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AULA 3 - ESTRUTURAS DE MERCADO E OS ASPECTOS JURÍDICOS Conceituação de Estruturas de Mercado As estruturas de mercado se dividem inicialmente entre o mercado de bens e serviços e o mercado de fatores de produção. Nessa relação, pode-se representar a economia através de um fluxo circular em que seus diferentes componentes se complementam, interagindo como fornecedores e consumidores uns dos outros dependendo do mercado em que se encontrem. Veja um exemplo: Famílias e empresas, podem ser demanda ou oferta, dependendo da posição em que se encontrem no mercado. Dessa forma, em uma posição: As empresas no mercado de bens e serviços são os ofertantes > os membros das famílias são os demandantes das empresas. Na posição oposta: No mercado de fatores de produção, os membros da família são os ofertantes > as firmas / empresas são seus demandantes. Desse modo, pode-se definir o mercado como: Um conjunto de relações que são travadas pelos agentes econômicos (demanda e oferta) em torno de um dado produto, ou conjunto de produtos, em certo período de tempo. Sua estrutura irá, portanto, depender da forma como os agentes econômicos estão organizados. Assim, ao analisar o mercado pelo lado de como os fornecedores (oferta) estão organizados frente aos consumidores (demanda), tem-se as estruturas do mercado de bens e serviços, mas se esta análise privilegiar a forma como os consumidores estão organizados frente aos fornecedores, tem-se as estruturas do mercado de fatores de produção. Mercados produtores Os mercados produtores estão estruturados de modo diferenciado, podendo ser classificado dos seguintes modos: · Concorrência perfeita · Monopólio · Oligopólio Vamos conhecer cada classificação com mais detalhe, a seguir. Concorrência perfeita A concorrência perfeita, ou competição pura, é a estrutura adequada, visando o funcionamento ideal da economia, servindo como parâmetro em face das outras estruturas de mercado. Para isso devem ser preenchidos os seguintes requisitos: A existência de um número muito grande de empresas produtoras e de compradores no mercado, em que nenhum destes possui condições suficientes de influenciar o mercado; Os bens, serviços ou produtos são padronizados, não diferenciados (homogêneos); As empresas não têm nenhum tipo de influência em relação aos preços dos produtos, informações privilegiadas, na realidos segade, este mercado é transparente; Não existem impedimentos, acordos, restrições, barreiras à entrada ou saída de outras empresas no mercado (mobilidade). A Constituição Federal de 1988 incorpora a livre iniciativa no Título VII – Da Ordem Econômica e Financeira” em seu artigo 170, inciso IV. Observe: A ordem econômica fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: (...) IV – livre concorrência. Monopólio O monopólio é a falta, a ausência de concorrência, é uma figura que se situa em sentido oposto ao da livre concorrência preceituada pela Constituição Federal em seu artigo 170, inciso IV, pois tem o poder de influenciar o mercado, significando a existência de um único fornecedor, podendo neste caso, impor o preço que desejar para suas mercadorias e ficando, assim, sujeitado ao nível de vendas dele decorrente. O monopólio é o modo mais nítido de poder de mercado e tem como características básicas: Existência de única empresa produtora no mercado, sem concorrência na oferta, ou seja, um único vendedor; ou um vendedor que controla toda a oferta do mercado; Controle sobre a matéria–prima, produto ou serviço; Barreiras ao registro de novas patentes, afastando qualquer concorrente; Não há produtos similares, que podem ser substitutos; Situação privilegiada na quantidade produzida e no preço, maximizando o lucro. O monopolista está só e decorrente disso, é que tem liderança para escolher o preço de suas vendas. Atenção É importante ressaltar que o governo em determinados casos, tem papéis distintos quanto a esta estrutura de mercado monopolista. Pode ser um lugar de combate, para evitar o abuso do poder econômico, onde o governo dá garantias, criando monopólios legais, garantindo o direito de propriedade, direitos autorais, patentes, como nos Correios, entre outros. Concluindo, não é preciso se preocupar com a concorrência, porque ela não existe. Quanto ao monopólio natural, é uma situação em que temos bens exclusivos e com quase nenhuma rivalidade. Este tipo de mercado, em sua maioria, é regulamentado pelo governo, sendo longo o prazo de retorno. Pode-se citar o gás natural e a distribuição de energia elétrica como exemplos. Oligopólio O oligopólio é uma situação de concentração de mercado, ou seja, é um tipo de mercado dominado por um reduzido número