-10, podem ser classificados os transtornos de personalidade. São bastante co­nhecidos os seguintes TP: 
- Atitudes e condutas desarmônicas (família, trabalho e sociedade);
- Padrão anormal de comportamento é constante, de longa duração;
- Invasivo e claramente mal adaptado;
- As manifestações sempre aparecem durante a infância ou adolescência e continuam pela vida adulta;
- Sempre resulta em problemas no desempenho social ou ocupacional.
- Apresentam certa rigidez de respostas às diversas situações. Sempre criam desconforto a outras pessoas. 
- As hipóteses etiológicas recaem na interação de fatores genéticos, biológicos. 
TP PARANÓIDE 
• Sensibilidade excessiva a contratempos e rejeições;
• Tendência a guardar rancores;
• Desconfiança com um combativo senso de direitos pessoais em desacordo com a situação real;
• Suspeitas recorrentes, sem justificativas;
• Autovalorização excessiva, com autorreferência;
• Preocupação com explicações conspiratórias.
O indivíduo sempre interpreta de maneira errada ou distorce as ações das outras pessoas, demonstrando desconfiança sistemática e excessiva. O comportamento é generalizado. Guarda rancor, não perdoa injúrias ou ofensas e, portanto, busca reparações; desconfia de todos; demonstra-o e toma medidas de segurança acintosas, inoportunas e ofensivas.
TP DEPENDENTE 
• Encoraja ou permite que outros tomem a maioria das decisões importantes para sua vida;
• Subordinação de suas próprias necessidades às dos outros;
• Relutância em fazer exigências, ainda que razoáveis;
• Sente-se inconfortável ou desamparado quando sozinho por medo exagerado de se autocuidar;
• Preocupação e medo de ser abandonado;
• Capacidade limitada de tomar decisões cotidianas sem um excesso de conselhos e easseguramento pelos outros.
O indivíduo torna-se incapaz de tomar, sozinho, decisões de alguma importância. Torna-se alvo fácil de pessoas inescrupulosas. E o apóstolo preferencial do fanático; o liderado de eleição do antissocial. Pode incorrer em sérios prejuízos simplesmente porque não consegue decidir ou encontrar quem o faça.
TP ESQUIZÓIDE 
• Poucas atividades produzem prazer;
• Frieza emocional, afetividade distanciada ou embotada;
• Capacidade limitada para expressar sentimentos calorosos ou raiva para com os outros;
• Indiferença aparente a elogios ou críticas;
• Pouco interesse em experiências sexuais;
• Preferência por atividades solitárias;
• Preocupação excessiva com fantasia e introspecção;
• Falta de amigos íntimos ou confidentes;
• Insensibilidade marcante para com normas e convenções sociais predominantes.
A pessoa se isola, busca atividades solitárias e introspectivas; não retribui cumprimentos e mínimas manifestações de afeto. Seu comportamento apresentará tendência a um contato mais frio e distante com os demais.
TP ANSIOSA
• Tensão e apreensão persistentes e evasivas;
• Crença de ser socialmente inepto, desinteressante ou inferior;
• Preocupação excessiva em ser criticado ou rejeitado em situações sociais;
• Relutância em se envolver com pessoas, a não ser com a certeza de ser aceito;
• Restrições no estilo de vida devido à necessidade de segurança física;
• Evitação de atividades sociais e ocupacionais que envolvam contato interpessoal significativo por medo de críticas, desaprovação ou rejeição.
A pessoa se isola, busca atividades solitárias e introspectivas; não retribui cumprimentos e mínimas manifestações de afeto. Seu comportamento apresentará tendência a um contato mais frio e distante com os demais.
TP EMOCIONALMENTE INSTÁVEL
• Impulsividade sem consideração das consequências;
• Instabilidade afetiva;
• Capacidade de planejar o futuro comprometido;
• Acesso de raiva.
Existem dois subtipos deste TP:
- Impulsivo: As características predominantes são a instabilidade emocional e a falta de controle dos impulsos. Acessos de violência ou comportamento ameaçador são comuns, particularmente em resposta à crítica de outros ou a pequenos sinais de rejeição.
- Borderline: A instabilidade emocional está presente com autoimagem, objetivos e preferência internas (incluindo a sexual) pouco claros ou perturbados. Sentimentos crônicos de vazio. Apresentam síndrome depressiva intensa, de curta duração, com ideias de suicídio associadas a sentimentos de rejeição. Os relacionamentos são intensos (ódio ou amor) e instáveis, causando repetidas crises emocionais, com esforços excessivos para evitar abandono (ameaças de suicídio e autolesão). 
Este indivíduo oscila entre o melhor e o pior do mundo; cede a impulsos e se prejudica; seus relacionamentos podem ser intensos, porém instáveis. Acessos de violência, falta de controle dos impulsos podem ser marcantes. Envolve-se em agressões. 
TP HISTRIÔNICA 
• Autodramatização, teatralidade, expressão exagerada das emoções;
• Sugestionabilidade;
• Afetividade superficial e lábia;
• Necessidade de ser o centro das atenções;
• Sedução inapropriada em aparência e comportamento;
• Preocupação excessiva com aparência e atração física.
Manifesta-se no uso da sedução, na busca de atenção excessiva, na expressão das emoções de modo exagerado e inadequado. Procura a satisfação imediata, tem acessos de raiva e sente-se desconfortável quando não é o centro das atenções; os relacionamentos interpessoais, embora exagerados, não gratificam. É comum a presença de transtornos de ansiedade, depressão e conduta suicida, habitualmente sem risco de vida, além de alcoolismo e abuso de outras substâncias psicoativas.
Aula 3: Comportamento antissocial e transtorno da personalidade antissocial
Comportamento antissocial
O comportamento antissocial é caracterizado pelo desprezo ou transgressão das normas da sociedade, em alguns casos com comportamento ilegal.
Indivíduos antissociais frequentemente ignoram a possibilidade de estar afetando negativamente outras pessoas,por falta de empatia com o sofrimento de outrem - por exemplo, produzindo ruído excessivo em um horário inapropriado ou fazendo abertamente comentários ou julgamentos negativos.
O termo antissocial também é aplicado erroneamente a pessoas com aversão ao convívio social, introvertidas, tímidas ou reservadas.
Clinicamente, antissocial aplica-se a atitudes contrárias e prejudiciais à sociedade (sociopatia/psicopatia), não a inibições ou preferências pessoais.
O comportamento antissocial pode ser sintoma de uma psicopatologia em psiquiatria: o transtorno de personalidade antissocial.
Transtorno da personalidade antissocial
A psicopatia (ou sociopatia) é um distúrbio mental grave caracterizado por um desvio de caráter, ausência de sentimentos genuínos, frieza, insensibilidade aos sentimentos alheios, manipulação, egocentrismo, falta de remorso e culpa para atos cruéis e inflexibilidade com castigos e punições (disciplina paterna inconsistente). Ou seja, encontra-se à margem da normalidade psicoemocional e comportamental.
Embora popularmente a psicopatia seja conhecida como tal, ou como "sociopatia", cientificamente, a doença é denominada como sinônimo do diagnóstico do transtorno de personalidade antissocial. Também pode ser denominada de transtorno de caráter, transtorno sociopático, transtorno dissocial.
A psicopatia parece estar relacionada a algumas importantes disfunções cerebrais, sendo importante considerar que um só único fator não é totalmente esclarecedor para causar o distúrbio; parece haver uma junção de componentes. Embora alguns indivíduos com psicopatia mais branda não tenham tido um histórico traumático, o transtorno parece estar associado à mistura de três principais fatores:
- Disfunções cerebrais/biológicas ou traumas neurológicos
- Predisposição genética
- Traumas sociopsicológicos na infância (ex:abuso emocional, sexual, físico, negligência, violência, conflitos, separação dos pais, etc)
Todo indivíduo antissocial possui, no mínimo, um desses componentes no histórico de sua vida, especialmente a influência genética, entretanto, nem toda pessoa que sofreu algum tipo de abuso ou perda na infância irá tornar-se uma psicopata sem ter uma certa influência genética ou distúrbio cerebral; assim como é inadimissível afirmar que todo psicopata já nasce com essas características. Portanto, a junção dos três fatores torna-se essencial; há de se considerar desde a genética, traumas psicológicos e disfunções no cérebro (especialmente no lobo frontal e sistema límbico).
