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Mathias Cavalari de Lima

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UNIJUÍ - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO SUL
MATHIAS CAVALARI DE LIMA
A LEGALIDADE DO SACRIFÍCIO DE ANIMAIS EM CULTOS RELIGIOSOS
Ijuí (RS)
2019
MATHIAS CAVALARI DE LIMA
A LEGALIDADE DO SACRIFÍCIO DE ANIMAIS EM CULTOS RELIGIOSOS
Trabalho de Conclusão do Curso de
Graduação em Direito objetivando a
aprovação no componente curricular
Trabalho de Conclusão de Curso - TCC.
UNIJUÍ - Universidade Regional do
Noroeste do Estado do Rio Grande do
Sul.
DCJS- Departamento de Ciências
Jurídicas e Sociais.
Orientador (a): MSc. Marcelo Loeblein dos Santos
Ijuí (RS)
2019
Dedico este trabalho a todos que me
incentivaram e me apoiaram neste
momento tão importante. Em especial
minha mãe e minha namorada que
sempre estiveram ao meu lado.
AGRADECIMENTOS
Estar concluindo o curso de Direito é realizar um sonho digno de muitos
agradecimentos. Se finalizei esse Trabalho é porque recebi muito apoio de
familiares, amigos e professores.
Primeiramente, agradeço a minha mãe, Ângela, pois seu apoio foi
fundamental para que eu pudesse trilhar o caminho que escolhi. Agradeço também
ao meu falecido pai, Valmir, já que suas ações em vida me possibilitaram cursar
uma universidade. 
Agradeço a minha namorada, Diovana, que sempre pude contar nas horas
difíceis, me passando confiança e força para seguir em frente. Além de ter sido
parceira e paciente o tempo todo. 
Agradeço aos meus amigos, aos antigos e aos novos que a universidade me
deu, por compartilharem momentos incríveis comigo. 
Agradeço aos professores pelos ensinamentos, em especial ao professor
Marcelo Loeblein, por aceitar participar desse trabalho, me orientando e contribuindo
para sua melhoria. 
Agradeço também ao Fábio Butignol, por me emprestar diversos livros sobre
o meu tema e também sempre estar disposto a ajudar e tirar minhas dúvidas. 
Por fim, agradeço a todos que de alguma forma, direta ou indiretamente,
participaram para a elaboração desse projeto. 
“Em algum lugar, algo incrível está esperando
para ser descoberto ” Carl Segan
RESUMO 
O presente trabalho de conclusão de curso faz uma análise do surgimento
do direito dos animais e as primeiras noções de liberdade religiosa, a fim de
proporcionar um entendimento mais amplo sobre a legalidade do sacrifício de
animais em rituais religiosos. Analisa o conceito e a evolução histórica dos direitos
dos animais. Aborda a tutela legal da fauna brasileira, apontando os agentes estatais
mais presentes na proteção dos animais. Estuda os aspectos materiais e
processuais dos crimes praticados contra a fauna, observando as penas e o
procedimento aplicado. Remonta o conceito de liberdade religiosa, suas formas de
manifestação e a cronologia nas Constituições brasileiras. Investiga as formas de
marginalização e preconceito contra liturgias de minorias e grupos vulneráveis,
dando ênfase as religiões de matriz africana Examina os aspectos jurídicos e
religiosos envolvidos no sacrifício de animais, buscando esclarecer os motivos que
levam a essa prática. Finaliza analisando o Recurso Extraordinário nº 494601 que foi
julgado pelo Supremo Tribunal Federal no sentido de admitir o sacrifício de animais
nos ritos religiosos, com base na tese firmada que é constitucional a lei de proteção
animal que, a fim de resguardar a liberdade religiosa, permite o sacrifício ritual de
animais em cultos de religiões de matriz africana.
 
Palavras-Chave: Sacrifício de animais. Liberdade religiosa. Proteção à fauna.
Crueldade contra animais.
ABSTRACT
The present course conclusion paper analyzes the emergence of animal rights
and the first notions of religious freedom in order to provide a broader understanding
of the legality of animal sacrifice in religious rituals. It analyzes the concept and
historical evolution of animal rights. It addresses the legal protection of the Brazilian
fauna, pointing out the state agents most present in the protection of animals. It
studies the material and procedural aspects of the crimes committed against the
fauna, observing the penalties and the applied procedure. It goes back to the concept
of religious freedom, its forms of manifestation and the chronology in the Brazilian
constitutions. It investigates the forms of marginalization and prejudice against
liturgies of minorities and vulnerable groups, emphasizing African-based religions. It
examines the legal and religious aspects involved in animal sacrifice, seeking to
clarify the reasons that lead to this practice. It concludes by analyzing Extraordinary
Appeal 494601, which was judged to admit animal sacrifice in religious rites, based
on the thesis that the animal protection law is constitutional, which, in order to
safeguard religious freedom, allows the ritual sacrifice of animals. in cults of religions
of African matrix
Keywords: Animal sacrifice. Religious freedom. Wildlife protection. Cruelty to
animals.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO............................................................................................................9
1 O DIREITO DOS ANIMAIS NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO........11
1.1 Conceito e evolução histórica dos direitos dos animais...............................12
1.2 A tutela legal da fauna brasileira......................................................................15
1.3 Dos aspectos materiais e processuais dos crimes contra a fauna..............19
1.4 Da dignidade da pessoa humana e de outras espécies................................22
2 A LIBERDADE RELIGIOSA FRENTE AO SACRIFÍCIO DE ANIMAIS EM RITUAIS
...................................................................................................................................27
2.1 Liberdade religiosa, formas de manifestação e cronologia nas 
constituições brasileiras.........................................................................................28
2.2 Marginalização e preconceito contra liturgias de minorias e grupos 
vulneráveis...............................................................................................................35
2.3 O sacrifício de animais em rituais: aspectos jurídicos e religiosos.............43
2.4 Critérios de solução dos conflitos entre direitos dos animais e liberdade 
religiosa....................................................................................................................49
CONCLUSÃO............................................................................................................58
REFERÊNCIAS.........................................................................................................61
INTRODUÇÃO
O presente trabalho apresenta um estudo acerca da legalidade de
práticas que sacrificam animais em cultos religiosos. A questão é problemática se
assumido que a liberdade religiosa só tem sentido se ir além de ter uma crença, é
necessário também poder praticá-la. No entanto, nenhum direito ou valor pode ser
compreendido em seu sentido absoluto. 
Esse estudo se justifica pelo fato que a temática ainda não foi exaurida
com profundidade, e que também é necessário esse estudo devido a recente
decisão do STF acerca do tema, que teve repercussão geral conhecida e que
reconheceu ser constitucional lei que autoriza sacrifícios animais por motivo
religioso. 
Para a realização deste trabalho serão efetuadas pesquisas bibliográficas
e por meio eletrônico, analisando também as propostas legislativas sobre o tema e o
Recurso Extraordinário do STF, nº 494601, a fim de enriquecer a coleta de
informações e permitir um aprofundamento no estudo da liberdade religiosa, revelar
a importância do direito dos animais e apontar novas perspectivas para a
problemática do conflito de direito existente na sacralização de animais.Na sua
realização será utilizado o método de abordagem hipotético-dedutivo.
O problema a ser abordado nesse trabalho é tentar entender como
harmonizar o sacrifício animal por motivos religiosos com os ideais dos protetores
dos animais, que, por vezes, entendem o sacrifício religioso como um crime.
9
Para isso será necessário verificar quais as leis existentes de proteção à
fauna brasileira, realizando uma breve abordagem histórica destes direitos, bem
como definir o princípio da liberdade religiosa e analisar a sua abrangência no
ordenamento jurídico brasileiro.
Inicialmente, no primeiro capítulo, estudar-se-á a matéria concernente a
história dos direitos dos animais no ordenamento jurídico brasileiro. Segue uma
análise da tutela legal da fauna brasileira e os principais órgãos públicos
responsáveis por tutelá-los. Também são analisados os aspectos materiais e
processuais dos crimes praticados contra a fauna, bem como a dignidade da pessoa
humana e de outras espécies. 
No segundo capítulo analisar-se-á o direito constitucional da liberdade
religiosa, suas formas de manifestação e a cronologia nas Constituições brasileiras.
Também serão analisadas as formas de marginalização de preconceito contra
liturgias de minorias e grupos vulneráveis, dando ênfase as religiões de matriz
africana, que segundo dados obtidos são as que mais são marginalizadas no Brasil. 
Estudar-se-á também os aspectos jurídicos e religiosos que permeiam o
tema, buscando acabar com preconceitos e misticismos que cercam as praticas
realizadas por religiões afro-brasileiras. Por fim, será feita uma análise do Recurso
Extraordinário do STF, nº 494601, que entendeu ser constitucional a lei de proteção
à fauna que permite a prática de sacrifício de animais por motivos religiosos.
10
1 OS DIREITOS DOS ANIMAIS NO ORDENAMENTO JURÍDICO
BRASILEIRO
 
Ao longo da história humana os animais foram desconsiderados pela
humanidade, eram vistos apenas como um meio para atingir uma finalidade, sendo
explorados como alimento, vestuário, transporte, entre outros. Eram apenas meros
objetos de apropriação, imbuídos de valor econômico.
Entretanto, foi no século XIX, quando um naturalista britânico chamado
Charles Robert Darwin publicou suas pesquisas e informou a sociedade da época
que o homem também era um animal, que se deu início a discussões sobre direito
dos animais.
