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Livro - Trabalho e Sociabilidade

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Trabalho e 
Sociabilidade
Fernando Lothário da Roza
João Nunes da Silva
Nelson Russo de Moraes
R893t Roza, Fernando Lothário da
Trabalho e sociabilidade / Fernando Lothário da Roza, João Nunes 
da Silva, Nelson Russo de Moraes.
91 p.: il.
1. Trabalho – Aspectos sociais I. Silva, João Nunes da II. Moraes, 
Nelson Russo de II. Título
CDD 331
Sumário
1. Trabalho nos diferentes momentos históricos | 5
2. Questão do trabalho no Brasil | 19
3. Contradições do trabalho no capitalismo | 31
4. Novas exigências ao trabalho na contemporaneidade | 41
5. Precarização do trabalho e a 
desresponsabilidade do Estado | 57
6. Trabalho e informalidade: a 
desestabilização dos estáveis | 67
7. Precarização do trabalho e os novos 
desafios ao serviço social | 77
Referências | 89
1
Trabalho nos diferentes 
momentos históricos
Neste capítulo, vamos apresentar o conceito de trabalho, 
considerando as diferentes compreensões nas diversas socieda‑
des; verá como o trabalho foi desenvolvido ao logo do tempo, 
sua compressão para os povos primitivos, a influência da con‑
cepção de trabalho nas sociedades greco‑romanas, escravocratas, 
feudal e capitalista.
Para que possamos realizar esse percurso, temos é preciso 
ter claro que o termo trabalho nos remete a uma reflexão do que 
ele representa para as nossas vidas. Já imaginou como seria a 
sociedade sem o trabalho? Será que existiria sociedade sem tra‑
balho? Afinal, o que significa esse termo e o que mesmo repre‑
senta em nossos dias?
Trabalho e Sociabilidade
– 6 –
1.1 Trabalho: conceituando
As questões acima levantadas poderão nos ajudar a traçar um cami‑
nho para a compreensão do que é o trabalho. É importante imaginar que 
a nossa vida praticamente não seria nada sem que houvesse o que chama‑
mos de trabalho; mas por outro lado, tratar ou pensar sobre esse assunto 
exigiu uma disposição para que se tenha uma noção básica do que signi‑
fica na sociedade.
Na Universidade, observe que, para sua existência é imprescindí‑
vel que várias pessoas estejam sintonizadas, exercendo alguma atividade 
que possa resultar na prestação de um bom serviço, na sua comodidade e, 
finalmente, no seu estudo e aprendizado. Façamos então uma rápida refle‑
xão, tentando visualizar os trabalhadores/funcionários que desenvolvem 
alguma atividade na universidade, por exemplo: os professores, web‑tuto‑
res, diretores, supervisores, auxiliares em geral, secretários, funcionários 
da limpeza, etc. Vejam quantas e quantas atividades podem ser relacio‑
nadas rapidamente. Agora imagine que, no dia a dia, as pessoas realizam 
diversas atividades para atender as suas necessidades e às dos outros; isso 
implica a divisão do trabalho social, como assegura Durkheim, sociólogo 
que estudou a sociedade a partir de uma visão positiva.
Na concepção de Durkheim, cada pessoa, à medida que realiza uma 
atividade, depende do trabalho de outras pessoas, o que ele chama de soli‑
dariedade orgânica. Veja, portanto, que o trabalho, embora seja realizado, 
em determinados momentos, por uma só pessoa, na verdade, implica uma 
atividade de sociabilidade, isto é, o trabalho tem uma função social.
Na concepção de Meksenas (1994, p. 21), trabalho “é o processo pelo 
qual as pessoas na criação de bens, transformam os elementos que com‑
põem a natureza”. Nem sempre o trabalho está relacionado ao bem‑estar, 
à harmonia, ao sucesso: a história nos mostra que, na verdade, a origem 
da palavra tão falada está associada a sofrimento, a tortura, a exploração, 
muito embora também esteja relacionada a instrumento de trabalho.
Suzano Albornoz (1992, p. 10), sobre a definição trabalho, diz que
se origina do latim tripalium, embora outras hipóteses a associem 
a trabaculum. Tripalium era um instrumento feito de três paus 
aguçados, algumas vezes ainda munidos de pontas de ferro, no 
– 7 –
Trabalho nos diferentes momentos históricos
qual os agricultores batiam o trigo, as espigas de milho e o linho 
para rasgá‑lo e esfiapá‑los [...] ainda que originalmente o tripa‑
lium fosse usado no trabalho do agricultor, no trato do cereal, é do 
uso deste instrumento como meio de tortura que a palavra traba‑
lho significou por muito – e ainda conota‑ algo como padecimento 
e cativeiro. Deste conteúdo semântico de sofrer passou‑se ao de 
esforçar‑se, laborar, obrar.
Na verdade, a partir do momento em que o ser humano necessita 
de alimento, de objetos e artefatos para viver, podemos perceber que o 
trabalho torna‑se presente. Mas é como a capacidade de transformar a 
natureza, por meio da sua ação, que o homem realiza o trabalho. Com 
isto, o desenvolvimento da humanidade e das sociedades passa a ser uma 
realidade sem precedentes.
Na afirmação de Albornoz (1992, p. 12), o que distingue o trabalho 
humano do dos outros animais é que neste há consciência e intenciona‑
lidade, enquanto os animais trabalham por instinto, programados, sem 
consciência. Portanto são consciência e a intencionalidade usadas pelos 
homens que possibilitam a realização de profundas mudanças no âmbito 
social, econômico, cultural, físico e até mesmo psicológico.
Se olharmos a história das sociedades, logo percebemos quantas 
mudanças ocorrem ao longo do tempo: basta lembrar de cidades que 
foram formadas, inclusive as grandes metrópoles, onde antes tudo não 
passava de um território denominado por florestas, ou até mesmo onde 
havia um verdadeiro deserto e, pela ação pensada e intencional do homem, 
determinadas regiões foram sofrendo grandes alterações. Além disto, o 
próprio comportamento humano (individual e coletivo) apresenta mudan‑
ças significativas, devido a realizações do trabalho.
A mudança ocorrida na sociedade em função do trabalho tem sido 
controversa; quando o trabalho desenvolvido pelas pessoas resulta em 
crescimento material, intelectual e moral e que gera o bem‑estar de todos 
os indivíduos, é notório que o aspecto positivo é o mais evidente. Mas em 
contrapartida, são inúmeras as consequências negativas, quando a reali‑
zação do trabalho resulta em destruição do meio ambiente, por exemplo, 
humilhação e sofrimento humano, como tem demonstrado a história dos 
povos em geral.
Trabalho e Sociabilidade
– 8 –
1.1.1 Trabalho nas diferentes sociedades
A maneira de o homem trabalhar a natureza provocou transformações 
profundas na vida das pessoas em geral, no ambiente natural e nas diver‑
sas sociedades. A agricultura e a pecuária constituem importantes desco‑
bertas para melhorar a vida de todos os povos.
Nota‑se, nessas atividades, o uso da capacidade humana de pensar, 
de modo a alcançar seus objetivos. Nesse sentido, podemos afirmar que a 
busca de atender suas necessidades, como alimento e proteção, fizeram o 
homem realizar a atividade denominada como sendo trabalho. Será que o 
trabalho desenvolvido é visto pelos povos em geral da mesma maneira? O 
que os homens pensam sobre o trabalho? Qual o significado do trabalho 
para as diversas sociedades? Como os povos primitivos, por exemplo, rea‑
lizam e pensam o trabalho?
Para obtermos respostas a essas indagações, torna‑se necessário que 
façamos uma leitura da história do trabalho na sociedade, para tanto temos 
que recorrer à historia da formação das sociedades.
1.1.2 O trabalho nas sociedades tribais
O viver coletivamente trouxe ao homem o ato de se agrupar, primeiro 
por segurança, para se proteger contra os animais e da própria natureza. 
Para a sua sobrevivência a forma tribal se caracteriza como sendo uma das 
primeiras formas de organização social e divisão do trabalho social.
Tomazi (2000, p. 36) afirma que
as sociedades tribais, distribuídas pelos mais diferentes pontos 
da terra e com as mais diferentes estruturas sociais, políticas e 
econômicas, possuíam, e algumas ainda possuem, uma organi‑
zação do trabalho em geral baseada na divisão por sexo, em que 
homens e mulheres executavam atividades diferentes. Os seus 
equipamentos e instrumentos são, aos olhos dos estrangeiros, 
muito simples e rudimentares‑ ainda que se mostrem eficazes 
para oque deles se exige.
A observação acima já demonstra uma diferença fundamental no que 
diz respeito às diferentes sociedades, principalmente às chamadas primitivas: 
observa‑se que nem todos os povos têm a mesma concepção de trabalho.
– 9 –
Trabalho nos diferentes momentos históricos
Por exemplo: a concepção muito difundida de que o índio é pregui‑
çoso na verdade é puro preconceito, uma vez que os colonizadores, quando 
chegaram às terras brasileiras, tinham uma noção do trabalho voltada para o 
mercado, para a acumulação e para a riqueza, enquanto que, para os povos 
indígenas, essa não era a lógica; por isso, não se deixaram escravizar, o que 
teve como consequência uma postura preconceituosa dos ditos civilizados 
para com esses povos. Vejamos o que Tomazi (2000, p. 36) aponta sobre 
este assunto:
a explicação para o fato de trabalharem muito menos está no modo 
como se relacionam como a natureza muito diferente do nosso. A 
terra é, além do lugar onde se vive um valor cultural, pois é ela que 
dá aos homens os seus frutos [...] o mundo do trabalho nas socie‑
dades tribais é, pois, algo que tem relação com todos os outros 
elementos de duas sociedades e com todo o meio ambiente em que 
vivem. Desse modo, nelas não se encontra a ideia de que se deve 
produzir mais para poupar ou acumular alguma riqueza. A sua está 
na vida e na forma como passam os dias.
Considerando essa reflexão sobre o sentido do trabalho nas diferen‑
tes sociedades, os antropólogos contribuíram significativamente para der‑
rubar certos preconceitos como o apresentado anteriormente. Os estudos 
realizados em grupos tribais, muito distante da sociedade industrializada, 
permitem uma maior clareza e conhecimento das diferentes sociedades e 
de seus costumes.