de grandes empresas, com alto grau de concentração local, e estas empresas influenciam o preço de mercado de maneira ostensiva, o que leva as outras firmas a reagirem em face ao abuso do poder econômico. As empresas oligopolistas, que não são em grandes quantidades, promovem o domínio de determinada oferta de produtos e/ou serviços, que podem ser homogêneos ou diferenciados, formando barreiras à entrada de potenciais concorrentes, efetuando gastos de grande monta em tecnologia de ponta, produção em larga escala, marketing, entre outros, ou se associando aos grandes grupos econômicos, inviabilizando a entrada de novas empresas no mercado. Sendo assim, pode-se afirmar que a receita operacional dos oligopólios tem significativa influência no Produto Interno Bruto (PIB) dos países. Exemplo Pode-se dar como exemplo as empresas do ramo de laboratórios farmacêuticos, aço, alumínio, cimento, aviação, bancos, comunicação. Os oligopólios podem ser divididos em três categorias: Oligopólio diferenciado Quando os produtos das empresas apresentam diferentes níveis de diferenciação, com características particulares em cada produto, e estabelecem um nível de concorrência maior entre os participantes do mercado. Oligopólio concentrado Quando o produto das empresas participantes é tão idêntico, homogêneo, que as empresas passam a só ter a escala de produção como forma de competição pelo mercado, fazendo com que apenas organizações de porte e com alto nível de concentração do mercado possam existir. Muitas vezes o grau de concentração é tão alto em determinados mercados que apenas duas empresas atuam, transformando sua estrutura em um “Duopólio”, caso extremo do oligopólio em que há apenas duas grandes empresas controlando a oferta do mercado. Oligopólio conivente Constituem um grupo de empresas que, de modo tácito, colocam o mesmo preço nos seus produtos e/ou serviços, porém com uma dessas empresas liderando a fixação dos preços. As formas de organização empresarial presentes no oligopólio podem ser: cartéis, trustes e holding. Vamos conhecê-las, a seguir. Cartel No cartel, as empresas são legitimamente independentes e, de modo geral, têm atuação no mesmo ramo, acordando entre si e, promovendo a dominação de mercado de modo geral, através da combinação de preços, seja no ramo de produtos ou de serviços. Desse modo, pode-se identificar a caracterização de prática abusiva, com vistas ao domínio de mercado, aumentado expressivamente seus lucros, contrariando, assim, a livre concorrência preceituada na Constituição Federal brasileira em seu artigo 170, inciso IV. Truste Truste é uma estrutura empresarial em que empresas, em geral, do mesmo ramo ou setor, e que detêm grande parte do seu mercado, organizam-se em uma nova empresa para, em conjunto, dominarem este mercado, fornecendo um produto em comum e, com isso, eliminarem a concorrência e fixarem um preço único de acordo com seus interesses. Essa é uma associação que pode ocorrer pela fusão ou combinação formal de empresas já existentes no mercado. Caso essa associação se dê por uma combinação formal e não por uma fusão, as empresas envolvidas podem manter suas estruturas administrativas e produtivas separadas, com intuito de retornarem as suas condiçõesanteriores caso os resultados obtidos não sejam os esperados. Holding ou sociedade gestora de participações sociais A holding é uma situação em que é criada uma empresa para que esta venha a administrar um conglomerado empresarial. Assim, pode-se vislumbrar uma poderosa estratégia de gestão, com o objetivo de promover o domínio de determinada oferta de qualquer tipo de produtos e/ou serviços, visando engrandecer seus lucros. Para melhor entendimento, pode-se tratar a holding como sendo, na realidade, uma sociedade empresarial juridicamente independente, com objetivo de participação no capital de outras sociedades empresariais. Como exemplo, o verificado no setor bancário, no de seguros, entre outros, pelo fato de virem a concentrar o controle de suas diversas empresas. Essa forma de administração é muito praticada pelas grandes corporações nessa era de globalização. Vamos fazer uma pausa para analisar uma situação! As empresas A, B e C, atuantes no ramo alimentício, realizaram uma combinação de preços para venda de alguns dos seus produtos com o intuito de dominar o mercado geral. Essa atividade é caracterizada como: Holding Truste Cartel Abuso do Poder Econômico O abuso do poder econômico é uma prática abusiva, porém de difícil identificação, pois não se trata de uma empresa acompanhar o preço da outra, praticando o uso de preços similares, como acontece na indústria automobilística, pois isto é competitividade e não conluio. Sendo assim, cada