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Aspectos Culturais e Biopsicossociais do Envelhecimento IPEMIG

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INSTITUTO PEDAGÓGICO DE 
MINAS GERAIS 
 
Aspectos Culturais e Biopsicossociais do 
Envelhecimento 
Coordenação Pedagógica – IPEMIG 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Belo Horizonte 
 
2 
 
 
 
SUMÁRIO 
INTRODUÇÃO ................................................................................................. 03 
1 A CULTURA COMO ANÁLISE DOS SIGNIFICADOS ................................. 07 
1.1 A significação cultural da velhice ................................................................ 08 
2 OS MITOS E PRECONCEITOS DA VELHICE ............................................. 10 
3 CULTURA, MEMÓRIA E VALORIZAÇÃO DA EXPERIÊNCIA DO IDOSO . 14 
3.1 Sociedades primitivas................................................................................. 15 
3.2 Os mitos e rituais de regeneração .............................................................. 16 
3.3 Sociedades capitalistas .............................................................................. 18 
4 QUEM TEM MAIS MEDO DE ENVELHECER: O HOMEM OU A MULHER?20 
4.1 Envelhecer – Um desafio ........................................................................... 25 
4.2 Envelhecimento social ................................................................................ 26 
5 ASPECTOS PSICOLÓGICOS DO ENVELHECIMENTO ............................. 29 
5.1 Mudanças nas funções cognitivas .............................................................. 33 
5.2 Aprendizagem ............................................................................................ 34 
5.3 Funcionamento intelectual .......................................................................... 35 
5.3.1 Criatividade ............................................................................................. 36 
5.3.2 Linguagem ............................................................................................... 36 
5.3.3 Outras alterações .................................................................................... 36 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 43 
AVALIAÇÃO .................................................................................................... 44 
 
3 
 
 
INTRODUÇÃO 
A distinção entre o natural e o cultural ocupou e continua a ocupar um lugar 
importante nas discussões antropológicas. 
Essa distinção focalizou principalmente a ideia de o homem ter sido moldado 
pela cultura e não pelo instinto. 
O instinto está presente no comportamento animal, que é programado 
geneticamente para, da mesma forma, desenvolver em qualquer tempo e lugar, as 
mesmas respostas instintivas tendo em vista os mesmos estímulos. 
O comportamento cultural, específico do homem, ao contrário, varia 
culturalmente, tendo em vista os diversos momentos históricos e as diferentes 
sociedades. Assim, o homem, diferentemente do animal, não possui organização 
social, religião, arte, linguagem e pensamento que se desenvolva sem a intervenção 
da cultura. Na verdade, o homem é o que é – homem – pela cultura. Também, em 
outros termos, não se pode falar de cultura sem homens, e nem de homens sem 
cultura. 
A antropologia pensada por Lévi-Strauss, etnólogo francês contemporâneo, 
preocupado com a questão da natureza e da cultura, estabeleceu uma distinção 
lógica entre as mesmas. Segundo ele: “A ausência de regra parece oferecer o 
critério mais seguro que permite distinguir um processo natural de um processo 
cultural”. É também Lévi-Strauss que em um outro momento explica: “ Em toda parte 
onde se manifesta uma regra podemos ter certeza de estar numa etapa da cultura. 
Simetricamente, é fácil reconhecer no universal o critério da natureza. Porque aquilo 
que é constante em todos os homens escapa necessariamente ao domínio dos 
costumes, das técnicas e das instituições pelas quais seus grupos se diferenciam e 
se opõem. Na falta de análise real, os dois critérios, o da norma e o da 
universalidade, oferecem o princípio de uma análise ideal, que pode permitir – ao 
menos em certos casos e em certos limites - isolar os elementos naturais dos 
elementos culturais que intervêm nas sínteses de ordem mais complexa. 
Estabelecemos, pois, que tudo quanto é universal no homem depende da ordem da 
natureza e se caracteriza pela espontaneidade, e que tudo quanto está ligado a uma 
norma pertence à cultura e apresenta os atributos do relativo e do peculiar.” 
 
4 
 
 
 
Sintetizando, para Lévi-Strauss a existência da regra – regras de 
comportamento, linguagem, magia, pensamento, arte, etc. – evidencia o universo da 
cultura, o inverso do mundo da natureza. 
Importa ainda aqui apontar, tendo em vista obter uma compreensão mais 
ampla do pensamento de Lévi-Strauss, que este último preocupado com a 
passagem lógica do estado de natureza para o estado de cultura, indica que a 
mesma se dá pela regra universal do incesto. Assim, no dizer deste autor: “a 
proibição do incesto apresenta, sem o menor equívoco e indissoluvelmente reunidos, 
os dois caracteres nos quais reconhecemos os atributos contraditórios de duas 
ordens exclusivas, isto é, constituem uma regra, mas uma regra que, única entre 
todas as regras sociais, possui ao mesmo tempo caráter de universalidade.” 
Assim, o tabu do incesto apresenta “simultaneamente o caráter distintivo dos 
fatos da natureza e o caráter distintivo - teoricamente contraditório do precedente – 
dos fatos da cultura.” A proibição do incesto possui ao mesmo tempo a 
universalidade das tendências e dos instintos e o caráter coercitivo das leis e das 
instituições. 
Tendo em vista a distinção feita – a natureza e/ou cultura – recoloca-se aqui, 
de maneira mais clara, a problemática da velhice como sendo um fato natural e/ou 
cultural. 
Com certeza a velhice é um fenômeno biológico: o organismo do ser idoso 
apresenta certas particularidades. Há no envelhecimento um sentido relativamente 
claro da noção de decadência no plano biológico. O organismo entra em declínio 
quando se reduzem suas probabilidades de subsistir. Simone de Beauvoir explica: 
“O envelhecimento e, em seguida, a morte sobrevêm quando um determinado 
programa de crescimento e de maturação chega a seu termo.” A velhice é um 
processo comum a todos os seres vivos. Há uma série de transformações que 
ocorrem no corpo do indivíduo que envelhece. 
Ainda fundamentada no texto de Simone de Beauvoir, tem-se a descrição 
rica, obtida por uma observação perspicaz desta autora sobre as transformações na 
aparência física e também sobre a decadência biológica do organismo do indivíduo 
que envelhece. 
 
5 
 
 
 
Assim, segundo Beauvoir: “Os cabelos embranquecem e tornam-se mais 
ralos, também os pelos embranquecem embora proliferem em certos lugares – como 
por exemplo, no queixo das idosas. A pele se enruga em consequência da 
desidratação e da perda de elasticidade do tecido dérmico subjacente. Caem os 
dentes. A perda dos dentes provoca um encurtamento da parte inferior do rosto, de 
tal maneira que o nariz – que se alonga verticalmente devido a atrofia de seus 
tecidos elásticos – aproxima-se do queixo. A proliferação senil da pele trás um 
engrossamento das pálpebras superiores, enquanto se forma papos sob os olhos; o 
lábio superior míngua e o lóbulo da orelha aumenta. Também o esqueleto se 
modifica. A atrofia muscular e a esclerose das articulações acarretam problemas de 
locomoção. O esqueleto sofre processo de osteoporose, isto é, a substância 
compacta do osso torna-se esponjosa e frágil, sendo este o motivo de a fratura do 
colo do fêmur , que suporta o peso do corpo, seja frequente.” Em um outro 
momento de seu texto, Beauvoir explica: “Há involução dos rins, das glândulas 
digestivas e do fígado. Os órgãos dos sentidos são atingidos. O poder de 
acomodação diminui. A presbiopia é um fenômeno quase universal entre os idosos; 
e a vista „cansada‟ faz com que a capacidade de discriminação decline. Também 
diminuia audição, chegando frequentemente até a surdez. O tato, o paladar e o 
olfato têm menos acuidade que outrora.” 
Embora a morte possa ocorrer em qualquer fase da vida, ela frequentemente 
sucede à velhice. A morte é a finalização daqueles que atingiram a velhice, ou seja, 
dos que ultrapassaram as fases do crescimento, desenvolvimento e maturidade. 
Raramente, porém, a velhice por si só acarreta morte sem que uma patologia 
intervenha. As chamadas mortes “naturais” – em oposição às mortes por acidentes – 
realmente são provenientes de um processo de deterioração orgânica. 
Se a partir dos dados fornecidos pelas colocações precedentes explicita-se a 
velhice como um fato biológico, portanto natural e universal, por outro lado, somente 
este fato é insuficiente para definir a velhice. 
Se a identidade de velho, não se quer aqui negar, se define como um 
fenômeno biológico, define-se assim em parte e, com certeza, se cai numa postura 
equivocada ao se extrapolar essa parte, ou condição biológica, para explicar a 
totalidade - comportamento, atitudes, pensamentos dos indivíduos. Em outros 
 
6 
 
 
 
termos, erra-se ao priorizar a condição biológica como sendo a conformadora do 
comportamento psicossocial do indivíduo. Sempre se é velho em algum lugar e num 
determinado tempo histórico. 
Simone de Beauvoir complementa o que acima se colocou, quando explicita 
que “a velhice, como todas as situações humanas, tem uma dimensão existencial: 
modifica a relação do indivíduo com o tempo e, portanto, sua relação com o mundo e 
com sua própria história.” “Por outro lado, o homem não vive nunca em estado 
natural; na sua velhice, como em qualquer idade, seu estatuto lhe é imposto pela 
sociedade a qual pertence.” 
De acordo com Beauvoir, a sociedade destina ao velho seu lugar e seu papel 
levando em conta sua idiossincrasia individual: sua impotência, sua experiência; 
reciprocamente, o indivíduo é condicionado pela atitude prática ideológica da 
sociedade em relação a ele. “Não basta, portanto, descrever de maneira analítica os 
diversos aspectos da velhice: cada um deles reage sobre todos os outros e é 
afetado por eles; é no movimento indefinido desta circularidade que é preciso 
aprendê-la.” 
Sintetizando, a partir de todos os elementos até agora avaliados, a velhice 
para ser compreendida em sua totalidade, tem que ser analisada não somente como 
um fato biológico, mas, também, como um fato cultural. 
Falar de cultura, de fatos culturais, imediatamente revela a ideia de fatos que 
se modificam. Assim, analisar a cultura implica simultaneamente analisá-la na sua 
constante dinâmica. 
No que se refere à velhice como um fenômeno biológico mas também 
cultural, é importante chamar a atenção que “ser velho” é um fenômeno que se 
altera no tempo e no espaço. 
Assim, se existir como velho hoje, na nossa sociedade, implica em uma 
relativa situação de discriminação social, no futuro, esta situação poderá e deverá 
ser modificada, na medida em que se entenda como constituída culturalmente e, por 
isso mesmo, mutável, dinâmica. 
 
