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Zetética e Dogmática no Direito Penal

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DOGMÁTICA E ZETÉTICA COMO MECANISMOS DE AMPLIAÇÃO DO 
ENTENDIMENTO NORMATIVO PENAL 
Renato Alves de Marchi1 
Manuela Braga Galindo2 
RESUMO: O direito não deve ser visto como mecanismo rígido e inflexível, porém 
obviamente ele não é maleável no sentido estrito da palavra. Neste processo para confirmação 
e flexibilização das normas utiliza-se as teorias da dogmática e da zetética. Reiteradamente, 
para que algo se transforme no direito, existe muita resistência até que se encontre nos 
conflitos dos conceitos alguns pontos convergentes, e consequentemente surgimento de novas 
linhas doutrinárias, interpretativas, e até mesmo novas legislações. Entende-se por teoria 
dogmática aquela que pretende refletir uma posição firme, consolidada e inquestionável em 
suas premissas sobre determinado assunto. Em contrapartida temos a zetética que carrega 
consigo a capacidade de perguntar, criticar, duvidar, buscando assim questionar as ideias em 
debate. Diante do exposto percebe-se que os conceitos dogmáticos e zetéticos são 
fundamentais para o alcance de mudanças normativas. O presente artigo busca esclarecer 
como os conceitos dogmáticos e zetéticos podem ser mecanismos de quebra de paradigmas e 
que trabalhando em conjunto são capazes de ampliar os horizontes do entendimento 
normativo penal, tomando, para isso, o paradigma do princípio da insignificância. 
Palavras-chave: Direito, Dogmática, Zetética, Penal. 
ABSTRACT: The law should not be seen as rigid and inflexible, but obviously it is not 
malleable in the strict sense of the word. In this process of relaxation of standards it uses the 
theory of dogmatic and zetética. Repeatedly for something to become the law there is much 
resistance until it is in conflict of concepts some converging points, and thus the emergence of 
new lines doctrinaire, interpretive, and even new laws. It is understood by dogmatic theory 
that you want to reflect a firm position, consolidated and unquestioned in their assumptions 
about certain subject. On the other hand we have the zetética that carries with it the ability to 
ask, criticize, doubt, thus seeking to question the ideas under discussion. Given the above it is 
clear that the dogmatic concepts and zetéticos are fundamental to the achievement of 
 
1 Aluno do curso de graduação em Direito da Faculdade Devry João Pessoa. Email: renato-
marchi@hotmail.com. 
2 Mestre e Doutoranda em Direitos Humanos pelo PPGCJ/UFPB. Professora do Departamento de Ciências 
Jurídicas da UFPB e da Faculdade de Devry João Pessoa. Email: manuelabraaga@gmail.com. 
regulatory changes. This article seeks to clarify how the dogmatic concepts and paradigms 
can be zetéticos breaking mechanisms and working together are able to broaden the horizons 
of criminal normative understanding. 
Keywords: Law, Dogmatic, Zetetic, Criminal Law. 
 
INTRODUÇÃO 
A criação normativa e aplicação do direito, assim como o próprio estudo do 
direito de forma geral, necessita das teorias da dogmática e da zetética. É a intercessão entre 
ambos os enfoques que permite que o direito cumpra com seus propósitos fundamentais, tais 
como a garantia da ordem e da certeza na decisão de conflitos, bem como aplicação da justiça 
social. 
A dogmática surge como certeza impondo suas afirmações como verdades 
inquestionáveis, já na zetética impera a dúvida que busca a tudo indagar, perquirir e 
questionar. A dogmática parte do princípio do autoritarismo, aplicado pelo Estado em face da 
sociedade, por meio de leis, o Estado cria a legislação e a sociedade é obrigada a cumprir. Já a 
zetética procura se relacionar com a investigação e com a dissolução, através do 
questionamento, das opiniões já formadas. Estas duas concepções formam a base de criação e 
aperfeiçoamento da legislação brasileira. 
