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7 - OPERADORES NO HABEAS CORPUS

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1 
OPERADORES ARGUMENTATIVOS NO 
HABEAS CORPUS 
http://jus.com.br/artigos/22678/operadores-argumentativos-no-habeas-corpus 
 
Jonatas Paulo De Brito 
 
 
Resumo 
Este trabalho tem por objetivo analisar descritivamente o uso de operadores 
argumentativos no gênero habeas corpus. O referencial teórico constitui-se 
principalmente nas contribuições de Koch (2000) sobre a Teoria da 
Argumentação na Língua, e no trabalho de Voese (2010) sobre a 
argumentação jurídica. O corpus da pesquisa é composto por 10 habeas 
corpus extraídos de livros de prática forense penal bem como de casos 
concretos. Os resultados apontam para o uso estratégico de operadores 
argumentativos nesse gênero textual jurídico, a enriquecer os argumentos e 
otimizar a busca do convencimento desejado. 
Palavras-chave: argumentação, operadores argumentativos, habeas corpus. 
 
1. INTRODUÇÃO 
Esta pesquisa é fruto de trabalho desenvolvido na área de docência, sob 
orientação da Dra. Elizabeth Linhares Catunda, por ocasião do curso de 
Bacharelado em Direito na Faculdade Farias Brito. Tem por objetivo realizar 
análise descritivo-qualitativa do uso de operadores argumentativos no gênero 
jurídico habeas corpus. 
O referencial teórico esteia-se principalmente nas contribuições de 
Koch1 sobre a Teoria da Argumentação na Língua, e nas idéias de Voese2 em 
relação à argumentação jurídica. O corpus da pesquisa é composto por dez 
modelos de HC extraídos de livros específicos à prática forense penal. A 
 
1 KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. Argumentação e linguagem. 6. ed. São Paulo : Cortez, 2000. 
2 VOESE, Ingo. Argumentação jurídica: teorias, técnicas, estratégias. 2. ed. Curitiba: Juruá, 2010. 
 2 
quantidade analisada é suficiente ao que se propõe, já que não se pretende 
generalizações quantitativas. Convém destacar que não se explorou, para fins 
desse trabalho, as citações jurisprudenciais que foram citadas ipsis literris 
conforme as decisões donde provêm, pois não são necessariamente 
produzidas em sede habeas corpus, constituindo-se mais como objeto para 
possível análise dos operadores usados nas respectivas decisões das quais 
extraídos. 
Assim, abordaremos inicialmente os aspectos relacionados à teoria da 
argumentação. Em seguida, concebendo a existência de uma lógica jurídica da 
argumentação, estudaremos a coesão, condição indispensável à eficiente 
argumentação, através do estudo dos operadores argumentativos. Teceremos 
ao final algumas considerações sobre os resultados da pesquisa. 
 
2. A ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA E O USO DE OPERADORES 
ARGUMENTATIVOS 
O estudo da argumentação jurídica não tem sido abordado com a 
merecida atenção entre os cursos de Direito no Brasil, fato que, para Voese, 
pode estar a indicar que ela [argumentação] ainda não 
está merecendo a devida atenção precisamente porque 
ainda não se abordou a sua especificidade e, em 
especial, a relação da prática jurídica com a linguagem.3 
A argumentação constitui-se em ―atividade relacionada à vida prática 
das relações humanas mediante a utilização de raciocínios para provar ou 
refutar uma tese que necessita da concordância de um interlocutor‖.4 
Assim, o que se busca numa argumentação é a obtenção ou aumento 
da adesão de seus destinatários às teses oferecidas5. 
 