7 
 
 
 
1 A CULTURA COMO ANÁLISE DOS SIGNIFICADOS 
 
Fazer uma análise antropológica da cultura é interpretar os diversos 
significados simbólicos criados pelos diferentes grupos humanos sobre vários temas. 
Neste trabalho, os significados que se está querendo descobrir dizem respeito ao 
velho tema, velhice. 
O conceito de cultura que busca avaliar os significados é essencialmente 
semiótico e é definido pela perspectiva hermenêutica da Antropologia, que tem como 
um dos seus maiores representantes o antropólogo Clifford Geertz. Esse autor 
propõe um conceito semiótico de cultura, pois acredita “como Max Weber, que o 
homem é um animal amarrado a teias e significados que ele mesmo teceu, 
assumindo a cultura como sendo essas teias e a sua análise; portanto, não como 
uma ciência experimental em busca de leis, mas como uma ciência interpretativa à 
procura de significado”. 
A proposta de Geertz é que o antropólogo deve fazer uma etnografia e esta, 
por sua vez, implica a realização de uma descrição densa. Tudo isso, nos termos do 
próprio autor, revela o seguinte: “O ponto a enfocar agora é somente que a 
etnografia é uma descrição densa. O que o etnógrafo enfrenta, de fato – a não ser 
quando está seguindo as rotinas mais automatizadas de coletar dados – é uma 
multiplicidade de estruturas conceituais complexas, muitas delas sobrepostas ou 
amarradas umas às outras, que são simultaneamente estranhas, irregulares e 
inexplícitas, e que ele tem que, de alguma forma, primeiro apreender e depois 
apresentar. E isto é verdade em todos os níveis de atividade no seu trabalho de 
campo, mesmo o mais rotineiro: entrevistar informantes, observar rituais, deduzir os 
termos de parentesco, traçar as linhas de propriedade, fazer o censo doméstico, 
escrever seu diário. Fazer a etnografia é como tentar ler (no sentido de „construir 
uma leitura de„) um manuscrito estranho, desbotado, cheio de elipses, incoerências, 
emendas suspeitas e comentários tendenciosos, escritos ou não com os sinais 
convencionais do som, mas com exemplos transitórios do comportamento 
modelado”. 
 
8 
 
 
 
Enfatiza Geertz, em outro momento de seu texto: “A cultura consiste em 
estruturas de significados socialmente estabelecidas, nos termos das quais as 
pessoas fazem certas coisas”. 
Resumindo o pensamento de Geertz, tem-se que a cultura não é um poder, 
alguma coisa à qual se possa atribuir os acontecimentos sociais, as instituições, os 
comportamentos ou processos. A cultura apresenta-se como sistemas entrelaçados 
de signos interpretáveis. A cultura é um contexto, no qual os acontecimentos, as 
instituições e os processos podem ser descritos de forma inteligível, isto é, descritos 
com densidade. 
 
 
1.1 A significação cultural da velhice 
 
Na nossa sociedade, ser velho significa na maioria das vezes estar excluído 
de vários lugares sociais. Um desses lugares, densamente valorizado, é aquele 
relativo ao sistema produtivo, o mundo do trabalho. Estar alijado ao sistema 
produtivo quase que inteiramente define o “ser velho”. O alijamento do mundo 
produtivo – extremamente valorizado, na nossa cultura – espalha-se, criando 
barreiras impeditivas de participação do velho nas outras tantas e diversas 
dimensões da vida social. 
Assim, a partir da argumentação precedente, uma primeira avaliação do 
significado de ser velho, na nossa cultura, deve, sem dúvida, levar em conta a 
análise do mundo econômico, do trabalho, das ideias de 
produtividade/improdutividade e como esses mesmos elementos são 
simbolicamente constituídos para os sujeitos – velhos, não velhos, homens, 
mulheres, classes sociais, etc. – que vivem nesta sociedade. 
É importante apontar que uma ampliação do significado de produtor está 
sendo discutida e, cada vez mais, utilizada pelos profissionais, sejam os que 
diretamente trabalham com o segmento idoso, sejam aqueles que são responsáveis 
pelo desenho de uma política social para este mesmo segmento. Esta ampliação 
significa não mais somente medir a produtividade econômica e, consequentemente 
definir o produtor a partir desse único critério, mas alargar o significado de produtor 
 
9 
 
 
 
na direção das outras esferas da vida social, passando assim a classificar de modo a 
incluir o velho como “produtivo” e/ou “produtor social”. 
Outros significados aparecem ligados à ideia de velho quando se estuda 
identidade social desses sujeitos. Com certeza, a análise da construção das 
identidades sociais é um campo vasto e rico de possibilidades de desvendamento de 
significados criados pela nossa sociedade, ou setores da mesma, para explicar o 
que é, ou quem é velho. 
Na construção da identidade de velho evidencia-se a existência de um jogo 
de contrastes de identidades sociais, que aponta para o conjunto das mesmas – 
identidades – formando um sistema e criando uma estratégiade diferenças. Partindo 
dessa concepção se tem clara a ideia de que a identidade do “eu” é construída pela 
oposição à identidade do “outro”. 
Assim, na nossa sociedade, a identidade de idosos se constrói pela 
contraposição à identidade de jovem e, como consequência, se tem também a 
contraposição das qualidades: atividade, força, memória, beleza, potência e 
produtividade como características típicas e geralmente imputadas aos jovens e as 
qualidades opostas a estas últimas, presente nos idosos. 
Estes significados levantados sobre “velho” na nossa sociedade representam 
uma pequena amostra de um número muito maior de outros significados elaborados 
a respeito dos sujeitos idosos. 
 
10 
 
 
 
2 OS MITOS E PRECONCEITOS DA VELHICE 
 
As pessoas individualmente e a sociedade em geral olham o envelhecer com 
muitas restrições e ideias preconcebidas, como se essa fase fosse um período 
tempestuoso e cinzento, de total decrepitude e até mesmo castigo. Veem a velhice 
como sinônimo de senilidade. 
A ideia de envelhecimento é um processo pessoal, multidimensional e 
multivariado. Diverge de pessoa para pessoa, de grupo para grupo e de época para 
época. 
Na opinião dos estudiosos, não há “velhice” (teórica ou abstrata) e sim 
pessoas que envelhecem de modo essencialmente personalizado e original. É uma 
experiência única e diferenciada. 
Gaiarsa, no seu livro Como enfrentar a velhice, diz com muita ênfase: “Ser 
velho, além de um fato, é um conjunto de convenções sociais da pior espécie. Não 
sei o que pesa mais sobre os velhos, se é a idade ou a ideia que fazem de si 
mesmos, movidos pelo modo como são tratados, levados pelas ideias tantas vezes 
vingativas que orientam o comportamento da maioria deles”. 
Podemos constatar o tratamento que a sociedade dá aos seus velhos porque, 
sob esta ótica, é uma parcela da população marginalizada, fruto de muitos 
preconceitos incoerentes e inconsequentes. 
São falsas várias ideias lançadas sobre o velho, sempre salientando os 
aspectos negativos, decadentes, e não os aspectos positivos da sua personalidade, 
como: mais sabedoria, mais discernimento, mais segurança, mais liberdade, mais 
generosidade e mais experiência. 
São aspectos negativos evidenciados como as perdas, a decadência e a 
decrepitude. Isso como a esclerose e a senilidade fossem inevitáveis. 
Sobre o velho, jogam-se muitos mitos: 
 
Mito da Inutilidade: “O velho não produz, logo pensam que deve ser eliminado 
da sociedade”. Num sistema capitalista e consumista, só tem valor quem produz e 
quem consome, gerando lucros. O velho é considerado improdutivo. Porém, não é 
observado que a experiência e a visão ampla do velho podem quantificar a produção 
 
11 
 
 
 
e acima de tudo qualificá-la. Não é só o jovem que produz e consome, o velho pode 
fazer outras atividades também produtivas e se tiver recursos também vai consumir, 
não apenas em remédios. 
Mito do Antiquado: Julgam o velho inoportuno, superado, desatualizado, 
inadequado, quando não até ridículo, têm-no como sinônimo de “velharia 
descartável”. 
É evidente que a evolução industrial e a tecnologia cresceram rapidamente e 
as gerações mais antigas não conseguiram acompanhar todo seu avanço. Porém, 
todo desenvolvimento aconteceu graças aos experimentos empíricos ou pouco 
científicos por eles realizados. 
O ideal é unir a força, o dinamismo e o vigor do jovem com a experiência e a 
prudência dos mais vividos, resultando num melhor caminho para o progresso. 
Mito da Fealdade: As aparências e a beleza exterior são supervalorizadas em 
nossa sociedade: “Tudo o que é novo e belo, tudo o que é velho e feio”. Isto é uma 
maneira simplista e superficial de encarar a vida. Até nos meios de comunicação 
social, na literatura, no teatro e mesmo no ambiente familiar e social o jovem é o 
galã, o mocinho, o bem-sucedido; restando para o velho a fealdade e o ridículo. A 
fada aparece sempre como uma bela jovem e a dona bruxa é uma velha horrenda. 
Isso não é discriminação? 
Os meios de comunicação eventualmente divulgam e elogiam os movimentos, 
programas e atividades para idosos, mas paradoxalmente expõe o velho ao ridículo 
em novelas, programas humorísticos, charges, etc. 
Mito da Esclerose: Identificam o velho como alguém que perdeu a memória, o 
raciocínio e até a lógica, como se isso fosse reservado somente aos velhos e, 
obrigatoriamente, a todos os velhos. Não percebem que o jovem também esquece, 
também se engana e ainda age muitas vezes de maneira ilógica. 
Mito da Impotência: Não apenas para o trabalho, mas, sobretudo a 
incapacidade sexual, basta ver o apelo da mídia da TV e do cinema. Esse é o mito 
mais acentuado e o pior, e por pura ignorância da realidade orgânica e psicológica 
do ser humano normal. Hoje os médicos, os psicólogos e sexólogos já 
desmistificaram esse assunto tão importante para a pessoa idosa em todas as 
 
