Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Geotecnologias aplicadas na identificação de áreas susceptíveis a ocorrência de movimentação de massa as margens de traçados rodoviários objeto de análise pericial Larissa Nantes Pereira – larissanp.eng@gmail.com.br MBA em Perícia, Auditorias e Gestão Ambiental Instituto de Pós-Graduação - IPOG Campo Grande, MS - 04 de outubro de 2019 Resumo Devido a observação de consideravel número de áreas com dregadação ambiental provenientes da movimentação de massa, em solos proximos ao traçados de estradas não pavimentadas busca-se ferramentas e metodologias que auxiliem e otimizem o tempo e qualidade das atividade desenvolvidas pelo profissional da área de perícial ambiental, tendo em vista o valor decisivo que os laudos técnico possuem em grande parte das demandas judiciais. Infere-se ainda que ponto tão importante quanto a agilidade nos trabalhos, refere-se a necessidade multidisciplinar envolvida nos trabalhos períciais ambientais, atraves da utilização de software e ferramentas geotecnologicas. Palavras-chave: Traçado., Estradas. Pericia Ambiental. Geotecnologia. Multidisciplinar. 1. Introdução Segundo dados de 2017 do site do Ministério do Transporte, Portos e Aviação o Brasil conta atualmente com 1,7 milhões de quilômetros de estradas, sendo que cerca de 12,9% dessas são pavimentadas e 79,9% não são pavimentadas. Como o modal rodoviário é o principal escoador de cargas do país, entende-se que ele é de extrema importância econômica nacional, e por isso, a localização mais adequada dos traçados das estradas que compõem referido modal, também, diante disso entende-se que os traçados devem ser planejados de maneira que tragam segurança para quem utilizará a estrada, seja economicamente viável e respeitem as condicionantes ambientais do ambiente na qual a estrada será implantada. Como afirmado por Penido et al (1998) os principais fatores a serem investigados no planejamento de traçados de rodovias são os fisiográficos, ambientais, sociais, institucionais, políticos e funcionais da região, e sugere que eles podem ser obtidos através do levantamento de campo e também através de sistemas sensoriais, com a utilização por exemplo da cartografia temática obtidas através de Sistemas de Informações Geográficas (SIG). Entretanto, é célebre que a maioria dos traçados rodoviários implantadas são da década de 60 e 70, época que a implantação dessas, levavam em consideração apenas aspectos econômicos. Dessa maneira nesse estudo busca-se identificar áreas suscetíveis a ocorrência de processos erosivos e movimento de massas às margens da BR-163 no Estado de Mato Grosso do Sul, nos pontos de sua duplicação, através da aplicação de um modelo matemático com a utilização de ferramentas geotecnológicas, e 2 consequentemente, áreas do projeto que podem necessitar de manutenção e/ou adequação 2. Aspectos importantes O artigo 60, da Lei Federal nº 9.503, de 23 de setembro de 1997, que institui o Código de Trânsito Brasileiro, define que: As vias abertas à circulação, de acordo com sua utilização, classificam-se em: I – vias urbanas: via de trânsito rápido; via arterial; via coletora; II – vias rurais: rodovias; estradas. Ainda em relação a Lei nº 9.503, em seu anexo I, tem-se os conceitos e definições para efeitos do referido Código, no qual adotou-se a definição para estrada com sendo uma “via rural não pavimentada” e para rodovia como sendo uma “via rural pavimentada”, logo, toda rodovia inicialmente trata-se de uma estrada. De maneira que, considera-se a investigação da área a ser implantada a estrada como a primeira ação a ser executada para iniciar a definição de localização do seu traçado preliminar, que resultara no projeto geométrico dela. Lee (2013) define o traçado de uma rodovia como a linha espacial que representa o projeto geométrico da rodovia. Para Pimenta e Oliveira (2004, p. 01), “o desafio na escolha do traçado de uma estrada começa na conveniência da ligação entre dois locais”, pois afirmam que “raramente a linha reta, ou caminho mais curto que liga esses locais é o eixo de ligação do traçado, em virtude de uma série de condicionamentos existentes na área intermediária entre os locais a serem ligados”. Pereira et al (2017), esclarece que fazem parte do projeto geométrico de uma estrada, visando a sua viabilidade técnica, econômica e social, um conjunto de diversos fatores que se integram a todo os serviços de engenharia a serem executados na