3 Op. Cit., p. 13. 
4 MONTEIRO, Cláudia Servilha. Teoria da argumentação jurídica e nova retórica. 2. ed. Rio de 
Janeiro: Lúmen Júris, 2003, p. 56. 
 3 
Voese, ao conceituar argumentação, também diferencia, quanto às suas 
bases, a argumentação jurídica da argumentação que tem por base axiomas. 
Assim, afirma: 
Argumentar é uma atividade através da qual, valendo-se 
de recursos lógico-formais e de linguagem, alguém tenta 
convencer outrem de que um determinado sentido ou 
tese é a melhor alternativa para a solução e um problema 
ou uma dificuldade. A base da argumentação, nas 
disciplinas lógicas e matemáticas, são os axiomas, 
entendidos como verdades irrefutáveis, indiscutíveis ou 
que não necessitam de provas. A argumentação-jurídica, 
porém, não trabalha com verdades irrefutáveis de vez 
que difere da lógica formal.6 
Entre as características da argumentação jurídica, está a presunção de 
que a cada tese é possível construir uma antítese. Isso determina que as 
escolhas dos recursos argumentativos visem a superar ou a minimizar as 
fragilidades dos sentidos da linguagem, reforçando os procedimentos de 
sustentação da tese.7 
Embora não busque a verdade, a argumentação jurídica também precisa 
valer-se de determinados modelos de raciocínio. Fala-se em uma lógica 
específica ao Direito, incluindo-se duas idéias: 
1. que o Direito atua como um sistema lógico, ou seja, 
que os enunciados do sistema jurídico podem ser 
organizados segundo os princípios e as regras do 
raciocínio lógico; 
2. que há uma especificidade que se organiza segundo 
referências e parâmetros próprios.8 
Entende-se que o fato de submeter-se a argumentação jurídica a 
modelos lógicos, assumindo o prestígio do rigor lógico, leva à observância 
 
5 Ibid, p. 66. 
6 Op. Cit., p. 29. 
7 Idem, p. 32. 
8 Idem, p. 35. 
 4 
obrigatória de três condições: a coerência, a coesão e a congruência. Voese 
assim explica9: 
A coerência diz respeito à relação de compatibilidade (ou 
verossimilhança) entre um ponto de referência que pode 
ser um texto (por exemplo, a lei), um dito ou uma 
concepção da realidade: a referência impõe que entre ela 
e a versão de um fato não haja uma imagem de 
contradição, o que estabelece a verossimilhança ou a 
plausibilidade da tese jurídica. A referência se faz, pois, 
necessária como se fosse um foco que iluminasse e 
orientasse o que se diz: não contradizer essa referência 
significa ter coerência (e credibilidade), contradizê-la 
representa o descrédito. 
Por coesão entende-se o conjunto de relações 
que organizam e sustentam os conceitos e as idéias de 
uma argumentação em termos de não construírem 
contradições e vácuos semânticos que conduzam à 
negação umas das outras ou à falta de conexão entre 
elas. A coesão - ao contrário da coerência que se refere 
às não-contradições com o exterior de uma 
argumentação - significa a "amarra" lógica interna das 
partes de um texto. Ela depende, porém, da coerência, 
pois, num texto em que se contradiz a referência, 
implode-se a coesão. 
A congruência - que depende da coesão e da 
coerência- por sua vez, diz respeito à condução e ao 
direcionamento do processo argumentativo: ele deve 
partir de um determinado espaço significativo e caminhar 
com segurança e clareza em direção a um outro. O 
argumentador, quando dá importância à congruência, 
segue uma linha ou um traçado - na busca de uma 
conclusão - que deve ficar tão perceptível que não crie 
dificuldades desnecessárias para que o auditório 
acompanhe o raciocínio. 
Na busca do convencimento, o orador pode também usar determinada 
estratégia discursiva, a qual ―diz respeito à escolha cuidadosa - pelos efeitos de 
sentido que produz - tanto dos elementos da língua, como de determinadas 
formas de estruturação do discurso, para que os argumentos selecionados 
possam, na interação, ser otimizados, e os contrários, minimizados‖.10 
 
