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Paternidade e cuidado Eduardo Schwarz Daniel Costa Lima UFSC 2018 Florianópolis UFSC 2018 Paternidade e cuidado Eduardo Schwarz Daniel Costa Lima Catalogação elaborada na Fonte. Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária responsável: Rosiane Maria CRB 14/1588 S411p Schwarz, Eduardo Paternidade e cuidado [recurso eletrônico] / Eduardo Schwarz, Daniel Costa Lima. -- Florianópolis : Universidade Federal de Santa Catarina, 2018. 67 p. : il. ; color. Versão adaptada do Curso de Atenção Integral à Saúde do Homem Modo de acesso: www.unasus.ufsc.br Conteúdo do módulo: Unidade 1: Gênero, paternidade ativa e os serviços de saúde. – Unidade 2: Pré-natal do parceiro. – Unidade 3: Paternidade e diversidade. ISBN: 978-85-8267-133-7 1. Saúde do homem. 2. Paternidade. 3. Cuidados de saúde. I. UFSC. II. Lima, Daniel Costa. III. Título. CDU: 364-7 Paternidade e cuidado www.unasus.ufsc.br Paternidade e cuidadoPaternidade e cuidado GOVERNO FEDERAL Presidente da República Ministro da Saúde Secretário de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES) Diretora do Departamento de Gestão da Educação na Saúde (DEGES) Coordenador Geral de Ações Estratégicas em Educação na Saúde Responsável Técnico pelo Projeto UNA-SUS UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA Reitor Ubaldo Cesar Balthazar Vice-Reitora Alacoque Lorenzini Erdmann Pró-Reitor de Pós-graduação Hugo Moreira Soares Pró-Reitor de Pesquisa Sebastião Roberto Soares Pró-Reitor de Extensão Rogério Cid Bastos Créditos Paternidade e cuidado 6 Paternidade e cuidado CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE Diretor Celso Spada Vice-Diretor Fabrício de Souza Neves DEPARTAMENTO DE SAÚDE PÚBLICA Chefe do Departamento Fabrício Augusto Menegon Subchefe do Departamento Maria Cristina Marino Calvo EQUIPE TÉCNICA DO MINISTÉRIO DA SAÚDE Coordenador Francisco Norberto Moreira da Silva Coordenadora - substituta Renata Gomes Soares ASSESSORES TÉCNICOS Juliano Mattos Rodrigues Michelle Leite da Silva Kátia Maria Barreto Souto Caroline Ludmilla Bezerra Guerra Cícero Ayrton Brito Sampaio Patrícia Santana Santos Créditos Thiago Monteiro Pithon GRUPO GESTOR Coordenadora do Projeto Sheila Rubia Lindner Coordenadora do Curso Elza Berger Salema Coelho Coordenadora de Ensino Deise Warmling Coordenadora Executiva Gisélida Garcia da Silva Vieira Coordenadora de Tutoria Carolina Carvalho Bolsoni AUTORIA DO MÓDULO Eduardo Schwarz Daniel Costa Lima REVISÃO DE CONTEÚDO Revisor Interno: Dalvan Antônio de Campos Antonio Fernando Boing Revisores Externos: Helen Barbosa dos Santos Igor Claber Paternidade e cuidado 7 Paternidade e cuidadoPaternidade e cuidado ASSESSORIA PEDAGÓGICA Márcia Regina Luz ASSESSORIA DE MÍDIAS Marcelo Capillé DESIGN INSTRUCIONAL Soraya Falqueiro IDENTIDADE VISUAL E PROJETO GRÁFICO Pedro Paulo Delpino ESQUEMÁTICOS Laura Martins Rodrigues DIAGRAMAÇÃO Paulo Roberto da Silva AJUSTES E FINALIZAÇÃO Adriano Schmidt Reibnitz REVISÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA E ABNT Eduard Marquardt Créditos PRODUÇÃO DE MATERIAL ONLINE Dalvan Antônio de Campos Naiane Cristina Salvi Cristiana Pinho Tavares de Abreu Thiago Ângelo Gelaim Rodrigo Rodrigues Pires de Mello PRODUÇÃO TÉCNICA DE MATERIAL: Lauriana Urquiza Nogueira Paternidade e cuidado 8 8 Paternidade e cuidado 9 9 Apresentação do curso Em todo o mundo, o cuidado das crianças continua sendo desproporcionalmente realizado pelas mulheres, o que, além de contribuir decisivamente para a desigualdade de gênero, também pode impactar negativamente o desenvolvimento de meninas e meninos, que cres- cem com uma rede de atenção e proteção mais limitada. Reverter esse quadro é tarefa não apenas de homens e mulheres, mas da sociedade como um todo, sendo a saúde um campo muito importante neste contexto. Em 2015, a campanha global Men Care lançou o documento “Situação Mundial dos Pais” (State of the World’s Fathers) (LEVTOV et al., 2015), o primeiro relatório a congregar resul- tados globais de pesquisas e exemplos de programas e políticas públicas relacionados ao envolvimento dos homens com a paternidade e o cuidado. Uma das informações apresen- tadas pelo relatório pode parecer, à primeira vista, trivial: “A maioria dos homens é ou será pai em algum momento e praticamente todos eles possuem algum tipo de conexão com suas filhas e filhos” (LEVTOV et al., 2015, p. 240). No entanto, como evidencia o seu conte- údo, este assunto é, na verdade, complexo e de grande importância social. No Brasil, até a década de 1980, com raras exceções, os pais e a paternidade eram praticamente invisíveis na área da saúde, não sendo contemplados nos currículos dos seus cursos, ou em suas ações, programas e políticas. Aos poucos, o assunto tem atraído mais atenção, em espe- cial no campo dos direitos sexuais e reprodutivos, da saúde infantil e da saúde do homem. Apesar dos claros obstáculos enfrentados pelo tema, as iniciativas aqui realizadas por or- ganizações da sociedade civil, da academia e por instituições governamentais têm atraído Paternidade e cuidado 10 10 atenção internacional. As ONG – Organizações Não-Governamentais – Instituto Papai e Insti- tuto Promundo, por exemplo, desenvolvem pesquisas, campanhas e ações voltadas à popula- ção masculina desde o fim da década de 1990, com o intuito de trabalhar em prol da igualdade de gênero. Um número crescente de pesquisadores e núcleos acadêmicos tem levado a temá- tica de gênero, masculinidades e paternidade, articuladas com a saúde, para as universidades e pós-graduações. No campo das políticas públicas, em 2009, o Brasil lançou a pioneira Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH) (BRASIL, 2009), que tem a “Paterni- dade e Cuidado”, como um de seus eixos prioritários. Neste sentido, a PNAISH, mediante a atuação nos aspectos socioculturais e pautada pela perspectiva de gênero, enfatiza de forma inequívoca que a incorporação dos pais e da paterni- dade pelos serviços, gestores, trabalhadores e profissionais do Sistema Único de Saúde (SUS) têm o potencial de trazer benefícios para a saúde das mulheres, das crianças e dos homens. A paternidade pode ser estratégica para a inserção dos homens na agenda dos serviços de saúde, à medida em que atua como uma “porta de entrada positiva” para estes, podendo contribuir para os direitos sexuais e reprodutivos e para uma melhor qualidade de vida e saúde familiar. É importante destacar que um dos obstáculos à saúde dos homens é por um lado a relutância de muitos deles em adotar um estilo de vida mais saudável e em frequen- tar regularmente os serviços de saúde, sobretudo os da Atenção Básica (AB) em saúde. Por outro lado, também é importante considerar que estes mesmos serviços de saúde ainda apresentam barreiras culturais, simbólicas e institucionais que dificultam o acesso qualita- tivo e quantitativo desta população. Apresentação do curso Paternidade e cuidado 11 11 Ao usar a palavra família deve-se ter em mente a diversidade que existe para além do mo- delo tradicional, onde ambos os pais (pai e mãe) vivem juntos em uma casa com seus filhos e filhas. Pai > Quando for utilizado neste curso o termo “pai”, “pais” e “paternidade”, não estará referindo- -se apenas a relação entre um homem e seu filho ou filha pelo laço sanguíneo, mas também a ou- tras relações – padrastos, avôs, tios, irmãos mais velhos, amigos etc. – que tantas vezes ocupam este papel, desempenhando a função paterna com carinho, amor e compromisso. Numa definição mais abrangente, família é “qualquer grupo de indivíduos que formam uma família com base no amor, respeito e carinho e fornece suporte para manter o seu bem-es- tar” (BOZETT apud LIMOGE; DICKINSON, 1992, p. 46). Exemplos de outros tipos de família incluem: famílias homoparentais,monoparentais, pluriparentais, pais residentes e não resi- dentes, pais divorciados, adotivos, padrastos, avós (PROGRAMA, P., 2014, p. 30). Em razão sobretudo de determinantes econômicos, segundo o Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2011) a formação tradicional – pai, mãe, filhos/as – vem dando lugar a novas formas de relacionamento e organização familiares. A formação tra- dicional está presente em 49,9% dos domicílios enquanto que outros tipos de famílias são responsáveis por 50,1%. No Brasil, já são mais de 10 milhões de famílias em que há só a mãe ou o pai. Apresentação do curso Paternidade e cuidado 12 12 Paternidade e cuidado 13 13 Objetivos de aprendizagem e carga horária Este curso aborda a importância do envol- vimento dos homens através da paternida- de ativa em todas as etapas da gestação e do desenvolvimento infantil, bem como a importância deste tema para o acesso com qualidade dos homens aos serviços de saúde da Rede SUS. Objetivos de aprendizagem para este curso Ao final deste curso o aluno deverá ser ca- paz de reconhecer a importância do envol- vimento dos futuros pais, como também daqueles homens que já são pais e podem revivenciar de outros modos a paternida- de em todas as etapas da gestação, par- to, puerpério, cuidados relacionados ao desenvolvimento da criança, bem como saúde e bem-estar de mulheres, homens e crianças. Carga horária de estudo recomendada para este curso 30 horas Paternidade e cuidado 14 14 Paternidade e cuidado 15 15 Sumário Unidade 1 Gênero, paternidade ativa e os serviços de saúde 17 1.1 Gênero, masculinidades e a paternidade ativa 19 1.2 Paternidade ativa 22 1.3 A equipe de saúde e a paternidade ativa 26 Unidade 2 Pré-natal do parceiro 33 2.1 O acolhimento do pai e parceiro 37 2.2 Passo a passo do pré-natal do parceiro 39 2.3 Pais de filhos e filhas