Tomazi (2000, p. 36), se reporta a antropologia, e em especial aponta 
a concepção do antropólogo norte‑americano Marshal Sahlins, que
chama essas sociedades de sociedade do lazer, ou as primeiras 
sociedades de abundância, pois, ao analisá‑las, percebeu que elas 
não só tinham todas as necessidades materiais e sociais plenamente 
satisfeitas, como também dispunham de um mínimo de horas diá‑
rias vinculadas à atividade de produção (cerca de três ou quatro 
horas e nem sempre todos os dias). Os Yanomamis dedicam pouco 
mais de três horas diárias vinculadas a atividade produtivas; os 
guayakis, cerca de cinco horas, mas não todos os dias, e os kungs 
do deserto de Kalahari, em média quatro horas por dia.
Os estudos realizados por antropólogos brasileiros, como Darcy 
Ribeiro, por exemplo, reforçam essa visão de Sahlins: quando conviveu 
por um longo período (em torno de dez anos) com diversas tribos indíge‑
Trabalho e Sociabilidade
– 10 –
nas da Amazônia, pode perceber e demonstrar a riqueza dessas culturas 
e sua relação com o trabalho e com a vida. Em obras como O povo bra‑
sileiro (2002), Ribeiro descreve o modo de vida indígena e seu despren‑
dimento das riquezas. Em primeiro lugar, para os povos indígenas, está a 
vida, a natureza em si, o prazer pela graça da vida e a convivência com os 
seus pares.
Antropólogos estrangeiros que tiveram a oportunidade de estudar os 
povos indígenas brasileiros, como Levi‑Strauss, descrevem as diversas 
maneiras de vida dos nossos índios. Em sua obra Tristes Trópicos (1996), 
esse antropólogo demonstra, inclusive com fotos, como os nativos traba‑
lham, relacionam‑se e se divertem, destacando a prioridade para o lazer e 
o descanso.
1.1.3 O trabalho na sociedade greco‑romana
Nas sociedades greco‑romana, o trabalho pode ser visto de diferen‑
tes maneiras, como acentua Nelson Tomazi. Observe, no texto a seguir, 
como Tomazi (2000, p. 38) caracteriza a sociedade grega e sua relação 
com o trabalho.
Os gregos faziam uma distinção clara entre trabalho braçal de quem 
labuta na terra, o trabalho manual do artesão e aquela atividade 
do cidadão que discute e procura, através do debate, resolver os 
problemas da sociedade. Conforme Hanna Harendt (1906‑1975), 
pensadora alemã, os gregos possuíam três concepções para a ideia 
de trabalho: labor, poiesis e práxis [...] por labor entende‑se o 
esforço físico voltado para a sobrevivência do corpo, sendo, por‑
tanto, uma atividade passiva ao ritmo da natureza. Em poiesis a 
ênfase recai sobre o fazer, o ato de fabricar, de criar alguma coisa 
ou produto através do uso de algum instrumento ou mesmo das 
próprias mãos. () A práxis, por sua vez, é aquela atividade que 
tem a palavra como seu principal instrumento, isto é, que utiliza 
o discurso como um meio para encontrar soluções voltadas para o 
bem‑estar dos cidadãos. É o espaço político da vida pública (p. 38).
A compreensão do trabalho a partir das três concepções (poièsis, 
labor e práxis), apontadas por Harendt, permite‑nos ter uma visão ampla 
da realidade das sociedades em geral, até mesmo porque percebe‑se 
que não existe apenas uma concepção de trabalho que permeia todas as 
sociedades. No caso da nossa realidade industrial, tecnológica e buro‑
– 11 –
Trabalho nos diferentes momentos históricos
crática, observe que há uma forte tendência em limitar o trabalho a uma 
atividade meramente voltada à linha de produção, à fabrica, ou coisa 
desse tipo.
Para maior compreensão dessas sociedades e de sua relação com o 
trabalho, é importante saber também a questão da escravidão. Tomazi 
(2000, p. 38) nos lembra que
a condição dos escravos varia muito, pois havia não só o escravo 
que trabalhava a terra nas mais terríveis condições, mas também 
aquele incumbido de administrar e gerenciar todos os negócios do 
seu senhor e amo. Podia‑se, além disso, encontrar escravos exer‑
cendo a medicina, pois alguns médicos instruíam seus escravos e 
os libertavam para que continuassem o seu ofício. Apesar disso, 
contudo, o escravo era sempre alguém inferior por natureza, não 
importava que ofício tivesse ou quem fosse. A liberdade do cida‑
dão, as possibilidades de ele manter‑se sem ter que produzir dire‑
tamente o que consumia só era possível se existissem outros que 
trabalhassem para ele.
A escravidão, já nessas sociedades, era considerada natural. Até 
mesmo grandes filósofos, como Platão e Aristóteles, embora tenham con‑
tribuído significativamente para a compreensão da sociedade, não deixa‑
ram de se apresentarem favoráveis a esse sistema. É importante saber que 
a base do sistema de escravidão nas sociedades nem sempre aconteceu 
devido ao preconceito racial, mas muitas vezes ocorria em função de 
conflitos, de guerras, de modo que aqueles indivíduos que eram domina‑
dos por outras etnias, ou grupos, ficavam submetidos aos seus senhores/
conquistadores. Para uma melhor compreensão desse tema, é interessante 
observar alguns filmes épicos e históricos, como Gladiador, de Ridley 
Scott, Spartacus, de Stanley Kubrick e Ben Hur, de Fred Niblo, os quais 
retratam aspectos da organização do trabalho nas sociedades antigas em 
que se percebe o trabalho escravo; observe que os famosos gladiadores 
eram também mão de obra escrava.
1.1.4 O trabalho na sociedade feudal
A sociedade, durante muito tempo, adotou o modo de produção escra‑
vista. Muitas vezes, baseado simplesmente no preconceito, como no caso 
dos negros, como também, em função de guerras, conflitos e conquistas.
Trabalho e Sociabilidade
– 12 –
Outro fator marcante para o fim da escravidão diz respeito ao pro‑
cesso da mercantilização dos escravos, pois uma vez que o mundo se orga‑
nizava e defendia o fim da escravidão, considerada desumana, essa merca‑
doria deixou de ser valiosa para ser onerosa, de modo que países como a 
Inglaterra, que comercializa escravos por toda a parte do globo, passaram 
a tomar outras iniciativas para por fim a essa mercantilização.
Com o fim da escravidão, vem o período do feudalismo, isto é, o 
modo de produção feudal. Como o próprio nome já afirma, o feudalismo 
considera a terra, o feudo, principal elemento e moeda de compra e venda. 
Nesse contexto, em vez da figura escravo, surge o servo que, na realidade, 
significava um certo escravovendido juntamente com a terra. A diferença 
básica do escravo para o servo é que o primeiro não tinha direito a nada, 
a não ser à simples ração (comida) para se alimentar e reproduzir força de 
trabalho, enquanto que o servo já possui uma certa liberdade para plantar 
e colher, muito embora fosse submetido ao senhor feudal. A situação dos 
servos, por sua vez, não era das melhores, havia muita exploração sobre 
os mesmos como assegura Meksenas (1994, p. 34) “o servo, por sua vez, 
ao obter o direito ao cultivo da terra, passava a dever uma série de favores 
ao senhor feudal. ” Para maior compreensão do sistema feudal e de suas 
características, Meksenas (1994, p. 34) cita um trecho do livro História da 
Riqueza do Homem, de Leo Hubernman, em que se encontra o seguinte:
cada servo era obrigado a dar parte de sua colheita ou ainda deve‑
ria trabalhar parte da semana nas terras do seu senhor, para só em 
seguida, cuidar da própria plantação. E se alguma tempestade ame‑
açava a perda da colheita, era a plantação do senhor que deveria ser 
salva em primeiro lugar. Se alguma estrada ou ponte necessitava 
de reparos, novamente o servo era encarregado desta tarefa. E se, 
ainda o camponês necessitava moer o seu trigo ou amassar suas 
uvas, teria que utilizar o moinho do seu senhor, e, para isso, pagava 
com parte de seus produtos.
Nota‑se, na descrição feita por Huberman, as desvantagens de ser 
servo no período citado. Tal situação era comum na época, em razão da 
existência de um ideologia que mantinha o servo como uma simples fer‑
ramenta de trabalho, colocando‑o numa situação de humilhação e até 
mesmo em um grau de alienação que se torna aceito pela maioria. Vale 
ressaltar que, no feudalismo, a Igreja representava uma instituição fortís‑
– 13 –
Trabalho nos diferentes momentos históricos
sima ligada à nobreza, como podemos perceber nas palavras de Meksenas 
(1994, p. 36):
além da camada dos senhores feudais e da camada dos servos 
(arrendatários dessas terras), existia ainda a camada do clero, 
[...] fica fácil perceber a existência de dominação dos nobres 
sobre os servos.
Sabemos que durante a Idade Média, a Igreja Católica instituiu o tri‑
bunal do Santo Oficio, que ganhou o mundo como sendo a Inquisição, 
mais precisamente nos séculos XII ao XV, em repressão a qualquer ação 
considerada perigosa para a Igreja e seu desenvolvimento na sociedade; 
com isso; pensadores, cientistas, ativistas, mulheres, etc. , foram condena‑
das pelos representantes do clero e queimados na fogueira.
No que diz respeito à ideologia dominante na época do feudalismo, 
a Igreja era a principal responsável por toda a forma de pensar e de orga‑
nizar a vida, a política, as leis e a cultura em geral. Podemos perceber 
claramente a força ideológica dessa instituição quando assistimos a deter‑
minados filmes que tratam da época medieval, como O nome da rosa, de 
Jean‑Jacques Annaud, baseado na obra homônima de Umberto Eco. Este 
filme retrata a preocupação da Igreja Católica em manter o conhecimento 
sob a sua tutela, de modo que aqueles que fugissem à regra eram punidos 
pela Inquisição.
1.1.5 O trabalho no capitalismo
O modo de produção capitalista marca o fim do modelo de socie‑
dade baseada no feudalismo. O capitalismo nasce como uma característica 
central de comprar e vender a mão de obra humana baseada num sistema 
de assalariamento; o trabalhador, que antes realizava o seu trabalho de 
maneira artesanal e participava de todo o processo de produção, passa a 
vender a sua mão de obra. É certo que as condições de vida e de trabalho 
no feudalismo não eram nada boas, todavia, no capitalismo, a situação não 
vai melhorar tanto: o trabalhador passa a valer pelo que produz e a partir 
das condições estabelecidas no mercado. Nesse caso, o trabalho se carac‑
teriza pela separação do homem de seus meios de produção, como terras, 
máquinas e ferramentas.