Ambas atuam em todas as áreas do direito, porém este artigo se dedica a buscar 
sua aplicação clara no direito penal. O direito penal tem como objetivo proteger os bens 
jurídicos mais importantes, especialmente o direito à vida, o direito à liberdade e o direito de 
propriedade. Entretanto, historicamente em algumas situações em que a aplicação da pena, 
que é a consequência final do direito penal em determinados casos, não foi admitido pela 
sociedade como aplicação da justiça. Devido a isso, novos pensamentos e indagações 
culminaram em algumas decisões judiciais, as quais estariam aparentemente contrárias às 
normas vigentes, fazendo surgir algumas particularidades, especialmente no direito penal, 
como no caso do principio da insignificância que será tratado mais adiante neste artigo. Esse 
tipo de situação é paradigmática da influencia e importância dos questionamentos zetéticos 
em uma ciência, a rigor, dogmática, como o direito. 
Para demonstrar o defendido este artigo se divide em diversos momentos 
diferentes. No primeiro capítulo vai trabalhar a definição do que vem a ser dogmática; em 
seguida, é preciso compreender o que caracteriza a zetética; a partir daí, vai demostrar as 
diferenças e semelhanças entre ambas para, no último capítulo, tratar da influência da zetética 
no direito penal. 
1 DOGMÁTICA JURÍDICA 
A dogmática apresenta-se como uma certeza. Parte de princípio do 
autoritarismo, aplicado pelo estado em face da sociedade, por meio de leis, o estado cria a 
legislação e a sociedade é obrigada a cumprir, exemplo: “Matar alguém” pena de reclusão de 
6 a 20 anos, isso é dogmática, o estado impor regras para sociedade. 
Maria Helena Diniz descreve a importância da dogmática de forma sucinta e 
precisa: 
“A função social da dogmática jurídica está no dever de limitar as 
possibilidades de variação na aplicação do direito e de controlar a 
consistência das decisões, tendo por base outras decisões. Só a partir de um 
estudo científico-jurídico é que se pode dizer o que é juridicamente possível. 
O ideal dos juristas é descobrir o que está implícito no ordenamento jurídico, 
reformulando-o, apresentando-o como um todo coerente e adequando-o às 
valorações sociais vigentes.” 
Pode-se considerar a dogmática como um dos principais mecanismos de 
criação normativa. Impondo sua afirmação como uma verdade inquestionável, atribuindo à 
norma virtudes como segurança jurídica, estabilidade e efetividade na afirmação daquilo que é 
– ou deve ser – e do que não deve ser alvo de novas discussões. Ou seja, o propósito da 
perspectiva dogmática é a cristalização da norma no que se refere à sua abordagem material. 
Leonel Cesarino Pessoa define da seguinte forma: 
“Numa perspectiva dogmática, predomina o lado resposta. Isso significa que 
nem tudo pode ser objeto de questionamento. A investigação tem limites 
porque as questões abordadas são limitadas. Algumas das premissas – os 
dogmas – são tomadas como certas e mantidas fora de questionamento, e o 
resultado da investigação, em última instância, terá de manter relação com 
essas premissas que não podem ser afastadas.” 
Atribui-se a dogmática a característica da segurança científica, possibilitando 
solidez no avanço da ciência normativa, garantindo que novos pensamentos e teorias partam 
de um ponto irrefutável que é a essência dogmática da norma. Tercio Sampaio Ferraz Junior 
menciona tal característica da dogmática da seguinte maneira: 
“Ela explica que os juristas, em termos de um estudo estrito do direito, 
procurem sempre compreendê-lo e torná-lo aplicável dentro dos marcos da 
ordem vigente. Essa ordem que lhes aparece como um dado, que eles aceitam 
e não negam, é o ponto de partida inelutável de qualquer investigação. Ela 
constitui uma espécie de limitação, dentro da qual eles podem explorar as 
diferentes combinações para a determinação operacional de comportamentos 
juridicamente possíveis.” 