prematuros e o Método Canguru 43 Unidade 3 Paternidade e diversidade 45 3.1 Paternidade entre homens jovens e adolescentes 48 3.2 Homoparentalidade 51 3.3 Paternidade em famílias monoparentais 54 Encerramento do curso 60 Referências 62 Sobre os autores 67 Paternidade e cuidado 16 UN1 Gênero, paternidade ativa e os serviços de saúde Paternidade e cuidado 18 18 Paternidade e cuidado 19 UN1 Gênero, paternidade ativa e os serviços de saúde Para iniciar o estudo desta etapa, é importan te lembrar que para a saúde do homem faz parte o bem estar com sua fa- mília. Nesta unidade, você vai se familia- rizar com alguns contextos relacionados a sua vivência, seja pessoal, seja profis- sional. Você vai perceber e discutir com seus co- legas que o homem e as mulheres sofrem alguns estigmas ou rótulos sobre as ques- tões de gênero, como que o homem é o pro- vedor do dinheiro da família e que somente as mulheres é quem são preparadas para o cuidado com o filho. Esta discussão será importante para que você e seus colegas compreendam a representação da paterni- dade para alguns homens. Também vamos apresentar a importância e os desafios enfrentados pelos homens na execução de uma paternidade que seja par- ticipativa, e estratégias da equipe de saúde para a inclusão do homem a fim de con- quistar e facilitar uma paternidade ativa. A partir da compreensão dos aspectos socio culturais que influen ciam nas especi- ficidades em saúde da po pulação masculi- na, e em consonância com estratégias das equipes de saúde é possível reconhecer as especi ficidades na abordagem para uma paternidade ativa. 1.1 Gênero, masculinidades e a paternidade ativa A discussão que iniciamos agora – e que conduzirá boa parte deste módulo – está diretamente relacionada a algo que muitas pessoas em nossa sociedade ainda tomam como uma verdade absoluta: a ideia de que homens e mulheres são “sexos opostos”. Tal compreensão se dá, em grande medi- da, pela crença ainda generalizada de que o Paternidade e cuidado 20 UN1 Gênero, paternidade ativa e os serviços de saúde gênero, marcadas pelo patriarcado e ma- chismo, também demarcam que “ser ho- mem é melhor do que ser mulher”. Figura 1 –As construções de gênero: “Ser homem é melhor do que ser mulher” Fonte: Fotolia. Patriarcado > Uma organização social pau- tada em um sistema de dominação simbóli- ca dos homens sobre as mulheres. Ou seja, uma formar de organizar as sociedades e as relações sociais que, de modo siste- mático, beneficia os homens em detrimen- to das mulheres (AZEVEDO, 2016). Machismo > Pauta-se na qualidade, atitude ou modos de ser que supervalo- rizem atributos físicos, sociais e cultu- rais atribuídos aos homens ou ao sexo masculino e inferiorizam aquelas rela- cionadas as mulheres ou ao sexo femi- nino. Nesse sentido, baseia-se, de forma equivocada, na inferioridade das mu- lheres em relação aos homens (COUTO; SCHRAIBER, 2013). Pessoas e instituições que insistem em en- quadrar homens e mulheres dentro destas ‘caixas’ específicas, também costumam re- jeitar ou ignorar a discussão sobre a pers- pectiva relacional de gênero. nosso sexo biológico, assim como os nos- sos hormônios e genética, determinam não apenas algumas de nossas características físicas, mas também nossos desejos, an- seios, preferências e aptidões. O problema é que essa visão tende a co- locar homens e mulheres em rota de coli- são – como nas brincadeiras de “meninas contra meninos” de programas infantis. Isso reforça a noção de “guerra dos sexos”, bastante difundida em nossa sociedade e no imaginário simbólico coletivo. Em sociedades conservadoras como a nossa, a educação de homens e mulheres é orientada, desde muito cedo, para respon- der a modelos predeterminados (e mutua- mente excludentes) do que é ser homem e do que é ser mulher. Mas além de estabelecer que “ser homem é diferente de ser mulher”, as construções de Paternidade e cuidado 21 UN1 Gênero, paternidade ativa e os serviços de saúde Para aprimorar seus estudos sobre a perspec- tiva relacional de gênero, consulte a cartilha Homens também cuidam!, produzida pela UNFPA e Instituto Papai (2007). Disponível em: <http://www.unfpa.org.br/Arquivos/ho- menstambemcuidam.pdf>. Analisando o cuidado de filhos e filhas, ve- mos que ainda hoje prevalece a ideia de que as mulheres são naturalmente – e mesmo espiritualmente – preparadas para a ma- ternidade e para o cuidado de crianças. Esse pensamento insiste em afirmar a exis- tência de um “instinto materno” como um traço quase mágico e inerente à constituição das mulheres. Por outro lado, os homens são frequentemente vistos como naturalmente incompetentes ou incapazes de exercer esse cuidado, sendo a sua principal função social a de prover financeiramente pela família. No entanto, tanto homens quanto mulheres têm o potencial de cuidar, sendo essa uma capacidade humana que se manifesta e se desenvolve de acordo com as circunstâncias. Ou seja, o cuidado faz o cuidador (Carvalho, 2007). E, neste sentido, questiona-se: Como esperar que pessoas que nunca foram expostas ao cuidado tenham facilidade, disponibilidade e/ou desejo de cuidar? Esta é a realidade de muitos homens que, desde a infância, não apenas não foram es- timulados a exercer o cuidado, como, por vezes, foram castigados ao fazê-lo. Um menino que é repreendido verbalmente ou mesmo fisicamente por brincar de boneca ou de casinha é um exemplo comum e recorrente deste fenômeno em nossa cultura. No caso, os adultos ao seu redor não enxergam que a criança ao realizar este ato está aprendendo a cuidar e exercer o papel de pai, mas sim, que aquela brincadeira pode vir a ter alguma rela- ção com a sua identidade de gênero. É importante ter em mente que nenhumho- mem ou mulher segue à risca o que é social- mente esperado do comportamento mas- culino e feminino. Na verdade, felizmente temos cada vez mais pessoas, instituições, políticas e leis que respeitam a diversidade e a singularidade de cada um. Figura 2 – Tanto homens quanto mulheres têm o potencial de cuidar Fonte: Fotolia. http://www.unfpa.org.br/Arquivos/homenstambemcuidam.pdf http://www.unfpa.org.br/Arquivos/homenstambemcuidam.pdf Paternidade e cuidado 22 UN1 Gênero, paternidade ativa e os serviços de saúde Assista ao vídeo A história de Márcio, da Rede MenCare, que retrata muito bem a situação de um homem que se recusa a repetir velhos mo- delos e opta por vivenciar uma paternidade ati- va e afetuosa. Disponível em: <http://promun- do.org.br/recursos/mencare-video-do-brasil/>. Se hoje observamos tal realidade, onde mu- lheres e também homens possuem maior liberdade para se expressarem e viverem, devemos isso, em boa medida, a diferentes movimentos de mulheres, feministas, ao mo- vimento LGBT e ao movimento negro, que têm rejeitado há muitos anos a noção de que o nosso sexo determina o nosso desejo e os nossos comportamentos, e de que algumas pessoas são melhores do que outras. Inspirando-se nesses movimentos, homens e mulheres começaram, com mais vigor a partir da década de 1990, a debater, pesqui- sar e traçar iniciativas direcionadas especifi- camente aos homens ou às masculinidades. As reflexões de Kaufman (1999), por exemplo, reforçam que as masculinidades são, geral- mente, construídas em oposição ao feminino, o que resulta no distanciamento de muitos homens do universo da paternidade, do cui- dado e da saúde e, por outro lado, aproximan- do-os dos comportamentos violentos (con- tra mulheres, crianças ou outros homens). 1.2 Paternidade ativa A paternidade pode contribuir decisivamente para uma ‘revolução’ na forma como os ho- mens expressam e vivenciam as suas mas- culinidades. A paternidade ‘plena’, que implica desde a decisão conjunta de ter filhos até as consultas de pré-natal, o acompanhamento do parto e todos os afazeres e prazeres pos- teriores relacionados à criação das crianças, pode ser a faísca necessária para uma pro- funda reflexão e consequente mudança em Paternidade ativa Participa do cuidado diário, da criação e do desenvolvimento do seu filho ou filha. É corresponsável pela criança, compartilhando com a sua parceira as tarefas domésti- cas e de cuidado, tais como: alimentar, vestir, passear, colocar para dormir, brincar, dar banho e ensinar. Estimula o desenvolvimento de sua filha ou filho em cada etapa de sua vida. Tem uma relação afetuosa incondicional com ele ou ela. Cria de maneira participativa e com liberdade, dando limites, mas sempre com respeito. É um pai presente, sabendo que isso envolve também prover financeiramente. http://promundo.org.br/recursos/mencare-video-do-brasil/ http://promundo.org.br/recursos/mencare-video-do-brasil/ Paternidade e cuidado 23 UN1 Gênero, paternidade ativa e os serviços de saúde relação às formas que os homens expressam as masculinidades. A paternidade pode representar uma revo- lução dos afetos, uma introdução ou um aprofundamento em direção à sensibilidade, delicadeza e cuidado, algo que, aos poucos, pode transbordar para as relações na socie- dade (COSTA LIMA, 2014). É com essa abertura para as emoções e afe- tos que uma nova paternidade pode emergir, a denominada “paternidade ativa”, que envol- ve um pai, parceiro ou outra figura paterna. Seguindo linha similar, a plataforma digital “Homens Cuidam: Envolvendo Homens na Paternidade e no Cuidado”, apresenta 10 atitudes centrais para o exercício da pater- nidade. Observe na figura ao lado. Braço brasileiro da campanha global MenCare e também vinculada à Aliança MenEngage, a plataforma digital “Homens Cuidam” tem como objetivo informar e dar visibilidade às iniciativas desenvolvidas pela ONG Promundo e seus par- ceiros no Brasil e no mundo, sobre transformação de gênero através do envolvimento de meninos e homens como cuidadores equitativos e não violentos. Saiba mais em <http://promundo. org.br/recursos/homens-que-cuidam-um-es tudo-qualitativo-multipais-sobre-homens-em- papeis-nao-tradicionais-de-cuidado/>. 