Foi nesse mesmo século que houve um grande avanço dos direitos dos
animais. Isso porque diversos países começaram a adotar legislações que
protegiam à fauna e também o surgimento das primeiras sociedades de proteção
animal. A França foi o primeiro Estado independente a adotar uma legislação
protetiva da fauna ainda no século XIX.
Entretanto, no Brasil houve certa demora para o surgimento das primeiras
legislações que visagem proteger à fauna. Isso porque no Brasil colonial o que mais
interessava era a exploração dos recursos disponíveis, e os animais eram tratados
como meras mercadorias. Somente com o advento do Decreto nº16.590 de 1924
que surgiu a primeira norma que tratava da proteção aos animais.
Diante disso, o presente capítulo tem por objetivo analisar o tema
historicamente, ou seja, a origem dos direitos dos animais e seu avanço no sistema
brasileiro, em especial na Constituição de 1988, a fim de possibilitar uma melhor
compreensão das leis que protegem os animais e os motivos que levaram o
Supremo Tribunal Federal a reconhecer a legalidade de sacrifícios animais em
cultos religiosos.
11
1.1 Conceito e evolução histórica dos direitos dos animais
 
Observa-se que atualmente a relação do ser humano com os animais
está bastante próxima. Em alguns casos esses seres são tratados de forma tão
especial que parecem um filho. Essa relação entre humanos e outros animais,
apesar te ter mudado durante os séculos, não é recente, como observa Maria Izabel
Vasco de Toledo (2012, p.2):
A domesticação dos animais pelo homem foi um processo gradual,
que ocorreu há aproximadamente 6 mil anos, em que o homem, ao
oferecer alimento e proteção aos não humanos, em troca passou a
explorá-los como alimento, vestuário, transporte, etc, sendo tratados
como meros objetos de apropriação, imbuídos de valor econômico.
Essa relação foi se aprofundando com o decorrer dos anos, sendo o
Direito utilizado para regulamentar essa relação. De acordo com as palavras de
Thiago Pires Oliveira e Luciano Rocha Santana (2006) o Direito Romano tratava dos
animais conforme o fim econômico destinado a eles, diferenciando os animais que
eram passíveis de apropriação, como os de carga e domésticos, e os que não eram
passíveis de apropriação, como era o caso dos animais silvestres. Após, ainda no
Direito Romano, houve uma mudança na classificação dos animais no ordenamento
jurídico da época, sendo que agora eram tidos como bens móveis e semoventes,
diferenciados entre os animais sem um proprietário e os que eram abandonados por
seus proprietários.
Já na era medieval parece ter tido um declínio na conceituação animal no
direito, pois naquela época era possível que um animal tivesse capacidade para
fazer parte da relação processual, podendo figurar no polo ativo ou passivo de uma
ação, mas é claro que o mais comum era figurar como parte ré. Isso era possível
devido aos processos cíveis que buscavam indenização por causa de danos
patrimoniais causados pelos animais e também em processos criminais em que o
animal era sentenciado e cumpria pena junto com seres humanos. Nesse sentido,
Marco Antônio Azkoul (1995, p.27, apud SANTANA; OLIVEIRA, 2006, p.11), explica
que:
12
Durante a época dos bárbaros os animais foram incluídos na relação
de direitos comuns, a qual sempre regulou as relações de pessoas
na atualidade. Sendo certo que o animal na atualidade é
irresponsável pelos próprios atos, respondendo por eles aqueles
titulares que têm sob sua guarda o referido animal. A contra senso,
antigamente, caso o animal cometesse uma falta devia ser punido;
no entanto, eram-lhes reconhecidos direitos legais de serem
assistidos por advogados e todos os meios de provas admitidas.
Essa foi a era de regressão dos direitos dos animais. Após esse período
demorou anos até que existisse preocupação com a dignidade do animal. Até então,
tudo o que o direito regulamentava não tinha ligação com a dignidade animal,
somente importava o valor econômico envolvido. No entendimento de Jane Justine
Maschio (2005), foi somente na Era moderna que se buscou proteger a fauna e
houve interesse na proteção da dignidade animal. Algumas legislações de pequenas
colônias que datam os anos 1.600 visavam proteger o abuso contra os animas, tanto
domésticos quanto selvagens, como é o caso do Código Legal de 1641 da Colônia
de Massachussets Bay, localizada no atual Estados Unidos da América, a qual
previa, de forma pioneira, algumas formas de proteção de animais domésticos
contra atos cruéis. Essa talvez seja a primeira legislação que teve como objetivo
proteger os direitos dos animais.
A França foi o primeiro Estado independente a adotar uma legislação
protetiva da fauna, já que em seu código penal de 1971 que tipificava o
envenenamento de animais pertencentes a terceiros e vedando os atentados a
bestas e cães de guarda que se encontrassem em propriedade alheia. Mas como
observa Santana e Oliveira (2006), foi somente em 1822 que surgiu a primeira lei
específica, na Grã-Bretanha, que visava impedir as lutas entre touros e cães e
vetava os maus tratos aos cavalos.
No século XIX houve um grande avanço na legislação que tratava dos
animais, isso porque surge a primeira sociedade de proteção aos animais. Sobre o
tema, Natascha Stefania Carvalho de Ostos (2017, p.1) informa que “Naesteira da
luta em defesa dos animais, foi criada, no ano de 1824, em Londres, a Royal Society
for the Prevention of Cruelty to Animals.” A partir de então, postos da entidade
13
inglesa e sociedades congêneres foram criados por toda a Europa e nos Estados
Unidos”. A partir do surgimento desta sociedade, outras foram surgindo no decorrer
dos anos. Nesse momento, legislações em diversos países começaram a aparecer
buscando a proteção dos animais, como é o caso das legislações protetoras dos
animais no Império da Áustria, em 1855, punindo quem maltratasse animais em
público e na Hungria, em 1879, com a promulgação da Lei Fundamental XI, que, em
seu § 86, previa a prisão e multa daquele que maltratasse animais.
No Brasil colônia não houve nenhum surgimento de legislação com a
finalidade de proteção a fauna, de acordo com Santana e Oliveira (2006, p.17) “No
Brasil, diferentemente da antiga colônia de povoamento de Massachussets Bay,
atual EUA, o sistema de exploração colonial não favoreceu o surgimento de
quaisquer preocupações com o bem-estar ou dignidade dos animais” Isso porque
naquela época ainda era comum a escravidão de negros e índios, que, da mesma
forma que animais, eram tratados como simples mercadoria, dotados de valor
econômico. Desta forma, as únicas legislações que tratavam dos animais na época
tinham como finalidade proteção contra escassezes que pudesse prejudicar a
exploração abusiva de alguns animais.
Foi em 1978 que os direitos dos animais ganharam mais força com a
Declaração Universal dos Diretos dos Animais, proclamada em Bruxelas, Bélgica,
sendo tal declaração reconhecida pela UNESCO (2019, p.1). Esse documento
elenca uma série de dispositivos que orientam a proteção aos animais. Vale citar o
seu preâmbulo que considera diversos pontos, tais como:
Considerando que todo o animal possui direitos, Considerando que o
desconhecimento e o desprezo destes direitos têm levado e
continuam a levar o homem a cometer crimes contra os animais e
contra a natureza, Considerando que o reconhecimento pela espécie
humana do direito à existência das outras espécies animais constitui
o fundamento da coexistência das outras espécies no mundo, 
Considerando que os genocídios são perpetrados pelo homem e há
o perigo de continuar a perpetrar outros. Considerando que o
respeito dos homens pelos animais está ligado ao respeito dos
homens pelo seu semelhante, Considerando que a educação deve
ensinar desde a infância a observar, a compreender, a respeitar e a
amar os animais.
14
Com essas considerações, é declarado ainda que:
Art. 1º - Todos os animais nascem iguais perante a vida e têm os
mesmos direitos à existência. Art. 2º 1. Todo o animal tem o direito a
ser respeitado. 2. O homem, como espécie animal, não pode
exterminar os outros animais ou explorá-los violando esse direito;
tem o dever de pôr os seus conhecimentos ao serviço dos animais.
3. Todo o animal tem o direito à atenção, aos cuidados e à proteção
do homem. Art. 3º 1. Nenhum animal será submetido nem a maus
tratos nem a atos cruéis. 2. Se for necessário matar um animal, ele
deve de ser morto instantaneamente, sem dor e de modo a não
provocar-lhe angústia (…) Art. 14º 1. Os organismos de proteção e
de salvaguarda dos animais devem estar presentados a nível
governamental. 2. Os direitos do animal devem ser defendidos pela
lei como os direitos do homem (UNESCO, 2019).
Como se observa na própria Declaração Universal dos Direitos dos
Animais, a fauna passou a deixar de ser vista como mera mercadoria ou
propriedade, passando então a reconhecer a dignidade dos animais. A partir desse
momento se fortalece a legislação protetiva da fauna, cujo o texto da referida
declaração seria norteador do Direito Ambiental no século XXI. Nesse meio, houve
uma atenção maior nas normas que proibissem práticas consideradas abusivas e
crueldade com os animais.