9 Op. cit., p. 36-37. 
10 Idem, p. 86. 
 5 
 Partindo-se da concepção de que ―o uso da linguagem é inerentemente 
argumentativo‖, o significado de uma frase11 é entendido, segundo Koch12, 
como sendo: 
... o conjunto de instruções concernentes às estratégias a 
serem usadas na decodificação dos enunciados pelos 
quais a frase se atualiza, permitindo percorrer-lhe as 
leituras possíveis. Trata-se de instruções codificadas, de 
natureza gramatical, o que leva, portanto, ao 
reconhecimentode um valor retórico (ou argumentativo) 
da própria gramática. 
Os enunciados têm, dentre suas características, a de se apresentarem 
como orientadores do discurso, determinando encadeamentos possíveis com 
outros enunciados que possam continuá-lo. Admite-se que: 
―existem enunciados cujo traço constitutivo é o de serem empregados 
com a pretensão de orientar o interlocutor para certos tipos de 
conclusão, com exclusão de outros.‖ 13 
A orientação discursiva desses enunciados, conclusões às quais eles 
servem de argumento, torna-se possível com a introdução de uma retórica 
integrada, que ―se manifesta por meio de uma relação de tipo bem preciso 
entre os enunciados: a de ser argumento para”. 
Retomando a noção de escala argumentativa de Ducrot, citado por 
Koch14: 
Diz-se que p é um argumento para a conclusão r, se p é 
apresentado como devendo levar o interlocutor a concluir 
r. Quando vários argumentos — p, p’ p’’... — se situam 
numa escala graduada, apontando, com maior ou menor 
força, para a mesma conclusão r, diz-se que eles 
pertencem à mesma escala argumentativa. 
 
11 BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 37. ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2001, p. 
406: define enunciado ou período como sendo “a unidade lingüística que faz referência a uma experiência 
comunicada e que deve ser aceita e depreendida cabalmente pelo nosso interlocutor”. Esclarece também 
que o enunciado pode aparecer na forma de frase, sendo que esta não apresenta relação predicativa. 
12 Op. Cit., p. 104. 
13 Idem. 
14 Ibid, p. 105. 
 6 
Temos assim uma classe argumentativa quando estão presentes duas 
ou mais escalas orientadas no sentido de uma mesma conclusão. 
Os operadores argumentativos ou discursivos constituem uma série de 
morfemas, presentes em cada língua, responsáveis por essa relação 
argumentativa. Alguns são considerados pela gramática tradicional como 
elementos meramente relacionais, a exemplo dos conectivos e, mas, porém, já 
que, pois, etc. Outros há que não se enquadram em nenhuma das dez classes 
gramaticais15. 
Com base na análise apresentada por Koch16, destacamos os seguintes 
operadores argumentativos: 
a) Aqueles que estabelecem a hierarquia dos elementos numa escala, 
assinalando o argumento mais forte para uma conclusão (mesmo, 
até, até mesmo, inclusive) ou, então, o mais fraco (ao menos, pelo 
menos, no mínimo), deixando, porém, subentendido que existem 
outros mais fortes. 
b) Operadores que encadeiam os elementos de duas ou mais escalas 
orientadas no mesmo sentido (e, também, nem, tanto... como, não 
só... mas também, além de, além disso, etc). 
c) O conectivo ainda pode servir como marcador de excesso temporal 
ou não temporal; pode também servir para introduzir mais um 
argumento a favor de certa conclusão. 
d) Já - pode ser empregado para indicar mudança de estado, de algo 
que é x em um instante, e passa a y em momento posterior. 
e) Aliás, além do mais - pode introduzir argumento decisivo, 
apresentando-o a título de acréscimo, como se fosse desnecessário, 
para dar o golpe final. 
f) Operadores que marcam oposição entre elementos semânticos 
explícitos ou implícitos (mas, porém, contudo, embora). 
 