Trabalho e Sociabilidade
– 14 –
Conforme Meksenas (1994, p. 26) nos explica, a
sociedade capitalista é uma organização de trabalho que se carac‑
teriza pela existência de, basicamente, duas classes sociais: os pro‑
prietários dos meios de produção e os proprietários apenas de sua 
capacidade de trabalho. Assim sendo, os trabalhadores trocam com 
os empresários (os donos dos meios de produção) a sua capacidade 
de trabalhar por um salário. Nessa sociedade, o trabalho industrial 
aparece como uma forma básica de produção de bens de consumo.
Com a Revolução Industrial, muitos tinham a esperança de que a vida 
seria bem melhor, uma vez que, pelo trabalho, poderiam, com dinheiro 
para realizar seus desejos, adquirir produtos e serviços. Na verdade, isso 
não passou de um sonho que virou pesadelo porque a vida não vai ser tão 
simples assim, uma vez que a exploração vai ser uma das principais carac‑
terísticas desse sistema.
a) Marx e o trabalho no capitalismo
Quem estudou a sociedade capitalista de maneira crítica foi o 
pensador alemão Karl Marx (1818‑1883). Para esse teórico, o 
trabalhador é bastante explorado no capitalismo e, muitas vezes, 
devido à necessidade de sobrevivência e às condições de vida, a 
alienação consiste na forma com que esse sistema se reproduz. A 
primeira forma de alienação do trabalhador é quando ele é sepa‑
rado do seu meio de produção. Em um segundo momento, vem a 
alienação pela falta de conhecimento da realidade de exploração 
que está vivendo.
Na verdade, para o capitalismo é importante que o trabalhador 
não pense, mas apenas realize o trabalho para o qual foi desig‑
nado. Se nos reportamos ao cinema, em uma cena do filme Tem‑
pos Modernos, de Charles Chaplin, o ato de apertar parafusos na 
linha de montagem e, posteriormente, ser engolido pelas engre‑
nagens, revela uma das faces do capitalismo e o filme demonstra 
criticamente esse quadro.
b) A mais‑valia
A partir de seus estudos sobre o trabalho no capitalismo, Marx 
chegou à conclusão de que o trabalhador não recebe justamente 
– 15 –
Trabalho nos diferentes momentos históricos
o seu salário, o qual deveria suprir suas necessidades de alime‑
nação, vestuário, lazer e bem‑estar de sua família. Este teórico 
crítico do capitalismo descobre que o salário pago ao trabalha‑
dor não corresponde ao tempo gasto no processo de produção, 
de modo que a maior parte do lucro produzido fica em poder 
do dono dos meios de produção, isto é, do capitalista. A esse 
cenário, Marx chamou de mais‑valia. Vejamos uma explicação 
do que é mais‑valia. Nelson Tomazi (2000, p. 50) assinala que
o trabalhador, ao assinar um contrato para trabalhar numa deter‑
minada empresa, está dizendo ao seu proprietário que se dispõe 
a trabalhar; por exemplo, oito horas diárias, ou quarenta horas 
semanais, por determinado salário. O capitalista passa, a partir 
daí, a ter o direito de utilizar essa força de trabalho no interior da 
fábrica. O que ocorre, na realidade, é que o trabalhador, em cinco 
ou seis horas de trabalho diárias, por exemplo, produz um valor 
que corresponde ao seu salário total, sendo o valor produzido 
nas horas restantes apropriado pelo capitalista; quer dizer, dia‑
riamente o empregado trabalha duas horas de graça para o dono 
da empresa, o que se produz nessas duas horas a mais se chama 
mais‑valia. São as horas trabalhadas e não pagas que, acumu‑
ladas e reaplicadas no processo produtivo vão fazer com que o 
capitalista enriqueça rapidamente.
As ideias apresentadas por Marx chamaram a atenção de muita 
gente, de trabalhadores a capitalistas; esses, por sua vez, fica‑
ram preocupados e até irritados com tudo o que foi demonstrado 
claramente sobre mais‑valia, o que dividiu nitidamente os que 
defendiam o capitalismo e os que se colocaram contrário a esse 
modelo. Não é por acaso que as ideias marxistas incomodam 
muita gente que vive da exploração, por isso é que vários movi‑
mentos sociais, muitas vezes, são até discriminados por defen‑
derem ideias como as de Karl Marx. Quem é alienado não per‑
cebe a exploração em que vivem os trabalhadores, de modo que 
criticam grevese movimentos sociais em geral que se colocam 
em defesa de melhores salários e de melhores condições de vida.
c) Como o trabalho se transforma em mercadoria
Parece uma coisa complicada imaginar que o trabalho se trans‑
forma em mercadoria. No capitalismo é assim que funciona, 
Trabalho e Sociabilidade
– 16 –
pois o trabalhador, para atender suas necessidades básicas 
(como alimentação, vestuário e lazer), precisa trabalhar e, em 
troca, receber um salário que possa atender seus objetivos. À 
medida em que o trabalhador se coloca à disposição do mercado 
para trabalhar em troca de um salário, ele se torna também uma 
mercadoria, ou melhor, seu trabalho passa a ser uma mercadoria, 
pois ele o vende: o trabalho é um produto de compra e venda 
no capitalismo. Isto vale para qualquer tipo de trabalho, seja no 
campo ou na cidade, na indústria, no comércio ou no setor de 
serviços em geral.
Podemos considerar uma situação como a do professor que ministra 
as suas aulas numa determinada escola: na realidade toda a relação de 
trabalho se dá a partir de um contrato estabelecido pelas leis do mercado, 
entre o trabalhador (no caso o professor) e o empregador; o produto espe‑
rado são as aulas cujo cliente ou beneficiário é o aluno. Esse material que 
se tem em mãos só se torna possível devido à relação de compra e venda 
da força de trabalho.
Pensar nessa situação parece uma coisa fora do comum ou fora de 
lógica ou que não se encaixa na realidade educacional, mas este é o modelo 
de produção e de funcionamento do capitalismo; o que muitas vezes pode 
se tornar uma relação conflituosa, e também desrespeitosa, quando o pro‑
fessor é visto pelo aluno como sendo apenas mero vendedor de sua força 
de trabalho e não como um intelectual a favor do conhecimento, do apren‑
dizado e da cidadania. Por outro lado, quando o aluno, numa instituição 
privada, coloca‑se como simples cliente, afasta toda possibilidade de uma 
educação primorosa e de qualidade, pois como o aluno está pagando uma 
mensalidade, às vezes se sente no direito de desrespeitar a metodologia do 
professor, isto quando não cria uma situação para afastar o professor de 
uma determinada disciplina simplesmente porque não gostou do seu jeito.
Devido às diversas situações, como as mostradas anteriormente no 
tocante as relações de trabalho, podemos afirmar que, principalmente nas 
sociedades em que a exploração se mostra de maneira patente, essas rela‑
ções são constituídas por conflitos. No caso do capitalismo, a situação é 
claramente conflituosa: de um lado está o capitalismo querendo atingir o 
maior lucro possível, às vezes até pela exploração, desrespeito aos direitos 
– 17 –
Trabalho nos diferentes momentos históricos
dos trabalhadores e, por outro lado, este último tenta a todo custo sair de 
uma situa ção de exploração e de humilhação, o que nem sempre conse‑
gue; desta feita, há um maior número de pessoas querendo pelo menos um 
emprego qualquer, contando que lhe garanta o mínimo de sustento. Assim 
encontramos trabalhadores se submetendo a situações deprimentes, como 
as encontradas nos trabalhos escravos nas fazendas por aí a fora.
Quando os trabalhadores tomam conhecimento e encontram meios 
e se organizam, passam a lutar por seus direitos. No campo, temos as 
organizações dos trabalhadores, como já houve no Brasil no século XX as 
chamadas Ligas Camponesas, cuja bandeira era a Reforma Agrária. Tais 
movimentos se estenderam por vários estados do Brasil, sendo seu ponto 
mais forte na Paraíba e em Pernambuco. A partir da década de 1980, temos 
os movimentos dos trabalhadores rurais sem terras‑ MST que se asseme‑
lham às ligas camponesas, em defesa da reforma agrária e por melhores 
condições de vida e de trabalho para o homem do campo.
Nas cidades, temos vários movimentos formados por várias categorias 
de trabalhadores como os da construção civil, os metalúrgicos, os profes‑
sores, os comerciários, dentre outros, os quais se organizam e reivindicam 
melhorias para os seus pares. A partir de 1980, os metalúrgicos do ABC 
paulista fizeram manifestações e greves por melhores condições de trabalho 
e de salário; nas bases desse movimento surgiram novas centrais sindicais, 
como a CUT, que fez frente à CGT, assim como o ressurgimento de partidos 
políticos, como o PTB, o PC do B, o PCB, o PSB e o surgimento de novas 
correntes partidárias, entre elas o Partido dos trabalhadores.
Em síntese, o conceito de trabalho, de forma geral, refere‑se à maneira 
como os seres humanos realizam atividades, transformando a natureza e 
desenvolvendo a cultura da sociedade. As diferentes sociedades constitu‑
ídas ao longo do tempo nos mostram como o trabalho assume caracterís‑
ticas distintas. Por isso, é muito importante saber que o desenvolvimento 
das sociedades depende da forma como os homens realizam o trabalho, 
inclusive para que não se adote uma postura preconceituosa, quando nos 
deparamos com culturas diferentes da nossa.
As concepções dos teóricos da sociologia, como Durkheim e Karl 
Marx, demonstram como o tema requer conhecimento amplo, afinal cada 
Trabalho e Sociabilidade
– 18 –
teoria é fruto de um concepção de mundo, de uma ideologia. Se você se 
ligar apenas a uma concepção, como se fosse a única, ficará limitado (a), 
de modo que, a partir das diferentes teorias, terá condições de perceber 
como se organiza o trabalho na sociedade atual, quais as transformações 
ocorridas e qual a perspectiva da sociedade daqui para frente. Enquanto 
teóricos como Durkheim fazem uma abordagem da sociedade e do tra‑
balho, fundamentando o capitalismo, Karl Marx apresenta‑se como um 
crítico do sistema capitalista. Veja, portanto, que essas diferentes análi‑
ses do trabalho nos remetem a vários questionamentos sobre as condições 
estabelecidas nas relações de produção. Pensar sobre o trabalho é pensar 
a forma de como os homens vivem, as suas contradições, suas virtudes e 
defeitos. O tipo de sociedade que temos é construído por nós e por nossos 
ancestrais. Assim vale pensar que tipo de evolução houve e o que ainda 
precisa ser melhorado no campo do trabalho.