O jurista aqui caracteriza o paradigma restritivo da dogmática jurídica, que 
tenta operacionalizar o uso do direito no dia a dia de modoa garantir expectativas de 
resultados da sociedade. Expandir os limites do direito não é interessante do ponto de vista 
dogmático, pois preocupa a dificuldade em aplica-lo. 
São disciplinas dogmáticas, no estudo do direito, a ciência do Direito Civil, 
Comercial, Constitucional, Processual, Penal, Tributário, Administrativo, Internacional, 
Econômico, do Trabalho etc. Uma disciplina pode ser definida como dogmática 
à medida que considera certas premissas, em si e por si arbitrárias (isto é, resultantes 
de uma decisão), como vinculantes para o estudo, renunciando-se, assim, ao postulado 
da pesquisa independente. 
 Ao contrário das disciplinas zetéticas, cujas questões são infinitas, as 
dogmáticas tratam de questões finitas. Por isso podemos dizer que elas são regidas pelo 
que pode ser chamado de princípio da proibição da negação, isto é, princípio da não negação 
dos pontos de partida de séries argumentativas, ou ainda princípio da inegabilidade dos 
pontos de partida. Um exemplo de premissa desse gênero, no direito contemporâneo, é o 
princípio da legalidade, inscrito na Constituição, e que obriga o jurista a pensar os problemas 
comportamentais com base na lei, conforme à lei, para além da lei, mas nunca contra a lei. 
2 ZETÉTICA JURÍDICA 
Entende-se zetética como sendo uma metodologia investigativa e indagatória, 
com o objetivo de solucionar problemas teóricos. No que concerne ao âmbito do direito 
brasileiro, a zetética é aplicada como uma teoria de oposição à teoria dogmática do direito, 
isto é, toda estrutura de paradigmas e dogmas, tidos como verdades pela dogmática, podem 
ser questionados, reavaliados e até mesmo alterados, em face de influência zetética. 
Tal mecanismo questionador do direito preocupa-se com a dissolução das 
opiniões pela investigação e seu pressuposto básico é a dúvida, por serem mais abertas, suas 
premissas são dispensáveis, ou seja, podem ser substituídas caso o resultado dos 
questionamentos não seja satisfatório. 
Ferraz Jr. considera que o enfoque zetético tem como ponto de partida uma 
evidência, mutável, mas uma evidência que é admitida como maleável ou comprovável e por 
isso não é, ao menos momentaneamente, questionada. 
Já Theodor Viehweg (1907-1988) explica que as afirmações são tratadas como 
dogmata quando, em tese, são excluídas a longo prazo de um ataque, e por isso, não estão 
submetidas a nenhum dever de defesa, em contrapartida as certezas, que em toda investigação 
são utilizadas simplesmente como zetemata, em tese, estão liberadas a toda indagação, 
estando sujeitas a ambos os deveres: defesa x questionamento, ou seja, sempre são 
questionáveis. Por isso, na zetética as afirmações conclusivas chegam apenas a um final 
provisório. A zetética tem como papel principal examinar de forma critica os fundamentos 
que embasam a dogmática, conferindo condições para a revisão, adaptação e fundamentação 
racional de seus dogmas. 
Do ângulo zetético, o fenômeno comporta pesquisas de ordem 
sociológica, política, econômica, filosófica, histórica etc. Nessa perspectiva, o investigador 
preocupa-se em ampliar as dimensões do fenômeno, estudando-o em profundidade, sem 
limitar-se aos problemas relativos à decisão dos conflitos sociais, políticos, econômicos. 
Ou seja, pode encaminhar sua investigação para os fatores reais do poder que regem 
uma comunidade, para as bases econômicas e sua repercussão na vida sociopolítica, para um 
levantamento dos valores que informam a ordem constitucional, para uma crítica ideológica, 
sem preocupar-se em criar condições para a decisão constitucional dos conflitos máximos 
da comunidade. Esse descompromisso com a solução de conflitos torna a investigação 
infinita, liberando-a para a especulação. 