15 Ibid, p. 104-105. 
16 Ibid, p. 106-108. 
 7 
Apresentam orientações argumentativas opostas em relação a 
determinada conclusão. 
g) Isto é (quer dizer, ou seja, em outras palavras) — introduz 
asserção derivada, que visa a esclarecer, retificar, desenvolver, 
matizar uma enunciação anterior. Tem uma função geral de 
ajustamento, de precisão do sentido. Muitas vezes, essa asserção 
traz um esclarecimento sobre o que foi dito antes, mas que encerra 
um argumento mais forte no sentido de uma determinada conclusão. 
h) Quando se tem escalas orientadas no sentido da afirmação plena 
(universal afirmativa: tudo, todos) ou da negação plena (universal 
negativa: ex.. nada, nenhum), os quantificadores selecionam 
determinados operadores capazes de dar seqüência ao discurso. Ex: 
―Muitos estudantes estão descontentes com o nosso sistema de 
ensino: quase 80%‖; ou ―Poucos estudantes estão descontentes com 
o nosso sistema de ensino: apenas 20%‖. 
i) Isto acontece, também, com as expressões pouco (orienta no 
sentido da negação) e um pouco (no sentido da afirmação). Ex: ―O 
embrulho pesa um pouco: não sei se você conseguirá levá-lo até a 
loja‖; ou ―O embrulho pesa pouco: você conseguirá levá-lo até a loja‖. 
Como todos os operadores apontados fazem parte da gramática da 
língua, fica evidente que: 
... essas instruções, codificadas, de natureza gramatical, 
supõem evidentemente um valor retórico da construção, 
ou seja, um valor retórico — ou argumentativo — da 
própria gramática. O fato de se admitir a existência de 
relações retóricas ou argumentativas inscritas na própria 
língua é que leva a postular a argumentação como ato 
lingüístico fundamental. 17 
Koch enfatiza a importância de se pôr em evidência, na descrição 
gramatical da língua, os paradigmas constituídos de elementos de valor 
essencialmente argumentativo. Esses elementos selecionam enunciados 
capazes de constituir a seqüência do discurso, bem como são responsáveis 
pela sua orientação argumentativa global, no sentido de levarem o interlocutor 
a um determinado tipo de conclusões, em detrimento de outras. O autor 
 
17 Ibid, p. 109. 
 8 
ressalta ―a necessidade de se conscientizar o usuário da língua do valor 
argumentativo dessas marcas, para permitir-lhe percebê-las no discurso do 
outro e utilizá-las, com eficácia, no seu próprio discurso‖. 
A seguir, analisaremos o uso de alguns operadores argumentativos 
constantes em habeas corpus. 
 
3. OPERADORES ARGUMENTATIVOS NO HABEAS CORPUS 
Nossa Constituição Federal de 1988 garante, no art. 5º, LXVIII: 
―conceder-se-á "habeas-corpus" sempre que alguém sofrer ou se achar 
ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por 
ilegalidade ou abuso de poder‖. 
Daí, Guilherme de Souza Nucci conceitua habeas corpus: ―é ação 
constitucional, destinada a coibir qualquer ilegalidade ou abuso de poder 
voltado à liberdade de locomoção – ir, vir e ficar- do indivíduo‖. 18 
Fernando Capez o tem por ―remédio judicial que tem por finalidade evitar 
ou fazer cessar a violência ou a coação à liberdade de locomoção decorrente 
de ilegalidade ou abuso de poder‖. 19 
Em suma, podemos afirmar que o objetivo imediato do impetrante, 
durante esta ação, é convencer o julgador de que ocorreu no caso concreto 
uma ou mais das hipóteses de cabimento enumeradas no artigo 648 do Código 
de Processo Penal: 
Art. 648. A coação considerar-se-á ilegal: 
I - quando não houver justa causa; 
II - quando alguém estiver preso por mais tempo do que 
determina a lei; 
 