Conclusão
Vimos, neste capítulo, o conceito de trabalho e como o trabalho se 
desenvolveu ao longo do tempo nas diversas sociedades como a primitiva, 
a Greco‑romana, a feudal e a capitalista. No que diz respeito ao capita‑
lismo, vimos que o trabalho assume uma característica bastante diferen‑
ciada da que se encontrava em outros modelos de sociedades. A partir das 
ideias de Karl Marx, pudemos perceber como o capitalismo se apresenta 
como um sistema de exploração por meio da mais‑valia.
2
Questão do 
trabalho no Brasil
Neste capítulo, vamos apresentar a realidade do trabalho no 
Brasil, com ênfase na formação da classe trabalhadora, a partir 
do processo de escravização dos indígenas, dos negros e das pés-
simas condições de vida e de trabalho dos imigrantes que aqui se 
estabelecem. Pode-se perceber como o Brasil se insere na divi-
são internacional do trabalho baseado num sistema de exploração 
da mão de obra, cuja situação continua dramática até os dias de 
hoje: enquanto isso, a elite aqui formada se configura a partir da 
concentração fundiária que obriga os trabalhadores a saírem de 
seus locais de origem em busca de melhores condições na cidade. 
Toda essa situação se consolida por meio das políticas estatais 
as quais beneficiam cada vez mais os mais ricos, enquanto os 
pobres continuam cada vez mais pobres.
A realidade das desigualdades regionais demonstra de que 
forma o Brasil construiu todo um processo de relações sociais de tra-
balho de maneira injusta, excludente, o que se apresenta de maneira 
incisiva com a informalidade, o desemprego e o êxodo rural.
Trabalho e Sociabilidade
– 20 –
2.1 A inserção do Brasil na divisão 
internacional do trabalho
A realidade do trabalho no Brasil deve ser vista a partir do processo 
de relações de produção desenvolvida ao logo do tempo, mais precisa-
mente, a partir da colonização iniciada no Século XVI pelos portugueses.Sabe-se que esse processo foi desencadeado pelas grandes navegações, os 
descobrimentos de novos mundos, em função da necessidade de desenvol-
vimento mercantilista.
O contato dos colonizadores portugueses, no Brasil, com os povos 
indígenas marca profundamente uma relação de exploração de todas as nos-
sas riquezas naturais e humanas. Conforme acentua Tomazi (2000, p. 60):
quando os portugueses descobriam as terras que depois vieram 
a se chamar Brasil, encontraram povos que havia muito tempo 
habitavam esse território. E não eram poucos. Tratava-se de mui-
tos habitantes, tanto em número quanto em diversidade cultural. 
Pode‑se afirmar, conforme as avaliações feitas por antropólogos, 
que existiam cerca de 5 milhões de indígenas distribuídos por todo 
o território que hoje faz parte do Brasil. Atualmente, estima-se que 
existiam somente 200 mil índios.
A contribuição dos antropólogos que se debruçam sobre as terras indí-
genas desse continente brasileiro é que possibilitou desmistificar muita 
coisa em relação à forma como o processo de trabalho foi desenvolvido a 
partir das etnias: branca, negra e índia.
Merecem destaque os estudos realizados por Darcy Ribeiro, cujo 
resultado contribuiu para que hoje se tenha mais respeito àquele que, na, 
verdade, deve ser considerado como o dono dessas terras: os povos indí-
genas brasileiros.
A chegada dos portugueses no Brasil acontece em função da busca frené-
tica pela riqueza fácil. Para Darcy Ribeiro (2002), as terras brasileiras, como 
várias da América Latina, há muito tempo, já possuíam riquezas invejáveis e, 
nesse sentido, as empresas colonizadoras iniciadas pelos lusitanos desenvol-
vem-se inescrupulosamente em nome da cristianização e da civilização.
O trabalho desenvolvido pelos povos indígenas brasileiros não se 
adequou à realidade forçada pelos colonizadores, uma vez que a con-
– 21 –
Questão do trabalho no Brasil
cepção de trabalho na cultura nativa não corresponde àquela do branco, 
cujo princípio está na exploração para a obtenção de riquezas. Quando 
aqui chegaram, os colonizadores tentaram escravizar os indígenas, obri-
gando-os ao trabalho pesado.
Veja que contradição, pois os nativos viviam tranquilamente, desen-
volvendo um trabalho conforme as suas necessidades, sem nenhuma pre-
ocupação com dinheiro, ou poder, conforme podemos perceber no relato 
de Nelson Tomazi (2000, p. 61):
o trabalho nas sociedades indígenas no Brasil, não obstante as diferen-
tes formas de organização social, econômica, política e cultural dos 
diversos grupos tribais, têm um traço comum, marcado pelas relações 
de parentesco, pelas obrigações ri tuais e míticas, que é a não existên-
cia de uma separação entre as atividades produtivas e outras.
O tempo de trabalho varia quando se passa de uma sociedade indí-
gena para outra, em função do tipo de atividade, formas de cooperação e 
divisão de tarefas. No entanto, não se tem notícias de trabalho extenuante 
e sem intervalos em sociedades tribais (JUNQUEIRA, 1999).
Considerando, portanto, o texto acima, percebe‑se que o conflito sem 
dúvida foi inevitável entre brancos e povos indígenas. Ao refletir sobre os 
costumes e o modo de vida dos povos indígenas antes da chegada dos colo-
nizadores, é fácil observar as raízes do preconceito que se fazem primitivas 
e, erroneamente, de selvagens, principalmente quando se fala de trabalho.
A mão de obra indígena foi usada pelos colonizadores, por meio de 
um sistema de escravidão. Se, antes, os primeiros habitantes brasileiros 
viviam naturalmente e organizavam sua vida conforme seus costumes, 
agora, passam a ser escravizados, vilipendiados, massacrados, para aten-
der aos ditames da coroa portuguesa; isto é, a cultura indígena, em nenhum 
momento, durante esse processo, foi respeitada, muito pelo contrário, os 
indígenas foram obrigados a negar a sua cultura, em função de uma ideo-
logia colonizadora, predatória e mercantilista.
2.2 O negro e as relações de trabalho
Insatisfeitos com o trabalho dos povos indígenas, uma vez que esses 
resistiram o quanto puderam e não se adaptaram à forma como foram 
Trabalho e Sociabilidade
– 22 –
forçados a trabalhar, os colonizadores foram buscar na África a mão de 
obra que pretendiam para a realização das atividades, principalmente na 
agricultura, nas fazendas de café, na plantação de cana-de-açúcar.
No que diz respeito à escravidão negra do Brasil, conforme relato de 
Tomazi (2000, p. 62):
a alternativa que restou, diante da resistência dos índios, foi pro-
curar mão de obra para o trabalho em outro local. Esse local foi o 
continente africano. Quanto a essa questão, cabe a pergunta: por 
que se desenvolveu a escravidão negra no Brasil? Muitos afirmam 
que ela aconteceu porque havia escassez de mão de obra, o que 
em parte é real, pelo menos no início da colonização portuguesa. 
Outros dizem que era muito difícil escravizar os indígenas, o que 
também só em parte é verdadeiro, uma vez que milhares e milhares 
de indígenas foram escravizados. Porém, existe também o fato de 
que eles não aceitavam a condição de escravos e reagiam com luta 
contra tal situação.
Mas adiante Tomazi (2000, p. 64) faz a seguinte leitura sobre o final 
do período escravista na sociedade brasileira:
Somente há pouco mais de cem anos é que se convive com a liber-
dade formal do trabalho. Nunca é demais lembrar, também, que o Brasil 
foi o último país do mundo a acabar com a escravidão.
Inicia-se, assim, um novo tempo, uma nova labuta, agora tendo como 
vítima os negros africanos para a realização do trabalho forçado. A resis-
tência da parte dessa gente também se fez presente, por meio de lideranças 
negras que surgiram em defesa de seu povo; os quilombos demonstram a 
luta do povo africano para se livrar do jugo estabelecido pelo colonizador. 
Quilombos, como o de Palmares, chegaram a ter cerca de 20 mil habi-
tantes, e o de Campo Grande, em Minas Gerais, com 10 mil habitantes, 
conforme Tomazi (2000, p. 63), que destaca:
a explicação mais plausível para a escravidão negra se encontra 
em um conjunto de fatores que se interligam. O primeiro deles e o 
mais determinante, é o fato de os portugueses estarem interessados 
em encontrar um meio de obter lucros nas novas terras descober-
tas. A produção de uma mercadoria que tivesse grande aceitação 
no mercado europeu, no caso o açúcar, que, para ser produzido exi-
gia muita mão de obra, se aliava ao lucrativo comércio de escravos 
e com a utilização de sua força produtiva.
– 23 –
Questão do trabalho no Brasil
Os vários livros que tratam da escravidão negra no Brasil, especial-
mente os de cunho antropológico, sociológicos e históricos, retratam a 
difícil ida do negro africano, submetido a condições desumanas, enquanto 
a elite se deleitava com toda riqueza produzida pela mão de obra escrava.
Sabemos que a história da escravidão negra no Brasil foi estabelecida 
pelo trabalho e fundamentada no preconceito e na ganância pelo enrique-
cimento por parte da elite brasileira.
2.3 O trabalho livre e a mão de obra imigrante
O fim da escravidão negra marca uma nova era, a partir do final do 
século XVIII. Agora é preciso investir na força de trabalho estrangeira. 
Embora a força de trabalho do imigrante tenha vindo às terras brasilei-
ras, em sua maior parte, após a abolição oficial da escravatura, sabe‑se 
que, anteriormente, já havia muitos estrangeiros imigrantes trabalhando 
no país, conforme Tomazi (2000, p. 65) destaca:
a primeira experiência de utilização da força de trabalho formal-
mente livre e estrangeira foi realizada pelo senador Vergueiro, 
grande fazendeiro da região Oeste de São Paulo, que em 1846, 
trouxe 364 famílias da Alemanha e da Suíça. 1000 colonos por 
ano. Isso era feito com a ajuda financeira do governo da Província 
de São Paulo, que arcava com os custos da importação e ainda sub-
vencionava as empresas agenciadoras de mão de obra estrangeira.