Saúde mental e implicação jurídica
Em 6 de abril de 2001, o presidente da República sancionou a Lei de Saúde Mental (lei 10.216), aprovada pelo Congresso Nacional, que ficou conhecida como a Lei da Reforma Psiquiátrica.
A regulação jurídica (civil e penal) não menciona especificamente a questão da capacidade civil dos indivíduos acometidos de transtorno mental. Os dois primeiros artigos da LSM, entretanto, tratam da defesa dos direitos do paciente. 
Art. 1°- Os direitos e a proteção das pessoas acometidas de transtorno mental, de que trata esta Lei, são assegurados sem qualquer forma de discriminação quanto à raça, cor, sexo, orientação sexual, religião, opção política, nacionalidade, idade, família, recursos econômicos e ao grau de gravidade ou tempo de evolução de seu transtorno, ou qualquer outra.
Art. 2° - Nos atendimentos em saúde mental, de qualquer natureza, a pessoa e seus familiares ou responsáveis serão formalmente cientificados dos direitos enumerados no parágrafo único deste artigo.
Incapacidade relativa e absoluta
No que se refere à legislação civil, a capacidade está relacionada à práti­ca dos atos da vida civil, tais como, contrair matrimônio e ad­ministrar bens.
O novo Código Civil apresenta a seguinte exposição de motivos:
Após diversas revisões na tentativa de se distinguir a incapacidade relativa e absoluta, chegou-se a seguinte posição apoiada pela psiquiatria e psicologia.
Incapacidade absoluta - "enfermidade ou retardamento mental“
Incapacidade relativa - "fraqueza da mente“ 
O Código Civil, em seus artigos 1º e 3º, trata do tema:
Art. 1° - Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil.
Art. 2° - São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil:
I - os menores de 16 anos;
II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos;
III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade.
À exceção do inciso I, que contém uma cláusula objetiva, o inciso II apresenta em sua primeira parte causas oriundas de distúrbios psíquicos, e na segunda parte causas orgânicas. O III inciso aludi os casos que se apresentam em estado comatoso ou traumatismos. Esses casos impedem o discernimento do indivíduo e a prática dos atos da vida civil. Sendo para estes, necessária à represen­tação, que visará suprir a capacidade.
Motivação e necessidade
O querer da vontade é sempre um querer motivado, além de intelectualizado. Motivação pode-se entender como o conjunto dos meus motivos, quer dizer, de tudo aquilo que, a partir do meu interior, me move a fazer (e a pensar e a decidir). Pode expressar também a ajuda que me presta outra pessoa para reconhecer os meus motivos dominantes, a ter outros mais elevados, a retificar motivos torcidos (não retos ou corretos), a ordená-los ou hierarquizá-los.
A nossa vontade necessita de razões e motivos. Um motivo é o efeito da descoberta de um valor. Há, pois, uma estreita relação entre motivos e valores.
O processo de interdição do indivíduo 
- A deficiência mental é diferente da enfermidade mental. O deficiente mental tem um déficit de inteligência, de cognição, que pode ser congenito ou adquirido. É um modo de ser. Já a doença mental é um processo patológico da mente. É um quadro de loucura ou psicose. É um modo de estar. São, também, considerados enfermidade mental os estágios deficitários adquiridos ao longo da vida, como por exemplo, as diferentes formas de demências e a demência pós-traumática.
- Necessário destacar que, nos casos de processo de interdição, o juiz deverá interrogar o interditando, conforme alude o Código de Proces­so Civil:
Art. 1.181. O interditando será citado para, em dia designado, comparecer perante o juiz, que o examinará, interrogando-o minuciosamente acerca de sua vida, negócios, bens e do mais que lhe parecer necessário para ajuizar do seu estado mental, reduzidas a auto as perguntas e respostas. 
Como relatam Fiorelli e Mangini (2010 pgs. 111, 112 e113), é importante explicitar que tal interrogatório é muito especial, pois servirá para produzir a certeza do juízo; por outro lado, é importante dar a devida atenção à pessoa que estará sendo interrogada; explicar-lhe o que faz ali e o que irá acontecer. Muitos vão para o interrogatório e parecem gravemente desorientados em função de sua patologia e dos ritos processuais.
- Nos casos relacionados à matéria civil, é comum a atuação da equipe técnica, formada de psi­cólogo e do serviço social jurídico, como perito do juízo ou assistente técnico das partes em ações que envolvem guarda de menores, regulamentação de visitas, adoção, separação conjugal, perda do poder familiar, entre outras (em geral, na área de família). Para cada caso acompanhado, forma-se uma equipe interdisciplinar que deve promover, entre outras coisas, o levantamento de informações sobre o sujeito em conflito com a lei. 
Essas informações referem-se ao histórico jurídico do sujeito em questão, histórico de saúde (se houve internações psiquiátricas e/ou tratamento nos centros de atenção à saúde mental) e histórico sócio-familiar. A partir das informações colhidas e compartilhadas, confecciona-se um laudo que é encaminhado ao juiz.
­- Silva (2003, p. 31) afirma que a principal função do psicólogo é a perí­cia judicial, realizando diligências específicas para diagnosticar aspectos conflitivos da dinâmica familiar e consubstanciar seus resultados e con­clusões em laudo, documento que será anexado ao processo, segundo as regras processuaise éticas.
Código Penal 
Do ponto de vista penal existe o dilema, amplamente discutido, sobre se uma personalidade doente é imputável, especialmente se é de origem psicótica. Mesmo que se trate de uma personalidade doente (exemplos: pessoas sádicas, violadoras, etc.) há tendência para sustentar que há uma punição correspondente, dado que, mesmo doente, a pessoa mantém consciência dos seus atos e pode evitar cometê-los. A imputabilidade penal implica que a pessoa entenda a ação prati­cada como algo ilícito, ou seja, contrário à ordem jurídica e que possa agir de acordo com esse entendimento, compreensão esta que pode es­tar prejudicada em função de psicopatologias ou, ainda, de deficiências cognitivas.
O direito penal usa como formas de classificar a capacidade mental do agente: entendimento por parte do agente se o ato que ele cometeu é ilegal e se mesmo sabendo que é ilegal, consegue se autodeterminar, ou seja, consegue não cometer o ato. Os psicopatas, no entanto, muitas vezes conseguem entender que seus atos são errados, porém não conseguem se autodeterminar com relação ao seu entendimento, ocasionando com isso os crimes bárbaros, podendo os psicopatas tornarem-se assassinos em série.
Aula 4: Crenças Sociais
Premissa
As crenças compartilhadas por determinado grupo têm origem em obras filosóficas e nesse aspecto se volta o estudo sobre estereótipos e preconceitos sociais nas diversas experiências e vivências dos grupos.
Por intermédio da percepção, as vivências históricas e sócio-culturais se tornam presentes à nossa consciência, gerando a afetividade e as ações que determinada experiência permite ter. A realidade age sobre nós se for apreendida e internalizada. 
Define-se estereótipo social como crença coletivamente compartilhada acerca de algum atributo, característica ou traço psicológico, moral ou físico atribuído extensivamente a um agrupamento humano, formado mediante a aplicação de um ou mais critérios, como por exemplo, idade, sexo, inteligência, filiação religiosa e outros.
Sobre crenças e preconceito
Quando associados a sentimentos, os estereótipos sociais passam a constituir estruturas psicológicas de maior complexidade caracterizadas como atitudes e preconceitos sociais. 
Assim, a articulação entre estereótipos sociais, favoráveis ou desfavoráveis, e sentimentos, de aceitação ou rejeição, dos grupos humanos visados, produz, na ocorrência combinada de crenças e sentimentos positivos, atitudes sociais que geram o preconceito social e conseqüentemente a discriminação. 
Dependendo da natureza de suas crenças, pessoas edificam visões de mundo distorcidas, perigosas para a saúde física e mental, delas e dos que convivem com elas. O poder da crença é tamanho que as expectativas do indivíduo afetam até o efeito de substâncias psicoativas (MYERS, 1999, p. 152). 
Crenças arraigadas desempenham um papel fundamental na maneira de ver o mundo e responder aos estímulos. Crenças reconhecidas como verdades absolutas incorporam-se à cultura da sociedade; não bastam leis ou programas esporádicos para modificá-las.