12 
 
 
 
etapas as sua existência. A ideia hoje é comum: “O corpo muda, a sexualidade 
continua, a sensibilidade fica mais refinada e mais bela”. 
Mito de que a Velhice é doença: Não é verdade, há muitos meios de prevenir 
e de preservar a saúde física e mental. Há doenças que são atribuídas aos velhos, 
no entanto, os jovens também podem ser acometidos de muitas delas que tiveram 
início na infância e se agravaram no decorrer da vida. Velhice é uma questão para a 
Gerontologia, doença é uma questão para a Medicina Geriátrica. 
Mito da Alienação: Aqui a sociedade cria um estereótipo de pessoa desligada 
do real, desengajada. Subestima a capacidade de pensar, de opinar, de participar, 
de pessoas aposentadas ou não, com a idade avançada. O velho é rejeitado e 
marginalizado, até dentro do próprio lar. 
Assim discriminado, o velho, por imposições – veladas ou declaradas – 
recolhe-se em seus aposentos (aposentado), dentro de seu pijama, numa cadeira de 
balanço e de frente para a televisão. Quanto mais isolado tanto mais alheio, 
perdendo, assim, seu referencial, a sua identidade e o seu papel. 
Para a sociedade indiferente, quanto mais calado e alheio, tanto melhor. Ele 
se acomoda, não reivindica seus direitos, desativa sua atuação social, priva-se da 
sua participação política e morre socialmente antes da morte física. 
No entanto, quando o idoso é aceito, valorizado e motivado presta 
significativa contribuição. A participação na vida familiar, na vizinhança e na 
comunidade é sempre uma oportunidade de integração e de vida 
O mito da Inflexibilidade: Para não permitir a participação do velho nas 
decisões importantes, taxam-no de inflexível, teimosos e até fanático, o que não é 
verdade. Ele é prudente e experimentado na faina da vida, mas cede quando 
percebe a racionalidade. 
Assim citamos alguns mitos e principais tabus que são atribuídos aos velhos. 
Estes terminam aceitando-os e sofrendo pela própria retração e consequente 
isolamento. 
O que se faz necessário, e com a máxima brevidade, é que o próprio idoso 
assuma seu papel inalienável na sociedade e não aceite ser submisso ao que lhe 
impõe. 
 
13 
 
 
 
Sartre, na sua sapiência, já afirmava: “O pior não é aquilo que os outros 
fazem de nós. O pior é aquilo que nós fazemos daquilo que os outros fazem de nós”. 
Vale ressaltar que o idoso que se recolhe em seu pijama, não por si mesmo, 
mas por imposições da sociedade. Aposentado – recolhido a seus aposentos. 
Muitos são os limites impostos à terceira idade pela sociedade capitalista, sob 
o pretexto de que já passou o seu tempo e que agora deve acomodar-se, 
“descansar e dar lugar para os mais jovens”. 
Sem os mitos e preconceitos sociais, a velhice poderia ser enfrentada com 
mais coragem e menos sofrimento, pois como alguém já afirmou com muita 
sabedoria e lucidez: “A velhice é o domingo da vida”. 
A vida humana é um processo, tem seus altos e baixos, mais vai acumulando 
experiências, sentimentos, vivências que enriquecem a caminhada e somam-se os 
êxitos e os fracassoscomo estímulo para novas conquistas. 
 
14 
 
 
 
3 CULTURA, MEMÓRIA E VALORIZAÇÃO DA EXPERIÊNCIA DO 
IDOSO 
O envelhecimento não é um fenômeno biológico, fisiológico sobre o qual 
podemos meramente, agregar os aspectos sociais, culturais e psicológicos. Todos 
estes elementos estão intrinsecamente relacionados e em recíproca inter-relação. As 
alterações e modificações que afetam o funcionamento físico ou psíquico do 
organismo humano, conforme o contexto social e cultural, podem ser ou não 
valorizadas e conferir ou não posição de destaque ao seu portador. Em todas as 
sociedades, os seres humanos, enquanto característico universal da espécie 
nascem, ficam adultos, envelhecem e morrem, mas o que é variável é o modo como 
as diversas sociedades e culturas trabalham com esses momentos da vida. São 
diversos os modos como se constrói e se percebe essas etapas e, como 
decorrência, vamos ter inúmeras formas de percepção não só da velhice como 
também de outros momentos de nossa existência. 
A organização social vai determinar para cada época um estatuto diferencial 
para a idade. O momento histórico que irá trazer grandes modificações para aquelas 
pessoas que foram enquadradas na classe ou grupo de pessoas velhas, será aquele 
em que as sociedades passam a se estruturar por meio de contradições com relação 
à acumulação de bens, riquezas e propriedades. Os destinos das pessoas de idade 
passam a depender da acumulação privada de bens, que vão determinar a miséria 
de uns e a possibilidade para outros de uma vivência protegida e cercada pelos 
laços familiares. Nesse momento, a equivalência entre acumulação de experiência e 
conhecimento sociais, que nas sociedades “primitivas” está ligada à progressão da 
pessoa nas etapas do ciclo vital e que, em muitos casos, proporciona uma posição 
de destaque no sistema de status, é rompida. Esse rompimento colocará de forma 
diferenciada, embora cada vez de modo mais claro, à medida que a propriedade e 
acumulação passam a determinar mais e mais os destinos e a valorização social das 
pessoas. 
Para examinar a realidade e o significado da velhice, é necessário conhecer 
em diferentes épocas e lugares, no conjunto daquela sociedade, qual o lugar nela 
atribuído aos velhos. 
 
15 
 
 
 
Conforme Magalhães, nas culturas tradicionais o idoso sempre foi visto como 
sendo símbolo de sabedoria, através do ato de lembrar e dar expressão a suas 
lembranças: “O papel da memória é tradicionalmente valorizado entre os mais 
velhos, assim como suas lembranças constituem o patrimônio coletivo, expresso e 
revivido permanentemente no contato com as novas gerações, sejam crianças ou 
adultos. Ao velho e ao antigo cabem, na sociedade tradicional, papéis e padrões 
comportamentais apoiados no valor da respeitabilidade”. 
 
 
3.1 Sociedades primitivas 
 
Em muitas sociedades a experiência e os conhecimentos acumulados 
constituem um trunfo para os velhos, mas, em algumas delas, em algumas 
circunstâncias, não é suficiente para lhes garantir um lugar abrigado que lhes 
permita morrer nela amparado pelos demais. 
Frazer aponta para a tendência de toda a sociedade: VIVER E SOBREVIVER. 
Nesta posição ela exalta o vigor e a fecundidade associados no ciclo de vida à 
juventude, enquanto teme o desgaste, a esterilidade da velhice. Em comunidades 
onde o chefe é a encarnação da divindade, muitas vezes ao manifestar sinais de 
declínio ele deve prontamente ser sacrificado e novo chefe deve ser investido de 
poder e prestígio, pois se as forças da divindade se esgotarem com ele, o mundo 
rapidamente pereceria. 
Entre os Dinda, segundo Frazer, algumas pessoas idosas em uma tribo são 
responsáveis por fenômenos e atividades consideradas essenciais à coletividade - a 
chuva, a caça, a pesca, etc. Se mostrarem sinais de fraqueza são enterrados vivos - 
cerimonial ao qual eles se prestam voluntariamente - pois estão transmitindo a 
outros, antes que declinem, poderes necessários à sobrevivência da coletividade. As 
cerimônias fúnebres nestes casos representam, pois uma festividade, um 
rejuvenescimento do princípio vital. 
 
16 
 
 
 
3.2 Os mitos e rituais de regeneração 
 
Inúmeros ritos têm por objetivo apagar o tempo decorrido e reiniciar uma 
existência livre do peso dos anos. As festas de passagem de ano e Ano Novo são o 
nosso rito atual. Nas monarquias europeias existe o: “O rei está morto. Viva o rei”. 
No culto Xintoísta no Japão os templos devem ser reconstituídos a cada 20 anos; 
sua decoração e mobiliário mudados. É uma demonstração de ligação do indivíduo 
ao mundo todo: reconstituindo o edifício fortalecem-se os laços dos homens com as 
divindades. Algumas comunidades simulam expulsar os idosos de seu seio, 
protegendo-o da deterioração da velhice e fazendo aliança com a juventude (serrar a 
velha - bonecos). 
Como se vê, para muitas comunidades o passar do tempo pode provocar o 
desgaste da natureza. Não vislumbram um porvir diferente, mas procuram se apegar 
a um passado reverenciado, segundo o qual se modela o presente. 
Quando o velho não significa o envelhecimento do grupo, não existe razão 
para supri-lo. Ele terá um status de acordo com as circunstâncias. Em uma 
sociedade que cultua a produtividade, se ele se torna improdutivo, também se torna 
um fardo. Mas, ao decretar o destino do velho, o adulto estará determinando seu 
próprio futuro e, portanto, também deverá levar em conta seu interesse a longo 
prazo. 
Entre os mitos engendrados por uma coletividade e seu comportamento pode 
haver muita coincidência e pode haver muita distância. No campo que se refere ao 
tratamento dado aos velhos, muitas sociedades primitivas enaltecem a velhice e o 
velho enquanto, na realidade seu tratamento não condiz com estes prepostos ideais. 
Há deuses muito velhos, muito sábios, ou que inventaram culturas agrícolas, 
pecuárias ou artesanatos da maior importância para a nação e como tal são 
consagrados nos mitos e lendas. Mas muitas vezes as condições precárias de vida, 
a imprevidência, o clima, trazem a urgência do presente, e então passado e futuro 
desaparecem, permanecendo apenas a necessidade de sobrevivência no presente. 
Sociedades nômades, coletoras, vivem geralmente sob estas condições, onde o 
xamanaísmo e a magia predominam. As condições de extrema miséria sufocam os 
 