implantação dela. Lee (2013) afirma também que nos estudos dos traçados são estabelecidos, os pontos inicial e final do traçado, bem como pontos a serem atingidos obrigatoriamente ao longo dele, sendo eles: obrigatoriamente atingidos (ou evitados) pelo traçado, por razões de ordem social, econômica ou estratégia, tais como a existência de cidades, vilas, povoados, de áreas de reservas, de instalações industriais, militares, e outras a serem atendidas (ou não) pela rodovia; Pontos Obrigados de Passagem – que são aqueles em que a obrigatoriedade de serem atingidos (ou evitados) pelo traçado da rodovia é devida a razões de ordem técnica, face à ocorrência de condições topográficas, geotécnicas, hidrológicas e outras que possam determinar a passagem da rodovia, tais como locais mais (ou menos) convenientes para as travessias de rios, acidentes geográficos e locais de ocorrência cia de materiais. (LEE, 2003, p. 26). No Brasil, o órgão responsável por executar funções relativas à construção, manutenção e operação da infraestrutura dos segmentos do sistema federal de viação, dos modais rodoviários, ferroviários e aquaviários, é o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes – DNIT (DNIT, 2017), que anteriormente a 2001, era denominado de Departamento Nacional de Estradas de Rodagem - DNER. 3 São dos referidos órgãos as principais publicações relacionadas ao tema, em especial a de nº 726 do DNIT de 2006, intitulada de Diretrizes Básicas para Elaboração de Estudos e Projetos Rodoviários – Escopo Básico/Instruções de Serviços, que apresenta a seguinte definição: Os Escopos Básicos são documentos esquemáticos que estabelecem as diretrizes básicas para o desenvolvimento dos diversos tipos de estudos e projetos de engenharia, indicando procedimentos referentes às sucessivas etapas técnicas para ser cumpridas, e compreendendo definição, fases, elaboração e apresentação de resultados. Em referida publicação cada escopo básico reporta-se a um número dado de Instrução de Serviço, onde na instrução de serviço 207 é apresentado instruções para os estudos preliminares de engenharia para rodovias (estudos de traçado), que apresenta como aspectos a serem considerados: • Geologia e geotecnologia; • Terraplanagem; • Hidrologia e drenagem; • Obras de arte especiais; • Pavimentação; • Estudos ambientais; • Outros itens; • Plano funcional definitivo; • Estimativa preliminar de custos. Pimenta e Oliveira (2004), informam que para a construção de uma estrada com as melhores características possíveis, tanto na questão técnica como financeira, na escolha do local ideal por onde ela passará devem ser considerados todos os fatores que podem influenciar em seu custo e projetos, definindo como importantes os fatores descritos a seguir: • Topografia; • Condições geológicas e geotécnicas; • Hidrologia; • Desapropriação; • Interferência no ecossistema. Já Lee (2013) explica que na etapa de reconhecimento estuda-se a configuração da região entre os pontos que se quer fazer uma estrada de ligação, registrando dados planimétricos, altímetricos, acidentes geográficos, e também a características descritas a seguir: • Classificação orográfica da região (plana, ondulada, montanhosa); • Uso do solo, incluindo ocupações urbanas, instalações, áreas de reservas; • Acidentes geográficos, rios, lagoas, queda s d’água; • Tipos de solos, ocorrências de materiais, cobertura vegetal. Para obtenção preliminar de informaçõesdos fatores citados, Lopes (2015) afirma que grande parte pode ser obtida a partir do mapeamento sistemático brasileiro, que é gerenciado e mantido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e que foram, em sua maioria, confeccionadas nas décadas de 1960, 1970 e 1980 e possuem escalas que variam de 1/25.000 a 1/1.000.000. Já Lee (2013, p. 26 e 27) considera como importantes, de forma não exaustiva, no processo de reconhecimento os itens descritos a seguir: a) exame de mapas e cartas das várias regiões do país a contar com mapas e cartas resultantes de levantamentos sistemáticos do território nacional, a exemplo do Estado de Santa Catarina, cujo território está integralmente coberto com cartas nas escalas 1 : 50.000 e/ou 1 : 100.000; essas cartas contêm informações como a localização de vilas, povoados, 4 cidades, acidentes geográficos, rios e cursos d’água, estradas e rodovias, incluindo os respectivos topônimos, além de limites políticos e curvas de nível, com precisão cartográfica, constituindo-se em