Exemplo clássico encontra-se na pessoa que ingere bebida alcoólica para se excitar sexualmente, quando se sabe que o álcool possui propriedades inibidoras da função sexual. 
Representações e estereótipos
Segundo Serge Moscovici (2003), as representações, obviamente, não são criadas por um indivíduo isoladamente. Uma vez criadas, contudo, elas adquirem uma vida própria, circulam, se encontram, se atraem e se repelem e dão oportunidade ao nascimento de novas representações, enquanto velhas representações morrem (Moscovici, 2003). 
As representações, os estereótipos, são ingredientes importantes do caldo sócio-cultural. Segundo esse psicólogo, é extremamente importante que consideremos que as representações sociais são capazes de influenciar o comportamento do indivíduo e, dessa forma, gerar movimentos que englobem uma coletividade.
Segundo Albert Ellis, citado em Fiorelli, 2010, o comportamento é a consequência de eventos ativadores sobre pensamentos, cognições e ideias do indivíduo. Ellis considera que a causa dos problemas humanos encontra-se nas crenças irracionais, que levam as pessoas a um estado de não adaptação ao seu meio ambiente. Dominado por elas, o indivíduo processa as informa­ções, muitas vezes, em flagrante incoerência com os dados de que dispõe e/ou é conduzido a adotar comportamentos inadequados, prejudiciais a ele mesmo. Esse caso constitui um exemplo (descrito em Fiorelli, 2010).
Estereótipos: a base cognitiva do preconceito
Na base do preconceito, estão as crenças sobre características pessoais que atribuímos a indivíduos ou grupos, chamadas de estereótipos.
Quando nossa primeira impressão sobre uma pessoa é orientada por um estereótipo, tendemos a deduzir coisas sobre a pessoa de maneira seletiva ou imprecisa, perpetuando, assim, nosso estereótipo inicial.
Nossos limitados recursos cognitivos, diante de um mundo cada vez mais complexo, é que nos fazem optar por estes atalhos, que se às vezes nos poupam, cortando significativamente o caminho, em outras, nos conduzem aos indesejáveis becos do preconceito e da discriminação.
Rotulação
A rotulação seria um caso especial do ato de estereotipar. Em nossas relações interpessoais, facilitamos nosso relacionamento com os outros se atribuirmos a eles determinados rótulos capazes de fazer com que certos comportamentos possam ser antecipados.
Exemplo: Quando um gerente rotula um empregado de "preguiçoso", ele "prevê" determinados comportamentos que este empregado deverá exibir frente a certas tarefas.
Profecia auto-realizadora: induzir o rotulado a se comportar da maneira que esperamos.
Exemplo: Um programa de televisão realiza entrevista com adolescentes louras, fazendo perguntas em que não existe uma resposta certa. Após a resposta, geralmente errada, colocava o som de um burro relinchando. Tal programa estava procurando confirmar a idéia de que “toda loura é burra”.
Ideologia inconsciente
Conjunto de crenças que aceitamos implícita e não conscientemente. Um exemplo disto pode ser visto nas relações de gênero. 
Gênero é determinado pelo processo de socialização e outros aspectos da vida em sociedade e decorrentes da cultura, que abrange homens e mulheres desde o nascimento e ao longo de toda a vida - diferenças de gênero são socialmente construídas.
Estereótipos e gênero
Papeis pré-determinados para homens e mulheres.
Exemplos: 
• O estereótipo, ligando os homens às funções de "herói" e as mulheres às de "mães", está profundamente entranhado na cultura.
• A norma genérica dominante ainda exige dos homens que sejam machistas, narcisistas, onipotentes, impenetráveis e ousados. Qualquer desvio em relação a esta norma pode significar fracasso, debilidade ou sinal de homossexualidade.
Estereótipos e atribuição
O preconceito pode apresentar-se também via atribuição de causalidade.
A ação de uma pessoa -> Deduções acerca dos motivos que possam ter causado aquele comportamento. 
O preconceito frequentemente contamina nossas percepções.
Exemplo: um padre saindo de um prostíbulo. Você pode atribuir várias causas a esse evento. Pode considerar que o padre foi ao prostíbulo para atender uma pessoa, ou considerar que o padre foi ao prostíbulo para se divertir. Essas atribuições dependerão da sua crença.
Preconceito
Se o estereótipo é a sua base cognitiva, os sentimentos negativos em relação a um grupo constituiriam o componente afetivo do preconceito, e as ações, o componente comportamental.
O preconceito é uma atitude: uma pessoa preconceituosa pode desgostar de pessoas de certos grupos e comportar-se de maneira ofensiva para com eles, baseada em uma crença segundo a qual possuem características negativas.
Uma atitude composta: 
• de sentimentos (componente afetivo),
• predisposições para agir (componente comportamental) e
• de crenças (componente cognitivo).
*O preconceito poderia ser definido como uma atitude hostil ou negativa com relação a um determinado grupo, não levando necessariamente, pois, a atos hostis ou comportamentos persecutórios.Discriminação
Refere-se à esfera do comportamento (expressões verbais hostis, condutas agressivas etc.).
Sentimentos hostis + Sentimentos hostis = Deságuam numa atuação que pode variar de um tratamento diferenciado a expressões verbais de desprezo e a atos manifestos de agressividade.  
Aula 5: As transformações sociais e culturais da família
As transformações pelas quais passou a família, a partir do século XVIII, permitiram que os conceitos e práticas relacionadas à maternidade e aos cuidados maternos tivessem sua construção social modificadas.
As contribuições científicas, que tiveram como fio condutor os discursos médicos, colaboraram para uma nova forma de relação mãe-filho, através da importância atribuída às características especificas do papel materno, e mais recentemente, do lugar de pai.
A Medicina, por meio das famílias, instituiu novas configurações que influenciaram e modelaram o comportamento e o modo de os indivíduos perceberem o mundo. 
Os sistema de Valores introduzidos nas famílias modificaram:
- O comportamento
- a memória
- a percepçao
- a forma de se relacionarem
- a sensibilidade
Áries (1981), Badinter (1985) e Donzelot (1986) compartilham da mesma ideia ao se referirem à exaltação do amor materno, descrito anteriormente como instintivo e natural, e o concebem como sendo um acontecimento recente dentro da civilização ocidental. Segundo esses autores o amor materno foi um mito construído com o auxílio do discurso médico, político e filosófico a partir do século XVIII. 
Desse modo, percebe-se que o valor atribuído ao relacionamento mãe-filho não foi uma constante e que tiveram alterações no decorrer da história, sendo que as variações derivadas das concepções e práticas relacionadas à maternagem tiveram sua origem em uma série de agenciamentos sociais em que o discurso científico teve importância fundamental.
Relativa, porque ela só se concebe em relação ao pai e ao filho.
Tridimensional, porque, além dessa dupla relação, a mãe também é mulher, isto é, um ser específico dotado de aspirações próprias” (Badinter, 1985 – pg. 25).
É impossível compreender as modificações do papel materno sem mencionar os demais membros da microssociedade familiar.
- O homem-pai é focalizado e todos os poderes lhe são atribuídos pelo sistema ideológico.
- A mãe apresenta-se em um papel secundário, condição que a assemelha à criança, ou seja, sua condição seria de submissão à autoridade paterna. O homem, então, seria percebido como superior à mulher, diferença que lhe conferia uma autoridade natural sobre a esposa e os filhos. 
De acordo com os imperativos sociais, foram determinados os papéis respectivos do pai, da mãe e do filho, delineando as suas funções conforme as necessidades e valores dominantes de uma dada sociedade. 
A partir do século XVIII, quando a sociedade passa a interessar-se pela criança, por sua sobrevivência e educação, as atenções se voltam para a mãe, que se torna a figura fundamental, em detrimento do pai. Em ambos os casos, a mãe modifica o seu status relativo em função do filho e do marido. Segundo os padrões estabelecidos pela sociedade, a maternidade será valorizada ou depreciada e a mulher classificada como boa ou má mãe (BADINTER, 1985). Desse modo, assiste-se a mudança progressiva do foco ideológico, que se desloca da autoridade paterna ao “amor materno”.
Comparando as formas de organização familiar do século XVIII com as posteriormente encontradas e que se tornaram predominantes no período moderno, verifica-se que a organização familiar sofreu modificações significativas e que predominou, nesse período, sentimentos de ternura e intimidade ligando pais e filhos.