17 
 
 
 
sentimentos. Quando a sobrevivência de uma coletividade depende dos mais aptos, 
os mais fracos são deixados à míngua ou mesmo sacrificados. 
Muitas sociedades respeitam as pessoas idosas enquanto estas se mantém 
robustas, lúcidas e desembaraçadas, não tendo, porém escrúpulos em se livrar 
delas quando se tornam decrépitas e caducas. Para muitas destas comunidades a 
pessoa velha e doente está mais perto da morte e, portanto está em perigo e 
ameaça aos demais. Ao se livrarem dela estão ajudando a manter a coesão da 
comunidade, definindo o mundo dos vivos e o dos mortos. Para a maioria destas 
comunidades primitivas, ao indivíduo que envelhece, é negado por exemplo, o 
acesso a determinados lugares, o convívio com o sexo oposto. 
A mulher não mais fértil e o homem impotente, podem passar para outra 
categoria, diferente do adulto, onde obrigações anteriores não mais existem e novas 
atividades e atributos estão ao seu alcance. Mas o progressivo envelhecimento ou 
às vezes o abuso dos velhos podem levar os jovens a desejarem se livrar deles. 
Há também, no entanto, algumas sociedades que apesar de viverem nas 
mesmas precárias condições, reservam para os idosos posições de prestígio e 
tratamento diferenciado. Há mesmo uma ênfase em preservar o poder através da 
posse e através da autoridade sobre familiares e mesmo sobre outros membros do 
grupo. Na interpretação da escritora Simone de Beauvoir, estas coletividades estão 
agindo desta maneira porque avaliam sua própria posição e tratamento na velhice e, 
portanto, estão sendo prudentes em matéria de organização social,garantindo seu 
futuro tanto individual como coletivo. Também em algumas comunidades o velho é 
abrigado e respeitado por seus conhecimentos essenciais (artesãos, caçadores, 
agricultores, etc.), à manutenção e sobrevivência do grupo. Vivendo em ambientes 
hostis ou escasso de recursos, o conhecimento que os mais velhos podem transmitir 
passa a ser de vital importância. Em outras culturas, aos velhos compete tarefas 
importantes como a marcação do tempo, nomear as crianças que nascem, recitar a 
genealogia para indicar adequadamente o papel e o lugar do indivíduo dentro de seu 
mundo, transmitir as lendas, e mitos e todo um conjunto que mantém a identidade 
daquele povo. Em algumas comunidades este poder pode ser tão grande que eles 
não ensinam, tendo reservado para si alguns segredos que só são transmitidos na 
hora morte. É uma maneira de se preservar evitando a destituição do poder. 
 
18 
 
 
 
Nas sociedades primitivas os velhos são pouco numerosos e, por isso 
mesmo, em muitas delas, eles são preciosos e respeitados por sua experiência, 
principalmente pelo fato de serem eles que, frequentemente, detêm o saber social e 
o conhecimento místico, sendo inclusive, temidos por sua proximidade com os 
ancestrais. Todavia, apesar disso, é variável o “status” ocupado por aqueles que são 
definidos como velhos. Existem sociedades em que as pessoas enquadradas na 
classe ou grupo de idade dos anciãos são poderosas na África, as quais alguns 
autores não hesitam em classificar em “gerontocráticas”. Em outras palavras, os 
velhos, além de não terem poder, podem ser até abandonados em situações em que 
o grupo enfrenta como fome, penúria etc. 
 
 
3.3 Sociedades capitalistas 
 
Eclea Bosi, ao analisar a velhice na sociedade industrial, fornece-nos um bom 
material para que possamos refletir sobre esta questão. A sociedade capitalista é 
que promove a degradação da força de trabalho, desgasta-a e consome-a. A idade é 
utilizada como critério de desvalorização social. A sociedade justifica a opressão na 
qual os idosos são submetidos através de vários mecanismos, como por exemplo: a 
produção de pesquisas pseudocientíficas que atestam a incompetência social do 
velho e que encontram uma pretensa fundamentação a nível natural e biológico para 
desvalorizá-lo; o despojamento do velho através de mecanismos psicológicos que 
colaboram para construir uma autoimagem negativa; os asilos que lhe tiram toda a 
criatividade e força-os a um comportamento padronizado; a recusa ao diálogo e a 
reciprocidade por parte das pessoas mais novas, etc. 
Observemos o seguinte texto da autora: 
 
Quando as mudanças históricas se aceleram e a sociedade extrai sua 
energia da divisão de classes, criando uma série de rupturas nas relações 
entre os homens e na relação dos homens com a natureza, todo sentimento 
de continuidade é arrancado de nosso trabalho. Destruirão amanhã o que 
construirmos hoje. A sociedade rejeita o velho, não oferece nenhuma 
sobrevivência à sua obra. Perdendo a força de trabalho ele já não é 
produtor nem reprodutor. Se a posse, a propriedade, constituem, segundo 
Sartre, uma defesa contra o outro, o velho de uma classe favorecida 
defende-se pela acumulação de bens. Suas propriedades o defendem da 
desvalorização de sua pessoa. A noção que temos de velhice decorre mais 
da luta de classes que do conflito de gerações. 
 
19 
 
 
 
O livro de Eclea Bosi abre um caminho fecundo para os trabalhos sobre a 
memória. As lembranças, as memórias dos velhos tornam-se, assim, um material de 
extrema importância dentro de uma sociedade como a nossa, com brutal 
concentração de capital e aceleração das forças produtivas, o sentido de 
continuidade é arrancado de nossas vidas. Este ângulo não escapa à Marilena 
Chaui a qual... 
[...] por que temos de lutar pelos velhos? Porque são a fonte onde jorra a 
essência da cultura, ponto onde o passado se conserva e o presente se 
prepara, pois, como escrevera Benjamim, só perde o sentido aquilo que no 
presente não é percebido como visado pelo passado... A função social do 
velho é lembrar e aconselhar - memini momeo - unir o começo e o fim, 
ligando o que foi e o por vir. Mas a sociedade capitalista impede a 
lembrança, usa o braço servil do velho e recusa os seus conselhos... A 
sociedade capitalista desarma o velho mobilizando mecanismos pelos quais 
oprime a velhice, destrói os apoios da memória e substitui a lembrança pela 
história oficial celebrativa. 
 
 
No capitalismo, portanto, a acumulação de bens constitui-se a marca que 
pesa sobre os destinos humanos. 
O papel de memória da comunidade e de transmissor da cultura em geral 
apareceu mais nas sociedades que preservam seus velhos. 
Não são razões econômicas, nem o fato de ser mais primitiva ou mais 
elaborada uma cultura, o que leva a tratar os velhos desta ou daquela maneira. 
O que define o sentido e o valor da velhice é o sentido atribuído pelos 
homens à existência, é o seu sistema global de valores. Se quisermos 
desvendar este segredo, muitas vezes cuidadosamente oculto, devemos 
atentar para o modo como esta sociedade trata seus velhos. (Simone de 
Beauvoir) 
 
20 
 
 
 
4 QUEM TEM MAIS MEDO DE ENVELHECER: O HOMEM OU A 
MULHER? 
Antes de passarmos à reflexão propriamente dita acerca das variáveis que 
influenciam a caracterização do grupo etário idoso masculino como minoritário, 
necessário se faz situar este grupo no contexto da população brasileira. 
Embora o envelhecimento seja um processo extremamente individual e 
condicionado à história de vida de cada pessoa, a organização Mundial da Saúde 
define como idosa a população de mais de 60 anos, entendendo-se este patamar 
como o momento em que um número significativo de pessoas passa a apresentar as 
características biopsicossociais que definem o envelhecimento. 
O aumento da expectativa de vida e o crescimento demográfico da população 
idosa no Brasil são fatos recentes, razão pela qual somente nos últimos 20 anos tem 
sido discutida, em termos de realidade brasileira, a questão social da velhice. 
Pouquíssimos estudos e pesquisas a respeito desse grupo etário foram até 
hoje realizados entre nós, razão pela qual praticamente os únicos dados de que 
dispomos são aqueles fornecidos pelos censos demográficos e ainda assim com 
poucas referências especificas à população de mais de 60 anos. 
Do ponto de vista social, a população idosa, tanto masculina como feminina, 
apresenta baixo grau de associativismo e reduzida participação política, profissional 
ou religiosa, exceção feita às poucas associações de aposentados, 
predominantemente masculinas, e aos grupos de lazer, predominantemente 
femininos, que muito recentemente vêm sendo criados e multiplicados, e se 
constituem nas primeiras tentativas de rompimento do isolamento e da 
marginalização social da velhice. 
Para este quadro desalentador é que se encaminham, num processo 
irreversível e biologicamente determinado, as pessoas que envelhecem. 
Numa perspectiva individual - e vale a pena ressaltar uma vez mais o caráter 
extremamente pessoal do processo de envelhecimento, o ser ou estar velho traz, 
portanto, uma série de consequências que afetam de forma mais ou menos intensa 
 
21 
 
 
 
as pessoas, segundo as suas condições individuais, sejam elas homens ou 
mulheres. 
No que diz respeito ao homem velho, alguns fatores culturais tornam muito 
difícil a adaptação a essa nova fase da vida, biologicamente determinada e 
socialmente imposta, caracterizada pelo esvaziamento de papéis sociais e por 
perdas significativas. 
O médico Claude Nahun, em seu artigo "A velhice da pessoa", afirma que 
trabalho e amor são antídotos para a patologia da velhice. Realmente, a cessação 
do trabalho pela aposentadoria, a redução das oportunidades de expressão da 
afetividade e as alterações da sexualidade, decorrentes do envelhecimento 
biológico, são os fatos que afetam de maneira mais efetiva a identidade masculina.Podemos dizer que com as mulheres, o mesmo não ocorre, pois mesmo que 
se aposentem, o papel de dona de casa, o papel social, continuam, além de aceitar 
melhor as alterações da sexualidade. Muitas podem até ter a “crise do ninho vazio” 
mas logo conseguem substituir por outros afazeres: Faculdade de Terceira Idade, 
rodas de amigas, etc. 
Na moderna sociedade capitalista em que vivemos, ser homem significa - e é 
valorizado como tal - estar engajado no mercado de trabalho, ser qualificado e 
reconhecido como produtor de bens ou serviços, e ter poder aquisitivo para ser um 
bom consumidor desses mesmos bens e serviços; em decorrência dessas 
condições, ser homem é também exercer autoridade a nível familiar, desempenhar 
os papéis de marido e pai de família, bem como o de macho; reprodutor ou não, 
através de uma intensa vida sexual, dentro e fora do casamento. 
A partir desse enfoque, o desengajamento do mercado de trabalho pela 
aposentadoria, nem sempre desejada, muito mais que um prêmio pelo esforço 
empreendido ao longo de uma vida, é vivenciado como um processo de 
desvalorização social que afeta profundamente o equilíbrio emocional daquele que o 
sofre. A este respeito assim se expressa o sociólogo Paul Bastíde em seu artigo "A 
ideia do tempo e o envelhecimento": “A dureza da sociedade onde vivemos, 
dominada por uma exigência de produção e de eficiência, contribui para agravar o 
peso do envelhecimento”. 
 
