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aula 02

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História da África Pré Colonização
Apresentação
Nesta aula, serão analisados os principais aspectos sociopolíticos do Egito Antigo. Conheceremos parte da dinâmica do Reino da Núbia (também conhecido como Kush) e examinaremos as constantes relações estabelecidas entre as duas sociedades durante a Antiguidade Clássica.
Objetivo
· Analisar aspectos gerais no Egito Antigo;
· Examinar a organização sociopolítica e econômica do Reino da Núbia;
· Relacionar a trajetória do Egito faraônico com a dinâmica política dos núbios.
Refexão
Antes de iniciarmos a nossa aula, vamos realizar uma breve atividade de reflexão!
O papiro acima apresenta uma rainha Núbia sendo servida por suas serviçais oriundas do Egito. Antes de iniciar a aula, elabore uma hipótese sobre as possíveis razões que criaram as condições para a produção dessa imagem. Após a leitura da aula, analise a hipótese levantada.
O Egito
O mapa ao lado mostra a localização do Reino do Antigo Egito, cuja existência estava fortemente vinculada ao rio Nilo. Com todas essas vantagens naturais, as famílias que passaram a viver nessa região encontraram as condições ideais para a produção da agricultura. Trigo, cevada, cebolas, rabanetes, ervilhas, feijões, uvas, figos, tâmaras e oliveiras. Esses são exemplos de alguns dos gêneros produzidos na região.
A vegetação rasteira facilitou a criação de gado, carneiros e porcos que junto com os grãos e frutos cultivados proporcionaram uma alimentação rica e variada. Como a falta de alimentos não era um problema para as aldeias que viviam às margens do Nilo, a população da região cresceu rapidamente.
Por volta do ano 3200 a.C., as aldeias  que tinham seus chefes e deuses próprios começaram a se unir e formaram dois reinos: o Alto e o Baixo Egito. Pouco tempo depois, o rei Menés do Alto Egito, querendo ampliar suas terras e controlar toda a produção agrícola da região, conquistou o Baixo Egito formando um só reino cuja capital era Mênfis.
A partir de então, o Egito passou a ser governado por famílias reais e as antigas aldeias deram lugar às cidades onde foi possível o desenvolvimento da escrita, da arquitetura, e das artes.
Durante mais de três mil anos, o soberano do Egito era o faraó, a principal figura desse reino. Tido como reencarnação de Hórus (o Deus-Falcão) e como filho de Amon-Rá, o Deus Sol, o faraó era uma figura sagrada, uma espécie de deus na terra, e por isso a vida de todo Egito girava em torno dele, o que lhe dava muitos poderes. Munido de seu cetro e seu cajado, símbolos de autoridade e que representavam os antigos reinos do Alto e do Baixo Egito, o faraó tinha poder de vida e morte sobre todo seu reino.
Além disso, era ele quem cuidava do sistema de irrigação que mantinha as terras férteis, quem decidia assuntos referentes à justiça e administração do Egito e ainda era o comandante principal do exército em tempos de guerra.
Apesar das diversas tarefas realizadas, o faraó tinha as melhores condições de vida de todo o Egito. Morava com sua família em um suntuoso palácio, vestia roupas e maquiagens requintadas, estava sempre usando joias de ouro e pedras precisas, tomava banhos relaxantes, alimentava-se das melhores carnes e frutas da região e bebia os melhores vinhos.
Para governar todo o reino, o faraó recebia ajuda de nobres, pessoas que faziam parte da família real ou que tinham enriquecido ao longo da vida. Esses nobres cuidavam de assuntos administrativos menores, resolviam pequenos problemas jurídicos e vigiavam a cobrança de impostos. Os nobres costumavam ser donos de terras, o que lhes garantia uma vida tranquila e com muito conforto.