10 atitudes centrais para o exercício da paternidade Fonte: <http://homenscuidam.org.br>. No entanto, destaca-se que, apesar dos avanços graduais no exercício da paternida- de ativa, este caminho ainda é marcado por dificuldades. Conforme material pedagó- gico do curso “Promoção do envolvimento dos homens na paternidade e no cuidado”, elaborado pela Coordenação Nacional de Saúde do Homem (CNSH), responsável pela condução da PNAISH no âmbito do MS, em parceria com o Instituto Promundo, conhe- cê-los pode ajudar o profissional de saúde a compreender melhor qual a situação da mulher, do pai ou da família atendida. Des- te modo, pode-se buscar o melhor cami- nho (quando possível e desejado pela mu- lher) para o envolvimento ativo dos pais ou futuros pais. Promundo > A organização não governamen- tal Instituto Promundo atua em diversos países do mundo – no Brasil, está sediada na cidade do Rio de Janeiro – buscando promover a igual- dade de gênero e a prevenção de violência com foco no envolvimento de homens e mulheres na transformação das masculinidades. http://promundo.org.br/recursos/homens-que-cuidam-um-estudo-qualitativo-multipais-sobre-homens-em-papeis-nao-tradicionais-de-cuidado/ http://promundo.org.br/recursos/homens-que-cuidam-um-estudo-qualitativo-multipais-sobre-homens-em-papeis-nao-tradicionais-de-cuidado/ http://promundo.org.br/recursos/homens-que-cuidam-um-estudo-qualitativo-multipais-sobre-homens-em-papeis-nao-tradicionais-de-cuidado/ http://promundo.org.br/recursos/homens-que-cuidam-um-estudo-qualitativo-multipais-sobre-homens-em-papeis-nao-tradicionais-de-cuidado/ Paternidade e cuidado 24 UN1 Gênero, paternidade ativa e os serviços de saúde Para não correr o risco de criar ou fortalecer estigmas, é importante saber que nenhum desses obstáculos (ou nenhuma combina- ção deles) pode ser compreendido como determinante para o não envolvimento dos cenários que precisam ser vistos e trabalha- dos de forma mais atenta, inclusiva e huma- nizada. Uma das formas da equipe de saúde potencializar a paternidade ativa é a orienta- ção clara durante o pré-natal, transmitindo à futura mãe, ao futuro pai ou ao casal os di- versos benefícios que podem advir de um en- volvimento ativo dos homens com a gestação, o parto, o pós-parto e os cuidados posteriores com a criança. Neste sentido, estudos têm indicado benefí- cios que podem advir de um maior envolvi- mento dos homens com o papel de cuidador, dentre eles, que as crianças que têm modelos de apoio e afeto de uma figura paterna são mais propensas a ser mais seguras e mais protegidas da violência, têm futuros mais bem-sucedidos e lidam com as tensões da vida com maior facilidade do que aquelas com um pai ausente ou sem qualquer modelo masculino para se espelhar. homens com a paternidade – tal como se existisse um perfil de “pai ausente”. Na verdade, eles devem servir como alertas para os profissionais de saúde, apontando Obstáculos individuais Não ter tido contato com pai biológico ou com outra referência paterna importante; experiência de violência física ou psicológica com o pai, como vítima direta ou como testemunha de violências contra mãe e outros familiares; ter recebido educa- ção muito tradicional e rígida em relação aos ‘padrões de gênero’; alcoolismo ou consumo abusivo de outras drogas; estar desempregado ou ter um trabalho que o distancia dos filhos; estar em situação de privação de liberdade; depressão e outros transtornos mentais. Obstáculos relacionais Não estar (às vezes nunca ter estado) em um relacionamento afetivo com a mãe da criança;vivência de fortes conflitos ou violências com mãe da criança; distanciamento, falta de apoio e falta de incentivo da família para que assuma a paternidade ativa e corresponsável. Obstáculos comunitários Reforço de papéis estereotipados de homens e mulheres (por exemplo, homem = provedor e mulher = cuidadora) por parte de serviços de saúde, creches, escolas e instituições religiosas e falta de apoio e incentivo dos mesmos; não existência de grupos de pais; não liberação por empregador para acompanhar consultas de pré-natal, parto e consultas de pediatria e reuniões na escola. Obstáculos sociais Licença-paternidade de 20 dias apenas para funcionários das empresas que participam do "Programa Empresa Cidadã"; não respeito à Lei no 11.108/05 – Lei do Acompanhante – por diversos profissionais ou instituições de saúde; machismo e patriarcado, que continuam muito presentes em nosso contexto cultural, reforçan- do papéis estereotipados de gênero; reprodução e reforço de papéis estereotipados de homens e mulheres pela mídia e publicidade. Quatro obstáculos para o envolvimento dos homens com a paternidade Paternidade e cuidado 25 UN1 Gênero, paternidade ativa e os serviços de saúde Aqui estão algumas referências de estudos que mostram os benefícios da “paternidade ativa”: BENCZIK, Edyleine Bellini Peroni. A impor- tância da figura paterna para o desenvolvi- mento infantil. Revista Psicopedagogia, v. 28, n. 85, p. 67-75, 2011. MARIA SGANZERLA, Ilciane; CENTENARO LEVANDOWSKI, Daniela. Ausência paterna e suas repercussões para o adolescente: aná- lise da literatura. Psicologia em Revista, v. 16, n. 2, p. 295-309, 2010. MANFROI, Edi Cristina; MACARINI, Samira Mafioletti; VIEIRA, Mauro Luis. Comporta- mento parental e o papel do pai no desenvol- vimento infantil. Journal of Human Growth and Development, v. 21, n. 1, p. 59-69, 2011. Ainda, as mulheres que têm parceiros en- volvidos se sentem mais apoiadas emo- cionalmente e menos estressadas do que as mulheres com parceiros ausentes e não envolvidos. Os homens também se be- neficiam: aqueles que participam de for- ma mais igualitária no cuidado apresen- tam melhor saúde física e mental do que aqueles que não o fazem (PROMUNDO, 2015, p. 17). No ano de 2016, a paternidade tem con- quistas importantes para o país, onde a Lei 13.257/2016 estende a licença paternidade em mais 15 dias para os funcionários das empresas cidadãs. E o decreto nº 8.737 de 03 de maio de 2016 amplia a licença pater- nidade para os servidores públicos fede- rais em 15 dias, além dos 5 garantidos pela Constituição Federal. Para saber mais sobre os possíveis benefícios da paternidade ativa para a gestação e parto, para as crianças, mulheres/mães e homens/ parceiros, indicamos inscrever-se no curso Promoção do Envolvimento dos Homens na Paternidade e no Cuidado, uma parceria entre a CNSH e o Instituto Promundo, disponível em: <https://avasus.ufrn.br/local/ avasplugin/cursos/curso.php?id=77>. Ao lado são apresentadas algumas reco- mendações para profissionais e serviços de saúde que podem estimular a paternida- de ativa e o acesso dos homens ao cuidado nas unidades de saúde. Na Nova Zelândia, quase 1/3 dos futuros pais modificaram sua dieta e diminuíram ou cessaram o uso de tabaco/cigarro durante a gestação de suas parceiras. Os pais que estão engajados no cuidado de seus bebês são mais propensos a criar um vínculo emocional com eles. Estudos qualitativos e quantitativos demonstraram que homens engajados como pais relatam estar mais satisfeitos com suas vidas e cuidar mais de sua saúde. Homens envolvidos com a paternidade são mais propensos a estar satisfeitos com suas vidas, a viver mais tempo, adoecer menos, consumir menos álcool e drogas, estressar-se menos, se envolver menos em acidentes e ter um maior envolvimento com a comunidade. Um dos maiores estudos sobre violência de gangues nos EUA, que durou 45 anos e acompanhou mais de 1000 homens de Boston, chegou à conclusão que um dos principais motivos para que eles não entrassem ou para que saíssem de gangues era o fato de estarem conectados com seus/suas filhos(as). Benefícios da paternidade para os homens https://avasus.ufrn.br/local/avasplugin/cursos/curso.php?id=77 https://avasus.ufrn.br/local/avasplugin/cursos/curso.php?id=77 Paternidade e cuidado 26 UN1 Gênero, paternidade ativa e os serviços de saúde 1.3 A equipe de saúde e a paternidade ativa Antes das recomendações que pretendemos apresentar a você, é importante ressaltar que, apesar da área da saúde ser estratégica neste processo de construção da paterni- dade ativa e de uma sociedade com maior igualdade de gênero, seus esforços preci- sam ser acompanhados por outros igual- mente importantes, tais como a ampliação da licença-paternidade. Um dos grandes facilitadores para o envol- vimento dos homens com a paternidade e o cuidado nas ações de saúde, em especial na Atenção Básica, é que a medida traz pouco ou nenhum custo financeiro para os seus serviços. Como costuma afirmar o médico e professor Geraldo Duarte (chefe do setor de Obstetrícia de Alto Risco do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da USP e um dos idealizadores do Pré-Natal do Parceiro), às vezes, tudo o que o(a) profissional de saúde precisa é colocar duas cadeiras na sala durante o pré-natal e, durante esse atendimento, se comunicar abertamente, direcionando a sua atenção tanto para a mulher quanto para o homem. Figura 3 – Comunicação aberta do profissional de saúde Fonte: Fotolia. Se os obstáculos materiais são poucos ou inexistentes, os obstáculos simbólicos são grandes. Para enfrentá-los, é interessante levar em consideração que: • em uma sociedade machista, onde o cui- dado e afeto dos homens é não apenas desestimulado, como, por vezes, comba- tido, devemos enquanto profissionais de saúde e formadores de opinião difundir