Quanto às relações conjugais, essas passaram a ser realizadas sob a égide dos novos ideais: e. 
Libertários e Igualitário
Uma vez que o casamento por contrato não era mais conveniente a tais ideais, passou a ser consagrado com base no amor. 
As relações conjugais, dando ênfase à felicidade, ganharam importância para a família. A conscientização social, com relação ao sentimento da família e da infância, provocou mudanças importantes nas relações entre marido-esposa e pais-filhos (Badinter, 1985), apontando para uma dispersão da responsabilidade com os menores, incluindo na equação todos os agentes: 
Pai, Mãe, Estado e demais instituições : e não mais um ou outro, como historicamente observado.
Como já abordado anteriormente, a criança passa a ser o centro da atenção familiar, a mulher reclusa ao espaço privado é coroada a “rainha do lar” e o homem ganha, além do espaço público, a função de provedor financeiro da família. 
Dentro desses ideais nasce a família moderna dividida em dois mundos distintos:
Privado: O espaço privado desenvolveu uma nova forma de reclusão feminina, o que proporcionou e redefiniu em termos de socialização e comportamento, as fronteiras do feminino e do masculino. Socialmente a mulher foi definida como não tendo os requisitos necessários para o mundo público, sua atuação restringindo-se às relações na família, como filha e esposa. 
Público: Em contrapartida, o espaço público, domínio masculino, se definiu pelos princípios universalistas, igualitários do mercado e posteriormente da cidadania (VAITSMAN, 2001).
A institucionalização da família conjugal moderna construiu-se com base em uma cultura familiar em que se enfatizava a privacidade, o amor materno e a criança, “fazendo da mulher a própria encarnação de tudo aquilo que a vida privada e familiar passou a significar no imaginário social” (VAITSMAN, 2001, P. 14). 
Dentro desse contexto, a mulher é segregada das novas formas de sociabilidade pública onde as atividades:
Administrativas, políticas, artísticas, educacionais, científicas, culturais e empresariais: e são desempenhadas: 
A família conjugal moderna que se pautava no casamento legal e indissolúvel, em que os indivíduos manifestavam a liberdade das escolhas pessoais, vê-se em um dilema devido ao constrangimento pelos papéis que são definidos no exercício da individualidade de cada um. A construção desse modo de vida impediu a igualdade entre os gêneros bem como a conquista feminina da cidadania, estando, a mulher, subordinada legalmente ao marido. 
A desigualdade entre homem e mulher, que foi edificada com base na dicotomia entre o público e o privado e na divisão sexual do trabalho, passou a ser o campo fértil à manifestação dos conflitos conjugais. Segundo Perrot (1990), as mudanças levaram a uma ambiguidade no comportamento familiar, o que foi denominado pela autora de “ninho e nó”. 
Ninho porque constituía “o refúgio caloroso, centro de intercambio afetivo e sexual, barreira contra agressões exteriores”. 
E nó, porque se tornou o espaço de constantes conflitos.
Quando a divisão sexual do trabalho é redefinida e a mulher passa a reivindicar a igualdade e conquista um novo espaço de atuação que não se limita somente ao privado, passando a desempenhar vários papéis no espaço público e em sua vida cotidiana, muitas mulheres deixam de reduzir as suas aspirações ao casamento e aos filhos (VAITSMAN, 2001 e PERROT, 1990).
Essas transformações abalaram com o padrão institucionalizado do casamento, qual seja, a eternidade das relações sustentada pela ideia da indissolubilidade do matrimônio. 
A noção de eternidade das relações e dos sentimentos, uma vez abaladas, proporcionou maior instabilidade e insegurança e um número elevado de separações. “O casamento e a família passaram a desfazer-se e refazer-se continuamente” (VAITSMAN, 2001, P. 16). 
Esse comportamento assumido pela família na atualidade não parece muito diferente do modelo de casamento ocorrido nas sociedades ocidentais, antes da época romana, em que pelo menos ao homem era dado o direito de dissolvê-lo e de recomeçar. Se por alguma razão o casamento não atingisse a sua finalidade, como por exemplo, por motivos de esterilidade, era dissolvido e a mulher voltava para a casa da família. 
Foi dentro desse contexto que o casamento ocidental se desenvolveu e chegou ao modelo indissolúvel que hoje é praticado “sob formas laicizadas,tornadas mais leves pela possibilidade do divórcio, mas fixados pelo direito” 
(ÁRIES, 1987, P. 164).
Pode-se inferir que família e sociedade estão em um permanente processo de mutação, em que existe uma influência recíproca para as suas transformações. Seja qual for a prevalência que um organismo exerce sobre o outro, o fato é que a família, assim como a sociedade, se baseia em relações. 
Pessoais
Grupais
Patrimoniais
Em decorrência dessas relações, o Direito teve fundamental desenvolvimento, exercendo uma de suas funções precípuas de prevenir e compor conflitos. 
Desse modo, cabe a pergunta:
Qual foi a abordagem jurídica aplicada aos conflitos conjugais e quais as consequências jurídicas para os descendentes (filhos)? 
Embora o Direito tivesse por finalidade a resolução dos conflitos, o Código Civil Brasileiro, datado de 1916, perpetuava a ideia de submissão da mulher e a divisão dos papéis desempenhados socialmente nas relações conjugais. O Código Civil somente admitia como entidade familiar aquela instituída pelo casamento, livre de impedimentos e cumpridas as formalidades legais. Afirmava ainda que o matrimônio era o sustentáculo da família, cabendo ao Direito de Família as relações familiares que compreendiam o casamento, o poder familiar, a tutela e a curatela (Barbosa, 2001 e Fachin, 1999).
O casamento era visto como um vínculo indissolúvel entre os cônjuges e no período da República somente era reconhecido o casamento civil. A lei civil que pautava a sua orientação, no sentido de ser família somente aquela constituída pelo casamento, em 1934, transforma-se em norma constitucional (BARBOSA, 2001).
O matrimônio era o único laço legítimo e legal de constituir família e somente quem era ligado por tal vínculo tinha a proteção do Estado. Essa concepção gestada sob influência sócio-religiosa manteve-se desde o Código Civil até a Constituição Federal de 1988 de forma quase indivisa, impondo valores e produzindo contradições. O casamento repousava sobre o nítido interesse procriativo e de continuidade da família, em que o papel de cada um dos partícipes estava bem definido: “ao homem, competia à chefia da sociedade conjugal, administrar o patrimônio familiar, nesse compreendido os bens do casal, além de reger a pessoa e bens dos filhos menores na medida em detinha, com exclusividade, o poder familiar” (Barbosa, 2001, P. 67). 
A mulher cabia, como mera reprodutora, a administração da casa e a criação dos filhos. Ao se casar, tornava-se relativamente incapaz, o que lhe conferia uma posição de inferioridade em relação ao marido, uma vez que os atos da vida civil dependiam de autorização do marido para que fossem exercidos, como por exemplo, o direito à profissionalização, ou seja, o marido é quem autorizava a profissão da mulher (BARBOSA, 2001 e FACHIN, 1999).
As relações que ocorriam fora do casamento eram: 
Moral, Civilmente e social: REPROVADAS
A virgindade da mulher era de fundamental importância como parâmetro de sua honra e honestidade. As mulheres que não preservavam a sua virgindade eram oprimidas e desprezadas por uma sociedade cheia de preconceitos e de dupla moral. Indignas aos olhos da sociedade, pela perda de sua virgindade, eram marginalizadas, privando-se do direito de participar do mercado do casamento, em que a sociedade perpetuava a ideia da virgindade como um supremo bem de troca 
(AZEVEDO, 1981).
As mulheres ofendidas em sua honra poderiam exigir do ofensor uma indenização pelo dano moral, isto é, quando esse não era reparado pelo casamento. O casamento reparava o dano civil e penal causado à mulher. 
A instituição familiar, aquela constituída pelo casamento, recebeu especial atenção da lei penal que objetivava preservar a família. O Código Penal, até 1942, penalizava com maior rigor o adultério cometido pela esposa, uma vez que esse ato poderia possibilitar a introdução de prole espúria no casamento. 
Quanto ao adultério cometido pelo homem somente os casos de concubinato “teúdo e manteúdo” eram penalizados, o que pressupõe uma maior liberdade para relacionamentos extras conjugais. 