22 
 
 
 
Esta exigência manifesta-se brutalmente quando o limite de idade obriga a 
aposentadoria. “Essa constatação da incapacidade para a produção e da exclusão 
do ciclo da rentabilidade equivale para muitos, a uma condenação sem apelo a 
morte social, o homem percebe que foi apenas um instrumento de trabalho, sem 
jamais ter tido tempo de gostar do que fazia e de fazer aquilo que gostava". 
A aposentadoria implica necessariamente no retorno a casa, a um convívio 
familiar intenso com pessoas das quais o homem permaneceu afastado a maior 
parte do seu tempo, voltado até então predominantemente ao trabalho, Nesse 
retorno, a grande maioria dos homens constata que o seu papel de provedor da 
família ficou bastante abalado pela redução de renda que a aposentadoria acarreta e 
diminuiu, assim, de forma considerável a sua autoridade doméstica. Ele percebe 
também que seu papel de pai ficou bastante esvaziado: os filhos cresceram, 
tornaram-se adultos e donos da sua própria vida; com frequência julgam o pai 
ultrapassado e implicante, dificilmente aceitando os conselhos que dele venham por 
entendê-los inadequados; constata então o homem o desaparecimento da sua 
autoridade paterna, Para as mulheres, hoje com mais de 60 anos, e que, em sua 
grande maioria, permaneceram exclusivamente dedicadas aos afazeres domésticos, 
a presença do homem aposentado em casa é, muitas vezes, perturbadora da ordem 
até então por elas estabelecida; essa situação é geradora de conflitos, os quais, 
apenas eventualmente, são bem solucionados através de uma redistribuição de 
tarefas: e a reafirmação, a nível doméstico, da sua inutilidade, o relacionamento 
familiar, que se constituía muito frequentemente em fonte geradora de afetividade, 
passa a exercer função exatamente inversa. 
Quase sempre, o único papel social que a família oferece ao homem 
aposentado é o de avô, muitas vezes confundido com o de "babá" dos netos, papel 
este que, embora possa ser exercido com muita afetividade, não deixa de acentuar a 
sua condição de velho, aumentando a sensação de inutilidade e ameaçando 
profundamente a sua virilidade. Em face desta situação, o homem aposentado 
sente-se um "estranho no ninho", Vê decretada muitas vezes a sua "solidão em 
família" e busca então nos bares, nos bancos de praça ou em visitas aos poucos 
amigos que restaram, a possibilidade de viver das recordações do seu passado. 
 
23 
 
 
 
A estes sentimentos de solidão e inutilidade vem se juntar, e é até por eles 
agravada, uma enorme insegurança quanto ao desempenho sexual, um dos 
aspectos mais importantes da afirmação da masculinidade. O desconhecimento do 
processo biológico do envelhecimento e os tabus que cercam a sexualidade na 
velhice, precipitam o fim de uma vida sexual que poderia ser gratificante até os 
últimos dias. Sobre esse aspecto do envelhecimento, assim se expressam Robert 
Butler e Myrna Lewis, em seu livro "Sexo e Amor na Terceira Idade": "Os homens 
são as principais vítimas de uma vida inteira de ênfase excessiva no desempenho 
físico. A masculinidade é equiparada à proeza física. os homens mais velhos se 
julgam e são julgados pela comparação da frequência e potência do seu 
desempenho sexual com as de um homem mais jovem. Estas comparações 
raramente valorizam a experiência e a qualidade do sexo. Quando medidos por 
padrões essencialmente atléticos, os homens mais velhos são naturalmente 
considerados inferiores". No, entanto, estudos e pesquisas (realizados no campo da 
sexualidade humana) comprovam que sexo e velhice podem caminhar juntos: é 
apenas uma questão de ritmo, habilidade e utilização dos recursos existentes. 
Evidentemente o comportamento da companheira pode agravar ou aliviar o 
quadro de tensão emocional que se instala, quando do surgimento das primeiras 
dificuldades decorrentes do envelhecimento dos órgãos sexuais, razão pela qual, 
nessa fase da vida, o diálogo entre o casal sobre sua vida sexual assume uma 
importância extraordinária, Da mesma forma, alguma doenças podem trazer 
consequências a nível de desempenho sexual mas, com poucas exceções, não 
incapacitam permanentemente e podem ser resolvidas ou minimizadas com os 
recursos de que dispõe a geriatria. 
Estas considerações todas conduzem â conclusão de que não é fácil 
envelhecer na nossa sociedade, tanto para o homem como para a mulher. Nem é 
agradável, em princípio, passar a compor este segmento minoritário da população 
constituído pelos velhos. 
Podemos dizer que, e principalmente ao homem, nunca nos foi permitido o 
direito ao lazer. Sempre estamos preocupados com o PODER, com o TER, 
esquecendo-nos muitas vezes do SER. 
 
24 
 
 
 
Na terceira idade, na velhice, ou ainda na aposentadoria, o indivíduo na 
maioria das vezes deixa seu trabalho remunerado, mas não deixa de “fazer”, de 
“produzir”. Essa necessidade continua, pois é constante, é dinâmica, é evolutiva. 
Vários fatores bloqueiam ou dificultam o desempenho natural desse “fazer” 
nesse período. Os fatores podem ser: sociais, psicoemocionais, físicos, etc. 
Acreditamos que se o lazer for visto como algo importantíssimo no 
desenvolvimento do ser humano, desde cedo a pessoa passará a executá-lo, para 
mais tarde, quando aposentado ou idoso, saber usar o “tempo” sem sentir-se 
“culpado”, “premiado”. Infelizmente nossa sociedade ainda não nos permite enxergá- 
lo de modo como “direito” e não um “castigo”, um “pecado”. 
Somos preparados para o trabalho e rendimento, muitas vezes, só nos dando 
o devido descanso e lazer, quando ficamos doentes, onde não temos outra opção. 
Cada pessoa é única e especial, desenvolve seu próprio processo de 
envelhecimento e o envelhecimento entre os sexos tem pesos e valores diferentes. 
A mulher tem medo de envelhecer, mais em relação a estética, pois ela está 
sempre preparada para atividades sociais, com trabalhos caseiros ou não, ou então, 
vão em busca de algo para se realizarem, pois muitas vezes chegou a chance de 
tornarem-se donas de seu tempo, seu tempo livre, de lazer. 
O homem, após aposentado, dificilmente busca outra atividade. Se sente, 
conforme diz o texto, realmente “aposentado”, como se tivesse que ficar dentro dos 
aposentos da casa. Dificilmente, ele busca algo que o realize, percebem que seu 
tempo livre é “seu”, mas está tão condicionado ao trabalho, que não se permite. 
Acredito que em termos de estética, a mulher tem mais medo ou 
preocupação, pois já pesquisei junto a meninas e meninos, crianças e adolescentes,e veem a imagem de “FICAR VELHA É FICAR FEIA”. 
Quanto ao homem, é o medo de perder a virilidade, o papel de provedor e o 
deslocamento social. 
Saber quem tem mais medo de envelhecer entre os sexos, acredito ser difícil 
de medir, pois cada indivíduo é único, tem e dá o seu valor para a velhice ou 
envelhecimento. 
 
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4.1 Envelhecer – Um desafio 
 
Viver bem a idade que se tem é uma sábia aventura. 
 
Saber envelhecer com tranquilidade é um desafio salutar e permanente. A 
velhice é uma importante etapa do ciclo vital, uma fase natural do desenvolvimento 
da vida humana. Pode não ser a melhor, mas certamente não será a pior; é mais 
uma. Sabe-se que é privilégio de poucos, daí a importância de enfrenta-la com 
alegria e otimismo. 
Envelhecer é um processo vital e único, por isso cada um constrói o seu 
próprio roteiro, é ator e diretor da sua existência, por isso pode programar um “final 
feliz”. E mais, já que a morte é inevitável, por que não esperá-la vestida de gala, 
como para uma grande festa, o coroamento de uma bela caminhada terrena? 
O idoso, na verdade, não é apenas um idoso, é uma pessoa dotada de 
prerrogativas próprias. É um ser a “vir a ser”, sempre em transformação. 
Difícil é enfrentar os estigmas que lhe são impostos. Ao invés de indivíduos, 
as pessoas passam a ser apenas: mulher, negro, deficiente, carente, excepcional, 
mendigo ou velho. São olhados apenas pela ótica do estigma. Porém, muito pior do 
que o estigma social é o estigma que o indivíduo carrega, ele próprio, a respeito da 
sua condição estabelecida. 
Como já nos referimos anteriormente, Sartre já constatava essa acomodação 
da pessoa em aceitar todas as imposições feitas pelos outros. O velho introspecta 
esses estigmas e já não reage, talvez por julgar natural ou por sentir-se muito só 
para uma batalha tão feroz e até cruel. 
Em nossa sociedade há três preconceitos básicos: a cor, o sexo e a idade, 
sendo este último mais acentuado e profundo. 
Em se tratando do idoso, (carregado de idade), essa carga é extremamente 
agravada, pois ele se sente fragilizado ao acumular idade e aceita passivamente o 
que o meio lhe impõe. 
A velhice representa, para muitos, uma ameaça à vida, um caminho que 
aproxima, a cada dia, a chegada à morte, o desgaste da vida. 
 