Além da região do oeste paulista, sabe-se que vários imigrantes se 
estabeleceram no sul do país em busca demelhores condições de vida: os 
italianos, poloneses, alemães, dentre outros formaram colônias na região 
sul do país.
A experiência da imigração no Brasil, evidentemente, apresentou, 
também, muita exploração dessa mão de obra, cujas situações de moradia, 
trabalho e saúde era problemáticas. Na opinião de Tomazi (2000, p. 65):
as famílias que aqui chegavam assinavam um contrato nos seguin-
tes termos: o fazendeiro adiantava uma quantia necessária ao trans-
porte e aos gastos iniciais de instalação e sobrevivência dos colo-
nos de sua família. Estes, por sua vez, deviam plantar e cuidar de 
um número determinado de pés de café. No final da colheita, seria 
feita uma divisão com o proprietário. Os colonos eram obrigados 
Trabalho e Sociabilidade
– 24 –
a pagar juros pelo adiantamento e não podiam sair da fazenda, 
enquanto não houvessem saudado sua dívida, o que demorava 
muito, uma vez que esses adiantamentos eram sempre maiores que 
os lucros advindos do café. E essa dívida, muitas vezes, passava 
do pai para o filho.
A situação demonstrada por Tomazi é conhecida como parceria de endi-
vidamento. Tal sistema demonstra como a exploração se faz presente, pois os 
trabalhadores não recebem um salário justo para que possam pagar as dívidas 
e viver com dignidade. Não podemos esquecer que, ainda hoje, encontra-se, 
em algumas regiões do país, esse sistema, o que caracteriza trabalho escravo.
Atualmente nos deparamos com o trabalho análogo ao escravo, cujas 
características centrais são o descumprimento da Consolidação das Leis 
do Trabalho – CLT, de modo que as fazendas autuadas, principalmente 
nas regiões Norte e Nordeste, demonstram as péssimas condições de vida 
e de trabalho. Proprietários dessa fazenda foram indiciados, devido aos 
fiscais do trabalho encontrarem situações como: alimentação precária, 
péssimas condições de higiene, locais inadequados para dormir, além de 
os trabalhadores serem aprisionados e humilhados caso tentem fugir.
Segundo a Comissão Pastoral da Terra – CPT, os trabalhadores, para 
essas situações, são recrutados por uma pessoa, que é um agente recruta-
dor de mão de obra, com promessas de trabalho, salários justos e moradia, 
mas quando chegam na fazenda, já ficam em condições de endividados, 
pois até o material como foices, enxadas, são obrigados a comprar, além 
dos alimentos, que são vendidos muito acima do preço do mercado, de 
modo que só podem sair se quitarem suas dívidas, o que se torna impos-
sível, uma vez que o salário que recebem é muito aquém do necessário, 
além de atuarem como vendedores ambulantes de todo tipo de material 
(TOMAZI, 2000, p. 67) a mão de obra utilizada incluía adultos, idosos, 
mulheres e crianças.
2.3.1 Classes sociais, estados e as 
particularidades regionais
A mão de obra imigrante contribuiu para o desenvolvimento do país, 
como vimos, à custa de muita exploração. A maior parte dessa mão de 
– 25 –
Questão do trabalho no Brasil
obra fixou‑se nas fazendas de café e na cidade. Esta, a partir do início do 
século XX, principalmente nas indústrias.
O Brasil passa a apresentar diferentes particularidades regionais, 
além de se configurar uma nítida divisão de classes sociais. A elite bra-
sileira é formada pelos fazendeiros, plantadores de café (com ênfase na 
região Sudeste), cacau, no interior da Bahia e cana-de-açúcar, com ênfase 
em Pernambuco e São Paulo.
Em decorrência do processo de formação da mão de obra, principal-
mente a partir da imigração, o Brasil se insere no contexto internacional 
do capitalismo. Assim como em vários países, o Brasil passa a apresentar 
características marcantes de desigualdade social. Theodoro (2005, p. 100) 
assegurava que
em função da abolição e da imigração europeia para certas regiões 
do país, o último quarto do século XIX vai consolidar um novo 
cenário para o mercado de trabalho no Brasil, no qual as especifi-
cidades regionais vêm aflorar de forma significativa.
A forma de desenvolvimento desencadeada com o processo de colo-
nização e com o fim da escravatura teve, como consequência, desigualda-
des regionais às quais, até hoje, se fazem presentes.
2.4 Desenvolvimento desigual e combinado 
na agricultura, indústria e serviços
Segundo Mario Theodoro (2005), tivemos a diferenciação com a 
industrialização concentrando-se na região de São Paulo e Rio de Janeiro. 
Nessas cidades, o contingente de trabalhadores, no final do século XIX, 
corresponde a 92% de estrangeiros, sobretudo de origem italiana.
Quando às regiões menos ricas, no caso do Nordeste, Theodoro 
(2005) analisa que, com a abolição da escravidão, houve o crescimento da 
população urbana, decorrente da chegada de contingentes significativos 
de ex-escravos vindos do interior da própria região.
A situação de pobreza e miséria nas regiões menos ricas é um 
fato, levando em consideração que uma grande massa de trabalhadores 
Trabalho e Sociabilidade
– 26 –
(ex-escravos) abandona as fazendas em busca de novas oportunidades e de 
melhoria das condições de vida, conforme Andrade citado por Theodoro 
(2005, p. 101-102).
Para uma maior compreensão das contradições e desigualdades regio-
nais no Brasil, é importante lembrar que um dos principais problemas do 
país, que perdura até hoje, é a concentração de terras. Este fato advém 
do processo de colonização, cujos resultados são visíveis na despropor-
cionalidades regionais, no êxodo rural, na concentração de trabalhadores 
desempregados nas cidades, na formação de favelas e nas péssimas con-
dições de vida. Conforme Darcy Ribeiro (2002, p. 1980) nos ensina que
no Brasil, vários processos [...], sobretudo o monopólio da terra 
e a monocultura, promovem a expulsão da população do campo. 
No nosso caso, as dimensões são espantosas dadas à magnitude da 
população e a quantidade imensa de gente que se vê compelida a 
transladar-se. A população urbana salta de 12, 8 milhões, em 1940, 
para 80, 5 milhões, em 1980 [...] a população rural perde substân-
cia porque passa, no mesmo período, de 28, 3 milhões para 38, 6, e 
é agora 35, 8 milhões. Reduzindo-se, em números relativos, de 68, 
7% para 32, 4% e para 24, 4% do total.
2.5 Papel do Estado
No que diz respeito às relações de trabalho no Brasil, o papel do 
Estado se dá para garantir o desenvolvimento econômico nacional, tendo 
como principal elemento a escravidão negra, num primeiro momento e, 
em segundo momento, a utilização da mão de obra estrangeira.
O mercado de trabalho nasce num ambiente de exclusão. Como asse-
vera Theodoro: o Estado criou também as condições para que se conso-
lidasse a existência de um excedente estrutural de trabalhadores, aqueles 
que são o germe do que se chama hoje mercado informal (2005, p. 105).
2.5.1 De 1930 aos nossos dias
A participação do Estado se faz presente de maneira acentuada, 
seguindo a lógica do capitalismo internacional, a partir de 1930, quando 
se inicia o processo de grandes transformações com a industrialização, 
– 27 –
Questão do trabalho no Brasil
a modernização e urbanização. Com a queda da economia cafeeira, o 
governo Getúlio Vargas investe maciçamente na Indústria, a qual passa 
a ser a base do crescimento econômico. Sobre essa questão, Theodoro 
(2005, p. 110) afirma que
os anos 30 marcam o inicio da efetiva regulamentação do trabalho 
e do mercado de trabalho. Dá-se inicio à legislação trabalhista vol-
tada para garantir o desenvolvimento econômico do país apoiada 
na moderna concepção de trabalho: é instituída a garantia de férias 
pagas, aposentadoria, assistência médica, o assalariamento, além 
do surgimento de tribunais específicos para questões trabalhistas.
Na década de 1960, em função dos desequilíbrios regionais, o Estado 
passa a se preocupar, buscando uma alternativa para tal situação, o que 
resulta na criação de grupos de estudos, como o GTDN – Grupo de Traba-
lho para o Desenvolvimento do Nordeste.
Assim, afirma Theodoro (2005, p. 110).
o governo passa a admitir a necessidade de uma política de 
desenvolvimento regional voltada para aquelaregião, criando, 
em seguida, a Superintendência do Desenvolvimento do Nor-
deste (SUDENE).
Para Theodoro (2005), entre os anos de 1930 a 1980, a economia 
brasileira teve um crescimento notável, de modo que: houve uma grande 
diversificação na indústria, ao mesmo tempo em que a força de trabalho 
aumentou de 15, 7 milhões para 45 milhões de pessoas e que o produto 
interno Bruto per capita cresceu 380%.
Já os anos 80 são considerados a década perdida, em razão da baixa 
taxa de crescimento econômico. Estes anos podem ser considerados como 
marcados por uma crise econômica prolongada, resultado, sobretudo, do 
aprofundamento de alguns problemas estruturais vivenciados pelo país 
após o primeiro choque do petróleo, em 1973, acentua Theodoro, (2005).
Com base na análise realizada por Theodoro, (2005, p. 113) sobre 
as condições de vida das populações das diferentes regiões brasileiras, 
observe o que aponta o autor:
já ao final dos anos 1980, o Brasil contava com uma rede de aglo-
merações urbanas de mais de 15 milhões de pessoas, nos quais 
estão 40% da população urbana do país. Nestas cidades se concen-
Trabalho e Sociabilidade
– 28 –
tra uma grande proporção de pobres, quadro particularmente grave 
nas metrópoles de regiões menos desenvolvidas – RMs-. As quatro 
RMs com maior concentração de pobres são, por ordem, Recife, 
com 47, 2% de pobres, Fortaleza com 40, 7%, Belém com 39, 6% 
e Salvador com 39, 0%- são aquelas que se encontram nas regiões 
Nordeste e Norte. Observa-se que a média total de pobres na RMs 
é de 27, 9% .