1.2 A tutela legal da fauna brasileira
Mesmo com o grande avanço da Declaração Universal dos Direitos dos
Animais, o Brasil não assinou o acordo e esta serviu apenas como direito
comparado. Dessa forma, demorou para que surgissem as primeiras normas
brasileiras de proteção animal. Foi somente no século XX com a publicação do
Decreto federal nº24.645/34 que os maus tratos contra os animais se tornou uma
contravenção penal.
No ano de 1941 surgiu o Decreto-Lei 3.688, que passou a considerar
como infração penal, com previsão prisão simples de dez dias a um mês, além de
multa, as crueldades contra os animais. Nos anos seguintes, surgiram diversas
15
legislações no Brasil que tinham como finalidade proteger a fauna, Entre as leis
federais que estabeleceram relação, direta ou indireta, com a tutela dos animais,
pode-se citar as seguintes: Lei n. 4.771/65 (Código Florestal), Lei n. 5.197/67 (Lei de
Proteção à Fauna), Decreto n. 221/67 (Código de Pesca, complementado pela Lei
7.679/88), Lei n. 7.173/83 (Jardins Zoológicos), Lei n. 8.974/95 (Engenharia
Genética), além das Leis n. 6.938/81 (Política Nacional do Meio Ambiente) e Lei
7.347/85 (Ação Civil Pública), que deu ao Ministério Público a função de guardião da
natureza.
Mas foi a partir da Carta Magna de 1988 que houve uma maior relevância
jurídica nas normas protetoras da fauna brasileira, isso porque em nenhuma outra
constituição do Brasil se deu maior atenção ao assunto, como bem assevera Daiane
Fernandes Baratela (2015, p.110):
As Constituições brasileiras anteriores à de 1988 não demonstraram
uma clara preocupação com a tutela da fauna, reflexo disso é que
essa expressão não apareceu nos textos constitucionais de 1824 e
1891. Nas constituições seguintes, a matéria só é referida pra
determinar a competência legislativa sobre as florestas, caça e
pesca, que era privativa da União. Dessa forma, a proteção da fauna
e da flora e a eliminação de práticas atentatórias a sua função
ecológica ou que impliquem em crueldade contra animais só
aparece, com valor jurídico de relevância constitucional, a partir de
Carta magna de 1988.
Nessa Constituição, surgiram dois artigos de grande importância na
proteção dos animais, são os artigos 23°, VII, da CF que estabelece a preservação
da fauna e da flora, e o artigo 225°, caput, parágrafo 1°,VII, da CF que inclui a
proteção da fauna e da flora como meio de assegurar a efetividade do direito ao
meio ambiente equilibrado, vedando práticas que coloquem em risco, submetam
animais à crueldade ou provoquem extinção da espécie.
Daiane Fernandes Baratela (2015) aponta o artigo 225 da Carta Magna
brasileira como inovador ao tratar da proteção da fauna, isso porque tratou de forma
ampla que abrangeu três vertentes de proteção que são: a) proibição de práticas
que coloquem em risco a função ecológica d a fauna; b) proibição de práticas que
16
provoquem a extinção das espécies e c) proibição de toda forma de prática que
submeta os animais à crueldade.
Portanto, vê-se que os animais possuem seus direitos e garantias
positivados no âmbito administrativo e judicial, não sendo meras “coisas”, nesse
ponto, Edna Dias ( 2005, p. 120 ) assevera que:
O animal como sujeito de direitos já é concebido por grande parte de
doutrinadores jurídicos de todo o mundo. Um dos argumentos mais
comuns para a defesa desta concepção é o de que, assim como as
pessoas jurídicas ou morais possuem direitos de personalidade
reconhecidos desde o momento em que registram seus atos
constitutivos em órgão competente, e podem comparecer em Juízo
para pleitear esses direitos, também os animais tornam-se sujeitos
de direitos subjetivos por força das leis que os protegem. Embora
não tenham capacidade de comparecer em Juízo para pleiteá-los, o
Poder Público e a coletividade receberam a incumbênciaconstitucional de sua proteção. O Ministério Público recebeu a
competência legal expressa para representá-los em Juízo, quando as
leis que os protegem forem violadas. Daí, pode-se concluir com
clareza que os animais são sujeitos de direitos, embora esses
tenham que ser pleiteados por representatividade, da mesma forma
que ocorre com os seres relativamente incapazes ou os incapazes,
que, entretanto, são reconhecidos como pessoas.
Diversos órgãos estatais e não estatais que tutelam os direitos dos
animais no Brasil. O mais atuante e conhecido agente estatal que protege a fauna
brasileira é o Ministério público. A Constituição de 1988 deu ao Ministério Público o
perfil acusatório e protetor dos interesses sócias. Como o Ministério Público pode
atuar como agente e substituir a parte interessada, é bastante comum ver esse
órgão atuando em defesa do meio ambiente e da causa animal, principalmente em
casos de denúncias de maus-tratos. A esse respeito, Nogueira (2012, p.333) declara
que:
O Ministério Público, quando se trata de relações indisponíveis ou de
ordem pública, pode atuar como agente, com total legitimidade ativa
para substituir a parte interessada. Atua dessa forma como substituto
processual em decorrência da possibilidade em suprir a inércia do
titular, fazendo valer em juízo a decisão sobre o direito subjetivo
17
individual alheio, interesse público ou individual próprio do Ministério
público. São inúmeras as atuações do Parquet na defesa do meio
ambiente e especificamente da causa animal, denúncias de maus-
tratos no uso de animais em atividades de diversão e esporte,
captura de animais de rua (castração, vacinação e sacrifício),
fiscalização de instituições científicas e de ensino, no intuito de evitar
sofrimento animal, e coação aos alunos que apresentam objeção de
consciência em procedimentos de vivissecção, dentro outros.
No entanto, existem ainda diversas leis que autorizam a submissão de
animais à crueldade, exemplos destas são a Lei dos Rodeios (Lei nº10.519/02), a
Lei dos Zoológicos(Lei nº7.173/ 83) , a Lei da Vivissecção (Lei nº11.894/08), a Lei do
Abate Humanitário, o Código da Caça e Pesca (Lei nº11.959/09 e nº5.197/67) e a
Lei Arouca (Lei nº11.794/08).Ou seja, na prática diversos animais sofrem todos os
dias em matadouros, criações industriais, experiências científicas que causam
queimaduras, degolamentos, castrações sem anestesias, explorações para gerar
alimentação, divertimento, vestuário e experimentos científicos. Tudo isso
legalmente por meio das leis infraconstitucionais vigentes no Brasil.
Diante de tantas leis que submetem os animais à crueldade e
considerando a falta de definição para a caracterização de "crueldade", "abuso" e
"maus tratos" aos animais na legislação, surge a Resolução nº 1.236 de 26 de
outubro de 2018, que tem como objetivo definir e caracterizar os termos acima
citados. Essa Resolução foi elaborada pelo Conselho Federal de Medicina
Veterinária com o propósito de orientar a conduta de médicos veterinários e
zootecnistas. Essa resolução caracteriza crueldade, abuso e maus tratos da
seguinte maneira:
Art. 2º Para os fins desta Resolução, devem ser consideradas as
seguintes definições:
I - animais vertebrados: o conjunto de indivíduos pertencentes ao
reino animal, filo dos Cordados, subfilo dos Vertebrados, incluindo
indivíduos de quaisquer espécies domésticas, domesticadas ou
silvestres, nativas ou exóticas;
II - maus-tratos: qualquer ato, direto ou indireto, comissivo ou
omissivo, que intencionalmente ou por negligência, imperícia ou
imprudência provoque dor ou sofrimento desnecessários aos
animais;
18
III - crueldade: qualquer ato intencional que provoque dor ou
sofrimento desnecessários nos animais, bem como intencionalmente
impetrar maus tratos continuamente aos animais;
IV - abuso: qualquer ato intencional, comissivo ou omissivo, que
implique no uso despropositado, indevido, excessivo, demasiado,
incorreto de animais, causando prejuízos de ordem física e/ou
psicológica, incluindo os atos caracterizados como abuso sexual;
Observava-se que foi necessário um órgão de classe elaborar uma
resolução caracterizando o que já deveria ter sido feito pelo legislador. A lei omissa
quanto ao reconhecimento dos animais como sujeitos de direitos está sendo suprida
pelo Ministério Público que tem legitimidade para atuar como parte. Como ainda é
bastante comum crimes contra a fauna, passa-se a estudar a tipificação legal desses
crimes, como são punidos e quem detém a competência para julgá-los.
1.3. Dos aspectos materiais e processuais dos crimes contra a fauna
Anelise Grehs Stifelman (2007) explica que antes do surgimento da Lei nº
9.605/98, estava o direito penal ambiental disperso em diferentes leis, sendo que
isso proporcionava a impunidade de muitas condutas reprováveis, além disso
grande parte das infrações penais ambientais eram consideradas contravenções
penais e por esse motivo eram excluídas da competência da Justiça Federal pelo
art.109, inciso IV, da Constituição Federal de 1988.
Nesse ponto, vale apontar o conteúdo da Súmula nº 38 do Superior
Tribunal de Justiça:
Compete à Justiça Estadual Comum, na vigência da
Constituição de 1988, o processo por contravenção penal,
ainda que praticada em detrimento de bens, serviços ou
interesses da União ou de suas entidades.
Com o advento da Lei nº 9.605/98, surgiram alterações na tipificação
penal das condutas, sendo que situações que antes eram consideradas meras
contravenções penais, passaram a ser tratadas como crimes contra o meio
ambiente.