excelentes recursos para o assinalamento de itinerários que interessam ao lançamento de possíveis traçados; b) inspeção in loco: quase constitui, a rigor, no processo mais eficiente para que o Engenheiro projetista possa conhecer de perto as condições das áreas ao longo da região a ser atingida pelo traçado, visando noção qualitativa a respeito do uso do solo, das características de ocupação no entorno, dos tipos e condições dos solos, das ocorrências de materiais aproveitáveis, dos potenciais problemas de ordem ambiental, e outras informações que podem auxiliar no balizamento da diretriz para o projeto; c) sobrevôo da região: em muitos casso, principalmente quando se tratar de projeto em áreas não ocupadas e de difícil acesso terrestre ou aquaviário, é bastante útil sobrevoar a região, com equipamento adequado (aeronave de baixa velocidade, ultraleve ou helicóptero, por exemplo), oferecendo ao projetista uma visão perspectiva e abrangente das áreas, auxiliando-o quanto à orientação geral a ser dada à diretriz; d) exame de fotografais aéreas, de imagens de radar e de imagens obtidas por satélites: quando disponíveis, fotografias aéreas tomadas em escalas adequadas e com observância de requisitos técnicos apropriados podem ser bastante úteis para a visualização da configuração geral do terreno, do uso do solo, da cobertura vegetal e de outros detalhes, principalmente quando se dispõem de pares aerofotográficos que permitam visão estereoscópica; as cartas imagens de radar têm a vantagem de oferecer a grafia e disposição dos elementos topológicos apostos sobre uma imagem do terreno, com elaboração independente de nebulosidade; tanto as fotografias aéreas como as cartas imagens de radar geralmente são aplicáveis ao Reconhecimento quando previamente obtidas para outras finalidades, já que sua obtenção específica para o Reconhecimento poderia resultar em custos exorbitantes; imagens obtidas por satélites têm as vantagens de serem captadas (e armazenadas em meio magnético) de forma sistemática, e com diversos comprimentos de onda (desde a radiação visível até a infravermelha), tendo como desvantagem, até o presente, a disponibilização comercialmente viável de imagens somente em escalas ainda muito grandes (com resoluções muito pequenas) para fins de Reconhecimento; no entanto, é um recurso cuja utilização tende a se expandir na medida em que evolui a tecnologia de captação e de armazenamento, e em que se disponibilizam comercialmente as imagens a custos cada vez menores. Entretanto, Lopes (2015) afirma que essas fontes de dados, dependendo da área de estudo não são suficientes, em função da escala e da data de execução, por isso, sugere estudos de diretrizes de traçado utilizando informações secundárias mais atualizadas, com o objetivo de se obter informações mais precisas da área em estudo. Um exemplo é dado por Lee (2013), quando pontua que com a utilização de computadores e softwares de projetos elabora-se projetos geométricos que representam o terreno em meio digital, são os chamados modelos digitais do terreno. Portanto, atualmente é sugerido por diversos autores o uso das geotecnologias como ferramenta de auxilio nos projetos de diversas áreas da engenharia. 3. Geotecnologias Geotecnologia é conceituada por Silva (2010) como a técnica que estuda a superfície da terra ajustando as informações obtidas com as questões físicas, 5 químicas e biológicas do meio. Já Rosa (2005) apresenta a geotecnologia como um conjunto de tecnologias, de coleta, processamento, análise e oferta de informações, executadas por programas, que se transforma em uma ferramenta de investigação preliminar. As geotecnologias podem ser entendidas como as novas tecnologias ligadas às geociências e correlatas, as quais trazem avanços significativos no desenvolvimento de pesquisas, em ações de planejamento, em processos de gestão, manejo e em tantos outros aspectos relacionados à estrutura do espaço geográfico. (FITZ, 2008, p. 11) Rosa (2005) apresenta como ferramentas da geotecnologia os sistemas de informação geográfica, a cartografia digital, o sensoriamento remoto e a topografia. • Sistemas de informação geográfica Silva (2010), conceitua Sistema de Informações Geográficas (SIGs) como a tecnologia que consegue realizar análises de dados espaciais e apresenta resultados que podem auxiliar nas escolhas de decisões para a ocupação e utilização do meio físico terrestre. Os dados utilizados em um SIG podem ser originários de