18 NUCCI, Guilherme de Souza. Prática forense penal. 5. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 
2010, p. 375. 
19 CAPEZ, Fernando; COLNAGO, Rodrigo. Prática forense penal. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 
287. 
 9 
III - quando quem ordenar a coação não tiver 
competência para fazê-lo; 
IV - quando houver cessado o motivo que autorizou a 
coação; 
V - quando não for alguém admitido a prestar fiança, nos 
casos em que a lei a autoriza; 
VI - quando o processo for manifestamente nulo; 
VII - quando extinta a punibilidade. 
A análise dos operadores argumentativos nos habeas corpus 
pesquisados será aqui apresentada apenas sobre trechos, por questão de 
adequação ao presente trabalho. Por este mesmo motivo, expomos apenas 
quatro dentre os operadores mais recorrentes na amostra utilizada. 
3.1 Operadores que somam argumentos 
Observemos o seguinte trecho, extraído de um modelo de HC: 
Saliente-se, ainda, que a única possibilidade de eleição 
do regime fechado inicial, para hipóteses de penas 
inferiores aquatro anos, seria a consideração 
fundamentada das circunstâncias do arl . 59 do Código 
Penal, como prevê o art. 33, § 3.°, do mesmo Código. 
Não há qualquer referencia negativa à pessoa do réu na 
sentença, concluindo-se que a motivação do regime 
fechado concentrou-se na gravidade abstrata do delito, o 
que não se permite seja feito. Aliás, nessa ótica, vale 
conferir o teor da Súmula 718 do Supremo Tribunal 
Federal: ... 20 
Com o uso dos operadores ―ainda‖ e ―Aliás‖, foi possível aperfeiçoar a 
cooptação de argumentos que apontam para a mesma conclusão21, qual seja a 
da ilegalidade da aplicação do regime fechado inicial ao referido caso. Tais 
conectivos vêm adicionar mais argumentos favoráveis à conclusão objetivada 
pelo defensor. Quanto à partícula ―Aliás‖, esta não apenas introduz novo 
argumento decisivo, como também o faz a título de acréscimo sub-reptício, 
como se fosse até desnecessário. 
Neste outro extrato, 
 
20 NUCCI, Op. cit., p. 396. 
21 KOCH, Op. cit., p. 105. 
 10 
5. No caso presente, o paciente é primário, sem 
antecedentes, possui emprego e residência fixas [sic], 
não representando nenhum perigo à sociedade, nem 
inconveniência à instrução criminal ou à aplicação da lei 
penal. 
6. Além disso, somente para argumentar, havendo 
condenação nos termos da denúncia, vislumbra-se a 
possibilidade de aplicação do disposto pelo § 4o do art. 
33 da Lei 11. 343/06, implicando na diminuição da pena 
em patamares de um sexto a dois terços, visto ser o 
paciente primário, sem antecedentes e desvinculado de 
qualquer tipo de organização ou atividade criminosa. A 
eventual redução pode provocar, também, a substituição 
da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, 
nos termos já decididos pelo C. Supremo Tribunal 
Federal...22 
constatamos que os três operadores ―e‖, ―nem‖ e ―ou‖ no primeiro parágrafo 
somam argumentos favoráveis à conclusão pela amenização da pena aplicada 
ao paciente. No segundo parágrafo, ―Além disso‖ vem acrescentar sustentação 
à tese defendida, insinuando que aqueles já apresentados por si mesmos 
seriam suficientes. Seguem-se ―e‖, ―ou‖ e ―também‖ harmonizando argumentos 
favoráveis à redução da pena privativa aplicada ou à substituição pela restritiva 
de direitos. 
3.2 Operadores que conduzem a uma conclusão 
Alguns operadores permitem que, a partir de argumentos de enunciados 
anteriores, a conclusão seja conduzida23, beneficiando-se de artifícios do 
silogismo. Tais elementos relacionais24, também chamados conectivos, 
estabelecem a relação em que um ato é a conclusão de outro pressuposto. 
Vejamos a seguinte ocorrência: 
A Lei n. 11705/2008 modificou a redação original, 
retirando a expressão "expondo a dano potencial a 
incolumidade de outrem", e acrescentou lhe a seguinte: 
"estando com concentração de álcool por litro de sangue 
 