19
Após deixar de ser uma contravenção penal os crimes praticados contra a
fauna, o Superior Tribunal de Justiça entendeu que seria de competência da Justiça
Estadual processar e julgar os crimes contra os animais, já que na nova lei não
existia uma previsão expressa de qual seria a Justiça competente para julgamento
de tais delitos. Dessa forma, se fez valer a regra da competência residual da Justiça
Estadual, visto que a proteção ao meio ambiente é de competência comum da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, conforme artigo 23, incisos
VI e VII da Constituição Federal de 1988.
No entanto, conforme lembra Stifelman (2007), é da competência da
Justiça Federal o processo e julgamento dos crimes contra o meio ambiente quando
estes importarem em lesão a bens, serviços ou interesse da União, suas autarquias
ou empresas públicas federais, incidindo, neste caso, a regra disposta no artigo 109,
inciso IV, da atual Carta Magna. Dessa forma, no aspecto processual, pode-se dizer
que em regra a competência é da Justiça Estadual para processar e julgar crimes
contra a fauna, mas, dependendo do caso, pode ser a competência da Justiça
Federal.
Mais um fato processual interessante, é que quase todos os crimes
praticados contra a fauna acabam sendo julgados nos Juizados Especiais Criminais,
criados pela Lei nº 9.099/95 e pela Lei nº 10.259/01. Por esse motivo, é possível que
sejam aplicados os benefícios que os Juizados Especiais Criminais proporcionam,
como transação penal, suspensão condicional do processo e reparação civil.
Quanto ao aspecto material penal, os crimes contra a fauna estão
essencialmente previstos nos arts. 29 a 35 da Lei 9.605/98. Dentre os crimes
tipificados, encontra-se o artigo 32, que, em especial, é o mais importante para este
trabalho. Diz o referido artigo que:
Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres,
domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
20
§ 1º Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosaou cruel em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos,
quando existirem recursos alternativos.
§ 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre morte
do animal.
Conforme bem observa Marcelo Robis Francisco Nassaro (2016), o art.
32, caput, é um tipo penal complexo, com muitas condutas contidas nesse mesmo
tipo. O ato de abuso é uma conduta que, de regra, contém maior complicação de
definição, ao contrário de ferir e mutilar, que são mais fáceis de identificar e, desta
maneira, mais simples de serem constatados. Quanto aos maus-tratos, no momento
não existe um rol taxativo de definição, e também seria muito difícil colocar em uma
única definição todas as condutas que são capazes de indicar maus-tratos aos
animais. Dessa forma, parece que no momento é escolha do legislador deixar o
conceito em aberto e permitir a apreciação de cada situação concreta.
Ainda no entendimento de Nassaro (2016) os ferimentos e mutilações nos
animais costumam resultar visíveis e permitem aos agentes públicos e pessoas
denunciantes o reconhecimento preliminar dos maus-tratos aos animais. Mesmo
sendo necessário a legal expedição de parecer ou laudo de profissional, ou perícia
do órgão competente estatal, por serem os ferimentos, em regra, visíveis, já
possibilitam um convencimento preliminar que possibilita aos agentes públicos tomar
medidas urgentes.
Já o abuso, por vezes, é conduta mais complexa que costuma não ser tão
fácil de ser identificada por um profissional habilitado. O abuso pode ser concebido
como uma conduta que impõe ao animal uma posição que não respeite a sua
condição. Como exemplo, é possível citar a situação que um cavalo é obrigado a
puxar uma carroça com peso além de suas forças. Nesses casos, parecer ser
necessário submeter cada um dos casos aos profissionais habilitados para que
avaliem a existência de abuso e possibilitem a aplicação das sanções respectivas.
21
Quanto aos maus-tratos em si, o texto do caput do art. 32 transmite que
seria uma ação específica, no entanto, no caso concreto, acabará por se subsumir
ao tipo caso não se enquadrar como abusar, ferir ou mutilar.
Para Nassaro (2016), um caso bem corriqueiro de maus-tratos é a
denúncia de animal sem alimento em certa residência. Uma vez caracterizada essa
situação, deve-se reconhecer o delito do art. 32, da Lei nº 9.605/98 na conduta
maus-tratos. É inclusive o que está mencionado no inc. V do art. 3º do Decreto
federal nº 24.645, de 1934, com a seguinte redação: “Abandonar animal doente,
ferido, extenuado ou mutilado, bem como deixar de ministrar-lhe tudo o que
humanitariamente se lhe possa prover, inclusive assistência veterinária”.
Similarmente comete o crime de maus-tratos aquele que condiciona
animal em lugar impróprio, sem higiene, espaço e luz solar, dentre outras situações
que impedem que ele tenha qualidade mínima de vida. Por bem, tais constatações
demandam necessariamente verificação de profissional habilitado.
Já o § 1º do art. 32 está voltado às instituições de pesquisa e ensino,
indicando-lhes a obrigação de modernidade de suas técnicas, a propósito de
diminuir ou impossibilitar o emprego de animais vivos como cobaias em testes e
experiências ou perante aulas que exijam entendimento do funcionamento dos
organismos vivos da natureza.
Percebe-se que caracterizar os crimes previstos no artigo 32 Lei 9.605/98
nem sempre é fácil, dependendo inclusive de avaliação de profissional da área. Com
isso, muitas vezes os crimes cometidos acabam por não serem punidos, e outros
são permitidos para atender alguma necessidade humana, como, por exemplo, a
indústria alimentícia de ovos que é considerada uma das mais cruéis do mundo.
1.4 Da dignidade da pessoa humana e de outras espécies
22
Ana Flávia Damasceno Nogueira (2012) considera que o princípio da
dignidade da pessoa humana nos identifica em um espaço de integralidade moral,
sendo que “a dignidade relaciona-se tanto com a liberdade e valores de espírito
como as condições materiais de subsistência.” Para Nogueira, a dignidade está
ligada à eticidade, sendo esse um modo ético de ver a si e ao outro. Dessa forma, a
dignidade cria um rol de direito e deveres que tem como base o respeito a outrem.
Na Constituição Federal brasileira de 1988, o inciso III, do artigo 1º ,
verifica-se que a dignidade da pessoa humana é elevada à condições de princípio
constitucional fundamental do Estado. O surgimento desse princípio foi posto com o
objetivo de dar mais ênfase à proteção do ser humano e deve ser entendido como
meio de repressão às injustiças sociais, em especial aos mais pobres, que muitas
vezes não são tratados como um objeto. Esse princípio é irrenunciável e se
manifesta de forma igualitária, como bem explica Nogueira (2012, p. 294):
O princípio se manifesta de forma igualitária a todo ser humano,
portanto é universal. Impõe limites ao poder estatal (direitos
fundamentais negativos), assegurando que nenhum ser humano
possa ser tratado como objeto, tendo seus direitos violados. Ao
mesmo tempo, assegura prestações positivas por parte do Estado,
de modo a garantir um patamar mínimo de recursos que possa
prover a subsistência de qualquer pessoa, garantindo-lhe situações
fáticas e jurídicas imprescindíveis à sua existência.
Ve-se, portanto, que a dignidade humana e as condições materiais de
existência tem um mínimo que não pode retroceder, sendo que o Estado deve
atender a este mínimo mesmo para quem está com direitos suspensos ou
condicionados como é o caso dos presidiários.
Nogueira (2012) entende que a dignidade humana não é um conceito
jurídico puro, mas sim filosófico e histórico que surgiu de acordo com a
problematização trazida pela contemporaneidade da bioética, que engloba uma
dimensão biológica e ecológica. Por esse motivo, a dogmática jurídica
contemporânea, por meio da dimensão da solidariedade, deu um valor elástico ao
23
princípio da dignidade, tornando este princípio para além da humanidade. Foi
englobado por esse princípio a dimensão ecológica e incluiu a vida como um todo.
A vida não é um atributo apenas humano, mas sim de todos os seres
vivos. Portanto, a dignidade humana precisa corresponder ao fato de que o indivíduo
não vive somente em um ambiente social, mas também em um ambiente natural,
assim o indivíduo deve respeitar não somente o valor intrínseco dos seres humanos,
mas sim respeitar o valor intrínseco de todos os outros seres que compõem esse
meio ambiente natural, como animais e plantas.
Entretanto, o legislador brasileiro, mesmo com os grandes avanços da
carta magna de 1988, não estabeleceu um liame entre dignidade e vida além da
pessoa humana. Para Nogueira (2012) “Sempre que alguém lê o texto constitucional
que refere-se à dignidade, o intérprete pode entender ser este, um atributo somente
humano.” Mas não é dessa maneira que deve ser interpretada a carta magna, isso
porque no artigo 225, caput, diz que “todos têm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado” e no inciso VII, § 1º do referido artigo diz que são
proibidos os maus-tratos aos animais. Assim, percebe-se que de certa forma foi
reconhecido que a vida, mesmo que não humana, deve ser respeitada e tratada com
dignidade.
Nessa lógica, surgem casos em que se busca proteger a dignidade
animal por meio das garantias constitucionais. O habeas corpus é a mais famosa
das garantias constitucionais da tutela de liberdade, é considerado um direito
fundamental e o texto constitucional utiliza o vocábulo “alguém” para indicar o
sujeito. Surgiram então discussões sobre a possibilidade dos animais terem
personalidade jurídica e para estar em juízo, sendo reconhecidoscomo “alguém”
para serem titulares de direitos fundamentais.