diversas fontes, classificadas genericamente em primárias (levantamento direto no campo ou produtos obtidos por sensores remotos) e secundárias (mapas e estatísticas), que são derivadas das fontes primárias. (ROSA, 2005, p. 82) Xavier (2002), acrescenta que o SIG é muitas vezes associado erroneamente a um programa, quando na verdade deveria ser associado a uma tecnologia, composta de cinco componentes básicos, definidos como: programas, computadores, dados, profissionais e métodos. Para Fitz (2008), SIG pode ser definido como um conjunto de programas computacionais que abastecidos de dados, obtidos a partir de equipamentos e pessoas, podem armazenar, recuperar, manipular, visualizar e analisar dados espacialmente referenciados a um sistema de coordenada conhecidos. Ainda segundo Xavier (2002) a representação do SIG acontece de duas formas, sendo elas vetorial, em que as características são representadas por pontos, que podem ser interligados formando retas, e, consequentemente uma representação gráfica, no qual os referidos pontos possuem um par de números codificados que dão suas coordenadas x e y nos sistemas Latitude/Longitude, Universal Transversal de Mercator (UTM). Já na representação matricial (raster), as características e atributos são guardados em arquivos de dados unificados. As análises espaciais realizadas através de mapas temáticos diversos, em conjunto com técnicas de sobreposição é uma aplicação prática dos SIGs vinculados ao geoprocessamento, no qual por exemplo um mapa de tema específico é sobreposto a outro de tema diferente, resultando em produto derivado desta sobreposição (Fitz, 2008). • Cartografia Segundo Câmara (1996) a cartografia é composta por mapas criados a partir da projeção de pontos do globo terrestre em uma superfície plana, resultado em representações aproximadas da superfície terrestre. Como apresentado por Fitz (2008, p. 46), “a forma própria da Terra conduz a algumas adaptações para sua representação”, sendo destacado por ele a 6 classificação da projeção cartográfica quanto ao tipo de superfície de projeção, apresentando-as da seguinte forma: • Planas: quando a superfície de projeção é um plano; • Cônica: quando a superfície de projeção é um cone; • Cilíndricas: quando a superfície de projeção é um cilindro; e • Poliédricas: quando se utilizam vários planos de projeção que, reunidos, formamum poliedro. • Sensoriamento Remoto Filho et al (2016, p. 16) conceitua sensoriamento remoto como “a obtenção de dados ou imagem de um objeto ou fenômeno que está distante do sensor de amostragem”. Mais detalhadamente pode ser considerado como a técnica que estuda os fenômenos que ocorrem na superfície terrestres, através de informações obtidas por equipamentos com sensores de processamento e transmissão de dados, colocados em diferentes plataformas, sendo esses dados os registros e analises das interações entre radiação e eletromagnetismo dos sensores com as substancias que compõem a superfície terrestre (Novo, 2010). O conceito faz uso do termo “sensores”, os quais dentro do contexto apresentado, podem ser entendidos como dispositivos capazes de captar a energia refletida ou emitida por uma superfície qualquer e registrá-la na forma de dados digitais diversos (imagens, gráficos, dados numéricos etc.) Estes, por sua vez, são passíveis de serem armazenados, manipulados e analisados por meio de softwares específicos. (FITZ, 2008, p. 97) Assim, como comentado por Penido (1998) as técnicas do Sensoriamento Remoto são recomendadas para projetos de engenharia civil, por fornecerem informações atualizadas dos principais recursos físicos, especialmente, os aspectos como topografia, vegetação, recursos hídricos, solos e etc. Fitz (2008) explica que os produtos obtidos de imagens através de sensoriamento remoto, os mais importantes são os verticais, considerando duas situações especificas, a primeira quando o sensor está instalado em uma aeronave situada em altitude preconcebida, e a segunda quando o sensor está em um satélite localizado na órbita terrestre. A interpretação de imagens geradas por sensoriamento remoto obedece aos princípios básicos da interpretação aerofotogramétrica. As diferenciações entre a interpretação de fotos aéreas, imagens de radar e imagens de satélite encontram-se basicamente na análise da resolução espectral e da escala de estudo (resolução espacial). (FITZ, 2008, p. 118) • Imagem de Satélite As imagens de satélite são consideradas um tipo de dado obtido com o sensoriamento remoto, pois como afirmado por Filho et al (2016, p. 23) “as imagens de satélite representam amostras da energia eletromagnética após sua interação com a atmosfera e com a superfície terrestre”. De acordo com Novo (2010) as técnicas de processamento de imagens de satélite podem ser divididas em três, sendo eles: • Técnicas de pré-processamento (preparação de imagens); • Técnicas de realce; • Técnicas de classificação. 