As relações que não se baseavam no casamento traziam consequências para os filhos, que eram discriminados e classificados de acordo com a situação jurídica dos pais. e. e os espúrios os nascidos de pessoas impedidas de se casar. Na designação de filhos espúrios, ainda, englobavam-se duas outras denominações:
Os filhos nascidos na constância do casamento -> eram os legítimos
Os nascidos fora dessa situação jurídica (casamento) -> eram denominados de ilegítimos
Os quais se subdividiam em duas categorias:
Naturais: Naturais eram os filhos nascidos de relacionamentos em que não havia impedimentos matrimoniais.
Espúrios: Os espúrios eram os nascidos de pessoas impedidas de se casar. Na designação de filhos espúrios, ainda, englobavam-se duas outras denominações: a de adulterinos e a de incestuosos (BARBOSA, 2001).
Os filhos ilegítimos não recebiam proteção legal, ou seja, não tinham sua filiação assegurada pela lei.
Dentre os ilegítimos -> Os adulterinos
 -->tiveram uma longa jornada de exclusão do mundo jurídico até 1988 não podiam ser reconhecidos.
 -> Os incestuosos 
Até esse momento histórico o que se percebe é que os interesses de preservação da família sobrepõe-se aos interesses dos seus membros, sobretudo o da criança, que é sacrificada em prol das conveniências dos seus genitores. 
A família, com o advento da Constituição de 1988, passou a ser reconhecida, não somente com base na identidade instituída pelo matrimônio. Assim, além da família oriunda do casamento, passou-se a admitir a união estável como entidade familiar e a família monoparental, aquela formada por qualquer um dos pais e seus descendentes (Barbosa, 2001 e Fachin, 1999).
A Constituição Federal de 1988 descreve em seu artigo 226:
- “§3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento”.
 “§4º Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes”.
“§5º Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher.”
 Houve, portanto, uma grande transformação na estrutura do casamento, introduzida pela plena igualdade no exercício dos direitos e deveres na sociedade conjugal, extinguindo-se a tradicional família patriarcal. 
Muda-se a conformação do triângulo pai-mãe-filhos, sendo reconhecidos também como família os filhos havidos ou não da relação de casamento, ou por adoção, aos quais foram atribuídos iguais direitos e qualificações, proibida qualquer designação discriminatória. Descreve a Constituição Federal em seus artigos 226 e 227 respectivamente.
A família muda, mudam as pessoas que a compõem, mudam seus motivos, que passam a ser, de meramente procriativos, à união de pessoas por afeto e amor. 
Na nova paisagem, não mais se distingue a família pela existência do matrimônio, solenidade que deixou de ser o seu único traço diferencial. O casamento transformou-se de um aspecto meramente contratual, econômico ou de procriação, para uma opção livre, em que as pessoas baseiam e buscam em suas ligações o sentimento de amor, respeito e confiança recíproca, independente de sexo, cor, posição econômica ou religiosa (HIRONAKA, 1999). 
O casamento, que antes era considerado um meio seguro para a reprodução, agora é constituído em um ambiente no qual prevalece o companheirismo, dando lugar, e se impondo, o sexo recreativo sobre o reprodutivo.
Assim foi que, no século XX, as reivindicações foram dirigidas para a livre disposição do seu corpo, de seu ventre, de seu sexo. Os slogans feministas retratavam a luta por essa liberdade enunciando os seus desejos por meio da seguinte expressão: " Ter um filho quando eu quero, como eu quero"
O movimento feminista, a partir da década de 60, não reivindicava somente as questões relacionadas à desigualdadeno exercício de direitos: Políticos, Trabalhistas e Civis
Questionava também as desigualdades das raízes culturais.
Dessa forma, denunciava a crença na inferioridade “natural” da mulher, calcada em fatores biológicos. Questionava assim a discriminação social, segundo a qual, o homem e a mulher estariam predeterminados, por sua natureza, a cumprir papéis opostos na sociedade: ao homem é delegado o mundo externo e à mulher o interno  (ALVES, 1980).
Desaprova essa diferenciação de papéis, reivindicando a igualdade em todos os níveis, seja no mundo externo, seja no âmbito doméstico. Revela que esta ideologia encobre na realidade uma relação de poder entre os sexos, e que a diferenciação de papéis baseia-se mais em critérios sociais do que biológicos. 
O masculino e o feminino -> são criações culturais 
E, como tal, são comportamentos apreendidos através do processo de socialização que condiciona diferentemente os sexos para cumprirem funções sociais especificas. 
Aprendemos a ser homens e mulheres e a aceitar como “naturais” as relações de poder entre os sexos. 	
- A menina, assim, aprende a ser: Doce;Obediente; Passiva; Altruísta; Dependente. 
- Enquanto o menino aprende a ser: Agressivo; Competitivo; Ativo; Independente.
Dessa forma, as feministas refutam esta ideia de inferioridade da mulher como sendo fruto de fatores biológicos, assim sendo sua história é passível de transformação (Belotti, 1975).
A luta contra a discriminação implica na criação de uma nova identidade, em que não se determinem papéis estabelecidos para os sexos; que homens e mulheres possam ser livres dos condicionamentos sociais para manifestarem atividade e passividade, força e fraqueza, permitindo que tais comportamentos possam fazer parte da natureza contraditória de todo ser humano.
Em suma, foi através de lutas e rupturas, destruindo e construindo, que a família ganhou uma nova feição:
Sua constituição e manutenção sustentam-se na existência de laços afetivos e não mais na moral religiosa ou na imposição social com ênfase na preservação do patrimônio e da propriedade de bens materiais e humanos. 
Significa dizer que as rupturas que ocorreram nos últimos anos deslocaram os alicerces sobre os quais a família era entendida. 
Os novos são novos desafios. 
Aula 6: Infância e juventude: intersetorialidade no poder judiciário
Evolução institucional da assistência: século XVIII
Marcílio (1997) e Venâncio (1997) relatam que no século XVIII, além da prática de se enviar crianças para outros lares, existia, principalmente na realidade brasileira, o abandono de crianças em lugares públicos (terrenos baldios, praças, portas de igrejas, conventos e residências), entregues a qualquer sorte. A banalização do abandono e a necessidade de propiciar assistência aos enjeitados provocaram a preocupação da sociedade brasileira e das autoridades.
Do período colonial até meados do século XVIII, o que vigorou no Brasil foi a fase caritativa. No que diz respeito a essa fase, foi a sociedade civil, organizada ou não, que teve grande atuação em prol da criança desvalida ou sem família. Sua ação, de inspiração religiosa, baseava-se na caridade e beneficência com o objetivo de receber as benções da salvação e o reconhecimento social, minorizando o sofrimento dos mais desvalidos por meio de esmolas ou por uma boa ação.
Na fase caritativa, três formas de assistência e de políticas sociais foram apresentadas: duas formais e uma informal. O primeiro sistema formal oficialmente responsável em prover a proteção às crianças abandonadas foram as Câmaras Municipais.
Posteriormente, as municipalidades passaram as responsabilidades dos expostos para a Misericórdia local, liberando as Câmaras desses encargos. Criou-se, na Misericórdia local, o segundo sistema formal de proteção à infância abandonada: a instituição da Roda na Casa dos Expostos, que consistia em um dispositivo de madeira onde se depositava o bebê rejeitado. O cilindro era então girado e o bebê recolhido após o toque de uma sineta avisar de sua existência.
O terceiro sistema de proteção à infância abandonada, o informal, consistia no recolhimento de crianças deixadas nas portas das residências, igrejas ou outros locais. Esse sistema perpassa por toda a nossa história com significados variáveis e foi amplamente aceito e praticado por diversas famílias, em muitos momentos.
Rizzini (2000), em suas reflexões sobre o processo histórico de proteção à criança e ao adolescente, retrata que a preocupação com a assistência a essa população se restringia aos casos de crianças órfãs e enjeitadas. As medidas adotadas eram da iniciativa privada de origem religiosa e filantrópica. As crianças que faziam parte desse universo eram submetidas a medidas que visavam à correção, através da punição. As instituições não estavam preocupadas em fornecer a formação educacional à criança e ao adolescente.
Desde o Império, a assistência caritativa, que se manifestava através do domínio religioso, criava instituições para acolhimento de enjeitados. Esse domínio declinou quando do advento da República, fase em que caridade e filantropia começaram a se confrontar, levando à ruptura entre os dois modelos (RIZZINI, 1993). O Estado, a partir de então, se tornou presente nas questões que envolviam proteção e assistência aos menores. A criança e o adolescente abandonados passaram a receber assistência e proteção do Estado sob a continua forma de institucionalização.