22 NUCCI, Ibid., p. 399. 
23 VOESE, Op. cit., p. 99-100. 
24 LIMA, Antônio de Oliveira. Interpretação de textos: aprenda fazendo. Rio de Janeiro: Elsevier, 
2008, p. 63-64. 
 11 
igual ou superior a 6 (seis) decigramas". Portanto, surgiu 
um novo crime, ocorrendo a abolitio do crime descrito 
anteriormente à Lei Seca (Lei n. 11 705/2008). Como se 
vê das provas dos autos, o paciente não realizou nenhum 
exame pericial, portanto, impossível aferir o teor alcoólico 
superior a 0,6 g/l de sangue, tornando atípico a sua 
conduta descrita pelo art. 306 do CTB, com redação 
determinada pela Lei n. 11.705/2008. 25 
O uso do operador ―Portanto‖ na primeira parte do texto acima conduz à 
conclusão de que ―surgiu um novo crime, ocorrendo a abolitio do crime descrito 
anteriormente à Lei Seca‖, a partir do pressuposto anterior de que a redação 
revogada foi substancialmente modificada. 
No exemplo abaixo, um réu foi processado e condenado a dois anos de 
reclusão e multa, pela prática de roubo simples. Teve a prisão decretada na 
sentença e não lhe fora permitido recorrer em liberdade, mesmo inexistindo 
motivo para prisão preventiva. 
Vejamos trecho do writ impetrado: 
―Portanto, a coação ilegal é visível não somente pelo direito do réu de 
recorrer em liberdade, o que não lhe foi permitido na decisão 
condenatória, mas também por fazer jus ao início do cumprimento da 
pena no regime aberto.‖ 26 
Constatamos acima que o operador ―Portanto‖ conduz à conclusão de 
que a coação é ilegal, tendo como pressupostos o ―direito do réu de recorrer 
em liberdade‖ e o direito ―ao início do cumprimento da pena no regime aberto‖. 
As premissas, por sua vez, foram articuladas pelo uso dos operadores ―não 
somente... mas também‖. 
3.3 Operadores que contrapõem argumentos e orientam para conclusões 
contrárias 
Observando a seguinte passagem extraída de HC, 
 
25 CAPEZ, Op. cit., Modelo n. 4 de HC, p. 1, disponível no CD integrante da obra. 
26 NUCCI, Op. cit., p. 396. 
 12 
A arma encontrada em poder do paciente possuía 
registro anterior à edição da Lei n. 10.286/2003, 
permitindo concluir que teria ate a data de 22 de 
dezembro de 2006 para efetuar a renovação do registro. 
Porém, com a regulamentação da lei somente em 1 de 
julho de 2004, data da entrada em vigor do Derreio n. 
5.123/2004, interpreta-se que o prazo de três anos 
esgota-se somente em 1 de julho de 2007.27 
resta claro que o operador ―Porém‖ marca a oposição entre o argumento que 
pressupõe um prazo mais próximo para o registro da arma, prejudicando o réu, 
e o argumento pelo qual se entende mais dilatado o prazo, favorecendo o 
paciente do referido writ. A presença do conectivo minimiza o primeiro 
argumento, que lhe é prejudicial, e torna mais forte o segundo, que favorece o 
paciente. 
3.4 Operadores que desvalorizam certos argumentos 
Há situações em que o orador antecipa o argumento contrário à sua 
tese, pretendendo desvalorizá-lo em relação ao argumento seguinte, este 
favorável à sua tese. Voese explica que ―ocorre, concomitantemente, uma 
aceitação dos eventuais argumentos contrários, e há uma desvalorização de 
sua importância‖.28 
Quando observamos o seguinte trecho de um HC, 
No caso vertente, trata-se de imputação dc tráfico de 
entorpecente em que a substância estava com terceiro, o 
que torna discutível a autoria delitiva. Ademais, embora 
seja necessário maior rigor da autoridade pública de 
todos os Poderes no combate ao tráfico de entorpecentes 
para garantir a ordem pública, não se pode admitir a 
antecipação da punição do Estado por meio da custódia 
cautelar. 
Sequer poder-se-ia reconhecer o clamor público 
no decreto preventivo, isto porque, apesar da traficância 
ser crime hediondo, na situação em concreto, ela é 
insuficiente para a manutenção da medida. 29 
 
27 CAPEZ, Op. cit., Modelo n. 3 de HC, p. 1, disponível no CD integrante da obra. 
28 Op. cit., p. 99. 
29 CAPEZ, Op. cit., Modelo n. 1 de HC, p. 1-2, CD integrante da obra. 
 