7 De acordo com Gonzalez e Woods (2010) as imagens de satélites podem ser processadas por um computador digital, no qual observa-se que uma imagem digital é composta por um número limitado de elementos, cada um com valor e localização específico, chamados de pixel. As imagens de satélite possuem uma gama significativa de recursos em termos espectrais, e por isso, através delas é possível uma análise minuciosa das características físicas do meio natural (Fitz, 2008). Fitz (2008, p. 123), continua explicando que “as imagens de um alvo, captadas em diferentes faixas do espectro eletromagnético, apresentam refletâncias específicas, de acordo com o material encontrado”. Filho et al (2016) acrescenta que o chamado pixel é o nome dado as células que estão dispostas lado a lado e formam as imagens de satélite, sendo que no formato digital cada pixel possui um valor numérico, que é o valor da resposta espectral lida pelo sensor naquele ponto. Soares (2000) explica que as técnicas de realce são realizadas para aprimorar a aparência da imagem e assim melhorar sua interpretação, e a classificação associa a cada pixel um tema, transformando o dado numérico em dado temático. Por isso, entende-se que a utilização de imagem de satélite no estudo de traçado de uma rodovia, pode contribuir para a análise das características física do terreno, onde diferentes características físicas do terreno resultam em diferentes valores numéricos do pixel. • Topografia Veiga et al (2012) explicam que a topografia tem como objetivo principal levantar, a partir da execução de medições de ângulos, distâncias e desníveis, a representação da superfície terrestre com uma escala escolhida. Tradicionalmente o levantamento topográfico pode ser divido em duas partes: o levantamento planimétrico, onde se procura determinar a posição planimétrica dos pontos (coordenadas X e Y) e o levantamento altímetricos, onde o objetivo é determinar a cota ou altitude de um ponto (coordenada Z). A realização simultânea dos dois levantamentos dá origem ao chamado levantamento planialtimétrico (VEIGA ET AL, 2012, p. 03). 4. Geotecnologia aplicada à perícia ambiental O artigo 3º, da Lei Federal nº 6.938 de 31 de agosto de 1981, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismo de formulação e aplicação, estabelece como Meio Ambiente o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas. Que, conforme explicado por Santos (2014), em Tocchetto (2014), “a qualidade do meio ambiente é um bem que o direito reconhece, protege e o qualifica como pratimonio ambiental”. Guerra e Cunha (1998) afirmam que com o crescimento da concentração populacional somados ao modelo atual de desenvolvimento econômico, que quase sempre compromete o equilíbrio ecológico, resultam em conflitos e demandas judiciais cada vez mais complexas. E, sobre a perícia ambiental afirmam que: Trata-se de uma atividade profissional de relevante interesse social, de natureza complexa e ainda em fase inicial de estruturação, a exigir uma prática multidisciplinar e a atuação de profissionais altamente qualificados 8 para o trato das questões ambientais, além de estudos e pesquisas que fundamentem o desenvolvimento de seus aspectos jurídicos, teóricos, técnicos e metodológicos. (GUERRA E CUNHA, 1998, p. 173) Dessa maneira, atenta-se para o estabelecido no artigo 1º, da resolução CONAMA nº 001, de 23 de janeiro de 1986, que apresenta a definição legal para impacto ambiental como: Qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam a saúde, a segurança e o bem-estar da população; as atividades sociais e econômicas; a biota e a qualidade dos recursos ambientais. Santos (2014), em Tocchetto (2014), acrescenta ainda que se há a possibilidade de ter ocorrido a degradação ao meio ambiente, torna-se necessária os peritos atuarem e analisarem as causas do sinistro, de maneira que se possa oferecer um parecer técnico ao Poder Público, e assim os infratores serem responsabilizados e se buscar meios de minimizar o prejuizo ocorrido. As vantagens