a mentalidade de que homens cuidadosos e afetuosos têm não somente o compromis- so, como também o direito de se envolve- rem em todas as etapas do planejamento reprodutivo, da gestação, do parto, do pós- -parto e do desenvolvimento de seus filhos e filhas; • em instituições de saúde onde o foco qua- se sempre foi direcionado às mulheres/ gestantes/mães e às crianças, devemos estimular e criar estratégias para que, sempre que possível, os homens/parcei- ros/pais sejam incluídos integralmente. Com a finalidade de aprofundar mais este tema, a seguir serão apresentadas duas iniciativas que têm contribuído sobrema- neira para suplantar esses obstáculos: a estratégia “Unidade de Saúde Parceira do Pai” e o “Programa P”. Paternidade e cuidado 27 UN1 Gênero, paternidade ativa e os serviços de saúde Unidade de Saúde Parceira do Pai Em 2002, a Prefeitura do Rio de Janeiro criou o Movimento pela Valorização da Paternidade, tendo como embasamento as seguintes constatações: O envolvimento do pai nas ações de cuidado é um dos recursos mais importantes e, no entanto, mais mal aproveitados na promoção da saú- de e do desenvolvimento das crian- ças e dos adolescentes. Os próprios serviços de saúde, muitas vezes de- nominados materno-infantis, contri- buem para afastá-los, reforçando a concepção de que as referidas ações – de cuidado – são de responsa- bilidade exclusiva das mulheres. (CASTELLO BRANCO et al., 2009, p. 3). Desde então, o Movimento – composto por diferentes órgãos municipais, universidades, ONGs e voluntários – tem desenvolvido di- versas estratégias, dentre elas a instituição do mês de agosto como “Mês de Valorização da Paternidade” e a criação de campanhas cujo foco é um maior envolvimento dos pais. Figura 4 – Unidade de Saúde Parceira do Pai Fonte: Brasil (2002). Ao chegar à conclusão de que a maioria dos pais está presente de alguma forma na vida de seus filhos e filhas,especial- mente durante os primeiros anos de vida, os integrantes deste Movimento identifi- caram que o maior desafio enfrentado pe- los serviços é contribuir para que este homem se sinta valorizado como pai e tenha oportunidades de receber informa- ções, trocar experiências, desen- volver habilidades de cuidado e for- mar vínculos significativos com os filhos. (CASTELLO BRANCO et al., 2009, p. 6). Como resposta a esse desafio, o movimen- to criou a estratégia “Unidade de saúde parceira do Pai”, que vem sendo implantada com sucesso no município do Rio de Janei- ro e tem como metodologia norteadora os “10 Passos para ampliar a participação do pai nas políticas públicas”: 1. Preparar a equipe de saúde 2. Incluir os pais nas rotinas dos serviços 3. Incluir os pais no pré-natal, parto e pós-parto 4. Incluir os pais nas enfermarias 5. Promover atividades educativas com os homens 6. Acolher e cuidar dos homens Paternidade e cuidado 28 UN1 Gênero, paternidade ativa e os serviços de saúde 7. Preparar o ambiente 8. Dar visibilidade ao tema do cuidado paterno 9. Criar horários alternativos 10. Fortalecer a rede de apoio social É também importante destacar que a equi- pe precisa estar preparada para a entrada do pai nas rotinas assistenciais. Este preparo precisa do apoio dos ges- tores para a mudança de concepções de gênero e de família, já que, anteriormente, a prioridade era das mães. As diversas equipes de profissionais preci- sam estar sensibilizadas para a importân- cias da presença do pai, que deixa de ser um mero espectador e se torna atuante e parceiro no cuidado com a família, reconhe- cendo o impacto benéfico do envolvimento paterno na saúde da criança. Veja algumas estratégias de inclusão do ho- mem nas ações de pré-natal, parto e cuida- dos com a criança, no quadro ao lado. Na visita às famílias: onde houver gestante, busque o contato com o companheiro desta para estimulá-lo a comparecer às consultas e às atividades grupais no pré-natal e no cuidado pediátrico. Ao longo do pré-natal: pergunte à futura mãe sobre o envolvimento do pai com a gestação. Converse com ela, sensibilizando-a para os benefícios do envolvimento dos homens com os cuidados com a família. Ofereça o seu apoio para ajudá-la a conversar com ele se for necessário. Registre no prontuário ou na ficha de acompanhamento se o pai está envolvido com a gestação. Nas consultas de pré-natal: convide os pais a sentarem e participarem da conversa, estimulando-os a tirarem suas dúvidas. O exame de ultrassonografia é uma situação privilegiada para a vinculação do pai com a criança. Muitos pais comentam que nesse momento “cai a ficha”. Promover atividades educativas com os homens: os serviços de saúde devem ter uma preocupação espe- cial em oferecer aos homens uma oportunidade para aprendizado e troca de experiências sobre atividades cuidadoras. Sugere-se a criação de espaços de discussão – sobretudo para os pais de “primeira viagem” – com metodologias participativas que facilitem a expressão de sentimentos, a troca de experiências e o desenvolvimento de habilidades e competências. Acolher e cuidar dos homens: aproveite a presença dos homens para incentivá-los a cuidar da própria saúde, atualizar suas vacinas e frequentar os diferentes serviços da unidade. Preparar o ambiente: crie para o pai um ambiente acolhedor, onde ele se sinta parte importante do cuidado familiar. Veja alguma estratégias simples: • acrescente cadeiras nos consultórios para que homens/pais possam participar das consultas com suas companheiras e filhos, fazendo com que se sintam acolhidos e motivados para retornar nas ou- tras consultas; • exponha cartazes, fotos e revistas com imagens e conteúdos que valorizem a paternidade: nas salas de espera, nos corredores, nas enfermarias e nos alojamentos conjuntos; • divulgue informações sobre licença-paternidade e o direito dos pais de acompanharem o parto por meio de cartazes e informes nos quadros de aviso. Dar visibilidade ao tema do cuidado paterno: o preconceito quanto ao homem cuidar frequentemente está presente no meio social onde os pais vivem, e que muitas vezes desvaloriza sua participação nas tarefas com as crianças. A falta de apoio da rede social faz com que muitos pais deixem de reivindicar a sua par- ticipação no cuidado dos filhos na sua relação com as mulheres e com os serviços de educação e saúde. Paternidade e cuidado 29 UN1 Gênero, paternidade ativa e os serviços de saúde O pai ou parceiro, principalmente quando a família é formada apenas pelo casal, costu- ma ser a única ou principal referência emo- cional e social da gestante. Quando bem informado e preparado, este dá segurança emocional à mulher, trazendo benefícios à sua saúde e à da criança. Apesar do interesse em participar, alguns homens ficam presos ao trabalho, perdendo oportunidades únicas em suas trajetórias dentro da paternidade. Por isso, é de suma importância oferecer sempre que possível uma declaração de comparecimento por parte da unidade de saúde para que eles possam justificar o motivo da legítima au- sência junto ao seu empregador. As informações que acabamos de compar- tilhar são de autoria de Castello Branco et al. (2009), e foram aqui apresentadas de for- ma resumida. Acesse e conheça mais sobre esse valioso trabalho: <http://primeirainfan- cia.org.br/wp-content/uploads/2016/04/ unidade-de-sac3bade-parceira-do-pai.pdf>. A equipe de saúde pode contribuir imensamente para a superação desse obstáculo ao desenvolver ações com diferentes setores da sociedade e da comunidade, promovendo a valorização do cuidado paterno, como por exemplo o Mês da Valorização da Paternidade. Criar horários alternativos: dialogue com a equipe e gestores sobre a possibilidade de oferecer horários alternativos, tais como sábados ou 3o turno, para consultas, atividades de grupo e visita à maternidade, de forma a facilitar a presença dos pais que trabalham. A sociedade é bem menos tolerante com os homens em relação a faltar ao trabalho para acompanhar alguma consulta ou internação. Fortalecer a rede de apoio social: a falta de emprego e de qualificação para o trabalho é um dos principais obstáculos para o envolvimento dos homens, principalmente os pais jovens de baixa escolaridade. Torna- se fundamental estabelecer parcerias com a Assistência Social e outros setores para facilitar o acesso a emprego, profissionalização, ajuda para obras, Bolsa Família etc. Durante o trabalho de parto: oriente-o para que mantenha a atenção cuidadosa à gestante, evitando con- versas longas e tensas, respeitando a necessidade de recolhimento da mulher e permitindo que ela possa mergulhar profundamente no contato com seu corpo. Estimule-o a apoiá-la. Nos primeiros momentos de vida da criança: estimule-o a pegar o recém-nascido e a cortar o cordão um- bilical, conduzir o bebê com a mãe ao alojamento conjunto. Incentive os pais a darem o primeiro banho do bebê. O pai também poderá praticar o “Método Canguru”, caso o bebê seja prematuro e este método esteja indicado. Valorize o apoio emocional que os pais podem dar às mães durante a amamentação. Informe sobre a Lei no 11.108/2005, que permite o acesso dos pais nos hospitais no pré-parto, parto e pós-parto, enfatizando que “pai é cuidador, não é visita”. Este esforço de inclusão deve começar o mais precocemente possível, nas ações de contracepção e no teste de gravidez. Os profissionais precisam deixar claro que a presença do homem e pai é benvinda e que estes devem ser explicitamente convida- dos para todas as atividades relacionadas ao cuidado com seus filhos ou parceiras, incluindo consultas, exames, grupos refle- xivos e educativos. http://primeirainfancia.org.br/wp-content/uploads/2016/04/unidade-de-sac3bade-parceira-do-pai.pdf http://primeirainfancia.org.br/wp-content/uploads/2016/04/unidade-de-sac3bade-parceira-do-pai.pdfhttp://primeirainfancia.org.br/wp-content/uploads/2016/04/unidade-de-sac3bade-parceira-do-pai.pdf Paternidade e cuidado 30 UN1 Gênero, paternidade ativa e os serviços de saúde Programa P: Manual para o Exercício da Paternidade e do Cuidado Destinado a profissionais de saúde, da edu- cação e trabalhadores comunitários, o Pro- grama P (‘P’ de ‘Pai’, no Brasil, e de ‘Padre’, na América Latina) é um manual baseado nas evidências das melhores práticas sobre a participação de homens e de suas parcei- ras (ou parceiros) no exercício da paterni- dade e do cuidado, assim como na saúde materno-infantil e inclusão da perspectiva de autocuidado masculino. Dentre as diversas e valorosas contribui- ções deste manual, listamos as recomen- dações ao lado: Aprofunde a leitura do Programa P – Manual para o exercício da paternidade e do cuidado. Acesse: <http://promundo.org.br/recursos/ programa-p-manual-para-o-exercicio-da-pa- ternidade-e-do-cuidado/>. 