vez fica mais difícil sua caracterização. O artigo 173, parágrafo 4° da Constituição Federal reprime o abuso do poder econômico para que não haja a dominação dos mercados, combatendo a eliminação da concorrência como também o aumento arbitrário dos lucros. Tal preceito constitucional foi complementado pela lei antitruste, Lei n° 8884 de 11 de junho de 1994, quase integralmente revogada pela Lei no. 12.529 de 30 de novembro de 2011, coibindo, assim, os atos de concentração, as infrações à ordem econômica, com o intuito de restaurar o processo de concorrência no mercado e reprimir os abusos praticados no mercado de consumo. Destacamos, a seguir, alguns artigos da Lei no. 12.529 de 30 de novembro de 2011. Observe: Art. 1º Esta Lei estrutura o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência - SBDC e dispõe sobre a prevenção e a repressão às infrações contra a ordem econômica, orientada pelos ditames constitucionais de liberdade de iniciativa, livre concorrência, função social da propriedade, defesa dos consumidores e repressão ao abuso do poder econômico. Art. 4º O Cade é entidade judicante com jurisdição em todo o território nacional, que se constitui em autarquia federal, vinculada ao Ministério da Justiça, com sede e foro no Distrito Federal, e competências previstas nesta Lei. Preceito constitucional sobre a concorrência A Carta Magna de 1988 enfatiza o livre mercado através de seus princípios gerais, voltado para políticas públicas direcionadas ao bem-estar social. Destacamos, a seguir, um trecho do Art. 170 que trata do assunto. Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: I - soberania nacional; II - propriedade privada; III - função social da propriedade; IV - livre concorrência; V - defesa do consumidor; VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação; VII - redução das desigualdades regionais e sociais; VIII - busca do pleno emprego; IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País. Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência (SBDC) Como vimos, o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência (SBDC) foi estruturado pela Lei nº. 12.529 de 30 de novembro de 2011 e é formado por: Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) Atua como tribunal administrativo. Suas decisões não cabem recursos na esfera do Poder Executivo, podendo apenas sofrer revisão no Poder Judiciário. Destaca-se o seu papel preventivo, pois, na realidade, o que é feito é a análise dos atos de concentração, tais como nas fusões, nas incorporações e nas associações empresariais. Secretaria de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda (SEAE) Tem função analítica e investigativa, atuando na instrução dos processos. É um órgão consultivo, de assessoramento técnico ao CADE, vinculado ao Ministério da Fazenda, que atua na emissão de pareceres técnicos para subsidiar as decisões do CADE. É um órgão do Poder Executivo, que acompanha a formação de preços da economia, reajustes de tarifas e analisa atos de concentração excessiva em determinado segmento da economia. Atua em sintonia com as Agências Reguladoras Federais no sentido de combater regulamentações impróprias, estimulando a concorrência nos mercados. Secretaria de Direito Econômico (SDE) Da mesma forma que o SEAE, possui função analítica e investigativa, atuando na instrução dos processos. Saiba Mais O governo brasileiro vem atuando nos últimos anos no sentido de combater os abusos no mercado de consumo e a concentração excessiva no processo produtivo. Há alguns anos, ocorreram discussões no âmbito do CADE sobre a fusão da Brahma e da Antártica, dando origem à criação da AMBEV. Posteriormente, foi submetida ao CADE o processo de aquisição da Garoto pela Nestlé, o que poderia ocasionar uma concentração excessiva no processo de fabricação de chocolates. Atividade Vamos exercitar os seus conhecimentos! Imagine uma empresa do ramo automobilístico que produz um carro sustentável, de baixo custo de produção e de baixo consumo de combustível. Esse automóvel tem tido bastante procura devido à tendência mundial de preservação do meio ambiente. Além disso, apenas essa empresa produz esse tipo de automóvel no mercado, ou seja, ela não possui concorrentes. Esse fato contribuiu para que essa empresa estipulasse o preço que desejasse ao seu produto, sujeitando-o ao nível de vendas dele decorrente. Podemos classificar esse tipo de mercado como: Monopólio Concorrência perfeita Oligopólio Nesta aula, você: · Examinou as estruturas de mercado; · Analisou os preceitos constitucionais sobre a concorrência; · Esclareceu a Lei Antitruste e o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência. TESTE DE CONHECIMENTO 1 - Um