Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Da biologia à Psicologia Contribuições de Matura e Varela para a construção da autopoiese O “método do pensamento analítico”, desenvolvido por René Descartes. Trata-se da técnica de separar os fenômenos complexos em pedaços e, a partir do estudo de uma parte, tentar compreender o todo. Assim, a maioria dos fundamentos dessas áreas foi fragmentada de forma genérica. Na maior parte dos estudos, a técnica que se consolidou para compreender os fenômenos complexos foi a de reduzi-los às partes que os constituem. Descartes baseou sua concepção de natureza na divisão fundamental de dois domínios independentes e separados - o da mente e o da matéria. O universo material, incluindo os organismos vivos, era uma máquina para Descartes e poderia, em princípio, ser entendido completamente analisando-o em termos de suas menores partes (CAPRA, 1996, p. 35) “não há um território pré-dado do qual podemos fazer um mapa - a própria construção do mapa cria as características do território.” (CAPRA, 1996, p. 213) A vida (deve ser encarada como um processo de conhecimento. “os seres vivos são máquinas que se distinguem de outras por sua capacidade de se auto – reproduzirem”. (Humberto Maturana) CAPRA, Fritjof. A teia da vida. Uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. São Paulo: Cultrix, 1996. DAMÁSIO, António R. O erro de Descartes - emoção, razão e o cérebro humano. São Paulo: Companhia das Letras, 2004. MATURANA, Humberto R. e Francisco J. Varela. A árvore do conhecimento: as bases biológicas da compreensão humana. São Paulo: Palas Athenas, 2001. MATURANA, H. R. Biología del fenómeno social. In: MATURANA, H. R. Desde la biología a la psicología. 4. ed. Santiago: Editorial Universitaria, 2006. p. 69-83. VARELA, Francisco J. et alli. Las ciencias cognitivas y la experiencia humana. Barcelona, Editorial Gedisa, 1992. Na compreensão do sistema biológico, as noções de informação e de representação mostravam-se inadequadas para entender o cérebro e o conhecimento. O sistema nervoso, descrito como um sistema fechado, e a reflexão sobre a natureza circular dos processos neuronais e dos processos metabólicos dos seres vivos, são os pontos dos quais se desenvolve a noção de autopoiese. Na literatura especializada, a noção de autopoiese foi introduzida através do livro De Máquinas e Seres Vivos - Autopoiese: a organização do vivo, de Humberto Maturana e Francisco Varela, editado, pela primeira vez, no início dos anos de 1970. O termo designa o processo pelo qual os seres vivos, considerados como sistemas, se autoproduzem continuamente e adquire visibilidade além da área da Biologia, porque é um fenômeno que contém uma “base de sensibilidades históricas”, delineada em retrospectiva, cuja idéia, assim como a história, é uma possibilidade que se cultiva. Se a autopoiese tem tido influência é porque soube alinhar-se com outro projeto, cujo centro de interesse é a capacidade interpretativa do ser vivo, que concebe o homem não como um agente que ‘descobre’ o mundo, mas que o constitui. (MATURANA;VARELA, 1997:35-36) MATURANA, Humberto. (MAGRO, Cristina et alii, org.). A ontologia da realidade. Belo Horizonte : Ed. UFMG, 2002. MATURANA, Humberto. (MAGRO, Cristina; PAREDES, Victor, org.). Cognição, ciência e vida cotidiana. Belo Horizonte : Ed. UFMG, 2001. MATURANA, Humberto; VARELA, Francisco. A árvore do conhecimento. Campinas : Editorial Psy, 1995. MATURANA, Humberto; VARELA, Francisco. De máquinas e seres vivos - autopoiese: a organização do vivo. 3.ed. Porto Alegre : Artes Médicas, 1997. https://www.youtube.com/watch?v=W7ZDNCjLgOs Além da Biologia, Maturana interessou-se por Filosofia, Antropologia, Anatomia, Genética e Cardiologia (estudou medicina durante quatro anos). Quer dizer, preparou-se no âmbito biológico de maneira ampla e, como consequência, seu interesse fundamental tem permanecido centrado no humano. Em particular, seus estudos sobre o sistema nervoso e sobre os fenômenos da percepção o levaram à conclusão de que não é o externo o que determina a experiência; o sistema nervoso funciona com correlações internas (MATURANA, 2001). Consequentemente, rejeita o "modo tradicional de abordar o ato cognitivo" que, segundo ele, tem sempre a ver com a indicação de algo externo ao sujeito. Ao invés de centrar-se em características materiais dos seres vivos ou de seus componentes, Maturana (e Varela) fixa(m) a atenção em sua organização e estrutura. A organização de alguma coisa é o conjunto de relações que devem existir ou que têm que ser satisfeitas para que essa coisa exista; refere-se às relações que definem a identidade de um sistema. Mãos Desenhando", de 1948, de Maurits Cornelis Escher ou M. C. Escher - artista gráfico holandês conhecido pelas suas xilogravuras, litografias e meios-tons (mezzotints), que tendem a representar construções impossíveis. O valor das interações Neurodiversidade
Compartilhar