da utilização de ferramentas das geotecnologias são inúmeras do ponto de vista técnico, pois com elas é possível a obtenção de diversas informações e dados com considerável redução de tempo e dinheiro. Com o auxílio de tecnologias de sensoriamento remoto, de sistemas de informações geográficas (SIG) e posicionamento via GNSS, largo espectro de perícias pode ser realizado, diminuindo a duração dos exames de local e ampliando a compreensão de fenômenos associados, notadamente, aos crimes ambientais. (ALVES ET AL, 2014, p. 408) 5. Caracterização da Área de Estudo Primeiramente escolhe-se dois pontos no qual deseja-se analisar o traçado implantado, sendo escolhido neste trabalho, o de ligação entre os centros urbanos do município de Ribas do Rio Pardo à Camapuã, ambas cidades localizadas no estado de Mato Grosso do Sul. A escolha do referido trecho ocorreu devido ao fato de que as principais rodovias de acesso e escoamento das regiões não são ainda pavimentadas e também devido aos recorrentes problemas ambientais encontradospróximos a estradas implantadas na região. O município de Ribas do Rio Pardo possui seu centro urbano localizado a 102 km, da capital do estado de Mato Grosso do Sul, já o de Camapuã localiza-se a 137 km. A seguir apresenta-se descrição disponível no Caderno Geoambietal das Regiões de Planejamento de MS, de 2011, apresentadas pela antiga Secretaria do Estado de Meio Ambiente, do Planejamento, da Ciência e Tecnologia (SEMAC), atualmente denominada de Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar (SEMAGRO), dos dois municípios envolvidos no estudo. A seguir figura 01 com a localização dos municípios no estado e os pontos que se pretende sugerir um traçado de ligação. 9 Figura 1: Localização da Área de Estudo. • Camapuã O município de Camapuã encontra-se na região de planejamento Norte. O solo predominante do município se caracteriza por Neossolos associados a Latossolos de textura média, ambos naturalmente com baixa fertilidade, com associações complexa de solos com diferentes características químicas e físicas na maior parte do município. A vegetação primitiva predominante é de campo cerrado com manchas de Cerradão, porém possui sua vegetação original alterada atualmente por atividades agropecuárias. Apresenta o clima úmido predominantemente, com índice de umidade variando de 0 a 20%, e precipitação pluviométrica anual variando de 1.200 a 1.500 mm. A geologia do município é composta por rochas dos períodos Jurássico, Cretáceo e Terciário. A geomorfologia caracteriza-se por estar localizado da depressão sedimentar do Paraná, com relevo bastante variado, topografia é tabular a bastante movimentada, resultante de camadas diversas. O município está inserido em duas bacias hidrográficas, sendo elas a do Paraguai e a do Paraná. Os principais rios encontrados são: Rio Coxim e Rio Verde, a seguir figura 02 com a localização deles. 10 Figura 2: Principais rios Camapuã. • Ribas do Rio Pardo O município de Ribas do Rio Pardo encontra-se na região de planejamento de Campo Grande. O solo do município se caracteriza por Neossolos na região centro-norte e Latossolos de textura média na região sul, ambos naturalmente de baixa fertilidade. O município apresenta também manchas de Planossolo. A vegetação predominante é do cerrado, com grande parte de sua área coberta com pastagens plantadas, reflorestamento, várzea e lavouras. Verifica-se diferenças no clima nas porções norte e sul, sendo em ambos classificados como sub-úmido, ao norte com índice de umidade variando de 0 a 20%, e ao sul de 20 a 40%. A precipitação anual varia na região norte entre 1.200 a 1.500 mm e ao sul entre 1.500 a 1.750 mm. A geologia do município é composta por rochas do período Jurássico e período Cretáceo. A geomorfologia é composta por uma diversidade de paisagem, devido aos modelos colinosos, com declividades suaves e alguns pequenos ressaltos topográficos. O município encontra-se na região dos Planaltos Arenítico-Basáltico Interiores. O município está inserido em duas bacias hidrográficas, sendo elas a do Paraguai e a do Paraná. Os principais rios encontrados são: Rio Anhanduí, Rio Pardo e Rio Verde, a seguir figura 03 com a localização deles. 11 Figura 3: Principais rios Ribas do Rio Pardo. 