Em 2017, na Argentina, se reconheceu Habeas Corpus para uma
Chimpanzé chamada Cecilia que vivia no zoológico de Mendoza. O pedido foi feito
por uma ONG argentina à justiça do país sob o argumento que o chimpanzé é um
24
sujeito de direito e não um objeto, e que o Cecilia se encontrava em condições de
cativeiro muito ruins no zoológico que vivia. Após o reconhecimento do HC, Cecilia
foi transferida para morar no Santuário dos Grande Primatas, em Sorocaba no
Brasil.
Já no Brasil, em 2010, em caso semelhante com um chimpanzé chamado
Jimmy, a história foi diferente. No Habeas Corpus que possuía 30 impetrantes, entre
eles, ONGs, entidades protetoras de animais e pessoas físicas, foi pedida a
remoção do chimpanzé para um santuário de primatas no Estado de São Paulo,
perante a argumentação de que o animal necessita de espaço e da companhia de
sua espécie. De acordo com o grupo, Jimmy viveria solitário há anos em uma
pequena jaula no jardim zoológico de Niterói.
Por unanimidade de votos, disponível no site do Tribunal de Justiça do
Rio de Janeiro, sob o nº 0002637-70.2010.8.19.0000, a 2ª câmara Criminal do
TJ/RJ, sem resolução do mérito, não reconheceu o HC impetrado em favor do
chimpanzé Jimmy. O desembargador José Muiños Piñeiro Filho foi o relator do caso,
e na opinião dele, a lei determina que o HC unicamente é cabível para seres
humanos e não para animais.
Ao longo do julgamento, o desembargador disse que pesquisou bastante
sobre o tema e que, apesar de estudos concluírem que o chimpanzé é o parente
mais próximo do homem, com 99,4% do DNA idênticos ao do ser humano, o mesmo
não pode ser considerado como pessoa, ou seja, um sujeito de direito.
O desembargador observou também que:
O que cabe aqui é saber se o constituinte de 1988 quis permitir que
um HC fosse possível ter como paciente um animal. O art. 5º da CF/
88 só se refere à pessoa humana. Será que os animais não teriam
qualquer proteção jurídica? Por isso, acho que a hipótese teria que
vir em uma ação civil pública, por exemplo, porque aí sim se poderia
fazer um juízo de cognição, se poderia até questionar eventualmente
a inconstitucionalidade da legislação.
25
Nos dois casos citados anteriormente, o principal argumento para a
impetração de habeas corpus não é uma prisão ilegal, mas sim uma preocupação
com a dignidade animal, com respeito ao mínimo que precisa para viver,
assegurando que o mesmo não seja tratado como objeto. Por mais que ainda não
exista casos de concessão de HC para animais no Brasil, é possível perceber que
existe preocupação com a dignidade dos mesmos. 
No meio disso, surge a polêmica do sacrifício de animais em cultos
religiosos. Tanto a liberdade religiosa quanto a proteção à fauna tratam de assuntos
ligados à dignidade. Parece, no entanto, que a dignidade da pessoa humana se
sobrepõe ao reconhecimento da dignidade animal. Isso porque o Supremo Tribunal
Federal reconheceu ser constitucional lei de proteção animal que autoriza o
sacrifício de animais por motivos religiosos. 
Como visto, a liberdade religiosa é capaz de abrir exceções em leis que
visam a proteção animal. Isso ocorre porque é um direito fundamental assegurado
pela Constituição brasileira de 1988 e está essencialmente ligado com a dignidade
da pessoa humana. Dessa forma, se faz necessário a análise sobre o tema no
próximo capítulo deste trabalho. 
26
2 A LIBERDADE RELIGIOSA FRENTE AO SACRIFÍCIO DE ANIMAIS EM RITUAIS
Para entender a liberdade religiosa, é necessário primeiro compreender o
significado de religião. A palavra religião tem origem do latim religio que significa
“respeito pelo sagrado” e de acordo com o dicionário de língua portuguesa
AURÉLIO, religião representa Culto prestado à divindade; dever sagrado ou
reverência, respeito. 
O termo que indica esse culto à divindade, segundo Rafaela Cândida
Tavares Costa, é conhecido como hierofania. No decorrer da história das religiões,
existiram diversos graus de hierofania, sendo o sagrado manifesto em objetos, como
pedra ou árvores, em animais ou ainda como a encarnação de Deus no próprio
homem, como é o caso da visão católica de Jesus Cristo. 
Diversos povos criaram seus próprios cultos e rituais. Na África, por
exemplo, existiam diversos reinos e impérios com suas próprias religiões, que foram
se erradicando até o cenário atual que prepondera apenas três religiões
predominantes, o cristianismo, religiões autóctones e o islamismo. Mas para a
liberdade religiosa, é importante entender o fortalecimento da Igreja Católica no
Império Romano
Quando o catolicismo se tornou a religião oficial do império Romano,
ainda no século IV, esta ganhou um expressivo poder, tornando os cidadãos que
eram politeístas em monoteístas. Conforme Costa (2019), quando a Igreja Católica
Apostólica Romana se tornou a única e oficial fé aceita pelos Estados em que a
Igreja estava presente, não era mais viável o credo em qualquer outra religião, e
quem praticava qualquer ato de manifestação religiosa diversa da oficial era
considerado herege ou bruxo, tendo como castigo torturas ou até mesmo a morte.
Foi diante desses fatos que se deu início a Reforma Protestante, essa
reforma, como veremos a seguir, foi de grande importância para a surgimento do
direito à liberdade religiosa, já que o monoteísmo implementado pela Igreja Católica
retirava a autonomia do indivíduo em se relacionar com o sagrado e,
27
consequentemente, de crer em outras divindades que não as da religião oficial do
Estado. 
Neste capítulo, se busca entender se essa liberdade religiosa, que surgiu
com o ideal de permitir que cada pessoa possa relacionar-se com o sagrado de
forma independente, deve ser ou não limitada diante da possibilidade de ferir direitos
alheios, em especial o direito dos animais, que é o tema deste trabalho.
2.1 Liberdade religiosa, formas de manifestação e cronologia nas
constituições brasileiras.
A discussão sobre liberdade religiosa começa quando surge a noção de
autonomia do indivíduo, no cenário da Reforma Protestante. Nas palavras de,
Vladimir Brega Filho e Fernando de Brito Alves, a questão da autonomia do
indivíduo, quanto à vontade pelo menos, já era vista por Santo Agostinho na idade
média, porém foi com os reformadores Lutero, Calvino e Knox, que a individualidade
alcançou os contornos de autonomia necessários para a posterior defesa da
liberdade religiosa.
Essa ideia de autonomia seria oposta aos valores defendidos pela igreja
católica na época, que valorizava a tradição, a mediação com a divindade e a
mentalidade de rebanho, sendo que esses valores privavam as pessoas de ter
liberdade de consciência e a oportunidade de relacionar-se com o sagrado de forma
autônoma, sem a intervenção da igreja.
O primeiro documento que possibilita perceber a valorização da
autonomia de vontade defendida pelos reformadores foi na Declaração de Direitos
do Bom Povo da Virgínia, colonizada por protestantes puritanos que afirmavam que
"todos os seres humanos [...] pela sua natureza, igualmente livres e independentes".
Posteriormente, o direito da liberdade religiosa foi reconhecido pela Declaração de
Direitos do Homem e do Cidadão da Revolução Francesa de 1789 que consignou no
artigo 10º. que “Ninguém pode ser molestado por suas opiniões, incluindo opiniões
28
religiosas, desde que sua manifestação não perturbe a ordem pública estabelecida
pela lei”.
Com uma tendência de autonomia cada vez maior, surge os princípios da
liberdade de consciência e da livre manifestação do pensamento que abrangem
inclusive a liberdade religiosa. O primeiro dispositivo constitucional a consignar a
liberdadereligiosa foi a Primeira Emenda à Constituição norte-americana, de
1791,ao dispor que “Congresso não editará nenhuma lei instituindo uma religião, ou
proibindo o livre exercício dos cultos ; nem restringirá a liberdade de palavra ou de
imprensa; ou o direito do povo de reunir-se pacificamente, ou de petição ao governo
para a correção de injustiças".
A partir disso, começou uma progressiva laicização do Estado, conforme
bem observa Filho e Alves (2008, p. 3-4).
Outro fenômeno que merece ser registrado é a progressiva
laicização do Estado pela difusão da ideologia positivista atrelada
aos ideais democráticos e republicanos, tanto que eles (os Estados
republicanos e democráticos) podem, via de regra,
serem enquadrados não confessionais. Ao passo que onde existe
monarquia, governos maiscentralistas, ou autoritários, a
confessionalidade estatal é uma premissa, via de regra, inegável.Isso
decorre do fato do positivismo propalar como ideal uma espécie de
religião cívica, como já havia sido preconizado no pensamento
rousseaniano, em que o Estado é o deus visível cujas insígnias dever
receber devoção e respeito sagrados. Nesse contexto, os Estados na
medida em que foram adotando os ideais do positivismo filosófico (de
Augusto Comte e seus seguidores) promoveram a separação do
Estado e da Igreja, propiciando o surgimento de espaços de
afirmação da identidade das minorias religiosas.