3 DOGMÁTICA X ZETÉTICA 
Os dois enfoques estão relacionados, mas as conseqüências são diferentes. Um, 
ao partir de uma solução já dada e pressuposta, está preocupado com um problema de 
ação, de como agir. Outro, ao partir de uma interrogação, está preocupado com um 
problema especulativo, de questionamento global e progressivamente infinito das premissas. 
Temos, portanto, duas possibilidades de proceder à investigação 
de um problema: ou acentuando o aspecto pergunta, ou acentuando o aspecto resposta. 
Se o aspecto pergunta é acentuado, os conceitos básicos, as premissas, os 
princípios ficam abertos à dúvida. Isto é, aqueles elementos que constituem a base para a 
organização de um sistema de enunciados que, como teoria, explica um fenômeno, 
conservam seu caráter hipotético e problemático, não perdem sua qualidade de tentativa, 
permanecendo abertos à crítica. Esses elementos servem, pois, de um lado, para delimitar o 
horizonte dos problemas a serem tematizados, mas, ao mesmo tempo, ampliam 
esse horizonte, ao trazerem esta problematicidade para dentro deles mesmos. 
No segundo aspecto, ao contrário, determinados elementos são, de antemão, 
subtraídos à dúvida, predominando o lado resposta. Isto é, postos fora de questionamento, 
mantidos como soluções não atacáveis, eles são, pelo menos temporariamente, assumidos 
como insubstituíveis, como postos de modo absoluto. Eles dominam, assim, as demais 
respostas, de tal modo que estas, mesmo quando postas em dúvida em relação aos 
problemas, não põem em perigo as premissas de que partem; ao contrário, devem 
ser ajeitadas a elas de maneira aceitável. 
No primeiro caso temos um enfoque zetético, no segundo, um enfoque 
dogmático. 
A visão dogmática busca a formação de opiniões, Já a zetética procura se 
relacionar com a investigação e com a dissolução, através do questionamento, das opiniões já 
formadas. Segundo a terminologia de Viehweg, citado por Ferraz Jr. em sua obra temos a 
dicotomia entre as duas teorias. 
“Não há uma linha divisória radical entre essas duas teorias, posto que toda 
investigação termine por acentuar um enfoque mais que outro, porém sempre 
se utilizando de ambas. a diferença entre elas é importante, uma vez que a 
dogmática está relacionada com o ato de opinar e ressalvar opiniões; já a 
zetética é oposta a isso, significa questionar as opiniões, colocá-las em 
dúvida. Assim temos que uma se preocupa mais com a pergunta e a outra 
mais com a resposta.” 
A título de exemplo, podemos tomar o problema de Deus na Filosofia e 
na Teologia. A primeira, num enfoque zetético, pode pôr em dúvida sua existência, pode 
questionar até mesmo as premissas da investigação, perguntando-se inclusive se a questão 
sobre Deus tem algum sentido. Nesses termos, seu questionamento é infinito, pois 
até admite uma questão sobre a própria questão. 
Já a segunda, a Teologia, num enfoque dogmático, 
parte da existência de Deus como uma premissa inatacável. Se for uma teologia cristã, 
parte da Bíblia como fonte que não pode ser desprezada. Seu questionamento é, pois, finito. 
Assim, enquanto a Filosofia se revela como um saber especulativo, 
sem compromissos imediatos com a ação, o mesmo não acontece com a Teologia, que tem 
de estar voltada para a orientação da ação nos problemas humanos em relação a Deus. 
Não obstante os conceitos serem opostos entre si a dogmática e a zetética tem 
sua função no sentido de serem complementares no âmbito jurídico brasileiro de forma geral, 
ou seja, no nosso ordenamento jurídico temos os dois conceitos trabalhando juntos na criação 
das normas. Enquanto um traz questionamentos que permitem a busca da equidade e da 
justiça social, a outra garante a firmeza da norma na resolução de conflitos. Ambas tem como 
fim a busca de uma crítica, assim como é o objetivo deste artigo expor estas teorias e 
relacionar como através delas o direito penal vem sendo modificado não como a norma em si, 
mas na aplicação dela. 