Sabemos que a realidade do trabalho no Brasil hoje não apresenta 
muita diferença no que diz respeito às péssimas condições de vida dos tra-
balhadores, em algumas das regiões do país, sendo que a taxa de desem-
pregado nos grandes centros urbanos como São Paulo, Rio de Janeiro e 
Recife, oscilam em relação à demanda de emprego em determinado perí-
odo, mas que nos primeiros anos desse século vem caindo, com a abertura 
de novos postos de trabalho. Mas isso não representa uma melhoria da 
qualidade de vida da população, apenas um aquecimento momentâneo, 
pois o quadro é mais complexo.
Em síntese, a realidade do trabalho no Brasil apresenta as suas contra-
dições assim como nos diversos países do globo. Desde a colonização, for-
mou-se uma estrutura econômica e social, cujos benefícios direcionaram-se 
para a classe dominante, detentora dos meios de produção. As classes sociais 
formadas no Brasil tiveram seu inicio já com a chegada dos colonizadores, 
em seguida, formou- se uma elite de fazendeiros, principalmente responsável, 
em monoculturas de café, cana-de-açúcar e cacau. Com o dinamismo provo-
cado com a inserção do Brasil no contexto internacional do trabalho, e com 
a industrialização iniciada a partir da década de 1930, o país passa por um 
novo processo, surgindo uma nova elite agroindustrial. Em consequência, as 
desigualdades sociais foram se estabelecendo cada vez mais fortemente, pois 
a elite brasileira se rearranja e se estabelece impondo suas regras e limites a 
classe trabalhadora. Por outro lado, a concentração fundiária garante o grande 
hiato entre ricos e pobres, demonstrado nas diferenças regionais, ficando o 
Norte e o Nordeste em condições de menos desenvolvimento.
Conclusão
Neste capítulo, tomamos conhecimento da realidade do trabalho no 
Brasil, com ênfase na formação da classe trabalhadora a partir do processo 
– 29 –
Questão do trabalho no Brasil
de escravização dos indígenas, dos negros e das péssimas condições de 
vida e de trabalho dos imigrantes que aqui se estabeleceram. Percebeu 
como o Brasil se insere na divisão internacional do trabalho baseado num 
sistema de exploração da mão de obra, cuja situação continua dramática 
até os dias diga de hoje; enquanto isso, a elite aqui formada se configura 
a partir da concentração fundiária que obriga os trabalhadores a saírem 
de seus locais de origem para buscar melhores condições na cidade. Toda 
essa situação se consolida por meio das políticas estatais, as quais benefi-
ciam cada vez mais os mais ricos, enquanto os pobres continuam cada vez 
mais pobres. A realidade das desigualdades regionais demonstra de que 
forma o Brasil construiu todo um processo de relações sociais de trabalho 
de maneira injusta, excludente, o que se apresenta de maneira incisiva 
com a informalidade, o desemprego e o êxodo rural.
3
Contradições 
do trabalho no 
capitalismo
Neste capítulo, apresentaremos as contradições do traba‑
lho no capitalismo, com ênfase na relação trabalho, pobreza e 
exclusão social e movimentos sociais em torno do trabalho. No 
decorrer dos estudos, perceberá como a nossa realidade, seja 
onde estivermos, está inserida no contexto capitalista. A correria 
para manter um padrão de vida estável, muitas vezes, leva‑nos a 
um processo de alienação, de modo que não percebemos como 
ocorre toda uma situação de exploração dos trabalhadores na 
sociedade geral.
Trabalho e Sociabilidade
– 32 –
3.1 A contradição do capitalismo
Sabemos que, na visão dialética marxista, a contradição do capita‑
lismo está em ter como princípio básico a busca incessante pelo lucro, o 
que vai resultar numa estagnação da economia, caso essa tendência não 
seja cuidadosamente acompanhada, com vistas a manter a sociedade em 
condições de desenvolvimento e perpetuação desse tipo de economia.
Nessa perspectiva, a sociedade capitalista é estruturada em classes 
sociais, as quais, por sua vez, são antagônicas. Enquanto os capitalistas, 
proprietários dos meios de produção, buscam a todo custo manter‑se na 
riqueza e na opulência à custa da exploração dos trabalhadores, esses, por 
sua vez, tentam, de todas as formas possíveis, primeiramente, sobreviver 
e, em seguida, sair dessa situação de humilhação e exploração, coisa que 
não acontecerá, conforme afirma Karl Marx, dentro do modelo capitalista, 
pois este utilizava todos os mecanismos e instrumentos para manter os 
trabalhadores no mínimo ocupados ou preocupados com o trabalho para 
atender suas necessidades básicas, o que faz pela Ideologia, tornando, 
assim, os trabalhadores alienados no processo de relações de produção.
No Brasil, como na maioria dos países, as contradições do capita‑
lismo se fazem evidentes quando se observa a própria configuração das 
cidades, onde se pode perceber claramente a geografia formada por seto‑
res diferenciados, de modo que se tem, de um lado, áreas nobres, com 
casas luxuosas e, por outro lado, favelas, cortiços, e um emaranhado de 
pessoas vivendo em condições subumanas.
A forma com que as pessoas podem realizar seus objetivos e atender 
suas necessidades básicas é o trabalho. Em razão disso, muito se faz para 
que se tenha um trabalho. A história tem demonstrado que a realidade do 
trabalho tem sido marcada por profundas situações de conflitos e de sofri‑
mento, enquanto alguns ficam com a melhor parte.
Para a realização do trabalho, existe o que chamamos de relações 
de produção, o que se dá, muitas vezes, de forma conturbada ou confli‑
tuosa. Já apresentado nos capítulos anteriores, em que detectamos como 
o trabalho se configura e quais as consequências de determinado tipo 
de relação de produção; o escravismo, o feudalismo e o capitalismo são 
exemplos disso.
– 33 –
Contradições do trabalho no capitalismo
Para uma maior compreensão do que isso significa, vejamos então 
um exemplo: quando a pessoa necessita atender suas necessidades básicas 
de alimento, vestimenta e lazer precisa fazer alguma coisa, o que resulta 
num trabalho; para tanto, se não há como conseguir tudo na natureza, 
da maneira mais simples possível, o indivíduo passa a buscar uma outra 
forma de atender a suas necessidades. Assim, nasceram o escravismo, o 
feudalismo e o capitalismo.
No capitalismo, como a maioria das pessoas não possui máquina, 
equipamentos e fábricas em seu poder, necessita vender a sua força de tra‑
balho, conforme determina o mercado capitalista. Desta feita, o trabalha‑
dor passa a ser uma mercadoria e, emmuitas situações, trabalha demasia‑
damente e não recebe o salário de maneira justa o que, consequentemente, 
não dá para comprar alimento suficiente, para se vestir, para morar, para 
pagar a luz, a água, etc.
A realidade brasileira se apresenta com uma desigualdade imensa, 
uma vez que os capitalistas exploram o máximo possível e não ofe‑
recem condições de vida digna para os trabalhadores. No período da 
colonização, tivemos a exploração sobre os indígenas, depois tivemos a 
escravidão negra e, em seguida, a exploração dos imigrantes, europeus, 
em sua maioria.
Tomazi (2000, p. 73) ensina que
a situação dos trabalhadores no Brasil, nesses últimos anos, por‑
tanto, tem sido uma das mais terríveis e trágicas de toda a sua histó‑
ria. Existem estudos comparativos que buscam analisar a situação 
dos trabalhadores brasileiros nos últimos tempos, em comparação 
com sua situação em épocas anteriores. A triste conclusão a que 
chegaram é que a maioria deles, hoje em dia, encontra‑se em con‑
dições piores que as dos escravos no período colonial, pois, apesar 
da exploração intensa, eles tinham abrigo, roupa, alimentação.
3.2 Trabalho, pobreza e exclusão social 
nos contextos rural e urbano
Ultimamente, o principal problema que grande parte dos trabalha‑
dores do mundo enfrenta é o desemprego, especialmente nos países sub‑
Trabalho e Sociabilidade
– 34 –
desenvolvidos. No Brasil, a situação não é das melhores. Desde as últi‑
mas décadas do século XX, aos nossos dias, o brasileiro sofre, segundo 
Tomazi (2000) com a inexistência de trabalho, o que se deve em razão 
a uma política econômica recessiva, com uma abertura para o exterior 
muito grande, que gerou diminuição de postos de trabalho ultimamente, 
nos últimos dez anos. O sociólogo polonês Zygmunt Bauman, em sua 
obra Vidas desperdiçadas (2005), retrata a situação dos pobres e exclu‑
ídos do mundo globalizado.
O autor ressalta em diversas linhas que a questão da exclusão social 
no mundo capitalista globalizado apresenta‑se cada vez mais recrudes‑
cente, uma vez que a tendência do capitalismo nos últimos tempos é bus‑
car cada vez mais formas para se manter produzindo com mais eficiência, 
porém com o menor custo possível. Desse modo, a especialização e o alto 
nível educacional tornam‑se principais fatores de empregabilidade.
Levando em consideração que o Estado capitalista se pauta exata‑
mente numa educação que se submeta ao mercado, nem sempre a maioria 
das pessoas são de fato preparadas sequer para esse mercado de maneira 
satisfatória. Ocorre, na verdade, um processo de seleção natural do tipo os 
melhores que escapam no processo. Assim, uma boa parte de pessoas fica 
no caminho, esquecida, excluída e sem ter para onde ir, a quem Bauman 
chama de refugo humano, ou seres humanos refugados.
A lógica capitalista no Brasil tem transformado as pessoas em lixos 
humanos, tanto no campo quanto na cidade. Com a concentração fundiá‑
ria, várias pessoas são forçadas a saírem do campo para as cidades. Aque‑
las que resistem no campo se submetem a trabalhos forçados, a sistema de 
trabalho que inclui variadas formas tais como: diária, parceira, escravidão 
ou semiescravidão.
O desenvolvimento de novas tecnologias e a industrialização do sis‑
tema de produção no campo tem levado a situações cada vez mais dra‑
máticas os trabalhadores rurais. Enquanto isso, o modelo agroexportador 
prioriza ainda a produção de monocultura, como soja, cana‑de‑açúcar, 
sem levar em conta que as condições de trabalho são ainda precárias para 
a maioria.
Diante do que foi exposto, é de se questionar:
– 35 –
Contradições do trabalho no capitalismo
 2 por que será que ainda hoje a questão da pobreza parece uma 
coisa sem solução?
 2 por que, enquanto avança a tecnologia, a industrialização e a glo‑
balização, não se resolvem a questão da pobreza e da exclusão?
 2 quem ganha com todo esse desequilíbrio, desigualdade entre 
ricos e pobres?