A atuação do Estado se evidencia a partir do envolvimento de outros atores sociais (médicos, higienistas, políticos e juristas) nas questões que dizem respeito à criança abandonada e sua família. Podemos, a partir dessa participação de outros atores, estimar a extensão do cuidado institucional às crianças e adolescentes não abandonadas, mas em situação de risco, como uma consequência lógica da existência de uma estrutura funcionalmente apta ao atendimento e formação de profissionais voltados à proteção.
No Brasil, assim como na Europa, foi à aliança entre a família e o poder médico que associou à mulher a figura da “mãe higiênica”. A produção da “mãe higiênica” só foi possível com o discurso higienista que condenou tanto o aleitamento mercenário como responsabilizou pela mortalidade infantil os cuidados dispensados por amas e lacaios negros.
A sociedade da época negava o aleitamento materno, o que foi percebido pelos higienistas como uma infração às leis da natureza, o que permitiu a culpabilização das infratoras. Ao se curvar diante dos imperativos lançados pelo discurso higienista, as mulheres se viram confinadas por um longo período ao ambiente doméstico. A amamentação propiciou que se regulasse a vida da mulher, não só pelo tempo prolongado de sua prática, mas também, porque sua atenção voltou-se à educação e à vigilância da criança e da família. A partir do século XIX, a sociedade brasileira adquiriu um novo modelo em que os cuidados maternos passaram a ser valorizados e a manifestação do “amor materno” tornou-se desejável e “natural” (COSTA, 1999). 
Dentro dessa visão, a distinção entre a criança rica e a pobre permanece bem delimitada. Assim, no início do século XX, houve um deslocamento do foco das atenções no qual a infância sem família começava a exigir um aparato jurídico que pudesse corresponder aos novos tempos. Surgiram, então, os primeiros Tribunais de Menores, destinados ao atendimento do controle das crianças abandonadas, excluídas das escolas e da família: os menores. De um lado, estava a infância, cuja família e a escola cumpririam a função de socializar e controlar; do outro lado os menores cujo controle sócio penal pertencia aos tribunais. A doutrina irregular, que fora lançada no século XIV e XV, com o surgimento das grandes instituições, continuava a predominar e se institucionalizava cada vez mais (MARCÍLIO, 1997).
No entanto, o problema da infância abandonada ganhava dimensões internacionais com a Liga das Nações Unidas, em 1924 — a Primeira Carta de Direitos Universais da Criança — que foi aperfeiçoada e ampliada em 1959, com a Declaração Universaldos Direitos da Criança, da ONU. A partir daí, a criança ganhava o status de sujeito de Direito.
Por fim, o Estado assumia a responsabilidade pela assistência e proteção à infância desvalida. O Estado do Bem-Estar Social fundamenta-se nos Direitos Universais da Criança, proclamado pelas Nações Unidas. Desse modo, o Estado protetor atua no sentido de garantir todos os direitos: direito à vida e à saúde; à liberdade, respeito, dignidade; à convivência familiar e comunitária; à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer; e à profissionalização e à proteção ao trabalho (XAUD, 2002; GONÇALVES, 2002).
Ao nível nacional, várias leis foram produzidas com o intuito de promover a assistência e proteção à infância abandonada e aos delinquentes. A primeira legislação elaborada com o objetivo de propiciar medidas de proteção foi o Código de Menores de 1927, montado exclusivamente para o controle da infância e da adolescência abandonada e delinquente, que estabelecia em seu Art. 1º.
Várias críticas foram dirigidas ao seu conteúdo, que objetivava assegurar a ordem e a disciplina, excluindo e confinando de forma autoritária essa população de abandonados. Em seu universo, direitos humanos são violados, uma vez que os menores são submetidos a medidas judiciais sem direito a intervir em sua própria vida, ou seja, sem direito de expressar a sua vontade (RIZZINI; PILLOTI, 1995).
Em 1979, instituiu-se, através da lei nº 6697/79, o novo Código de Menores, que trazia em seu arcabouço teórico o mesmo paradigma do código anterior, não havendo modificações, exceto pela introdução do conceito de “Menor em Situação Irregular”. Acrescentando a expressão estigmatizada “menor”, em substituição à criança pobre, e o delinquente passa a ser definido através da noção de “situação irregular”.
Durante todo esse percurso da historia, encontra-se um universo semeado de grande violência institucional. Em nome da suposta integração social, da ordem, da educação, da disciplina, da saúde, da justiça, da assistência social, do combate ao abandono e a criminalidade, as ações se revezam para consagrar os castigos e as punições em um sistema de crueldade. O espaço institucional era dedicado a práticas de espancamento e agressões (BAZÍLIO, 2003).
Com o objetivo de cumprir as funções mencionadas, o Estado brasileiro criou vários órgãos públicos especializados, mas que se mostraram ineficientes e incompetentes na ação política e pela sua descontinuidade. Cronologicamente, foram criados: em 1919, o Departamento Nacional da Criança, que deveria controlar a assistência a criança carente; em 1941, o Serviço Nacional de Menores (SAM), para assistir aos menores carentes e os menores infratores.
A partir da década de 1960, especificamente em 1964, com os militares assumindo o poder, é que se introduziu o Estado do Bem-Estar com a criação da Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor (FUNABEM). Tendo como objetivo básico “formular e implantar a política nacional do bem-estar do menor, mediante o estudo do problema e do planejamento das soluções, e a orientação, a coordenação e a fiscalização das entidades que executem essa política” (Novo código de Menores, Lei Nº 6.697, de 10/10/1979).
Na década de 80, novos horizontes abrem o caminho para a modificação do “status quo”. A sociedade se mobiliza em prol dos menos favorecidos, daqueles que foram mutilados no seu direito de manifestar qualquer atitude, pois estavam subjugados aos ditames do poder e da exclusão social.
Vários segmentos sociais indignaram-se com o quadro relatado que se caracterizava como violento e apresentava constantes violações aos direitos humanos daqueles que estavam sob a tutela institucional.
Diversas instâncias organizadas começaram a pedir a revisão imediata do código. As reivindicações se sustentavam, sobretudo na modificação da legislação em vigor, na concentração dos poderes nas mãos dos juízes e a solicitação a não internação (BAZÍLIO, 2003).
Constituição Federal de 1988 e a Convenção das Nações Unidas
Sob este cenário começou-se a travar a luta pelo retorno ao estado de direito.
O país passava por uma redemocratização, e a preocupação com a causa do menor ganhava nova dimensão, que se consolidou com a Constituição Federal de 1988 e a Convenção das Nações Unidas, de 1989 sobre os direitos da criança, direitos esses contidos no Art. 227 da Constituição. (É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.)
Direitos da criança e do adolescente
Sob Com o advento da nova Constituição de 1988, foi possível acirrar a demanda pelos direitos da criança e do adolescente. A Constituição Federal, em seu artigo 227, afirma que será, “com absoluta prioridade”, que deverá assegurar os direitos às crianças e aos adolescentes. O novo ordenamento jurídico trazia em seu conteúdo a extinção do estigma que era preconizado pelo Código de Menores, através da noção pobreza – delinquência. 
Desse modo, pode-se pensar, então, no novo texto de lei chamado Estatuto da Criança e do Adolescente. Perante a lei, todas as crianças e adolescentes passaram a ter direito ao exercício da cidadania, como sujeitos de direito e de desenvolvimento.