No Brasil, como bem nos orienta Filho e Alves (2008), a constituição de
1824 já assegurava a liberdade religiosa, mas não permitia fés ou templos diferentes
da religião católica, já que esta era considerada religião oficial da época. A liberdade
até então garantida constitucionalmente era limitada por causa do vínculo existente
entre religião e Estado. Entretanto, no ano de 1889 houve a proclamação da
república brasileira e a desvinculação do Estado com a religião, surgindo logo após
29
a constituição de 1891 que vetava o estabelecimento ou embaraço a cultos
religiosos.
A Constituição de 1934 não alterou a laicidade estatal. Também foi nesta
constituição que acrescentou-se aos direitos individuais a liberdade religiosa e suas
consequências. Quando surgiu a constituição de 1937 tais direitos foram mantidos e
nenhuma novidade surgiu. Já a constituição de 1946, inovou permitindo a escusa de
consciência e a garantia de assistência religiosa em estabelecimento de internação
coletiva. A constituição de 1967 trouxe um grande avanço, que foi a proibição de
discriminação em razão do credo, tendo como objetivo evitar a marginalização
baseada em opção religiosa. Esse avanço foi mantido pela Constituição de 1969.
Em 1988 foi promulgada a atual Constituição brasileira. Esta Carta
Magna, que ficou conhecida como constituição cidadã, ampliou os aspectos ligados
à liberdade religiosa. No artigo quinto, inciso VI da referida lei maior, temos como
direito fundamental a liberdade de crença e consciência sendo assegurado o seu
livre exercício. Costa (2019) refere que esse é o principal artigo quando se trata da
liberdade religiosa, dada sua força em proteger a liberdade de crença, consciência e
o culto. Essa proteção deve ser observada sob dois aspectos, um positivo
permissivo, ou seja, deixar que cada indivíduo escolha sua crença ou não siga
crença nenhuma, e outro aspecto negativo, que é não interferir na escolha do
indivíduo.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo
assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na
forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;
(BRASIL, 1988).
As primeiras liberdades que o inciso anteriormente citado trata são as
liberdades de consciência e de crença. É importante salientar que crença e
consciência não significam a mesma coisa. Celso Ribeiro Bastos e Samanta Meyer-
30
Pflug discernem que liberdade de consciência é a possibilidade de fazer uma
escolha íntima de ter ou não uma crença, dando, portanto, proteção jurídica para os
ateus e agnósticos. Liberdade de consciência pode também significar aderir a certos
valores morais e espirituais que não fazem parte de sistemas religiosos, como, por
exemplo, os pacifistas, que apesar de seguir um ideal de paz e banimento de
guerras, não implicam em fé religiosa. 
Já a liberdade de crença está ligada ao aspecto religioso, é a liberdade de
escolher qual religião ou seita o indivíduo deseja seguir. É também a possibilidade
de trocar de religião ou deixar de seguir uma crença. Como explica Filho e Alves
(2008), liberdade de crença e consciência, apesar de não serem sinônimos, formam
uma união indissociável, de forma que quando uma dessas liberdades deixa de ser
protegida a força normativa da constituição fica comprometida. 
Seguir uma religião ou seita vai além de adorar um Deus. Observa-se que
na segunda parte do inciso VI, do artigo 5º da CF/88 é mencionado a “liberdade de
culto”, permitindo aos crentes de determinada crença praticar suas liturgias sem
qualquer óbice. A liberdade de culto implica no fato que praticas religiosas podem,
em princípio, ser realizadas em qualquer lugar, mesmo fora de seus templos. Nessa
lógica, o Estado deve garantir que todas as religiões possam praticar seus rituais,
caso contrário não há sentido em permitir liberdade de crença mas proibir os rituais
praticados, como acontecia no Brasil império. Bastos e Meyer-Pflug (2001, p. 988):
A liberdade religiosa, como de resto acontece com todas as demais
liberdades de pensamento, não se contenta com a sua dimensão
espiritual, é dizer, enquanto realidade ínsita à alma do indivíduo. Ela
vai necessariamente buscar uma externação, que, por sua vez,
demanda um aparato, um ritual, uma solenidade, que a manifestação
do pensamento por si só não requer. Nesse sentido faz-se
imprescindível afirmar que pode haver liberdade de crença sem
liberdade de culto. Era o que acontecia no Brasil Império, onde só se
reconhecia como livre o culto católico. As outras religiões deveriam
contentar-se apenas em poder celebrar um culto doméstico, sendo
vedada qualquer forma exterior de templo. 
Porém, essa liberdade não é absoluta. É de suma importância saber que
o cidadão é livre para manifestar sua crença, ou não seguir crença alguma, desde
31
que a prática decorrente de sua escolha não resultar em pertubação à ordem
pública, colocar em risco a dignidade e a igualdade das pessoas, afrontar à moral ou
aos bons costumes ou ferir qualquer dos pilares do Estado Democrático de Direito.
Caso alguma das hipóteses acima ocorra, suas ações não serão tuteladas pelo
Direito Fundamental à Liberdade Religiosa. Ademais, não é qualquer culto que
possui status de proteção constitucional, deve-se respeitar alguns critérios como
bem observa Costa (2019, p.42) “ Vale observar que a proteção dispensada pela
Constituição de 1988 deve ter como objeto cultos ligados ao esoterismo, ao
sobrenatural, ou a qualquer prática ligada intrinsecamente à experiência religiosa”.
Portanto, fazer algum sacrifício ou algo do gênero sem ter um objetivo exotérico ou
experiência religiosa, não possui proteção constitucional ligada à liberdade ora
estudada.
É assegurado ainda pela Constituição Federal de 1988 que templos de
qualquer religião façam jus à imunidade tributária. Isso pode ser observado no artigo
150, VI, b, do texto maior. Costa (2019) trata do assunto dizendo que dessa forma é
vedada à União, Estados, Distrito Federal e Municípios instituírem impostos sobre
templos de qualquer culto, sendoque qualquer embaraço neste sentido, pode ser
entendido como favorecimento, ou não, do Estado a algum culto em específico.
Ainda no entendimento de Costa (2019), a liberdade religiosa também
resguarda o direito de que quando o indivíduo estiver em entidades de internação
coletiva civis ou militares possa continuar praticando e manifestando sua fé. Sendo
que o Estado deve proporcionar acesso daqueles que prestam assistência religiosa
dentro destas entidades.
Outro ponto a ser mencionado é a garantia prevista no inciso VII, do
mencionado artigo, do diploma constitucional, de assistência religiosa a ser prestada
em entidades civis e militares, desde que destinadas à internação coletiva. O Estado
deve, desta forma, permitir livre acesso nestas entidades, bem como a livre saída,
daqueles que prestarão a assistência religiosa, o que se harmoniza com a laicidade
estatal.
32
Importante salientar o que conforme Bastos e Meyer-Pflug (2001) o
caráter laico do Estado brasileiro não o compromete a ser o prestador de assistência
religiosa nos estabelecimentos de internação coletiva, tal assistência será prestada
pelas próprias entidades religiosas cabendo ao Estado tão somente proporcionar os
meios para que tal assistência se concretize. 
Para Costa (2019) para que efetivamente se concretize a liberdade de
crença, liberdade de consciência e liberdade de culto, além dos demais direitos
oriundos destas, se faz necessário que não haja nenhum embaraço por parte do
Estado na criação de organizações religiosas. Dessa forma, a criação, organização
e funcionamento destas organizações independe de autorização do Estado, sendo
estas livres para se estruturar hierarquicamente, criando seu próprio ordenamento
jurídico, podendo incluir e excluir seus membros sem interferência do poder público. 
Importante ainda informar que às pessoas de direito público privado é
vedado a criação de igrejas ou cultos religiosos, bem como manter relações de
dependência ou aliança com seus representantes, ressalvada a hipótese de
colaboração de interesse público, conforme previsto no art. 19 da Constituição
Federal.
Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios:
I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los,
embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus
representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na
forma da lei, a colaboração de interesse público […].
A liberdade religiosa não é somente assegurada no direito interno, no
plano internacional também existe proteção a este direito de primeira geração. Foi
após a Segunda Guerra Mundial que proclamou-se o mais amplo direito à liberdade
religiosa com Declaração Universal dos Direitos Humanos em 1948, tendo como
motivação a necessidade de evitar-se a repetição de atrocidades ante a obsessão
anti-semita dos nazistas.
 
33
Neste diploma legal pode-se encontrar no artigo XVIII a seguinte redação:
Artigo XVIII 
Todo ser humano tem direito à liberdade de pensamento,
consciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de
religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou
crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, em
público ou em particular. (Declaração Universal dos Direitos
Humanos)
Outro diploma internacional que trata acerca da liberdade religiosa é a
Convenção Americana sobre Direitos Humanos ou Pacto de San José da Costa Rica
de 1969: 
Artigo 12. Liberdade de consciência e de religião
1. Toda pessoa tem direito à liberdade de consciência e de religião.
Esse direito implica a liberdade de conservar sua religião ou suas
crenças, ou de mudar de religião ou de crenças, bem como a
liberdade de professar e divulgar sua religião ou suas crenças,
individual ou coletivamente, tanto em público como em privado.
2. Ninguém pode ser objeto de medidas restritivas que possam
limitar sua liberdade de conservar sua religião ou suas crenças, ou
de mudar de religião ou de crenças.
3. A liberdade de manifestar a própria religião e as próprias crenças
está sujeita unicamente às limitações prescritas pela lei e que sejam
necessárias para proteger a segurança, a ordem, a saúde ou a moral
públicas ou os direitos ou liberdades das demais pessoas.