 2 o que o Estado tem feito para resolver o problema da pobreza e 
da exclusão social?
Sabemos que a situação da pobreza e da exclusão social se faz pre‑
sente tanto no campo quanto na cidade, uma vez que o campo não apre‑
senta condições satisfatórias para fixar o homem e permitir que ele traba‑
lhe e viva com dignidade, é na cidade que a maioria vai buscar a melhor 
forma para viver.
A esperança faz parte do cotidiano de muita gente que continua saindo 
do campo e se aglomerando nas grandes cidades em busca de emprego. 
Não encontrando o emprego, muitas vezes fica a vagar nas ruas, na beira 
de estradas, embaixo de pontes, quando não vai tentar conseguir algum 
barraco nas favelas que cada vez mais se avolumam.
Sem qualificação suficiente, sem ter onde morar, sem educação para 
conseguir um emprego nas indústrias dos grandes centros, grande parte 
dos trabalhadores fica jogada na rua à espera de uma solução por parte do 
Estado, o que na maioria das vezes não acontece, a não ser medidas palia‑
tivas, enquanto que a distribuição de renda fica cada vez mais desigual.
3.3 Os movimentos sociais em torno do trabalho
Existem vários tipos de movimentos sociais, os quais surgem por 
motivos diferenciados. Assim, temos movimentos sociais em torno de 
religiões, em função do preconceito contra a mulher, os negros, os indíge‑
nas, as culturas diferentes, a mentalidade de uma época. Desse modo, há 
movimentos sociais formados por uma variedade de questões ou insatisfa‑
ções, como temos, inclusive, movimentos sociais em defesa da natureza, 
em defesa de estilos de vida, por questões de gênero, pelos direitos huma‑
Trabalho e Sociabilidade
– 36 –
nos, e assim sucessivamente. Iremos priorizar a questão dos movimentos 
sociais em torno do trabalho.
Se pararmos um pouco para pensar sobre movimentos sociais, tal‑
vez não saiba ainda exatamente o que significa; no entanto, deve ter visto 
em algum momento determinadas cenas e reportagens na televisão rela‑
cionando a organização de trabalhadores, os quais, munidos de faixas e 
cartazes, panfletos ou materiais de trabalho: capacetes, luvas, macacões, 
chaves, alicates e ferramentas em geral, gritam, acenam e tentam falar 
com os chefes ou seus representantes a fim de buscar explicações ou até 
mesmo levar uma lista de reivindicações para negociar com os patrões.
Geralmente, na lista de reivindicações dos trabalhadores organizados 
em movimentos sociais estão itens como: melhores salários e melhores 
condições de trabalho, além de outros direitos trabalhistas.
Os movimentos sociais surgem devido a uma insatisfação dos traba‑
lhadores, os quais muitas vezes percebem que seus defeitos fundamentais 
não estão sendo respeitados como: direito à vida digna, ao trabalho, salá‑
rio justo, condições de moradia e saúde, férias, dentre outros.
Por outro lado, os movimentos sociais surgem num contexto social, 
econômico e cultural, motivados por mecanismos desencadeados a partir 
de vários fatores construídos ao longo do tempo. Considerando os vários 
motivos que resultam no surgimento de movimentos sociais, pode‑se afir‑
mar que situam em torno da mudança ou da conservação.
Inúmeros sociólogos conceituam movimentos sociais de diferentes 
maneiras, todavia pode‑se perceber que há algo em comum nesses dife‑
rentes conceitos. Conforme Cohen, citado por Lakatos (1990, p. 293), 
podemos perceber diferentes concepções de movimentos sociais. Veja‑
mos: “um movimento social existe quando um grupo de indivíduos está 
envolvido num esforço organizado, seja para mudar, seja para manter 
alguns elementos da sociedade mais ampla.”
Numa segunda definição, tem‑se: “movimento social é uma coletividade 
agindo com certa continuidade, a fim de promover ou resistir à mudança na 
sociedade ou grupo de que é parte.” (TURNER; KILLIAN citado por HOR‑
TON; HUNT 1980, p. 403, citado por LAKATOS 1990, p. 293).
– 37 –
Contradições do trabalho no capitalismo
Numa terceira definição, a partir de Fairchild citado por Lakatos 
(1990, p. 294), temos:
movimento social é ação ou agitação, concentrada, com algumgrau de continuidade, de um grupo que, plena ou vagamente orga‑
nizado, está unido por aspirações mais ou menos concretas, segue 
um plano traçado e se orienta para uma mudança das formas ou 
instituições da sociedade existente (ou um contra‑ataque em defesa 
dessas instituições).
De forma geral, até mesmo considerando as definições acima, pode‑
mos afirmar que os movimentos sociais são uma forma de organização a 
partir de indivíduos ou grupos os quais se unem para promover a mudança 
ou a preservação de uma situação.
Na história dos movimentos operários é relevante o fato de que em 
1862, em Londres, trabalhadores franceses e ingleses reuniam‑se para dis‑
cutir problemas comuns, como a crise de matéria‑prima na indústria têxtil, 
provocada pela guerra Civil americana. Em 1864 é formada a Associação 
Internacional dos trabalhadores (AIT), conhecida como primeira interna‑
cional. Em 1889, sob a hegemonia do pensamento marxista, era funda‑
mentada em Paris, a Segunda Internacional, dando ensejo novamente à 
tentativa de unificação e organização do movimento operário em nível 
internacional (TOMAZI, 2000).
3.4 Os movimentos sociais em torno do trabalho
Ao longo da história, têm surgido diversos movimentos sociais em 
torno do trabalho. Já na antiguidade, destaca‑se a organização dos escra‑
vos, Tomazi (2000, p. 222) assevera que
na idade Média os movimentos dos camponeses‑ servos, na Idade 
Moderna, fase da desagregação da sociedade feudal, há os movi‑
mentos de mercadores e religiosos. Na Idade Contemporânea, 
com o capitalismo já consolidado, destacam‑se os movimentos de 
operários que insurgiram contra as contradições nas fábricas e nas 
cidades, bem como os movimentos de camponeses.
Tivemos, a partir da Revolução Industrial, diversos movimentos, 
cujas ações já denunciam as péssimas condições dos trabalhadores, o que 
Trabalho e Sociabilidade
– 38 –
em nível internacional: a primeira e a segunda internacional dos trabalha‑
dores em 1862 e 1889, respectivamente.
As péssimas condições de vida dos trabalhadores nas fábricas e nas 
cidades levaram à organização dos trabalhadores a reivindicações de 
melhoria como a diminuição da jornada de trabalho, melhores salários, 
condições de saúde e de moradia, entre outras.
3.5 Os movimentos sociais na visão de 
teóricos clássicos da sociologia
Para Durkheim, Karl Marx, os movimentos sociais são vistos de dife‑
rentes formas. Na concepção de Durkheim, os movimentos sociais acon‑
tecem em função de um desequilíbrio social, e não em razão do conflito 
estabelecido entre capitalistas e trabalhadores. Assim defendem os neopo‑
sitivistas da Escola Americana de Sociologia, uma vez que estes teóricos 
consideram a existência de Leis Naturais que regem a sociedade, como 
defendia Augusto Comte. Nesse sentido, a exploração entre capitalistas 
e trabalhadores, que demonstram os interesses antagônicos, é vista como 
um processo natural.
Enquanto isso, Karl Marx, critico do Capitalismo, como vimos ante‑
riormente, defende que os conflitos entre trabalhadores e capitalistas é ine‑
xorável, devido à situação de exploração dos primeiros sobre o segundo. 
Na visão marxista, quando os trabalhadores se conscientizam de que estão 
sendo explorados e que a situação pode ser diferente, buscam mecanismos 
para mudar, o que leva aos movimentos sociais revolucionários, como 
aconteceu na Inglaterra, França, Rússia e também no Brasil.
Conforme Tomazi (2000, p. 234), “um bom caminho para compreender 
os movimentos é analisá‑los a partir do projeto que apresentam, da ideologia 
que os anima e da organização que estabelecem para atingir seus objetivos”.
3.6 Os movimentos sociais no Brasil
A história do Brasil, no que diz respeito aos movimentos sociais, não 
é muito diferente da dos outros países. Desde a colonização, iniciada no 
– 39 –
Contradições do trabalho no capitalismo
ano de 1500, que já tivemos os movimentos indígenas, movimentos dos 
negros escravizados e dos imigrantes.
Alguns movimentos merecem destaques tais como: na época do Impé‑
rio, as lutas pela independência, a luta pela abolição. Outros movimentos 
sociais destacados são: a Guerra dos Mascates (1710‑1711), em Pernambuco, 
a Cabanagem (1835‑1837), no Pará, a Balaiada (1938‑1841), no Maranhão, a 
revolução Praieira (1848‑1849), em Pernambuco, o movimento Quebra‑Qui‑
los (1874), no interior do Nordeste (Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do 
Norte e Ceará). A Guerra de Canudos (1893‑1897), Contestado (1912‑1916).
Destacamos os movimentos como o de Canudos, Contestado, as 
Ligas Camponesas iniciadas no nordeste e se estendendo por todo o Bra‑
sil, a partir década de 1960. Surgidas em 1954, em Pernambuco, as Ligas 
se espalharam para outros estados, vindo a ser denominadas, em 1963, 
ligas Camponesas do Brasil, cuja bandeira de luta era: “Reforma Agrária 
na Lei ou na marra” (TOMAZI, 2000).
Atualmente, o Movimento dos Trabalhadores Sem‑Terras carrega a 
bandeira da Reforma Agrária e do Socialismo. Conforme afirma Tomazi 
(2000), o Movimento dos sem terras – MST surgiu em 1979, em Santa Cata‑
rina, a partir da tomada de consciência de trabalhadores rurais sem terras, 
que, fortemente influenciados pela Igreja Católica, por meio da Pastoral 
Operária, decidiu organizar‑se em torno da bandeira da reforma agrária.
As principais ações do Movimento dos sem terras são: ocupações de 
terras, de praças, prédios públicos, marchas, para forçar as negociações 
em torno de melhores condições de vida para os trabalhadores do campo, 
principalmente para a Reforma Agrária.
3.7 Os principais movimentos sociais 
a partir das fábricas no Brasil
O movimento operário no Brasil começa com o processo de indus‑
trialização iniciada na década de 1930, no eixo Rio de Janeiro e São Paulo. 