Era no campo que os nobres construíam admiráveis casas que, embora fossem menores que o palácio real, eram compostas por muitos cômodos. Quartos, salas íntimas, salas de depósito de alimentos, cozinha, estábulo, capela familiar, jardins e até mesmo pequenos lagos artificiais faziam parte dessas residências.
No interior das casas era possível encontrar camas, mesas e cadeiras de madeira, colchões e almofadas de couro, além de muitos vasos e recipientes de cerâmica ricamente ornados.
Os soldados foram importantes personagens da história do Egito Antigo. Graças ao uso do cavalo e ao manejo de armas como arco e flecha, punhais, machados de guerra, espadas e cimitarra, o exército do Egito conseguiu conquistar a Núbia, ampliar suas redes comerciais e também expulsar o povo hicso (povo originário da atual Síria que dominou o Egito por volta do ano de 1600 a.C. Cerca de quarenta anos depois os hicsos foram expulsos pelos egípcios). A importância desses soldados era tão grande, que os principais chefes do exército acabavam se tornando homens ricos e poderosos.
Contudo, a principal força do Egito eram seus trabalhadores.
Havia os escribas, os artesãos, os comerciantes e os agricultores.
Os trabalhadores egípcios costumavam construir suas casas em regiões altas para que elas não fossem inundadas na época de cheia do Nilo. Eles moravam em casas retangulares construídas com argila amassada ou tijolos de barro seco, cujas portas e janelas eram feitas de madeira; tanto a argila como os tijolos de barros eram feitos a partir da mistura da lama retirada do leito do Nilo com areia.
As casas mais pobres tinham apenas um cômodo sem nenhuma mobília, mas era o abrigo que as famílias tinham nas noites frias que faziam na região próxima ao deserto. As residências dos trabalhadores mais ricos podiam ter até seis cômodos e costumavam ser pintadas com cores fortes e muito iluminadas pelo sol durante o dia.
Por fim, na condição social mais baixa estavam os escravos. Eles realizavam as atividades árduas e penosas como o trabalho nas minas; a construção de pirâmides e de templos religiosos; e até a preparação dos corpos que seriam mumificados. Esses escravos não eram egípcios e sim pessoas oriundas de regiões que haviam sido conquistadas pelo Egito. Por serem considerados inferiores eram eles que faziam as atividades mais execradas pelos egípcios. Também eram eles que tinham as piores condições de vida, dormindo no chão e se alimentando pouco.
Os egípcios eram politeístas, acreditavam em diversos deuses.  Parte dos deuses egípcios estava ligada aos fenômenos da natureza, como o Sol, a Lua e a terra; outros misturavam a forma animal com a forma humana (os deuses antropozoomórficos); e também havia os deuses que representavam ideias como honra e justiça. Para cada um deles foi construído um templo que ficava sob a responsabilidade de sacerdotes e sacerdotisas.
Esses homens e mulheres viviam para a religião e cuidavam para que os templos fossem respeitados e que os deuses fossem corretamente cultuados. Os deuses mais importantes, como Amon-Rá, o deus criador, teve uma cidade inteira construída em sua homenagem chamada Heliópolis.
A partir do ano 300 a.C, depois de inúmeras disputas com a Núbia, e com povos do Oriente Médio e do Sul da Europa, o Império dos faraós caiu nas mãos dos persas e, duzentos anos depois, após o suicídio de Cleópatra, se transformou em uma província de Roma. Contudo, durante seus quase três mil anos de existência, o Egito teve importantes faraós, desenvolveu diversas técnicas de construção civil e naval, criou diferentes tipos de cosméticos, de jogos e brinquedos, influenciou outras regiões do mundo e deixou para a posteridade monumentos que comprovam a importância de sua história.
A Núbia
A Núbia era uma região que ficava ao sul do Antigo Egito e que abrangia o começo do rio Nilo e as áreas próximas que hoje fazem parte dos países do Egito, da Etiópia e do Sudão. Durante milhares de anos, a Núbia teve grande importância na história da África, pois foi por meio dessa região que ocorreu o primeiro contato entre a África subsaariana com o norte do continente. Graças à Núbia, que persas, gregos, romanos e muçulmanos souberam da existência de uma África que ficava ao sul do deserto do Saara.