1) Dicas para quando a mãe vai sem o pai às consultas de pré-natal • Se a gestante chega à consulta sem acompanhante, pergunte sobre o seu relacionamento com o futuro pai da criança e se ela gostaria que ele a acompanhasse nas próximas consultas e durante o parto. • Se a gestante quiser ir com o pai, converse com ela sobre como convidar, sobre os benefícios desse envolvimento e sobre o que teriam que considerar para a sua participação (horário a constar no pedido de autorização para sair do trabalho etc.). Considerar a possibilidade de uma carta modelo ou folheto que a mãe possa levar dirigida a ele. • Se a gestante não quiser que o pai participe, questione quais as razões e se gostaria que outra pessoa a acompa- nhasse. Explique os benefícios de ter um acompanhante nestes momentos. • Se ela decidir não ter o futuro pai como acompanhante, respeite a sua decisão. Analise se o comportamento do pai pode pôr em perigo a saúde da gestante ou a gravidez. • Se o futuro pai não pode acompanhá-la nas consultas por razões como viagens, trabalho, prisão etc., oriente a mãe a transmitir a ele todas as informações para que se sinta estimulado a se envolver no processo. 2) Dicas para quando o pai está presente nas consultas de pré-natal • Envolva-o ativamente na entrevista e nas consultas de pré-natal, não o trate como um personagem secundário ou isolado. • Informe sobre alguns problemas que podem surgir durante este período, com destaque para a diabetes gestacio- nal, síndrome hipertensiva, infecção do trato urinário etc. Certifique-se de chamar o futuro pai especialmente para este momento. Converse sobre os sinais e sintomas para identificar uma emergência obstétrica e quais os passos a seguir. • Fale sobre a transmissão vertical das IST, como a sífilis e a Aids, e explique que é imprescindível que o homem faça todos os exames voltados a esta questão. Demonstre que esta é uma das primeiras atividades de cuidado que ele pode exercer com seu filho. • Pergunte sobre as preocupações do casal quanto à vida sexual durante a gravidez. Forneça informação e orienta- ção a ambos sobre o exercício da sexualidade nesta fase. • Incentive o futuro pai a dar apoio emocional e também apoiar nas tarefas práticas durante toda a gestação. • Incentive-o a participar na promoção de estilos de vida saudáveis durante a gravidez. Por exemplo: alimentação saudável, ambientes livres de tabaco, consumo responsável de álcool, descanso, recreação, entre outros. • Convide o pai a participar de cursos de preparação para o parto (se houver) e juntos fazerem uma visita à mater- nidade. • Fale sobre os seus direitos, como a licença paternidade e a Lei do Acompanhante no 11.108/2005. http://promundo.org.br/recursos/programa-p-manual-para-o-exercicio-da-paternidade-e-do-cuidado/ http://promundo.org.br/recursos/programa-p-manual-para-o-exercicio-da-paternidade-e-do-cuidado/ http://promundo.org.br/recursos/programa-p-manual-para-o-exercicio-da-paternidade-e-do-cuidado/ Paternidade e cuidado 31 UN1 Gênero, paternidade ativa e os serviços de saúde Finalizando esta seção, ressalta-se uma má- xima muito conhecida por quem trabalha com homens e saúde: É preciso ir aonde os homens estão. Nesse sentido, o momento das visitas do- miciliares e o papel dos Agentes Comu- nitários de Saúde é imprescindível para o sucesso de qualquer ação que queira sen- sibilizar e envolver os homens com a pater- nidade e o cuidado. De acordo com o manual Paternidad Activa, de Aguayo e Kimelman (2012, p. 52), algu- mas ações simples estão ao alcance dos profissionais de saúde para promover este encontro com os homens durante as visitas domiciliares: • programar a visita em um horário em que os pais ou figuras paternas e as mães que trabalham fora de casa possam es- tar presentes; 3) Dicas para o momento do pré-parto e do parto • Em caso de o pai ser o acompanhante, diga que a sua presença e apoio são essenciais para a mãe e para o bebê durante todo o processo de pré-parto e parto. Certifique-se que o pai e a mãe se sentem confortáveis e que são protagonistas neste momento tão significativo. • Explique o que é violência obstétrica e como a sua presença pode ser fundamental para evitar que isso aconteça durante o parto. • Inclua o futuro pai e dê-lhe instruções específicas sobre o que fazer nas situações em que pode e quer partici- par, como ajudar a vestir a mãe, acomodar seus pertences, apoiá-la emocionalmente, fazer contato físico, entre outros. • Inclua o futuro pai nas atividades de trabalho do método psico-profilático. Por exemplo: fazer massagens na mãe, dizer-lhe palavras de incentivo e apoio, entre outros. • Explique de forma resumida e claramente ao pai onde poderá estar na sala de parto e qual a sua contribuição para este processo.Insista na importância de sua presença. • No momento do parto, verifique se o pai se encontra em local adequado, onde se sinta confortável e possa dar apoio emocional e psicológico à mãe durante o procedimento. • Apoie o pai para que entre em contato com seu filho o mais cedo possível: cortar o cordão, segurá-lo, pesá-lo, acompanhá-lo em procedimentos etc. • Lembrar ao pai que a Lei do Acompanhante no 11.108/2005 se aplica a todos os tipos de parto (fisiológico e cesariana). • Como apontado por este Programa, além de todo o trabalho de orientação e sensibilização para gestores e pro- fissionais de saúde, é importante que sejam criados protocolos, indicadores e metodologias que possam avaliar o envolvimento e a participação dos pais/parceiros. • Nesse sentido, o manual disponibiliza um Guia de avaliação sobre a paternidade nas unidades de saúde, para o momento do pré-natal, parto e pós-parto, trazendo algumas questões básicas e norteadoras para os profissio- nais de saúde, tais como: » Perguntamos pelo pai da criança quando a mãe chega sozinha? » Reforçamos a importância da presença do pai no pré-natal? » Registramos a presença ou a ausência do pai em cada consulta? » Temos horários adequados para homens que trabalham em tempo integral? » Temos cursos para os pais durante a gravidez? Paternidade e cuidado 32 UN1 Gênero, paternidade ativa e os serviços de saúde • considerar os pais ou figuras paternas interlocutores importantes para as dis- cussões sobre saúde, cuidado e criação, assim, quando fizer perguntas ou dar orientações, se dirija a ambos; • promover sempre a participação ativa do pai ou figura paterna no cuidado diário de seus filhos ou filhas, assim como nas consultas de saúde e outras ações pro- motoras de saúde; • confrontar e questionar preconceitos e ideias machistas ou sexistas; • detectar interações vinculares “insegu- ras” entre os pais ou mães e seus filhos ou filhas e buscar promover interações cooperativas, de diálogo e apoio; • reforçar os aspectos positivos e as ha- bilidades dos cuidadores e dos pais ou figuras paternas, das mães e da família; • convidar e motivaros pais ou figuras paternas a participarem de oficinas e grupos sobre habilidades parentais nas unidades de saúde. Fotógrafo mostra a rotina de pais suecos que tiraram um ano de licença paternidade. Acesse: <http://razoesparaacreditar.com/ fotografia/fotografo-mostra-a-rotina-de- pais-suecos-que-t i raram-um-ano-de- licenca-paternidade/>. http://razoesparaacreditar.com/fotografia/fotografo-mostra-a-rotina-de-pais-suecos-que-tiraram-um-ano-de-licenca-paternidade/ http://razoesparaacreditar.com/fotografia/fotografo-mostra-a-rotina-de-pais-suecos-que-tiraram-um-ano-de-licenca-paternidade/ http://razoesparaacreditar.com/fotografia/fotografo-mostra-a-rotina-de-pais-suecos-que-tiraram-um-ano-de-licenca-paternidade/ http://razoesparaacreditar.com/fotografia/fotografo-mostra-a-rotina-de-pais-suecos-que-tiraram-um-ano-de-licenca-paternidade/ UN2 Pré-natal do parceiro Paternidade e cuidado 34 Paternidade e cuidado 35 35 UN2 Pré-natal do parceiro Nesta unidade abordaremos de que modo uma estratégia formulada recentemente por iniciativa da PNAISH – o Pré-natal do par- ceiro – pode contribuir para que alguns dos conceitos e recomendações descritos na Unidade 1 sejam implementados na lógica da gestão e dos serviços do SUS. A estratégia Pré-Natal do Parceiro, voltada para engajar os homens na esfera da saú- de, gestação, parto, pós-parto e na equida- de entre os gêneros, busca contextualizar a importância do envolvimento consciente e ativo de homens adolescentes, jovens adultos e idosos em todas as ações vol- tadas ao planejamento reprodutivo, e, ao mesmo tempo, contribuir para a ampliação e melhoria do acesso e acolhimento desta população aos serviços de saúde, com en- foque na Atenção Básica. Neste sentido, o