4. Os pais, e quando for o caso os tutores, têm direito a que seus
filhos ou pupilos recebam a educação religiosa e moral que esteja
acorde com suas próprias convicções. (CIDH, 1969).
Ainda segundo Costa (2019), diversos outros documentos internacionais
tratam de liberdade religiosa, como a Declaração de Princípios sobre a Tolerância
que tem como objetivo o alcance de uma sociedade tolerante e pluralista e a
Declaração Sobre a Eliminação de Todas as Formas de Intolerância e Discriminação
Fundadas na Religião ou nas Convicções que visa abolir a intolerância religiosa em
todas as suas formas de manifestação, no esforço de prevenir e combater a
discriminação por motivos de religião ou de convicção, dando proteção, por
consequência, à liberdade religiosa. 
34
Como visto, a liberdade religiosa é tratada de forma ampla tanto na
legislação pátria como na legislação internacional. As liberdades aqui tratadas
compõem um complexo de direitos civis, humanos e fundamentais. Esses direitos
deveriam ser respeitados de forma plena, porém isso não ocorre. Algumas religiões
são reiteradamente discriminadas e criminalizadas tanto por parte da papulação em
geral como pelo Estado, por meio de legislações que facilitam a marginalização de
certos credos. Dessa forma, passa-se a análise de liturgias que são discriminadas e
marginalizadas. 
2.2 Intolerância religiosa, marginalização e preconceito contra liturgias de
minorias e grupos vulneráveis.
Antes de entrar no assunto, se faz necessário entender o que são
minorias e grupos vulneráveis que serão tratados neste trabalho. Para Valério de
Oliveira Mazzuoli (2018) as minorias são aqueles grupos de pessoas que não
possuem a mesma representatividade política que os demais cidadãos de um
mesmo Estado. Estas pessoas têm em comum características que são essenciais a
sua personalidade e são singulares no meio social, essas singularidades podem ser
de etnia, língua, nacionalidade ou religião.
Quanto aos grupos vulneráveis, Mazzuoli os caracteriza da seguinte
maneira: 
Grupos vulneráveis, por sua vez, são coletividades mais amplas de
pessoas que, apesar de não pertencerem propriamente às
“minorias”, eis que não possuidoras de uma identidade coletiva
específica, necessitam, não obstante, de proteção especial em razão
de sua fragilidade ou indefensabilidade (v.g., as mulheres, os idosos,
as crianças e adolescentes, as pessoas com deficiência, os
consumidores etc.). (MAZZUOLI, 2018, p. 294).
Conceituado os dois termos, se faz necessário conhecer as minorias
religiosas do Brasil para entender por estas podem também pertencer a Grupos
Vulneráveis.
35
Em um censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), onde 190.755.799 pessoas foram entrevistadas em todo o Brasil ,
123.280.172 se declararam seguidores da religião Católica Apostólica Romana,
representando a maioria religiosa no país, sendo cerca de 64,4% dos entrevistados.
Os evangélicos representavam 42.275.440, sendo que foi a religião que mais
cresceu no país, pois em 2000, eles representavam 15,4% da população, e em
2010, chegaram a 22,2%, um aumento de cerca de 16 milhões de pessoas (de 26,2
milhões para 42,3 milhões). Os espíritas seriam 3.848.876, representando 2% dos
brasileiros. Esses eram os três maiores grupos religiosos do Brasil de acordo com o
senso de 2010.
Já os praticantes da umbanda e do candomblé, religiões de matriz
africana, seriamapenas 588.797 de praticantes, representando na época 0,3% dos
entrevistados. Judeus eram apenas 107.329 de praticantes e islâmicos 35.167
praticantes, dentre outras religiões constatadas. Já aqueles que não seguiam
qualquer religião representavam 15.335.510 pessoas. Entendeu-se por meio do
censo realizado que aqueles que não eram seguidores das maiorias religiosas
presentes no país, compreendiam, e ainda compreendem, grupos de minorias
religiosas.
Em relação a essas minorias religiosas, apesar da igualdade prevista
constitucionalmente, percebe-se que alguns grupos sociais demonizam e
desrespeitam minorias, surgindo então a intolerância religiosa. Onde há desrespeito
(aos fieis, aos rituais, sacerdotes e casas religiosas), agressões e violências de
qualquer tipo, há intolerância religiosa. A intolerância, conforme descrito na Cartilha
para Legalização de Casas Religiosas de Matriz Africana (2012), manifesta-se pela
violência simbólica, física e psicológica e as agressões começam com palavras
(insultos, humilhações, desmoralização) e ofensas aos fiéis e a seus deuses,
passam pela destruição de casas e símbolos religiosos e chegam ao extremo com o
assassinato dos seus membros. 
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De acordo com Souza (2019), além do problema da intolerância religiosa,
as liturgias africanas e islâmicas sofrem ainda por racismo, preconceito e xenofobia.
Os praticantes do islamismo, por exemplo, são discriminados principalmente por ser
uma religião com uma doutrina vinculada, de forma errônea, ao extremismo.
Em uma reportagem publicada pelo jornal Brasil de Fato (2019),
representantes de uma pequena mesquita situada em uma favela de São Paulo,
falam sobre os preconceitos que sofrem por serem seguidores do islamismo. César
Kaab, brasileiro, ex-rapper, convertido ao islamismo e fundador da mesquita, diz que
comumente é confundido com terrorista, além de sofrer ataques nas redes sociais
por atentados terroristas que ocorrem fora do Brasil. 
Já os seguidores de religiões de matriz africana, o preconceito é ainda
maior. Pois, de acordo com dados da Secretaria Especial de Direitos Humanos, o
Brasil teve 697 denúncias de intolerância religiosa entre 2011 e 2015, sendo o
estado do Rio de Janeiro líder no ranking com maior número de denúncias de casos
de discriminação, que têm como principal alvo as religiões afro-brasileiras.
Marcos Felix de Oliveira (2017) cita um caso interessante que envolveu
neopentecostais e seguidores de religiões afro. Trata-se do ocorrido em abril de
1993, quando o líder da Igreja Universal do Reino de Deus, Edir Macedo, foi
denunciado pelo Ministério Público de São Paulo por supostamente ter cometido
crime contra o sentimento religioso, já que o acusado impulsionaria e orientaria os
fiéis de sua igreja a invadirem os locais de culto afro com o intuito de combater a
adoração ao demônio. A ação dos neopentecostais teria incorrido em destruição das
imagens e agressão física contra os fiéis das religiões afro. Tudo isso se deu por ser
parte de uma guerra santa contra os poderes das trevas.
Em sua defesa, o líder dos neopentecostais argumentou fazer uso de sua
liberdade de expressão no que tange à livre manifestação de suas convicções
religiosas. Disse ainda que estaria apenas orientando os fiéis da Igreja Universal
naquilo que entende ser sua obrigação enquanto líder espiritual, que sua motivação
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foi a certeza teológica oriunda da interpretação que faz da Bíblia Sagrada e que
outros líderes e teólogos não foram processados anteriormente ao se utilizarem do
mesmo discurso. O magistrado acolheu os argumentos aduzidos e entendeu que
não havia lastro probatório suficiente para a condenação, absolvendo o réu de todas
as acusações que lhe foram imputadas.
Por mais que nesse caso o acusado tenha sido absolvido, foi noticiado
pelo jornal Gazeta do Povo, neste ano, que a Rede Record de Televisão, de
propriedade do bispo Edir Macedo, fez um acordo que ficou estabelecido que a
referida emissora pagará para R$ 300 mil de indenização para o Itecab e a Ceert,
totalizando um prejuízo de R$ 600 mil reais para a emissora, além de ter que
vincular quatro programas de televisão na programação da Record News. Isso se
deu em decorrência da ação ajuizada em 2004 pelo Ministério Público, o Instituto
Nacional de Tradição e Cultura Afro-Brasileira (Itecab ) e o Centro de Estudos das
Relações de Trabalho e da Desigualdade (Ceert) contra a emissora, por transmitir
diversos programas considerados ofensivos a imagens de religiões de origem
africana.
Discorrendo sobre o tema, Oliveira (2017) encontra como principal
responsável pelos ataques os evangélicos neopentecostais, já que a estes são
atribuídos autoria pela maioria dos ataques nas denúncias realizadas na Secretaria
de Direitos Humanos da Presidência.
Mas não é só os neopentecostais que devem levar a culpa pela
intolerância religiosa. Com bem explica Oliveira (2017, p.5) “a questão de
intolerância religiosa no País é algo histórico e fatos mal investigados e esclarecidos
podem redundar em preconceitos e discriminações.”, Deixar que um segmento
religioso seja visto como intolerante hoje, pode lavá-lo a ser vítima de intolerância e
preconceito no futuro. 
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Ainda, no entendimento de Olivera (2017), as religiões de matriz africana
há muito tempo são vítimas de intolerância, já que desde do Brasil império, antes do
surgimento dos neopentecostais, já existia perseguições e marginalização dos
negros, índios e mestiços. É possível remontar à época da escravidão que havia
tentativas de conversão forçada dos negros africanos ao catolicismo e perseguição
estatal aos adeptos a umbanda e ao candomblé. 