O reino era formado por diferentes cidades que viviam da intensa atividade comercial. Conforme dito anteriormente, a Núbia ligava regiões distintas do continente africano e issotransformou Kush em um grande entreposto de trocas.
Saiba mais
Junto com os comerciantes que viviam transitando e negociando o que era produzido no Antigo Egito com as peles e marfins vindas da África subsaariana, as cidades cuxitas também abrigavam diferentes tipos de artesãos. Clique aqui e saiba mais sobre a história da Núbia.
Marceneiros e carpinteiros construíam diferentes tipos de móveis que ornavam as casas mais ricas do império. Os ferreiros e as ceramistas fabricavam vasilhas e instrumentos cortantes que eram utilizados diariamente pelos cuxitas; acredita-se que foram os ferreiros da Núbia que ensinaram os povos que viviam na África Subassariana a trabalhar com o ferro e outros metais como o cobre e o próprio ouro.
Os joalheiros eram os artesãos que mais ganharam dinheiro com a venda de suas joias. O ouro utilizado na produção dessas joias era retirado das minas localizadas próximas ao Mar Vermelho e que representaram a maior riqueza do reino e de toda Núbia.
Contudo, a maior parte da população de Kush era formada por camponeses. Assim como ocorria no Egito Antigo, as margens do Nilo eram terras férteis que facilitavam a produção de cevada, trigo, lentilha, pepino, melão, abóbora e uva (usada na produção de vinho).
No entanto, a criação de animais era a principal atividade econômica do reino. Junto com o gado de chifre longo e chifre curto, os pastores criavam carneiros, cabras e cavalos (que eram utilizados como animais de carga). A atividade pastoril era tão importante que, em alguns momentos, as terras férteis de Kush pararam de produzir cereais e se transformaram em grandes pastos.
Pirâmides do Reino de Kush, cidade de Meroe
Cerca de seiscentos anos depois, os cuxitas conseguiram expulsar os egípcios e retomar o governo sobre sua terra. A capital do reino Kush foi transferida de Kerma para Napata, cidade na qual é possível observar a forte influência que os egípcios tiveram sobre os núbios. A escrita dos napatamos era muito parecida com o sistema de hieróglifos desenvolvido no Egito, e os reis passaram a ser enterrados em pirâmides.
A posição estratégica da Núbia e a abundância de ouro e cobre fizeram com que a região fosse constantemente atacada por povos vizinhos. Por volta do ano de 1500 a.C., a região foi invadida pelos egípcios, que se aproveitaram da localização estratégica da Núbia e passaram a controlar o comércio e a retirada do ouro. No entanto, a dominação egípcia não significou o fim do reino Kush.
Cerca de seiscentos anos depois, os cuxitas conseguiram expulsar os egípcios e retomar o governo sobre sua terra. A capital do reino Kush foi transferida de Kerma para Napata, cidade na qual é possível observar a forte influência que os egípcios tiveram sobre os núbios. A escrita dos napatamos era muito parecida com o sistema de hieróglifos desenvolvido no Egito, e os reis passaram a ser enterrados em pirâmides.
Por volta do ano 600 a.C. Napata foi invadida por outros povos da região. A cidade de Meroe se tornou a nova capital do reino e passou a atrair as rotas comerciais que ligavam a África subsaariana com o Mediterrâneo. Graças à vasta floresta existente na cidade, o ferro passa a ser uma das mercadorias mais trabalhadas e comercializadas da cidade. Durante mais de quinhentos anos, Meroe constituiu um importante entreposto comercial.
A soberania do reino de Kush chegou a seu final com a invasão romana, contudo, os vestígios de sua história são um convite para estudar uma África pouco conhecida. Bons estudos!

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