Pré-Natal do Parceiro pro- põe-se a ser uma das principais portas de entrada aos serviços ofertados pela Aten- ção Básica em saúde à população de ho- mens pais ou parceiros, ao enfatizar ações orientadas à prevenção, à promoção, ao autocuidado e à adoção de estilos de vida mais saudáveis. A PNAISH aposta na perspectiva da inclu- são do tema da paternidade e cuidado, por meio do Pré-Natal do Parceiro, nos deba- tes e ações voltadas para o planejamento reprodutivo como uma estratégia essencial para qualificar a atenção à gestação, ao parto e ao nascimento, estreitando a rela- ção entre profissionais e trabalhadores de saúde, comunidade e, sobretudo, aprimo- rando os vínculos afetivos familiares dos usuários e das usuárias por meio dos ser- viços ofertados. Além deste importante foco, estas ações têm grande potencial para auxiliar num dos principais objetivos da política: ampliar o acesso e o acolhimento dos homens aos serviços e programas de saúde, e qualificar Paternidade e cuidado 36 36 UN2 Pré-natal do parceiro as práticas de cuidado com sua saúde de maneira geral no âmbito do SUS. Para todas estas ações, a PNAISH ressalta a importância da reflexão contínua sobre as construções sociais de gênero voltadas às masculinidades, buscando abolir papéis estereotipados que afastam os homens da saúde, do cuidado, do afeto e da construção de relações mais igualitárias e humaniza- das em suas parcerias sexuais e afetivas. Da mesma forma, aponta a necessidade de se pensar e desenvolver ações em saúde fora do enquadramento biológico e hetero- normativo – reconhecendo e valorizando, assim, os diversos arranjos familiares exis- tentes e as diferentes possibilidades de vi- venciar a paternagem, como, por exemplo, em casais homossexuais, pais solteiros, adolescentes ou idosos, e também homens que desempenham a função paterna (avôs, tios, amigos, padrastos, etc.). Heteronormativo > Consiste em uma for- ma de pensar, significar as relações e agir pautada na heterossexualidade como única forma possível e legítima de reali- zar e manter relações sexuais e afetivas. WARNER, M. Fear of a queer planet: Que- er politics and social theory. Minnesota: University of Minnesota Press, 1993. Figura 5 – Cooperação, diálogo, respeito: modelos positi- vos de masculinidades Fonte: Fotolia. Com isso, a política busca enfatizar que o momento da gestação e os cuidados pos- teriores com as crianças também devem ser aproveitados para valorizar modelos positivos de masculinidades, pautados pela cooperação, diálogo, respeito, cuidado, não-violência e por relações entre gêneros que respeitem a diversidade, a pluralidade e a equidade como princípios básicos. Dentro das políticas públicas afins, a Rede Cegonha, instituída no país em 2011 (BRA- SIL, 2011a, 2011b), consiste em uma rede de cuidados que visa assegurar à mulher o direito ao planejamento reprodutivo e à atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpério, bem como o direito ao nasci- mento seguro e ao crescimento e desenvol- vimento saudáveis das crianças. Esta rede visa proporcionar às mulheres saúde, qualidade de vida e bem-estar duran- te a gestação, parto, pós-parto e o desen- volvimento da criança até os dois primeiros anos de vida. Ainda, tem a finalidade de re- duzir a mortalidade materna e infantil e ga- rantir os direitos sexuais e reprodutivos de mulheres e homens, jovens e adolescentes. A proposta qualifica os serviços ofertados Paternidade e cuidado 37 37 UN2 Pré-natal do parceiro pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no pla- nejamento reprodutivo, na confirmação da gravidez, no pré-natal, parto e puerpério, constituindo uma oportunidade propícia para a inclusão e participação ativa dos pais/parceiros. Neste contexto, a Rede Cegonha pode contribuir positivamente para a inserção dos homens nas consultas de pré-natal, e consolidar a mudança crucial do para- digma – do binômio mãe-criança para o trinômio pai-mãe-criança. Figura 6 – Rede Cegonha Fonte: BRASIL (2011) As equipes de saúde devem incentivar o envolvimento do pai ou parceiro e sua participação desde o teste de gravidez, passando pelo puerpério até o acompa- nhamento do desenvolvimento integral do filho. O enfermeiro ou o médico, como integrante dessa equipe são responsá- veis pela realização do pré-natal na Aten- ção Básica, devendo proporcionar o aco- lhimento na unidade e sua integração ao processo. Desta forma, adota-se também a estraté- gia Pré-Natal do Parceiro como uma im- portante “porta de entrada positiva” para os homens nos serviços de saúde, apro- veitando sua presença nas consultas rela- cionadas à gestação para ofertar exames de rotina e testes rápidos, convidando-os a participarem das atividades educativas e ao exercício da paternidade ativa, bus- cando a integralidade no cuidado a esta população. Importante! De acordo com o relatório A situ- ação da paternidade e Cuidado no Brasil (Pro- mundo e Mencare, 2015, no prelo), ainda que timidamente, algumas ações da Rede Cegonha têm contemplado a população masculina, em especial no que tange ao acompanhamento e humanização do parto e ao envolvimento com a amamentação. Uma comparação entre as cadernetas da gestante de 2008 e 2014 ilustra bem os avanços em curso. 2.1 O acolhimento do pai e parceiro No momento em que a mulher ou pai pro- curam o serviço de saúde com a suspei- ta de uma gravidez, devem ser seguidas as orientações contidas no Teste rápido de gravidez na Atenção Básica: guia téc- nico (BRASIL, 2014), elaborado pela Co- ordenação Geral de Saúde das Mulheres, em 2014, que indica o TRG – Teste Rápi- do de Gravidez – para mulheres em idade fértil que apresentem atraso menstrual, sendo em sua maioria igual ou superior a sete dias. Deve ser facilitado o acesso ao TRG, com respeito e atenção específica às Paternidade e cuidado 38 38 UN2 Pré-natal do parceiro adolescentes, devido às singularidades da faixa etária. Destaca-se que nessemomento deve ser realizado um acolhimento humanizado, sendo que alguns aspectos, pontuados a seguir, devem ser observados pelos profis- sionais para a abordagem de homens ou de mulheres. Caso ele não possa estar pre- sente, deve ser explicada para sua parceira a importância do envolvimento deste. Figura 7 – Qual o histórico do usuário com a paternidade? Fonte: Fotolia. Durante o atendimento, é importante que o profissional resgate o histórico deste usuá- rio com o tema da paternidade, no sentido de conhecer suas experiências e vivências pre- gressas e expectativas quanto ao desempe- nho deste importante papel afetivo e social, a fim de captar quais são as facilidades e as dificuldades encontradas, dialogando de maneira sensível e construindo junto possí- veis estratégias de enfrentamento. Importante! Talvez não seja logo no primeiro encontro que o profissional abordará questões ligadas à intimidade do usuário, e sim ao longo do processo. O acolhimento não é um momento fixo ou uma etapa, mas uma postura ética, política e, sobretudo, empática, que pode ocorrer em boa parte dos momentos de interação entre usuários e profissionais de saúde. Quanto maior o vínculo estabelecido, mais trocas verdadeiras se potencializam entre o pai ou parceiro e os profissionais que o assistem, possibilitando então o acesso respeitoso às informações mais íntimas destes homens no que tange à sexualida- de, práticas e eventuais comportamentos de risco e à dinâmica conjugal e divisão de papéis e tarefas nesta relação. Independente do resultado do teste rápido de gravidez ou do exame laboratorial βHCG, esse primeiro contato deve ser aprovei- tado para incorporar o homem nas ações voltadas para o cuidado integral à saúde, as quais podem ser desenvolvidas, como sugestão, em grupos de saúde do homem, durante as visitas dos agentes comunitá- rios de saúde e em locais estratégicos do território (empresas, áreas de lazer, bares), entre outros. Paternidade e cuidado 39 39 UN2 Pré-natal do parceiro É oportuno ofertar, já na primeira consulta, os testes rápidos de sífilis, HIV e o aconse- lhamento. Na consulta de retorno, o teste de gravidez apresentando resultado positivo, deve-se iniciar a rotina de pré-natal, parto e puerpé- rio do parceiro, seguindo o fluxo apresenta- do a seguir. 2.2 Passo a passo do pré-natal do parceiro Após a confirmação da gravidez, em con- sulta médica ou de enfermagem, dá-se iní- cio à participação do pai ou parceiro nas rotinas de acompanhamento da gestante e nas ações direcionadas aos cuidados com este pai ou parceiro. Este processo é com- posto por cinco passos. Veja ao lado o esquemático do passo a passo do pré-natal do parceiro. Chegada do casal no serviço SUS Realização do teste rápido de gravidez Teste realizado na UBS Vincular o homem as ações de saúde da UBS Vinculação a rotina do pré-natal Presença do parceiro no momento do teste Resultado Repetir teste na unidade NÃOSIM Negativo Positivo Convocar o parceiro para consulta NÃO Atualização do cartão de vacina Ofertar testes rápidos e exames de rotina SIM Participação no momento do parto Incentivar participação nas atividades educativas, nas consultas e exames 1o PASSO Primeiro contato com postura acolhedora: incentivar a participação do parceiro nas consultas de pré-natal e atividades edu- cativas, informar que poderá tirar dúvidas e se preparar adequadamente para exercer o seu papel durante a gestação, parto e pós- -parto. Explicar a importância e ofertar a realização de exames. 