6. Descrição da Metodologia Após definição da área em estudo, faz necessário o levantamento das características relevantes para implantação do traçado. No presente trabalho opta-se por dividir referidas características em três grupos, definidos como: ambiental, técnico e socioeconômico, Considerando a legislação ambiental atual estabeleceu como fator ambiental restritivo área de preservação permanente, recursos hídricos e área com cobertura vegetal significativa. Como fator técnico considera-se os fatores como declividade, áreas de escoamentos concentrados e tipo de solo. Como fator socioeconômico considera-se edificações como fatores a serem evitados, estradas já implantadas de maneira que as mais significativas em imagem de satélite sejam atingidas pelo traçado proposto, bem como para reduzir os custos com desapropriações de áreas para implantação de referida estradas. Os mapas serão criados utilizando as ferramentas disponíveis no software QGIS, escolhido por ser livre e gratuito, além de possuir todas as ferramentas necessárias para elaboração dos trabalhos proposto. A localização da hidrografia será obtida a parti de dados secundários disponibilizados pela Agência Nacional da Águas (ANA, 2017), disponível em seu portal de metados, no item “Divisão Hidrográfica e Hidrografia”. Após a obtenção dos dados hidrográficos, serão criados polígonos delimitando suas Áreas de Preservação Permanente (APP), a partir da ferramenta buffer de 100 12 metros, pois será considerado a maior medida de APP, considerada na Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012, que dispõe sobre a proteção da vegetação nativa. Os dados altimétricos que serão utilizados no estudo serão obtidos a partir dos dados TOPODATA, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), que, segundo Valeriano (2008), apresenta variáveis geomorfométricas locais derivadas de dados SRTM para todo o território nacional. Para a obtenção do mapa de áreas com vegetação nativa utiliza-se o método de classificação de imagem que se baseia na associação de cada pixel da imagem a um objeto real, a partir de uma imagem do satélite landsat 8. Os dados de tipo de solo, unidades de conservação e uso da terra são dados secundários obtidas a partir das cartas do IBGE, em escala de 1: 5.000.000 de 2004. Por fim, adaptando a metodologia de Ross (1994), propõe-se a criação de variáveis que receberam notas ou pesos de fragilidade segundo as características definidas como importante neste estudo, nas quais os dados obtidos passaram por uma reclassificação segundo a nota de suas características, resultando em um mapa temático final. 7. Conclusão Espera-se com o estudo definir a melhor localização do traçado de ligação entre os centros urbanos de Ribas do Rio Pardo a Camapuã, considerando os aspectos físicos e ambientais da área em estudo, que foram considerados importantes na metodologia proposta, bem como, comprovar que é viável a utilização da metodologia para auxiliar na adequação de traçados de estradas já implantadas, analisando por exemplo se há ligação entre problemas ambientais de erosões com a localização de referido traçado. REFERÊNCIAS ANA – Agência Nacional das Águas. HidroWeb: sistemas de informações hidrológicas. Disponível em: http://hidroweb.ana.gov.br/. Acesso em: 13 de novembro de 2017. BRASIL. Código Florestal. Lei nº 12.651 de 25 de maio de 2012. Publicado no Diário Oficial da União em 28 de maio de 2012. Disponível em: <http:www.planalto.gov.br/ccivil_03/ato2011-2014/2012/lei/112651.htm>. Acesso em: 01 de novembro de 2017. BRASIL. CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução n° 01/86. Dispõe sobre as definições, as responsabilidades, os critérios básicos e as diretrizes gerais para uso e implementação da Avaliação de Impacto Ambiental. Disponível em http://www2.mma.gov.br/port/conama/res/res86/res0186.html. Acesso em 01 de outubro de 2019. BRASIL. Lei Nº 6.938. Brasília, 31 ago. 1981. BRASIL. Lei Nº 9.985. Brasília, 18 jul. 2000. BRASIL. Lei Nº 6.605. Brasília, 12 fev. 1998 13 CÂMARA, G.; CASANOVA, M. A.; HEMERLY, A. S.; MAGALHÃES, G. C.; MEDEIROS, C. M. B.; Anatomia de Sistemas de Informações Geográfica. 10ª Escola de Computação. Instituto de Computação, UNICAMP, Campinas, São Paulo. 1996. Disponível em: <http://mtc- 12.sid.inpe.br/col/sid.inpe.br/sergio/2004/10.07.13.36/doc/anatomia.pdf>. Acesso em:03 de novembro de 2017. CUNHA, S. B. da;GUERRA, A. J. T. (Org.). Avaliação e perícia ambiental. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999. DNER (1999). Manual de Projeto Geométrico de Rodovias Rurais. Publicação IPR 106/20. Ministériodos Transportes. Departamento Nacional de Estradas de Rodagem. Diretoria de Desenvolvimento Tecnológico. DNIT (2010). Diretrizes Básicas para Elaboração de Estudos e Projetos Rodoviários / Instruções para Acompanhamento e Análise. Publicação IPR – 739. Ministério dos Transportes. Departamento nacional de infra-estrutura de transportes, Instituto de pesquisas rodoviárias. FILHO, A. C. P.; MIOTO. C. L.; JUNIOR, J. M.; CATALANI, T. G. T.; Geotecnologias em Aplicações Ambientais. Editora UFMS, Mato Grosso do Sul, 2016. FITZ. P. R. Geoprocessamento sem Complicação. Editora Oficina de Textos, São Paulo, SP, 2008. GONZALEZ. R. C.; WOODS, R. E.; Processamento Digital de Imagens. Editora Pearson, São Paulo, 2010. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Mapa de Solos do Brasil: Primeira aproximação. Rio de Janeiro: IBGE, 2004. 1 mapa, colorido. Escala 1:5.000.000. Disponível em: <https://mapas.ibge.gov.br/tematicos> . Acesso em: 10 novembro. 2017. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Mapa de Unidades de Conservação: Primeira aproximação. Rio de Janeiro: IBGE, 2004. 1 mapa, colorido. Escala 1:5.000.000. Disponível em: <https://mapas.ibge.gov.br/tematicos> . Acesso em: 10 novembro 2017. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE - Mapa de Uso de Terra: Primeira aproximação. Rio de Janeiro: IBGE, 2004. 1 mapa, colorido. Escala 1:5.000.000. Disponível em: <https://mapas.ibge.gov.br/tematicos> . Acesso em: 10 novembro 2017. INPE. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. TOPODATA – Banco de Dados Geomorfométricos. São Jose dos Campos, 2001. Disponível em: Acesso em 10 nov. 2011. LEE, S. H. Introdução ao Projeto Geométrico de rodovias. 4 ed. Florianópolis, SC: Editora da UFSC, 2013. 14 LOPES, E. L. Determinação de Diretrizes de Traçado Geométrico de Obras Lineares Utilizando Análise Multicritério. 2015. Dissertação. (Doutorado em Engenharia Civil) – Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2015. NOVO, E.M.L.M. Sensoriamento Remoto: Princípios e Aplicações. Editora Edgard Blucher Ltda., São Paulo, 2010. PIMENTA, C. R. T.; OLIVEIRA, M. P. Projeto Geométrico de Rodovias. Editora Rima, São Carlos, 2004. PENIDO, L. R.; KUZ, H. J. H.; MATTOS, J. T. Aplicação de Técnicas de Sensoriamento Remoto e GIS Como Subsídio ao Planejamento Rodoviário. Estudo de Caso: Trecho Oeste do Rodoanel Metropolitano de São Paulo, Brasil. In: Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, 9, 1998, Santos, SP. Anais (on-line). Disponível em: <http://www.dsr.inpe.br/biblioteca/>. Acesso: 27/08/2017. PEREIRA, D. M.; FRANCO, E. J.; RATTON, E.; BLASI, G. F.; BASTOS, J. T.; BERNARDINIS, M. A. P.; FILHO, W. K. Projeto Geométrico de Rodovias. Disponível em: <http://www.dtt.ufpr.br/InfraEstrutura/apostilas.htm>. Acesso em: 23 de ago. 2017. TOCCHETTO, Domingos: Perícia Ambiental Criminal. Campinas/SP: Millenium, 2014, 3° Ed. ROSA, R. Geotecnologias na Geografia aplicada. Revista do Departamento de Geografia, 2005. Disponível em: <https://www.revistas.usp.br/rdg/article/view/47288/51024>. Acesso em: 25 de agosto de 2017. ROSS, J.L.S. Análise Empírica da Fragilidade dos Ambientes Naturais e Antropizados. Laboratório de Geomorfologia – Depto de Geografia – FFLCH/USP, São Paulo. 1994. Disponível em: < http://www.revistas.usp.br/rdg/article/view/47327/51063>. Acesso em: 11 de novembro de 2017. SEMAGRO - Secretaria do Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar do Mato Grosso do Sul. Caderno Geoambiental das Regiões de Planejamento do MS, 2011. Disponível em: <http://www.semade.ms.gov.br/caderno-geoambiental/>. Acesso em: 03 de setembro de 2017. SILVA, A. B. Sistema de Informações Geo-Referenciadas: Conceitos Fundamentais. Editora Unicamp, São Paulo, 2010. SOARES, V. P. Notas de Aulas Práticas de ENF 610 Sensoriamento Remoto. Apostila. 2000. VALERIANO, M. M. TOPODATA: guia para utilização de dados geomorfométricos locais. São José dos Campos: INPE, 2008. Disponível em: Acesso em: 20 maio 2011. 15 VEIGA, L. A. K; ZANETTI, M. A. Z.; FAGGION, P. L. Fundamentos de Topografia. Apostila do Curso de Engenharia Cartográfica e de Agrimensura da Universidade Federal do Paraná. 2012. Disponível em: <http://www.cartografica.ufpr.br/docs/topo2/apos_topo.pdf>. Acesso em: 10 de novembro de 2017. XAVIER, R. Alternativa para o Traçado do Hiperanel Rodoviário da Região Metropolitana de Belo Horizonte (MG), Utilizando Rotinas de Apoio à Decisão em SIG. Tese. (Pós-Graduação em Engenharia Civil) – Universidade Federal de Viçosa. Minas Gerais. 2002.
Compartilhar