Isso pode ser confirmado pela Cartilha para Legalização de Casas
Religiosas de Matriz Africana, elaborada pelo Departamento de Direito da Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro, em 2012, que em seu texto ressalta que: 
A legislação brasileira é responsável historicamente pela perseguição
e criminalização das práticas religiosas de matriz africana que não
tiveram outra saída senão manter-se na clandestinidade. Nos
principais períodos de nossa história o alvo foi sempre o mesmo. Os
castigos e açoites do período colonial se perpetuaram ao longo dos
tempos. No Império, o catolicismo era a religião oficial do Estado e
considerava-se crime o culto de religião diferente da oficial, a
zombaria contra a religião oficial e a manifestação de qualquer ideia
contrária à existência de Deus. A condenação por “feitiçaria” tinha
como sanção a pena de morte. A República tratou de considerar
como crime o espiritismo e o curandeirismo. Algumas leis estaduais
chegaram ao extremo de obrigar os templos de religiões de matriz
africana a se cadastrarem na Delegacia de Polícia mais próxima e
exigir que os seus sacerdotes e sacerdotisas se submetessem a
exames de sanidade mental. Ainda hoje, charlatanismo e
curandeirismo estão tipificados no Código Penal (...). Para garantir a
afirmação dos valores do homem branco europeu, além de obrigar os
escravos a se converterem, promoveram a satanização dos seus
rituais e prenderam os mais “insistentes”. Tudo que dizia respeito ao
negro ou era perversamente depreciado ou se transformava em
conduta criminosa. Muito foi feito para impedir a sobrevivência desta
forma de vida cultural. Mas os tempos mudaram.
Dessa forma, percebe-se que tais polêmicas religiosas não começaram
com o surgimento do movimento pentecostal no Brasil (a partir de 1911), nem com o
advento do neopentecostalismo (finais de 1970 em diante), mas sempre existiriam,
desde a chegada dos portugueses ao nosso País, já que em Portugal, assim como
na Europa, existia o Tribunal da Santa Inquisição, e este já perseguia e condenavahereges e bruxas, a pretexto de fazê-lo em nome de Deus. 
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Grupos como os ateus e agnósticos que não seguem nenhuma religião, e
juntamente são minorias no Brasil, também são vítimas de preconceito e
marginalização. Um fato recentemente noticiado pelo jornal The Intercept Brasil
(2018) retrata um caso de intolerância religiosa onde o protagonista dos ataques foi
o apresentador de televisão e jornalista José Luiz Datena. O jornalista em 2010, ao
comentar o fuzilamento de um menino de 2 anos e a morte de um idoso que
possivelmente foi enterrado vivo, disse: “esses crimes só podem ter uma explicação:
ausência de deus no coração.” E botou no ar uma pesquisa perguntando quem era
ateu . Sua afronta continuou por 15 minutos, e de forma clara disse também: “o
sujeito que é ateu, na minha modesta opinião, não tem limites. É por isso que a
gente tem esses crimes aí.” Quando os ateus começaram a se identificar na
enquete, a explicação foi “ é provável que tenham bandidos votando até de dentro
da cadeia!”. Após as maldosas declarações o Ministério Público Federal ajuizou uma
ação contra o jornalista e este foi condenado por ofender ateus em cadeia nacional e
teve de se retratar.
Não se pode negar que atualmente ainda existe intolerância religiosa,
produto da criminalização e preconceito contra minorias religiosas. Portanto,
conforme o conceito elaborado por Mazzuoli, às vezes minorias religiosas são
também grupos vulneráveis e necessitam de proteção especial diante de sua
fragilidade. Como bem explica Costa (2019, p.60) “dever-se-á garantir aos
praticantes, principalmente àqueles adeptos de religiões marginalizadas, o exercício
de suas liturgias.”
Um episódio triste para a laicidade do Estado e liberdade religiosa brasileira,
foi a declaração do atual presidente do Brasil, Jair Messias Bolsonaro. Isso porque
durante uma de suas campanhas políticas no ano de 2017, em Campina Grande/PB,
o presidente fez a seguinte afirmação: “Deus acima de tudo. Não tem essa
historinha de Estado laico não. O Estado é cristão e a minoria que for contra, que se
mude. As minorias têm que se curvar para as maiorias”, Jornal BlastingNews(2017),
Essa ideia de as minorias têm que se curvar para as maiorias pode gerar a
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convicção que esses últimos são portadores de uma verdade absoluta, podendo
causar discriminação, perseguição e intolerância com a crença das minorias. 
Para Clemildo Anacleto Silva, a visão monoteísta da maioria das liturgias
brasileira se torna uma dificuldade no combate à intolerância religiosa. Isso ocorre
quando seus adeptos são incapazes de reconhecer outras experiências politeístas e
defendem que as crenças do seu grupo são oriundas de uma verdade única, sendo
a única alternativa possível, trazendo perseguição e extinção dos seus oponentes.
A visão monoteísta apresenta-se como dificuldade quando ela é
incapaz de reconhecer outras experiências religiosas que se baseiam
no politeísmo. Achar que a exclusividade da divindade pertence a um
grupo, traz dificuldades para a superação da intolerância. A crença
em uma única divindade não é problema, desde que o grupo
monoteísta respeite a possibilidade da existência e convivência com
outros que pensam de maneira diferente Da mesma forma, a ideia
conversionista e proselitista ainda se torna uma barreira, na medida
em que defende uma verdade única. No entanto, vale salientar que a
ideia conversionista por si mesma não se constitui problema, visto
que, em geral, quando se adere a uma ideologia ou sistema religioso,
o indivíduo deixa de assumir algumas posturas, passando a assumir
as posturas do novo grupo no qual está inserido ou da nova
ideologia. O problema da conversão se dá quando o grupo se
apresenta como a única via para a verdade, não aceitando as
demais, travando uma perseguição e promovendo a extinção dos
oponentes. (Silva, 2019, p.80)
Como nem sempre as leis são suficientes para acabar com o preconceito,
a marginalização e a intolerância religiosa, se faz necessários outros meios para
proporcionar que essas minorias religiosas possam exercer seus credos de forma
livre. Para Silva (2015) é necessário mais espaço para diálogo entre as religiões, “É
importante termos presente que sempre vale a pena buscar o diálogo. Nesse
sentido, tentar o diálogo com os pentecostais seria um grande avanço.” só que para
que esse diálogo ocorra é necessário que todos estejam dispostos a dialogar,
entender o ponto de vista dos outros e encontrar saídas a partir do respeito à
diversidade religiosa. 
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Ainda na visão do autor seria necessário a criação de comissões de
combate à intolerância religiosa, no maior número de municípios possível, encorajar
e facilitar as caminhadas de combate à intolerância religiosa que acontecem em
algumas cidades do Brasil, estimular publicações de livros, cartilhas, documentários
e vídeos sobre o assunto, colocar a educação em direitos humanos nas escolas
públicas de ensino fundamental e médio, apoiar a criação de grupos de pesquisas
nas instituições de ensino superior, proporcionar o ensino de história e cultura afro-
brasileira, além de pensar nos meios de comunicação, já que são
predominantemente usados pelas maiorias, e às vezes são usados para incitar
intolerância e preconceito como nos casos vistos anteriormente. 
Para Costa (2019, p.68) “cabe ao Estado desempenhar um papel
imparcial, principalmente no aspecto legislativo, o que não impede a adoção de
medidas afirmativas ou favorecimentos legais a minorias e grupos vulneráveis.”
Além disso, é necessário mais conhecimento por parte da população em relação a
esses credos minoritários, já que existe muito preconceito e ignorância sobre o
assunto, sendo estereótipos atribuídos a certas crenças, principalmente as de
religiões de matriz africanas, que comumente são associadas ao diabo ou à lógica
demoníaca. 
A autora também cita as mídias sociais e programas televisivos como
propagadores da intolerância religiosa, já que o preconceito religioso se transveste
de liberdade de expressão, devendo o Estado tomar medidas contra essas práticas.
Dessa forma, expressa Costa (2019. p. 67 e 68): 
Como cediço, nenhum direito fundamental é absoluto. Abusos no
exercício de liberdade de expressão não devem, em hipótese
alguma, ser tolerados. As limitações ao direito de se expressar
livremente devem caminhar junto aos postulados de igualdade e
dignidade da pessoa humana. Caso exageros no direito
constitucionalmente assegurado de se expressar, sejam
constatados,pode-se caracterizar condutas criminosas, tendentes ao
fomento e estímulo de intolerância religiosa e ódio público e
manifesto.
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Na Cartilha para Legalização de Casas Religiosas de Matriz Africana
(2012.p,21), são descritos alguns meios para tentar buscar a punição da intolerância
religiosa: 
Para garantir que essa forma de violência não fique impune, é
preciso lutar:
 • sair da clandestinidade, pois não se admite mais a perseguição; •
orgulhar-se de seu credo; 
• denunciar casos de intolerância e insistir na denúncia, mesmo
diante de desrespeito por parte do agente público;
 • aprender os seus direitos, divulgá-los e cobrar pela sua realização; 
• propagar o respeito, a convivência, a tolerância, a igualdade e a
paz.
Além de todos os problemas envolvendo a intolerância religiosa,
preconceito e a marginalização das liturgias minoritárias no Brasil, existe outro
motivo que incomoda os não praticantes dessas crenças, é o denominado sacrifício
de animais em cultos religiosos. Por mais que esse tipo de sacrifício seja encontrado
no antigo testamento da bíblia, no hindu, no islamismo e judaísmo, boa

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