2o PASSO Solicitar os testes rápidos de sífilis, HIV, He- patites B e C e os exames de rotina de acor- do com a idade do homem e os fatores de risco a que está exposto. Ampliar o acesso e a oferta a exames e aconselhamento para as infecções sexu- almente transmissíveis e outras doenças prevalentes na comunidade é uma impor- tante estratégia para a prevenção. A ins- titucionalização dessas ações permite a redução do impacto destas doenças na Paternidade e cuidado 40 40 UN2 Pré-natal do parceiro população, a promoção de saúde e a me- lhoria da qualidade do serviço prestado nas unidades de saúde. Permite também conhecer e aprofundar o perfil social e epidemiológico da comunidade de abran- gência, dimensionar e mapear a popula- ção de maior vulnerabilidade, e com isso reformular estratégias de prevenção e monitoramento. Confira no esquemático os exames e pro- cedimentos a serem solicitados para o pai. Importante! Conhecer o diagnóstico e ter acesso ao tratamento é um direito do cidadão. Estes procedimentos e exames devem ser solicitados respeitando-se os protocolos estabelecidos pelo Ministério da Saúde. Caso seja detectada alguma alteração em algum desses exames, o pai deve ser refe- renciado para o tratamento dentro da rede SUS. O mesmo procedimento deve ser ado- tado caso o profissional verifique a neces- sidade de outros exames. 3o PASSO Vacinar o pai ou parceiro conforme a situ- ação vacinal encontrada. A vacinação é a medida mais eficaz para a prevenção de doenças. Com esse objetivo, o Programa Nacional de Imunizações (PNI) disponibiliza para Tipagem sanguínea e Fator RH no caso da mulher ter RH negativo) Pesquisa de antígeno de superfície do vírus da Hepatite B (HBsAg) Teste treponêmico e/ou não treponêmico para detecção de Sífilis por meio de tecnologia convencional ou rápida Pesquisa de Anticorpos anti-HIV Pesquisa de anticorpos do vírus da Hepatite C (anti-HCV) Hemograma; Lipidograma; Dosagem de Colesterol HDL; Dosagem de Colesterol LDL; Dosagem de Colesterol Total; Dosagem de Triglicerídeos Dosagem de Glicose Eletroforese da hemoglobina (para detecção da doença falciforme) Aferição de Pressão Arterial Verificação de Peso e cálculo de IMC (índice de Massa Corporal) Paternidade e cuidado 41 41 UN2 Pré-natal do parceiro toda a família o Calendário Nacional de Vacinação, que atende todas as etapas da vida, como para a criança, adolescente, adulto e idoso. O pai ou parceiro, durante o acompanha- mento do período gestacional, deve atu- alizar o seu Cartão da Vacina e buscar participar do processo de vacinação de toda a família, em especial da gestante e do bebê. Figura 8 – É importante que pai/parceiro mantenha o seu Cartão de Vacina atualizado Fonte: Fotolia. Com isso mantém-se o intuito de possibili- tar conhecimento e acesso às vacinas ofe- recidas pelo PNI e a participação do pai ou parceiro na vacinação da família. Acesse o Calendário Nacional de Vacinação em: <http://portalms.saude.gov.br/acoes- e-programas/vacinacao/calendario-vaci nacao>. 4o PASSO Toda e qualquer consulta é uma oportunida- de de escuta e criação de vínculo entre os homens e profissionais de saúde, propician- do o esclarecimento de dúvidas e orientação sobre temas relevantes, tais como relacio- namento com a parceira, atividade sexual, gestação, parto e puerpério, aleitamento materno, prevenção da violência doméstica. Importante lembrar que o envolvimento do pai pode acontecer mesmo quando ele e a gestante não estiverem em um relaciona- mento afetivo. Para isso, é importante conversar com a gestante e saber se ela deseja que ele par- ticipe deste momento. É de suma relevân- cia também que os profissionais de saúde reconheçam, respeitem e contemplem as diversas configurações familiares e ex- pressões da paternidade em suas ações. Mais adiante abordaremos a diversidade na paternidade. Mais exemplos de atividades educativas exito- sas com foco no público masculino podem ser visualizadas em: <https://novo.atencaobasica. org.br/relato>. 5o PASSO Esclarecer sobre o direito da mulher a um acompanhante no pré-parto, parto e http://portalms.saude.gov.br/acoes-e-programas/vacinacao/calendario-vacinacao http://portalms.saude.gov.br/acoes-e-programas/vacinacao/calendario-vacinacaohttp://portalms.saude.gov.br/acoes-e-programas/vacinacao/calendario-vacinacao https://novo.atencaobasica.org.br/relato https://novo.atencaobasica.org.br/relato Paternidade e cuidado 42 42 UN2 Pré-natal do parceiro puerpério e incentivá-lo a conversar com a parceira sobre a possibilidade da sua participação neste momento. Conversar com os futuros pais sobre a relevância de sua participação no pré-parto, parto e puerpério, dando exemplos do que ele po- derá fazer, como: ser encorajado a cortar ou clampear o cordão umbilical em mo- mento oportuno; levar o recém-nascido ao contato pele a pele; incentivar a ama- mentação; dividir as tarefas de cuidados da criança com a mãe etc. Algumas sugestões de atividades para realizar no seu local de trabalho estão no esquemático ao lado. Caso a gestação seja de alto risco, com chances de o recém-nascido nascer pre- maturo ou com baixo peso, recomenda- se incentivar os pais/parceiros a conhe- cerem a unidade neonatal da maternidade de referência. Além disso, o profissional deve mostrar ao futuro pai que ao partici- par do parto, ele pode ajudar a potencia- lizar os diversos benefícios, respaldados pela OMS, desde 1985. O Governo Federal instituiu em 2005 a Lei Fe- deral no 11.108/05, que garante o direito a um acompanhante de livre escolha da mulher du- rante todo o período de trabalho de parto, par- to e pós-parto imediato. O artigo “Presença do acompanhante durante o processo de parturi- ção: uma reflexão”, de Santos et al. (2011) dis- corre sobre os benefícios da inserção do acom- panhante no trabalho de parto, apresentando evidências científicas sobre o assunto. Acesse: <http://www.reme.org.br/artigo/detalhes/58>. • Prática de atividades físicas regulares • Alimentação balanceada e saudável (preferência por alimentos in natura) • Usar óleos, gorduras, sal e açúcar com moderação • Limitar o uso de produtos prontos para consumo • Evitar comidas prontas tipo fast food etc., diminuir ou cessar consumo de bebida alcoólica, cigarro e outras drogas • Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem • Gênero, socialização masculina e impactos para a vida de homens, mulheres e crianças • Sexualidade, direitos sexuais e direitos reprodutivos • Paternidade, como ser um pai/parceiro presente • Prevenção de acidentes e violências entre a população masculina, dentre outros Atividades educativas com temas voltados para o público masculino Orientação de hábitos saudáveis Realização de rodas de conversa abordando temas como http://www.reme.org.br/artigo/detalhes/58 Paternidade e cuidado 43 43 UN2 Pré-natal do parceiro 2.3 Pais de filhos e filhas prematuros e o Método Canguru Como descreve a publicação Atenção hu- manizada ao recém-nascido de baixo peso: Método Canguru, a gestação e o nascimento de uma criança representa um momento de grande importância no ciclo vital de mulhe- res e homens, trazendo repercussões pro- fundas e duradouras. Este precioso manual, elaborado pelo MS em 2011, afirma que os profissionais de saúde precisam estar cientes dessas repercussões e compreender na prática que, quando um bebê nasce prematuramente, tanto eles ne- cessitam ter preparo instrumental e afetivo para adaptar-se a esta condição, quanto o foco da assistência à família muda signifi- cativamente. O manual deixa claro que o nascimento de um bebê pré-termo – aquele cuja gesta- ção durou mais de 20 semanas e menos de 37 semanas – geralmente representa um momento de crise para a família. Nes- te cenário, todas as pessoas presentes no ambiente da unidade neonatal – o bebê in- ternado, os pais, os familiares e a equipe de profissionais – possuem alguma vulne- rabilidade e necessidades específicas que devem ser identificadas e atendidas ade- quadamente. No entanto, quando bem trabalhado pela equipe de saúde, este momento de crise pode se constituir num ambiente propício à formação e fortalecimento de vínculos afe- tivos, auxiliado por técnicas como o “Méto- do Canguru”. Como descrito no Manual, a posição canguru propicia: [...] o desenvolvimento de laços afe- tivos de modo mais natural, pois permite que os pais possam ter um contato pele a pele íntimo com o bebê, ajudando‐os a se sentirem mais confiantes em si mesmos. A posição canguru diminui, também, o estresse do bebê, evitando, assim, o aumento do nível de cortisol e, em consequência disso, preservando o cérebro do bebê de possíveis danos causados pelo estresse. (BRASIL, 2013, p. 50). Figura 9 – Método Canguru Fonte: Governo do Rio de Janeiro (2014) Paternidade e cuidado 44 44 UN2 Pré-natal do parceiro Sempre que possível, os pais/parceiros de- vem ser convidados e estimulados a reali- zarem este contato pele a pele com o seu bebê, tendo em vista que esse momento pode proporcionar novas experiências pro- prioceptivas e perceptivas para os recém nascidos que sejam benéficas para a reto- mada do seu desenvolvimento físico, emo- cional e cognitivo, fortalecendo o vínculo pai-bebê e dando mais segurança às mães, à medida em que passam a se sentir mais apoiadas por seus parceiros. Conheça o projeto “Pai Canguru”, realizado no Hospital Estadual Rocha Faria, em Campo Grande, RJ. Acesse: <https://razoesparaacre- ditar.com/viver/projeto-pai-canguru-ajuda- no-desenvolvimento-e-aproxima-pais-e-be- bes-prematuros/>. https://razoesparaacreditar.com/viver/projeto-pai-canguru-ajuda-no-desenvolvimento-e-aproxima-pais-e-bebes-prematuros/ https://razoesparaacreditar.com/viver/projeto-pai-canguru-ajuda-no-desenvolvimento-e-aproxima-pais-e-bebes-prematuros/ https://razoesparaacreditar.com/viver/projeto-pai-canguru-ajuda-no-desenvolvimento-e-aproxima-pais-e-bebes-prematuros/ https://razoesparaacreditar.com/viver/projeto-pai-canguru-ajuda-no-desenvolvimento-e-aproxima-pais-e-bebes-prematuros/ UN3 Paternidade e diversidade Paternidade e cuidado 46 46 Paternidade e cuidado 47 47 UN3 Paternidade e diversidade O modelo tradicional de família – em que um pai e uma mãe vivem juntos com seus filhos e filhas, e, por vezes, com outros pa- rentes – continua sendo o que primeiro vem à mente de muitas pessoas quando questionadas sobre o assunto. No entanto, apesar das novelas e comerciais continuarem retratando tal modelo como se ele representasse a esmagadora maioria, ou mesmo a totalidade das famílias brasileiras, olhando ao redor, facilmente se constata que a realidade é bem diferente. Couto et al. (2010) trazem grande contri- buição para este debate, ao afirmarem que, associado a referenciais como geração, classe e raça/etnia, a perspectiva de gênero [...] conforma estereótipos e expecta- tivas que são (re)produzidos nos ní- veis institucionais (a Saúde) e findam por invisibilizar as necessidades de saúde dos homens (e das mulheres), negando-lhes, inclusive, a possibi- lidade de atuação como sujeitos de direitos na relação com os serviços de saúde” (COUTO et al., 2010, p. 258). Figura 10 – Diversidades Fonte: Fotolia Tendo isso em vista, é fundamental que os profissionais da saúde fiquem atentos às diferentes situações encontradas nos servi- ços durante o período da gestação, parto e pós-parto, já que a mãe ou o pai da criança Paternidade e cuidado 48 48 UN3 Paternidade e diversidade podem estar em relacionamentos homoafe- tivos, não estarem ou nunca terem estado em relacionamento íntimo e terem diferen- tes configurações familiares. Os serviços de saúde precisam reconhecer e apoiar a diversidade de formas de cuidado existente entre homens e as necessidades das diversas configurações familiares, in- cluindo pais solteiros, pais adotivos, pais gays e pais adolescentes (LEVTOV et al., 2015). O termo “invisibilidadesocial”, muito utilizado no debate sobre o preconceito ou indiferença no campo do trabalho, pode contribuir para a reflexão e sensibilização aqui vislumbrada. Assista ao vídeo Invisibilidade Social (TVBetim UHF, 2013) e conheça mais sobre o assunto. Acesse: <https:// www.youtube.com/watch?v=0geo2ZIW3wA>. 3.1 Paternidade entre homens jovens e adolescentes Raramente se pergunta aos homens – em especial aos jovens e adolescentes – sobre sua participação, responsabilidade e dese- jo no processo de reprodução. Figura 11 – Mesmo quando desejam assumir a paternida- de, os adolescentes geralmente enfrentam obstáculos Fonte: Fotolia. Mesmo quando desejam assumir a paterni- dade, os adolescentes geralmente enfren- tam obstáculos, já que essa experiência é vista como um “desvio” para boa parte da so- ciedade, dificultando para os adolescentes pensar, prevenir ou assumir sua condição de pai (FONSECA, 1997). Por isso, alguns pontos são bastante im- portantes para a reflexão dos profissionais de saúde no cuidado do pai/parceiro ado- lescente: • o filho em geral é percebido, em nossa cultura, como sendo da mãe; • o homem jovem quase sempre é perce- bido como naturalmente promíscuo, in- consequente, aventureiro e impulsivo; • o jovem pai é visto, sempre e por princí- pio, como ausente e irresponsável: “Nem adianta procurá-lo porque ele não quer nem saber!”; • o jovem pai é reconhecido mais no papel de filho do que de pai; • a preocupação com as experiências re- produtivas dos adolescentes concentra- se em grande medida na noção de pre- venção (INSTITUTO PAPAI et al., 2001). https://www.youtube.com/watch?v=0geo2ZIW3wA https://www.youtube.com/watch?v=0geo2ZIW3wA Paternidade e cuidado 49 49 UN3 Paternidade e diversidade Ao invés de considerar a gravidez de ado- lescentes e de jovens como um “evento problema”, o mais adequado é que se bus- que compreendê-la, sabendo que ela pode fazer parte do projeto de vida destes ado- lescentes, tendo significados diferentes para cada um deles, e podendo se revelar como um elemento reorganizador da vida, e não somente desestruturador (BRASIL, 2010). Figura 12 – A gravidez pode ser um elemento reorganiza- dor da vida Fonte: Fotolia. Nesse sentido, os profissionais de saú- de precisam desenvolver ações, com a finalidade de: • apoiar adolescentes de sexo masculino para que possam assumir, de maneira res- ponsável, sua vida reprodutiva, fortalecen- do seu envolvimento durante a gestação, o parto e no cuidado para com o filho, aju- dando-o a construir seu espaço dentro da família, num outro lugar que não apenas o de filho ou de chefe provedor; • sensibilizar adolescentes de sexo femi- nino quanto à desejabilidade e necessi- dade do envolvimento dos pais de seus filhos durante a gestação, o parto e o cuidado para com a criança; • sensibilizar profissionais que já atuam junto a adolescentes sobre a necessida- de de compreenderem e apoiarem pais adolescentes, a fim de serem criadas condições favoráveis para o exercício da paternidade; • produzir e divulgar conhecimentos sobre a paternidade adolescente e as maneiras de apoiá-la (FONSECA, 1997). Fonseca (1997) traçou uma proposta que viria a se constituir no PAPAI (Programa de Apoio ao Pai), que alguns anos depois se transformaria na ONG Instituto Papai. Conheça mais sobre essa ONG em <http://www.institutopapai.blo- gspot.com.br>. Compreendendo que, assim como a mater- nidade, a paternidade representa um pro- cesso de transição emocional e existencial e que o período da adolescência acarreta mudanças biológicas, psicológicas e so- ciais, os profissionais de saúde devem: • ter disponibilidade para realizar a escuta ativa da adolescente e do seu parceiro, reduzindo suas dúvidas e prestando os esclarecimentos necessários, mesmo que necessite dispensar mais tempo na consulta; http://www.institutopapai.blogspot.com.br http://www.institutopapai.blogspot.com.br Paternidade e cuidado 50 50 UN3 Paternidade e diversidade • favorecer espaços (nas consultas, nos grupos e nas oficinas) para que adolescentes do sexo masculino pos- sam assumir a paternidade (BRASIL, 2012). Para que o processo de inclusão e de apoio aos pais jovens e adolescentes seja pos- sível, é imprescindível desconstruir alguns estereótipos atrelados aos adolescentes e à gravidez na adolescência, fugindo assim de generalizações, já que, Se esperamos rapazes violentos, se esperamos que eles não se envol- vam com cuidados com seus filhos e que não participem de temas li- gados à saúde sexual e reprodutiva de uma forma respeitosa e com- prometida, então criamos profecias que se autocumprem” (INSTITUTO PAPAI et al., 2001, p. 11). A seguir, compartilhamos outras recomen- dações ou colocações que podem ser úteis para os serviços e profissionais de saúde: • estimular os adolescentes no desempe- nho das funções de mãe e pai, encora- jando-os para o exercício da maternida- de e paternidade responsável, evitando, entretanto, subestimar a sua capacidade (BRASIL, 2012); • reconhecer os adolescentes como su- jeitos de direitos sexuais e reprodutivos, incluindo a paternidade como direito. Deve-se estimular sua presença, sem- pre que possível, e respeitá-los da mes- ma forma como se faria com os adultos. Assim se contribui para fortalecer sua autonomia e seu senso de responsabi- lidade como pai (CASTELLO BRANCO et al., 2009); • é importante ter claro que nem todo pai adolescente é relapso e que nem toda experiência de paternidade é ne- gativa para os jovens, como somos en- sinados a pensar e a esperar. O mes- mo se aplica às mães adolescentes (PROMUNDO, 2015); • apoiar a adolescente que engravida e o seu parceiro não significa estimular a gravidez entre adolescentes; significa criar condições para que esse processo não resulte em problemas físicos e psi- cossociais para o casal (PAPAI, 2001). Por fim, mas não menos importante, os profissionais devem ficar atentos à pressão sofrida pelos futuros pais – que é igual- mente ou ainda mais sentida pelos pais jo- vens e adolescentes –, para que assumam a função de provedor. Com frequência, essa pressão leva muitos homens jovens a largar os estudos prematuramente e a assumirem trabalhos em condições precárias, por vezes até ilegais. Paternidade e cuidado 51 51 UN3 Paternidade e diversidade Nesse contexto, o diálogo aberto e respei- toso com o futuro pai pode funcionar como um contraponto ao que ele ouve de amigos e familiares, levando-o a reconhecer que a paternidade é muito mais do que ser ape- nas o provedor e a se envolver de forma consciente e ativa. Importante! Em qualquer atendimento de saúde realizado com adolescentes e jovens, é de suma importância que os/as profissionais respeitem a confidencialidade e sigilo, garan- tindo assim que as informações partilhadas não serão transmitidas aos seus pais e/ou res- ponsáveis, sem a sua concordância explícita (BRASIL, 2007). 3.2 Homoparentalidade Homens gays, bissexuais e transexuais se tornam pais em diversos contextos como pais solteiros; em relacionamentos com outros homens ou com mulheres; como homens gays que tiveram crianças em re- lacionamentos heterossexuais anteriores; como homens que adotaram formalmente ou informalmente e como homens que se tornaram pais utilizando técnicas de fer- tilização assistida ou de ‘mães solidárias’ (LEVTOV et al., 2015). Ao abordar o tema da homoparentalida- de – o cuidado da criança por pai ou casal homossexual – é importante ressaltar que a discriminação sofrida por esses homens nem sempre é ‘aberta’ e contundente, o que não a torna menos grave. Figura 13 – Homoparentalidade Fonte: Fotolia. As diversas formas de discriminação so- fridas por homens e pais homossexu- ais,
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