26 
 
 
 
Diz a Dra. Mônica Rebouças – Geriatra, Coordenadora do Centro Geriátrico 
das Obras Sociais Irmã Dulce, BA: “Ao contrário do que se pensa, a decadência 
física não é o problema maior para as pessoas, o espelho incomoda, mas não 
assusta as pessoas. O medo da morte é real”. E nós acrescentamos: e cruel. 
Se a pessoa que envelhece for bem aceita, sem preconceitos, certamente 
terá novas e salutares expectativas para o seu futuro. Além disso, dará ainda uma 
perspectiva alvissareira e otimista para seus pósteros. Por isso é procedente afirmar: 
“Quem investe nos idosos investe no futuro da juventude”. 
 
 
4.2 Envelhecimento social 
 
Além do envelhecimento pessoal, acontece também o envelhecimento social, 
hoje talvez com um acentuado tom de melancolia e angústia. 
Pesquisas científicas, um tanto recentes, revelaram que boa parte das 
modificações mentais e comportamentais verificadas nos velhos não representam 
efeitos biológicos do envelhecimento, mas sim consequência das mudanças e até 
imposições de papéis na sociedade. 
Eis algumas situações que se evidenciam no estudo da problemática do 
idoso: 
 
 Progressiva diminuição nos contatos sociais: 
 
Os familiares vão diminuindo – a viuvez, os contemporâneos se ausentam, 
diminuem também as chamadas telefônicas, as cartas, as visitas, etc. O escritor 
Tristão de Atayde escreveu um dia: ”Mais um companheiro que desce, antes do 
tempo e antes de mim...” Isso assusta a qualquer um. 
 Distanciamento social: 
 
As gerações mais novas, a cada ano, estão realizando mais cedo o que era 
privilégio dos mais velhos, e, por vezes, o fazem com maior eficácia e perfeição – a 
tecnologia e a informática – isso propicia o afastamento das gerações. 
 
27 
 
 
 
Quem pode garantir que quem se afasta dos próprios grupos consiga integrar- 
se e adaptar-se a outros grupos? Mudança de emprego, aposentadoria, mudança de 
residência? 
 Progressiva perda do poder de decisão: 
 
Quando adultos, homens e mulheres aprenderam a analisar possíveis 
alternativas para as situações que enfrentavam, aprenderam, sobretudo, a decidir 
sobre o que lhes parecia mais acertado; desejavelmente, tornaram-se capazes de 
enfrentar os resultados positivos ou negativos das escolhas feitas. Com o passar do 
tempo, os mais jovens, progressivamente, começam a “resolver” a vida dos velhos. 
Muitas vezes os filhos passam a fazer o papel dos pais, decidem e até 
superprotegem os mesmos. 
 Progressivo esvaziamento dos papéis sociais: 
 
Intimamente ligado à perda de poder de decisão e, quase simultaneamente, 
como causa e consequência está o progressivo esvaziamento dos papéis sociais. 
Os velhos passam a ser valorizados pelo que “foram” – “meu avô foi” – e aí os 
idosos assumem e dizem “eu fazia”, “eu costumava dizer”, “no meu tempo”, vivem no 
passado, mas ainda estão vivos, isso é terrível. Corrói a própria identidade. 
 Alterações no processo de comunicação: 
 
Uma das possíveis consequências da perda de autonomia é a preocupação 
dos jovens em esconder os velhos fatos que eles, os mais jovens, acham que 
trariam preocupação, emoção. Tais atitudes aceleram o envelhecimento social e dão 
lugar a ressentimentos para com essas pessoas quando descobrem que lhe 
ocultaram alguma notícia, e o levam à solidão e à desconfiança. 
 Crescente importância do passado: 
 
O passado aos poucos se torna mais importante que o presente, pois o 
sujeito da ação, antigamente, era ele, o idoso de hoje. Pelo fato de ele ter, na 
atualidade, menor preocupação (a sua participação foi dispensada), ele pensa na 
morte, com muita frequência, pois perdeu o seu papel na família e na comunidade. 
Isto é a morte social que acelera a morte física. 
 
28 
 
 
 
Concluindo, podemos afirmar que pelo fato de o homem ser um ser 
essencialmente social, o natural é que o mesmo se integre na sua comunidade e ali 
possa trocar experiências, fazendo acontecer a realização pessoal e a dos seus 
semelhantes. 
Cabe à sociedade organizar-se de tal forma que possa assegurar um padrão 
mínimo de sobrevivência digna aos que nos precederam e construíram, com seu 
esforço e dedicação, o mundo que aí está. Prosseguir no seu aprimoramento 
depende de todos. 
O compromisso é bilateral. Assim como a pessoa é responsável pela 
sociedade, esta também é responsável pelos seus componentes. Quanto mais 
afinada a relação, tanto maior será a harmonia e o bem-estar. 
Aqui muito bem cabe aquela assertiva: “Ninguém é tão pobre que nada tenha 
a dar, como ninguém é tão rico que nada tenha a receber”. 
O idoso, que contribuiu para a construção da sua comunidade e do seu 
mundo, merece respeito e recompensa por sua doação, pela contribuição que 
acrescentou ao mutirão humano. 
 
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5 ASPECTOS PSICOLÓGICOS DO ENVELHECIMENTO 
 
O interesse pela psicologia do envelhecimento começou no início do século 
XX, quando alguns textos foram publicados por volta de 1922, pelo americano 
Stanley Hall, porém, como é sabida no início do século passado, a transição 
demográfica das populações de modo geral eram bem distintas do que se percebe 
hoje. 
A velhice é um conceito abstrato considerado como uma etapa da vida. A 
psicologia do desenvolvimento, os autores tem denominado velhice como a última 
das etapas do ser humano: infância, adolescência, idade adulta e velhice. Mas, 
assim como está claro de que a infância começa quando se inicia a vida fora do 
útero materno, a adolescência quando começam os primeiros embates da 
puberdade e a idade adulta quando o indivíduo se torna independente, assim fica a 
pergunta: Em qual a idade que começa a velhice? 
Algumas pessoasacreditam que a velhice não está necessariamente 
associada à idade e que são outros fatores como perder a ilusão pela vida ou as 
transformações físicas e mentais que marcam seu início. Outros consideram uma 
determinada idade cronológica como a fronteira da velhice. A resposta não está 
clara nem para as pessoas comuns, nem para os estudiosos, pois não existe uma 
idade que suceda algo de concreto que faça o indivíduo entrar na velhice. 
Como a idade cronológica não é um bom identificador da velhice, alguns 
autores tem se ocupado do conceito de “idade funcional” como o preditor obtido de 
diferentes indicadores sobre o funcionamento biológico, social e psicológico (o 
biopsicossocial) do indivíduo. Assim, por exemplo, a idade funcional seria obtida por 
indicadores como a desempenho do indivíduo nos aspectos biológico, psicológico e 
social. 
Como se pode constatar, não é tarefa fácil operacionalizar quanto ao marco 
da velhice. É interessante mencionar ainda que em países desenvolvidos, podemos 
considerar hoje que a velhice é aquela etapa da vida em que o indivíduo se 
aposenta, ou seja, deixa suas funções laborais. No entanto, ao considerarmos 
indivíduos que ingressaram cedo no trabalho, vamos concluir que os mesmos se 
aposentarão cedo também, alguns até mesmo antes dos 50 anos de idade. 
 
30 
 
 
 
Finalmente, uma distinção que se faz necessário realizar é que pode se 
estabelecer entre o processo de envelhecimento que ocorre ao longo da vida e a 
velhice como um estado que começa em um momento não muito bem definido, já 
que faz parte do ciclo da vida. Na realidade, esse processo começa quando se inicia 
a vida, de maneira que não existe vida orgânica sem envelhecimento. Assim, pode- 
se dizer que o envelhecimento é vida e viver leva, necessariamente, ao 
envelhecimento e nesse processo se produzem alguns padrões de mudanças e de 
estabilidade, assim como de desenvolvimento e declínio. 
Algo que é considerado velho é algo que já existe há muito tempo. No 
entanto, esse tempo não ocorre da mesma forma para todas as pessoas. O 
envelhecimento é, portanto, um processo individual e, por isso mesmo é uma 
experiência diferente para cada indivíduo. 
Em 1963, Erik Erikson, um dos pioneiros nos estudos sobre o 
desenvolvimento humano, com a formulação da Teoria do Desenvolvimento durante 
toda a vida, explicitava que o desenvolvimento se processa ao longo da vida e que o 
sentido da identidade de uma pessoa se desenvolve através de uma série de 
estágios psicossociais durante toda a vida. 
Esta teoria compõe-se de oito estágios, sendo o período da vida adulta (após 
41 anos) denominado de integridade do ego versus desespero, sendo que a 
integridade do ego é caracterizada por fatores intrínsecos à velhice como: dignidade, 
prudência, sabedoria prática e aceitação do modo de viver, e desespero seriam 
possivelmente medo da morte. Erikson, através destes estudos, contribuiu 
significativamente para a compreensão das transformações ocorridas na velhice, 
salientando-se o que, até então, nenhum outro autor na área da psicologia havia 
feito: dado ênfase ao estágio do desenvolvimento humano contemplando a vida 
adulta. 
A teoria de Erikson colaborou no sentido de oferecer sínteses sobre o 
desenvolvimento cognitivo e da personalidade, sobretudo na vida adulta. Após o 
desenvolvimento desta teoria, passaram-se décadas na psicologia sem a formulação 
de outra teoria do desenvolvimento da vida adulta. 
 