4 AMPLIAÇÃO DO ENTENDIMENTO NORMATIVO PENAL PELA ZETÉTICA 
O direito penal no ordenamento jurídicobrasileiro surge como uma norma 
residual onde sua aplicação apenas se dará caso nenhuma outra lei ou ramo da nossa 
legislação consiga proteger ou amparar o direito ou bem jurídico em questão. O direito penal 
busca resguardar os bens jurídicos mais importantes quais sejam o direito a vida, a liberdade e 
a propriedade. Contudo observando a aplicação das penas do código penal durante 
determinado período é notório que em algumas situações elas foram aplicadas de forma 
totalmente fora dos princípios da igualdade, razoabilidade, proporcionalidade e por vezes o 
emprego de sanções esteve a afrontar a própria dignidade humana. Preconizada pela 
Constituição Federal de 1988. 
“CF 88 Artigo 5º, incisos III (não submissão à tortura), VI (inviolabilidade da 
liberdade de consciência e de crença), VIII (não privação de direitos por 
motivo de crença ou convicção), X (inviolabilidade da vida privada, honra e 
imagem), XI (inviolabilidade de domicílio), XII (inviolabilidade do sigilo de 
correspondência), XLVII (vedação de penas indignas), XLIX (proteção da 
integridade do preso) entre outras.” 
Visto ser a dignidade humana o princípio norteador e balizador da nossa 
constituição, e por assim dizer de todo ordenamento jurídico brasileiro, temos que o direito 
penal, por vezes, ultrapassou este limite e em alguns casos, em que a determinação de 
punições advindas do direito penal foram vistas pela sociedade civil como excesso e não 
como execução do que seria justo e correto para aqueles casos. Surgiu dai a adoção do 
principio da insignificância pelo STF para que nestas situações onde embora na prática se 
enquadre perfeitamente na tipicidade penal vigente, no caso concreto a punibilidade seria uma 
verdadeira aberração ao princípio da dignidade humana por ser a lesão ao bem jurídico 
irrelevante. 
Temos o Princípio da Insignificância segundo o relator do Projeto de Lei 6.984 
de 2006, Deputado Eduardo Cunha. 
 “Caso a conduta venha a lesar de modo desprezível o bem jurídico 
protegido, não há que se falar em tipicidade material, o que transforma o 
comportamento em atípico, ou seja, indiferente ao Direito Penal e incapaz de 
gerar condenação ou mesmo de dar início à persecução penal.” 
Apresenta-se também neste sentido uma definição extraída do glossário do STF 
uma síntese do que seria o Princípio da Insignificância ou (crime de bagatela): 
“O princípio da insignificância tem o sentido de excluir ou de afastar a 
própria tipicidade penal, ou seja, não considera o ato praticado como um 
crime, por isso, sua aplicação resulta na absolvição do réu e não apenas na 
diminuição e substituição da pena ou não sua não aplicação. Para ser 
utilizado, faz-se necessária a presença de certos requisitos, tais como: (a) a 
mínima ofensividade da conduta do agente, (b) a nenhuma periculosidade 
social da ação, (c) o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do 
comportamento e (d) a inexpressividade da lesão jurídica provocada 
(exemplo: o furto de algo de baixo valor). Sua aplicação decorre no sentido 
de que o direito penal não se deve ocupar de condutas que produzam 
resultado cujo desvalor - por não importar em lesão significativa a bens 
jurídicos relevantes - não represente, por isso mesmo, prejuízo importante, 
seja ao titular do bem jurídico tutelado, seja à integridade da própria ordem 
social.” 
 Verifica-se então notadamente que a adoção deste princípio no direito penal 
ainda que sabidamente ele não esteja de fato inserido na lei penal, colabora no sentido de 
trazer resolução de conflitos, de forma a desconsiderar um determinado fato ainda que num 
primeiro momento se enquadrasse totalmente em um tipo penal, a lesão ao bem jurídico que 
se busca assegurar seja tão minúscula, que sequer fosse razoável se preocupar com sua 
punição. 