 13 
percebemos que, graças ao uso do operador embora, o defensor reconhece 
certa importância ao maior rigor das autoridas no combate ao tráfico de 
entorpecentes, mas pretende desvalorizar tal argumento em prol do que 
defende em seguida: ―não se pode admitir a antecipação da punição do Estado 
por meio da custódia cautelar‖. O mesmo efeito ocorreu com o uso de ―apesar 
da‖, na segunda parte do texto, com o que busca enfraquecer a qualificação de 
crime hediondo perante o fato de ser ela ―insuficiente para a manutenção da 
medida‖. 
Obviamente, há nessa manobra a valorização de alguns argumentos em 
decorrência da desvalorização de outros. 
 
4. CONCLUSÃO 
Aceitando a tese de que não há neutralidade no discurso, toda a 
comunicação humana traz implícita uma intenção de convencimento ou de 
defesa de determinada tese. Nesse sentido, talvez em nenhuma ciência haja 
maior dependência de seus operadores quanto a estratégiasargumentativas 
do que na ciência jurídica. 
Com efeito, o que se busca na argumentação é a obtenção ou aumento 
da adesão de seus destinatários às teses oferecidas. Ora, mas a 
argumentação jurídica não trabalha com verdades irrefutáveis,diferindo da 
lógica formal, sendo possível diante de cada tese construir uma antítese. 
O habeas corpus combate em tese o ilegal ou abusivo cerceamento da 
liberdade de ir, vir ou ficar do ser humano. Impõe-se, assim, a utilização de 
recursos argumentativos que visem a superar ou minimizar as fragilidades do 
discurso. Os operadores argumentativos ou discursivos constituem, portanto, 
elementos lingüísticos capazes de imprimir, pela coesão, uma orientação 
argumentativa global, no sentido de levarem o interlocutor a determinado tipo 
de conclusões. 
 14 
Constatamos, em todos os modelos de habeas corpus analisados, 
presença notável de operadores argumentativos, visivelmente a conduzir para 
a conclusão de que existe, em cada caso, cerceamento ilegal da liberdade. 
Verdade que, havendo coerência, suprimam-se os operadores e ainda restarão 
os elementos suficientes para convencimento, mas certamente a eficácia 
diminuirá. Percebemos, na análise, que os conectivos ―rotulam‖ os argumentos, 
manipulando estrategicamente os fatos, induzindo a uma conclusão, pela 
liberdade do paciente em cada writ. 
Ademais, nos deparamos com certa escassez de obras sobre o assunto 
e com a quase inocorrência de produção acadêmica neste campo, fatos que só 
ampliam a importância da presente pesquisa. De fato, apesar da 
essencialidade da boa técnica argumentativa para o sucesso nos diversos 
ramos jurídicos, este é ainda campo ávido por exploradores.30 O tema requer 
outros estudos, pois restaram não apreciados diversos outros elementos 
presentes no gênero estudado, a exemplo dos modalizadores. 31 
 
 
 
 
 
 
 
30 VOESE, Op. cit., p. 13. 
31 NASCIMENTO, Erivaldo Pereira do. A MODALIZAÇÃO DEÔNTICA E SUAS 
PECULIARIDADES SEMÂNTICO-PRAGMÁTICAS. In: Revista Eletrônica do Programa de Pós-
Graduação em Linguística (PPGLg). Santa Catarina: Florianópolis, v.7, n.1 (30-45), jan-jun, 2010. 
Disponível em: <http://www.periodicos.ufsc.br/index.php/forum/article/view/1984-8412.2010v7n1p30>. 
Acesso em 26 out. 2011. 
 
 15 
 
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