Um novo papel: vendedor e consultor de vendas
Com toda essa ênfase constitucional, fazia-se necessário transformar, também, a legislação vigente (Código de Menores) em um documento que pudesse secundar seus preceitos. Visando atingir tal objetivo, o Código de Menores foi revogado, dando lugar à Lei Federal 8.069, de 13 de julho de 1990, que passa a garantir os direitos fundamentais e a proteção integral à criança e ao adolescente. O Estatuto da Criança e Adolescente (ECA), diferentemente da lei anterior, que se limitava aos menores em situação irregular, abrange toda criança e adolescente em qualquer situação jurídica. Verifica-se a modificação na doutrina que passa de “doutrina de situação irregular” para “doutrina de proteção integral à infância” dentro desta perspectiva não só os abandonados e delinquentes seriam abarcados, mais também, todas as crianças, de qualquer classe social, vitimas ou não da ação ou omissão. Essa ideia, de proteção integral à criança e ao adolescente, encontra-se expressa no artigo 5º da referida Lei. (Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade, opressão, punido na forma da lei, qualquer atentado, por ação ou omissão aos seus direitos fundamentais. )
No que concerne ao abandono de crianças e adolescentes, o Estatuto descreve no artigo 34.(O poder público estimulará, através de assistência jurídica, incentivos fiscais e subsídios, o acolhimento, sob forma de guarda, de crianças ou adolescentes órfãos ou abandonados. )
Aula 7: Crianças e adolescentes em situação de rua
Convivência familiar e convivência comunitária
É amplamente reconhecida a importância da família, nos seus mais diversos arranjos, no cuidado e no bem estar de seus membros, pois é este o lócus privilegiado e primeiro a proporcionar a garantia de sobrevivência a seus integrantes, especialmente aos mais vulneráveis, como as crianças, os idosos e os doentes. Neste sentido, o direito à convivência familiar e comunitária é um dos direitos fundamentais de crianças e adolescentes brasileiros. Tanto a Constituição Federal quanto o ECA definem o direito à convivência familiar e comunitária como sendo um direito fundamental ao lado do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade (Constituição Federal artigo 227 e ECA artigo 19).
O abrigamento, em instituição é uma das medidas de proteção aos direitos de crianças e adolescentes estabelecidas no artigo 101 do ECA. Sua aplicação – por decisãodo Conselho Tutelar e por determinação judicial – implica na suspensão do poder familiar sobre crianças e adolescentes em situação de risco e no seu afastamento temporário do convívio com a família. De acordo com os artigos 22 e 24 do Estatuto, a medida extrema de suspensão do poder familiar deve ser aplicada apenas nos casos em que, injustificadamente, os pais ou responsáveis deixarem de cumprir seus deveres de sustento e de proteção aos seus filhos, em que as crianças e adolescentes forem submetidos a abusos ou maus tratos ou devido ao descumprimento de determinações judiciais de interesse dos mesmos.
No entanto, além de excepcional, a medida também tem caráter provisório, tendo-se sempre como objetivo último o retorno da criança ou do adolescente abrigado a sua família de origem no mais breve prazo possível. Isso requer que, enquanto durar a aplicação da medida, sejam empreendidos esforços no sentido de manter os vínculos dos abrigados com suas famílias e de apoiá-las para receber seus filhos de volta e para exercer de forma adequada as suas funções. 
*Enquanto as crianças e os adolescentes tiverem que permanecer nos abrigos, a legislação indica que outros esforços devem ser feitos no sentido de propiciar o direito à convivência familiar e comunitária para esta população, quer seja por meio da colocação em família substituta por meio da guarda, quer pela vivência em abrigos mais semelhantes a uma residência e mais acolhedores, que proporcionem atendimento individualizado e personalizado para crianças e adolescentes que lá vivem É importante frisar que a criança ou o adolescente que vive em um abrigo, por melhor que seja este, está com seu direito de convivência familiar e comunitária violado. 
Desde sua promulgação em 1990, o ECA vem exigindo das instituições que trabalham na área da atenção a crianças e adolescentes o início de um processo de mudanças em direção à sua adequação aos princípios da doutrina da proteção integral. O norte das mudanças deveria ser a superação do enfoque assistencialista, fortemente arraigado nos programas de atendimento, em direção a modelos que contemplassem ações emancipatórias, com base na noção de cidadania e na visão de crianças e adolescentes como sujeitos de direitos. Especial ênfase é dada à garantia do direito à convivência familiar e comunitária, que representa uma das principais privações a que são submetidas as crianças e os adolescentes abrigados em entidades. 
Embora a atribuição de promover o direito à convivência familiar e comunitária não seja exclusiva das instituições de abrigo e sim de toda a rede de atendimento à criança e ao adolescente, incluindo o judiciário, o ministério público, os conselhos tutelares e de direitos e o próprio poder executivo de todas as esferas (nacional, estadual e federal), existem ações que podem ser realizadas pelos abrigos enquanto as crianças e adolescentes ali permanecerem. 
Por exemplo, as instituições de abrigo têm a importante atribuição de manter vivo o vínculo da criança abrigada com seu núcleo familiar de origem por meio da realização de ações que aproximem as famílias das crianças e vice-versa. Da mesma forma, os programas de abrigo devem se transformar em instituições semelhantes a uma organização familiar, buscando oferecer atendimento personalizado para crianças e adolescentes que lá vivem. 
Crianças na rua
Vivenciar a rua como meio real de subsistência, não expropria crianças e adolescentes do fato de pertencerem a esta fase particular do desenvolvimento humano, bem como dos significados específicos trazidos por esta etapa da vida. 
 Apesar de terem na rua seu espaço principal, estes indivíduos são crianças e adolescentes como outros quaisquer, com inúmeras necessidades, próprias desta fase de acelerado desenvolvimento físico, psíquico, moral, intelectual, interacional, afetivo, entre outros. Raramente o espaço que ocupam, a rua, traz subsídios adequados para o enfrentamento, com um mínimo de sucesso, desta etapa da vida em direção a construção do indivíduo pleno e cidadão. 
*Desta forma, concordamos plenamente com a afirmação de MEDEIROS (1995, P. 07):  “Não podemos perder de vista que mesmo muitas vezes rotuladas pela sociedade como antissociais e infratores, são crianças e adolescentes que se encontram em suas respectivas fases de crescimento e desenvolvimento, e também que apesar de permanecerem pelas ruas sujeitas aos riscos pessoais e sociais característicos do universo da rua, nem sempre compõem um grupo naturalmente predisposto ao crime e à marginalidade”. 
Refletindo sobre os agravos individuais e sociais da questão crianças e adolescentes em situação de rua, observamos uma problemática de saúde pública, no entanto muito pouco interpretada como tal. A exemplo disso basta observarmos o caráter das políticas sociais destinadas a essa população. 
Inúmeros estudos (Souza Neto, 1993; Minayo, 1993; Medeiros, 1995; Medeiros & Ferriani, 1995; Gregori & Silva, 2000) se propõem a compreender a questão do abandono social da infância e adolescência em nosso país, e com uma contribuição significativa na construção de conhecimento possibilitador da compreensão deste fenômeno social. 
Estes mesmos estudos apontam para a necessidade de conhecermos as especificidades locais, onde temos esta realidade social, na contribuição para ações que possuam maiores possibilidades de sucesso (MINAYO, 1993; MEDEIROS, 1999). 
Crianças e adolescentes em abandono social e vivendo em situação de risco são uma realidade de nossa sociedade, que deve ser analisada sob os olhos de nossa conjuntura social, levando em consideração a historicidade desta questão, movida por acontecimentos sociais, interesses políticos e econômicos. Representam a concretização e legitimação do abandono social da infância, poderíamos dizer do descompromisso do Estado para com a família e para o papel social que esta possui. 
Acreditamos que a denominação “crianças e adolescentes em situação de rua” é, dentre os inúmeros termos encontrados, o que melhor expressa a real condição destes indivíduos, que não pertencem à rua, mas encontram neste espaço uma circunstância de vida. Graciani (1997) compreende este grupo como oprimidos e relegados pelo sistema social e não como marginais sociais, e que a classificação “de” e “na” rua expressa uma categoria social que tem a rua como um território de vida e de trabalho, como resultado de um processo social de dominação, exploração e de exclusão. 
A questão do abandono social da infância e adolescência se insere em um contexto social, político, econômico e cultural extremamente complexo, em uma relação dinâmica e direta de causa e efeito; e intervenções destinadas a modificações desta realidade terão maiores chances de sucesso quando abordarem esta complexidade em todos os seus aspectos. 
Porém, em nossa sociedade temos a necessidade urgente de intervenções direcionadas diretamente às consequências da ineficácia político-social da estrutura de nosso país, sendo as políticas de atenção à criança e ao adolescente uma necessidade no intuito de amenizar esta realidade, representando uma outra possibilidade de vida para estes sujeitos que vivenciam este fato. 