exemplo mais próximo de uma estrutura de mercado em concorrência perfeita é o: das companhias de telefonia celular. da indústria de bebidas. do mercado de hortifrutigranjeiros. da indústria de alumínio. da indústria de automóveis. Explicação: É preciso entender que o mercado de concorrência perfeita é um modelo teórico e que sua principal característica refere-se ao fato de existir um número muito grande de agentes de oferta (firmas, vendedores, etc.) e que cada agente é, individualmente, suficientemente pequeno para poder influir no preço de mercado. Assim, não é a firma que fixa o preço para seu produto, e sim é o mercado que dita o mesmo, fazendo com que a empresa seja considerada uma tomadora de preço. Como exemplo, imagine que você resolva ser mais um dos centenas de ambulantes que vendem cerveja na praia. Que preço você cobrará? É claro que se tomar essa decisão terá que aceitar o preço que o mercado estipular. Pelo enunciado da questão, percebe-se que o mercado de hortifrutigrangeiros é o que se assemelha ao de concorrência perfeita. 2 - O mercado de monopólio é caracterizado: por poucos produtores para atender a muitos consumidores por muitos produtores para atender a um único consumidor por um único consumidor atendido por muitos produtores por poucos produtores para atender a um único consumidor por um único produtor para atender a muitos consumidores Explicação: Monopólio é uma situação econômica em que uma única empresa controlaa produção e comercialização, ou apenas uma destas atividades, de um determinado produto ou serviço. Ver aual 3 do Conteúdo, Estruturas de Mercado. 3 - O setor de construção civil, nas grandes cidades brasileiras, é composto, de modo geral, por pequeno número de grandes empresas que atendem a maior parte do mercado, com certo grau de diferenciação e identificação direta pela marca. Isso corresponde a uma estrutura de oferta de: Duopólio Concorrência perfeita Oligopólio Monopólio Concorrência imperfeita Explicação: A descrição corresponde, em termos gerais, a uma estrutura típica de oligopólio. O fato de, na prática, existirem pequenas empresas que operem no setor, não deixa de caracterizar a estrutura oligopolista, uma vez que a maior parte do mercado é atendida pelas grandes empresas. 4 - Qual das características abaixo NÃO pertence à estrutura de mercado denominada monopólio? inexistência de bens substitutos mercado atomizado empresas com poder de mercado. existência de barreiras à entrada e saída de firmas; bens heterogêneos; Explicação: O monopólio pressupõe a existência de um único ofertante para um produto ou serviço, assim, o mercado não é atomizado 5 - Avalie as afirmações abaixo. I. Em determinado mercado, a existência de grande número de compradores e vendedores, a homogeneidade dos produtos e a existência de informação completa acerca do preço do produto são requisitos insuficientes para a classificação desse mercado como de concorrência perfeita. II. Na concorrência perfeita, uma empresa que queira aumentar seu preço acima do preço de mercado não venderá produto algum. III. As empresas vendem tudo o que produzem ao preço de mercado. A sequência correta é: V, F, V. F, F, F. V, V, V. F, V, V. F, V, F. Explicação: todas as afirmações estão de acordo com a teoria de concorrência perfeita. 6 - Dentro do contexto de estrutura de mercado, podemos classificar os tipos de estruturas a partir das seguintes características: I. Número de empresas que compõe esse mercado; II. Tipo de produto; III. Possibilidade de acesso de novas empresas ao mercado; IV. Idade do mercado analisado; V. Tamanho do território; Marque somente a questão que tem todas as afirmativas corretas: IV II, III e V I, II e III I e V IV e V Explicação: A caracterização do tipo de mercado de um produto dá-se pelo número de empresas ofertantes que o compõe, pelo tipo de produto em análise, pela forma de fixação do preço e pela existência ou não de barreiras a ingresso de novos concorrentes. A idade do mercado bem como o tamanho do território que se esteja analisando não fazem parte desse rol de características. 7 - Não faz parte das características de concorrência perfeita uma única empresa produtora do bem e serviço mercado atomizado livre entrada e saída de firmas produto homogêneo price takers- tomadores de preços Explicação: a resposta errada é a letra e onde este conceito faz parte de monopólio 8 - O fato de no mercado de concorrência perfeita o preço ser um dado para o produtor é decorrente: do pequeno número de vendedores e compradores do grande número de vendedores e compradores do grande número de vendedores e pequeno de compradores de não haver compradores do pequeno número de vendedores e grande de compradores 2