31 
 
 
 
Em 1978, outra teoria, desenvolvida por Gould, enfatiza os processos do 
desenvolvimento da velhice, seguindo uma abordagem similar a de Erikson, 
propondo também estágios de desenvolvimento. Estas teorias desencadearam, 
dentro da Psicologia do Desenvolvimento, relevância a este estágio do 
desenvolvimento humano, pois neste período já era despertado, em várias áreas do 
conhecimento, sobretudo a Gerontologia, o interesse em conhecer melhor os 
fenômenos peculiares ao processo de envelhecimento e à velhice. 
Denota-se, com os avanços dos estudos da Psicologia do Envelhecimento, a 
busca da velhice bem-sucedida, e, para tanto, alia-se a experiência de vida que os 
idosos possuem e os fatores da personalidade para que estes possam desenvolver 
mecanismos que contribuam para uma boa saúde física e mental, autonomia e 
envolvimento ativo com a vida pessoal, a família, os amigos, o ócio, o tempo livre e 
as relações interpessoais (Neri, 2004). 
A psicologia do envelhecimento é hoje a área que se dedica à investigação 
das alterações comportamentais que acompanham o gradual declínio na 
funcionalidade dos vários domínios do comportamento psicológico, nos anos mais 
avançados da vida adulta. 
Ela se refere à forma como o sujeito percebe a realidade e a interpreta, como 
se sente e valoriza esta relação com os demais e com o seu ambiente e acima de 
tudo como se comporta. 
O envelhecimento psicológico é o ponto de vista da ação e do efeito do tempo 
sobre as distintas funções psicológicas a respeito de tópicos tais como: 
personalidade, as funções cognitivas, a capacidade perceptiva, de aprendizagem e 
criatividade, a comunicação, a interação social com seus semelhantes e a 
afetividade e como os principais componentes do ser humano em qualquer momento 
de seu ciclo vital. 
O relacionamento do idoso com o mundo se caracteriza pelas dificuldades 
adaptativas, tanto emocionais quanto fisiológicas; seu desempenho ocupacional e 
social, o pragmatismo, a dificuldade para aceitação do novo, as alterações na escala 
de valores e a disposição geral para outros relacionamentos. No relacionamento 
com sua história o idoso pode atribuir novos significados a fatos antigos e os tons 
 
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mais maduros de sua afetividade passam a colorir a existência com novos matizes: 
alegres ou tristes, culposas ou meritosas, frustrantes ou gratificantes, satisfatórias ou 
sofríveis. Por tudo isso a dinâmica psíquica do idoso é exuberante, rica e ao mesmo 
tempo complicada. 
O médico Freud afirmava, com notável sabedoria, que os determinantes 
patogênicos envolvidos nos transtornos mentais poderiam ser divididos em duas 
partes: 
1- aqueles que a pessoa traz consigo para a vida; 
2- aqueles que a vida lhe traz. 
 
 
Na senilidade isso fica mais evidente ainda, de um lado os fatores que o 
indivíduo traz consigo em sua constituição e, de outro, os fatores trazidos a ele pelo 
seu destino. O equilíbrio psíquico do idoso depende, basicamente, de sua 
capacidade de adaptação à sua existência presente e passada e das condições da 
realidade que o cercam. 
Segundo o psiquiatra Ajuriaguerra, ao afirmar que "envelhece-se como se 
viveu", certamente estava se referindo aos traços pessoais de nossa constituição 
que acabam ficando mais marcantes com o envelhecimento. A prática clínica tem 
mostrado, embora nunca de maneira absoluta, que os indivíduos portadores de 
dificuldades adaptativas em idade pregressa envelhecem com maiores problemas do 
ponto de vista emocional. 
Se os acontecimentos existenciais eram sentidos com alguma dificuldade ou 
sofrimento na idade adulta ou jovem, quando a própria fisiologia era mais favorável e 
as condições de vida mais satisfatórias e atraentes, no envelhecimento, então, 
quando as circunstâncias concorrem naturalmente para um decréscimo na qualidade 
geral de vida, a adaptação será muito mais problemática. Portanto, está correto dizer 
que quanto melhor tenha sido a adaptação da pessoa à vida em idades pregressas, 
melhor será também sua adaptação no envelhecimento. 
Por outro lado, alguns autores observam uma significativa melhora em alguns 
casos de transtornos com o envelhecimento, fato também observável na prática 
psiquiátrica. Isso nos mostra, de fato, não haver uma desestruturação psíquica no 
 
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envelhecimento, mas sim, uma alteração estrutural na dinâmica psíquica, novos 
arranjos psicodinâmicos e nova arquitetura afetiva distinta da anterior.Porém, vale destacar que o processo de envelhecimento, mesmo diante de 
circunstâncias existenciais favoráveis para alguns idosos, como viver em um 
ambiente cheio de carinho, respeito e atenção, ao lado da família, adaptar-se 
satisfatoriamente a esta fase não é fácil, devido a certa fragilidade emocional própria 
dos traços afetivos dos idosos. Nestes casos não é, absolutamente, a vida ou as 
circunstâncias ambientais correlacionadas à senilidade que estariam proporcionando 
condições necessárias para a eclosão de transtornos, mas sim, as condições de 
personalidade prévia do idoso. É por causa disso que se envelhece como se viveu. 
 
 
5.1 Mudanças nas funções cognitivas 
 
As funções cognitivas são aquelas funções e processos que o indivíduo 
recebe, armazena e processa a informação relativa a si mesma, aos outros e ao 
mundo. Entre estas funções se destacam: a atenção, a percepção, a memória, a 
orientação e o juízo. 
A memória é a função cognitiva mais importante. Em relação às mudanças 
globais das funções intelectuais dos idosos, a memória exerce um papel cada vez 
mais importante. Ela é básica para a resolução de problemas e para a adaptação ao 
meio. 
Existem diferentes tipos de memória, assim como também muitas formas de 
classificá-las. Apresentaremos a seguir a forma mais conhecida: 
 Memória Sensorial: É a responsável em registrar a informação que nos 
chega através dos órgãos dos sentidos. Esta informação fica retida durante 
apenas alguns segundos em relação a cada um dos nossos sentidos (visão, 
audição, olfato, etc.). 
 Memória de Curto Prazo: Podemos entendê-la como o local onde se guarda 
a informação durante alguns segundos. Ela é limitada no sentido de não 
transferir a informação registrada para a memória de longo prazo, ela se 
 
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perde. Assim por exemplo quando “gravamos” um número de telefone, logo 
em seguida nos esquecemos. 
 Memória de Longo Prazo: É um armazenamento ilimitado, onde parte da 
informação que nos chega permanece durante muito tempo e inclusive de 
maneira “permanente”, uma vez que podemos recordar a informação, quem 
sabe para o resto de nossas vidas. A memória de longo prazo pode ser 
dividida em 03 tipos: 
 Memória Episódica - É responsável por recordar fatos concretos, como por 
exemplo, o que fizemos no natal passado, o nascimento de um filho ou qualquer 
outro acontecimento; 
 Memória Semântica – É responsável pelos conhecimentos de um modo 
geral, tais como a tabuada, os acontecimentos da II Guerra Mundial, ou seja, tudo 
o que aprendemos através dos nossos estudos; 
 Memória de Procedimentos – É aquela que serve para recordar a forma 
como se amarra um sapato, andar de bicicleta, correr, nadar, ou seja, todas as 
ações que aprendemos quando ainda éramos bem pequenos. 
Com o envelhecimento podem ocorrer determinadas patologias que levam o 
indivíduo a perder a memória, como por exemplo, a Doença de Alzheimer. 
De qualquer forma, mesmo em idosos saudáveis, é comum ocorrer uma 
dificuldade de memória, principalmente para memória recente, como com relação 
aos recados e compromissos. Esta dificuldade progride até certo nível e estabiliza. 
Esta situação é conhecida como perda benigna de memória da senilidade. 
 
 
 
5.2 Aprendizagem 
 
Existe um estereótipo de que o idoso não apresenta condições para aprender 
coisas novas. Ao contrário, existem diferentes estudos em que são demonstrados na 
prática que eles possuem uma plasticidade intelectual e conductual, ou seja, a 
capacidade de aprender, gerar estratégias, substitutivas para conseguir a 
aprendizagem. 
 
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Os idosos necessitam de um tempo de reação mais longo, que se observa em 
situações como entrevistas, a condução de veículos, o uso do telefone celular, o 
manejo com o computador, etc. 
Podem ter dificuldades na utilização de algumas técnicas de aprendizagem, 
como a associação e a visualização. Além disso, existe uma tendência a serem mais 
precavidos. 
Assim como na memória, pode-se afirmar que na aprendizagem, a maior 
complexidade, rapidez e abstração ocorrem com maior dificuldade. 
 
 
 
5.3 Funcionamento Intelectual 
 
Os resultados obtidos segundo estudos e investigações é que existem fatores 
que influenciam no funcionamento intelectual, tais como grau de escolaridade, o 
entorno estimulador, o estado de saúde física e psíquica, as perdas sensoriais, os 
aspectos biográficos e de personalidade, a motivação e a relevância do material 
utilizado. 
Com o passar dos anos necessitamos de mais tempo para a resolução de 
problemas, por exemplo, pois a inteligência fluída diminui, isto é, a agilidade mental. 
O idoso apresenta uma maior lentidão na solução de problemas, elaboração de 
informações e no tempo de reação diante das atividades e tarefas, enquanto que a 
inteligência cristalizada melhora, pois esta é baseada nos conhecimentos adquiridos 
através da experiência. 
No funcionamento intelectual, destacam-se os seguintes aspectos: 
 
a) São mantidos: A compreensão, a capacidade do juízo, o vocabulário e os 
conhecimentos gerais. 
 
b) Diminuem: A memória, a atenção, a concentração, a assimilação e a agilidade da 
reação. 
 
As mudanças rápidas no rendimento cognitivo são indicadores significativos 
de deterioração física ou psíquica que merecem uma investigação e 
acompanhamento médico. 
 
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5.3.1 Criatividade 
 
A curiosidade com relação às perguntas e respostas e às novidades é mais 
presente na população jovem, porém, os estudos apontam que a relação entre 
criatividade e idade se mantém estáveis ao longo do tempo. Podemos comprovar 
esta tese através das artes (música, literatura, etc.). 
 