 Acertadamente o emprego de tal princípio confere ao ordenamento jurídico 
brasileiro o que reza em alguns dos seus preceitos mais básicos como a razoabilidade e a 
dignidade humana no tocante a uma pena ser necessária ou não, trata-se acima de todas estas 
questões a aplicação da coerência e do bom senso entre os operadores do direito. 
 Ainda se faz necessário ressaltar que o principio em questão deve posto em 
prática levando sempre em consideração o caso concreto para que assim seu uso não seja 
deturpado e não caia em descrédito, mas que ele seja aplicado com certas limitações, sem 
espaço para que a prática de pequenos delitos que na verdade são comprometedores da ordem 
e da paz social passem a ser considerados insignificantes. Nestes casos defende-se que a 
pretensão da punição penal seja determinada forma rigorosa e intimidadora. 
CONCLUSÃO 
Nas atividades jurídicas se faz necessário saber utilizar bem os conceitos 
advindos da dogmática e da zetética, apesar dos conceitos serem opostos entre si, pois juntos 
em nosso ordenamento jurídico eles tem função de serem complementares na resolução dos 
conflitos. É esperado daqueles que se ocupam do estudo e da aplicação do direito a habilidade 
para lidar com estes diferentes enfoques que englobam toda estrutura jurídica. 
É fato que existe um corpo de indivíduos que laboram e lecionam no meio 
jurídico que apenas se preocupam com o direito na forma dogmática. Não conseguem 
visualizar o motivo de algumas leis não serem aplicadas e mesmo assim continuarem a 
vigorar. Não se questionam como surgiu uma determinada legislação, qual o contexto 
histórico e social da mesma, quais eram os anseios do legislador ao criá-la e quais eram as 
reais necessidades sociais. Podemos dizer que são aqueles que se preocupam apenas em 
reproduzir e absorver o conteúdo e que, portanto, não são capazes de entender qual a real 
motivação de determinada lei de modo global. 
 O ideal é que aqueles que se ocupam do mundo jurídico, sejam aptos a 
enxergar e instruir outros a vislumbrarem os conceitos e a sua aplicação de forma 
contextualizada. O que gera muito mais solidez no conhecimento, não é questionar sem 
motivo, mas dar uma direção, um sentido e se aprofundar nas questões do direito para que seu 
entendimento e aplicação não sejam algo sem sentido no mundo real. Sempre se permitindo 
fazer alguns questionamentos, como por exemplo: Qual seria a motivação de determinada 
norma? Sua revogação se deu por quais motivos? Por que os órgãos da administração publica 
devem sempre recorrer de decisão judicial? 
 Conclui-se que pensar no direito desta forma desenraiza todo conformismo 
que limita e impossibilita o crescimento e ampliação do conhecimento. É imprescindível aos 
juristas a percepção de notar as circunstâncias ao seu redor, sempre contextualizando cada 
situação seja ela de direito ou não, sabendo que tudo no mundo está em constante mutação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
BRASIL. Constituição - CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. 
Brasília, DF, Senado Federal, 1988. 
FERRAZ JR., Tercio Sampaio. INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO: Técnica, 
Decisão, Dominação. 4ª edição. São Paulo: Atlas, 2003, p. 75 e seguintes. 
DIAS, Ádamo Brasil. INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL ENTRE A 
DOGMÁTICA E A ZETÉTICA. 2014. Disponível em: <https://jus.com.br /artigos/27374/ 
interpretacao-constitucional-entre-a-dogmatica-e-a-zetetica/3> Acesso em: 25 de Set. 2016. 
MAGALHÃES, Joseli de Lima. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA NO DIREITO 
PENAL. Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 1, n. 1, 19 nov. 1996. Disponível em: 
<https://jus.com.br/artigos/948>. Acesso em: 26 set. 2016 
CARVALHIDO, Ramon. O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA NO DIREITO 
PENAL. 2009. Disponível em: <http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/4962/O- 
principio-da-insignificancia-no-Direito-Penal>. Acesso em: 26 set. 2016

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