Os primeiros movimentos são caracterizados por ideias anarquistas e 
socialistas, Tomazi (2000, p. 254‑255) afirma que
Trabalho e Sociabilidade
– 40 –
a mudança do eixo econômico, de agrário para Industrial, com 
o Estado na dianteira implicou a institucionalização das relações 
entre capital e trabalho, com a definição, por exemplo, da jornada 
de oito horas diárias, do salário mínimo, da organização sindical, 
etc, questão que passaria ao controle quase total do Ministério do 
Trabalho, Indústria e Comércio [...]. Somente a muitas partir de 
1945‑46, o movimento operário no Brasil cresce num clima de 
relativa liberdade, proporcionando pela constituição liberal, que 
vigorou a partir de 1964.
A partir do Golpe Civil‑Militar instituído em 1964, houve muitas per‑
seguições aos trabalhadores, com assassinatos, torturas e desaparecimento, 
tanto no campo, quanto na cidade, o que levou os movimentos sociais de 
esquerda a atuarem clandestinamente. A partir do final da década de 1970, 
surge o movimento sindical no chamado ABC paulista, cujas lideranças 
tinham o apoio da Igreja Católica, em parte, destacando‑se, inclusive, as 
figuras de Vicentinho e Luis Inácio Lula da Silva, entre outros. Nesse con‑
texto, surgiram as centrais sindicais de esquerda, com bases socialistas, 
com a Central Única dos Trabalhadores – CUT, as Comunidades Eclesiais 
de Bases, o Movimento dos Sem‑Terras e o Partido dos Trabalhadores.
Não podemos esquecer, ao finalizar o capítulo, que abordar o correto 
entendimento sobre o cenário do trabalhado, passa pelo conhecimento das 
contradições impostas pela exploração deste pelos detentores dos meios 
de produção; na resistência a esta postura surgem os movimentos sociais.
Conclusão
Neste capítulo, apresentamos as contradições do trabalho no capita‑
lismo, destacando‑se a relação entre trabalho, pobreza e exclusão social 
nos contextos rural e urbano e os movimentos sociais em torno do trabalho. 
Assim como conheceu os principais aspectos das contradições estabeleci‑
das na relação entre trabalhadores e capitalistas. Com relação aos movi‑
mentos sociais, percebemos que são importantes instrumentos de luta para 
a melhoria das condições de vida, de modo que eles surgem como forma 
concreta de denunciar as injustiçase exploração. Porém, sabe‑se que os 
movimentos podem ser conservadores ou revolucionários.
4
Novas exigências 
ao trabalho na 
contemporaneidade
O trabalho autônomo, voluntário, estagiário e mesmo o 
informal são novas maneiras de inserção no mercado de traba‑
lho, que serão apresentadas neste capítulo. O panorama histórico, 
social e econômico apresenta ainda o acréscimo de organizações 
empresariais voltadas à prestação de serviços e à forma coopera‑
tiva de atuação. Neste cenário e neste novo século, novas pers‑
pectivas de desenvolvimento das sociedades se constituem, con‑
siderando a nova ordem política e econômica e os seus reflexos 
socioambientais sobre o modelo de trabalho.
Trabalho e Sociabilidade
– 42 –
4.1 O terceiro setor do trabalho
Sabemos que a evolução tecnológica que aconteceu no campo e na 
cidade, envolvendo as mais diversas profissões, mudou a relação das exi‑
gências para o desempenho do trabalhador.
As novas tecnologias fazem com que os empresários necessitem 
de trabalhadores mais ágeis, que tenham bom senso e condições de 
mudarem sua atuação para melhorar a produtividade com a adoção de 
novos métodos, que por sua vez passam a ser ditados pela criação des‑
sas novas tecnologias.
Sob este prisma, é certo o entendimento de que existe um esforço 
para o aumento da tecnificação dos processos industriais, para con‑
duzir as empresas a maior competitividade, isso torna o ambiente de 
trabalho mais complexo e, para tanto, habilidades outrora sem impor‑
tância se tornam fundamentais, como a facilidade de gravar sinais, o 
conhecimento de informática e a facilidade de relacionamento com 
outras pessoas. Por extensão, algumas profissões e postos de trabalho, 
em que muito pouco era exigido, passam exigir mais. O exemplo clás‑
sico é o trabalho do coletor de lixo urbano, ocupação para a qual, até 
pouco tempo, pouca qualificação se exigia, hoje a conclusão do ensino 
fundamental, conhecimentos de trânsito e de relacionamento humano 
e até de operação de máquinas hidráulicas (compactação do lixo), são 
exigências comuns.
Dentro de cada área, as profissões são chamadas à tecnificação de 
maneira mais ou menos intensa. O trabalho da secretária, por exemplo, 
mudou muito na última década, também devido à evolução tecnológica. 
Nos anos oitenta, era necessário curso de datilografia e conhecimento 
sobre a operação de um aparelho chamado telex, hoje as escolas de datilo‑
grafia (em sua maioria) foram fechadas e o telex é considerado obsoleto. 
Para se candidatar ao trabalho de secretaria ou auxiliar administrativo o 
trabalhador deve ter conhecimentos em informática e em internet, conhe‑
cer o aparelho de fac‑símile e possuir boa desenvoltura no relacionamento 
humano, inclusive pelo telefone.
Na mesma proporção que temos essa evolução tecnológica, temos a 
precarização do trabalho.
– 43 –
Novas exigências ao trabalho na contemporaneidade
Nesse sentido, o mundo do trabalho sempre passou por mudanças de 
acordo com os cenários políticos, econômicas e sociais que se delinea‑
vam no decorrer da história, dentre elas é importante destacar uma grande 
mudança sentida a partir do início da década de 1980, em que se fortale‑
cem os trabalhos de associações sem fins lucrativos.
Historicamente, o cidadão em condições de trabalhar buscava 
emprego junto às empresas que visavam ao lucro, ou junto ao governo 
(das prefeituras, Estados ou União), mas o cenário passou a contar com 
um terceiro setor de trabalho, que não se configura sob a ótica do lucro 
nem sob a caracterização do Estado.
Dentro deste tema, de maneira breve e sucinta, será abordado o sur‑
gimento do terceiro setor, um setor que se inicia no voluntariado, mas que 
vem crescendo muito no atual cenário de oferta de empregos.
Com a falência do Estado em sua proposta de promoção do bem‑estar 
coletivo (Welfare State), a sociedade passou a sentir, nas décadas de 1960 
e 1970, a ineficácia no cumprimento de metas de atendimento público uni‑
versalista, a ineficiência na gestão pública e a ausência em alguns campos 
onde o Estado deveria estar presente.
Ao final da década de 1970 e início da de 1980, a sociedade pre‑
senciou um Estado de magnitude gigantesca, mas lento e burocrático, 
fazendo com que aparecessem, diversas áreas desprovidas de atendimento 
adequado, como a saúde, a educação e a assistência social.
O atendimento a algumas demandas sociais começa gradativamente, 
com a diminuição da presença do Estado, a ser transferido à sociedade 
civil organizada, que passa a se agrupar em associações, na busca de supri‑
mir o amparo antes dado pelo Estado, são as chamadas alternativas comu‑
nitárias de atendimento às demandas (MORAES, 2005).
Neste novo cenário, em que a máquina estatal se retrai e suas estru‑
turas de Estado‑nação, forte e protetor, se rompem, surgem dois atores de 
significativa importância: as Organizações Não Governamentais (ONG), 
sem fins lucrativos, que se organizam a partir de movimentos populares e 
de grupos organizados da sociedade civil, e as empresas socialmente res‑
ponsáveis, que investem recursos privados no atendimento às demandas 
sociais públicas.
Trabalho e Sociabilidade
– 44 –
Diante da insuficiência do Estado no atendimento às demandas 
sociais, sempre crescentes e cada vez mais diversificadas, passa‑se da cen‑
tralização do poder de planejamento e execução à limitação do seu papel 
de planejamento nas políticas públicas e à descentralização da administra‑
ção de execução de ações e projetos, o terceiro setor amplia sua atuação.
Torna‑se responsabilidade do Estado criar condições para que inicia‑
tivas públicas e privadas possam atender, de maneira satisfatória e susten‑
tável, às necessidades sociais. Esta uma tendência mundial que, também 
no Brasil, é seguida na busca de caminhos alternativos para o desenvol‑
vimento de políticas sociais consonantes com a realidade que se impõe.
A presença de organizações da sociedade civil e de empresas suprindo 
parte das necessidades coletivas ou públicas não substitui a função maior 
do Estado, mas a complementam, melhorando qualitativamente os servi‑
ços prestados às comunidades. Neste contexto, destacam‑se os aspectos 
próprios de instituições privadas, como o controle financeiro e busca por 
melhores preços de maneira desburocratizada, a competitividade e a pos‑
sibilidade de rápidas alterações no quadro funcional, mas principalmente, 
a visão estratégica própria do mercado.
Os investimentos privados trazem raízes de sua estrutura organiza‑
cional racional, mais voltada para um mundo globalizado e em constante 
mudança, possibilitando ao Estado, agentes financiadores e sociedade 
civil, como um todo, cobrança quanto a sua legalidade, transparência, eco‑
nomicidade, contabilidade e, principalmente, quanto à qualidade com que 
desenvolvem as ações sociais.
Com o início dos investimentos privados no setor social, surgem 
(além das associações) as fundações, os institutos e outras organizações 
não governamentais, sem fins lucrativos, que passam a atuar no desenvol‑
vimento de ações e projetos nas mais diferentes áreas (social, educacio‑
nal, ambiental, defesa de direitos, microcrédito, promoção do desenvolvi‑
mento, etc. ).
O terceiro setor constitui‑se em um conjunto de organizações pri‑
vadas, sem fins lucrativos, voltadas à produção de bens e à prestação de 
serviços coletivos e públicos, ou, como define Salamon (1993) citado por 
Fernandes, (1994, p. 19):
– 45 –
Novas exigências ao trabalho na contemporaneidade
Embora a terminologia utilizada e os propósitos específicos a 
serem perseguidos variem de lugar para lugar, a realidade social 
subjacente é bem similar: uma virtual revolução associativa está 
em curso no mundo, a qual faz emergir um expressivo “terceiro 
setor” global, que é composto de (a) organizações estruturadas; 
(b) localizadas fora do aparato formal do Estado (c) que não 
são destinadas a distribuir lucros aferidos com suas atividades 
entre os seus diretores ou entre um conjunto de acionistas; (d)

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