 
5.3.2 Linguagem 
 
Podemos apontar algumas características descritas em diferentes estudos 
são: 
 
 Tendência em utilizar frases mais longas e complexas; 
 Diminuição da discriminação e compreensão da linguagem falada; 
 Diminuição da capacidade de nomeação; 
 “Erro semântico”, tendência a circunlóquios (explicação substituindo a palavra 
em falta, por exemplo, em lugar de “copo”, pode ser dito “isso aí que serve para 
beber água”); 
 Mudanças nas conversas, pois se recordam que disseram algo, mas custam 
para recordar para quem disseram por exemplo. 
 
 
 
5.3.3 Outras Alterações 
 
 Capacidade Psicomotora 
 
Entre as modificações mais importantes na capacidade psicomotora se 
destacam: 
 Alteração dos reflexos; 
Transtornos do equilíbrio; 
 Transtornos do conhecimento do próprio corpo; 
 Transtornos na execução dos atos voluntários; 
 Diminuição da capacidade de conhecimento perceptivo e de identificação; 
Transtornos da escrita. 
 
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É importante assinalar que quanto às alterações nas articulações e ossos, 
que podem provocar osteoporose e osteoartrite, muito presentes na população 
idosa, principalmente feminina. 
 Personalidade e Ajustes 
 
Durante muito tempo a personalidade do idoso foi caracterizada pela redução 
da energia, da força, da resistência e uma diminuição da atividade social, redução 
de interesses, de metas e projetos. 
Sob outras perspectivas, hoje se fala mais de uma mudança que 
propriamente de diminuição. 
Alguns estudos apontam que a ideia principal com relação à personalidade do 
idoso é de que esta tende a se tornar estável e não mais marcada por tantas 
alterações e nuances como em outras fases da vida. 
Como fase mais avançada do processo evolutivo, ao chegar à velhice a 
integridade, como uma aceitação do que foi possível realizar ao longo da vida, 
aceitando os êxitos e assumindo os fracassos se torna mais fácil. 
 Reações frente às mudanças 
 
Como enfrentamos às mudanças com o passar dos anos? As reações 
afetivas e emocionais são diversas e é importante destacar: 
 A problemática; 
 Os vários tipos de personalidade; 
 A históriapessoal e de aprendizagem. 
 
Desta forma, algumas reações são possíveis: 
 
 Recolher-se, evitando as situações estressantes como forma de 
autoproteção; 
 Irritação, mau humor pelo aumento da dificuldade para o ajuste social; 
 Dependência de algum familiar ou de alguém, por exemplo, um Cuidador. 
Este é um reflexo claro da diminuição da competência e um fator de risco para a 
depressão; 
 
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 Afrontamento de novas situações através de novos interesses, novas 
estratégias de ajustamento, um maior esforço para aproveitar a relação com os 
demais. 
 Perdas e Viuvez 
 
Nesta etapa do ciclo vital aumenta consideravelmente a possibilidade de 
ocorrer perdas vitais significativas e da viuvez, que é sem dúvidas a crise mais 
prejudicial nesta etapa. 
Ocorrem perdas reais como a viuvez, perdas físicas de amigos, perda física 
do emprego com a aposentadoria e perdas simbólicas, como a perda do papel 
profissional com a saída do mercado laboral. 
O ser humano enfrenta estas perdas através de um processo denominado 
duelo, mecanismo adaptativo que permite superar a dor e o impacto psicológico. 
BOWLBY fala de várias fases neste processo: 
 Embotamento afetivo (dificuldades em expressar sentimentos e emoções); 
 Desejo intenso e busca da figura perdida; 
 Desorganização e desesperança; 
 Reorganização. 
Nem sempre se realiza de maneira adequada este processo e pode haver 
problemas. É importante diferenciar alguns sinais e sintomas e, esses podem 
denominar de duelo psicológico. 
 Duelo Normal 
 
No duelo normal existe uma causa desencadeante, estão presentes a tristeza 
e o retraimento, e se dá uma aceitação da perda sem desaprovação. Tudo isso se 
configura em um processo necessário. 
Neste duelo existem fases, a saber: 
 
1ª Fase: 
 
Tem a duração de várias semanas e se inicia logo em seguida a morte do 
ente querido. 
 
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 Comoção e incredulidade; 
 Mostra-se ausente e confuso; 
 Relacionamentos frios e distantes; 
 Instaura-se uma barreira diante da pessoa; 
 Possível estado de dor aguda (moléstias orgânicas do tipo nervoso, sensação 
de rigidez, vazio estomacal, cansaço muscular, tensão); 
 Sentimento de culpa; 
 Inquietude e dispersão nas tarefas; 
 Eventual hostilidade com os familiares; 
 
2ª Fase: 
 
Inicia-se após 03 semanas e dura aproximadamente até 01 ano. 
 
 Recordação obsessiva do (a) falecido (a); 
 Aceitação gradativa da realidade quanto à perda; 
 Repentinas e fortes reações de dor; 
 Necessidade de relacionar-se com as demais pessoas. 
 
3ª Fase: 
 
A partir do 2º ano. 
 
 O sujeito se adapta a perda do ente querido; 
 Consciência da inutilidade de refugiar-se ao passado; 
 Melhora nas relações familiares e sociais; 
 Amadurecimento quanto ao significado da própria vida. 
 
 Duelo Patológico 
A diferença do duelo que o idoso realiza normalmente pode surgir: 
 A não aceitação da perda; 
 Muita referência ao objeto perdido; 
 A resposta emocional dura por meses ou anos; 
Eventuais transtornos psicossomáticos; 
 
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 Desorganização; 
 Bruscas mudanças entre calma e irritabilidade; 
 Depressão; 
 Insônia; 
 
Autodesvalorização; 
Baixa autoestima; 
 Sintomas hipocondríacos (crença de padecer de uma doença grave) e fóbicos 
(medo, temor de algo ou de situações); 
 Enjoos e dores de cabeça; 
 Sintomas que identificam com a enfermidade do (a) falecido (a); 
 Incapacidade de superação e consequentemente necessidade de 
acompanhamento terapêutico. 
 
 Relações Familiares 
 
As relações familiares exercem um papel primordial no sentimento do bem 
estar psicológico. Nos idosos ocorre um processo de reestruturação familiar 
motivado pela saída dos filhos de casa, pela aposentadoria, incorporação de novos 
membros na família ou perdas. 
Atualmente as relações familiares e a estrutura da instituição familiar foram 
modificadas consideravelmente e as principais características são: a diversidade de 
modelos e arranjos desta instituição, ou seja, o surgimento de famílias 
monoparentais em decorrência das separações, divórcios, aumento do número de 
pessoas solteiras e sem filhos. Também é importante destacar a transformação da 
família extensa com muitos filhos (03 gerações) para a família nuclear, a 
incorporação da mulher no mercado de trabalho, as dificuldades das famílias em 
desempenhar o papel de cuidadoras dos seus idosos, em função de suas 
residências cada vez menores e o importante aumento do custo de vida. 
No entanto, a família segue desempenhando este papel de suporte 
comunitário e apoio psicoafetivo e emocional de maneira fundamental para seus 
idosos, e, esta realidade está presente principalmente nos países latinos e em 
 
países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil. 
 
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 Sexualidade 
 
Ainda é visível o discurso social e o preconceito que a sociedade tem em 
relação à sexualidade na Terceira Idade. As pessoas em sua grande maioria, 
insistem em acreditar que o desejo e a atividade sexual desaparecem à medida que 
o sujeito envelhece. A crença de que o avançar da idade e o declínio da atividade 
sexual estejam ligados, faz com que não se dê a devida atenção a uma das 
atividades associadas à qualidade de vida, como é o caso da sexualidade. 
A nossa cultura moderna preconiza que o corpo velho não é algo desejável. 
Os avanços tecnológicos na área da estética estão cada vez mais presentes com o 
objetivo de retardar o processo do envelhecimento. Apresentam-se uma variada 
oferta de produtos endereçados àqueles que buscam se esquivar dessa 
confrontação com o real do corpo. Desta forma, é então instituído um novo mercado 
de consumo com a promessa da “eterna juventude”. 
CONFORT (1985) menciona que a resposta sexual humana na velhice é 
normal se não é afetada por enfermidades psíquicas, ansiedade ou expectativas 
sociais, que é o principal fator da diminuição da conduta sexual. 
Uma das variáveis mais relevantes na conduta sexual e afetiva é a 
disponibilidade do (a) parceiro (a), especialmente das mulheres. 
O interesse sexual no passado, a própria experiência da pessoa, a frequência 
das relações sexuais são os principais preditores do comportamento sexual atual, 
associado ao estado geral de saúde e às modificações fisiológicas provenientes do 
processo do envelhecimento. 
No sexo feminino cabe destacar as mudanças hormonais após a menopausa, 
que é caracterizada pela cessação da menstruação e carência do estrógeno. Desta 
forma, as mulheres sofrem uma série de mudanças físicas com a alteração dos 
tecidos da vulva, vagina, trompas, seios, mucosa da bexiga e também a perda da 
fertilidade. Com a diminuição da lubrificação da vagina, ocorre, portanto, maior 
dificuldade para o ato sexual, e consequentemente maior risco de infecções 
vaginais. Com isso, perde-se os padrões da juventude, o que não significa dizer que 
se perde o desejo sexual, que permanece por toda a vida. Os sentimentos de perda, 
de falência, podem surgir neste período e devem ser considerados. 
 
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No sexo masculino por sua vez, ocorre a andropausa, e ao contrário das 
mulheres, não existe uma idade pré-estabelecida para determiná-la. Manifestam 
uma gradual perda da potência sexual com a diminuição hormonal da testosterona e 
também, há alteração da capacidade erétil devido a problemas vasculares, 
incompetência dos corpos cavernosos e problemas emocionais com o rebaixamento 
da libido (desejo). Porém, o homem não perde a capacidade reprodutiva como a 
mulher. 
Na atividade sexual, seja ela com o (a) parceiro (a), seja ela através da 
prática masturbatória, a fantasia é fundamental. Desenvolver a

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