No entanto, temos evidências de que as políticas de atenção à criança e adolescente em situação de rua em nosso país são marcadas por uma trajetória de enorme descompasso político entre discurso legal, ideologias e práticas, ações governamentais e não governamentais desarticuladas, com as mais diversas concepções sobre questão do abandono social da infância. Temos ainda, uma infinita vulnerabilidade às mudanças políticas, o que inviabiliza a consolidação dos programas e o crescimento dos mesmos, junto às ações que propõem realizar. Contamos também com a escassez de recursos materiais e humanos, e como não fosse pouco, presenciamos ainda a rivalidade entre as diferentes instituições responsáveis pela teorização e prática destas ações sociais (SOUZA NETO, 1993; GREGORI & SILVA, 2000). Aliados a estes fatores, Medeiros (1999) aponta, ainda, a questão do despreparo dosprofissionais para lidarem com a criança e o adolescente em situação de abrigo. 
Acreditamos na importância das instituições de atenção a crianças e adolescentes em situação de rua, não como instituições responsáveis pela resolução da questão do abandono social, mas como locais destinados à minimização dos danos causados por esta problemática. Na medida do possível, são locais que têm a responsabilidade de atuarem de forma preventiva dentro deste contexto, além de possuírem o papel social de reflexão coerente e multifacetada deste fenômeno social. 
Para a defesa dos direitos das crianças e adolescentes à convivência familiar e comunitária, é fundamental fortalecer o Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente, por meio do apoio técnico e/ou financeiro dos órgãos do Poder Executivo e Judiciário e da implantação e implementação, em todos os municípios brasileiros, dos Conselhos de Direitos e Tutelares.
Mas é preciso ainda ir além, criando e reordenando as modalidades de atendimento para que sejam adequadas à promoção do direito à convivência familiar e comunitária. De fato, o Brasil é um país com tradição de responder com a institucionalização nos casos de situação de vulnerabilidade de crianças e adolescentes. Esta tradição foi historicamente forjada na desvalorização social da parcela da população a que pertencem, em sua grande maioria em situação de pobreza e procedente de etnias não brancas, e na adaptação dessa população aos padrões considerados aceitáveis de relacionamento familiar e de socialização da prole.
A colocação de crianças e adolescentes em instituições como medida de proteção contra os desvios causados pelas condições sociais, econômicas e morais das famílias em situação de pobreza ou como medida corretiva de desvios, ao longo da história brasileira, cristalizou as experiências das chamadas instituições totais, onde crianças e adolescentes viviam sob rígida disciplina e afastados da convivência familiar e comunitária, visto que quase todas as atividades pertinentes a suas vidas eram realizadas intramuros. Experiências de atendimento a crianças e adolescentes em situação de rua mostram também essa realidade, com a existência de espaços de acolhimento institucional que mantém as crianças e adolescentes afastados de suas famílias e comunidades.
A situação das entidades de abrigos para crianças e adolescentes
O Levantamento Nacional de Abrigos para Crianças e Adolescentes do Ministério do Desenvolvimento Social mostrou que a institucionalização se mantém, ainda nos dias atuais, como caminho utilizado indiscriminadamente – e, muitas vezes, considerado o único possível – para a “proteção” da infância e da adolescência, demonstrando que o princípio da excepcionalidade da medida de abrigo, contemplado de maneira expressa pelo Art.101, par. único, do ECA, não vem sendo respeitado.
De acordo com o referido estudo, existem cerca de vinte mil crianças e adolescentes atendidos nas 589 instituições de abrigos beneficiados com recursos do Governo Federal repassados por meio da Rede de Serviços de Ação Continuada (Rede SAC). Os dados levantados mostram características típicas de exclusão social, apontando que os abrigos no Brasil são o locus da pobreza e da desvalorização social. Ressalta-se ainda que o perfil de meninos e meninas encontrados nessas instituições em nada corresponde às expectativas da sociedade para adoção, cuja preferência recai nos bebês da cor branca e do sexo feminino.
Vivendo nos abrigos do País encontram-se, na maioria, meninos (58,5%), afrodescendentes (63%) e mais velhos, isto é, com idade entre 7 e 15 anos (61,3%). Contrariando o senso comum que imaginava serem órfãos as crianças e adolescentes que vivem nos abrigos, o Levantamento Nacional também mostrou que a grande maioria deles (86,7%) tem família, sendo que 58,2% mantêm vínculos com os familiares. Apenas 5,8% estão impedidos judicialmente desse contato com eles e somente 5% são órfãos. 
Embora a carência de recursos materiais, de acordo com o ECA (Art.23, caput), não constitua motivo para a perda ou suspensão do poder familiar, o Levantamento Nacional identificou que as causas que motivaram o abrigamento da expressiva parcela das crianças e adolescentes encontrados nas instituições de abrigos estavam relacionadas à pobreza, consequência da falha ou inexistência das políticas complementares de apoio aos que delas necessitam. Entre os principais motivos: a pobreza das famílias (24, 2%), o abandono (18,9%), a violência doméstica (11,7%), a dependência química dos pais ou dos responsáveis, incluindo alcoolismo (11,4%), a vivência de rua (7,0%) e a orfandade (5,2%). 
Aula 8: Vulnerabilidade social
Introdução
Propusemo-nos, neste texto, a analisar a vulnerabilidade com base em dois casos concretos divulgados pela mídia - jornal. 
Os casos relatados descrevem a situação de vulnerabilidade de famílias e crianças em razão das condições sócio/econômicas em que se encontram. 
A situação de desigualdade social que assola o país, e que se agrava, impede, nesses casos, o acesso a bens e serviços básicos na garantia da sobrevivência. 
O resultado é o comprometimento do espaço de vida e das relações sociais, oriundo das carências às quais estão expostas, fazendo com que os mecanismos de proteção, que são escassos, tenham alcance cada vez mais limitado. 
Definição
O termo vulnerabilidade costuma ser associado à pobreza, como se esta pobreza fosse o fator preponderante para a sua existência. 
Embora o quadro socioeconômico seja apontado como principal desencadeador da vulnerabilidade, não podemos deixar de enxergar outros fatores que também contribuem para fenômeno. 
*Segundo alguns autores como Ayres (1999), Rizzini (2010) e Marandola (2006), fatores tais como diferença de gênero, exclusão social, desastres naturais, doenças, deficiências, nutrição, escolaridade, informação etc, contribuem para minorar, ou agravar a situação de vulnerabilidade.
A vulnerabilidade pode estar associada a diversos contextos de vida e assume diferentes configurações quando contrastadas com as condições sociais, psicológicas, políticas, econômicas e culturais vivenciadas pelos sujeitos. 
Pretende-se, aqui, articulá-la aos dois casos concretos que retratam condições de famílias abandonadas e, específica e consequentemente, de crianças abandonadas, que se tem notícia através dos meios de comunicação. 
As reportagens a seguir têm como objetivo apontar a vulnerabilidade a que famílias pobres estão expostas, pela falta de acesso a bens materiais (moradia, alimentação, vestuário) e na garantia de direitos, ante a ausência de políticas públicas. 
A relação do Serviço Social com os movimentos sociais 
Desassistidas pelas políticas públicas, essas famílias encontram dificuldade em responder às necessidades básicas de seus membros, ainda mais para criar alternativas que favoreçam o fortalecimento da família.
1- O Jornal “O Globo”, em 10 de julho de 2005, descreveu a história de Maiara, uma jovem que deu à luz à terceira geração de uma família marcada pelo abandono. A história começa com a Srª. Vicentina Vasconcelos Pintos, 39 anos, mãe de Maiara. A Srª. Vicentina separou-se do Sr. Wanderley, pai de Maiara, quando a filha tinha apenas três anos de idade. Sem dinheiro e dizendo não agüentar mais as agressões do marido, ela chegou às ruas pela primeira vez em 1990, para uma série de idas e vindas. A história continua com Maiara Vasconcelos Ferreira, 18 anos, e segue com o nascimento dos seus dois filhos. A vida das três gerações está marcada pelo desamparo social e pela rotina de sobrevivência nas ruas. A vida de Maiara foi constituída de uma infinidade de passagens por abrigos e internatos: devido à instabilidade da mãe, teve como lar os abrigos durante o período de sua infância, até a sua fuga para as ruas, que se deu aos 14 anos de idade. As crianças e jovens de rua provêm não só de famílias afetivamente desorganizadas, mas também socialmente desassistidas.
2- O Jornal “O Dia”, em 8 de fevereiro de 2006, noticiou o abandono de um recém-nascido no

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